Discurso 11 julho de 2012
Senador Demóstenes Torres,
O Homem que hoje sou homenageia o homem que
o senhor foi, QUE O SENHOR FOI.
Por que eu saí de Mato Grosso, Senador
Demóstenes, e aqui encontrei um homem do
Estado-irmão de Goiás, em quem depositei,
DEPOSITEI, a confiança que somente damos, em
nossas vidas, aos irmãos e aos camaradas de
armas.
Pois a luta comum é uma forma de irmandade. Ela
não vem do sangue, mas une como se jorrasse do
espírito.
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Camaradas de armas, eis o que nos tornamos,
numa luta que se acompanha em cada lar
brasileiro, em cada mesa de trabalho, em cada rua
onde duas pessoas de bem conversam. É a luta
pela ética, pelo cuidado com a coisa pública, pela
honradez que o Brasil espera de cada um dos seus
representantes, tantas vezes de forma vã.
Ética que percebi se sobrepor aos ruídos da
revolução francesa, que separou a Gironda da
Montanha, a direita da esquerda, a pequena
burguesia dos despossuídos.
Percebi, já como Senador, que não dobrar a coluna
para o bezerro de ouro da velhacaria política é
virtude que há em todos os partidos, em todos os
Estados.
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Ouvi, lá nos verdes de Mato Grosso, Senador
Demostenes, o chamado do homem que o senhor
foi, QUE O SENHOR FOI, num coro que contava
com a voz do inesquecível amazonense Jefferson
Peres, dos bravos gaúchos Pedro Simon e Ana
Amélia, do brasiliense Cristóvam Buarque, do
amapaense Randolfe Rodrigues e de tantos outros
colegas, de tantos estados da Federação e
partidos, que mostravam que a ética é a virtude
que supera climas, distâncias e ideologias.
Eu aprendi que há um grande Brasil, dos grandes
brasileiros
que
não
fogem
de
suas
responsabilidades e do seu trabalho, que ganham a
vida com o trabalho honesto e digno, sem tomar o
que é dos outros, sem tomar o que é de todos.
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Ganham, com o suor na fronte, o dinheiro que
sustenta esta Casa de representantes do povo e
dos Estados e, também, o sonho comum de um
país melhor, num mundo mais justo.
Mas o homem que o senhor foi, QUE O SENHOR
FOI, parece agora um espectro diáfano e duvidoso,
Senador Demóstenes!
Aqui, desta tribuna sagrada do Senado da
República, DA REPÚBLICA, por onde já passaram
cidadãos ilustres como Visconde do Rio Branco,
Ruy Barbosa, Affonso Arinos, Josaphat Marinho,
Tancredo Neves, Fernando Henrique, Itamar
Franco faço a pergunta que decepciona o coração
de milhões de brasileiros: como foi possível que um
filho do bom povo de Goiás errasse tanto? Onde foi
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que a clava da justiça perdeu um braço forte,
trocado por uma cachoeira de mundanidades,
subterfúgios e infâmias? Onde está o hoplita, o
soldado da infantaria armada da antiga Grécia, que
eu e todos os que lutamos pela ética pensamos
que estava ao nosso lado?
É imensa, Senador Demóstenes, É IMENSA,
repito, minha tristeza ao perguntar, desta tribuna,
se o homem que ora homenageio, o homem que o
senhor FOI, se deixou sobrepujar por este que,
dizem, e os autos demonstram, o senhor se tornou.
Estas perguntas trazem para mim a maior dor
cívica, a maior decepção, que pude experimentar
neste um ano e meio de mandato.
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Em nome dessa decepção, eu clamo a Vossa
Excelência que prove na justiça que tudo o que
dizem, e os autos demonstram, não é verdadeiro;
que o cavaleiro da ética nunca se perdeu nas
facilidades das coisas pequenas; que a alma de um
destemido não tem preços; que a clareza da alma
não se turvou nos jogos da vida.
Senador Demóstenes, os camaradas que fomos,
os brasileiros esperançosos que resistem em nós a
todas as intempéries, os políticos ainda capazes de
orgulhar
nossa
nação
orgulhosa,
Senador
Demóstenes, todos estes esperam que Vossa
Excelência demonstre, ainda que fora desta Casa,
AINDA QUE FORA DESTA CASA, que não é um
novo homem, de distinta e menor envergadura,
mas aquele que eu e tantos aprendemos a admirar.
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Confesso, senador Demóstenes, que eu não desisti
da luta pela ética e juro, pela minha família, por
meus eleitores e perante todos os brasileiros, que
jamais desistirei. Mas em nome de alguém a quem
tanto prezo, o homem que Vossa Excelência FOI,
rogo que não nos deixe pensar que, em todo este
tempo, nos enganamos, e que aquele homem a
quem homenageio hoje nunca existiu.
Senhor presidente, senhores senadores,
senhoras senadores, brasileiros que nos
acompanham pela Agência Senado.
O que diferencia um homem de BEM de um
corrupto, de um bandido? É a capacidade de fazer
escolhas, senhoras e senhores. De discernir o
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certo do errado, o justo do injusto, a verdade da
mentira. E, não há nada mais trágico, senador
Demóstenes, do que saber o que é certo e não
fazê-lo.
Liberdade
de
escolha
rima
com
responsabilidade e chegou a hora do senhor
responder
pelos
seus
atos.
Por isso, em nome da República, em nome da
Constituição e em nome do direito que cada
cidadão brasileiro tem de acreditar e confiar em
seus representantes votarei favoravelmente ao
relatório da Comissão de Ética do Senado Federal.
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Senador Pedro Taques declara que votou pela cassação de