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REDAÇÃO
Leia com atenção os seguintes textos:
Texto I
O filósofo brasileiro Paulo Arantes apresenta e discute uma tendência sociológica — corrente nos Estados Unidos e em países
europeus desenvolvidos — que acredita que está ocorrendo uma “brasilianização do mundo”. Segundo essa opinião, o Brasil
estaria se convertendo em um modelo social para o mundo, mas um modelo negativo: nas últimas décadas, até países ricos
estariam apresentando um quadro “brasileiro”, cujos traços principais seriam: favelização das cidades, insegurança generalizada,
precarização (“flexibilização”) do trabalho, distanciamento maior entre centro e periferia, “jeitinho” (brasileiro) para negociar
com a norma etc..
Assim, para a referida tese da “brasilianização”, o Brasil seria “o país do futuro”, só que de um futuro que promete mais regressão
e anomia social.
Paulo Arantes. A Fratura Brasileira do Mundo. Zero à esquerda. S. Paulo, Conrad, 2004.
Texto II
O antropólogo brasileiro Roberto da Matta assim reagiu a essas teses da “brasilianização do mundo”:
“O uso da expressão brasilianização para exprimir um estado de injustiça social me deixa ferido e preocupado. De um lado,
nada tenho a dizer, pois a caracterização é correta. De outro, tenho a dizer que o modelo de Michael Lind exclui várias
coisas. A hierarquia e a tipificação da estrutura social do Brasil indicam um modo de integração social que tem seus pontos
positivos. Nestes sistemas, conjugamos os opostos e aceitamos os paradoxos da vida com mais tranquilidade. Seria este modo
de relacionamento incompatível com uma sociedade viável em termos de justiça social? Acho que não. Pelo contrário, penso
que talvez haja mais espaço para que estes sistemas híbridos e brasilianizados sejam autenticamente mais democráticos que
estas estruturas rigidamente definidas, nas quais tudo se faz com base no sim ou no não. Afinal, entre o pobre negro que mora
na periferia e o branco rico que mora na cobertura há muito conflito, mas há também o carnaval, a comida, a música popular, o
futebol e a família. Quero crer que o futuro será mais dessas sociedades relacionais do que dos sistemas fundados no conflito em
linhas étnicas, culturais e sociais rígidas. De qualquer modo, é interessante enfatizar a presença de um estilo brasileiro de vida
como um modelo para os Estados Unidos. É sinal de que tem mesmo água passando embaixo da ponte.”
Idem. p. 60. Adaptado.
Texto III
Por sua vez, o compositor e escritor Jorge Mautner posicionou-se, quanto à mesma questão, da seguinte maneira:
A minha trajetória de vida me faz interpretar o Brasil pela forma radical da amálgama. Essa é a pedra fundamental do século 21.
A amálgama é miscigenação, mas vai além: é ela que possibilita ao brasileiro reinterpretar tudo de novo em apenas um segundo,
e mais ainda, a absorver pensamentos contrários, atingindo o caminho do meio, que era o sonho de Lao Tsé, do Buda e de
Aristóteles.
É por causa dessa importância tremenda que teremos a Olimpíada e a Copa aqui. Ou o mundo se brasilifica ou vira nazista. Até o
bispo Edir Macedo, da Igreja Universal, é amálgama também: ele já foi pai de santo, faz descarrego. É quase umbanda!
Depoimento a Morris Kachani. Artur Voltolini. (Colaboração para a Folha de S. Paulo). Adaptado.
Tendo em conta as ideias acima apresentadas, redija uma dissertação em prosa sobre o tema Brasil: um modelo positivo ou
negativo para o mundo?, argumentando de modo a deixar claro seu ponto de vista.
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COMENTÁRIO DO CPV
A prova de redação do vestibular da DIREITO/FGV-SP/2012, ao manter a mesma estrutura da prova do ano anterior, parece ter
abandonado o padrão inicial a partir do qual eram elaboradas as suas primeiras versões. As artes plásticas e os textos literários,
comuns nas coletâneas dos vestibulares anteriores, foram, mais uma vez, deixados de lado.
Neste ano, a coletânea foi composta por três textos que apresentavam posicionamentos em relação à tese da “brasilianização do mundo”.
Vale ressaltar que não devemos entender “brasilianização do mundo” como um fenômeno em que o resto do mundo tenta copiar
o Brasil, ainda que existam modismos. Não se trata, portanto, de um fenômeno como foi o da “americanização do mundo”, que
resultou da influência direta dos Estados Unidos e da cultura americana sobre os demais países. Entende-se por “brasilianização
do mundo”, um processo em que o Brasil torna-se uma metáfora, uma espécie de espelho alegórico que reflete muitas tendências
associadas à pós-modernidade. Essas tendências fazem parte da cultura brasileira, da sua sociedade, e ― cada vez mais ― se
espalham um pouco por toda parte.
O texto 01, assinado por Paulo Arantes, filósofo brasileiro, discute essa tendência sociológica em que o Brasil estaria
se convertendo em um modelo social negativo para o mundo. Países europeus desenvolvidos e os Estados Unidos estariam
apresentando um “quadro brasileiro” “de favelização das cidades, insegurança generalizada, precarização (“flexibilização”) do
trabalho, distanciamento maior entre o centro e periferia, ‘jeitinho’ (brasileiro) para negociar com a norma etc.”. Neste sentido,
o Brasil se configuraria como um modelo de regressão e anomia social.
O texto 02, também assinado por Paulo Arantes, trata da reação do antropólogo brasileiro Roberto da Mata a essa tese da
“brasilianização”. Roberto da Mata se ressente do uso do Brasil como referência para exprimir um estado de injustiça social e
afirma que, se, por um lado, a caracterização é correta; por outro, a conjugação dos opostos e aceitação dos paradoxos da vida
com mais tranquilidade representam referências de um modelo sócio-cultural mais democrático do que as estruturas rigidamente
definidas de muitos países desenvolvidos. Destaca também as manifestações culturais como o carnaval, a música popular, o
futebol que, apesar dos conflitos, funcionam como elo entre o branco rico e o negro pobre.
O texto 03, um depoimento de Artur Voltolini a Morris Kachani, evidenciava a posição do compositor e escritor Jorge Mautner
sobre a mesma questão. Para o compositor, o Brasil deve ser interpretado pela forma radical da amálgama. Segundo ele, a
amálgama é a miscigenação, é também a capacidade de absorver pensamentos contrários, atingindo o caminho do meio.
A partir da reflexão suscitada pelos textos, o candidato deveria elaborar uma dissertação sobre o tema: Brasil: um modelo positivo
ou negativo para o mundo?
O candidato poderia posicionar-se, corroborando o pensamento de Paulo Arantes, afirmando ser o Brasil um modelo negativo.
Nesta abordagem, poderia destacar as mazelas sociais, além do malfadado “caráter brasileiro”, evidenciando dados estatísticos
que ressaltam problemas como o da desigualdade, passando pelo “homem cordial”, de Sérgio Buarque de Holanda, ou ainda por
“Macunaíma”, o herói sem caráter, de Mário de Andrade. Valeria ressaltar ainda que o país conserva um notório comportamento
preconceituoso, evidenciado em atitudes racistas, homofóbicas, entre outras.
Caso a opção fosse por trabalhar o Brasil como modelo positivo para o mundo, o candidato deveria seguir pelo viés da riqueza
cultural do país, que advém justamente da “barafunda social e moral que formou o Brasil”, reproduzindo as palavras de Zeca
Baleiro, colunista do IstoÉ Indenpendente. Nesta abordagem, era possível defender que a tese de que o Brasil estaria exportando
a regressão social desconsidera que os países desenvolvidos convivem com um fluxo migratório, intensificado pela globalização
(promovida pelos seus interesses de expansão comercial neoliberal), que desestabiliza suas estruturas fixas, desorganizando a
ordem desses países.
De modo geral, cabem muitos elogios à Banca Examinadora. O Brasil passa por um momento de evidência internacional: foi o
país que melhor contornou os efeitos da crise financeira que ainda assola o resto do mundo; está na pauta da mídia por assumir o
compromisso de sediar uma Copa do Mundo e as Olímpiadas. Ao mesmo tempo, por outro lado, foi assunto decorrente do trágico
episódio que matou muitas pessoas na Noruega, quando, em manifesto publicado na Internet, o atirador justificou sua atitude na
tentativa de evitar que sua terra se tornasse um país “disfuncional como o Brasil”. Todos esses fatores, entre outros, justificam
a reflexão, proposta pelo tema. Ao contrário do que houve no ano anterior, a Equipe Pedagógica do CPV acredita que, embora a
dissertação tratasse de assunto bastante acessível a todos, a prova privilegiou candidatos com repertório a respeito da formação
sócio-cultural do Brasil.
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