Vida CEF - II periodo
Poesia que mexe…
Calçada de
Carriche
desaustinada;
range o soalho
a cada passada;
salta para a rua,
Chegou a casa
corre açodada,
não disse nada.
galga o passeio,
Pegou na filha,
deu-lhe a mamada; desce a calçada,
chega à oficina
bebeu a sopa
à hora marcada,
numa golada;
puxa que puxa,
lavou a loiça,
larga que larga,
varreu a escada;
puxa que puxa,
deu jeito à casa
larga que larga,
desarranjada;
puxa que puxa,
coseu a roupa
larga que larga,
já remendada;
despiu-se à pressa, puxa que puxa,
larga que larga;
desinteressada;
toca a sineta
caiu na cama
de uma assentada; na hora aprazada,
corre à cantina
chegou o homem,
volta à toada,
viu-a deitada;
puxa que puxa,
serviu-se dela,
não deu por nada. larga que larga,
puxa que puxa,
Anda Luísa,
larga que larga,
Luísa sobe,
puxa que puxa,
sobe que sobe,
larga que larga.
sobe a calçada.
Regressa a casa
é já noite fechada.
Na manhã débil
Luísa arqueija
sem alvorada,
pela calçada.
salta da cama,
Anda Luísa,
desembestada;
Luísa sobe,
puxa da filha,
dá-lhe a mamada; sobe que sobe,
sobe a calçada,
veste-se à pressa,
sobe que sobe,
desengonçada;
sobe a calçada,
anda, ciranda,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Luísa sobe,
sobe a calçada,
sobe e não pode
que vai cansada.
Sobe, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Saiu de casa
de madrugada;
regressa a casa
é já noite fechada.
Na mão grosseira,
de pele queimada,
leva a lancheira
desengonçada.
Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Luísa é nova,
desenxovalhada,
tem perna gorda,
bem torneada.
Ferve-lhe o sangue
de afogueada;
saltam-lhe os peitos
na caminhada.
Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Passam magalas,
rapaziada,
palpam-lhe as coxas,
não dá por nada.
Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Poesias Completas
(1956-1967)
CEF - Centro de Estudos de Fátima – Colégio com Contrato de Associação
António Gedeão
Na sequência do trabalho desenvolvido durante o primeiro
semestre no âmbito da disciplina de Educação Artística
(Teatro), os alunos do 7.º ano exibiram, a 7 de fevereiro,
pequenas dramatizações de poemas selecionados de poetas
portugueses do séc. XX. Esta atividade serviu vários objetivos,
surpreendendo até os mais audazes, pois seriam poucos os
que acreditavam ser possível representar tendo um poema
como guião. E assim se combateram alguns preconceitos…
enquanto se percebia o valor extraordinário da utilização
ritmada da palavra, aliada ao movimento dos corpos e à
exploração dos espaços. A título de exemplo, transcrevemos
um dos textos trabalhados, “Calçada de Carriche”, um
belíssimo poema de António Gedeão, pseudónimo do
professor e cientista Rómulo de Carvalho. Prof. Tomé Vieira
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Poesia que mexe… - centro estudos de fátima