Vida CEF - II periodo Poesia que mexe… Calçada de Carriche desaustinada; range o soalho a cada passada; salta para a rua, Chegou a casa corre açodada, não disse nada. galga o passeio, Pegou na filha, deu-lhe a mamada; desce a calçada, chega à oficina bebeu a sopa à hora marcada, numa golada; puxa que puxa, lavou a loiça, larga que larga, varreu a escada; puxa que puxa, deu jeito à casa larga que larga, desarranjada; puxa que puxa, coseu a roupa larga que larga, já remendada; despiu-se à pressa, puxa que puxa, larga que larga; desinteressada; toca a sineta caiu na cama de uma assentada; na hora aprazada, corre à cantina chegou o homem, volta à toada, viu-a deitada; puxa que puxa, serviu-se dela, não deu por nada. larga que larga, puxa que puxa, Anda Luísa, larga que larga, Luísa sobe, puxa que puxa, sobe que sobe, larga que larga. sobe a calçada. Regressa a casa é já noite fechada. Na manhã débil Luísa arqueija sem alvorada, pela calçada. salta da cama, Anda Luísa, desembestada; Luísa sobe, puxa da filha, dá-lhe a mamada; sobe que sobe, sobe a calçada, veste-se à pressa, sobe que sobe, desengonçada; sobe a calçada, anda, ciranda, sobe que sobe, sobe a calçada. Luísa sobe, sobe a calçada, sobe e não pode que vai cansada. Sobe, Luísa, Luísa, sobe, sobe que sobe, sobe a calçada. Saiu de casa de madrugada; regressa a casa é já noite fechada. Na mão grosseira, de pele queimada, leva a lancheira desengonçada. Anda Luísa, Luísa sobe, sobe que sobe, sobe a calçada. Luísa é nova, desenxovalhada, tem perna gorda, bem torneada. Ferve-lhe o sangue de afogueada; saltam-lhe os peitos na caminhada. Anda Luísa, Luísa sobe, sobe que sobe, sobe a calçada. Passam magalas, rapaziada, palpam-lhe as coxas, não dá por nada. Anda Luísa, Luísa sobe, sobe que sobe, sobe a calçada. Anda Luísa, Luísa sobe, sobe que sobe, sobe a calçada. Poesias Completas (1956-1967) CEF - Centro de Estudos de Fátima – Colégio com Contrato de Associação António Gedeão Na sequência do trabalho desenvolvido durante o primeiro semestre no âmbito da disciplina de Educação Artística (Teatro), os alunos do 7.º ano exibiram, a 7 de fevereiro, pequenas dramatizações de poemas selecionados de poetas portugueses do séc. XX. Esta atividade serviu vários objetivos, surpreendendo até os mais audazes, pois seriam poucos os que acreditavam ser possível representar tendo um poema como guião. E assim se combateram alguns preconceitos… enquanto se percebia o valor extraordinário da utilização ritmada da palavra, aliada ao movimento dos corpos e à exploração dos espaços. A título de exemplo, transcrevemos um dos textos trabalhados, “Calçada de Carriche”, um belíssimo poema de António Gedeão, pseudónimo do professor e cientista Rómulo de Carvalho. Prof. Tomé Vieira 43