Equações Diferenciais Ordinárias Uma equação diferencial é uma equação que relaciona uma ou mais funções (desconhecidas) com uma ou mais das suas derivadas. Exemplos: dx(t ) = cos( x(t )) dt (1) ∂x(t , u ) ∂ 2 x(t , u ) = ∂t ∂u 2 (2) d2y dx 2 ∂ 2u ∂x 2 =y + dy dx ∂ 2u ∂y 2 =u (3) (4) As derivadas dizem-nos quais são as variáveis dependentes e as d 2 y dy e em (3) variáveis independentes. Por exemplo, as notações 2 dx dx dizem-nos que, nesta equação, y é a variável dependente e x é a ∂2x ∂x variável independente. Em (2), e dizem-nos que, nesta 2 ∂t ∂u equação, x é a variável dependente e u e t são as variáveis independentes. Se apenas houver uma variável independente, como em (1) ou (3), então a equação diferencial diz-se equação diferencial ordinária. O nosso estudo irá apenas incidir sobre este tipo de equações diferenciais. Aplicações: 1) Uma aplicação comum à física é a lei de arrefecimento de Newton que diz que: “Num objecto, a taxa de temperatura perdida é proporcional à diferença da temperatura da superfície do objecto, com a temperatura ambiente.” Seja T (t ) a temperatura da superfície do objecto, no tempo t e seja S (t ) a temperatura ambiente, no tempo t. A lei pode ser expressa na seguinte forma: dT = k (T − S ) . dt (5) k é a constante de proporcionalidade determinada pelas características do objecto e do ambiente envolvente. Supõe-se que S é conhecida. A função T (t ) é desconhecida e, de um modo geral, pretende-se encontrar T (t ) resolvendo a equação diferencial. 2) Suponha-se que um objecto de massa m está a uma distância x de um ponto b (no tempo t) e a lei é a seguinte: “A força no objecto é inversamente proporcional ao quadrado da distância a b.” Como F = m ⋅ a (se m é constante), tem-se F = m d 2x dt 2 . Assim, a lei física pode ser expressa na forma m d 2x dt 2 = k x 2 , (6) com k a constante de proporcionalidade. Pretende-se determinar a posição x(t ) , resolvendo a equação diferencial. Há 3 abordagens gerais para estudar uma equação diferencial, qualitativa, numérica e analítica. No nosso estudo, dar-se-á grande importância ao desenvolvimento analítico que consiste em obter fórmulas implícitas e explícitas para as soluções. A ordem de uma equação diferencial é a ordem da maior derivada da função desconhecida (variável dependente) que aparece na equação. Por exemplo, (5) é uma equação diferencial de 1ª ordem e (6) é uma equação diferencial de 2ª ordem. Uma equação diferencial de ordem n é linear se puder ser escrita na forma an ( x ) d (n ) y dx n + an −1 ( x) d (n −1) y dx n −1 + + a1 ( x) dy + a0 ( x) y = f ( x) dx (7) com an ( x) ≠ 0 e ai (x) funções de x (conhecidas) a que se chamam coeficientes. Exemplos: 1) x 2 d3y dx 3 + y = sen ( x ) ; 2) d2y dx 2 +y d2y dy d4y dy y = ; 3) 2 + sen ( x ) = y cos( x ) + 4 ; 4) dx dx x dx dx 5) y′′ + sen ( x ) y′ = y cos( x ) + ( y′)4 ; 6) y′ = x . y dy + y3 = 0 ; dx A função y ( x) é uma solução da equação diferencial se, ao ser substituída na mesma, resulta uma igualdade verdadeira para todos os valores de x no domínio de y ( x ) . Exemplos: 1) Verifique que y ( x) = sen ( x ) + x 2 é uma solução da seguinte equação diferencial d2y dx 2 + y = x2 + 2 . 2) Verifique que a função y ( x ) , definida implicitamente pela equação x = e y + y , é uma solução da seguinte equação diferencial 1 dy . = dx x − y + 1 Se a solução de uma equação diferencial tiver constantes arbitrárias, é solução para todos os valores das constantes e, além disso, toda a solução da equação diferencial é dessa forma então diz-se solução geral da equação diferencial. Caso a solução não contenha constantes arbitrárias diz-se solução particular. Exemplos: 1) Verifique que y = x 6 + c1 x + c2 , com c1 e c2 constantes arbitrárias, é solução geral da seguinte equação diferencial y ′′ = 30 x 4 . 2) Determine os valores da constante r de forma a que y = cos(rx ) seja solução da seguinte equação diferencial y ′′ + 9 y = 0 . 3) Verifique que y = ce3 x − 1, com c constante arbitrária, é uma solução da equação diferencial dy − 3y = 3 dx e calcule c de forma que y satisfaça a condição inicial y (1) = 2 . Equações Diferenciais de 1ª Ordem O estudo que se segue irá incidir sobre equações diferenciais que se podem escrever na seguinte forma (forma explícita) dy = f ( x, y ) . dx Antes de pensar em resolver uma equação diferencial é importante saber se esta tem solução e, caso exista, também é importante saber se é única. Teorema: (Existência e Unicidade) Sejam x0 e y0 números reais tais que ( x0 , y0 ) pertence ao domínio de f ( x, y ) . Suponha-se que existem números positivos ε1 e ε 2 , tais que f ( x, y ) e f y ( x, y ) são ambas contínuas no rectângulo {( x, y ) : x − x0 < ε1 e y − y0 < ε 2 }. Neste caso, existe δ > 0 tal que no intervalo x − x0 < δ existe uma única solução do problema de valor inicial dy = f ( x, y ) , dx Exemplo: 1) dy = 2x dx y ( x0 ) = y0 . Equações Diferenciais de Variáveis Separáveis dy = f ( x, y ) diz-se de variáveis separáveis se dx pode ser escrita na forma A equação diferencial dy = h( x ) g ( y ) . dx Dividindo ambos os membros por g ( y ) obtém-se 1 dy = h( x ) . g ( y ) dx (8) Primitivando, agora, ambos os membros em relação à variável x, ∫ Ora, como dy = 1 dy dx = ∫ h( x) dx . g ( y ) dx dy dx , (9) pode ser escrita na forma dx 1 dy = ∫ h( x) dx + C ∫ g ( y) (9) Observa-se a partir de (8) que a equação diferencial pode ser escrita na forma 1 dy = h( x) dx g ( y) ou ainda h( x) dx − 1 dy = 0 . g ( y) Esta é outra forma de escrever a equação diferencial que em geral se representa por M ( x, y ) dx + N ( x, y )dy = 0 . (10) Assim, no caso de M ( x, y ) = P( x) e N ( x, y ) = Q ( y ) (isto é, M ( x, y ) e N ( x, y ) apenas dependem de x e de y, respectivamente) a solução de (10) é dada por ∫ P ( x) dx + ∫ Q( y )dy = C , com C constante arbitrária. Exemplo: Determine a solução geral da equação x dy =− . dx y Equações Diferenciais Totais Exactas Definição: Consideremos a seguinte equação diferencial de 1ª ordem (10). A equação diferencial diz-se total exacta se existir uma função F ( x, y ) tal que dF ( x, y ) = M ( x, y ) dx + N ( x, y )dy . Se (10) é diferencial total exacta tem-se dF ( x, y ) = 0 e, portanto, F ( x, y ) = C define implicitamente a solução geral de (10). Teorema: Se M ( x, y ) , N ( x, y ) , M y ( x, y ) e N x ( x, y ) são funções contínuas então M ( x, y ) dx + N ( x, y )dy = 0 é diferencial total exacta se e só se ∂M ∂N . = ∂y ∂x Exemplo: Determine a solução geral da equação 3x( xy − 2)dx + ( x 3 + 2 y )dy = 0 . Equações Diferenciais Lineares de 1ª Ordem A equação diferencial linear de 1ª ordem a1 ( x) dy + a0 ( x ) y = f ( x ) dx (11) com coeficientes a0 ( x) e a1 ( x) , é importante em muitas aplicações. Se a0 ( x) , a1 ( x) e f ( x) forem contínuas num intervalo I e, além disso, a1 ( x) nunca se anula em I então, aplicando o teorema da existência e unicidade de soluções, conclui-se que: • se x0 ∈ I e y0 é um número real qualquer então existe uma única solução de (11) tal que y ( x0 ) = y0 . • Pelo facto de esta equação diferencial ser linear esta solução é única em todo o intervalo I. Os pontos x tais que a1 ( x) = 0 são chamados pontos singulares. Para resolver a equação diferencial (11) começa-se por dividir ambos os membros por a1 ( x ) dy a0 ( x) f ( x) + y= . dx a1 ( x) a1 ( x) Seja P( x) = a0 ( x) f ( x) e Q( x) = . A solução de (11) é dada por a1 ( x) a1 ( x) e ∫ P ( x ) dx y = ∫ e ∫ P ( x ) dxQ ( x)dx + C em que e ∫ P ( x ) dx se designa por factor integrante e C é uma constante arbitrária. Exemplo: Determine a solução geral da equação xy ′ − y = x 2 . Equações Diferenciais De Bernoulli A equação diferencial de Bernoulli tem a forma y′ + P( x) y = Q( x) y n n ≠ 0,1 (12) Se n = 0 a equação é linear de 1ª ordem. Se n = 1 a equação é de variáveis separáveis. Se n ≠ 0,1 multiplicando ambos os membros de (12) por (1 − n ) y − n , tem-se (1 − n ) y − n y′ + (1 − n )P( x) y1− n = (1 − n )Q( x) Tomando z = y1− n tem-se z ′ = (1 − n) y − n y′ . Assim, z ′ + (1 − n) P ( x) z = (1 − n)Q( x) é uma equação diferencial linear de 1ª ordem, na variável dependente z. Exemplo: Determine a solução geral y (−1 − x + 6 y 2 )dx + 2 xdy = 0 . da equação diferencial Determinação de Factores Integrantes Consideremos a equação diferencial (10) e suponhamos que µ (função de x e de y) é um factor integrante da equação. Neste caso, a equação µM ( x, y ) dx + µ N ( x, y ) dy = 0 deve ser diferencial total exacta; logo ∂ ∂ (µM ) = (µ N ) ∂y ∂x ∂ ∂ ∂ ∂ (µ) M + µ (M ) = (µ) N + µ ( N ) ∂y ∂y ∂x ∂x ∂M ∂N ∂µ ∂µ µ − −M . =N ∂ ∂ y ∂ x x ∂ y (13) Suponhamos agora que o factor integrante, µ , depende apenas de uma única variável. Seja então µ = µ(x) . Assim a equação (13) toma a forma ∂M ∂N dµ µ − ; =N dx ∂y ∂x isto é, ∂M ∂N − ∂y ∂x = 1 dµ . N µ dx ∂M ∂N − ∂y ∂x É claro que esta igualdade só tem significado se N depender apenas de x; isto é, se ∂M ∂N − y ∂ x ∂ = ϕ(x) N e, portanto, 1 dµ = ϕ( x) µ dx donde se conclui que µ( x) = e ∫ ϕ( x ) dx é um factor integrante para a equação diferencial (10). Se µ é apenas função de y pode-se mostrar, da mesma forma, que se ∂M ∂N − ∂ y ∂ x = ψ( y) − M então µ( y) = e ∫ ψ ( y )dy é um factor integrante para a equação diferencial (10). Exemplo: Determine a solução geral (4 xy + 3 y 2 − x)dx + x( x + 2 y )dy = 0 . da equação diferencial Equações Diferenciais Homogéneas Definição: Uma função f ( x, y ) diz-se homogénea, de grau de homogeneidade α , se f (λ x, λ y ) = λα f ( x, y ) , para todo o λ ∈ IR. Exemplos: 1) f ( x, y ) = y + x + 1 não é homogénea. 2) f ( x, y ) = yx é homogénea de grau 2. y 3) f ( x, y ) = ln é homogénea de grau 0. x Definição: A equação diferencial (10) diz-se homogénea se as funções M ( x, y ) e N ( x, y ) são homogéneas com o mesmo grau de homogeneidade. Lema 1: Se as funções M ( x, y ) e N ( x, y ) são homogéneas com o M ( x, y ) mesmo grau de homogeneidade então a função é homogénea N ( x, y ) de grau 0. Lema 2: Se f ( x, y ) é homogénea de grau 0 então f ( x, y ) é função y apenas de . x Conclui-se a partir dos lemas 1 e 2 que no caso da equação (10) ser homogénea, então é possível escrevê-la na forma dy y = g . dx x Para resolver esta equação faz-se a mudança de variável dependente y para v, definida por y = xv , e obtém-se uma equação de variáveis separáveis. Exemplo: Determine a solução ( x 2 − xy + y 2 )dx − xydy = 0 . geral da equação diferencial Substituições Sugeridas Por Uma Expressão Se a equação diferencial (10) não for de nenhum dos tipos estudados até agora pode ser possível, através de uma mudança de variáveis, transformar a equação diferencial numa outra da qual saibamos calcular a solução geral. Por exemplo, na equação ((x + 2 y )2 − 1)dx + 3(x + 2 y )2 dy = 0 a função x + 2 y aparece duas vezes. Se fizermos a substituição x + 2 y = v , como dx = dv − 2dy , obtém-se a equação (v 2 − 1)dv + (v 2 + 2)dy = 0 que é de variáveis separáveis. Exemplo: Determine a solução geral (1 + 3x sen( y ) ) dx − x 2 cos( y ) dy = 0 . ( ) da equação diferencial