A NAVEGAÇÃO DE PASSAGEIROS NO RIO TOCANTINS: UM ESTUDO DE CASO
NA CIDADE DE TUCURUÍ-PA
Regina Célia Brabo Ferreira
Joseane Lais da Silva Oliveira
Iriani Sousa Miranda
Miguel Figueiredo de Oliveira Neto
Rafaela Carolina Sarmento de Araújo
Universidade Federal do Pará
Faculdade de Engenharia Civil
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo caracterizar as condições do transporte hidroviário na cidade de Tucuruí.
Realizou-se uma pesquisa bibliográfica e de campo para identificar as condições da infraestrutura dos pontos de
atracação, características das viagens e percepção do usuário. A análise dos resultados mostrou a importância das
viagens de barco para a população de Tucuruí e municípios vizinhos, localizados às margens do rio Tocantins.
Porém a operação está em condições precárias de infraestrutura. Os acessos às embarcações provocam riscos de
acidentes aos usuários. As viagens se dividem em curta distância, para as praias próxima da cidade, e longa
distância, para os municípios de Baião, Mucajuba e Cametá. A navegação para esses municípios é a opção mais
viável no período de chuva, em virtude da precária condição da BR 156 utilizada pelo modo rodoviário.
ABSTRACT
This work aims to characterize the conditions of water transport in the city of Tucurui. We conducted a literature
search and field to identify the conditions of the infrastructure of docking’s points, characteristics of trips and
user’s perception. The results’ showed the importance of boat’s trips to the population Tucuruí and neighboring
municipalities, located on the banks of the Tocantins River. But the operation is in poor’s infrastructure. The
access to the vessels causes accident risks to the users. The trips are divided into short, close to the beaches of
the city and long distance, for municipalities Baiao, Mucajuba and Cameta. The navigation to these
municipalities is the most viable option in rainy season, due to the poor condition of the BR 156 used by road
transport.
1.
INTRODUÇÃO
Os meios de transportes permitem à população ter acesso as suas diversas necessidades
sociais e econômicas básicas como saúde, trabalho, educação e lazer (CNT, 2011). Segundo
Thecna (2006), o transporte fluvial é uma tradição entre as comunidades ribeirinhas da
Amazônia, desde os tempos áureos da passagem dos colonizadores.
De acordo com Nazaré (2001) e Sant’Anna (1998), o transporte fluvial de passageiros na
região amazônica, em uma parcela muito expressiva, é executado pelas embarcações
classificadas como “mistas”, pois transportam tanto carga como passageiros. O serviço que
executa assume, na região, enorme importância pelo posicionamento dos núcleos
populacionais situados às margens dos grandes rios e de seus afluentes, como resultado de
ocupação do espaço amazônico que foi adotado pelos colonizadores, em seu intento de
penetração com vistas à integração e ao desenvolvimento regional (ADA, 2006).
O transporte hidroviário na Região Amazônica possui enorme importância, por ser a base de
grande parte do deslocamento de cargas e pessoas, assumindo papel social significativo,
servindo como meio de integração de grande parte da população. Muitas localidades não
possuem outro modo de locomoção devido às características da região: ampla área territorial
cortada por extensa malha hidroviária navegável, reduzidas malhas rodoviárias e ferroviárias,
reduzido poder aquisitivo da população e devido suas principais cidades estarem situadas às
margens dos rios (Ferreira, 2011).
Situada à margem esquerda do rio Tocantins e à jusante da Usina Hidrelétrica de Tucuruí
(UHT), o município de Tucuruí possui uma área de 2.086 km² e98.919 habitantes,de acordo
com o IBGE (2010).O principal acesso à cidade, até a implantação da UHT, era pelo
transporte aquaviário. Mesmo depois da construção da Rodovia BR 422, o uso do modal
hidroviário continua intenso, principalmente pelos ribeirinhos das cidades e vilas situadas nas
margens do rio Tocantins, que possuem forte ligação com Tucuruí. Contudo, nada se tem de
estudos ou ações que envolvam esse tipo de transporte.
De fato, o transporte fluvial é utilizado de maneira intensa pela população tucuruiense, em
âmbitos comerciais e também, domésticos. Concorda-se com Bastos (2006) quando diz que
não parece adequado, diante desta realidade, que não se pense nessa modalidade como um dos
principais focos de investimentos socioeconômicos, uma vez que faz parte do cotidiano da
maioria da população.
Este trabalho tem como objetivo conhecer as atuais condições de operação do transporte
hidroviário de Tucuruí, que faz ligação com as vilas e cidades vizinhas, caracterizando o
sistema, perfil do usuário, motivo de viagem e demanda. Estas informações será o ponto de
partida para propor soluções de melhorias para o sistema de transporte hidroviário da região.
2.
O TRANSPORTE HIDROVIÁRIO EM TUCURUÍ
As viagens pelo rio Tocantins tiveram diferentes significados para as populações ribeirinhas.
Além de ser o meio mais viável para a venda do excedente de produtos e aquisição de bens
indispensáveis à sobrevivência, representavam também uma possibilidade de trocas culturais
(Oliveira, 2004). Segundo Paternostro (1945) as trocas de mercadorias entre os homens
seguem-se as trocas de ideias e pensamentos.
O elemento que mais contribuiu para essa dinamicidade foi a atividade da navegação,
predominante nesse meio, pois ela mantinha os ribeirinhos em constante relação com outros
moradores das margens do rio, chegando até Belém. O processo de modernização na região substituição dos barcos a remo pelos barcos a motor, advento dos aviões (antes mesmo do
automóvel), abertura da rodovia Belém-Brasília, construção de pontes e de barragens influenciou de modo marcante na construção/reconstrução dessa identidade e fez com que
mudanças passassem a ocorrer com mais rapidez: aumento populacional com a imigração,
crescimento das cidades, desenvolvimento dos transportes e da produção agrícola, etc.
(Oliveira, 2008).
A construção da barragem foi a responsável pela grande mudança na vida desses ribeirinhos.
Uma barreira se criou, dividindo as margens direita e esquerda do rio, à montante e a jusante
da UHT. E além da barreira física, se criava também uma barreira social. Este fato incentivou
uma série de conflitos na região (Marques e Kuwahara, 2009; Maciel, 1997; Mayari, 2007).
A navegação a montante facilitou a circulação das embarcações com a criação do lago, área
antes inadequada. Porém, a navegação à jusante foi esquecida em função da implantação da
rodovia BR 422 (Tucuruí sentido Belém) e BR 156 (Transcametá, ligando Tucuruí-Cametá)
que permite o acesso mais rápido à região (Figura 1).
A linha hidroviária Belém-Tucuruí está desativada, mas a linha Tucuruí-Cametá ainda é
operada, principalmente no período de chuva (dezembro a abril), que se torna a opção mais
viável, pois a Transcametá fica em condições precárias de tráfego de ônibus e caminhão,
tornando o percurso mais lento, caro e arriscado, em virtude dos riscos de assaltos e acidentes.
Figura 1: Principais destinos da navegação à jusante da UHE Tucuruí no Rio Tocantins, com marcação das rotas
hidroviária e rodoviária Tucuruí-Cametá-Belém. Fonte: Adaptado de Google Maps (2013).
A navegação à jusante da UHE Tucuruí é atualmente dividida em navegação de curta
distância e de longa distancia. As viagens decurta distância tem finalidade de lazer, com
destino às praias localizadas à margem do rio (Crioulas, Pederneiras e Queirós Galvão). A
viagem de longa distancia faz ligações com os municípios situados à margem do rio
Tocantins, cujos destinos principais são as cidades de Baião, Mocajuba e Cametá.
A operação dessas rotas não é regulamentada pelo órgão municipal, que não possui nenhum
registro ou informação desse serviço. Apenas a Capitania dos Portos atua na fiscalização de
forma esporádica, com relação à lotação das embarcações e equipamentos de segurança.
Neste sentido, se evidencia o abandono que esta modalidade está, embora a sua importância
para a população.
3.
AS CONDIÇÕES DE INFRAESTRUTURA NOS PORTOS DE TUCURUÍ
Tendo em vista a caracterização da infraestrutura do transporte hidroviário de Tucuruí, bem
como suas peculiaridades, realizou-se um estudo de caso buscando explanar as reais
necessidades da população usuária deste meio de transporte. Para tanto, fez-se uma pesquisa
utilizando a observação e a entrevista para registrar as condições da infraestrutura e conhecer
a percepção dos usuários ebarqueiros sobre as condições do sistema existente.
3.1 Os Atracadouros
As condições do sistema de transporte hidroviário operado revelam-se bastantes inadequadas,
tanto às necessidades dos passageiros quanto dos proprietários das embarcações. Foram
identificados os seguintes aspectos: inexistência de normas disciplinadoras aplicadas às
embarcações que hoje, de forma precária, atendem aos passageiros; inadequação das
embarcações para o transporte simultâneo de passageiros e cargas e a precária infraestrutura
do porto;falta de disponibilidade de informação sobre os horários de chegada, saída e destino
das viagens; falta de infraestrutura do local para embarque e desembarque de cargas e
passageiros; falta de conhecimento técnico, das normas brasileiras no que se refere ao
transporte aquaviário, por parte dos donos das embarcações; falta de qualificação profissional
dos pilotos das embarcações; inexistência de associações de barqueiros do transporte à longa
distância; ausência de fiscalização da ARCON-PA (Agência de Regulação de Serviço Público
do Estado do Pará).
Tucuruí, hoje, conta com quatro atracadouros, disposto nos seguintes locais da orla da cidade:
Matinha, Mangual, Farol e Mercado municipal. Embora sejam significativos, na quantidade,
deixam a desejar na qualidade. Os atracadouros da Matinha e Mangual surgiram de forma
espontânea como ponto de atracação dos pescadores que moram nesses bairros e atracam suas
embarcações nesses locais. Os mais utilizados e vulgarmente chamados de portos pela
população, são os situados entre o farol da orla e a feira municipal e o que fica atrás do
mercado municipal.
A atracação das embarcações é feita de forma precária, tornando difícil (e até mesmo
perigosa) a operação de embarque e desembarque de passageiros e cargas. Os mais
prejudicados são os idosos e crianças, sobretudo, quando a necessidade do deslocamento se
refere a problemas de saúde, pelo difícil acesso às embarcações. A precariedade que
apresentam esses pontos de embarque e desembarque constitui-se fatores de alto risco de
acidentes.
3.1.1 Atracadouro destinado àsviagens de curta distância
Esse Atracadouro localiza-se entre o farol do cais e a Feira Municipal. Surgiu pelo costume de
nele atracarem os barcos de pequeno/médio porte pertencentes à Associação Náutica de
Tucuruí. As embarcações atracadas nesse local destinam-se ao transporte de passageiros em
busca de lazer, pois os principais destinos são as praias vizinhas.
Outro detalhe preocupante nesse porto é a passagem da rampa de concreto para a balsa
flutuante, para fazer essa permuta os passageiros passam por uma rampa de madeira
totalmente insegura e correm sérios riscos de sofrerem acidentes (Figuras2 e 3).
Figura 2: Vista do atracadouro destinado à embarcação
de pequeno/médio porte localizado entre o farol da orla e
a feira municipal. Fonte: Iriani Miranda e Joseane Lais
em Nov/2012.
Figura 3: Detalhe da rampa de acesso as
embarcações. Atracadouro destinado à embarcação
de pequeno/médio porte. Fonte: Iriani Miranda e
Joseane Lais, em Nov/2012.
Embora o local seja um dos mais importantes, além do precário acesso às embarcações o
acesso do modo rodoviário também é problemático. Não existe estacionamento apropriado e
seguro. Os usuários estacionam seus veículos nas ruas próximas à orla e também próximo à
margem do rio, onde o veículo permanece o dia inteiro, com total insegurança, até o
proprietário retornar da viagem pelo modo hidroviário.
3.1.2 Atracadouro destinado às viagens de longa distância
O Atracadouro destinado às viagens de longa distância é o mais importante da cidade, pois é
nele que ancoram as embarcações de grande porte.Utiliza o transporte de uso misto de carga e
passageiros. Surgido do costume dos barqueiros ancorarem no local e também por ficar atrás
da Feira Municipal e do Mercado Municipal, essa localização segundo os donos das
embarcações facilita o transporte terrestre tanto das cargas que embarcam como as que
desembarcam, pois o destino principal dessas cargas são os boxes dos comerciantes da feira.
Quase sempre as operações de embarque/desembarque são feitas por meios improvisados nos
atracadouros, onde o único material usado é uma rampa estreita e sem nenhuma segurança.
Por isso, expõem a toda sorte de risco os passageiros que a utilizam (Figuras3 e 4).
Figura 4: Rampa para embarque e desembarque de
passageiros no Atracadouro destinado às embarcações
de grande porte que fazem viagem de longa distância.
Fonte: Iriani Miranda e Joseane Lais, em Jun /2012.
Figura 5: Processo de embarque de carga, no
Atracadouro destinado às embarcações de grande porte
que fazem viagem de longa distância. Fonte: Iriani
Miranda e Joseane Lais, emJun /2012.
A mesma acontece com o embarque e desembarque das cargas. A falta de equipamentos que
auxiliem o manuseio das cargas na ocasião dos embarques, e a precariedade do local onde são
feitos a ancoragem das embarcações, não só tornam penosas e demoradas, como altamente
perigosas essas operações (Figuras 6 e 7).
Figura 6: Rampa para embarque e desembarque de
carga no Atracadouro destinado às embarcações de
grande porte que fazem viagem de longa
distância.Fonte: Iriani Miranda e Joseane Lais, emNov
/2012.
Figura 7:Armazenamento da carga no Atracadouro
destinado às embarcações que fazem viagem de longa
distância. Fonte: Iriani Miranda e Joseane Lais, em
Nov. /2012.
É importante, porém, considerar que a orla de Tucuruí sofre influência dos ciclos de seca e
cheia do rio Tocantins. Esta variação afeta a infraestrutura a medida que no período de cheia a
área de embarque e desembarque fica por muito tempo em baixo d’água, tornando a área
escorregadia.
Portanto, as precárias infraestruturas de embarque/desembarque, ocasionam maiores riscos
para os usuários no acesso às embarcações. Na maioria dos casos, o periódico movimento do
nível do rio também provoca a destruição desses atracadouros improvisados, dificultando
ainda mais o deslocamento de passageiros e cargas até as embarcações.
O outro extremo é o período de seca do rio que ocorre nos meses de julho a dezembro. Neste
período o rio Tocantins à jusanteseca e apresenta um desnível de até 3,20m, o que dificulta
bastante o embarque/desembarque neste ponto.
3.2 Caracterização das Embarcações
As embarcações que atracam nos atracadouros de Tucuruí são de pequeno, médio e grande
porte. A classificação das embarcações foi baseada nos dados obtidos na pesquisa de campo,
que levou em consideração as dimensões das embarcações, a quantidade de passageiros e a
carga transportada nos atracadouros do município de Tucuruí.
No geral, as de pequeno/médio porte são usadas para viagens curtas como pesca esportiva,
lazer/turismo (praias localizadas a jusante da UHETucuruí) e também como meio de
transporte dos ribeirinhos das margens próximas. As de grande porte realizam as viagens de
longa distância (são aquelas realizadas para os municípios de Baião, Mocajuba e Cametá).
3.2.2 Embarcações de pequeno porte
A maioria é construída a partir de um único tronco de madeira de lei, o qual é trabalhado pelo
operário, tomando a forma de uma canoa. São os mais rústicos modelos de embarcações em
atividade na região, utilizando como força motora o motor, rabetas e o braço humano através
de remos, com os quais possibilitam o deslocamento dos cascos (Figura 8).
Figura8 - Exemplos de embarcações de pequeno porte. Fonte: Iriani Miranda e Joseane Lais em Nov/2012.
A capacidade média dessas embarcações é de cinco a dez passageiros, podendo no que diz
respeito à carga, transportar pequenas quantidades.
3.2.3 Embarcações de médio porte
As embarcações de médio porte são construídas de casco de madeira e outras de ferro
(voadeiras) e usam motores movidos a diesel ou à gasolina (Figura 9).
Figura 9 - Exemplos de embarcações de médio porte. Fonte: Iriani Miranda e Joseane Lais, Nov/2012.
A capacidade varia de 12 a 20 passageiros, também carregam pequenas quantidades de carga.
No geral, são utilizadas como transporte para passeio ou para pesca artesanal (Tabela 1).
Tabela 1:Caracterização das embarcações de Navegação de curta distância.
Comprimento:
8 a 11,90
Dimensões(m)
Largura:
1,30 a 1,70
Capacidade Total (nº de passag.)
12a 20
A Navegação de curta distância é mais restrita em relação ao objeto de transporte, visto que só
realiza comumente o tráfego de passageiros e bebidas, para serem consumidas nas praias.
3.2.4 Embarcações de grande porte
Realizam as viagens de longa duração e suas principais rotas são para os municípios de Baião,
Mocajuba, Cametá e distritos vizinhos(Figura 10).
Figura 10 - Exemplos de embarcações de grande porte. Fonte: Iriani Miranda e Joseane Lais em Nov/2011.
A regulamentação dessas embarcações, por parte da Capitania dos Portos, ainda está em fase
de cadastramento. Iniciou em 2011 em decorrência da implantação da eclusa e os dados não
foram divulgados. No período da pesquisa (junhoa novembro de 2012) constatou-se10
embarcações de grande porte e 10 de médio porte. A quantidade das embarcações de pequeno
porte não foi computada, visto a dificuldade desse registro, mas estima-se em torno de 50
embarcações.
A Tabela 2 mostra os dados obtidos na pesquisa referente às dimensões das embarcações que
realizam a viagem de longa distancia, bem como a capacidade total de passageiros.
Tabela 2:Caracterização das embarcações de navegação de longa distância
Comprimento:
18,90 à 22
Dimensões(metro)
Largura:
3,80 a 4,60
Capacidade Total (nº de passag.)
35 a 100
Carga (ton)
15 a 50
A navegação à jusante da UHE Tucuruí é definida como mista, pois realiza o transporte de
cargas e passageiros, sendo os tipos de carga mais comumente transportados: alimentos
manufaturados, bebidas, materiais de construção, dentre outros.
Os resultados dessa pesquisa possibilitaram diagnosticar que o transporte aquaviário tem sido
a principal base logística para o sistema comercial local, estabelecido entre as cidades de
Tucuruí e municípios vizinhos no entorno do rio Tocantins, através do qual se distribuem
produtos naturais tais como o açaí e o peixe, e mercadoriasmanufaturadas.
4.
O RIBEIRINHO DA REGIÃO DE TUCURUÍ
A pesquisa realizada com os passageiros das embarcações ocorreu no período de outubro e
novembro de 2012. Os locais da aplicação das pesquisas foram os atracadouros que realizam
viagem de longa distância (para municípios à jusante da UHE Tucuruí) e de curta distância
(praias à jusante da UHE Tucuruí).A elaboração do questionário teve como intuito o
conhecimento do perfil dos usuários e a caracterização das viagens. Foi realizado um total de
150 entrevistas.
De uma maneira geral, essa pesquisa demonstrou que a maioria dos entrevistados é do sexo
feminino (54%), entre 30 e 60 anos (52%), com renda entre 1 e 2 salários mínimos (66%),
com apenas o 1º grau incompleto (42%) e casadas (56%).
4.1.Caracterização das viagens de longa distancia
Com base na pesquisa, definiram-se os fluxos de viagem dos passageiros. É importante relatar
que esses foram entrevistados nos barcos, em Tucuruí, com saída marcada para o meio dia
(12h00). Foi registrada uma média de 225 passageiros/dia que saem de Tucuruí no horário
pesquisado. A movimentação de passageiros nesse horário corresponde: 14% na terça-feira,
16% na quinta-feira, 20% na sexta-feira, 26% no sábado e 24% no domingo. Os dias de
segunda e quarta não há saídas viagens, são os dias de chegada da embarcação.
A Figura 11apresenta as cidades com maiores destinos passageiras, sendo os mais
expressivos: Mocajuba corresponde a 34% dos passageiros, Baião com 32% e Cametá com
26%.
O motivo de viagem, com base na sua vinda à cidade de Tucuruí, obteve-se que cerca de 50%
dos entrevistados fazem este trajeto para visitar amigos e parentes, seguido de 26% que o
fazem por motivo de trabalho e, saúde e lazer ficar com 10% cada.
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
34%
32%
26%
4%
2%
Ituquara
Calado
2%
Vila do Carmo
Mocajuba
Baião
Cametá
Figura 11: Destino de viagem – entrevistados. Fonte: Iriani Miranda e Joseane Lais(2012).
São vários os fatores que podem levar o usuário a escolher um determinado tipo de transporte
em detrimento de outro. O transporte intermunicipal das cidades à jusante da UHE Tucuruí
pode ocorrer por meio de transporte rodoviário ou hidroviário. A fim de definir a motivação
do usuário ao optar pelo transporte aquaviário, fez-se o questionamento sobre o motivo da
escolha. O resultado foi que 44% escolhem este modal por questões de segurança, 42% pela
falta de disponibilidade de acessar outros meios de transporte e 14% pelo custo, pois o
transporte hidroviário é mais barato.
Esses resultados estão diretamente ligados à violência que assola o transporte rodoviário,
tanto pelo alto índice de assaltos e risco de acidentes, quanto às péssimas condições das
estradas nos quais esse trafega. Quando chove, o ônibus e microônibus não realizam a viagem
e, quando realizam,normalmente param no caminho, quebram ou ficam atolados na lama.
A Tabela 3 mostra os valores e tempo de viagem de barco entre Tucuruí e Cametá, com
parada em Baião e Mocajuba.
Tabela 3:Origem/ destino, Preço e tempo de percurso das viagens de longa distância.
Linha
Escalas
Valor médio da
Passagem
Tempo aproximado de
Viagem
Origem
Destino
Tucuruí
Cametá
R$
20,00
12:00hrs
Tucuruí
Baião
R$
15,00
7:00hrs
Tucuruí
Mocajuba
R$
18,00
9:00hrs
O preço médio da passagem de ônibus e microônibus nesse mesmo percurso é de R$ 38,00,
com o tempo médio em 5 horas de viagem, podendo até dobrar no período de chuva. Por isso,
muito passageiros optam em viajar pelo modo hidroviário, que além da beleza da paisagem,
se torna mais viável economicamente e seguro.
Todas as embarcações pesquisadas transportam passageiros e cargas ao mesmo tempo. Sendo
que dentre as cargas, destacam-se o transporte de: alimentos manufaturados, bebidas,
materiais de construção, açaí e pescado; que os passageiros compram em Tucuruí e levam
para sua localidade de origem.
O modo de transporte rodoviário que complementa o transporte hidroviário dos passageiros é
feito por: táxi, moto-táxi e ônibus. Desta forma, 70% dos entrevistados declararam estar
satisfeitos com os meios de transportes complementar, enquanto que 30% se mostraram
insatisfeitos, devendo melhorar a integração com as linhas de ônibus existentes.
Quanto às dificuldades para realizar o embarque e desembarque nas embarcações, 92% dos
pesquisados relataram que encontram dificuldades, por conta da rampa estreita. E apenas 8%
disseram não haver problemas.Esse dado confirma a insatisfação do usuário com a precária
infraestrutura existente no atracadouro da cidade de Tucuruí.
Outro dado importante é a ocorrência de acidentes na travessia do cais para a embarcação.
Dos 92% que declararam sentir dificuldade ao embarcar, 26% dos entrevistados afirmaram ter
sofrido algum tipo de acidente, como queda e escorregadas, no momento de acessar as
embarcações.
A frequência com a qual os usuários deste meio de transporte costumam realizar suas
viagenssão:56% mensalmente, 30% semanalmente, e 14% anualmente.As viagens mensais
são para atividades bancárias, compras e atendimento à saúde. As semanais são para compra e
venda de mercadorias. As anuais são para visitas a parentes e férias.Em relação ao tempo de
espera, cerca de 46% dos entrevistados declararam não existir demora na hora do embarque;
42% declararam que existe demora, e apenas 12% disseram qua as vezes ocorre esta demora.
As demoras são ocasionadas principalmente pelo embarque da carga nas embarcações.
Foi perguntado ainda se alguma vez houve a desistencia da viagem ocasinadas por problemas
de infraestrutura no local ou embarcação. Neste sentido, 80% dos usuários declaram nunca ter
deixado de viajar por nenhum motivo na hora do embarque, no entanto 20% dos entrevistados
declararam que já deixaram de viajar pelasuperlotação eproblemas com a embarcação.
O período do “veraneio” (férias) é quando ocorre o maior fluxo de passageiros, sendo que
75% são da própria região norte, enquanto 25% são turistas, vindos de outras regiões, e até
estrangeiros.
4.2.Caracterização das viagens de curta distancia
A navegação de curta distância possui como destinos as praias do entorno da jusante: Queiros
Galvão, Crioulas e Pederneira (Figura 12).
Figura 12:Praias localizadas à jusante da UHE Tucuruí, principais destinos da Navegação de curta distância
nesta região. Fonte: Google Maps (2013).
Assim como na navegação de longa distância, o período do veraneio (férias) é o de maior
fluxo de passageiros, 50% dos passageiros transportados pertencem à região e os outros 50%
são caracterizados por turistas, sendo 55% estrangeiros.
A procura por lazer faz com que o uso do modal hidroviário seja bastante procurado pela
população. De maneira geral, os usuários são mais jovens, na faixa de 20 a 30 anos (75%), do
sexo feminino (58%), com renda entre 1 e 2 salários mínimos (56%), com o 1º grau completo
(42%) e casadas (56%).
Encontram-se descrito na Tabela 4 as linhas locais existentes, bem como os valores cobrados
e a duração da viagem.
Tabela 1: Origem e destino das viagens de curta distância -Navegação de curta distância.
Valor unitário
Tempo aproximado de
Origem
Destino
da passagem
Duração da Viagem
Tucuruí
Praia Queirós Galvão
00:05 min
de R$ 3,00 a
Linhas
Tucuruí
Crioulas
20:00 min
R$5,00
Tucuruí
Pederneira
30:00 min
Os preços das passagens são acessíveis, e torna o transporte bastante utilizado. Registrou-se
no período da pesquisa uma média de 60 passageiros por final de semana. As praias não
possuem infraestrutura adequada com restaurantes que atendam os veranistas, por isso é
comum os usuários levarem sua refeição e bebidas.
O resultado dessa pesquisa possibilitou conhecer a importância do transporte hidroviário tanto
para os habitantes de Tucuruí, como dos municípios vizinhos. A visão dos usuários quanto ao
sistema de transporte hidroviário demonstrou que os mesmos desejam e necessitam de
melhorias.
São necessários estudos para implantação dessas melhorias tanto na infraestrutura quanto na
operação do setor: escolher o local adequado para implantação de um Terminal Hidroviário,
que atenda as viagens de curta e longa distância; projetar o terminal hidroviário com a devida
separação da carga e passageiros; medidas de acesso dentro da legislação de acessibilidade,
organizar o embarque e desembarquegarantindo a segurança dos usuários. Cabe ao poder
público propor e implantar políticas, projetos e ações de modo a valorizar esse modal, tão
peculiar e importante na região.
5.
CONCLUSÕES
O transporte hidroviário, embora seja um dos meios de transporte mais antigos da cidade de
Tucuruí, não evoluiu muito com o tempo devido à falta de investimentos na área. Isto pode
ser facilmente observado nas instalações, pois, quando estas existem, são precárias; sem
nenhuma infraestrutura que proporcione conforto ou sequer segurança aos usuários.
A navegação no rio Tocantins ainda é um dos principais meios de locomoção da população
ribeirinha localizada à jusante da UHE de Tucuruí. Porém, a falta de infraestrutura acaba por
gerar desconforto tanto aos usuários, que declaram sentir grandes dificuldades no
embarque/desembarque da navegação, quanto aos donos das embarcações que tem de realizar
o carregamento da embarcação e não possuem infraestrutura adequada para fazê-lo.
Os dados coletados apontam acidentes ocasionados pela precariedade do acesso à
embarcação, devido às pedras escorregadias no caminho, bem como as rampas estreitas que
dão acesso aos barcos. Sabe-se que não existe uma fiscalização efetiva para as embarcações
na cidade de Tucuruí, sendo que grande parte dos barqueiros não possui nenhum registro
junto às entidades regulamentadoras (Capitania dos Portos, Marinha, dentre outros). A única
cobrança realizada aos barqueiros é o respeito à quantidade máxima de passageiros permitida,
a qual é realizada esporadicamente pelo Corpo de Bombeiros. Segundo alguns usuários
entrevistados, já houve casos de impedimento da saída do barco, devido à quantidade
exagerada de pessoas presentes nesse transporte.
Pode-se apontar como fatores para esta realidade, a falta de investimento público, bem como a
falta de fiscalização por parte dos órgãos competentes e o silêncio da população usuária deste
meio de transporte, que na maioria das vezes desconhece seus direitos básicos.
A necessidade de melhoria é urgente. A valorização do modal hidroviário tem que ir além da
visão do usuário. É preciso que os órgãos responsáveis valorizem e implantem medidas que
torne esse sistema mais seguro e atrativo, visto a sua importância para a região. Implantar um
terminal hidroviário capaz de organizar e promover a segurança dos usuários, bem como
investir nas melhorias e modernizações das embarcações, são medidas necessárias e indicadas
para a realidade local.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ADA (2006).Agência de Desenvolvimento da Amazônia.Plano de ação - 2006. Amazônia Legal.Belém.
Bastos, M. M. (2006). Percursos Fluviais da Amazônia Paraense: Um Estudo Sobre Acidentes em Embarcações.
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Regina Célia Brabo Ferreira ([email protected])
Miguel Figueiredo de Oliveira Neto ([email protected])
Rafaela Carolina Sarmento de Araújo ([email protected])
Instituto de Tecnologia, Universidade Federal do Pará
Rua Augusto Corrêa, 01 – Guamá110 – Belém, Pa, Brasil
Iriani Sousa Miranda ([email protected])
Joseane Lais da Silva Oliveira ([email protected])
Campus Universitário de Tucuruí, Universidade Federal do Pará
Rod. BR 422 Km13 S/N Canteiro de Obras da UHE-Tucuruí, Pa, Brasil
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