AU
TO
RA
L
TO
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
Pedagogia
PR
OT
EG
ID
O
PE
LA
LE
I
DE
DI
R
EI
INSTITUO A VEZ DO MESTRE
DO
CU
M
EN
TO
MARQUES, Sandra Regina dos Santos
VANTAGENS DE UMA EDUCAÇÃO BILINGUE
1
2
RIO DE JANEIRO
2009
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUO A VEZ DO MESTRE
Pedagogia
MARQUES, Sandra Regina dos Santos
VANTAGENS DE UMA EDUCAÇÃO BILINGUE
Trabalho de Conclusão de Curso de
Graduação em Pedagogia, entregue à
Universidade
Cândido Mendes –
Instituto A Vez do Mestre,
sob
orientação da professora Andressa.
3
RIO DE JANEIRO
2009
DEDICATÓRIA
A minha querida tia Ruth que
sempre foi para todos nós um
grande exemplo de superação e
perseverança
diante
dos
desafios da vida.
4
AGRADECIMENTOS
Aos
amigos
que
compartilharam dessa minha
caminhada me apoiando e
a minha sobrinha Camila por
sua
ajuda
e
incentivo
durante o projeto.
5
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
RESUMO
CAPÍTULO
I
CAPÍTULO II
CAPÍTULO III
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERENÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ÍNDICE
Anexo I
Anexo II
6
VANTAGENS DE UMA EDUCAÇÃO BILINGUE
RESUMO
A compreensão das questões que envolvem o bilinguismo e a tradução dos
aspectos da educação bilíngue propriamente, são as principais abordagens desse
estudo que estabelece em sua idéia cerne a construção de um novo olhar
pedagógico no que diz respeito à aquisição de uma segunda língua e os
benefícios que essa prática pode trazer no desenvolvimento comunicativo e
educacional. Sendo essa abordagem um "produto convite" para o debate deste
trabalho, que deve estimular o leitor a inteirar-se com mais afinco desse novo
âmbito da educação — um dos principais impulsores para o advento da carreira
profissional do indivíduo.
PALAVRAS-CHAVE
Bilinguismo;
Educação;
neurolinguistico;
Desenvolvimento
Comunicativo;
Pedagógico;
7
INTRODUÇÃO
Bilinguismo é um termo que tem se tornado muito comum, especialmente
entre as escolas que oferecem uma educação bilíngue. No entanto, esse vocábulo
tem recebido diferentes significados e segundo vários especialistas no assunto,
bilinguismo pode ser entendido como a habilidade de se comunicar naturalmente e
fluentemente em mais de um idioma. SAUNDERS (1998). Estudos realizados no
âmbito da neuropsicologia da linguagem sugerem que os bilingues desenvolvem
diferentes estratégias de processamento da informação, de acordo com o contexto
de aquisição de ambas as línguas. HAMERS & BLANC (1989). No entanto,
especialistas concordam que não é tão simples encontrar uma definição.
―A complexidade do desafio dos professores que estão envolvidos em
desenvolver o bilingüismo em crianças é muito evidente‖. (HARWORTH, 2006:
296). Baker (2006) menciona a dificuldade e limitações de se definir ―bilinguismo‖
em uma só frase. O autor sugere que bilingüismo vai além da habilidade de falar
duas línguas, uma vez que a fluência em um outro idioma inclui diferentes
aptidões. Por esta razão, é importante distinguir as várias habilidades como o
ouvir, escrever, ler e falar. MILLS e MILLS (1993) caracterizam bilinguismo como
sendo, entre outras definições, algo funcional, produtivo, simultâneo e social.
Educação bilíngüe, segundo Baker (2006), é algo muito complexo de ser definido.
8
Numa sociedade que tende para o multiculturalismo, com o aumento da
migração dos povos e com a maior visibilidade das comunidades bilingues, não
tem razão de ser falar de monolinguismo, se considerarmos o bilinguismo, não só
a situação de perfeito domínio de duas ou mais línguas, mas toda a situação que
envolve o falar línguas, seja em que situação for, como também não tem razão de
ser a nível neuropsicológico nem a nível neurolinguístico falarmos de
monolinguismo: o que existem são falantes que, independentemente de
dominarem uma ou mais línguas, adaptam registros diferentes segundo as
situações. Atualmente, muitos pais estão engajados em oferecer uma boa
educação para seus filhos e devido a globalização há a necessidade de se
aprender senão um, mas vários idiomas e muitos pais tem procurado escolas que
ofereçam tal proposta.
Desta forma, o presente estudo sugere apresentar as possíveis
articulações do bilinguismo na educação e esclarecer as influências que sua
aquisição pode promover no desenvolvimento da criança. E assim facilitar a
descoberta de um caminho direcionador de novas idéias, permitindo então, uma
visão clara dos benefícios decorrentes de se gerar novos conceitos agregando
novos conhecimentos e culturas ao desenvolvimento educacional infantil.
9
Capítulo1
LINGUAGEM
Para começar se faz necessária uma definição. Afinal, o que é linguagem?
Para simplificarmos, linguagem é a faculdade humana de simbolizar, de criar uma
língua para se expressar num sistema organizado de símbolos e sinais que os
seres humanos usam para se comunicar. Esses símbolos podem ser falados,
podem ser representados por sinais (libras) ou escritos. A linguagem falada
consiste em sons (fonemas) e quando combinados dão significado a uma palavra
(grafia).
A linguagem é a representação compreensiva em face do mundo exterior objetivo
e do mundo subjetivo exterior. CAMARA JR (2001). Na abordagem lingüistica de
Ferdinand Saussure, a língua funciona como elemento de interação entre o
indivíduo e a sociedade em que ele atua. Assim, o sistema lingüistico é um
fenômeno social que deve ser estudado na sua estrutura. Conjunto complexo de
processos – resultados de uma certa
atividade psíquica profundamente
determinada pela vida social – que torna possível a aquisição e o emprego
concreto de uma língua qualquer. CASCAU (1961)
10
1.1 Linguagem segundo Piaget e Vygosky
Nossa habilidade de usar a linguagem é algo importante que nos separa de
outros seres do mundo animal. A partir do sec. XIX algumas pessoas começaram
a se interessar em conhecer como a linguagem é desenvolvida. Muitos desses
estudiosos ouviam diferentes crianças e mantinham um diário com anotações do
que era dito por essas crianças. Piaget foi uma dessas pessoas que usou o
método do diário para estudar o desenvolvimento cognitivo de suas três crianças
nas décadas de 20 e 30. Esse método mostrou-se ineficaz, pois é impossível
anotar tudo o que uma criança diz ao longo de um dia ou semanas, bem como
descrever as situações nas quais tais sentenças ou palavras foram ditas.
Nas décadas de 50/60, estudiosos passaram a usar gravadores para gravar
as falas das crianças. Esse método também se mostrou inadequado porque as
crianças não falavam com naturalidade e de forma espontânea como era preciso
para os estudos, nem tão pouco, podiam analisar as expressões que é também é
uma forma de linguagem. A partir dessas conclusões, a filmagem começou a ser
usada. Jerone Bruner usou esse método para observar crianças que estavam
sendo analisadas, pois os estudiosos podiam analisar não somente o que era dito,
mas também as circunstâncias e efeitos que causavam nas crianças.
Esse
método ainda é usado por estudiosos no assunto. Todos os testes usados levaram
alguns dos estudiosos a concluírem que o desenvolvimento cognitivo da
linguagem ocorre em diferentes estágios. Piaget foi um defensor dessa linha de
pensamento. Sendo assim, cada estágio de desenvolvimento é dominada por um
11
diferente tipo de raciocínio e dessa forma, a linguagem também ocorre em
estágios. Behavoristas como Skinner, por exemplo, acreditam que nossas
diferentes habilidades se desenvolvem a medida que ganhamos experiência e
recebemos diferentes estímulos.
Há grandes evidências de que bebês se
beneficiam da interação social.
Por volta dos seis meses os bebes começam a balbuciar e produzem sons
que podem aparecer em qualquer linguagem do mundo.
Já com dez a doze
meses eles começam a dizer as primeiras palavras. Provavelmente, a partir dos
dezoito meses a criança já consegue um vocabulário de 50 palavras.
Com 24
meses começa a formar frases simples e a partir daí a criança irá expandir seu
vocabulário e a maneira de se comunicar com outros. (COLLINS LONDON, pp
255-274) É óbvio que estamos falando em tese, pois devemos pensar que apesar
dos estágios defendidos por Piaget e outros, cada criança é um indivíduo e sendo
assim, pode responder de forma que lhe seja peculiar. No entanto, essa é uma
diferença entre o pensamento de Piaget e Vygosky.
Para Piaget, há uma relação entre pensamento e raciocínio lógico, onde o
desenvolvimento realiza-se em diferentes etapas, por isso o tempo cronológico
deve ser respeitado. Cada fase tem sua importância.
Segundo as teorias de Vygotsky, pensamento e linguagem também são
duas premissas dissociáveis. No entanto, segundo Vygotsky, a criança pode se
desenvolver não necessariamente, seguindo tais etapas e estágios defendidos por
12
Piaget. Se ela for exposta a um ambiente onde ela possa interagir com outros
mais velhos ou mais desenvolvidos do que ela, poderá ter um desenvolvimento
mais do que o esperado para sua idade cronológica, pois segundo ele, é com o
outro e com a troca que acontece a aprendizagem. (Zona de desenvolvimento
proximal).
Vygotsky ressalta que a linguagem e o espaço em que a criança se
constitui como sujeito
e em que o conhecimento do mundo e do outro e
selecionado e incorporado.
1.2
Pensamento e Linguagem
Sabemos que diferentes línguas possuem estruturas lexicais e sintáticas
diferentes. Essas diferenças, geralmente, refletem as diferenças no ambiente
físico e cultural no qual as línguas surgiram e se desenvolveram. Um conceito
relevante a essa questão é o do determinismo lingüístico, também chamado de
hipótese Sapir-Whorf, que afirma que os pensamentos das pessoas são
determinados pelas categorias permitidas pela língua, e na sua versão mais fraca,
a relatividade lingüística, afirma que as diferenças entre as línguas causam
diferenças nos pensamentos de seus falantes.
Nas palavras de Pinker:
"Na qualidade de cientista cognitivo posso me dar o direito de ser
presunçoso e afirmar que o senso comum está correto: o
13
pensamento é diferente da linguagem e que o determinismo
lingüístico é um absurdo convencional." (2002, p.75)
"Mas isso é falso, completamente falso. A idéia de que o
pensamento seja a mesma coisa que a linguagem é um exemplo do
que se pode chamar de absurdo convencional: uma afirmação
totalmente contrária ao senso comum, mas em que todos acreditam
porque têm uma vaga lembrança de tê-la escutado em algum lugar e
porque ela tem tantas implicações. [...] Todos tivemos a experiência
de enunciar ou escrever uma frase, parar e perceber que não era
exatamente o que queríamos dizer. Para que haja esse sentimento,
é preciso haver um 'o que queríamos dizer' diferente do que
dissemos. Nem sempre é fácil encontrar as palavras que expressam
adequadamente um pensamento." (2002, p.62)
Deficientes auditivos completamente destituídos de linguagem são um claro
exemplo de pensamento sem linguagem. Além disso, muitas pessoas criativas
afirmam que em seus momentos mais inspirados pensam com imagens mentais, e
não com palavras. Lui Chi Kung, um famoso pianista, ficou preso durante sete
anos, e quando finalmente saiu da prisão, tocava melhor que antes. Lui afirma ter
ensaiado todos os dias, mentalmente, na prisão. Muitas atletas treinam
mentalmente antes das competições e até o exército americano já utilizou essa
técnica para treinar os seus soldados. Os físicos afirmam que seu pensamento é
geométrico e não-verbal. O mais famoso auto-intitulado pensador visual foi Albert
Einstein chegou a algumas de suas descobertas se imaginando montado num
14
facho de luz e olhando para um relógio situado atrás, ou deixando cair uma moeda
dentro de um elevador em queda.
Para Vygotsky (1991), o pensamento e a palavra não são ligados por um elo
primário, mas, ao longo da evolução do pensamento e da fala, tem início uma
conexão entre ambos, que se modifica e se desenvolve. Segundo ele, o fato mais
importante revelado pelo estudo genético do pensamento e da fala é que a reação
entre ambos passa por várias mudanças. O progresso da fala não é paralelo ao
progresso do pensamento. As curvas de crescimentos de ambos cruzam-se
muitas vezes; podem atingir o mesmo ponto e correr lado a lado, e até mesmo
fundir-se por algum tempo, mas acabam se separando novamente. Isso se aplica
tanto à filogenia como à ontogenia.
Com base na abordagem genética do desenvolvimento da linguagem,
Vygotsky (in SOUZA, 2001) observa que o pensamento da criança pequena
inicialmente evolui sem a linguagem; assim como os seus primeiros balbucios são
uma forma de comunicação sem pensamento. Entretanto, já nos primeiros meses,
na fase pré-intelectual, a função social da fala já é aparente: a criança tenta atrair
a atenção do adulto por meio de sons variados. Até por volta dos dois anos, a
criança possui um pensamento pré-lingüístico e uma linguagem pré-intelectual,
mas a partir daí, eles se encontram e se unem, iniciando um novo tipo de
organização do pensamento e da linguagem. Nesse momento, surge o
pensamento verbal e a fala racional. A criança descobre que cada objeto tem seu
15
nome e a fala começa a servir ao intelecto e os pensamentos começam a ser
verbalizados.
Assim,
segundo
Vygotsky,
o
desenvolvimento
do
pensamento
é
determinado pela linguagem, pelos instrumentos lingüísticos do pensamento e
pela
experiência
sócio-cultural
da
criança.
1.3 Llinguagem e bilingüismo
Segundo
Stenberg
(2000),
existem
questões
que
fascinam
os
psicolingüistas: "se uma pessoa pode falar e pensar em duas línguas, essa
pessoa pensa diferentemente em cada língua? Realmente, os bilíngües - pessoas
que falam duas línguas - pensam de modo diferente dos monolíngues - pessoas
que podem falar apenas uma língua‖.
James Cummins (1976 in STENBERG, 2000) sugeriu que existem dois tipos
de bilingüismo, o aditivo e o substrativo. No aditivo, a segunda língua é
relativamente bem desenvolvida em relação à primeira, no substrativo, elementos
da segunda língua substituem elementos da primeira língua. No primeiro caso, o
funcionamento cognitivo seria aumentado, no segundo diminuído. Assim, para o
bilingüismo ser benéfico, as pessoas precisam ter uma competência relativamente
alta nas duas línguas.
Alguns psicólogos cognitivos interessam-se em descobrir como as duas
línguas são representadas na mente do bilíngüe. A hipótese do sistema único
16
sugere que as duas línguas são representadas num único sistema, já a hipótese
do sistema dual, que as mesmas são representadas, de alguma forma, num
sistema dual.
Estudos feitos por Geroge Ojemann e Harry Whitaker (1978 in STENBERG,
2000) no córtex de dois pacientes epilépticos, através de estimulação elétrica,
indicam que alguns aspectos das duas línguas podem ser representados
unificadamente, enquanto outros podem ser representados separadamente. Os
resultados também sugerem que a língua mais fraca era representada de forma
mais difusa através do córtex que a língua mais forte.
A teoria de que as duas línguas parecem compartilhar alguns aspectos da
representação mental é defendida por vários estudiosos, sendo J Cummins um
dos principais estudiosos da atualidade a afirmar tal premissa. Para alcançarmos
os benefícios do aprendizado de uma segunda língua, ela deve ser bem aprendida
e a pessoa deve estar num ambiente onde esta língua irá acrescentar-se a sua
primeira língua.
17
Capítulo 2
ASPECTOS NEUROLINGUISTÍSCOS NA AQUISIÇÃO DE UMA SEGUNDA
LÍNGUA
A idade dos alunos é um fator chave nesse processo e para comprovar
essa tese, há um estudo realizado por Kim (1997) com outros pesquisadores da
Universidade de Cornell (EUA), juntamente com o departamento de neurologia e
neurociência da mesma universidade. Eles usaram imagens de ressonância
magnética para investigar diferenças entre estudantes pequenos e outros mais
velhos que aprenderam uma segunda língua.
O primeiro grupo havia aprendido uma segunda língua na infância e o
segundo grupo tinha aprendido uma segunda língua na adolescência e juventude.
Foi pesquisado em ambos os grupos as áreas do cérebro responsáveis pela fala
(Broca) e a área responsável pela compreensão da língua (Wernicke).
A figura 1 mostra a lateral do hemisfério esquerdo do cérebro indicando as áreas
em questão.
18
Figura 1. Broca and Wernicke’s áreas - vista lateral do lado esquerdo do cérebro
19
Kim (1997) descobriu que a área responsável pela fala (broca) era maior nas
pessoas que tinham aprendido uma segunda língua na infância enquanto duas
áreas adjacentes, porém distintas, foram ativadas nas pessoas que adquiram a
segunda língua posteriormente. Em contraste, eles descobriram que a área
responsável pela compreensão da língua (Wernecke) foi ativada igualmente nos
dois grupos. A partir destas descobertas, eles sugerem que a linguagem
representada na área de Wernecke (compreensão) é menos afetada pela idade do
que a área de Broca (fala). Além disso, eles também descobriram que havia
diferenças individuais, mesmo em pessoas que falavam a mesma língua.
As
imagens da ressonância ilustram as descobertas.
Figura 2. O centro de ativação na área do broca é aumentado.
Figura 3. Axial slice of a late bilingual subject. The centres of activation in Broca
areas are magnified
20
Kim et al sugere que a linguagem é representada de forma diferenciada na área
da fala quando a aquisição de uma segunda língua é feita mais tarde. No entanto,
a representação da área da compreensão parece não ser influenciada pela idade.
Estas descobertas são importantes para o entendimento sobre a função da
linguagem e como ela é mantida e processada pelo cérebro. A tecnologia tornouse aliada para nos ajudar a ensinar crianças dentro de uma proposta bilíngue e a
tirar vantagem dessa fase em que a criança pequena terá mais facilidade com a
aquisição de uma segunda língua.
Vimos que a fala é processada em partes do
cérebro dependendo da idade em que é ela é ensinada. Talvez isso explique o
porquê de quem adquiri uma segunda língua, ainda pequeno, desenvolverá um
sotaque e entonação de um nativo da língua.
(Cummins, J. (1980). The construct of language proficiency in bilingual education.
In: J. E. Alatis (ed).
2.1
Outros aspectos que influenciam a aquisição de uma segunda
língua ainda na infância
Para fronkin & Rondan, (1998,p.420) o adulto monolingue, por já possuir
uma matriz
fonológica sedimentada, se caracteriza por uma sensibilidade
auditiva amortecida, treinada a perceber e produzir apenas os fonemas do sistema
de sua língua nativa. A criança por sua vez, ainda no início de seu
desenvolvimento cognitivo, com filtros menos desenvolvidos e hábitos menos
enraizados, mantém a habilidade de expandir a matriz fonológica, podendo
21
adquirir um sistema enriquecido por fonemas de línguas estrangeiras, com as
quais vier a ter contato.
Não são apenas fatores biológicos que influenciam no aprendizado de
uma segunda língua. Fatores de ordem psicológica e afetiva podem causar
impacto direto da aprendizagem. O adulto tende a apresentar maiores problemas
causados pela ausência de motivo espontâneo, fato preponderante na criança. A
resistência à língua do outro e a falta de conhecimento da cultura estrangeira pode
ser um fator negativo no processo de aquisição do novo idioma. A criança está,
de certa forma, isenta disso, pois é desprovida de preconceitos. O adulto também
não possui a curiosidade e o desprendimento da criança, pois se não consegue
acertar ou se comete deslizes durante a aprendizagem, tem a tendência de criar
bloqueios e isso o impede de usufruir de maneira natural do aprendizado do
idioma. Os estudos na área confirmam que crianças assimilam línguas com mais
facilidade que os adultos e ao iniciar sua vida escolar estão abertas e motivadas
para todo tipo de aprendizagem. Por isso, acredita-se que a escola deve
aproveitar essa disponibilidade nata e oferecer o ensino de uma nova língua.
Outro aspecto importante é o ambiente e
aprendizado de uma nova língua
a forma lúdica em que o
ocorre ainda na infância . Isso favorece a
aprendizagem, pois a criança terá prazer com os jogos, as competições, e com
explicações que podem fazer sentido no mundo ― mágico ― da criança‖, sendo
oferecido como uma brincadeira.
No entanto,
o adulto terá que estudar o
22
segundo idioma pensando de maneira mais formal pensando na gramática,
semântica e fonética e isso nem sempre poderá ser prazeroso.
2.3. TEORIA DOS ICEBERGS SEGUNDO J. CUMMINS
J. Cummins (1981), afirma que tanto a língua materna quanto um segundo
idioma operam através do mesmo sistema central de processamento como se
fosse um ―tanque de pensamento‖.
Cummins é um educador canadense e
especialista nesta área há décadas e com grande experiência em educação
bilingue. Sua
teoria
baseia-se no modelo de um iceberg com dois picos
representando as diferentes línguas visíveis na superfície, porém sustentadas por
uma base comum e integradas pela mesma fonte de pensamento. Os dois idiomas
são diferentes quando usados numa conversação, no entanto, os dois ―icebergs‖
estão unidos de tal forma que não funcionam separadamente. Cummins afirma
que ouvir, falar, ler e escrever na língua materna ou na segunda língua irá ajudar o
―tanque de pensamento‖ como um todo a se expandir.
J. Cummins (1981), acredita que na aprendizagem de um idioma a criança
adquire habilidades e conhecimento metalinguístico implícito que poderá ajudá-la
quando estiver aprendendo outra língua. Cummins afirma que essas habilidades e
conhecimento provêem uma base para o desenvolvimento de ambas as línguas
(materna e adicional) e todo aprofundamento em uma língua trará efeitos
benéficos na outra. J. Cummins (1991) afirma: "Conceitos aprendidos em uma
23
língua ajudará a criança a entendê-los também numa segunda língua." Se a
criança já entende o conceito de justiça e honestidade em sua língua materna, ela
somente precisará aprender a palavra correspondente num segundo idioma para
tais conceitos. Essa teoria também explica que quando se aprende um segundo
idioma fica mais fácil aprender outros.
A teoria de Cummins pode ser resumida da seguinte forma. Independente do
idioma que a pessoa esteja usando, os pensamentos que norteiam a fala, a
leitura, a escrita e a audição procedem de uma mesma fonte. Quando a pessoa
fala dois idiomas ou mais, há apenas uma fonte de pensamento. Bilinguismo e
multilinguismo só é possível porque as pessoas tem a capacidade de armazenar
dois ou mais idiomas. Falar, escrever, ouvir e ler no idioma materno ou em um
segundo idioma ajuda a sistema cognitivo a se desenvolver como um todo.
Vygostsky
(1986.pp 159-161)
argumenta que (...) Quando aprendemos uma
segunda língua, usamos o significado da palavra que já está bem desenvolvida
na língua materna e apenas traduzimos. O conhecimento da língua materna
também tem um papel importante no estudo do segundo idioma.
24
Capítulo 3
VANTAGENS DE UMA EDUCAÇÃO BILINGUE
Como vimos anteriormente, pesquisas indicam que estudantes bilíngües
desenvolvem melhor suas habilidades nas áreas cognitivas. Esta talvez seja a
explicação porque estes estudantes geralmente apresentam um melhor
desempenho em testes de inteligência verbal, na conceitualização,
no
pensamento global e na solução de problemas. A criança bilíngüe também tem a
vantagem de se apropriar da língua com um distanciamento vantajoso dos
mecanismos
lingüísticos.
Se
uma
criança
encontra
dificuldades
de
aprendizagem, provavelmente não é devido à educação bilíngüe e este problema
deve ser tratado com cuidado. Tokuhama-Espinosa (2001) identifica alguns mitos
sobre bilinguismo, e um deles é que se uma criança aprende mais de uma língua,
ela poderá ter problemas de aprendizagem por causa disso.
Aprender com
fluência um segundo idioma abre muitas portas. ―Como a quantidade de
informações tem aumentado de forma tremenda, e a maneira de como essa
informação pode ser compartilhada, quem possui a habilidade de falar mais de
uma língua terá mais oportunidades no mercado de trabalho‖. (Baker,2006: 423)
Bilinguismo também virou sinônimo de status em nossa sociedade. No entanto,
MacKenzie (2001) aponta que essa escolha está relacionada às necessidades do
mundo moderno. Portanto, quando pais escolhem por uma educação bilíngüe
acreditam que estão investindo no futuro profissional de seus filhos.
25
Na hora de concorrer a uma vaga de emprego, prestar concurso público,viajar
para o exterior, as pessoas que dominam uma segunda língua levam vantagem.
Pesquisas realizadas por agências que oferecem empregos revelam que, em
média, uma pessoa que domina o segundo idioma pode ganhar até 70% a mais
do que um monoglota. Além disso, um indivíduo bilíngüe terá muito mais facilidade
de continuar os seus estudos em outro país, sem prejuízos na sua formação. O
domínio do segundo idioma também exerce um papel preponderante na formação
cultural de um indivíduo e o torna mais aberto às transformações.
A formação simultânea em um segundo idioma também evita a pressão
psicológica em ter de se acostumar aos fonemas de uma nova língua na
adolescência ou na fase adulta, período em que já é mais difícil o aprendizado em
conseqüência do trabalho e da vida social intensa.
A pressão para falar precocemente outro idioma pode levar a criança a uma
aversão ao aprendizado, quando o mesmo não é direcionado da maneira correta.
Os especialistas revelam que a alfabetização em duas línguas ao mesmo tempo,
em alguns casos, pode atrasar o desenvolvimento da escrita nos dois idiomas.
3.1 Vantagens do Bilinguismo na Educação Inclusiva
O reconhecimento dos surdos e da sua comunidade linguística está inserido
dentro de um conceito mais geral de bilingüismo. Esse conceito mais geral de
26
bilingüismo é determinado pela situação sócio-cultural da comunidade surda como
parte do processo educacional. O fato de serem pressupostas duas línguas no
processo educacional da pessoa surda, a Língua Brasileira de Sinais e a Língua
Portuguesa, está inserido num processo educacional. Bilingüismo para surdos
atravessa a fronteira lingüística e inclui o desenvolvimento da pessoa surda dentro
da escola e fora dela dentro de uma perspectiva sócio-antropológica. A educação
de surdos deve ser pensada em termos educacionais e não mais em termos de
línguas. Dentro desse contexto, o bilingüismo está sendo apresentando como um
caminho de reflexão e análise da educação inclusiva.
O bilingüismo propõe que o surdo comunique-se fluentemente na sua
língua materna (língua de sinais) e na língua oficial de seu país, seja oral, seja
escrita. A língua de sinais propicia o desenvolvimento lingüístico e cognitivo da
criança surda, facilita o processo de aprendizagem, serve de apoio para a leitura e
compreensão. Em síntese, a integração plena da pessoa surda passa,
necessariamente, pela garantia de convívio em um espaço, onde não haja
repressão de sua condição de surdo, onde possa expressar-se da maneira que
mais lhe satisfaça, mantendo situações prazerosas de comunicação e de
aprendizagem.
Assim, a língua de sinais constitui o modo mais direto de atingir as crianças
surdas, o meio mais simples de lhes permitir o desenvolvimento pleno, e o único
que respeita sua diferença, sua singularidade. Por isso, educar a criança na sua
própria língua favorece seu desenvolvimento emocional (construção de sua
identidade, segurança, auto-estima, etc), cognitivo e social, assim como
27
proporcionar a oportunidade de crianças não-surdas de aprenderem a língua de
sinais e com isso inserir o bilinguismo na educação inclusiva, favorece o
desenvolvimento de seu processo comunicativo e desenvoltura das inter-relações.
3.2 O que é Alfabetização bilingue ?
A alfabetização bilíngüe proporciona o aprendizado de um segundo idioma
sem deixar de lado a língua materna. Nas principais escolas brasileiras que
oferecem este sistema, geralmente professores nativos no segundo idioma, mas
que dominam o português, são os responsáveis pelas aulas na língua estrangeira.
Existem também estabelecimentos que contratam professores brasileiros que
moraram muito tempo no exterior e ganharam fluência no segundo idioma.
Basicamente, existem duas técnicas para a alfabetização bilíngüe: a seqüencial e
simultânea. No seqüencial, a alfabetização acontece inicialmente em apenas um
idioma e depois de um determinado tempo (média de um ano), as crianças
aprendem as diferenças de uma língua para a outra em relação à letra e ao som.
Como o próprio nome revela, na alfabetização simultânea, mais comum nas
escolas brasileiras, as crianças são submetidas aos dois idiomas ao mesmo
tempo.
Os pais ou os responsáveis pelas crianças são quem devem determinar
quando a alfabetização bilíngüe deve começar. No Brasil, existem escolas que
trabalham com esta metodologia desde os primeiros anos da educação infantil. Há
28
também, estabelecimentos que trabalham especificamente com uma determinada
faixa etária. E, ainda, existem escolas de idiomas que aceitam matrículas de
crianças que já iniciaram o processo de alfabetização (por volta dos 6 anos). Além
das aulas, os pais também devem estimular os seus filhos com atividades fora das
escolas: leitura de jornais, revistas e livros, acompanhamento de emissoras
internacionais, troca de mensagens entre os colegas e acompanhar filmes sem
legendas, por exemplo.
3.3. Como acontece a alfabetização bilingue?
Pesquisas indicam que há um desenvolvimento seqüencial consistente na
aquisição de uma segunda língua por crianças. Primeiramente há um período no
qual a criança continua a usar sua língua nativa nas situações da segunda língua.
A seguir, a maioria das crianças entra num período não-verbal ou de "silêncio".
Depois disso, as crianças começam a usar frases "telegráficas" e "frases feitas" na
segunda língua, até que começam a produzir frases mais completas.
Durante o período de "silêncio", elas estão trabalhando ativamente na
compreensão e no sentido da segunda língua. Elas observam e ouvem com
atenção a professora e as outras crianças que usam a segunda língua. Os
professores podem então, estabelecer rotinas e planejar atividades de construção
e repetição, de forma de que a criança possa progressivamente ir se tornando
familiar com a segunda língua. Durante o período "silencioso", as crianças utilizam
também linguagem não-verbal, como gestos e mímicas, para se comunicar.
29
―Frases feitas" surgem depois de a criança ter memorizado frases inteiras
que elas ouviram de seus colegas ou professores. Frases feitas ou "préformuladas", como também são chamadas, são muito úteis por permitir às
crianças interagir em situações de brincadeiras com falantes de segunda língua.
Frases como "I want to play with you" ou "May I have a…" são exemplos de como
as crianças compreendem e adquirem significados para se comunicar na segunda
língua.
Após o período de frases pré-formuladas, se inicia uma linguagem mais
elaborada, quando a criança começa a desenvolver um entendimento da sintaxe e
da estrutura gramatical da língua (o que não significa que neste estágio a criança
conheça as regras de sintaxe ou a nomenclatura gramatical, mas sim que já
estabelece um método para usá-las). Através da comparação e da ampliação ou
abandono das frases pré-formuladas e, juntamente com o desenvolvimento e a
aplicação das regras da sintaxe da língua, as crianças aprendizes de uma
segunda língua, chegam a um controle na produção da nova língua. Elas iniciam,
então, seus próprios novos usos da segunda língua e progridem a partir daí,
ampliando o vocabulário e as estruturas gramaticais. (TABORS, P. 1997)
3.4 É normal que as crianças troquem palavras e misturem as
duas línguas
Isto é normal para crianças que estão se tornando bilíngües;
ocasionalmente elas misturam as duas línguas. Isto é conhecido como "troca de
30
código". Isto ocorre naturalmente e depende da audiência e do propósito da
comunicação. A "troca de código" geralmente ocorre quando uma criança está
tentando clarificar uma idéia ou resolver uma ambigüidade. Ela é também usada
para atrair ou manter a atenção do ouvinte ou para elaborar uma afirmação. As
crianças algumas vezes misturam as duas línguas quando tentam comunicar uma
palavra ou expressão que não está imediatamente disponível para elas na
segunda língua. Isso confirma a Teoria dos Icebergs, segundo Cummins, já visto
anteriormente. Como as crianças monolíngües, crianças bilíngües também
brincam com suas duas línguas, fazendo rimas, inventando palavras e usando
certas palavras fora do contexto apropriado. "Troca de código" e mistura de
línguas são fenômenos temporários na aquisição de uma segunda língua.
(GENESEE, F. 1987).
A medida em que as crianças se tornam mais familiares com suas duas
línguas, não há mais necessidade ou desejo de combiná-las. As crianças
entendem que cada língua tem o seu próprio vocabulário e sintaxe. Elas também
entendem que certas pessoas com quem elas estão em contato não falam duas
línguas, como elas. Consequentemente, elas aprendem a usar somente uma das
línguas com determinadas pessoas. (BAKER, Collins, 1996)
3.5 Qual a condição para que uma escola seja considerada bilingue?
31
Segundo todas as fontes de estudos citadas nesse projeto, fica claro o que é
o bilinguismo e portanto qual deve ser a proposta de uma escola bilingue. No
entanto, hoje em dia há muitas escolas que por questão de ― status‖ ou para
impressionar sua clientela ou para aumentar o valor da mensalidade dizem
oferecer uma educação bilingue. Entretanto, na verdade, o que acontece é que
uma vez na semana as crianças têm uma aula de meia hora para aprender um
segundo idioma. O máximo que elas conseguem aprender é a contar até 10, a
dizer o nome das cores e algumas outras frase como: esse é meu nome e qual é
o seu, a dizer quantos anos tem etc. Não há nenhum mal da criança ser exposta
a outro idioma e aprender apenas algumas palavras. O problema é que muitos
pais matriculam seu filhos nessas escolas e acham que eles vão a aprender a
―falar‖ um outro idioma. Vimos através desse estudo que a aquisição de uma
segunda língua é um processo complexo e que para isso, há a necessidade de
uma metodologia, bem como uma boa qualificação do professor. Sendo assim,
para que uma escola seja considerada bilingue ela precisa oferecer um currículo
que ao final dele, a criança seja capaz de se comunicar em uma segunda língua
tão bem quanto consegue se comunicar na língua materna e isso envolve a
habilidade de falar, ouvir e compreender o que está sendo dito. Para que isso
aconteça é necessário que o aluno seja exposto aos dois idiomas de forma
consistente e adequada.
32
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo as pesquisas feitas durante este estudo, podemos concluir que
pessoas que aprendem uma segunda língua ainda na infância terão mais chances
de desenvolver um maior grau de proficiência do que aqueles que aprenderam um
segundo idioma mais tarde. (Colin Baker – 2006). No entanto , não é contraditório
dizer que qualquer pessoa pode ter proficiência num segundo idioma aprendido na
juventude. Os adultos podem até aprender mais rápido que uma criança, porém
um fator relevante é o tempo que esse aluno será exposto a uma segundo idioma.
Aquelas pessoas que aprendem uma segunda língua na infância e continuam
sendo expostos a esse idioma durante toda a vida acadêmica terão mais chances
de se tornarem totalmente fluentes e com um sotaque parecido aos nativos do que
aqueles que começaram a aprender uma outra língua mais tarde.
J. Cummins defende a Teoria dos icebergs (1981). Ele afirma que assim
como os icebergs podem ser vistos como dois blocos separados, mas abaixo da
superfície tem uma base comum, desta mesma forma acontece com o sistema
central de processamento da linguagem, ou seja, as duas línguas não operam
separadamente. Existem muitas outras teorias sobre o assunto, inclusive algumas
que contradizem o estudo de J. Cummins. Entretanto, segundo
consultada, as afirmações feitas por
a bibliografia
Cummins são totalmente coerentes
É
natural que as crianças quando estão aprendendo uma outra língua, usem
palavras da sua primeira língua para expressar algo que ainda não sabem no novo
idioma, o que é denominado de troca de códigos (GENESEE, F. 1987). Como
33
afirma Cummins em sua teoria ―uma fonte de conhecimento abastece a outra‖.
Partindo destes estudos podemos afirmar que a educação bilingüe favorece a
aprendizagem, e em especial ao desenvolvimento verbal. A pessoa que aprende
um idioma na infância terá mais facilidade de aprender outros.
Devido
a necessidade de se falar mais de um idioma numa sociedade
globalizada como a que vivemos, muitos pais estão engajados em proporcionar
uma educação bilingue para seus filhos para que eles possam estar preparadas
para o mercado de trabalho. Atualmente, pessoas que falam mais de um idioma
terão mais oportunidades de conseguirem melhores empregos e boas colocações
em grandes empresas.
Infelizmente, algumas escolas oferecem tal proposta apenas como ― nicho de
mercado‖ mas não estão adequadamente preparadas e assim geram nos pais
falsas expectativas.
Como foi mencionado no estudo apresentado, uma boa
escola bilingue precisa ter professores qualificados e bem treinados, uma proposta
pedagógica clara e coerente
com o currículo e recursos que proporcionem o
aprendizado de forma lúdica e agradável.
Outro fator importante é o que afirma alguns estudiosos: ― Como língua e
cultura são inseparáveis, portanto, quando se alcança proficiência em uma outra
língua, inevitavelmente estaremos envolvidos com outra cultura‖ (Haworth et al
2006:295).
Baker (2006) sugere que bilinguismo inclui, além da educação,
34
aspectos sócio-políticos e econômicos.
Desta forma, é importante que a escola
que ofereça uma educação bilíngüe, também permita que o aluno
tenha
envolvimento com a cultura em questão, pois desta forma o ensino será mais
contextualizado e trazendo sentido para a aprendizagem.
35
REFERENCIAS
SAUNDERS, George. Bilingual children: From Birth to teens. England: Mutlingula
Matters, 1988. P.8.)
CUMMINs, J. (1980). The construct of language proficiency in bilingual education.
In: J. E. Alatis (ed).
CUMMINS .J (1984). Wanted: A theoretical framework for relating language
proficiency to academic achievement among bilingual students. In C. Rivera (ed.),
Christianne Visvanathan. "HowStuffWorks - Como funciona a educação bilíngüe".
Publicado em 26 de agosto de 2008 (atualizado em 04 de setembro de 2008)
Internet http://pessoas.hsw.uol.com.br/educacao-bilingue2.htm (04 de janeiro de
2009)
Bilinguism in Education - Jim Cummins and Merrill Swain Hamers & Blanc,
1989).
BAKER, Colin (1996). Foundations of Bilingual Education and Bilingualism. 2nd
edition. Clevedon: Multilingual Matters Ltda.
GENESEE, F. (Ed.) (1994). Educating second language children: The whole child,
36
the whole curriculum, the whole community. New York: Cambridge University
Press.
GENESEE, F. (1987). Learning through two languages: Studies of immersion and
bilingual education. Boston: Heinle & Heinle Publishers.
GROSJEAN, F. (1982). Life with two languages: An introduction to bilingualism.
Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press.
TABORS, Patton O (1997). One Child, Two Languages: A Guide for Preschool
Educators of Children Learning English as a Second Language. Cambridge,
Massachusetts: Brookes Publishing Cº.
37
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO
DEDICÁTORIA
AGRADECIMENTO
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
LINGUAGEM SEGUNDO PIAGET E VYGOSTKY
1.1
PENSAMENTO E LINGUAGEM
1.2
LINGUAGEM E BILINGUISMO
CAPÍTULO II
2.1
2.2
OUTROS ASPECTOS NA AQUISIÇÃO DE UMA SEGUNDA LÍNGUA
TEORIA DOS ICEBERGS SEGUNSO CUNNINS
CAPÍTULO III
3.1.
VANTAGENS DO BILINGUISMO NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
3.2.
O QUE É ALFABETIZAÇÃO BILINGUE?
3.3.
COMO ACONTECE A ALFABETIZAÇÃO BILINGUE?
3.4.
É NORMAL QUE AS CRIANÇAS TROQUEM PALAVRAS E MISTUREM AS
DUAS LÍNGUAS
3.5.
QUAL A CONDIÇÃO PARA QUE UMA ESCOLA SEJA CONSIDERADA
BILINGUE?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ÍNDICE
Anexo I
Anexo II
38
ANEXO 1
39
PUBLICAÇÃO DO JORNAL ...
29 DE JANEIRO DE 2008 - Gazeta do Povo on line - PR
A fluência em um segundo idioma - e muitas vezes em um terceiro e até
quarto - e o acesso a uma faculdade no exterior fazem das escolas bilíngües o
sonho de consumo de muitos pais brasileiros. Segundo a professora Ana Canen,
PhD em educação pela Universidade de Glasgow, na Escócia, os pais que têm
condições financeiras de pagar por um ensino internacional como o oferecido por
essas escolas, mesmo sem ter qualquer ligação com o país estrangeiro em
questão, esperam que seus filhos adquiram competências e habilidades que
abram portas no mercado de trabalho.
As empresas hoje estão atuando em contextos plurais, fruto da globalização e
do progresso tecnológico. Os pais consideram que, ao matricular os filhos em
escolas bilíngües, eles estão dando a eles as ferramentas necessárias para atuar
nesse mundo, tanto na questão de desenvolvimento de competências e
habilidades, quanto do ponto de vista cultural - afirma.
A professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro lembra que as
crianças estão aptas a aprender um segundo idioma desde muito cedo e explica
também que é muito importante para sua formação lidar com outra cultura:
-
Aprender o segundo idioma ainda na infância não traz prejuízo nenhum para a
criança. Ao contrário, assim, desde pequena, ela passa a relativizar sua
maneira de ver o mundo. Percebe que há outra forma de concebê-lo. E isso é
essencial ao mundo globalizado - defende Ana.
40
A professora Janaína Cardoso, doutora em estudos da linguagem pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), concorda que aprender a lidar
com a diversidade é um ponto positivo, mas alerta que, mesmo a idade sendo
propícia para o aprendizado, o aluno tem que se sentir motivado para isso:
- É preciso que a criança goste de aprender o segundo idioma. Que ela seja
motivada pela escola. O estresse, provocado pelo medo de errar, por uma
sensação de insegurança, podem tornar o aprendizado difícil e sofrido - afirma.
Para Ana Canen, o questionamento sobre se o ensino bilíngüe é melhor do
que o brasileiro não cabe na discussão. O que existe, segundo a pesquisadora,
são abordagens diferentes para ensinar o mesmo conteúdo.
-
Não há como dizer se é melhor. Os pais devem pensar no que eles querem
oferecer aos filhos e escolher uma escola que atenda a essa expectativa. As
escolas bilíngües proporcionam o ensino de outras línguas, oferecem cursos
extra-curriculares como música, marcenaria, informática, muitas vezes
estimulam o trabalho comunitário...
Por considerar o ensino do Lycée Molière de acordo com o que espera para
a educação de sua filha Sophie, a roteirista Aline Garbati escolheu a escola.
-
A segunda língua fluente desde a infancia é o benefício mais óbvio em
qualquer escola bilíngüe. Mas na escola francesa ainda ganha-se cultura geral
ampla, amor às artes e principalmente o hábito da leitura. E de brinde, mais
duas línguas: inglês e alemão ou inglês e espanhol - afirma Aline, que também
estudou na escola.
41
Paula Richard tem três filhos na escola: Julien, de 17 anos, Alexandre, de 15, e
Joanna, de 11. Segundo Paula, como todos moraram na França quando
pequenos, a escola francesa foi uma escolha natural quando chegaram ao Rio:
- No caso dos meus filhos, que possuem dupla-nacionalidade, estudando no
Lycée é como se eles estivessem estudando na França. Além de poderem fazer,
no Brasil, os exames para ingressar numa faculdade francesa, eles poderão optar
por seguir os estudos superiores aqui também. Em termos de futuro, sabemos que
qualquer diferencial positivo no currículo pode ser decisivo na hora de disputar
uma vaga no mercado de trabalho - explica.
E se a preocupação dos pais é quanto à preparação para o vestibular, Ana Canen
explica que, na maioria dos casos, o problema está resolvido:
- Hoje em dia, as escolas bilíngües no Brasil recebem mais alunos brasileiros do
que estrangeiros. E, sabendo que esses alunos possivelmente seguirão estudos
aqui, já incorporaram a seus currículos a preparação para o vestibular.
Segundo Suely Peçanha, orientadora pedagógica da Escola Americana, esta é
uma preocupação da instituição.
Ao sair da Escola Americana o aluno recebe dois diplomas, um brasileiro e
um americano. A escola tem como objetivo preparar o aluno para entrar na
universidade, seja aqui, nos Estados Unidos, ou na Europa.
Carolina Machado, de 17 anos, ainda não sabe se cursará uma universidade
no Brasil ou nos Estados Unidos:
- Tenho que decidir esse ano, mas ainda estou em dúvida. A tendência será fazer
uma faculdade aqui e um mestrado lá fora - conta a aluna da Escola Americana.
42
Thomas Wolfer, diretor da Escola Suiço-Brasileira - onde os alunos aprendem
francês, alemão e inglês, além do português -, afirma que 90% dos alunos são
brasileiros. Por isso, além do ensino europeu, a escola sabe da importância de
preparar para o vestibular.
Além de pesquisadora sobre o assunto, a professora Ana Canen experimenta
a vivência do estudo bilíngüe em sua própria casa. Como morou seis anos na
Escócia, ao voltar para o Brasil acabou matriculando os dois filhos na Escola
Britânica.
-
Logo que chegamos, tentei colocá-los numa escola brasileira, mas eles não se
adaptaram. Estudaram na Escola Britânica e foram muito bem sucedidos. A
mais velha, hoje com 23 anos, fez direito. O de 17 anos acaba de passar para
economia na FGV, teve pontuação muito boa nos exames que prestou para as
universidades britânicas e ganhou um bolsa para estudar nos EUA - conta,
orgulhosa.
43
ANEXO II
44
Além da gramática
Agosto de 2008 – Revista Nova Escola
Para aprimorar o ensino de inglês
e espanhol, o ideal é usar textos
diversos, valorizando a interação e as situações reais de comunicação.
Os
jovens – sejam japoneses, franceses, angolanos, brasileiros ou mexicanos – vêem
os mesmos filmes, curtem as músicas de sucesso internacional, lêem os mesmos
best- sellers e acessam ao mesmo tempo as páginas da internet.. E fazem tudo
isso usando, além da língua materna, o inglês e o espanhol, que amplia cada vez
mais seu alcance. Por isso, o ensino de Língua Estrangeira vem se modificando e
hoje busca, como principal objetivo, fazer com que os estudantes participem ativa
e criticamente de um mundo de fronteiras diluídas no que diz respeito ao acesso
à informação.
―Os alunos têm sim, interesse em aprender outro idioma a fim de entender as
letras das canções e poder cantá-las e se comunicar via internet‖, explica Deise
Prina Dutra, formadora de professores de Língua Estrangeira na Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG).
As pesquisas mais recentes no ensino das disciplinas estão vinculadas à
perspectiva sociointeracionista defendida pelos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs). Essa visão leva em conta as necessidades dos alunos. ― Sempre se deve
perguntar por que o brasileiro precisa aprender outra língua e para quê‖, diz Maria
Antonieta Alha Celani, pesquisadora da Pontífica Católica de São Paulo (PUCSP)
e uma das autoras dos PCNs.
45
O sociointeracionismo critica a concepção de aprendizagem de abordagens
e métodos que valorizam apenas as questões relativas
a
cognição
e os
comportamentos (aquisição de hábitos lingüisticos), sem considerar o contexto
social, a interação e a mediação. De acordo com essa perspectiva, cuja origem é
o pensamento do psicólogo Vygostsky (1896-1934), a interação mediada pela
linguagem sempre ocorre num determinado lugar social e
num momento da
história, e os professores tem que saber disso. Críticas e outras teorias aparecem
também pela falta de preocupação com aspectos políticos, culturais ideológicos
que sempre estão associados à linguagem.
O importante é não cair nos engodos da moda, mas usar diferentes recursos
para entender as práticas sociais de leitura e escrita e participar delas (...). Isso
significa que, os participarem de uma atividade real, as crianças vão aprender os
conteúdos lingüisticos e também ligados à própria ação. (...)
Ao estudar um segundo idioma, o aluno usa conhecimentos prévios de leitura
e escrita e faz analogias com a língua materna. Embora a maior parte dessas
comparações não tenha correspondência, existe um conceito abrangente, vindo
da área de alfabetização que pode ser usada em Língua Estrangeira: o
desenvolvimento de comportamentos leitores e escritores por meio de práticas
sociais. (...).
De acordo com especialistas, uma deficiência comum às faculdades de Letras é a
pouca atenção que se dá à proficiência no idioma – já que existem professores
que não dominam habilidades essenciais para o ensino de Língua Estrangeira,
como a fala ,a escrita e a audição. Outra é a falta de novas práticas no currículo,
46
em especial o trabalho de gêneros. No geral, as grades disciplinares apresentam
poucos momentos dedicados à didática. (...)
Download

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL