Centro Federal de Educação Tecnológica de Goiás
FILOSOFIA
Prof.: José Luiz Leão
Projeto Pensar
Pensando a vida
Textos selecionados
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VIAGEM
Provocação:
Ler o texto.
Esquematizar os principais conceitos.
Debater./Seminário.
INVESTIGAR EXIGE UM MÉTODO
Deve-se filosofar, ou não se deve : mas para decidir não filosofar
é ainda e sempre necessário filosofar; assim, pois, em qualquer
caso, filosofar é necessário.
Aristóteles
Toda viagem propõe o desconhecido: a surpresa e a experiência, se não é o que se
busca, é o que não se pode evitar. Por isso a nossa atitude de preparação antes de iniciar a
viagem. Ela é espontânea e sinal daquela prudência mínima que caracteriza as pessoas
sensatas. Por algum motivo importante, você está iniciando uma viagem: uma viagem ao
mundo da Filosofia. Que mundo é este, ainda não sabemos. Mas devemos nos certificar de que
estamos preparados para a experiência filosófica a iniciar.
Quando fazemos uma viagem, a nossa experiência comum procura os motivos que
justificam o esforço da preparação e da caminhada. Também, neste caso, a experiência comum
é um guia precioso, embora as paisagens que iremos contemplar não sejam as mesmas que
uma viagem comum nos ofereceria. O nosso destino, o mundo da Filosofia, é um mundo
imaginário, como tantos outros; como o da arte, o da ciência, o da religião, o do mito, e outros
que participam do universo imaginário do homem. Seria muito bom que de início você tivesse
consciência de que o mundo da filosofia ocupa um lugar privilegiado no universo imaginário
do homem, especialmente do homem ocidental. Este é o objetivo de fundo dessa viagem que
estamos iniciado.
Somos homens e mulheres ocidentais. Ou melhor, estamos nos tornando homens e
mulheres ocidentais. Isso significa que, pouco a pouco, o nosso modo de ser, de sentir, de
fazer as coisas, enfim, o nosso modo de viver, vai ficando de acordo com os modos
ocidentais. Como podemos saber o que é um modo ocidental de viver? Não é uma coisa
que se veja, que se toque ou se escute. É, portanto, um algo imaginário, alguma coisa que
só podemos captar pelo pensamento e pela imaginação.
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RECOLHENDO VESTÍGIOS DO IMAGINÁRIO
Mas o pensamento só pode captar essa coisa imaginária porque ela deixa vestígios de
sua existência. Recolher os vestígios da existência de algo, examiná-los, propor ligações entre
diversos vestígios aparentemente da mesma fonte, descobrir qual a coisa da qual esses
vestígios testemunham a existência, nisso consiste uma investigação. Investigar quer dizer
entrar em contato com vestígios da existência de algo que se quer compreender, saber o que
eles significam.
Em língua portuguesa, há uma outra palavra usada como sinônima de investigação: é
a palavra pesquisa. que quer dizer a mesma coisa, embora no significado da palavra pesquisa
haja maior ênfase na idéia de pergunta: pesquisar é investigar fazendo perguntas.
Se você está muito curioso para saber, afinal de contas, o que isso tudo tem a ver com
filosofia, aceite como definição preliminar que filosofia é investigação das formas de vida do
homem ocidental. Como você pode notar, por essa definição somos levados a relacionar a
filosofia com a história.
E, de fato, essa relação existe: no momento adequado iremos investigá-la. Por
enquanto, consideremos apenas uma frase célebre de um filósofo que dedicou sua vida a
examinar profundamente a consciência do homem ocidental.
Esse filósofo é Hegel, e a frase é: "A filosofia, tal como a coruja de Minerva, alça
vôo apenas ao entardecer". Ou seja, depois que a história acontece, já ao seu entardecer, 'que a
filosofia inicia as suas investigações. Mas a filosofia olha o passado de maneira diferente da
história. A história olha o passado para entender como ele condicionou o presente, enquanto a
filosofia olha o passado para sonhar com o futuro. Sua questão fundamental é: Como tenho
consciência do que sou? Como tenho consciência das minhas possibilidades e dos meus
limites? Como o que sou está ligado com o que foi e com o que será? Afinal, o que é que eu
sou, enquanto ser humano, distinto das coisas que me cercam e definido na história passada e
na textura das relações de que atualmente participo?
Em outras palavras: a consciência nova que a investigação filosófica propicia é a
consciência de nós mesmos e de tudo o que pode influenciar o processo dessa consciência.
REAL ... / REALIDADE ...
“...Familiarizar-se com o mundo quer dizer compreender o significado dos seus
objetos, do comportamento de uns em relação aos outros, isto é, significa defini-los em
função dos valores que eles representam para nós mesmos. O real posto numa relação de
valores com o homem passa a se chamar realidade. O real é o que nos é absolutamente
estranho, quando comparado com nossos valores. Enquanto a realidade é aquilo com
que temos algum grau de familiaridade, em face das coisas que valem para nós. Por isso,
compreendemos a realidade, podemos ter consciência dela, podemos descobrir suas leis
de funcionamento, mas o mesmo não se dá com o real. Sabemos que o real existe, por
pressuposição: aquilo que se oculta para além de nossas percepções ou aquilo que está
além do que pode ser pensado. O real é o limite da consciência... Realidade é, portanto, o
que faz sentido para a consciência humana.”(1)
PENSAR ...
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“Pensar, na significação etimológica do termo, quer dizer sopesar, por na
balança para avaliar o peso de alguma coisa, ponderar. O pensamento que filosofa usa
ao máximo seus recursos para aprender a avaliar: quer tornar-se avaliador justo. Por
causa disso, sem imposição externa, se submete à aprendizagem de pensar: busca a cor,
o som e o sabor da realidade. Procura transformar-se em conhecimento e linguagem...”
(2)
MITO ... / RAZÃO .../ VERDADE ...
Site: www.discursus.cjb.net - Curso: Convite à filosofia.
O caminho do mito ao logos
Toda a cultura e civilização ocidentais têm seus fundamentos na filosofia grega e,
por ela, são determinadas até nossos dias.
Segundo uma tradição referida a Plutarco e Cícero, que remontaria a Heraclides do
Ponto, ouvinte de Platão, Pitágoras (c. 570 ª. C.) teria sido o primeiro a usar as palavras
filósofo e filosofia para significar que o nome de sábio só convém a Deus, pois os homens
só podem amar e perseguir a sabedoria. É certo que, antes de Sócrates e Platão, as palavras
filosofia e filosofar eram usadas em acepções que iam desde a cultura do espírito em geral
até o exercício de um esforço para adquirir conhecimentos novos. Com Sócrates e Platão
essas palavras adquirem precisão para designar não a posse mas o desejo ou amor da
sabedoria. Ao sentido literal de amor e sabedoria, Platão acrescenta-lhe o sentido paradoxal
de ciência da ignorância ou saber do não-saber, porque o filósofo nem de todo sabe nem de
todo não sabe, vivendo entre a ignorância absoluta e a posse plena de sabedoria. No século
XV, Nicolau de Cusa formula esta situação como docta ignorantia. Mas, o verdadeiro
filósofo, para Platão, é aquele que desde a juventude, deseja e procura a verdade integral
(República, VI, 485d), que, em último lugar, se identifica com o Bem Supremo (Banquete,
210 d).
Ciência da ignorância, a filosofia torna-se exercício da dúvida e arte da interrogação
para, graças ao juízo pessoal e independente, vencer o peso morto de tradições e doutrinas
que, passivamente recebidas e aceitas, só um obstáculo ao homem para afirmar-se em sua
verdadeira liberdade e dignidade. Só a palavra essencial do logos (razão) é capaz , segundo
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Platão, de interpretar tanto os oráculos de Delfos como a linguagem dos símbolos e sinais
com que nos acenam os mitos e as religiões. Neste sentido, Sócrates tornou-se paradigma
incontestado do verdadeiro filósofo por sua atitude marcada pelo amor incondicional e
intrépido à verdade.
A sabedoria oriental, historicamente, é anterior à filosofia ocidental. Apresenta,
todavia, um caráter essencialmente religioso. No Oriente, a sabedoria é patrimônio de
castas sacerdotais que têm a grande preocupação de transmitir a herança dos antepassados
em sua pureza. A sabedoria oriental fundamenta-se, pois, na tradição, enquanto a filosofia
grega pensa e reflete criticamente a tradição, os costumes e as crenças dos antepassados em
busca da verdade.
No Ocidente, o homem do século XX perde sempre mais o respeito e a veneração de
valores tradicionais. No dia a dia surge um choque entre pais e filhos quando esses parecem
ignorar os sofrimentos, as lutas e os sacrifícios que os pais tiveram, no passado, para
conquistar o bem-estar atual. Hoje percebe-se uma tendência a questionar todos os valores
do passado. Quer olhar-se apenas para a frente. Tomamos consciência de nossa inserção no
grande processo dinâmico da história. A tradição foi questionada, sobretudo nos tempos
modernos, de maneira tão radical que parece ter perdido sua evidência imediata para
sempre. Quem hoje quiser conservar uma tradição deverá justificá-la criticamente. Quer
isto dizer que a tradição se tornou sem importância? Não!
Todos estamos inseridos numa tradição. Nascemos em determinada família,
pertencemos a determinado povo, herdamos determinada história, cultura e língua.
Nenhuma sociedade conhece a língua a não ser como produto herdado de gerações
anteriores. A língua é, entre todas as instituições sociais, aquela que forma um todo com a
vida social. Na sociedade exercemos determinada profissão que aprendemos de outros. Até
os revolucionários, que visam a transformar radicalmente uma determinada ordem,
dependem de uma tradição. Dela recebem, ao menos em grande parte, a capacidade crítica
e os meios para a luta. Antes que o revolucionário se engajasse pela justiça, muitos já
pensaram sobre a idéia de justiça. O revolucionário constata que a prática social, econômica
ou política não corresponde a tal idéia recebida. Tenta concretizá-la. Neste sentido até pode
ser que o revolucionário ou o reformador levem a tradição mais a sério que outros,
colocando seu espírito na prática.
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No caminho histórico da humanidade constatamos que, em todas as épocas, o
homem deseja conhecer mais e melhor.
1. Nascimento da filosofia grega
Filosofias, de alguma maneira, expressam a consciência de uma época. O filósofo é
o indivíduo que formula de maneira mais clara e sistemática o que ocorre, de maneira
anônima, numa época. Coloca tônicas, precisando e ampliando horizontes. Até certo
ponto se pode dizer que, na filosofia, se expressa a autoconsciência de determinada
época. Assim, filosofias expressam o ser homem e sua história. Filosofias buscam
clarear as razões mais profundas das condições da vida humana, iluminando
metodicamente experiências.
Através da história, a filosofia se ocupa com a busca do sentido do ser. Neste
sentido originário, todo o homem é filósofo, pois todos perguntam, de uma ou outra
maneira, pelo sentido do ser, e de modo especial, pelo sentido da existência humana.
Entretanto, como reflexão sistemática e rigorosa, a filosofia surgiu em determinado
momento histórico, ou seja, cerca do século VI a. C., na Grécia.
No começo predominou certo dogmatismo, pois o conhecimento ainda não constituía
ele mesmo um problema. Supõe-se, simplesmente, a possibilidade do conhecimento e a
realidade do contato entre sujeito e objeto. Ainda não se vê o conhecimento como
relação ou inter-relação entre sujeito e objeto. Os pensadores pré socráticos (os
filósofos jônios, os eleáticos, Heráclito e os pitagoricos) confiavam lentamente na
capacidade (de conhecer a verdade) da razão humana. Voltaram-se totalmente para a
natureza, para a “physis” (o ser). Como problema, o conhecimento surge apenas com os
sofistas.
1.1
– Como os filósofos gregos responderam a pergunta pelo sentido do ser?
Com a reflexão sobre a singularidade da filosofia como atitude crítica, bem como
sobre as possibilidades do conhecimento, Platão abriu o caminho a um vasto conjunto de
temas que constituem o domínio propriamente dito de sua aplicação. Mas foi Aristóteles
quem salientou melhor a “sabedoria” (sofia) como objeto do éros ou amor. Abandonou os
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mitos aos poetas e elaborou uma filosofia indicando um método e objeto próprios. Definiu
a filosofia como “ciência do ser enquanto ser”, como “ciência dos primeiros princípios e
das primeiras causas” e “ciência da causa absolutamente primeira” da qual estão suspensos
o céu e a terra, “do primeiro motor”. Identifica ontologia com teologia. Ciência do ser
enquanto ser, no qual se conhecem todas as coisas, a filosofia é, por isso, a mais universal e
desinteressada de todas as ciências (Metafísica, 982a) , superior à física e à matemática
(Metafísica, 1026a); Ciência primeira, a filosofia distingue-se das demais ciências servindolhes de fundamentação; Ciência dos princípios, é também a ciências da verdade por
excelência (Metaf. 993a 30 e 993b 20). Filosofar, no sentido amplo do termo, equivale a
servir-se da faculdade de reflexão, que é a marca distintiva do homem. Assim pode-se
dizer, com Wilhelm Nestle, que a filosofia grega segue o caminho do mito ao logos.
Aristóteles fala de teólogos que teriam precedido os primeiro filósofos
gregos. Esses teólogos teriam tentado explicar a origem da natureza, recorrendo ao mito de
Oceano e Tétis (Ilíada, 14, 201 e 302), como pais da geração. Quem eram esses teólogos?
Aristóteles usa a palavra teólogo em sentido diferente do atual. Isso decorre de sua divisão
tripla da ciência teórica: matemática-física-teologia. Definiu a teologia como epistéme
(ciência) dos primeiros princípios universais do ser, adquirindo novo significado como
metafísica ou filosofia primeira. Platão (Pol. II, 379 a ) e a tradição platônica referem
teologia ao falar mítico cultual de Deus, medida na responsabilidade política e crítica, que
pelo logos se torna um falar sobre deuses. Também em Platão já é o falar filosófico-crítico
das lendas e estórias dos deuses, desmitolizadas e interpretadas de acordo com a educação
política. Assim, até certo ponto, a teologia representa o caminho do mito ao logos. A
função do logos consiste em revelar a verdade oculta nos mitos dos deuses. Por esta ração,
os primeiros cristãos rejeitaram a palavra teologia, aceitando-a, mais tarde, como
“conhecimento do verdadeiro Deus e de seu Cristo”.
Podemos dizer que os teólogos, antes dos filósofos, explicavam a origem e o
sentido das coisas por um mito, como o de Oceano e Tétis, apelando a algo exterior e alheio
às coisas para explicá-las. Os filósofos, por sua vez, recorrem à razão. Aristóteles chamou
os teólogos de filomitos (amigos do mito). Enquanto os filomitos ou teólogos buscavam a
origem de tudo no mito de Oceano e Tétis, os filósofos a procuravam na água, no ar ou em
outro elemento. Apesar da semelhança nas explicações, havia uma diferença essencial no
caminho (método) seguido para chegar à explicação.
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A primeira expressão do espírito grego está ligada a crenças míticas.
Homero e Hesíodo condensam essas crenças a respeito dos deuses e dos homens em moldes
fixos. Aristóteles diz que o mito é o primeiro degrau que leva à filosofia, pois o mito
também quer compreender. O mito trata das mesmas coisas que a filosofia: a origem e
gênese do mundo , o fenômeno da vida, o sentido da existência humana, o futuro e a
imortalidade, a necessidade e a liberdade. Mas o mito tenta a solução destas questões
através de meios diferentes, extraindo os conceitos e as representações da vida humana. A
filosofia é o pensar crítico, o esforço racional e autônomo em confronto com a crença e a
sociedade.
1.2
– Como os gregos chegaram à convicção de que o mundo e a vida são inteligíveis?
A atividade dos filósofos, só aos poucos, repercutiu na vida social e religiosa.
Quando os gregos tinham que tomar decisões importantes consultavam os adivinhos,
examinando as entranhas das vítimas imoladas aos deuses ou recorrendo aos oráculos,
sobretudo ao de Delfos. Isso mostra que não confiavam muito na razão humana para
compreender a realidade com a própria inteligência. Quando surgia um conflito entre o
presságio dos adivinhos e os dados da razão, atinham-se aos adivinhos. Certo dia, Creso,
derrotado por Ciro, mandou perguntar a Apolo – deus do santuário de Delfos – se não tinha
vergonha de tê-lo enganado por tê-lo conduzido a uma guerra na qual foi derrotado. A
pitonisa (sacerdotisa do templo e intermediária dos oráculos de Apolo ) lhe teria respondido
categoricamente: “ O destino fatal é impossível de ser evitado mesmo por um Deus”.
Os gregos chamam o destino de moira. A moira é o que toca a cada ser por sorte, ou
seja, é a própria sorte; é o fado, a fatalidade, aquilo que necessariamente acontecerá, aquilo
que tem que ser, que foge até da vontade dos deuses. O destino é a estrutura inexorável,
imutável, segura e implacável da realidade. Aproxima-se, desta forma, daquilo que os
filósofos chamam physis, que permanece imutável através de todas as mudanças. O destino
é, para os filósofos, a explicação última das coisas, embora latente nelas. Mas o caminho
das filósofos é diferente daquele dos teólogos.
Para os teólogos, não há caminho que leve o homem das próprias coisas a seu
destino. Este só pode chegar-lhe através dos deuses, ou seja, através dos oráculos e
adivinhos. Para os filósofos, ao contrário, há um caminho que leva à natureza das coisas.
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No caso do mito, segundo Julián Marías, há “uma descontinuidade absoluta entre a
realidade manifesta e a latência em vista da qual teho que orientar e decidir a minha vida.
Não posso ir ao latente, mas ele deve vir a mim através do serviço dos deuses; para acender
ao latente a partir das coisas mesmas que estão aí e com as quais me encontro não há
caminho; dito em grego, não há método”. Ora, aos poucos tal atitude se tornou
insustentável na prática. A vida humana complica-se em sociedade. Urge planejar o futuro
mais ou menos a longo prazo. Mas só posso planejar se souber como as coisas se poderão
comportar. Isso pressupõe o caminho do manifesto ao oculto, ou seja, daquilo que as coisas
mostram ser aqui e agora até aquilo que serão sempre e necessariamente. Eis a questão que
está na origem da filosofia e que originou a própria filosofia na antiga Grécia.
Os gregos observavam a natureza e se escandalizavam com a grande multiplicidade
de coisas e com sua mudança contínua. Atena, a deusa da sabedoria, deixa de iluminar o
homem; aos poucos, retira-se para junto dos outros deuses no monte Olimpo. Abandonado
pelos deuses, o homem passa a observar o mundo com a própria razão. Filha de Taumante,
ou seja do espanto e da admiração, a filosofia é um modo de conhecimento sobre todas as
coisas. A observação ou contemplação é a atitude do observador que não interfere no curso
da natureza, não lhe impõe seus desejos pessoais. A contemplação é um modo de se
posicionar diante do mundo com o objetivo de compreendê-lo e explicá-lo de maneira
objetiva com os olhos da razão, do logos, como única maneira capaz de enxergar a verdade
de todas as coisas. Para compreender a infinidade de entes, o grego busca um princípio
unificador, uma unidade. Relaciona a mudança com algo que sempre permanece idêntico.
Chega à conclusão de que a vida deve ser inteligível para nós sem recurso aos oráculos e às
adivinhações.
O problema da mudança (devir) incluía, para os gregos, a questão da geração e
destruição. Observa-se que, em dado momento, as coisas começam a ser, crescem,
amadurecem e , depois, deixam de ser. Observa-se que o pai e o filho são dois, distintos um
do outro, sob certo aspecto; sob outro, são o mesmo. O filho procede do pai, mas ambos são
homens. Há, portanto, uma identidade comum a ambos. Desta forma, a identidade
fundamental de ambos é um caminho, um método que leva um a outro. A isso chamou-se
physis, ou seja, o que é idêntico no pai e no filho é a natureza.
A natureza pode ser expressa da seguinte forma: o filho é o mesmo que era o pai e,
afinal, o mesmo que serão seus próprios filhos. Tal identidade explica-se enquanto ambos
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são pessoas humanas. Chegamos à realidade permanente através da geração. Assim
encontra-se aquilo que permanece através de todas as mudanças: é o que havia antes, o que
há agora e o que haverá no futuro. A natureza das coisas é, pois, antiga e sempre jovem. Por
ser antiga e estar no começo, os gregos chamavam-na arché (princípio).
Neste caminho, para os filósofos, a realidade latente, que dirige com necessidade as
coisas e os acontecimentos, não mais é a moira, o destino, e sim, a natureza ou physis. Não
mais é algo extrínseco, mas aquilo que constitui a própria coisa por dentro.
Conseqüentemente desaparece a necessidade de recorrer aos deuses para conhecer a
realidade latente. Agora o homem o pode desvelar as coisas. A este desvelamento os gregos
chamam alétheia (verdade). Neste sentido Aristóteles diz que os filósofos pensam acerca da
verdade, i. é, filosofam acerca daquilo que há verdadeiramente.
A filosofia começou quando o homem começou a procurar a natureza como
fundamento permanente e idêntico de toda a realidade como o princípio unificador. Isso já
aconteceu antes de Sócrates, Platão e Aristóteles.
Michele F. Sciacca diz que “o período religioso do pensamento grego está
estreitamente ligado àquele posterior mais propriamente filosófico e científico, que é a
continuação e o desenvolvimento do primeiro. Pela ação da poesia e pela influência das
investigações científicas particulares, especialmente astronômicas, pouco a pouco a
pesquisa começa a libertar-se do seu caráter mítico, sem um destaque nítido entre as
concepções cosmológicas e teológicas e as especulações físicas” (História da Filos. I, S.
Paulo: Mestre Jou, 1967, p. 27).
2 – O princípio de tudo
A passagem do mito ao logos foi iniciada pelos pré-socráticos. Sua contribuição
consiste em terem colocado o problema da unidade na totalidade múltipla e cambiante da
realidade.
2.1 – Início da filosofia grega
O primeiro filósofo, segundo Aristóteles, foi Tales de Mileto (séc. VII-VI a. C. ). As
datas a respeito de sua vida são incertas. Sabe-se com segurança, que viveu no período
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compreendido entre o final do século VII a. C. e meados do século VI a C. Famoso como
matemático e astrônomo, foi colocado entre “os sete sábios” da Grécia por sua atuação
política na tentativa de unir as cidades-Estados da Ásia Menor numa confederação.
Provavelmente Tales de Mileto nada escreveu. Diz-se que previu o eclipse do sol de
585 a.C e que era tão distraído que teria caído num poço quando contemplava os astros.
Através de interpretações feitas por outros filósofos que chegam até nós, sua idéia básica
era a seguinte: tudo se origina da água. Isto significa que a physis teria como único
princípio (arché) esse elemento natural que se encontra presente em tudo. A água é o
princípio vital de tudo. Segundo Tales, a água, ao se resfriar torna-se densa e dá origem a
terra; ao se aquecer transforma-se em vapor e ar, que retornam como chuva quando
novamente esfriados. Desse ciclo de movimento da água (vapor, chuva, rio, mar, terra)
nascem as diversas formas de vida vegetal e animal. Enfim, tudo está animado e pleno de
forças divinas.
Tales aparece como iniciador da filosofia por causa de seu esforço em buscar o
princípio único de explicação do mundo. Aristóteles escreve: “A maior parte dos primeiros
filósofos considerava como os únicos princípios de todas as coisas os que são da natureza
da matéria. Aquilo de que todos os seres são constituídos e de que primeiro são gerados e
em que por fim se dissolvem, enquanto a substância subsiste mudando-se apenas as
afecçoes, tal é, para eles o elemento, tal é o princípio dos seres; e por isso julgam que nada
se gera nem se destrói, como se tal natureza subsistisse sempre... Pois deve haver uma
natureza qualquer, ou mais do que uma, donde as outras coisas se engendram, mas
continuando ela mesma. Quanto ao número e á natureza destes princípios, nem todos dizem
o mesmo. Tales, o fundador da filosofia, diz ser a água (foi por este motivo que ele
declarou que a terra está sobre a água), levado sem dúvida a esta concepção pr ver que o
alimento de todas as coisas é úmido, e que o próprio quente dele procede e dele vive. Ora,
aquilo de que todas as coisas procedem é, para todos, o seu princípio” (Metafísica, I, 3).
Um contemporâneo de Tales, na próspera cidade marítima de Mileto, na Jônia, na
costa asiática da Grécia afirma que o princípio de tudo é o indeterminado (o ápeiron). Para
outro pensador jônio, Anaxímenes (séc. VI a C.), a arché de tudo é o ar.
Se, com Aristóteles, consideramos Tales, Anaximandro e Anaxímenes como os
primeiros filósofos, que formam a “Escola de Mileto”, vemos que lhes é comum a mesma
pergunta: O que é physis? O que é o princípio de tudo?
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Desta forma, Tales de Mileto dá a primeira resposta não mítica à pergunta sobre a
origem (arché) de tudo e marca a passagem do mythos ao logos.
2.2 – O número ou a quantidade é a arché
Com a destruição da cidade de Mileto pelos persas em 494 a.C., o eixo da cultura
helênica se deslocou para a Magna Grécia, no sul da Itália. Na cidade de Crotona floresceu
o pensamento de Pitágoras e de seus seguidores. Pitágoras, se é que realmente existiu, teria
fundado uma seita religiosa e mística semelhante ao orfismo, ou seja, um culto popular que
pregava a transmigração da alma
(metempsicose) e a necessidade da purificação do
homem para salvá-lo do ciclo das sucessivas reencarnações. O orfismo, nome devido ao
mítico poeta Orfeu, o “revelador, depois de sua descida ao Hades, foi uma espécie de
religião secreta que entra em contato com outras formas religiosas como os mistérios
eleusinos (culto de Demetra, cujos mistérios se celebram em Elêusis) e dionisíacos, assim
chamados devido ao Deus Dionísio-Baco. Para o orfismo, a filosofia é itinerário, caminho
ascendente de purificação. Na Grécia, os poetas exerceram o papel de educadores como em
outros povos o fizeram os sacerdotes.
Pitágoras desejava estabelecer um novo tipo de sociedade, governada por uma elite
de espíritos dedicados à busca do saber e da sabedoria. Essa concepção sócio-política os
pitagoricos transmitiram a Platão.
O pitagorismo significa um passo decisivo no desenvolvimento do pensamento
racional e científico através da matemática. Com os pitagóricos, a matemática libertou-se
da condição de mera técnica para constituir-se em ciência pura, ainda que revestida de certa
religiosidade. Para os pitagóricos, a arché das coisas é o número. O pensamento pitagórico
é dualista. Admite não apenas um, como os jônios, mas dois princípios que fundamentam e
ordenam o mundo, representando os números pares e ímpares. Nos primeiros predomina o
indeterminado e nos ímpares prevalece o elemento limitante. Os dois princípios
completam-se em harmonia desde que a relação entre ambos seja disposta conforme uma
proporção justa. A desordem é fruto do desequilíbrio.
Os pitagóricos distinguem, pois, dois mundos: o mundo superior do bem ordenado,
da perfeição, o reino das divindades e o mundo corporal e sensível, o mundo sublunar das
coisas perecíveis. Desprezam a realidade corporal e sensível em favor da realidade supra-
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sensível e de seu respectivo conhecimento. O corpo (soma) é a prisão, a tumba (sema) da
alma. Enfim, os pitagóricos são ávidos de realidades espirituais e, por isso, entusiasmaramse pelas ciências matemáticas e geométricas, uma vez que os números e as figuras
geométricas são realidades não-corpóreas e, no entanto,apresentam consistência real ao
serem pensados. Além disso, segundo eles, a realidade propriamente dita não é a material,
mas a matemática e geométrica. Compreende-se, assim, que afirmem que o número é a
arché de todas as coisas, especialmente do uno, do qual derivam os demais números.
Com os pitagóricos manifesta-se uma das tentações permanentes, na filosofia, no
sentido de menosprezar a matéria a favor de uma realidade supra-sensível e puramente
intelectual. Esta tentação apareceu no início da história da filosofia e persiste como
problema gnosiológico até hoje. Mas o homem aprendeu a ver o mundo como uma ordem
penetrável pela razão.
2.3 – A experiência dos sentidos e o conhecimento intelectual
Dentro da filosofia pré-socrática salienta-se a filosofia de Heráclito e de
Parmênides. Trata-se de duas posições opostas, situadas em dois extremos: Éfeso, na
Grécia asiática, e Eléia, no sul da Itália. Estas duas direções têm em comum o mesmo ponto
de partida, herdado dos filósofos jônios: existe um princípio único que explique o mundo
em seus diversos e múltiplos aspectos? Em Éfeso, Heráclito (540-480 a C.) diz que os
contrários formam uma unidade; em Eléia, Parmênides afirma que os contrários jamais
podem coexistir.
Para Heráclito, o mundo se explica por causa das mudanças e contradições. Todas
as coisas opõem-se umas às outras e dessa tensão resulta a unidade do mundo. Essa
oposição não é um equilíbrio de forças iguais, nem a harmonia dos contrários pela justa
medida imposta por um ser supremo, como queriam os pitagóricos. A divergência e a
oposição não só produzem a unidade do mundo mas também a sua transformação. Para
Heráclito, o mundo é um eterno fluir como um rio, onde é impossível banhar-se duas vezes
na mesma água. Nada é permanente, pois tudo flui, se move. Tudo é devir.
Heráclito parte do dado da experiência: o fluxo incessante das coisas e do sujeito
cognoscente. Mas o fluxo universal é apenas o primeiro momento de sua especulação. Ao
fluxo da experiência, Heráclito opõe a exigência da razão e a necessidade religiosa da
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unidade permanente. A fé e a autoconsciência, segundo ele, permitem descobrir, no homem
e nas coisas, a razão eterna (o logos), harmonia oculta e identidade dos contrários. Desta
forma, a antítese inicial de experiência e razão, manifesta a tentativa de conciliar a oposição
com a identidade, o múltiplo com a unidade. Podem distinguir-se três momentos de um
desenvolvimento contínuo: a) a experiência do fluxo; b) a exigência racional da
permanência; c) o reconhecimento da sua identidade.
Parmênides (540-460 a . C.), ao contrário de Heráclito, tenta eliminar tudo que seja
variável e contraditório. É o primeiro filósofo a não falar simplesmente das coisas, mas do
ser das coisas. Responde a pergunta pela verdade das coisas no plano metafísico. O ser, do
qual Parmênides fala, é o uno, único, imutável e permanente. O que muda, segundo ele, é o
múltiplo, o ilusório. Para encontrar a verdade, o filósofo deve fixar-se no ser além de toda a
multiplicidade. O caminho ao ser não pode ser trilhado pelos sentidos, mas pelo noús, ou
seja, pela mente. O conhecimento sensível é ilusório porque apenas nos dá a multiplicidade
e a mudança das coisas. Em outras palavras, os sentidos seguem o caminho da opinião, não
o da verdade. O que os sentidos apresentam são ilusões, meras aparências produzidas por
opiniões enganadoras. O ser é o ser. Parmênides descarta o conhecimento por via dos
sentidos como meras opiniões e opta pela certeza que a razão produz por meios lógicos e
dedutivos.
O grande princípio de Parmênides é este: o ser é e não pode não ser; o não ser não é
e não pode ser de modo algum. Justifica: tudo aquilo que alguém pensa e diz, é. Não se
pode pensar e dizer senão pensando e dizendo aquilo que é. Pensar o nada, significa não
pensar. Assim pensar e ser coincidem: “...pensar e ser é o mesmo. Pensar e ser é o mesmo e
isso em função do que o pensamento existe. Porque, sem o ser, no qual é expresso, não
encontrarás o pensar: com efeito, fora do ser nada mais ele é ou será...”.
Parmênides de Eléia, ao formular o problema do ser, formulou as bases tanto da
metafísica como da lógica. Enquanto outros pensadores procuravam a arché do universo em
algum de seus elementos (p. ex. água), Parmênides não se fixa em nenhuma forma física ou
particular, mas em algo que se possa conter todas a coisas. Antes de as coisas serem “isto”
ou “aquilo” simplesmente são. Dizendo que “o ser é” e “o não-ser não é” formula um dos
princípios básicos da lógica, ou seja, o princípio da contradição ou princípio da identidade.
Segundo Parmênides, ser e pensar equivalem-se pois o que não é pensável não existe. O ser
é pensável porque existe e existe porque é pensável.
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2.4 – Movimento de átomos
Demócrito (470-370 a C.) discípulo de Leucipo, foi o primeiro a pensar o mundo
como uma infinita combinação de átomos. Demócrito, natural de Abdera, não foi
propriamente pré-socrático, mas contemporâneo e antagonista de Platão. Até certo pondo,
foi sistematizador do materialismo contra o idealismo de Platão. Mas, os historiadores
costumam tratá-lo como pré-socrático. De acordo com Demócrito, se as coisas recebem
diferentes nomes (doce, amargo) isso acontece por mera convenção humana, pois na
realidade apenas existem o átomo e a sua ausência, ou seja, o vazio. O átomo é algo como o
ser de Parmênides. Cada átomo é indivisível, ou seja, não contém partes, não se modifica e,
portanto, não nasce, nem morre. Todos os átomos são qualitativamente idênticos entre si.
Distinguem-se pelo tamanho e forma, pela posição etc. Demócrito concebe a alma humana
como um composto de átomos leves, lisos e redondos, mantidos através da respiração. Os
átomos são as últimas partículas da matéria, ou seja, a arché de todas as coisas. Aristóteles
escreve a respeito da doutrina sobre o átomo do mestre de Demócrito, Leucipo: “Leucipo
também diz que existem certos sólidos, porém indivisíveis, se não se admitirem meatos
(poros) contínuos em todos as partes. Mas isto é impossível; pois não haveria nenhum outro
sólido além dos poros, mas tudo seria vazio. É necessário, pois, que os sólidos que se tocam
sejam indivisíveis e que no seu meio haja vazios, que Empédocles chama de meatos
(poros)” (De Gen. Corrupt. 1,8,325).
Sexto Empírico, em Sobre a lógica, cita um texto de Demócrito: “Há duas espécies
de conhecimento, um genuíno, outro obscuro. Ao conhecimento obscuro pertencem, no seu
conjunto, vista, audição, paladar e tato. O conhecimento genuíno, porém, está separado
daquele. Quando o obscuro não pode ver com maior minúcia, nem ouvir, nem sentir cheiro
e sabor, nem perceber pelo tato, mas é preciso procurar mais finamente, então apresenta-se
o genuíno que possui um órgão de conhecimento mais fino” (VII, 138).
Para Demócrito, o pensamento é puro movimento de átomos. O homem começa
com o conhecimento sensível, com a sensação, e o processo é o seguinte: os objetos diante
de nós emitem pequenas partículas (eidola) que penetram em nossos sentidos e encontramse com os átomos da alma produzindo a sensação correspondente. O conhecimento
intelectual, o pensamento, apenas difere da sensação em grau: supõe um movimento de
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átomos mais sutis e rápidos. Antes de Sócrates, Demócrito tem consciência dos limites do
conhecimento: não sabemos nada da realidade e o que sabemos é opinião.
3 – Os sofistas
A vitória de Atenas sobre os persas, em 479 a.C., marca a consolidação de sua
democracia. Dá-se valor à educação. A praça pública é o lugar onde se decidem os assuntos
de toda a pólis (cidade). Para obter êxito nas assembléias, exigem-se mestres da palavra.
Surgem os sofistas ou sábios. Esses, na prática, não se interessam pela verdade absoluta e
última. Dedicam-se às ciências humanas e práticas, como retórica, política e arte de discutir
com êxito. Até certo ponto, os sofistas professam um relativismo mais ou menos acentuado,
pois o mundo humano aparece-lhes como uma criação do próprio homem. Neste mundo
não há um único princípio, mas apenas convenções. Protágoras (480-410 a C.), o primeiro
sofista, diz que “o homem é a medida de todas as coisas”. Ora, se o homem é a medida de
todas as coisas, o conhecimento humano está limitado pelos sentidos, sempre variáveis e, se
há algum acordo, este é fruto de convenção e não do conhecimento de uma suposta verdade
absoluta. Da mesma maneira, as formas de organização social e política são fruto de
convenções resultantes de acordo com as circunstâncias e as conveniências.
Aristóteles critica a doutrina da relatividade e verdade dos contrários e da negação
do princípio de contradição: “o princípio...expresso por Protágoras, que afirmava ser o
homem a medida de todas as coisas... outra coisa não é senão que aquilo que parece a cada
um também o é certamente. Mas, se isto é verdade, conclui-se que a mesma coisa é e não é
ao mesmo tempo, e que é boa e má ao mesmo tempo, e, assim, desta maneira, reúne em si
todos os opostos, porque amiúde, uma coisa parece bela a uns e feia a outros, e deve valer
como medida o que parece a cada um” (Metaf. 11.6).
Denunciando as certezas, Protágoras afirma:”No que se refere aos deuses, não posso
saber se existem ou se não existem, nem que aspecto têm; porque há muitas coisas que
impedem um conhecimento seguro, a obscuridade do assunto e a brevidade da vida
humana” (fragmento 4, em Diógenes Laércio, IX, 51).
Os sofistas não constituíam uma escola. Apresentavam diferentes soluções para os
mesmos problemas, representando correntes várias.
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Os sofistas são o resultado da democracia, em Atenas, que instaura a “civilização da
palavra” e, conseqüentemente, um novo ideal de educação. Procura formar-se, agora, bons
oradores e não mais bons guerreiros, como nos antigos tempos da aristocracia. Os sofistas
representam o novo tipo de educadores.
Por causa de seu relativismo, os sofistas foram odiados. Muitos sequer os
consideravam filósofos. Até hoje a palavra sofista tornou-se sinônimo de demagogo e
sofisma sinônimo de falso argumento. Na verdade é preciso discernir, pois os sofistas
tentaram acumular conhecimentos e técnicas sobre as mais variadas atividades humanas,
embora muitas vezes superficiais. Não eram heróis, nem vilões, mas homens de seu tempo.
Conclusão
Tales foi o iniciador da filosofia da physis (natureza), pois foi o primeiro a afirmar a
existência de um princípio originário único (a água). O princípio é “aquilo do qual derivam
originariamente e no que se ultimam todos os seres” (Aristóteles). Para Tales esse princípio
é a natureza no sentido original de realidade primeira e fundamental, ou seja, aquilo que é
primário, fundamental e persistente, em oposição àquilo que é secundário e transitório.
Tales baseou sua afirmação no puro raciocínio, no logos. Outros, que consideravam Oceano
e Tétis como pai e mãe de todas as coisas, baseavam-se na imaginação e no mito. Enquanto
Tales apresenta uma forma de conhecimento baseado em argumentações racionais, outros
apresentam crenças fantástico-poéticas. Assim, a partir de Tales, o logos humano passa a
conquistar a realidade em seu todo (princípio de todas as coisas) e em algumas de suas
partes (objeto das ciências particulares). (3)
1) CUNHA, J. Auri.
2) WUENSCH, Ana Míriam/ SÁTIRO, Angélica
3) ZILLES, Urbano
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
               

As perguntas da vida
Partida:
a) Viagem/Imaginário/Mundo Ocidental
b) Pensar/Real/Realidade c) Mito/Razão/Verdade d) Informação
e)Conhecimento f) Sabedoria g) Filosofia h) Ciência
Parada 01: a) PENSAR: Morte/Vida b) Necessário
Parada 02: a) Razão b) Verdade c) Campos da Verdade
d)Idéias/Crenças e) Ceticismo/Relativismo f) Pensamento
Parada 03: a) “EU”: Dentro/Fora b) Consciência c) Corpo/Alma:
funcionamento/experimento d) Humano
Parada 04: a) Linguagem b) Seres vivos/Homem: algo mais/algo menos
c) Humilhações teóricas d) Inteligências: animais/homens e) Conduta
animal/Comportamento humano f) Meio/Mundo e) SÍMBOLO
Parada 05: a) Mundo b) Idéias c) Idéias míticas/Idéias filosóficas
d) Universo e) Ordem f) Princípio antrópico
Parada 06: a) Habitar b) Atuar c) Ação humana d) Decidir
e) Liberdade
Parada 07: a) Natureza b) Natureza humana c) Cultura d) Valorar
e) Técnica/Tecnologia
Parada 08: a) “OUTRO” b) Convivência: Ética/Política c) U-topia/Eutopia
Parada 09: a) Prazer/Dor b) Bom/Belo c) Beleza
d) Necessário/Agradável e) Conceito f) Beleza aderente/Beleza vaga
g) Bonito/Formoso h) Platão: Arte/Filosofia
Parada 10: a) Tempo b) Medida do Tempo c) Ritmos/Prazos
d) Tempo: social/natural e) Doutrina do destino/Teoria dos futuros
contingentes f) Tempo/Espaço e) Recomendação: Quatro coisas...
Parada 11: SEMINÁRIO: A República...
Parada 12: Provocação: Cidadania: Justiça X Segurança...
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Roteiro : A República
PLATÃO : A busca por um mundo inteligível.
Tema 01
- Platão e o seu projeto. / A República
Tema 02 - Seção I - Livro I : Afirmação de Trasímaco: a
justiça não é mais do que o interesse do mais forte.
Tema 03 - Seção II - Livro II : Glauco defende ser a justiça
não um bem, mas o fruto de um acordo decorrente da
impossibilidade de praticar a injustiça. Sócrates busca
explicar a justiça na alma humana e a justiça na cidade.
Livro III : Sócrates demonstra o surgimento das diferentes
profissões, sua desconfiança quanto à poesia e faz
considerações sobre o tipo de educação a ser dada aos jovens,
os futuros guardiões da cidade.
Livro IV : As três partes que compõem a alma: uma parte que
raciocina, uma que tem capacidade de desejar e outra que se
irrita sem razão.
Tema 04 - Seção III - Livro V : Adimanto propõe a Sócrates
que faça considerações sobre a organização da cidade,
relativa à comunhão das mulheres, ao casamento e à
procriação.
Livro VI : Sócrates critica os sofistas e elogia o verdadeiro
filósofo como aquele que pode servir de exemplo para os
outros cidadãos, pois procura ser justo de fato, e não apenas
na aparência.
Livro VII: O mito da caverna.
Tema 05 - Seção IV - Livro VIII : Sócrates propõe a discussão
sobre as diferentes formas de governo e os tipos de homens
que lhes correspondem: aristocracia, timocracia, oligarquia,
democracia, tirania.
Livro IX : Sócrates faz considerações sobre o caráter do
tirano e o tipo de vida que leva para verificar se ela é
desgraçada ou feliz. Demonstra, mais uma vez, a vitória do
justo sobre o injusto.
Tema 06 - Seção V - Livro X : Reflexões sobre os poetas como
imitadores da imagem da virtude e de outros assuntos, sem
nunca chegarem à verdade, começando por Homero. O mito de ER.
Sócrates termina seu debate, afirmando serem o bem e a
justiça o fim único da alma humana.
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AVALIAÇÃO/CRITÉRIOS
Presença/Assiduidade
Leitura crítica
Criatividade
Debate/Perguntas/Pensar excelente
Concidadania/Fraternura
Participação/Receptividade
Grau de pesquisa
Língua materna
Autonomia/Significados
Fator "X"
Provocação
: Agora é com você...
Pensar excelente : crítico, criativo, elaborado.
PENSAR É...
"Pensar não é apenas ter idéias, mas tê-las com jeito."
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------"De todos os modos, parece idéia boa que todo estudante,
antes de meter-se a profissional, aprenda a saber pensar."
O,Pedro
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DEM
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Caminho do Mito ao Logos