Ebó N’yìle
Lídia Lobato Leal e Alexandre Adalberto Pereira
Instituto Federal de Goiás e Universidade Federal do Amapá
[email protected] e [email protected]
Resumo:
Esta proposta artística se trata de uma performance denominada de Ebó Nyìle (Expressão
de origem Africana que significa limpeza na casa).Ao utilizar um termo de origem africana
estamos fortalecendo nosso vínculo com as religiões de matriz africana, tão excluídas de
visibilidade no Brasil (Um país com origens étnica mistas e variadas). O trabalho propõe uma
articulação metafórica entre corpo e a casa no qual o ritual simboliza purificação e limpeza. O
Ebó, ou sacrifício é a metáfora que nos inspiramos para essa performance, se trata de um dos
princípios centrais das religiões de matriz africana no Brasil. Ao nosso compreender, no entanto
não existe religião alguma sem esse tipo de ritual que envolve purificação e limpeza do
corpo/alma/casa.
Palavras-chave: performance artística; cultura afro-brasileira; limpeza; laços; auto-afirmarão;
casa.
Abstract:
This artistic proposal it is a performance called Ebó N’yìle (Expression of African origin
thatmeans cleaning the house). By using a term from Africa we are strengthening our bond with
religions of African origin, as excluded visibility in Brazil (A country with mixed ethnic backgrounds
and varied) This proposal seeks an artistic metaphorical linkage between body and the house
where the ritual symbolizes purification and cleansing. The Ebo, or sacrifice is the metaphor that
we draw inspiration for this performance, it is one of the central tenets of religions of African
origin in Brazil. To our understanding, however there is no religion at all without this kind of ritual
that involves purifying and cleansing the body / soul/ house.
Keywords: performance art; african-brazilian cultura; clean; ties; self-affirm; home.
Lídia Lobato Leal e Alexandre Adalberto Pereira. Ebó N’yìle
Educação, arte e cultura. Contribuições da periferia. COLBAA: Jaén, 2012.
Desenvolvimiento:
O Ebó é um dos princípios basilares do Candomblé, sem Ebó não existe religião alguma,
pois Ébó é oferenda, sacrifício e despacho. Sem Ebó não existe afro-religião, pois Ébó é limpeza,
literalmente, purificação, depuração, demacular, libertar-se. Ebó é feitiço que limpa.
Yìlê é a fronteira onde tudo acontece. Yìlê é casa, mas também é corpo, receptáculo onde
depositamos nossas memórias e onde o peso dos anos nos envergam os caibros e estacas que
sustentam o telhado. Yìle é casa e corpo o local físico que nos coloca em pé na Yilé, a Terra.
Ebó N’yìle é uma expresssão Iorubá (língua africana, falada nos terreiros de candomblé no
Brasil) que significa limpeza na casa. Mas essa casa também é o corpo que num banho
performático é purificado do peso das culpas, memórias, máculas e renasce.
O banho performático que estamos propondo é uma liturgia sem crença, um ritual sem
amarras e que localiza a fé através da ação desenvolvida se o corpo/casa limpo renasce, mas sem
alicerce, renasce apenas para recomeçar a jornada na Yilé/Terra.
Para a concretização de um trabalho performático em artes visuais é necessário colocar o
corpo em evidência. O corpo sede do eu e suas alusões em momentos de mimese, como é o caso
da performance, conduzem os espectadores a significações tanto a nível pessoal como social, pois
as representações são ativadoras de memórias individuais e coletivas.
Imagens dos artistas Alexandre Pereira e Lídia Leal realizando a performance Ebó N’Yìle
O corpo é uma matéria modelada pelo mundo externo, não apenas sua aparência, como
os sentidos que são produzidos/experienciados, pelos sujeitos artistas e pelos sujeitos
participantes/espectadores de um trabalho performático.
Sendo o trabalho performático o discurso do corpo e tal discurso possui diversas fontes
de aprendizado (as relações interpessoais como a religiosa, a familiar, as do mundo do trabalho,
enfim cotidianas) é muito fácil associá-lo ao corpo e suas diversas possibilidades de extrapolação
do próprio dia-a-dia, sendo o performer um observador das relações, discursos, recusas e
representações que emanam do ser humano.
Ao propormos a performance Ebó N’yìle (limpeza da casa), estamos tencionando os
expectadores/participantes a tomarem parte nesta limpeza que alude a uma casa física (corpo) e
uma casa espiritual (essa matéria trans-elétrica-lúcida-lúdica), que nos impele a realizar coisas
cotidianamente, desde levantar da cama até decidir se mudaremos o trajeto da ida ao trabalho.
Este trabalho artístico questiona a noção de casa, lar, família, através de ações visíveis que tocam
o intangível mundo de nossas emoções e que apenas são reveladas, acessadas, afloradas em
ocasiões de mimese como a experiência performática.
De acordo com Glusberg (1987, p. 57) “comportamentos que não tem significado não
podem ser considerados arte. No terreno artístico tudo deve ser sentido, significação, sob o risco
de não constituir um objeto estético”, assim, o objeto estético que constitui a performance se
baseia em ações que possuem significância para propositores e espectadores questionando a
naturalidade do cotidiano e das ações que são expressas em um trabalho desta natureza.
Por esta razão propomos um banho ritual, pois, banhar-se é um ato de entendimento
genérico para limpeza. No ritual performático Ebó N’yìle as pessoas estarão em um local fechado
(que pode ser uma sala), com objetos do Candomblé previamente distribuídos no espaço (no chão
da sala). Quando os performers chegarem já haverá uma fumaça de incenso de breu branco
invadindo o ambiente – A ideia aqui é que a limpeza já tenha começado, não apenas com água,
mas com fumaça. Quando os participantes expectadores entrarem no ambiente já enfumaçado
eles poderão observar os performers riscando com giz o chão da sala, esse rabiscos trarão alusões
sobre família, casa e proteção. Após escreverem no chão, os performers se posicionarão dentro
de uma bacia e com cuias (que são recipientes próprios para esse ritual de ebó) que já estarão
previamente dispostas em volta dos performers e cada uma repleta de um chá de ervas com
significado mítico para o ebó. Os expectadores/participantes serão convidados a banhar com esse
líquido os dois proponentes do trabalho, (e se quiserem, banhar-se também) assim os
CONTRIBUIÇÕES A PARTIR DA PERIFERIA
Lídia Lobato Leal e Alexandre Adalberto Pereira. Ebó N’yìle
Educação, arte e cultura. Contribuições da periferia. COLBAA: Jaén, 2012.
participantes serão co-autores do trabalho na medida em que o banho será conduzido pela ação
das
pessoas
presentes
na
sala.
Ao
final
do
ritual
de
banho
os
performers
distribuirão/despacharam as cuias e outros objetos da performance aos participantes.
Partindo dessa proposição pode-se afirmar que uma performance é uma relação com o
tempo, mas um tempo que se estende, pois os questionamentos e experiências que ela aciona
permanece na mente das pessoas. As imagens impregnadas de significância se fixarão
indefinidamente nas experiências visuais dos participantes, não apenas por terem visto algo
familiar/incomum, mas também por terem agido durante esse evento.
A proposta performática quer conduzir o observador/participante a estranhamentos
reflexivos, uma vez que o próprio corpo ali objetivado na ação é questionado em seu papel
social/convencional. Para Vidiella (2011) as performances são atos vitais de transferência de
saberes culturais, de memória social entre saberes e práticas de identidade, tais atitudes e
práticas se perpetuam através de ações repetidas e reiteradas cotidianamente o que alguns
autores classificam como performance sociais.
Neste trabalho os estranhamentos propostos são relacionados a uma gramática visual
que não pertence diretamente aos observadores/participantes, pois este ritual está à margem de
sua referência cultural uma vez que esta é invisibilizada na própria religião do Candomblé, não
sendo este um banho público, onde de uma maneira estética será compartilhada, uma limpeza
ritual será feita não apenas nos performers mas nos observadores/participantes uma vez que eles
estarão sendo envolvidos pelo ambiente, pela proposição e pelos objetos que levarão consigo
após a ação.
Os objetos a serem utilizados no banho ritual da performance Ebó N’yìle
São: Recipientes para banho tais como baldes e bacias, além de copos, espelhos, incenso
e fogo. O ambiente estará repleto de água pura onde pretendemos criar com esta sintaxe
antagonismos visuais, sólidos e líquidos, quentes e frios, voláteis e perenes, mas em geral são
elementos que simbolizamos em processos de purificação. Os espelhos e a água nos convocam ao
conhece-te a ti mesmo e são por princípio elementos relacionados à revelação e pureza do
espírito, enquanto a fogo, ilumina e violentamente transforma a natureza ao redor.
O antagonismo ao fundo e ao cabo nos mostra que fogo e água promovem uma
purificação equivalente. Ou tudo se acaba em água que lava ou o fogo destrói tudo ao redor. A
fumaça assim como o espelho são simbolismos fantasmagóricos que nos convidam a celebrar o
mundo ao nosso redor e as fantasias que nos são impostas, desveladas e veladas.
Referências
Glusberg, Jorge. (1987) “A arte da performance”. São Paulo: Editora Perspectiva.
Vidiella, Judit. (2011). Escenarios y acciones para una teoría de la performance. Recuperado desde
10 noviembre 2011. http://www.arteleku.net/publicaciones/zehar/65-performanceedicion/escenarios-y-acciones-para-una-teoria-de-la-performance.-judith-vidiella
CONTRIBUIÇÕES A PARTIR DA PERIFERIA
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