Contaminantes Emergentes:
“As rugas que sempre tivemos”*
* Esse documento é um projeto de artigo em elaboração pela Verti Ecotecnologias. O
seu uso e citação não estão autorizados pela empresa e pelo seu autor.
Por Aluir Dias Purceno
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Certa vez Dr. Wilson Jardim, professor do Departamento de Química Analítica da
Universidade de Campinas-SP (Unicamp) e pesquisador de contaminantes emergentes, disse que
“o desenvolvimento das técnicas de detecção para contaminantes em água de abastecimento era
como uma pessoa que após muitos anos com problemas na visão, passa a enxergar com clareza
de repente e ao se olhar no espelho, percebe as rugas que sempre teve”. Essa frase representa a
capacidade adquirida através das novas técnicas de detecção em analisar a presença de
contaminantes na água de abastecimento humano cada vez em concentrações mais baixas. O
fato de apenas agora estarmos nos atentando para este problema, não significa que ele surgiu há
pouco. Tais contaminantes sempre estiverem presentes, sempre estivemos expostos a eles, o
fato é que não tínhamos técnicas sensíveis o suficiente para detectá-los de forma consistente. Por
isso são conhecidos como contaminantes emergentes.
Estes contaminantes encontrados em concentrações na ordem de ppm, ppb ou até ppt
possuem as mais diversas origens. Entre os vários contaminantes que atingem os corpos d’água,
temos:
•
os parasitas de veiculação hídrica e príons que se originam da indústria
agropecuária;
•
os produtos de dimensões nanoméricas que têm surgido como um potencial
contaminante capaz de provocar efeitos no homem devido à sua exposição;
•
os herbicidas e pesticidas de largo uso na agroindústria;
•
os produtos químicos que, além das indústrias químicas, são utilizados também em
várias outras indústrias; e
•
os medicamentos, que tem sua origem nas indústrias farmacêuticas
Veja figura 1 para uma visão geral dos contaminantes emergentes:
Figura 1. Panorama dos contaminantes emergentes em águas de abastecimento.
Entre os contaminantes emergentes, temos um grupo determinado que merece nossa
atenção em especial, os “Pertubadores Endócrinos”. Os Pertubadores Endócrinos – P.E. – são
substâncias que mesmo em baixíssimas concentrações podem provocar efeito hormonal nos seres
vivos. Os P.E. podem ser fármacos (hormônios sintéticos e semi sintéticos), pesticidas/herbicidas
ou produtos químicos. Porém todos são agentes hormonalmente ativos.
Entre os P.E., os que possuem ação estrogênica são os mais recorrentes. Vários relatos
pelo mundo mostram a associação da presença destes contaminantes na água e/ou comida com a
ocorrência
de
efeitos
como
amadurecimento
precoce,
ginecomastia,
câncer
de
infertilidade e feminização de diversas espécies de seres vivos, inclusive o ser humano.
Figura 2. Exemplos de casos de contaminações emergentes.
vagina,
Atendo-nos aos contaminantes que envolvem a indústria farmacêutica, além dos
hormônios os antibióticos, que possuem um papel já definido e estudado dentro da literatura de
contaminantes emergentes. A contaminação ambiental por antibióticos também pode provocar a
seleção de bactérias resistentes no ambiente e também nos seres vivos expostos a ele. Quando
um antibiótico qualquer atinge um corpo d’água ou um ser vivo sua biota é afetada. As bactérias
menos resistentes morrem ou tem seu crescimento inibido enquanto bactérias mais resistentes
seguem se multiplicando. Desta forma, a biota inerente a
cada organismo ou ecossistema se modifica, podendo se
tornar até patogênica.
Com relação a outros fármacos (ex. antiinflamatórios,
anti-histamínicos,
analgésicos)
e
produtos
de
higiene
pessoal, as pesquisas são baseadas em suposições, uma vez
que os impactos causados aos ecossistemas quando em
baixas concentrações não estão muito claros ainda.
A
situação
de
ocorrência
de
contaminantes
emergentes é agravada pela ineficiência das Estações de
Tratamento de Efluentes, Estações de Tratamento de Água e
Estações de Tratamento de Esgotos para fazer a remoção
total destes contaminantes. No caso dos fármacos, o ser
humano utiliza o fármaco terapeuticamente e excreta grande
quantidade dele nas fezes e urina. Os excretas humanos
passam pela Estação de Tratamento de Esgotos (quando
disponíveis), na qual parte dos contaminantes é retirada e
parte segue com o efluente para os corpos d’água. Muitos
desses corpos são utilizados para a captação de água, onde
a Estação de Tratamento de Água não remove os mesmos.
Desta forma, os contaminantes, além de atingir o ambiente,
também
atingem
os
seres
humanos
via
água
de
abastecimento.
Um centro de pesquisa em química analítica da
Universidade Estadual de Campinas está realizando uma
Nos EUA, devido à escassez até
mesmo física de água potável, muito tem
se discutido a respeito da potabilização
do esgoto. Cidades americanas como San
Diego (CA) tem visto no reuso através da
potabilização do esgoto uma alternativa
para reduzir a quantidade de água
“importada” pela mesma (hoje existem
cidades da Califórnia “importando” até
90% da água potável). Esta política,
chamada de “Toilet-To-Tap” (do sanitário
à pia) pela imprensa americana, tem
como ponto negativo o agravamento do
problema relacionado aos contaminantes
emergentes.
O reuso, associado a
incapacidade dos sistemas de tratamento
de
água
e
esgoto
em
remover
medicamentos e outros contaminantes
em baixíssimas concentrações, obrigam
os políticos e tomadores de decisões a
pensarem
cuidadosamente sobre os
riscos associados a potabilização do
esgoto como alternativa ao acesso a
ágau potável.
pesquisa em parceria com algumas empresas e órgãos
governamentais com a intenção de gerar dados capazes de
serem
utilizados
como
base
para
determinação
dos
Fonte:http://www.slate.com/id/2182758
By Eilene Zimmerman
parâmetros de lançamentos de efluentes e potabilização de água.
Em paralelo, muitos trabalhos pelo mundo têm estudado tecnologias eficientes para a
remoção dos mesmos. Entre elas, Osmose Reversa, Microfiltração, Processos Oxidativos
Avançados, Sorção etc. Porém, temos a necessidade de adequar as melhores opções à realidade
das indústrias e municípios brasileiros.
A principio, vê-se a necessidade do investimento em pesquisas para monitoramento da
ocorrência dos contaminantes emergentes nas águas brasileiras, para identificação dos seus
impactos e conseqüências e para adequação das melhores tecnologias de remoção às freqüências
e quantidades das substâncias encontradas em nossos corpos d’água.
Visto tudo isso, precisamos nos instruir sobre o assunto e tomar iniciativas, até mesmo
pioneiras, de maneira que juntos possamos minimizar o problema antes que a população seja
afetada em um futuro próximo.
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