Capítulo 3 A outra face (oculta) da doença celíaca Lorete Maria da Silva Kotze Inicialmente serão assinalados tópicos atuais sobre doença celíaca, para melhor entendimento e, no final do capítulo, estarão listados os dados que se referem à face oculta da enfermidade. Conceitos Glúten é uma substância albuminóide, insolúvel em água que, com o amido e outros compostos, se encontra na farinha de trigo, centeio, cevada e aveia. Constitui a massa coesiva que permanece quando a pasta de farinha dos cereais é lavada para se removerem os grânulos de amido. A doença por sensiblidade ao glúten pode ser definida como um estado de resposta imunológica, tanto celular como humoral, ao glúten dos citados cereais. O dano pode surgir na pele (dermatite herpetiforme), na mucosa FBG pre congresso 155x225.pmd 45 oral (estomatite aftosa de repetição), nas articulações (algumas artrites) ou no rim (nefropatia por IgA),1, 35 mas a doença celíaca (DC) é a forma mais freqüente de apresentação. É também conhecida como espru celíaco, espru não tropical, enteropatia glúteninduzida, enteropatia glúten-sensível, esteatorréia idiopática ou espru idiopático.9 A intolerância ao glúten é permanente. Atualmente, considera-se a DC como uma doença multissistêmica, sendo o intestino delgado o local primário. Os novos paradigmas da DC estão calcados em três avanços: a) o reconhecimento de apresentações sutis e não usuais; b) o detalhamento do espectro patológico, a partir da classificação de Marsh;35 c) o desenvolvimento de testes 10/5/2007, 17:35 Gastroenterologia: da Patogenia à Prática Clínica sorológicos de alta sensibilidade e especificidade, levando à demonstração de que a DC é muito comum, fazendo com que médicos de qualquer especialidade testem os pacientes para DC. 19 Epidemiologia A DC acomete indivíduos de qualquer idade e de ambos os sexos, predominando o feminino, tanto em séries pediátricas como de adultos. É classicamente descrita em indivíduos de etnia branca, ocorrendo, com maior freqüência, nos países anglo-saxônicos e nórdicos. Entretanto, pode ser considerada de distribuição mundial, pois tem sido relatada em nativos de diversos países. Já foi descrita em todos os grupos étnicos, sendo considerada internacional.10,59 A proporção de pessoas em determinada população com DC em um determinado período (prevalência) depende de como se define a doença: se de forma latente, não-diagnosticada ou diagnosticada. De modo geral, em estudos baseados em soroepidemiologia, há consenso de que para cada caso diagnosticado haja de 3 a 7 casos não-diagnosticados e que de 1% a 3% da população geral se tornará afetada em alguma época de sua vida. Estudos mostram que o aumento secular no diagnóstico de DC seja devido ao elevado índice de suspeição clínica e à disponibilidade dos testes sorológicos de alta sensibilidade e especificidade. Por outro lado, a incidência varia de país a país. No Brasil, em doadores de sangue, Gandolfi et al. 18 assina- laram 1/681, em Brasília, usando anticorpos antiendomísio IgA (EmA IgA); em Curitiba, com EmA IgA e antitransglutaminase (anti-tTG), Nisihara et al.41 encontraram 1/1.000; em Ribeirão Preto e Melo et al. 40 detectaram 1/375 com anti-tTG e EmA. Fasano et al. 16 assinalam a prevalência da DC como segue: • risco para familiares de primeiro grau = 1:10; • risco para familiares de segundo grau = 1:39; • risco para pacientes sintomáticos = 1:56; • grupos de risco = 1:133. Genética A DC está ligada à presença de antígenos HLA DQ2 (90% a 95%) e DQ8 no restante dos pacientes. Também se associa a haplotipos das classes I e II (A, B, DR, DQ). 22, 50 Tais condições são necessárias, mas não suficientes para o desenvolvimento da afecção. Glúten é o fator-chave: sem glúten não há DC. Não há expectativa de que populações que não apresentam DQ2 (exs., chineses e japoneses) tenham DC, à exceção de indivíduos DQ8. Estimativas de riscos, do ponto de vista genético: 59 • população geral = 1%; • indivíduos DQ2 ou DQ8 = 2% a 3%; • familiares de primeiro grau, HLA desconhecido = 10% a 15%; • familiares de primeiro grau DQ2 ou DQ8 = 20% a 30%. 46 FBG pre congresso 155x225.pmd 46 10/5/2007, 17:35 Lorete Maria da Silva Kotze Corroborando dados de literatura, Kotze et al.32 avaliaram a presença de EmA em 214 familiares de 82 famílias de pacientes celíacos brasileiros, tendo encontrado 13,7% de positividade nos de primeiro grau e 6,45% nos de segundo grau. Em 3 famílias houve gêmeos positivos. Tais dados reforçam a importância do rastreamento em todos os familiares dos celíacos, enfatizando a indicação de biópsia intestinal nos positivos, mesmo na ausência de sintomatologia clínica. Como conclusão, a tipagem HLA serve de marcador genético, é dado importante em situações especiais e para detectar familiares de alto risco para DC, porém não é determinação de rotina. 55,56 Os linfócitos intra-epiteliais (LIE), considerados também como marcadores genéticos, são células T que se localizam por fora da membrana basal, entre as células epiteliais. 17 Os que apresentam os receptores gama/delta são importantes na manutenção da integridade epitelial por destruir células infectadas, transformadas ou danificadas. No indivíduo normal, os LIE predominantes não expressam esses receptores, mas nos celíacos estão significativamente elevados, mesmo após dieta sem glúten. Seu aumento sugere o diagnóstico de DC, porém podem aumentar na alergia alimentar, com densidade menor do que na DC. 24 Tal fato permite identificar formas latentes de DC, tanto em indivíduos com arquitetura mucosa preservada e presença de anticorpos positivos como em familiares de celíacos. Em pacientes com outras expressões de sensibilidade ao glúten, tais como dermatite herpetiforme, aftas recorrentes e artralgias, a presença de tais células aponta para o correto diagnóstico.21 Fisiopatologia Na lâmina própria da mucosa do intestino delgado, encontram-se células T CD4+ glúten-específicas, que reconheceriam os peptídeos derivados do glúten, e linfócitos da classe HLA, principalmente DQ2. As células T secretam várias interleucinas e fator de necrose tumoral, com papel no desenvolvimento das lesões. 51 Atualmente, considera-se que a DC esteja associada a uma resposta auto-imune altamente específica ao endomísio, estrutura da matriz extracelular. O antígeno endomisial foi recentemente identificado como transglutaminase tecidual (tTG). A gliadina da dieta atravessa a barreira epitelial intestinal e é exposta à tTG. Essa enzima é secretada em pequenas quantidades principalmente por células mononucleares, fibroblastos e células endoteliais que residem na matriz subepitelial do intestino. Ambos, o influxo de gliadina e a liberação da tTG aumentam durante infecção viral ou bacteriana, conhecidamente deflagradoras de DC clinicamente silenciosa. Os peptídeos derivados da gliadina, das variantes da gliadina desaminada pela tTG ou complexos gliadina-tTG são, então, levados às células apresentadoras de antígenos (APC) que carregam o gene HLA-DQ2. As células CD4+ que 47 FBG pre congresso 155x225.pmd 47 10/5/2007, 17:35 Gastroenterologia: da Patogenia à Prática Clínica reconhecem esses peptídeos através de seus receptores complementares (TCR) tornam possível uma resposta Th1 ou Th2, com secreção de citocina. 48 Citocinas Th1 (primariamente fator de necrose tumoral alfa) induzem os fibroblastos intestinais a liberarem metaloproteinases da matriz (proteoglicans MMP-3). Em adição, MMP-3 podem superativar MMP-1. A resposta Th2 promove a maturação de células B e expansão das células plasmáticas que produzem anticorpos IgA contra gliadina, tTG e ligação cruzada de complexos gliadinatTG. Essas células B podem ser preferencialmente estimuladas, porque também podem apresentar antígenos como peptídeos de gliadina desaminada às células T específicas da DC (Figura 3.1). Auto-anticorpos à tTG podem ter papel na patogênese da DC. A tTG, como as plasminas, é necessária para a ativação do fator de crescimento transformador beta (TGF-β). Recentemente, demonstrou-se, in vitro, que esse fator é necessário para a diferenciação do epitélio intestinal, bem como para a reparação às lesões da mucosa. Experiências in vitro mostram que os autoanticorpos anti- tTG bloqueiam a diferenciação epitelial da mucosa celíaca, explicando a falta de diferenciação no epitélio das vilosidades nessa afecção.48 Figura 3.1 – Fisiopatologia da doença celíaca. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 48 FBG pre congresso 155x225.pmd 48 10/5/2007, 17:35 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Lorete Maria da Silva Kotze Classificação clínica da DC Forma atípica: sintomas predominantes não-gastrointestinais; habitualmente mono ou oligossintomática; Forma silenciosa: sem sintomas, a despeito da presença de lesões intestinais características. Outros preferem a apontada no quadro 3.1. A classificação clínica da DC sofreu modificações. Atualmente, muitos autores concordam com a que segue:35 Forma clássica: sintomas predominantes gastrointestinais; Quadro 3.1 – Tipos de doença celíaca Tipo Sintomas Anticorpos Enteropatia Genética Clássica + + + + Potencial - - - + Silenciosa - + + + Latente antes + + - + Latente atual - - + + Quadro clínico O quadro clínico na DC varia muito, dependendo da gravidade e extensão das lesões, bem como da idade do paciente. Podem-se encontrar desde sinais e sintomas de má absorção de apenas um nutriente (anemia, por exemplo), até pandisabsorção, com repercussões graves à nutrição do indivíduo e ameaça à sua vida (Figura 3.2). Considerar que em países familiarizados com a DC a apresentação clássica com má absorção grave e caquexia, descrita nos livrostextos, está cada vez mais rara. Os médicos devem se lembrar deste diagnóstico ao atenderem pacientes com dispepsia e/ou síndrome do intestino irritável; ou os especialistas em outras doenças auto-imunes.35 A DC caracteriza-se por uma miríade de manifestações clínicas, inclusive através de complicações, tais como A DC é uma afecção comum em crianças como o é em adultos, com predominância em mulheres (2,9 x 1 homem), mas nos idosos há predomínio do sexo masculino. Ainda a queixa de diarréia é a mais freqüente, porém a média de intervalo entre o aparecimento dos sintomas e o diagnóstico é em torno de 11 anos. 19, 35 O espectro de apresentação clínica também é grande e, nos dias atuais, manifestações extra-intestinais (anemia e baixa estatura, por exemplo) são mais comuns que os sintomas clássicos de má absorção intestinal. Nota-se diminuição da gravidade clínica da DC e a obesidade chega a 27% dos casos. Portanto, atualmente quase não se vêem mais pacientes desnutridos com má absorção. 19, 35 49 FBG pre congresso 155x225.pmd 49 10/5/2007, 17:35 Gastroenterologia: da Patogenia à Prática Clínica anemia, osteoporose ou problemas gineco-obstétricos.31 Figura 3.2 – Apresentação clínica clássica da doença celíaca. Paciente desnutrido com distensão abdominal e protrusão umbilical. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Para orientação didática e prática, seguem-se sintomas e sinais clínicos de DC relacionados aos diversos aparelhos e sistemas, seja como manifestações isoladas, seja como parte do mosaico clínico dos pacientes.29 a) Gerais: anorexia, cansaço, emagrecimento, fraqueza, hiperfagia, malestar; baixa estatura, construção delgada, desgaste físico, febrícula, hipotensão. b) Digestivas: dispepsia, distensão abdominal, flatulência, fezes gordurosas, náuseas, vômitos, dor abdominal, diarréia, constipação; abdômen escavado ou globoso, aftas, alças intestinais palpáveis, alterações da língua, aumento de ruídos hidroáereos, peristalse visível. c) Musculoesqueléticas: artralgia, dor óssea, miopatia proximal; alterações da marcha, artrite, deformidades ósseas, osteomalacia, raquitismo. d) Gineco-obstétricas: amenorréia secundária, atraso na menarca, aumento de abortamentos, diminuição da fertilidade, menopausa precoce 31, oligospermia; diminuição dos caracteres sexuais secundários, diminuição do sêmen, hipogonadismo. a) Endocrinológicas: baixa estatura, atraso de desenvolvimento sexual.29 b) Neuropsiquiátricas: irritabilidade, choro fácil, ansiedade, depressão,26 tentativa de suicídio; degeneração cerebroespinhal, neuropatia periférica, ataxia. c) Metabólicas: câimbras, diurese noturna, parestesias, tetania. d) Hematológicas: anemia, hematomas, sangramento. i) Tegumentares: alterações nos cabelos, edema, hematomas, lesões pruriginosas, lesões bolhosas, pigmentação de pele, poiquinolíquia, rashes. Como se deduz, a DC pode cursar com qualquer sintoma ou sinal, tornando muitas vezes difícil o diagnóstico. Também se deve considerar a ocorrência de doenças associdas.33 Numerosas condições têm sido relatadas com DC, tanto em crianças como em adultos. Geralmente são afecções com envolvimento de mecanismos auto-imunes e/ou ligadas a antígenos do sistema HLA. Por ordem alfabética: • acidose tubular renal • alveolite fibrosante • artrite reumatóide 50 FBG pre congresso 155x225.pmd 50 10/5/2007, 17:35 Lorete Maria da Silva Kotze • asma e atopia • câncer do intestino delgado • cânceres do esôfago e da faringe • cirrose biliar primária • coarctação da aorta • deficiência de Ig A • diabetes mellitus • doença de Addison • doenças da tireóide • epilepsia com calcificações cerebrais • fibrose cística • hemossiderose pulmonar * alergia alimentar • linfoma • lúpus eritematoso disseminado • pancreatite crônica • poliomiosite • psoríase • síndrome de Down42 * síndrome do intestino irritável • síndrome de Sjögren O quadro clínico pode ser um mosaico entre os sintomas e sinais da DC e da entidade associada. O diagnóstico de ambas será feito conforme a natureza da comorbidade.35 manifestação cutânea da DC que é mais bem diagnosticada pela identificação de IgA granular nas papilas dérmicas. É mais prevalente em homens do que em mulheres, sendo a idade média estimada em 40,1 e 36,2 anos nos sexos masculino e feminino, respectivamente. 61 Entretanto, na experiência da autora, em 17 casos diagnosticados, 2 são homens e 15, mulheres. Cerca de 20% dos pacientes apresentam má absorção intestinal, 20% apresentam a forma atípica da DC e em 60% a DC é silenciosa. Anemia é detectada em 10% dos pacientes, alterações tireoideanas em 15% a 20% (predomínio de hipotireoidismo) e há descrição de aumento da incidência de linfomas. Atenção: de 10% a 30% dos pacientes podem ser negativos para os testes de EmA IgA e anti-tTG IgA. 61 DH pode preceder os sinais e sintomas de DC, ou surgir após alguns anos depois do diagnóstico da doença intestinal. Ambas podem aparecer numa mesma família. Sua relação é com o mesmo fenótipo de antígenos HLA de classe II, mostrando 90% dos pacientes positividade para HLA DQ2 e os outros restantes para HLA DQ8. Pode ou não haver lesões intestinais, mas a autora recomenda biópsia em todos os casos, além da determinação dos auto-anticorpos. As lesões são placas urticariformes e vesículas altamente pruriginosas de distribuição simétrica, predominando em áreas de extensão dos joelhos, cotovelos, dorso e glútea (Figura 3.3). O dado mais valioso para o diagnóstico é a demonstração de Apresentações atípicas (não digestivas)7 Dermatite herpetiforme Dermatite herpetiforme (DH) é a 51 FBG pre congresso 155x225.pmd 51 10/5/2007, 17:35 Gastroenterologia: da Patogenia à Prática Clínica depósitos granulares de IgA na derme superior de qualquer ponto do tegumento, através de imunofluorescência direta. O tratamento com dapsona (diaminodifenilsulfona) suprime a inflamação da pele, mas não tem efeito sobre as alterações intestinais. O tratamento é a supressão do glúten. A determinação dos anticorpos EmA e anti-tTG é útil tanto para o diagnóstico como para a monitoração da dieta.61 Alterações ósseas Fêmur e coluna espinhal À densitometria óssea, cerca de 7% apresentam osteopenia e/ou osteoporose em fêmur e coluna, predominando em mulheres em pré-menopausa e em homens, conseqüente a alterações no metabolismo do cálcio.29, 35 Dentes Alterações do esmalte dentário.29 Diagnóstico Diagnóstico clínico Figura 3.3 – Dermatite herpetiforme: lesões vesicobolhosas em paciente sem diarréia e com atrofia parcial de vilosidades intestinais. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Anemia Oito por cento ou mais apresentam anemia como manifestação inicial de DC;31 e 15% dos pacientes com anemia quando triados para DC. Uma anamnese detalhada, com exame físico cuidadoso e dados objetivos de exames laboratoriais, leva à suspeita de DC. Entretanto, o conhecimento das diferentes formas clínicas da afecção (atípica, silenciosa, latente, potencial) veio demonstrar que um diagnóstico exclusivamente clínico é utopia.35 No Brasil, a coexistência de outras enteropatias, ligadas sobretudo à desnutrição e às parasitoses, dissimula as manifestações típicas da afecção. Portanto, é possível que, entre as inúmeras observações de diarréias persistentes, a DC esteja envolvida. Não se deve esquecer, porém, que sinais ou sintomas extradigestivos podem chamar a atenção para outro sistema ou aparelho, desviando o raciocínio do médico.29 52 FBG pre congresso 155x225.pmd 52 10/5/2007, 17:35 Lorete Maria da Silva Kotze Testes sorológicos fornece seus valores de referência. Os marcadores IgG são mais sensíveis (AGA IgG): sensibilidade 62% a 96% e especificidade de 63% a 97%); os IgA (AGA IgA) são mais específicos: sensibilidade de 46% a 92% e especificidade de 83% a 92%. Entretanto, podem ser identificados em indivíduos normais, com doenças auto-imunes, intolerância à proteína do leite de vaca, infecções e parasitoses intestinais. O consenso atual é de que sejam utilizados em crianças com menos de 2 anos. São úteis na monitorização da dieta, pois são os primeiros a se elevarem. Níveis normais não excluem DC. Os avanços nos métodos sorológicos para diagnóstico da DC, nas últimas duas décadas, trouxeram benefícios e segurança tanto para os pacientes quanto para os médicos. Considerando-se que até então apenas critérios clínicos e histológicos estavam disponíveis para o diagnóstico, a viabilização de métodos não-invasivos veio favorecer o diagnóstico precoce da afecção, além de possibilitar amplos estudos de triagem em populações e em familiares de celíacos. Formas latentes ou atípicas da DC passaram a ser diagnosticadas mais facilmente. Triagens de DC tornaram-se freqüentes em pacientes com diabetes mellitus insulino-dependente, doenças auto-imunes da tireóide, síndrome de Down, déficit de crescimento, diarréias crônicas, deficiência de IgA etc.27, 54 Apesar de ter sido considerada padrãoouro no diagnóstico da DC, nem sempre a biópsia intestinal, isoladamente, consegue determinar com precisão este diagnóstico, daí atualmente se considerar como padrão-ouro o somatório dos dados histológicos com o resultado dos testes sorológicos.59 Todos os testes devem ser feitos após determinação dos níveis séricos de imunoglobulinas, pois cerca de 12% dos celíacos apresentam também deficiência de IgA e poderão ter resultados falso-negativos. Nesses casos, haverá necessidade de se realizar testes com IgG.6,14 Anticorpos antiendomísio (EmA IgA) Anticorpos antiendomísio são anticorpos da classe IgA diretos contra a camada linear da musculatura lisa dos primatas e correlacionam-se positivamente com a gravidade da lesão da mucosa intestinal. Adsorvemse num componente amorfo adjacente a fibrilas finas de colágeno no tecido conectivo endomisial. Essas fibrilas conectam células musculares lisas, feixes de músculo liso e tecido elástico vizinhos. São detectados por imunofluorescência indireta em esôfago de macaco ou cordão umbilical humano.58 As vantagens de usar este último substrato são: • substrato comumente disponível; • rico em fibrilas de reticulina; • endomísio em torno das fibrilas musculares lisas na parede da veia e das duas artérias não contém IgA, evitando reação imunológica cruzada. Anticorpos antigliadina São determinados por enzimaimunoensaio (ELISA). Cada laboratório 53 FBG pre congresso 155x225.pmd 53 10/5/2007, 17:35 Gastroenterologia: da Patogenia à Prática Clínica O resultado é fornecido como negativo ou positivo (título definido como a mais alta diluição com imunofluorescência: 1/2,5 a 1/80).27 Diversos autores preconizam esse teste baseando-se em alta porcentagem de sensibilidade e de especificidade para DC. Kotze et al.27 encontraram 100% de sensibilidade e 99,3% de especificidade em celíacos brasileiros. Sua limitação é a de ser positivo em pacientes acima de 2 anos de idade. É excelente para diagnóstico, monitorização da dieta, rastreamento de familiares de celíacos, rastreamento em pacientes com doenças autoimunes 53 e para estudos epidemiológicos. Anticorpos antitransglutaminase (anti-tTG IgA) Recentemente foram descritos anticorpos contra transglutaminase tecidual (Ttg IgA),52 detectados pelo método de ELISA, conforme descrito por Dieterich et al.,15 com sensibilidade e especificidade habitualmente superponíveis às do EmA. A transglutaminase pode ser o principal, se não o único, auto-antígeno endomisial alvo envolvido na fisiopatologia da DC, reconhecendose as gliadinas ricas em glutamina como um de seus poucos substratos. Os anticorpos anti-tTG IgA, quando em altos títulos, estão intimamente associados ao diagnóstico da DC, embora baixos títulos não possam ser considerados doença-específicos. De acordo com Dieterich et al.,15 a pesquisa dos anti-tTG IgA por ELISA tende a ser um importante recurso de triagem populacional, por representar um ensaio quantitativo, independente da variação interobservador, além de ser de fácil execução. Cada laboratório fornece as dosagens consideradas normais ou alteradas, dependendo do kit comercial utilizado. As amostras com resultados inferiores a 20 unidades habitualmente são consideradas negativas, conforme critérios do kit utilizado.30 A desvantagem é que pode dar níveis considerados positivos em outras doenças sistêmicas ou gastrointestinais (distúrbios neuronais, câncer, infecção pelo HIV, doenças inflamatórias intestinais, diabetes mellitus, cirrose hepática, catarata e várias doenças autoimunes). Comparação entre EmA IgA e antitTG IgA Nos últimos anos, inúmeros estudos têm sido realizados comparando a pesquisa dos anticorpos EmA, por imunofluorescência indireta, com os anticorpos anti-tTG, por ELISA. Tais estudos têm evidenciado uma excelente correlação entre os EmA e anti-tTG nos aspectos de sensibilidade, com melhores resultados para os EmA IgA em termos de especificidade, segundo relatos de diferentes autores. Tais dados foram corroborados pela autora.30 Observa-se uma ampla variabilidade de resultados interlaboratórios, possivelmente relacionada a fatores técnicos, esperando-se que os kits comerciais ainda tenham como meta o firme propósito de eliminá-la, minimizando as discrepâncias e aumentando a acurácia dos testes. 54 FBG pre congresso 155x225.pmd 54 10/5/2007, 17:35 Lorete Maria da Silva Kotze Concluindo, é possível afirmar que a pesquisa dos anticorpos anti-tTG IgA certamente consiste em um valioso avanço nos estudos de DC. Ao tornar o diagnóstico sorológico mais acessível a inúmeros laboratórios, além de favorecer os estudos populacionais e de familiares, passou a representar um importante recurso na seleção de candidatos a biópsias intestinais. Cabe a cada serviço, no entanto, adotar rígidos critérios em termos de correlação clínico-laboratorial. Os resultados dos estudos do grupo da autora evidenciaram que em pacientes celíacos com altos níveis de anticorpos há uma excelente correlação da pesquisa dos anticorpos anti-tTG-IgA com o EmA-IgA, não se incorrendo em risco de resultados falsonegativos.54 Entretanto, como também evidenciado por alguns autores, baixos níveis de anti-tTG-IgA fazem superposição com outras doenças, especialmente as hepáticas. Torna-se, assim, inquestionável a maior confiabilidade do EmA-IgA nas situações possíveis de baixos níveis de anticorpos, como no diagnóstico de crianças menores de 2 anos de idade, triagem de familiares e/ou monitoramento da dieta isenta de glúten. Quanto ao custo do exame, a estrutura do laboratório é que vai representar o diferencial e mostrar a melhor opção metodológica. Para serviços que rotineiramente realizam técnicas de ELISA e já dispõem dos equipamentos necessários, certamente a pesquisa dos anticorpos anti-tTG-IgA vai se adequar melhor. Para laboratórios que dispõem de microscópio de fluorescência e criostato, sem dúvida a pesquisa do EmA-IgA por imunofluo- rescência indireta representará a melhor opção, com um custo bastante reduzido por exame, principalmente se o laboratório tiver condições de preparar o próprio substrato da reação, com cortes criostáticos de cordão umbilical humano.54 Doença celíaca seronegativa Tanto os pacientes com sorologia positiva como negativa têm as mesmas características clínicas, havendo correlação com as alterações histológicas da mucosa intestinal.2,46 Em conclusão, os testes sorológicos são úteis para detecção de formas silenciosas de DC, seja em crianças, adultos, seja em familiares de celíacos, e também para esclarecimento de formas monossintomáticas. Na monitorização do tratamento, os testes são importantes, pois, após 3 meses de dieta sem glúten, os anticorpos devem diminuir, mas só vão negativar após 12 a 24 meses, variando de indivíduo a indivíduo. Sua elevação significa nãoaderência à dieta, que deve ser revista. Nos pacientes com dúvida diagnóstica em que é feita a provocação com glúten, os anticorpos se elevam, podendo-se até dispensar novas biópsias. É óbvio que a realização simultânea de vários testes sempre será o ideal para rastreamento dos casos que deverão ser submetidos à biópsia intestinal. 30 Doença celíaca e outros autoanticorpos A coexistência de DC com uma série de outras doenças auto-imunes tem sido relatada. Demonstrou-se que o início de uma doença auto-imune predispõe ao aparecimento de outras. 55 FBG pre congresso 155x225.pmd 55 10/5/2007, 17:35 Gastroenterologia: da Patogenia à Prática Clínica Bases imunogenéticas têm sido assinaladas como causas dessas associações, possivelmente relacionadas a marcadores sorológicos e do sistema HLA classes I e II. Tais afecções são mais prevalentes com o aumentar da idade do paciente ao diagnóstico e à duração da exposição ao glúten. Diversos estudos de triagem para DC entre os familiares de primeiro grau dos pacientes com DC foram relatados, mas a ocorrência de outras afecções auto- imunes raramente tem sido publicada. Sabendo-se que a DC mesmo tratada ou silenciosa predispõe a outras afecções auto-imunes, o grupo da autora considerou relevante executar um amplo espectro de detecção de auto-anticorpos em pacientes celíacos e seus familiares.53 EmA IgA foi positivo em 100% dos celíacos ingerindo glúten e em 16,1% de seus familiares. Os dados estão no quadro 3.2. Quadro 3.2 – Positividade de auto-anticorpos em pacientes celíacos e seus familiares em relação aos controles AA Celíacos Familiares Controles SMA 3,6% 0,8% 2,0% AMA 0 0 0 LKM 0 0 0 ANA 8,9 5,1 0 GPCA 3,6 3,4 0 ANCA 0 0 0 TMA 16,1 9,3 2,9 Total 25,0 17,8 4,9 AA: auto-anticorpos; SMA: anticorpo antimúsculo liso; AMA: anticorpo antimitocondrial; LKM: anticorpo antimicrossomal de fígado e rim; ANA: anticorpo antinuclear; GPCA: anticorpo anticélula gástrica parietal; TMA: anticorpo antimicrossomal de tireóide. Chamou a atenção a alta positividade dos AA tanto nos pacientes quanto nos familiares, com predominância dos relacionados à tireóide.33 Não houve diferença em relação ao tratamento, concluindo-se que os celíacos, mesmo obedecendo à dieta isenta de glúten, devem ser monitorados quanto ao surgimento de outras doenças autoimunes, principalmente de tireóide. Tais resultados enfatizam o valor do rastreamento de diferentes autoanticorpos nos pacientes celíacos e seus familiares e corroboram a necessidade de avaliação completa e seguimento desses indivíduos por toda a vida. 33 56 FBG pre congresso 155x225.pmd 56 10/5/2007, 17:35 Lorete Maria da Silva Kotze Endoscopia digestiva alta (EDA) e biópsia peroral do intestino delgado olham atentamente a mucosa duodenal, há aumento significativo do número de casos diagnosticados como DC, sugerido pela macroscopia e confirmado pelos achados histológicos nas várias biópsias realizadas. Geralmente os pacientes são submetidos a este exame por dispepsia, dor abdominal superior ou Doença do Refluxo Gastroesofágico (que melhora consideravelmente após dieta isenta de glúten, atribuindo-se a alterações da motilidade que ocorre na DC). Embora a endoscopia permita a coleta de fragmentos, pode não ser suficientemente sensível para detectar todas as manifestações de DC na população. Cerca de 10% apresentam alterações à EDA. Os achados característicos são: • pregas escalonadas, fissuras e padrão mosaico; • achatamento das pregas; • pregas de pequeno tamanho ou desaparecimento com insuflação máxima. Brocchi et al.8 relataram perda das pregas de Kerkring no duodeno descendente como característica de pacientes com DC. Consideram que tal aspecto endoscópico tem 88% de especificidade. Outros aspectos descritos são perda da granulosidade, padrão mosaico, pregas mais espessadas e proeminentes, concêntricas e vasos sangüíneos visíveis. Observa-se perda ou redução na proeminência das pregas duodenais em aproximadamente 70% dos celíacos (Figura 3.4A). O estudo italiano de Vjero et al.57 mostrou que quando os endoscopistas Magnificação de imagens e cromoendoscopia Através da endoscopia e com o uso de 5-10 ml de solução de índigocarmim a 1%, pode-se predizer áreas de atrofia vilositária (Figura 3.4B). Tal visão tem importância para dirigir as biópsias, principalmente quando há áreas de alterações focais (patchy) que revelam doença persistente. 3, 20 A B Figura 3.4 – Aspectos endoscópicos na doença celíaca. A. Diminuição de pregas em D2, com mucosa irregular entre as remanescentes à endoscopia convencional. B. Magnificação de imagem com cromoscopia, ressaltando o aspecto atrófico da mucosa (gentileza de Dr. Mauro Bonatto). ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 57 FBG pre congresso 155x225.pmd 57 10/5/2007, 17:35 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Gastroenterologia: da Patogenia à Prática Clínica Cápsula endoscópica Com o advento da cápsula endoscópica (Wireless Capsule Endoscopy) tem sido possível determinar melhor a extensão da atrofia das vilosidades intestinais na DC, reconhecer complicações como ulcerações e, mais importante ainda, excluir tumores, principalmente nos casos de refratariedade ao tratamento. O diagnóstico por este método chega a ser de 87%.13 Estudo histológico A biópsia peroral do intestino delgado pode ser realizada através de cápsulas ou durante endoscopia digestiva.34 O que tem importância é o correto manejo dos fragmentos, para adequada orientação dos cortes e análise acurada dos espécimes. Para tal, recomenda-se colocá-los em papel de filtro embebido ou não em soro fisiológico e com a superfície vilositária para cima. Na experiência de Kotze e Pisani, 25 independentemente do aparelho ou local da biópsia, o diagnóstico de DC pôde ser feito, corroborando o fato, havia muito conhecido, de que essa enfermidade compromete mais o duodeno e o jejuno proximal, justamente segmentos em que se visualiza a mucosa com os videofibroscópios e nos quais se podem colher, sob visão direta, quantos fragmentos forem necessários para exames. Assim, como já salientam Kotze e Pisani 23 desde 1982, em trabalhos brasileiros, biópsias duodenais são comparáveis às obtidas na região do ligamento de Treitz com aparelhos convencionais, fato também assinalado na literatura por Marsh37 e Meijer et al.39 Nos celíacos não tratados, percebese, à estereoscopia, mucosa lisa e com orifícios que correspondem à abertura das criptas; ou aspecto cerebriforme ou em mosaico. Estes mesmos achados são observados com endoscopia e magnificação de imagens, com ou sem cromoscopia.20 A mucosa do intestino delgado é a que apresenta alterações importantes, sendo as outras camadas habitualmente normais à histologia. Atrofia de mucosa está presente em 85% dos pacientes com DC44 e a atrofia total é muito mais freqüente no duodeno distal ou no jejuno proximal. Em 50% dos casos, há atrofia vilositária idêntica ao longo do duodeno e não há áreas duodenais histologicamente normais (Figura 3.5). Alguns pacientes, crianças ou adultos, podem apresentar lesões no duodeno de distribuição focal (patchy): lesões com atrofia total podem estar adjacentes ou coexistir com atrofia leve ou parcial e, possivelmente, com áreas normais. Assim, Kotze34 e Ravelli et al. 45 recomendam quatro a cinco biópsias seqüenciais: flexura duodenojejunal (se possível), porção transversa do duodeno, porção descendente distal do duodeno, porção proximal do duodeno e bulbo duodenal. Em centros onde é possível, realiza-se imuno-histoquímica com anticorpo monoclonal anti-CD3 para melhor identificação dos LIE (principalmente quando há dúvida diagnóstica). Em 1992, Marsh 37 sugeriu um 58 FBG pre congresso 155x225.pmd 58 10/5/2007, 17:35 Lorete Maria da Silva Kotze espectro de sensibilidade ao glúten com seu respectivo repertório de alterações na mucosa, advindo da sensibilização dos linfócitos T. Para esse autor, pelo menos quatro padrões distintos, interrelacionados e seqüenciais de alterações da mucosa poderiam ser reconhecidos. dos portadores de dermatite herpetiforme e em mais ou menos 50% dos familiares de primeiro grau dos celíacos. Pode ser reproduzida com alta dose de glúten no reteste ou desafio, em diferentes tempos. Tipo hipoplásico (tipo IV) Lesão descrita nos casos de refratariedade à dieta isenta de glúten, nos quais a mucosa apresenta intensa hipoplasia de criptas, além da redução das vilosidades. A classificação brasileira de Barbieri et al.4 é aceita por muitos serviços por apresentar aspectos histológicos de maior praticidade para o gastroenterologista interpretar. Tipo infiltrativo (tipo I) Arquitetura normal da mucosa, epitélio das vilosidades marcadamente infiltrado por população de pequenos linfócitos não-mitóticos glútendependentes (LIE). Tal lesão é encontrada em cerca de 40% dos pacientes portadores de dermatite herpetiforme não tratada; pode ser detectada em aproximadamente 10% de familiares de primeiro grau de pacientes celíacos. Habitualmente não se associa a sintomas gastrointestinais nem à absorção. Tipo hiperplásico (tipo II) Semelhança com o tipo 1. Soma-se alongamento das criptas cujo epitélio, como nas vilosidades, também se apresenta infiltrado por pequenos LIE não-mitóticos. É visto em aproximadamente 20% dos pacientes não tratados de dermatite herpetiforme e também quando se provoca o reteste com quantidades moderadas de glúten, revelando resposta imune mediada por linfócitos T. Tipo destrutivo (tipo III) Lesão idêntica à chamada “típica mucosa achatada da DC” que preenche os critérios para considerá-la como do tipo imunidade mediada por células. Ocorre em pacientes sintomáticos, pode ser vista em cerca de 40% a 50% Figura 3.5 – Histologia da mucosa entérica na doença celíaca: padrão celíaco com atrofia de vilosidades, hiperplasia de criptas e aumento do número de linfócitos intra-epiteliais. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 59 FBG pre congresso 155x225.pmd 59 10/5/2007, 17:35 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Gastroenterologia: da Patogenia à Prática Clínica Somente os dados da biópsia do intestino delgado somados à sorologia positiva confirmam definitivamente o diagnóstico de DC. Isto é o padrãoouro atual. Exames de imagem Trânsito intestinal. Os dados radiológicos encontrados na DC são semelhantes aos observados em afecções que cursam com má absorção intestinal. Dilatações, pregas alargadas, fragmentações e floculação do contraste são os achados mais comuns, sendo mais evidentes no intestino proximal. Raramente há rigidez e perda do padrão mucoso. Cerca de 12% dos celíacos têm raios X de intestino delgado normais, e pacientes com DC grave podem ter apenas discretas alterações radiológicas. Assim, o exame serve somente para se ter idéia global, para diagnóstico diferencial com outras afecções e para excluir ou detectar a presença de linfoma. Pode haver dilatação dos cólons nos celíacos com constipação. A idade óssea atrasada em relação à cronológica pode ser detectada em alguns pacientes e serve para avaliar a evolução e o tratamento.29 Radiografia óssea pode demonstrar desmineralização com diminuição da densidade, osteoporose, fraturas e pseudofraturas. Têm muita importância clínica para monitorizar a suplementação de cálcio e vitamina D no tratamento. A densitometria óssea, que determina a densidade mineral óssea, mostra níveis de osteopenia ou de osteoporose em pacientes com ou sem ingestão de glúten e serve ainda para monitorar a reposição de cálcio e vitamina D.29 Deve ser realizada ao diagnóstico em todos os pacientes, a começar por crianças maiores. Diagnóstico diferencial O diagnóstico diferencial, do ponto de vista clínico, é feito nas crianças, com afecções que cursam com diarréia crônica e má absorção, especialmente fibrose cística, alergia alimentar desnutrição primária e diarréia persistente. Devido à distensão abdominal, e, nos casos com constipação, o diagnóstico diferencial será feito com o megacólon congênito. Cuidadosa avaliação clínica se faz necessária para saber a época do desmame e da introdução de cereais na alimentação. Infelizmente, o abandono do aleitamento materno e a introdução precoce de alimento industrializado levam crianças de até 3 ou 4 meses de vida a apresentar diarréia e vômitos por DC, gerando dúvidas diagnósticas em relação a outras intolerâncias alimentares bastante comuns nessa faixa etária.29 Em adolescentes e adultos, o diagnóstico diferencial é feito com essas e outras causas de má absorção intestinal, como doença de Whipple, deficiência imunológica comum variável, gastroenterocolopatia eosinofílica, doença de Crohn, síndrome da imunodeficiência adquirida e linfomas.29 60 FBG pre congresso 155x225.pmd 60 10/5/2007, 17:35 Lorete Maria da Silva Kotze Assim, o tratamento para DC é basicamente dietético,12 com exclusão definitiva de glúten do trigo, centeio, cevada e aveia. Medicamentos são utilizados apenas para correção de carências (vitaminas, sais minerais e proteínas), como coadjuvantes para facilitar a digestão de gorduras (enzimas pancreáticas) e para tratamento de infecções concomitantes (antimicrobianos). O tratamento tem por objetivos: • eliminar as alterações fisiopatológicas intestinais; • facilitar e favorecer a absorção dos nutrientes; • normalizar o trânsito intestinal; • recuperar o estado nutricional do paciente; • melhorar a qualidade de vida dos pacientes. 28 Do ponto de vista histológico, a diferenciação se faz com entidades que apresentam encurtamento ou achatamento das vilosidades, a saber: alergia alimentar, enterite aguda (viral, bacteriana, por Giardia lamblia, actínica), enterite crônica espru tropical, doença de Whipple, imunodeficiências, gastroenterite eosinofílica, linfomas, diarréia persistente, doença enxerto versus hospedeiro e desnutrição protéico-calórica. Embora essas entidades possam apresentar-se com vilosidades diminuídas em altura e mais alargadas, hiperplasia das criptas é observada marcadamente na DC. Além disso, o número de LIE não sobe a níveis tão elevados como os habitualmente encontrados na DC.24 Tratamento Uma vez confirmado o diagnóstico de DC, a dieta sem glúten deverá se manter por toda a vida.28,35 Ao planejála, deverão ser considerados os seguintes fatores: situação fisiopatológica e necessidades nutricionais que se relacionam com a idade do paciente, etapa evolutiva da DC e estado de gravidade do doente. A ampliação da dieta deve ser progressiva e individualizada, apesar da resposta terapêutica rápida, pois há retrocessos na evolução intimamente ligados a técnicas dietéticas inadequadas. Portanto, numa dieta de exclusão, tem-se que levar em conta que deverá ser equilibrada para as necessidades do paciente. O glúten não é uma proteína indispensável e pode ser substituído por outras proteínas vegetais e animais. Evolução e prognóstico Após a retirada de glúten da dieta, a resposta clínica com desaparecimento dos sintomas é bastante rápida – dias ou semanas, com evolução extremamente gratificante. Os defeitos absortivos desaparecem, a diarréia cessa, há perda do edema e surgimento de apetite, às vezes voraz. Inicia-se recuperação nutricional com ganho de peso e retomada da velocidade de crescimento, normalizando-se peso/ estatura em cerca de 15 meses, nas crianças, e estas retornam à deambulação. Os adolescentes iniciam ganho ponderal logo a seguir e muitos até necessitam de controle em poucos 61 FBG pre congresso 155x225.pmd 61 10/5/2007, 17:35 Gastroenterologia: da Patogenia à Prática Clínica meses; a melhora do psiquismo que passa da irritabilidade, depressão ou apatia à participação na vida familiar e na escolar, tomando gosto pelas brincadeiras e trabalho, chega muitas vezes à euforia. Há uma verdadeira mudança no aspecto do indivíduo, revelando melhor qualidade de vida. A fertilidade volta ao normal, devendose orientar as celíacas quanto a possíveis gestações e planejamento familiar.31 Nos celíacos cujos sintomas iniciamse na idade adulta, o prognóstico também é favorável, mas as alterações ósseas, se existentes, podem não ser totalmente recuperáveis. O risco de desenvolver malignidade é o mesmo da população normal para os pacientes aderentes à dieta isenta de glúten. 38 Aumenta muito nos nãoaderentes, mais para linfomas, neoplasias de esôfago e laringe e adenocarcinoma do intestino delgado. Conclui-se que os pacientes devam ser reassegurados em relação à dieta adequada e vigiados e reinvestigados a qualquer modificação referida.36 A DC só é fatal quando não é reconhecida e o paciente chega à desnutrição muito grave, ocorrendo hemorragias, infecções recorrentes ou insuficiência supra-renal. Com o advento da nutrição parenteral, doentes podem ser recuperados de estados extremamente inquietantes. Pode haver quiescência da DC na adolescência, mas não se deve esquecer que a história natural da afecção é de exacerbações intermitentes e remissões relativas. Como a incapacidade de tolerância ao glúten é permanente, entre a terceira e quarta décadas a doença pode manifestar-se novamente, com qualquer das modalidades apontadas. Quando a diarréia não desaparece após o tratamento da DC, além da ingestão consciente ou inadvertida de glúten, as causas podem ser: • má absorção de lactose ou frutose da dieta; • supercrescimento bacteriano; • síndrome do intestino irritável; • esteatorréia secundária à insuficiência pancreática; • colite microscópica (colagenosa ou linfocítica); • disfunção esfincteriana anal com incontinência. Tais causas merecem a devida atenção para o correto diagnóstico. Como linfomas e outras neoplasias, principalmente de esôfago, são descritos nos pacientes celíacos e de difícil diagnóstico, conclui-se que os doentes devam ser vigiados e que, periodicamente, ou à mínima manifestação clínica e/ou laboratorial, sejam exaustivamente reinvestigados. Nesses casos, o prognóstico é limitado.36 Causas da morte na DC A DC refratária é uma condição rara em pacientes geralmente acima de 47 anos de idade. Cellier et al. 11 descreveram a presença de uma população anormal de LIE CD3, sugerindo que seja classificada como linfoma intra-epitelial críptico. As condições clínicas são desfavoráveis e a sobrevida é curta. 62 FBG pre congresso 155x225.pmd 62 10/5/2007, 17:35 Lorete Maria da Silva Kotze desenho de outras estratégias de intervenção para alterar ou impedir o desenvolvimento da doença em indivíduos suscetíveis, são metas que estão sendo estudadas: um composto que bloqueie o local de adesão na molécula HLA poderia ter a capacidade de se ligar fortemente a essa molécula, ser proteoliticamente estável e ainda impedir o desenvolvimento de uma resposta de células T. Tais compostos estão sendo pesquisados. Clínicos de várias especialidades devem ter alto índice de suspeição para o diagnóstico de DC e, em particular, devem prestar acurada atenção quando se trata de grupos de risco. Clínicos de várias especialidades devem ter alto índice de suspeição para o diagnóstico de DC e, em particular, devem prestar acurada atenção quando se trata de grupos de risco. Na atualidade, há estudos dirigidos à imunorregulação da resposta imune ao glúten, mas a vacina ainda se encontra em fase de experimentação. Outras estratégias: • criar tolerância à gliadina mediante administração nasal desta; • utilização de anticorpos monoclonais para neutralizar a IL-15. Como assinalado, os celíacos apresentam alto risco de morte por doenças malignas do tubo gastrointestinal e linfomas, mas pouco se sabe das outras causas de morte. Em estudo recente, Peters et al.43 assinalaram que, num período de 30 anos, numa população sueca, além dessas afecções, encontraram como causa da morte: doenças auto-imunes (artrite reumatóide), doenças difusas do tecido conectivo, doenças alérgicas (asma), doenças inflamatórias intestinais (retocolite e doença de Crohn), diabetes, imunodeficiências, tuberculose, pneumonias e nefrites. Atenção para as características de disfunção imunológica dessas enfermidades.47 Novos horizontes Recentemente se identificou o peptídeo responsável pela intolerância ao glúten nos celíacos. A resposta imune que desencadeiam os pacientes é ocasionada por uma molécula longa, composta por 33 aminoácidos, que não pode decompor-se no interior do intestino. Essa molécula em contato com uma enzima bacteriana, a prolilendopeptidase, rompe-se em partículas aparentemente não danosas. Tais fatos já foram demonstrados em tecidos humanos e em ratos, por Shan et al.,49 o que poderia, no futuro, chegar a se converter em um simples suplemento oral para os doentes com DC. Pela identificação da fração tóxica do glúten capaz de unir-se de forma restritiva ao heterodímero DQ2 nos pacientes com DC, no futuro, mais ou menos próximo, o bloqueio ou modificação desses epitopos, 5 ou o Conclusões Enquanto se aguardam novas pesquisas, segue o consenso de que a DC é causada por intolerância permanente ao glúten, o diagnóstico é feito pela sorologia + biópsia do intestino delgado e seu tratamento é a exclusão definitiva do glúten da dieta (Quadro 3.3).60 63 FBG pre congresso 155x225.pmd 63 10/5/2007, 17:35 Gastroenterologia: da Patogenia à Prática Clínica Questionamentos 7. Quem triar? Como triar? Quando triar? Devem os assintomáticos ser tratados? Deveriam todas as crianças ser triadas para DC? Deveriam todos os adultos ser triados para DC? A resposta dos autores é que tal prática não é recomendada, mas devese ficar alerta para os grupos de risco. 8. Armadilhas da “face oculta” da doença celíaca 1. 2. 3. 4. 5. 6. 9. 10. 11. 12. Por ser mais freqüente em indivíduos caucasianos, não pensar em DC em brasileiros, esquecendo-se da miscigenação no país. Por ser mais freqüente em mulheres, não pensar em DC em pacientes do sexo masculino. Por ser relativamente infreqüente na adolescência, não pensar em DC nessa faixa etária. Por ser mais rara no idoso, não pensar em DC neste grupo, mesmo sabendo que os testes sorológicos podem dar negativos. Não aventar o diagnóstico de DC em pacientes obesos. Não pesquisar DC em pacientes com dispepsia ou síndrome do intestino irritável com quadros não muito característicos. 13. 14. 15. 16. Não pesquisar DC em pacientes com notória intolerância à lactose. Não pesquisar DC em pacientes com anemia refratária ao tratamento, nem mesmo com osteopenia/osteoporose em idade jovem. Não pesquisar DC em pacientes com queixas abdominais associadas à constipação, achando que DC só cursa com diarréia. Não pesquisar DC em mulheres com menarca atrasada, abortos de repetição ou infertilidade. Não pesquisar DC em familiares de celíacos, mesmo assintomáticos. Não pesquisar DC em pacientes de grupos de risco: diabéticos, tireoidopatas, portadores de colagenoses, imunodeficientes de IgA, com ataxia, com síndrome de Down etc. Não pesquisar DC em pacientes com alterações importantes do esmalte dentário sinalizadas pelo dentista. Não informar convenientemente o endoscopista da suspeita de DC, solicitando biópsias duodenais mesmo com aspecto macroscópico normal. Não discutir o caso com o patologista, nem solicitar revisão de lâminas quando a clínica do paciente é sugestiva de DC. Não esquecer que há uma minoria de pacientes com DC cujos testes sorológicos são negativos, devendo estes ser submetidos à biópsia desde que a clínica sugira DC. 64 FBG pre congresso 155x225.pmd 64 10/5/2007, 17:35 Lorete Maria da Silva Kotze Quadro 3.3 – Correlação entre anticorpos séricos e alterações da mucosa duodenal em pacientes celíacos# Número EmA IgA (N=47) títulos Anti-tTG IgA média/variação Biópsia duodenal Idade dos pacientes Média/variação 7 Negativo 8,14 (3 – 15) 7N 42,28 (11-73) 8 1 / 2,5 11,87 (2 – 21) 8N 47,75(32–71) 4 1/5 41,50 (6 – 100) 2N, 1AP,1AT 34,25 (21-45) 3 1 /10 181,67 (65 – 390) 3AT 46,33 (25-65) 9 1/20 356,33 (36 – 640) 1N*,1AP,7AT 39,55 (3-53) 8 1/40 307,37 (91 – 640) 8AT* 31,12 (5-60) 8 1/80 432,75 (102-640) 8AT 39,12 (18-63) * Criança; # Segundo Kotze et al.30 N: normal; AP: atrofia parcial; AT: atrofia total. Referências bibliográficas 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Alaedini A, Green PHR. 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