Jornal SINPOLSAN
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Chefe dos Investigadores fala sobre a carreira policial
O Investigador geralmente necessita
de apoio de profissionais de outras
carreiras para o desempenho de suas
funções, e dentro desse contexto,
como poderiam ser avaliados os
serviços prestados pela Polícia
Científica?
A Polícia Científica é muito importante
para o êxito das investigações, pois as
provas e indícios da ocorrência dos
crimes são analisados pelos peritos
criminais, e é com base em suas conclusões e laudos, que muitas investigações
são conduzidas e resultam na prisão ou
identificação do autor do delito. Em
minha opinião a polícia técnica deveria
ser sempre valorizada, e acho que isso
já vem acontecendo ultimamente.
Campos destaca a vocação profissional.
Com mais de 25 anos dedicados à
Polícia Civil de São Paulo, o Investigador
José Campos Sales de Lima, 50 anos,
faz uma análise à respeito da carreira
de investigador, concedendo entrevista
onde discorre sobre as principais
características do cargo e o cotidiano do
trabalho policial. Atualmente Campos é
o Chefe dos Investigadores do Departamento de Polícia Judiciária do Interior
– DEINTER-6, tendo trabalhado em
diversas unidades policiais na cidade de
São Paulo, e destacando-se na chefia
da Seccional de Sorocaba e na Divisão
Operacional do DENARC, onde coordenou inúmeras investigações de
repercussão nacional e no exterior, como
a prisão de narcotraficantes da organização comandada por “Naldinho”, que
atuava principalmente na Baixada
Santista.
Como o senhor poderia definir a
carreira de Investigador de Polícia?
O Investigador é uma peça chave na
instituição policial, pois é aquele que
efetivamente investiga e prende o criminoso, e para isso não tem hora certa,
trabalhando dia e noite, fins de semana
e feriados. Não podemos desmerecer as
demais carreiras, as quais sem dúvida
são também importantes, mas o
Investigador está praticamente presente
em toda a estrutura da Polícia Judiciária,
e apresenta-se como uma carreira
diferenciada, porque tem que ter
conhecimento jurídico, de armamento e
munição, de relações humanas, estar
sempre atualizado com informações
sociais, econômicas, políticas e culturais,
enfim, trata-se de um profissional muito
versátil.
A carreira de Investigador ainda
fascina muitas pessoas, e especialmente os jovens. Mas na realidade
como é o dia-a-dia deste policial e
quais as suas principais atribuições?
São muitas tarefas a serem executadas,
e posso garantir que não falta trabalho.
As atribuições do Investigador de Polícia
são variadas, e vão desde a parte operacional até a administrativa, fazendo
investigações para apurar autoria de
homicídios e crimes contra o patrimônio,
campanas e infiltrações para combater
o tráfico de entorpecentes, e dando o
suporte para as atividades administrativas de seu local de trabalho.
Entendo também, que o policial deve
sempre investigar a informação que
chegue ao seu conhecimento, independente de estar ou não subordinado a
uma delegacia especializada. Mas
ressalto que cumpre ao Investigador
trazer as provas e subsídios para a
elaboração do inquérito policial, e tenho
muito orgulho de pertencer a essa
categoria profissional, e gostaria de dizer
que antes de tudo, é preciso que a
pessoa realmente tenha vocação para
essa atividade e goste da carreira
policial, estando sempre motivada para
as diversas tarefas que tem a executar.
Existe plano de carreira definido para
quem ingressa na Polícia Civil no
cargo de Investigador de Polícia?
Sim, e o policial inicia na 5ª classe da
carreira, após sair da Academia de Polícia, e vai sendo promovido de classe em
classe até a especial. Durante a sua vida
profissional o Investigador pode assumir
chefias de investigação de unidades
policias que são as delegacias, além de
seccionais e departamentos de polícia
em um nível mais elevado, conforme sua
experiência e dedicação ao trabalho.
O senhor entende que poderiam ser
criados mecanismos e incentivos
para que os investigadores e policiais
de outras carreiras tivessem maiores
oportunidades de acesso aos cargos
de Delegado?
Sou totalmente favorável à criação de
vagas destinadas aos profissionais que
sejam da polícia e que possuam
formação superior em Direito, quando da
abertura de concurso para delegado,
pois a experiência desses policiais seria
muito bem aproveitada, visto o seu
melhor preparo e condições de oferecer
rapidamente uma prestação jurisdicional
adequada à sociedade. Olha, se você
pega uma pessoa sem experiência
nenhuma, e que simplesmente estudou
e passou no concurso de delegado,
podemos ter quase certeza que ela não
vai saber o que fazer em determinadas
situações no plantão policial. E eu
“Entendo também, que o
policial deve sempre investigar a informação que
chegue ao seu conhecimento, independente de
estar ou não subordinado a
uma delegacia especializada.”
mesmo já presenciei situações em que
tive de auxiliar delegados novatos, os
quais se depararam com fatos inusitados
e que nunca tinham vivenciado, e que
para mim eram os mais corriqueiros do
mundo. Mas como os procedimentos
para concursos internos ainda não são
legalmente possíveis, acredito que a
Academia de Polícia poderia então
ministrar cursos preparatórios para
ingresso na carreira de delegado.
Existem grandes diferenças nos
trabalhos desenvolvidos na cidade de
São Paulo e nas cidades do litoral?
Olha, o ritmo de São Paulo é outro, bem
mais movimentado. Antes de trabalhar
na Baixada eu estive na Seccional de
Sorocaba, juntamente com o Dr.
Tanganelli, e naquela cidade nos
deparamos com uma realidade diferente, bem mais devagar, mas prontamente iniciamos um trabalho diferenciado,
com muitas operações, “grampos
telefônicos”
e
dinâmica
nas
investigações. Aqui no litoral percebi
uma pequena semelhança, mas impusemos um ritmo que em um primeiro
momento pode até ter desagradado
alguns, mas o resultado agora é
gratificante, com redução nos índices
de criminalidade, efetivo combate às
organizações criminosas e valorização
das investigações que priorizem a
inteligência policial. E fico satisfeito com
o reconhecimento e apoio dos colegas,
pelos trabalhos desenvolvidos nos
últimos meses.
A categoria policial vem se queixando há muitos anos dos péssimos
salários, vale-refeição irrisório, falta
de plano de saúde, além de outros
problemas, e analisando essas
questões, o senhor acredita que em
breve possa ocorrer uma inversão
dessas tendências?
Acredito que sim, mas desde que haja
vontade política, o que infelizmente não
vem ocorrendo em nosso Estado. E veja,
por exemplo, Brasília, onde o Investigador de Polícia inicia na carreira com
vencimentos de aproximadamente R$
7.000,00, além dos benefícios. Com um
salário desses ou uma significativa
melhoria salarial, pode ter certeza de que
o profissional vai estar sempre motivado,
desempenhando exemplarmente suas
funções, e dando a devida contraprestação à sociedade.
Gostaria de mandar uma mensagem
aos investigadores do DEINTER-6 e
para os demais funcionários da
Polícia Civil?
Gostaria que todos tivessem a esperança de que dias melhores virão, pois
estamos trabalhando sério e em um
departamento de polícia que tem possibilidade de aumentar a sua verba, e
onde podemos acessar diretamente
determinadas autoridades, para que
assim possamos reivindicar melhorias
para a estrutura policial de nossa região.
Não desanimem, e trabalhem com amor
e afinco naquilo que fazem, e com toda
certeza o retorno virá se cada um fizer a
sua parte.
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