III DOMINGO da PÁSCOA – Ano A
Evangelho – Lc 24, 13-35
“Não se nos abrasava o coração, quando ele nos falava
pelo caminho e nos explicava as Escrituras?”
Ir. Sandra M. Pascoalato, sjbp.
“Senhor, fazei o nosso coração arder!”
O texto evangélico que a Liturgia propõe à nossa reflexão neste Domingo é um dos mais
conhecidos e belos de todo o Evangelho.
Com o relato dos ‘Discípulos de Emaús’ que, desencorajados, retornam às suas casas,
deixando Jerusalém., São Lucas compõe uma página exemplar para mostrar-nos como o Senhor
Ressuscitado está presente, hoje, na nossa vida e como podemos encontrá-lo.
O deslocamento geográfico, a estrada percorrida pelos ‘dois de Emaús’ é metáfora do
caminho espiritual de quem, atravessando a desilusão, o vazio e a dúvida reconhece a companhia
do Cristo Ressuscitado e se torna testemunha da esperança.
Os discípulos estão escapando de Jerusalém, que foi a meta do caminhar de Jesus. Estão
escapando, portanto, da meta de Jesus, do destino de Jesus, da Cruz, do lugar do fracasso, da
situação que tomou um viés que eles não aceitam e não partilham. Tristes e desolados, caminham
relembrando os últimos acontecimentos. Jesus se aproxima e caminha com eles, mas eles ‘estão
como que cegos e não se dão conta que este companheiro é Jesus’. E como poderiam
reconhecê-lo? Estão como que encovados na própria dor, nos próprios lamentos; não levantam os
olhos para cruzar com os olhos do Senhor. Talvez até pensem: ‘Mas, será que este forasteiro não
percebe a tristeza estampada nos nossos rostos? Não percebe a nossa desilusão?’. E pronunciam
a frase mais triste de todo o Evangelho: “Nós esperávamos...” (v.21). ‘Nossa esperança morreu
sobre aquela cruz; morreu e foi sepultada com Jesus no túmulo emprestado por José de
Arimatéia’. A esperança que é sempre voltada para o futuro eles a declinam no passado.
Eis, então, que o ‘forasteiro’ os sacode, explicando-lhes as Escrituras e ajudando-os a
aprofundar a identidade do Messias crucificado. Jesus lhes explica o sentido daquele sofrimento,
do seu sofrimento e os ajuda a reler todos os acontecimentos à luz do grande projeto de Deus.
Pela Palavra que aquece e ilumina, arde, então, o coração dos discípulos.
Para os ‘dois de Emaús’ o encontro com o Ressuscitado marca a passagem da de-missão
à missão. O coração é reanimado, os olhos se abrem, eles mesmos se tornam capazes de
relação, insistem para que Jesus permaneça e se sente à mesa com eles e encontram a força de
retornar à comunidade.
A presença do Ressuscitado é silenciosa. Ela se torna visível na pessoa de um peregrino
que se faz companheiro de estrada e fala por meio da Escritura. A Bíblia e a pessoa do outro,
sobretudo do forasteiro, são os lugares, por excelência, nos quais a presença do Ressuscitado
pode nos encontrar.
Textos consultados:
MANICARDI, L. Eucaristia e Parola. Vita e Pensiero, Milano, 2010.
PAGOLA, J. A. O Caminho aberto por Jesus. Lucas. Vozes, Petrópolis, 2012.
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