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Natália Marinho Ferreira-Alves
um número significativo de lanternas que, por sua vez, precediam o Santo Lenho.
É por demais significativa a escolha da Trombeta para abrir a Procissão, e do Santo
Lenho para encerrá-la.
Por fim, a sucessão dos Passos, paragens obrigatórias onde se recriavam as cenas
mais importantes da Paixão do Senhor: no Primeiro Passo, nunca mencionado,
pensamos que, logicamente, seria representada a Última Ceia; no Segundo Passo, o
Senhor no Horto (Mt 26, 36-46; Mc 14, 32-42; Lc 22, 39-45; Jo 18, 1-2); no Terceiro
Passo, o Senhor com túnica e manto (Mt 27, 28; Mc 15, 17; Lc 23, 11; Jo 19, 2);
no Quarto Passo, o Senhor Preso à coluna (Jo 19, 1); no Quinto Passo, o Senhor
da Cana Verde (Mt 27, 29-31; Mc 15, 19); no Sexto Passo, o Senhor com a cruz às
costas (Mt 27, 31; Mc 15, 20-22; Lc 23, 26; Jo 19, 16-17); no Sétimo Passo, o Senhor
com a cruz às costas; e, por fim, no Oitavo Passo, o Calvário, o Senhor Crucificado
(Mt 27, 33-38; Mc 15, 24-28; Lc 23, 33; Jo 19, 17-22).
No exemplo de 1894, a procissão apresenta um esquema diferente daquele que
acabámos de analisar, permanecendo alguns dos elementos apontados, mas verificando-se,
também, o aparecimento de outros. A procissão era aberta com o Pendão, seguido de
duas tochas, que precediam Bandeira da Irmandade; depois da Bandeira, seguiam-se
outras duas tochas que, por sua vez, antecediam os Martírios associados à Paixão do
Senhor, e que se revelam elementos de grande importância pelo seu carácter didáctico.
As figuras de Maria (se bem que na procissão deste ano não seja mencionada, certamente
por lapso), São João e Maria Madalena continuam a estar presentes já que, sem elas,
a compreensão do discurso catequético ficaria incompleta. Ao Andor do Senhor (dos
Passos), levado por seis Irmãos, seguiam-se seis lanternas que, por sua vez, davam lugar
à figura do Cireneu. Logo após Simão de Cirene surgia o Pálio, elemento constante
em todas as Procissões dos Passos estudadas, agora seguido por oito lanternas, número
considerável de luzes, que aumentava o carácter dramático do cortejo. Por fim, carregado
por quatro Irmãos, o Andor do Senhor da Cana Verde, elemento novo introduzido no
esquema processional, que contribuía de forma significativa para uma melhor divulgação
dos momentos mais marcantes da Paixão de Cristo. Não são mencionados os Passos,
ocorrência verificada a partir de 1872, para o período cronológico estudado.
Uma inovação importante refere-se ao aparecimento dos Martírios (ainda hoje
presentes na Procissão do Enterro do Senhor) como elementos estruturantes no
contexto processional já que, pela posição ocupada – logo após as tochas que se
seguem à Bandeira da Irmandade, e antes das figuras centralizadoras de Maria-São
João-Maria Madalena-Anjo – constituem um roteiro sumário, mas essencial, dos
episódios mais marcantes da Paixão que precedem a Crucifixão de Cristo. Assim, os
diversos ítens apontam para uma simbologia de todos conhecida:
– a mão com a bolsa está associada aos trinta dinheiros recebidos por Judas Iscariotes,
como recompensa pela sua traição (Mt 26, 14-16; Mc 14, 10-11; Lc 22, 3-6);
– a espada lembra o momento em que Simão Pedro (São Pedro), para defender Cristo,
desembainha a sua espada e fere Malco, o servo do Sumo Sacerdote (Mt 26, 51-53;
Mc 14, 47; Lc 22, 50-52; Jo 18, 10-11);
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490 um número significativo de lanternas que, por sua vez