REVISANDO E ELABORANDO ROTEIROS DE AULAS PRÁTICAS DE
CIÊNCIAS NUMA ABORDAGEM INVESTIGATIVA.
CRISTIANE PATRÍCIA KIST1,
LUCAS BAUMGARTNER2,
DANIELA FRIGO FERRAZ3.
RESUMO: A aula prática não deve ser uma complementação da teoria, mas deve sim
ser ministrada com o pretexto de ensinar a pesquisar, para que isso ocorra às práticas
devem ter em primeiro lugar um enfoque problematizador, levantado questões que são
problemas no cotidiano dos alunos, chamando a realidade. O objetivo da pesquisa foi
elaborar e desenvolver roteiros de atividades práticas investigativas, visando promover
um auxílio para utilização em aulas de ciências no ensino fundamental, fazendo com
que os alunos busquem as respostas das suas dúvidas nas aulas práticas, com o auxílio
do professor. Não deixando, portanto, de lado a intenção de despertar o instinto de
pesquisa, de busca de novos conhecimentos, incluindo o conhecimento científico.
Realizou-se uma análise qualitativa. Para a coleta dos dados foi utilizada a observação
em sala de aula, onde foi verificado a participação dos alunos nas atividades práticas
investigativas propostas, utilizou-se para isso anotações e gravações, além de fotos das
atividades realizadas com os alunos. O trabalho foi realizado em uma quinta série do
ensino fundamental de uma escola pública do Paraná. Percebe-se que as atividades
práticas investigativas são um atrativo para os alunos e devemos dar mais importância
para a investigação, onde eles podem descobrir os fatos com a mediação do professor.
Palavras-Chave: Educação em Ciências, Aulas Práticas Investigativas, Ensino de
Biologia.
1
Acadêmica do curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Oeste do Paraná –
[email protected].
2
Acadêmico do curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Oeste do Paraná –
[email protected].
3
Professora do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Oeste do Paraná –
[email protected].
Introdução:
A muito se fala em aulas práticas (atividades experimentais), mas nem sempre
são utilizadas para despertar curiosidade, pois na maioria das vezes as práticas estão
voltadas para demonstrações e não tem incluído o seu devido intuito de investigação,
sendo necessária uma reavaliação desse tipo de atividade.
Apesar de ser um método de ensino muito eficiente, não necessita de uma
modificação na estrutura da prática, e sim no questionamento, para que tenha um intuito
de investigação.
Infelizmente, em lugar da aula prática dar ocasião para o aluno defrontar-se
com o fenômeno biológico sem expectativas predeterminadas, a oportunidade
muitas vezes é perdida por que as atividades são organizadas de modo que o
aluno siga instruções detalhadas para encontrar as “respostas certas” e não
para resolver problemas, reduzindo o trabalho de laboratório a uma simples
atividade manual (KRASILCHIK, 1986, p. 65).
Aula prática não deve ser apenas uma complementação da teoria, mas deve ser
trabalhada com o pretexto de ensinar a pesquisar, para que isso ocorra às práticas
deverão em primeiro lugar ter um enfoque problematizador. Assim os alunos terão uma
visão diferenciada sobre o que é pesquisa e quais foram os métodos usados para se
desenvolver pesquisas, que muitas vezes são muito simples, mas, estão longe do
entendimento dos alunos.
A investigação científica, ou também a experimentação4, parte sempre de uma
situação problemática – um problema a ser definido e delimitado. O problema flui,
decisivamente, no desenvolvimento e direcionamento da investigação (CRUZ et al.,
2004).
Quando ministrada uma aula investigativa, o público alvo estará voltado a
solucionar uma questão que deverá ser colocada com a intenção de despertar a
curiosidade e a busca do conhecimento, que muitas vezes está apagada ou mimetizada
pelo costume de aulas expositivas. Delizoicov; Angotti (1994), colocam que as
experiências em geral despertam um grande interesse nos alunos, além de propiciar uma
situação de investigação.
Segundo Campos (1999) as mudanças metodológicas que estão associadas ao
ensino de ciências como investigações são: superar evidências de senso comum;
4
O experimentar em sua origem implica testar algo, de por algo a prova. Então, experimentar e submeter
algo a experiência, é por a prova, é ensaiar, é conhecer ou avaliar pela experiência (MORAIS, 2003).
introduzir formas de pensamento mais rigorosas críticas e criativas; obrigar a
imaginação de novas possibilidades, a título de hipótese; estimular a comparação de
diferentes hipóteses em situações controladas.
Acreditamos que as aulas de ciências devam sim realizar todos esses objetivos,
pois são todos voltados ao desenvolvimento do aluno e de futuros pesquisadores, que
necessitam de incentivo para a busca de conhecimento a partir do que já possuem.
Nessa direção, o objetivo dessa pesquisa foi desenvolver condições para os
alunos buscarem o conhecimento científico, incentivando a pesquisa pelos mesmos,
com a utilização de aulas práticas investigativas.
O ensino como investigação, portanto, tem como finalidade não somente a
clarificação e aprendizagem de um corpo de conhecimento, mas também o
encorajamento de um processo de descoberta por parte do aluno (CRUZ et al., 2004).
Acreditamos que é muito importante a reavaliação das práticas nas escolas, bem
como ampliar a maneira como são trabalhadas pelos professores, buscando auxilia-los
na realização das mesmas com o uso de aulas práticas investigativas.
Fundamentação Teórica
Toda atividade na escola deve ter seus objetivos estabelecidos, sua intenção
prevista, senão não haveria o porquê desta estar sendo realizada. Sendo assim,
procurou-se trazer atividades práticas investigativas com a intenção dos alunos testar
suas hipóteses, baseados em suas concepções prévias, sobre os fenômenos que foram
trabalhados.
O ensino não se desenvolve em terreno virgem, num aluno que nada sabe e
para o qual bastaria programar as aprendizagens por graus progressivos. Todo
aluno já dispõem de representações pessoais, que são produto das suas
aprendizagens espontâneas desde a infância. Elas resultam das interações
necessárias com seu meio natural e tecnológico, bem como da experiência de
funcionamento de seu próprio corpo (ASTOLFI et al., 1998).
Assim, os contextos vivenciados pelos alunos são fontes potenciais de
experiências que através de elementos reflexivos fornecidos pela atuação docente vão se
constituindo em conhecimentos (ARRUDA et al., 1999).
Acreditamos que a atividade experimental deve ser desenvolvida, sob orientação
do professor, a partir de questões investigativas que tenham algo em comum com a vida
dos alunos e que se constituam em problemas reais e desafiadores para eles, não
esperando as respostas prontas.
Um modo de testar as hipóteses explicativas são as atividades práticas
investigativas. Não se trata de demonstrações ou espetáculos de magia feitos para
entreter crianças, mas atividades desenvolvidas por alunos e professores com o objetivo
de verificar a veracidade das hipóteses explicativas (CAMPOS; NIGRO, 1999).
Daí decorre a importância da problematização, que é essencial para que os
estudantes sejam guiados em suas observações. Quando o professor ouve os estudantes,
sabe quais suas interpretações e como podem ser instigados a olhar de outro modo para
o objeto em estudo (BRASIL, 1998).
Portanto, uma atividade prática deve ser libertadora, sem muitos roteiros préestabelecidos, ou que estes somente sirvam como base didática para o professor planejar
suas aulas e guia-las de forma coerente.
Um experimento científico não deve ser confundido com uma atividade prática
do tipo investigação. Pois essa possibilita o contato do aluno com certos fenômenos ou
fatos, o experimento destina-se a testar hipóteses previamente formuladas (CAMPOS;
NIGRO, 1999).
Aprender é uma atividade individual que necessita que o próprio aprendiz
passe a refletir sobre o processo, adaptando-se sempre as novas realidades.
Ao professor cabe um papel de extrema importância neste processo. Além de
garantir a si próprio o acesso às informações sobre a aprendizagem dos
estudantes e emprega-las para dar continuidade ao processo, a exigência
maior é garantir suporte para promover ativamente o reconhecimento, a
avaliação e reconstrução das idéias dos alunos. (ZULIANI; ÂNGELO, 1999,
p.21).
Desta forma Zuliani; Ângelo (1999) e outros autores colocam que faz parte do
ensino o aluno estar motivado, participando do processo, e não sendo passivo frente ao
ensino, deixando para o professor as metas de trazer os conhecimentos à tona, em vez
de buscá-los, pois cada um já traz consigo uma bagagem de conhecimentos e basta
reorganizá-los e adicionar conhecimentos mais elaborados, os conhecimentos
científicos.
Mas o pretexto de realizar essas práticas nas escolas não deve fugir ao longe,
pois as escolas muitas vezes não dispõe de recursos para a realização das mesmas, por
esse motivo é importante adaptar as atividades a realidade dos alunos e também da
escola, como Possobom et al. (2002, p. 23), diz que “todas as atividades práticas foram
selecionadas e adaptadas à realidade da escola, seguindo um padrão básico que tinha
como objetivo o desenvolvimento cognitivo dos alunos, estreitando a relação entre o
que é aprendido na escola e o que é observado no cotidiano.” Essa adaptação das
atividades ao contexto específico de sala de aula é imprescindível para que se propicie
condições concretas de efetivação das mesmas na escola.
As atividades experimentais são muito atrativas para os alunos. Mas a forma
como eles as concebem e as realizam está muito distante das exigências
científicas porque não lhes permite pronunciarem-se sobre o efeito de uma
variável. Trata-se mais de experiências “para ver” do que de experiências
“para provar”, estando às primeiras orientadas pelo desejo de agir e pelo
prazer de tentar “o interiorizado em pensamento” (ASTOLFI et al., 1998, p.
12).
Devemos estar atentos às perspectivas dos alunos referentes às atividades
práticas, eles ficam felizes e interessados só de ouvirem falar em ter aula prática. No
entanto, questiona-se: será que eles sabem que atitudes tomar em uma aula assim?
Como aprender em uma aula prática? Como participar respeitando as opiniões dos
colegas? E acima de tudo como vai ser formado este aluno que participou de atividades
práticas investigativas, comparando aqueles alunos que não realizam ou nunca tiveram
uma atividade prática investigativa?
Pereira et al. (2004), colocam que a visão dos professores de ciências está
atrelada ao funcionamento do laboratório escolar como mecanismo de estímulo aos
estudos dos alunos, e como maneira de despertar interesse do aluno para o ensino de
Ciências, porém sempre aliada à idéia de laboratório bem equipado.
Com grande mérito o autor coloca esta questão que de forma alguma deve ser
deixada de lado pois muitos professores desmotivam-se a realizar atividades
laboratoriais porque não tem um laboratório bem equipado, com muitas vidrarias e
reagentes. Todos os profissionais devem estar bem preparados e dispostos a inovarem
nas suas aulas, para ganharem melhores condições de trabalho em suas salas de aula,
juntamente com seus alunos.
Muitas vezes o professor utiliza uma atividade apenas para ilustrar ou
comprovar teorias abordadas em sala de aula. Neste caso, o aluno se depara
com um receituário com o qual segue instruções pré-estabelecidas, sem ao
menos saber identificar os conceitos ou fenômenos envolvidos (ZANON;
FREITAS, 2004, p. 11).
Como Zanon; Freitas (2004) descrevem acima essa forma de realizar as
atividades tornaram-se muito manuais, sendo muito dirigidos, não permitindo o
envolvimento do aluno com a aprendizagem científica significativa.
A atividade do tipo investigativa é muito rica porque exige que o aluno ao
planejar a sua realização tenha que formular hipóteses, escolher que grandezas deve
medir e como deve fazer para medi-las, buscando testar a veracidade das hipóteses que
formulou (BORGES et al., 2004).
O experimento que da “certo” ou “errado” deve ser compreendido dentro dos
referenciais que foram especificamente adotados. Quando os resultados
diferem do esperado, estabelecido pelo protocolo ou pela suposição do aluno,
deve-se investigar a atuação de alguma variável, de algum aspecto que não
foi considerado em principio (CRUZ et al. 2004, p. 7).
Desta forma, todo experimento, bem como os analisados neste trabalho podem
dar errado. No entanto, devem tirar proveito de tudo, analisando o aspecto que não deu
certo, tentando realizá-lo novamente e ver em quais aspectos poderia ser melhorados.
Aspectos Metodológicos
Realizou-se uma análise qualitativa. O estudo qualitativo é o que se desenvolve
numa situação natural, é rico em dados descritivos, tem um plano aberto e flexível e
focaliza a realidade de forma complexa e contextualizada (LUDKE; ANDRÉ, 1986).
Para a coleta dos dados foi utilizada a observação em sala de aula (LUDKE;
ANDRÉ, 1986), com o intuito de verificar a participação dos alunos nas atividades
práticas investigativas propostas. Para tanto, utilizou-se anotações e gravações, também
fotos das atividades realizadas com os alunos.
Realizou-se ainda duas entrevistas semi-estruturadas, uma aplicada à professora
da turma e outra a três alunos escolhidos aleatoriamente. As entrevistas foram utilizadas
em conjunto com a observação, e elaboradas em forma de tópicos que guiaram nossa
entrevista, moldando-a (BOGDAN; BIKLEN, 1994). A mesma foi realizada para
obterem-se as indagações e opiniões dos alunos e da professora da turma. Para a
realização da entrevista utilizou-se questões abertas, que vão tomando seu rumo durante
a mesma, não sendo então induzidas de forma ou outra para respostas ou rumos
indesejáveis ou até mesmo desejáveis (ROCHA et al, 2004).
O trabalho foi realizado em uma turma da quinta (5ª) série do ensino
fundamental de uma escola pública do Paraná. O número total de alunos foi de vinte o
oito (28), dentre estes, meninos e meninas distribuídos de forma uniforme.
As atividades práticas investigativas foram propostas após as aulas teóricas
dadas pelo professor ou antes da aula teórica do assunto a ser trabalhado na prática. As
atividades iniciavam com uma breve explicação da ação destes frente à atividade
prática.
No total foram desenvolvidas duas atividades práticas investigativas. Uma sobre
os tipos de solo e outra sobre as camadas do solo. O professor trouxe todos os materiais
para a realização da prática. Na prática de tipos de solo, utilizou-se uma porção de solo;
sacola plástica e uma colher para manusear o solo pelos alunos. Os alunos observaram o
solo trazido pela professora, e seus os constituintes, vendo que os solos são formados de
concentrações diferentes de areia, argila e humo, devido a isso as características
diferentes de cada solo, um solo que apresentar mais partículas de areia será
denominado de solo arenoso. Todo o procedimento foi realizado pelos alunos e
orientado pelo professor.
Em um saco de plástico o professor trouxe o solo coletado em um local do
município, o mesmo foi colocado em vasilhas para os alunos visualizarem e
manusearem o solo com uma colher, desta forma, observaram as concentrações das
partículas e definiram em conjunto qual e o tipo de solo trazido. Outra prática também
foi realizada com os alunos, intitulada de camadas do solo, onde em um frasco colocouse solo e água e agitamos o frasco, depois de algumas horas os sedimentos se
depositaram no fundo a assim conseguiu-se identificar as camadas do solo.
Os alunos de acordo com sua bagagem de senso comum colocavam e
levantavam suas próprias hipóteses, testando-as. O professor atuava como mediador da
atividade e também introduzindo aos poucos o conhecimento cientifico a atividade
desenvolvida.
As Práticas Investigativas Vivenciadas em Sala de Aula
Durante a realização da atividade proposta percebeu-se que os alunos
demonstram muita curiosidade e instinto de pesquisa, procurando testar suas hipóteses e
elaborando suas próprias intervenções e observando o que ocorria buscando explicações
para os fatos observados. Como seguem algumas falas dos alunos referindo-se aos
componentes do solo:
“ Se aqui nesse solo que a professora trouxe tiver tudo isso então é por isso que os solos são
diferentes, daí em um tipo tem mais de uma coisa e no outro não.”
“ Vamos ver agora se achamos areia nesse solo? Acho que tem tijolo aqui professora! Então é
argila não é?”
A atividade prática investigativa mostrou-se um excelente exemplo de atividade
no contexto investigado já que possibilitou o manuseio dos materiais propostos para a
atividade até mesmo no interior da sala de aula, podendo ser feita dentro e fora do
laboratório. É importante de se considerar esse fato, já que muitas realidades escolares
não contam com este espaço para desenvolver atividades experimentais.
Percebeu-se ainda ao realizar as atividades práticas propostas, o grande
envolvimento de toda a turma, que estava curiosa em chegar as respostas, em identificar
estas antes do seu colega, mostrando-se efetiva a prática desenvolvida, já que era
exatamente isso que buscávamos: os alunos envolvidos e participando efetivamente do
processo, tirando suas próprias conclusões e também questionando o que visualizavam.
Isso pode ser demonstrado nas falas abaixo:
“ Então professora se isto esta aqui é porque ta formando o solo, mas isso tem em todos os tipos
de solo? E se não tiver, daí o solo fica fraco? Todos os solos são diferentes né professora!”
“ Eu sei como é formado o solo argiloso e porque ele fica cheio de água.”
“ Achei, achei, não sabia que tinha areia na terra roxa!”
A participação dos alunos foi o que mais chamou a nossa atenção, visto que na
maioria das vezes muitos ficam receosos em expor suas opiniões e que ao fazer isto
poderiam estar errando, sendo então motivo de chacota para os outros, mas pelo
contrário, eles se mostraram participativos e até companheiros na medida do possível,
ajudando uns aos outros nas atividades. Abaixo segue uma foto tiradas durante as
atividades práticas investigativas realizadas.
Figura. 01 - Alunos realizando uma aula prática investigativa, procurando no
solo os seus componentes.
Opinião dos alunos sobre as atividades desenvolvidas
Na primeira questão procurou-se determinar as opiniões dos alunos sobre as
atividades que foram realizadas em sala de aula, conforme seqüência que segue:
Entrevistador: Qual a sua opinião sobre as práticas que foram realizadas na aula?
A1: Interativa, a gente observa coisas no solo que não paramos pra olhar.
A2: Aprendemos mais coisas sobre o solo, antes das aulas de ciências eu não sabia o que era adubo
orgânico e agora eu aprendi.
Quanto à resposta da primeira questão feita para os alunos, percebe-se que eles
conseguem compreender o verdadeiro intuito da prática, pois eles encontraram
partículas no solo que não eram naturais, coisas que foram alteradas pelo homem, como
pedaços de tijolo, mostrando que muitas vezes encontramos variações, alterações no
solo. Os alunos buscaram e encontraram partículas diferentes daquelas trazidas nos
exemplos do livro didático e com certeza isso ajuda o aluno a se interessar para buscar
novos referenciais teóricos e até mesma a pesquisar as variações encontradas, como
nesse simples fato de ter pedaços de tijolo no solo levado à aula.
Logo procurou-se determinar se os alunos já haviam tido outras experiências de
trabalhos com atividades práticas conforme os moldes trabalhados na pesquisa
realizada:
Entrevistador: Você já tinha feito alguma prática com o sentido de descobrir as coisas antes da
explicação?
A1: Das práticas que eu me lembro nenhuma foi com desse tipo, a gente não faz muitas práticas, eu faço
mais em casa.
A2: A gente tem que procurar antes porque é a gente que tem que achar.
Referente a essa segunda questão, os alunos colocaram que quase não realizam
atividades práticas.
Entrevistador: Por que você acha que os professores não aplicam tantas práticas?
A1: Muitas vezes é por causa da bagunça e eles não gostam de aplicar a prática.
A2: Eu fiz em casa uma vez, na escola eu faço bem poucas vezes. Eu acho que os professores falam
demais, eles querem que a gente aprenda com eles falando do que com a gente olhando, por isso que eles
não fazem tantas práticas.
A terceira questão reflete as causas colocadas pelos alunos da falta de realização
de práticas pelos professores, na opinião dos alunos a causa principal é a desordem
gerada na aula. Também fica evidenciado na fala do aluno A2 o pensamento tradicional
de ensino seguido pelos professores, que não incluem atividades práticas no cotidiano
da aula, ficando na grande maioria das vezes aplicada de forma bastante teórica.
Entrevistador: Você conseguiu entender quais os componentes do solo?
A1: Eu gostei porque é legal a gente ir procurar as coisas, e não o professor mostrar pra gente.
A2: Achei bem fácil de entender e é melhor quando a gente mesmo vai procurar as coisas no solo.
A última questão traz a tona se realmente os alunos entenderam o que e quais
são os componentes dos solos. A essa questão eles responderam ter gostado e entendido
muito mais buscando esses componentes no solo do que o professor falando, e eles não
poderem visualizar no solo mesmo. Como relata o segundo entrevistado, ele demonstra
que são eles mesmos que tem que procurar as partículas do solo, mas sem saber explicar
o motivo, apenas percebe a importância de si próprio buscarem as respostas para as
coisas.
Os alunos têm opiniões diferentes e complementares quanto à dificuldade de se
fazer atividades práticas nas escolas. Mas se as práticas são tão reduzidas nessa fase do
aprendizado, podemos com certeza melhorar a qualidade delas utilizando a investigação
como uma das alternativas para qualificarmos as atividades práticas escolares.
Os alunos entrevistados relatam entenderem o assunto apresentado em sala, mas
mais do que isso, nós como observadores da atividade sendo realizada, podemos relatar
a participação efetiva de todos os alunos na aula, eles de alguma forma se demonstram
estimulados pela prática.
Como relatado pelos autores citados nesse trabalho, um dos objetivos da
atividade investigativa é proporcionar a base de pesquisa para as crianças.
Opinião da professora da turma sobre a importância das práticas
Ao questionarmos a professora sobre a importância de se fazer uma atividade
prática a mesma demonstra uma visão bastante reducionista do que é uma atividade
prática respondendo que a atividade prática serve unicamente para complementar a
teoria, conforme fala que segue:
“As práticas complementam a teoria, deixa o aluno mais interagido com a realidade, e não fica só
na teoria. Mas muitas vezes as atividades práticas são difíceis de serem trabalhadas, por falta de
material ou até mesmo de um laboratório, pois tenho que levar o material pra sala tornando
impróprio o manuseio de alguns materiais, ou ainda em caso de acidentes, como até mesmo
derrubar líquido no chão, tenho que buscar um pano com a zeladora pra poder secar e continuar
a aula.”
Percebe-se ainda que as práticas convencionalmente adotadas pelos professores
(até mesmo de forma inconsciente) incluem opções metodológicas engessadas e
excluem o ambiente propício à realização de questionamentos, observações e
experimentos, o que faz com que surjam dificuldades de diferentes origens ao ser
efetivada a implementação sistemática de atividades investigativas no ensino
corroborando com as idéias de Zanon ; Freitas (2007).
Percebe-se que o professor não associa suas práticas diárias ou dificuldades
enfrentadas, mas tem uma idéia de laboratório estruturalmente equipado. Poucos são os
comentários de dificuldades vivenciadas em seu cotidiano, ou sobre um modelo de
laboratório que facilite o desenvolvimento das atividades em seu local de trabalho.
Ao questionarmos o quanto à professora utilizava algum tipo de atividade prática
à mesma responde que o uso de uma atividade depende basicamente do rendimento da
turma, conforme fala que segue:
“Varia muito, depende do rendimento na turma, muitas vezes um método funciona em uma turma,
mas não em outra, eu mudo muito a maneira de fazer a prática, eu utilizei a mesma prática em
duas turmas do mesmo ano, mas em uma eu passei o conteúdo e depois dei a prática, e na outra
eu dei primeiro a prática e fiz uma pergunta antes de dizer o conteúdo, que foi: “Por que isso está
acontecendo?” A primeira turma gostou da atividade, mas não deram muita importância para
aquilo. A segunda turma se mostrou interessada em procurar a resposta da pergunta e
começaram a ler.”
Na entrevista com a professora da turma, encontramos a visão da professora
sobre a aula prática, deixando clara a própria experiência com aulas práticas. Percebe-se
que esse tipo de prática foi como uma descoberta da professora a partir de testes feitos
por ela em diversas turmas, não sendo essa uma opção consciente, mas muito mais
intuitiva.
Ao questionarmos se a professora cria as suas atividades práticas ou se baseia
em algum livro.
“ Elaboro as minhas práticas baseada nos livros tentando sempre complementar as bibliografias,
porque procuro observar qual é a prática que seja mais fácil dos alunos entenderem. Tem coisas
que o aluno mesmo observa, muitas vezes observa até coisas que não é o assunto que está sendo
estudado, mas ele se demonstra curioso, então isso é bom.”
Além disso, ela se baseia em livros para a realização de suas aulas, não ficando
apenas nas demonstrações, assim ela consegue utilizar o livro, mas ela reformula um
pouco o que esta no livro, reinventando a atividade, não fazendo sempre da mesma
forma.
Pode-se evidenciar ainda que as atividades práticas investigativas devem ser
tomadas como um recurso disponível para os professores melhorar a qualidade de suas
aulas, onde os alunos podem se aventurar na descoberta dos conceitos científicos com a
mediação do professor.
Considerações Finais
Esse trabalho nos mostrou que o interesse das crianças ira levá-los a procurar os
resultados dos experimentos e assim formar-se seu conhecimento científico, pois o
interesse pelo assunto nos faz descobrir modos de pesquisar, e isso com certeza foi
demonstrado pelas crianças dessa turma.
Muitas vezes vimos que uns se baseavam nas respostas dos outros e isso também
permite criar-se um pensamento evolutivo quanto às pesquisas, pois conseguem através
de aquisições e junções de idéias encontrar soluções e respostas para muitos problemas
colocados em questão na sala de aula.
Percebeu-se por fim que os educadores muitas vezes sem saber utilizam
metodologias muito eficientes, provenientes de seus saber experienciais (Tardif, 2002)
como foi o caso da professora entrevistada, ela testou diversas práticas e a mais
eficiente foi a investigativa. No entanto, seria importante que a mesma tivesse um
conhecimento da teoria referente ao assunto para aperfeiçoar sua prática pedagógica
promovendo um ensino mais eficaz.
Não podemos deixar de relatar a importância de se continuar desenvolvendo
novas práticas com esse enfoque, pois isso proporciona a todos da escola, uma melhoria
da qualidade de ensino. Dessa forma, pesquisando métodos mais eficazes quando se
diminui alguns recursos escolares, como a falta do laboratório e tempo escasso.
Referências:
ARRUDA, A. C. J. Z; CARNEIRO, M. C; ZAMUNARO, A. N. B. R; CALDEIRA, A.
M. A. Experiência E Conhecimento No Ensino De Ciências. In: II Encontro Nacional
de Pesquisa em Ensino de Ciências, Valinhos, 1999.
ASTOLFI, J.P; PETERFALVI, B; VERIN, A. Como As Crianças Aprendem As
Ciências. Horizontes pedagógicos: São Paulo, 1998.
BODGAN, R; BIKLEN, S. Investigação Qualitativa em Educação – uma introdução
à teoria e aos métodos. Porto Editora, 1994.
BORGES, A. T; RODRIGUES, B. A; SANTANA, R. E. A Física do Som: Uma
Abordagem Baseada em Investigações. IV Encontro Nacional de Pesquisa em Ensino
de Ciências: Porto Alegre, 2004.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ciências Naturais. Secretaria de
Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.
CAMPOS, M. C. C; NIGRO, R. G. Didática de Ciências: o ensino-aprendizagem
como investigação. São Paulo: FTD, 1999.
CRUZ, C. G. M; KUCERA, L; MACHADO, R; BARRA, V. M. M. Fundamentos
Teóricos das Ciências Naturais. Curitiba: IESDE, 2004.
DELIZOICOV, D; ANGOTTI, J. A. Metodologia do Ensino de Ciências. 2. ed. São
Paulo: Cortez, 1994.
KRASILCHIK, M. Prática de ensino de biologia. 2.ed. São Paulo: Harper, 1986.
LÜDKE, M; ANDRE, M. E. D. A. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas.
4. ed., São Paulo: EPU, 1986.
MORAIS, R. (org.) Construtivismo e ensino de ciências: reflexões epistemológicas e
metodológicas. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003.
PEREIRA,C. A; SOUZA, A. R; BASTOS, F. A visão dos profissionais da educação
sobre o funcionamento do laboratório escolar no ensino fundamental. V Encontro
Nacional de Pesquisa em Ensino de Ciências: Bauru, 2006.
POSSOBOM, C. C. F; OKADA, F. K; DINIZ, R. E. S. Atividades Práticas De
Laboratório No Ensino De Biologia E De Ciências: Relato De Uma Experiência.
Disponível
http://www.unesp.br/prograd/PDFNE2002/atividadespraticas.pdf.Acesso
em:
em
11
de
Outubro de 2007.
ROCHA, R. G; GIOPPO, C.; BARRA, V. M. M. Prática Educativa Das Ciências
Naturais. IESDE: Curitiba, 2004.
TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 7.ed. Petrópolis: Vozes,
2002.
ZANON, D. A. V; FREITAS, D. A aula de ciências nas séries iniciais do ensino
fundamental: ações que favorecem a sua aprendizagem. Ciências & Cognição; Ano 04,
Vol 10, p. 93-103, 2007.
_____. O Ensino de Ciências de 1ª a 4ª Série Por Meio de Atividades Investigativas:
Implicação na Aprendizagem de Conceitos Científicos. In: IV Encontro Nacional de
Pesquisa em Ensino de Ciências: Porto Alegre, 2004.
ZULIANI, S. R. Q. A.; ANGELO, A. C. D. A utilização de Estratégias Metacognitivas
por alunos de química experimental: uma avaliação da discussão de projetos e
relatórios. In: II Encontro Nacional de Pesquisa em Ensino de Ciências, 1999,
Valinhos.
Download

Artigo 47 - Unioeste