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todos, inclusive os “qualificados”.
No fim do ano passado, mais da
metade das 500 maiores empresas
listadas pela revista Fortune já havia
transferido um número significativo de postos de trabalho intelectual
para outros países.
Rafael Evangelista
G EO P O L Í T I C A
Os diferentes muros
sociais que se erguem no
mundo contemporâneo
As cidades muradas da Idade
Média eram constituídas para
proteger suas comunidades do
invasor, da barbárie. Os muros de
nossa história contemporânea –
construídos por Israel na
Cisjordânia, no lado leste da
Palestina e pelos Estados Unidos,
na fronteira com o México – por
trás de uma função comum, que é
Notícias
do
Mundo
“tentar impedir, de modo absoluto,
a transposição, pela população, da
fronteira entre duas unidades
políticas distintas”, diferenciam-se
do seu congênere mais famoso de
nosso passado recente, o muro de
Berlim. Na análise dos geógrafos
Ricardo Castillo (da Unicamp) e
Ricardo Mendes Antas Junior (da
Unifieo), apesar das conseqüências
trágicas, o muro de Berlim derivouse de um período histórico de
equilíbrio político – a Guerra Fria –
entre duas potências: os EUA e a
União Soviética. Já os atuais, em
território palestino e mexicano,
representam a exacerbação do
poder, “a tirania de poderes
desmedidos e sem peias”.
As fronteiras, obsoletas no
conceito popular da globalização,
estão longe de acabar, mas
passam por uma profunda
reformulação, avaliam os
pesquisadores. “Conforme várias
vezes afirmou o geógrafo Milton
Santos – pensador atual que
melhor refletiu sobre o tema – da
mesma forma que as fronteiras
podem ser um instrumento de
coação e controle, também se
apresentam como instrumento de
proteção e de emancipação das
sociedades nacionais”, afirmam.
Pouco comentado, o “muro do
México” (ou “muro do Império”,
como preferem alguns) que
separa este país dos Estados
Unidos, vai da praia de Tijuana, no
17
Oceano Pacífico, e se estende
sem interrupção por toda a
fronteira entre os dois países até
chegar no rio Grande. Começa a
150 metros mar adentro, como
uma armação de 8 metros de
altura de barras de aço e
concreto, e se transforma numa
linha de alambrados, paredes de
concreto ou marcas de pedra.
Alguns pontos estratégicos são
vigiados com rigor, usando-se de
câmeras, luzes e sensores
eletrônicos, controlados pela
polícia de fronteira.
Estudos da Universidade de
Houston mostram que de 1994 até
hoje morreram mais de 2,2 mil
pessoas tentando atravessar a
fronteira. O ano de 1994 marca a
criação da Operation Gatekeeper,
na Califórnia, especializada na
vigilância da fronteira. Até aquele
ano, o número de mortes vinha
diminuindo, mas passa a crescer
em 1995. Um aumento significativo
é registrado entre os anos de 1999
e 2000, pulando de 250 para mais
de 350 mortes por ano. Em quase
30 anos de história, morreram
entre 800 e 1 mil pessoas
tentando atravessar o muro
de Berlim.
Para Castillo e Antas, o muro
entre o México e os Estados
Unidos é apenas a evidência
concreta que separa o mundo
subdesenvolvido do desenvolvido
de modo geral. “É o caso mais
MUN
grave, pois esse muro é uma
absolutização de uma das maiores
contradições do período atual: a
maior concentração de riquezas já
havida na história. O fato é que
há, também, um “muro” entre
Brasil e Estados Unidos. E entre
nós e a Inglaterra, a França, a
Alemanha etc”. Para eles, enquanto
a circulação de mercadorias,
capitais, informações e fluxos
financeiros fica liberada no
contexto atual, a dos homens é
cada vez mais restringida.
MURO ÉTNICO Já o muro localizado
no Oriente Médio, que adentra
territórios palestinos ocupados
por Israel teria outra natureza.
“Esse é um muro étnico, da recusa
de integração entre povos, da
recusa da paz”, dizem os
pesquisadores. Alegando questões
de segurança, o governo de Israel
está construindo uma barreira de
mais de 700 km na Cisjordânia.
Com exceção do governo norteamericano, as principais
lideranças internacionais têm
condenado, com alguma
veemência, Israel pela construção
do muro. A fronteira que ele
estabelece vai além da chamada
“linha verde”, marco
internacionalmente reconhecido
como limite de Israel. Em artigo
intitulado “Muro, humilhação e
roubo”, o lingüista e ativista
político americano de origem
judaica Noam Chomsky questiona
os argumentos de segurança para
sua construção. “O que o muro
realmente faz é tomar terras
palestinas”, afirma. Segundo ele, a
área que Israel está tomando para
si possui os melhores recursos
naturais da região. Os colonos
israelenses instalados nesse
território terão garantido o direito
de uso da terra; já os palestinos
precisarão reivindicar o direito de
“viverem em suas próprias casas”,
afirma Chomsky. Após a pressão
internacional, Israel anunciou que
alterará o desenho atual do muro,
aproximando-o – mas não o
igualando – da “linha verde”.
Rafael Evangelista
MUSEUS DE CIÊNCIA
Latino-americanos:
muita criatividade,
pouca organização
Contenção de recursos, pouca organização, criatividade de sobra e
bons profissionais. Com essa composição de elementos, os centros e
museus de ciência latino-americanos logram organizar exposições
únicas, equiparando-se aos maiores
e melhores do mundo. Este é o cenário traçado por Julia Tagüeña
Parga, física e diretora-executiva da
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Rede de Popularização da Ciência e
da Tecnologia na América Latina e
Caribe (Rede Pop). O desafio é popularizar a ciência no segundo continente com as piores condições do
mundo neste setor. Há 12 anos à
frente do Museu Universum, do
México, Julia acredita na cultura
científica como forma de tornar as
pessoas mais tolerantes e, assim, fomentar atividades pacíficas.
Qual é a visão sobre a inserção da
educação no Museu Universum?
JULIA: A concepção atual é de uma
relação muito forte com a educação
informal ou não formal, mesmo
nos cursos que são dados nos museus. O museu permite às crianças
seguirem um ritmo pessoal de
aprendizagem. A função do museu
é ser um detonador de interesses,
dando-lhes a informação sobre livros ou atividades complementares.
Outro trabalho importante é com
os adultos que, a partir de uma certa idade, deixam de ir à escola e perdem o contato com a ciência. A ida
ao museu pode detonar um processo de educação contínua. Existem
museus mexicanos que têm convênios com escolas sem infra-estrutura e lhes oferecem laboratórios.
Um museu deve trabalhar a inclusão
social?
Com os problemas sociais tremendos existentes em nossos países,
penso que deve haver programas
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