Folheto Especial - Protestos_Folheto 00 - MODELO 18/07/2013 11:10 Page 1
Especial
Protestos
"Pecar pelo silêncio quando se devia protestar transforma homens em covardes."
Abraham Lincoln
PROPOSTA DE REDAÇÃO
Tomando como base os textos abaixo, redija uma dissertação em prosa, expondo seu ponto de vista sobre o
tema: A relevância dos recentes protestos ocorridos no Brasil
Ninguém esperava que milhões de pessoas paralisassem centenas de cidades em poucos dias. A situação que
se abriu é revolucionária. Isso não significa que o Brasil esteja às vésperas de uma revolução, longe disso. Situação
revolucionária não quer dizer tomada do poder, muito menos mudança radical da sociedade. A expressão serve para
descrever o período em que um povo dá mostras de não querer mais viver como antes, no qual o Estado não pode
seguir governando como fazia até então. Isso está a acontecer no Brasil.
Mario Sergio Conti, Piauí, julho de 2013 (Adaptado)
Imagino que, com a passeata, se quis mostrar, acima de tudo, o espírito desarmado da grande maioria – e sua
capacidade de fazer, como tantas vezes aconteceu no Brasil, protestos de massa com fraternidade e alegria.
“Se vocês não nos deixam sonhar, nós não deixamos vocês dormir”, dizia um cartaz. Ideias desse tipo, com trocadilhos
interessantes ou mesmo palavras de ordem genéricas, como a de que “o país acordou”, brotavam de todos os lados,
um pouco ao estilo de maio de 1968 na França.
Talvez seja uma boa síntese do momento. É que, a começar dos políticos do [partido vigente], vive-se numa
espécie de comemoração permanente – o país está ótimo, vivemos um momento extraordinário, construímos estádios,
e todos estão felizes.
Abaixo a Copa do Mundo, talvez quisesse dizer a moça do cartaz: pelo menos, expressou sua impaciência
diante da sorridente enganação geral. É esse sorriso, feito da insensibilidade, do cinismo e do oportunismo de décadas,
que a passeata pretende tirar do rosto dos governantes.
Marcelo Coelho, http://marcelocoelho.blogfolha.uol.com.br/ (Adaptado)
Por fim, sobre o que querem os manifestantes, já muito além do passe livre, quem parece ter razão é Juan
Arias, o excelente correspondente de El País: "Querem, por exemplo, serviços públicos de primeiro mundo; querem
uma escola que, além de acolhê-los, lhes ensine com qualidade, o que não existe; querem uma universidade que não
seja politizada, ideologizada ou burocrática; querem que ela seja moderna, viva, que os prepare para o trabalho futuro".
Mais: "Querem hospitais com dignidade, sem meses de espera, onde sejam tratados como seres humanos, e querem,
sobretudo, o que ainda lhes falta politicamente: uma democracia mais madura, em que a polícia não atue como na
ditadura".
"Querem um Brasil melhor. Nada mais."
Como dizia a faixa que abria a passeata no Rio: "Não é por centavos; é por direitos".
Clóvis Rossi, Folha de S. Paulo, 18/6/2013 (Adaptado)
Mesmo rejeitando os exageros e os atos de vandalismo, deve-se reconhecer que protestos, por vezes, tonificam
a democracia. E, para que funcionem assim, é preciso garantir que movimentos reivindicatórios possam ter lugar sem
julgar o que os motiva. Não dá para criar uma lei que permita manifestações como as das praças Taksim e Tahrir, mas
não as da avenida Paulista, só porque combater a tirania é uma causa mais nobre do que demandar subsídios.
Hélio Schwartsman, Folha de S. Paulo, 14/6/2013 (Adaptado)
Em termos menos pessoais, o governo se vê agora diante do desafio de administrar duas pressões contrárias:
a das ruas (por mais transporte, educação, saúde etc.), que joga a favor do aumento do gasto público; e a das
circunstâncias econômicas e do capital, que o constrange pela redução do mesmo gasto público.
Fernando de Barros e Silva, Piauí, julho de 2013 (Adaptado)
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Todos os dias de nossas vidas, no momento em que pisamos fora de nossas casas e fazemos parte do cenário
da cidade onde vivemos, estamos fazendo história. Ao contrário do que lemos nos livros didáticos, a História não é feita
simplesmente de grandes marcos – mas sobretudo daquilo que há no espaço entre esses marcos, nas ações cotidianas
que, aos poucos, dão forma aos acontecimentos que acabam sobrando nos livros. Estamos fazendo história quando
pegamos um ônibus ou quando sentamos na frente de um volante; estamos fazendo história com todas as pequenas
decisões que definem a maneira como atuamos dentro da sociedade de que inevitavelmente participamos. Porque a
história é sempre a nossa história, é a história de nossas vidas: é isso que se forma todos os dias e recomeça todas as
manhãs com cada pessoa que se levanta e vai às ruas.
Mas costumamos não tomar consciência disso. Costumamos nos anestesiar, numa espécie de deslocamento
para fora de nós mesmos, e não reconhecemos cada ato dos nossos dias como peça fundamental que dá forma a uma
grande trama. As cidades onde vivemos, compostas de ônibus lotados e avenidas engarrafadas, nos ajudam a esquecer:
movidos por necessidades imediatas e incômodos passageiros, esquecemo-nos da vida ao nosso redor e somos
tomados por uma alienação lenta e flutuante. Deixamos de prestar atenção à história que, ainda assim, continuamos
fazendo, e por isso essa história parece alheia a nós e àquilo que realmente somos – isso porque já não sabemos nem
questionamos o que realmente somos.
As manifestações que têm acontecido na última semana, ganhando as ruas das cidades do Brasil, parecem
ser, mais do que tudo, essa consciência que tarda e enfim desperta, assustada. Acompanhamos o movimento dessas
pessoas, cada vez maior e mais inflado, e percebemos que a cidade não sabe lidar com esse despertar – estamos
todos tão adormecidos pela fumaça cotidiana que a possibilidade de dispersar essa fumaça e ver o mundo real em que
vivemos parece absurda, descabida. As respostas violentas das autoridades parecem querer nos fazer voltar a dormir
à força, como se fôssemos crianças dispersas que se recusam a respeitar a imposição da hora de ir para a cama.
Mas alguma coisa aconteceu. Alguma coisa grande está acordando, e é preciso continuar a chacoalhá-la cada
vez mais, é preciso reconhecê-la e ostentá-la, não podemos deixar que ela volte a se esconder. Mesmo que não
saibamos bem o que desperta agora, precisamos manter essa força acordada – essa força, sim, que estamos sentindo
dentro de nós, que de repente ganhou não apenas as ruas, mas também as conversas, as famílias; até o ar que
respiramos parece mais denso e vibrante. É preciso manter essa força, é preciso crescer com ela, porque isso é a
história: é essa vontade incontrolável de se manifestar, tão incontrolável que nos leva às ruas e ao embate, na afirmação
daquilo que sabemos que nos define, a nós e a todos ao nosso redor. É preciso que façamos coincidir entre nós essa
vontade que está crescendo e conquistando mais e mais pessoas. Isso é real. Precisamos continuar com isso que
começa agora.
A indignação tem a causa mais digna de todas as causas: queremos ter o direito de viver na cidade onde
vivemos. Queremos habitar a cidade, porque é esse o cenário de nossa história. Não queremos mais nos sentir
refugiados em nossas próprias casas. Queremos denunciar o quanto é ofensiva a quantidade generalizada de shoppings
e condomínios fechados que roubam o espaço das ruas e nos privam da convivência. Queremos tornar possível o
movimento e o deslocamento dentro de uma cidade que está se paralisando em todos os sentidos. Queremos que essa
causa dos 20 centavos, que, a princípio, parece tão mínima, seja reconhecida justamente como um desses atos mínimos
que compõem a nossa história – e nós queremos outra história.
Leda Cartum, escritora e roteirista
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