ESTADO DE MINAS
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● Q U I N TA - F E I R A , 1 2 D E J U L H O D E 2 0 1 2 ● E D I T O R A - A S S I S T E N T E : M a r l y a n a Ta v a r e s ● E - M A I L : i n f o t e c . e m @ u a i . c o m . b r ● T E L E F O N E S : ( 3 1 ) 3 2 6 3 - 5 3 6 0
INFORMÁTIC
GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS
‘Uis’e ‘ais’chegam mais cedo na vida das pessoas que vivem conectadas. Passeio na capital revela falta de consciência sobre posturas corretas no uso de tablets, smartphones e notebooks
Luís Henrique levanta
os braços para digitar
o notebook e a amiga
Luiza força o pescoço
para baixo para
enxergar a tela do
smartphone:
repetidas, essas
posições podem
causar danos
O PREÇO DA COMODIDADE
SHIRLEY PACELLI
Sabe aquelas reclamações que você escuta do
seu pai sobre dores nas costas? Ou da sua avó falando que o tal nervo ciático está atacado? Pois
bem, não demora muito para que jovens, como os
estudantes Luiza Nunes, de 20 anos, e Luís Henrique Coutinho, de 19 (foto), passem a reclamar de
problemas semelhantes. O uso constante de dispositivos móveis – com postura inadequada – tem
gerado uma série de novas doenças degenerativas.
Já ouviu falar de iPad neck (pescoço de iPad) ou de
laptoptite? Ambos são males do milênio, surgidos
com a popularização desses aparelhos.
Pesquisa feita em 2011 pela Boston University
Sargente College, dos Estados Unidos, mostrou que
usar o notebook por mais de quatro horas diárias,
sem as pausas recomendadas, já traz riscos de lesões. O termo laptoptite foi inventado por Kevin
Carneiro, norte-americano especialista em reabilitação. O iPad neck, por sua vez, é o apelido que vigora entre os fisioterapeutas e médicos para denominar a cervicalgia (dor no pescoço).
Há dois anos, os computadores portáteisultrapas-
saram os desktops em vendas. De acordo com
pesquisa feita pela Cisco, especializada em redes e
comunicações, o número de dispositivos móveis deve ultrapassar, ainda este ano, a população mundial.
Lesões da coluna vertebral já são reconhecidas como a nova epidemia deste século. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), há mais de 5,2 milhões de brasileiros
com hérnia de disco e as dores nas costas estão
em terceiro lugar no ranking de motivos para
aposentadoria precoce.
Na companhia do fisioterapeuta Rodrigo Antônio Moura, o Informátic@ percorreu alguns pontos na Savassi e no Centro de Belo Horizonte, para
avaliar a postura das pessoas ao utilizar seus
smartphones, tablets e notebooks. Luiza e Luís Henrique não passaram no teste de boa postura, como
a maioria das pessoas analisadas.
LEIA MAIS SOBRE DISPOSITIVOS
MÓVEIS E SAÚDE
PÁGINAS 3 E 4
E STA D O D E M I N A S
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INFORMÁTICA
❚ REPORTAGEM DE CAPA
Você sabe o que é iPad neck e laptoptite? Ainda que engraçadas, novas definições alertam
para o perigo de doenças decorrentes de posturas erradas ao usar dispositivos móveis
Consequências do prazer
JAIR AMARAL/EM/D.A PRESS
SHIRLEY PACELLI
Acordar e sentir dor cervical,
todos os dias, durante longos sete
meses. A princípio, a médica Taís
Soares Vaz, de 35 anos, achou não
ser nada grave. “Imaginei que era
um mau jeito e troquei o travesseiro.” O que ela não suspeitava, e
só depois descobriu, é que o início
da dor coincidiu com a compra de
um tablet. Ávida por leitura, a médica costumava usar o aparelho
para isso antes de dormir. Esse novo hábito, somado a antigos erros,
resultou em uma hérnia de disco
entre as vértebras C5 e C6, além
de uma retificação da coluna cervical. Taís engrossa o coro de pessoas com o chamado iPad neck,
nova lesão provocada por tensionar o pescoço para baixo, comprimindo um nervo. “Usava o tablet apoiado nas pernas por muitas horas. O que deflagrou a dor
foi isso”, conta.
Outras doenças típicas dos
novos tempos surgiram com a
popularização dos dispositivos
móveis, como a laptoptite (causada por laptops) e a síndrome
do polegar de BlackBerry (derivada do mau uso do celular), diz o
fisioterapeuta da FortaleSEr
(www.fortaleser.com.br), centro
de reabilitação e condicionamento físico, Rodrigo Antônio
Moura, que trata de Taís e acompanhou a reportagem do Informátic@ em pontos de wi-fi em
Belo Horizonte para conferir como, na era da mobilidade, as pessoas se posicionam para usar
seus smartphones, tablets e notebooks (leia na página 4).
Segundo o profissional, o uso
de tablets, smartphones e laptops
é fato inegável da modernidade,
mas é preciso observar a postura
corporal e, muito importante,
fazer as pausas recomendadas.
Quem usa notes e netbooks, por
exemplo, deve fazer paradas a
cada 50 minutos. Já tablets e
smartphones deveriam ser usados apenas emergencialmente,
mas como isso não acontece, o
ideal é que se façam pausas a cada
40 minutos. Atenção redobrada
para aqueles que não resistem a
um joguinho no smartphone. O
que não faltam são títulos atrativos. (leia na página 6).
Para ter uma ideia, até 2016 o
país deverá atingir a quarta posição no ranking mundial de comércio de smartphones, segundo
a consultoria Internacional Data
Corporation (IDC). Pesquisa do
Google, chamada Our Mobile Planet (bit.ly/LOyNs7), apontou em
maio que 14% da população brasileira tinha smartphones, sendo
que 73% desses usuários acessavam a internet todos os dias. E é
importante lembrar que desde
2010 a venda de notebooks superou a de desktops no Brasil.
Além do mal causado pelo uso
incorreto do tablet, Taís trabalha o
dia todo em frente a um PC. “Não
tinha postura correta na cadeira,
sentava sem encostar no apoio
das costas, sobrecarregando a coluna. O monitor também ficava
abaixo da minha linha de visão”,
explica. Para piorar, a médica ainda utilizava seu iPhone entre uma
atividade e outra e passava de 10
a 12 horas trabalhando de salto alto. Hoje, ela está em sua 11ª sessão
de fisioterapia, na etapa de fortalecimento e estabelecimento da
coluna cervical. Além do tratamento, foi preciso fazer uma reeducação postural para evitar que
no futuro as dores voltem.
HOMO SENTADUS Oldack Borges
de Barros, presidente da Sociedade Brasileira de Reeducação Postural Global (SBRPG), explica que
essas doenças por esforço repetitivo surgiram nos anos 1990 e o
início do novo milênio com o advento dos notebooks. “Éramos o
Homo erectus e agora somos o
Homo sentadus”, brinca o especialista, sobre a condição atual de
sedentarismo da sociedade. Segundo ele, as primeiras doenças a
aparecer – relacionadas ao uso de
dispositivos móveis – foram a artrite, a artrose e a fibromialgia (dor
De médica a paciente do fisioterapeuta Rodrigo Antônio Moura, Taís Soares aprende a sustentar o tablet sem lesionar a coluna cervical, na qual sofre fortes dores
SIDNEY LOPES/EM/D. A PRESS
“BARRIGA PARA DENTRO, PEITO PARA FORA...”
Descubra a postura certa e a errada na hora de utilizar os dispositivos móveis:
NO SMARTPHONE
CERTO
1- Aparelho afastado de si. Dessa
forma, os braços ficam estendidos e o
pescoço não se curva.
2- Braços apoiados sobre uma mesa
para digitar.
ERRADO
1- Curvar o pescoço excessivamente para ver a tela
do smartphone.
2- Braços e ombros muito flexionados para teclar.
3- Apoiar celular com o ombro.
NO TABLET
CERTO
1- Aparelho afastado de si.
2- Elevá-lo à altura dos olhos.
3- Utilizar uma mesa para apoiar-se
quando for digitar.
4- Manter os braços perpendiculares
ao corpo.
Síndrome do polegar de Blackberry é um dos males do século
crônica em vários pontos do corpo). Sobre a dor generalizada pelo
corpo, ele alerta também para o
estresse como causa.
O presidente conta que, inicialmente, a lesão por esforço repetitivo, ou LER, atinge a faixa
etária dos “adultos jovens”, com
cerca de 40 anos. Hoje, há jovens
que com 20 anos já desenvolvem
o mal. “É natural que, por exemplo, uma pessoa com 23 anos
que fique o dia todo no PC e
passa mais de 30 minutos ininterruptos digitando tenha dores nas articulações. Basta fazer um ano dessa rotina e os
sinais virão”, exemplifica.
O alongamento é a principal
recomendação de Barros para
prevenir essas novas doenças.
“Alongar especialmente os
músculos flexores do braço”,
complementa. Além disso, ele
aconselha a não usar o laptop
na cama antes de dormir, porque não propicia uma boa postura e o brilho da tela alerta
em excesso, causando insônia.
Depois de ser acometido pelas
lesões, o ideal é a fisioterapia e
a reeducação postural global.
Para ele, o principal perigo no
uso dos dispositivos móveis é
a dor musculoesquelética.
“Um estudo da Universidade
da Califórnia apontou que
80% da população ativa do trabalho será acometido por LER
até 2014”, ressalta.
ERRADO
1- Apoiá-lo nas pernas ou sobre uma
superfície muito baixa.
2- Curvar o pescoço para visualizar a tela.
3- Coluna curvada, sem apoio.
NO LAPTOP
CERTO
1- Tela na altura dos olhos.
2- Pernas perpendiculares ao chão e
pés totalmente no chão.
3- Sentar-se em uma cadeira com
encosto.
4- Braços devem formar um ângulo
de 90° com o corpo.
DOR POR REPETIÇÃO
LER é uma doença causada por movimentos
repetitivos. Manifesta-se principalmente nas formas
de tendinites, cotovelo de tenista, dores no punho,
incapacidade de segurar objetos e dor aguda nos
dedos, punhos e cotovelos. Medicamentos e
fisioterapia são indicações de tratamento.
ERRADO
1- Usar o aparelho deitado.
2- Abaixar o pescoço para visualizar a tela.
3- Coluna sem apoio, arqueada.
4- Cotovelos flexionados em demasia.
5- Somente a ponta dos pés no chão, ou totalmente elevados.
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❚ REPORTAGEM DE CAPA
Observações em pontos da cidade constatam vários erros posturais cometidos por usuários
Aí o corpo reclama
Baixe os apps
FOTOS: GLADSTONE RODRIGUES/EM/D.A PRESS
Para conhecer…
REPRODUÇÃO DA INTERNET-10/07/2012
Quer visualizar o que a má
postura pode fazer à sua
coluna cervical? Baixe o
aplicativo Spine, para iPad,
no iTunes. Além de trazer
artigos atualizados sobre
doenças degenerativas,
oferece conteúdo
multimídia que facilita a
compreensão de cada mal.
Gratuito.
http://bit.ly/OvrJTZ
ANDROID
Com o Instant Anatomy,
você encontra informações,
por meio de gráficos e
desenhos, sobre a coluna
cervical. Custo: R$ 6,20.
http://bit.ly/LRTeX9
REPRODUÇÃO DA INTERNET-10/07/2012
Enquanto Camila Silveira segura corretamente o smartphone, apoiando os cotovelos na mesa, a amiga Thaís Hagler escorrega pela cadeira para digitar e não passa no teste de postura
D
SHIRLEY PACELLI
urante os cinco minutos de intervalo do
trabalho, o garçom
Sidney de Oliveira Padilha, de 34, dá uma rápida “zapeada” no celular. Antes de a reportagem abordá-lo, o garçom
sentava-se bastante relaxado
na cadeira em um shopping,
com uma mão no aparelho e
outra apoiando a cabeça. Ao receber as orientações do fisioterapeuta Rodrigo Antônio Moura, Padilha desabafou: “Não
consigo manter essa postura
ereta”. Este não é um problema
só do garçom, como comprovamos ao percorrer lugares com
acesso a internet sem fio no
Centro e na Savassi.
O fisioterapeuta da FortaleSER (www.fortaleser.com.br),
centro de reabilitação e condicionamento físico, acompanhou a reportagem do Informátic@ por estes pontos de Belo Horizonte, para conferir como as pessoas se posicionam ao
acessar smartphones, tablets e
notebooks. “Não há uma forma
100% correta de utilizá-los, há a
menos errada”, explica o profissional. Segundo ele, o surgimento de doenças degenerativas
depende de diversos fatores, como o nível de atividade física/sedentarismo, hereditariedade e alterações posturais. “Na
verdade, nosso corpo tolera
muita coisa. Lá pelos 40, 50 anos
ele grita”, sintetiza Rodrigo.
O garçom Padilha, além do
esforço contínuo no trabalho
desfilando com bandejas pesadas a todo momento, faz um
carregar a coluna cervical para
usar o celular, Luiza teclava
com as duas mãos, que é o
ideal, segundo Moura.
RELAXAMENTO É ILUSÃO Em
O garçom Sidney Padilha quase deita para conferir o celular, enquanto o correto seria manter a coluna ereta
SINAL VERMELHO
Se você começar a sentir
formigamento nos dedos, dores
no pescoço, ombro e lombar,
além de incômodo no punho,
fique alerta. Pode estar
começando a desenvolver
algum tipo de doença
degenerativa, também causada
por posturas incorretas ao usar
equipamentos tecnológicos.
curso de administração a distância, o que o obriga a permanecer algumas horas diante do
PC todos os dias. Pelo menos
em casa, ele garante que senta
“certinho” na cadeira para fazer os trabalhos.
Em um café da Região da Savassi, no Centro-Sul da capital
mineira, encontramos os estudantes Luís Henrique Coutinho, de 19 anos, Luiza Nunes,
de 20, e Francisco Grynberg, 18.
Com seu notebook aberto, Luís
acessava a internet. O aparelho,
em uma mesa alta, fazia com
que ele flexionasse demais os
punhos, o que pode provocar
tendinite. Fora isso, a coluna
não estava apoiada no encosto
e os pés para o alto. Tudo incorreto, de acordo com a avaliação
do fisioterapeuta. “Uso o laptop
bastante na cama ou no sofá, dificilmente na mesa. É uma comodidade difícil de largar”, reconhece Henrique Coutinho.
A amiga, ao lado, contorcia o
pescoço para baixo, com coluna envergada, a fim de enxergar o conteúdo do smartphone. “Não dá para elevar o aparelho, porque o sol atrapalha a
visualização. No ônibus sempre fico com ele assim”, justifica a jovem. Apesar de sobre-
outra mesa, Camila Silveira, de
25, chamou a atenção do fisioterapeuta por utilizar corretamente seu smartphone. Braços apoiados sobre a mesa, celular mais elevado pelas duas
mãos, além de uma boa postura na cadeira. “Mesmo quando
estou usando o notebook
apoiado nas pernas, ponho
uma almofada por baixo para
elevá-lo ao meu campo de visão”, explicou.
Em sua companhia, a colega
Thaís Hagler, de 24, não passou
no teste da postura. Sentada
bem na ponta da cadeira, como
se estivesse esvaindo-se, ela digitava no laptop. Os braços superestendidos se cansam logo.
“As pessoas, como ela, têm a
ilusão de que devem ficar completamente relaxadas ao sentar
e acabam sobrecarregando estruturas de estabilização passiva, como ligamentos, tendões e
ossos. O ideal é sentar com a coluna mais ereta”, observa o fisioterapeuta. A jovem, que é designer gráfica, conta que já sente dores no pulso e se alonga
para amenizar o problema, prática indicada pela fisioterapia.
Rodrigo Moura lembra que é
difícil identificar que a lesão está ligada ao uso de um dispositivo móvel. Quase sempre é
multifatorial, um pouquinho
de cada coisa. Pelo menos você
pode fazer sua parte para evitar
lesões da coluna.
É de pequenino…
Vagner Oliveira promete prestar mais atenção
ao usar o laptop e vigiar o filho, Daniel
Com seu novo brinquedo, o
pequeno Daniel Martins Oliveira, de 5 anos, se diverte na praça
de alimentação de um shopping no Centro de Belo Horizonte. O símbolo do Batman é uma
das poucas pistas de que a tela e
o mouse compõem um notebook “de mentirinha”. Se, como
diz a sabedoria popular, é de pequenino que se torce o pepino,
o garoto já poderia receber
umas dicas para melhorar a
postura ao usar o brinquedo.
Até na hora da diversão as crianças já estão expostas a réplicas
dos dispositivos móveis que
não foram criados pensando-se
em ergonomia.
Os pais, Vagner e Fernanda
Oliveira, contam que Daniel
gosta de usar o notebook real
para se entreter. “Se deixar, eu
fico 10 horas jogando”, solta o
menino, sendo logo repreendido. O casal Oliveira justifica que
o filho fica cinco minutos em
frente à tela e já se distrai com
outra coisa. “Nunca parei para
pensar na postura para usar o
laptop. Se não cuidar, os problemas vão chegando mais cedo:
artrite, artrose e outras doenças
que são só da terceira idade, não
é?”, reflete Vagner depois da
orientação do fisioterapeuta.
Para
alongar-se…
IOS
O aplicativo Stretch Away
Neck Pain traz dicas de
como se alongar e a
melhor postura para
trabalhar em frente a um
PC. Instruções práticas, com
desenhos, são o grande
diferencial do app. Custo:
US$ 3,99.
http://bit.ly/N1ZcUp
Android
Por meio de fotos e vídeos,
o aplicativo Lastics Office
Stretch explica o passo a
passo para se alongar no
trabalho. O ideal é fazê-lo
em intervalos de 40
minutos. Custo: R$ 2.
SAIBA MAIS
DORT E
LER
Distúrbios osteomusculares
relacionados ao
trabalho, ou Dort,
juntamente com a
lesão por esforço
repetitivo (LER),
tiveram seu boom na
década de 1980,
problemas que
atingiam mais os
bancários. Hoje é
difícil determinar,
como nexo causal de
uma lesão, somente
o trabalho. De
acordo com
especialistas,
uma sucessão
de erros provocam
tais doenças
e suas
consequentes dores.
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