EDUCAR PARA O PENSAR
Refletindo sobre a sala de aula
Vanessa Lourenci Piaz
Prof.ª Denise Raquel Rosar
Centro Universitário Leonardo da Vinci – Uniasselvi
Licenciatura em Pedagogia (PED 8501) – Prática Educativa
Data: 21/08/10
RESUMO
A presente pesquisa traz a reflexão sobre a importância do educar para o pensar na sala de
aula, e quais as contribuições que a Filosofia pode dar para este propósito. As propostas
filosóficas de John Dewey e Mathew Lipman para a educação para o desenvolvimento do
pensar serão descritas e discutidas no corpo do trabalho. No desenvolvimento do tema, foi
elaborado um plano de aula pautado neste sentido, com o tema nutrição e alimentação
saudável. Foi preciso articular atividades em sala de aula para alcançar o objetivo de fazer
os alunos pensarem na melhor alimentação para o corpo humano.
Palavras-chave: Educação; Pensar; Filosofia.
1 INTRODUÇÃO
Este paper é resultado de pesquisa bibliográfica, requisito de avaliação na disciplina
de Prática Educativa, no curso de Pedagogia do Centro Universitário Leonardo da Vinci –
Uniasselvi.
O trabalho tem como principal objetivo refletir sobre a importância do educar para o
pensar, e também, descobrir formas de se trabalhar esta abordagem em sala de aula, sob à luz
da Filosofia, pautado nas propostas de John Dewey e Matthew Lipman. É objetivo deste
artigo, ainda, compreender a necessidade de uma postura diferenciada dos educadores da
atualidade no sentido de não apenas ensinar coisas, mas, ensinar a pensar, visto que a
Filosofia é a área do conhecimento essencial para a formação do pensamento reflexivo.
A partir de um conteúdo do curso de Pedagogia foi elaborado um plano de aula que
permita experienciar uma educação que contemple o pensar criativo e uma ação investigativa.
O conteúdo selecionado foi a Nutrição e a alimentação saudável, e, no plano de aula buscou-
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se aplicar estratégias pedagógicas para que os alunos tenham condições de construir um
discernimento crítico e criativo sobre o tema problematizado.
A aplicação do plano de aula foi na turma de Pedagogia, na sala do encontro
presencial, durante a Socialização da Prática Educativa, e o plano está no apêndice A.
2 EDUCAÇÃO PARA O PENSAR E A SALA DE AULA
É realmente bastante moderno falar sobre: valorizar a capacidade de pensar dos
alunos, prepará-los para questionar a realidade, unir teoria e prática ou problematizar. Esta
abordagem, mesmo moderna não é nova. Esta forma de se trabalhar em sala de aula segue as
concepções de John Dewey (1859-1952), educador norte-americano de melhor reputação do
século XX.
Sua forma de pensar influenciou muitos educadores em todo o mundo. Um dos seus
principais objetivos era educar a criança como um todo, ou seja, o importante é o
“crescimento” – físico, emocional e intelectual. Dewey acreditava que o objetivo da escola
deveria ser ensinar a criança a viver no mundo. Defendia a proposta de que, entre educação e
vida não há separação, "as crianças não estão, num dado momento, sendo preparadas para a
vida e, em outro, vivendo" (RAMALHO, 2008, p. 27). É fundamental, na sua visão, que a
educação prepare para a vida.
A filosofia deweyana, ainda, remete-se à liberdade intelectual aos alunos. Segundo
RAMALHO (2008, p. 26) sobre o pensamento de Dewey:
O professor deve apresentar os conteúdos escolares na
forma de questões ou problemas e jamais dar de antemão
respostas ou soluções prontas. Em lugar de começar com
definições ou conceitos já elaborados, deve usar
procedimentos que façam o aluno raciocinar e elaborar os
próprios conceitos para depois confrontar com o
conhecimento sistematizado.
Reconhecer a importância da educação para o pensar poderá ser um ponto de partida
para basear a prática educativa na escola. Buscar formas de se trabalhar em sala de aula com
a filosofia presente na ação reflexiva dos alunos poderá, ainda, ser inspirado na ideia do
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professor de Filosofia norte-americano Matthew Lipman. Seu objetivo principal era
justamente este: aproximar as crianças à Filosofia.
Mathew Lipman se incomodava com a forma como os
filósofos tinham fechado suas portas para as crianças.
Considerou este impedimento insensível injusto. Lançou a
idéia de que as crianças podem e merecem ter acesso à
filosofia. Não apenas lançou a idéia, mas criou uma
instituição e desenvolveu materiais e metodologia para
que esta idéia fosse uma realidade. (KOHAN, 1999, p. 9
apud ELIAS 2005, p. 13)
Lipman desenvolveu um Programa chamado Filosofia para Crianças, com o objetivo
de desenvolver o pensamento crítico e criativo nos alunos, ou seja, o desenvolvimento de
habilidades cognitivas por meio de temas filosóficos em uma linguagem acessível às
crianças. Inicia as crianças no mundo da Filosofia. O professor conseguiu, através de seu
trabalho, com que vários países aplicassem sua proposta.
Segundo TOMELIN/SIEGEL, Lipman observa que, para alguns educadores ensinar a
pensar é muito trabalhoso, e não resulta positivamente em curto prazo. O filósofo investigou,
diante disso, os resultados que podia obter com uma prática diferenciada levando em conta as
operações do pensamento. Identificou, então, a necessidade de se propiciar um ambiente de
questionamento e liberdade para observar, comparar, ou supor. Na visão lipmaniana, esta
prática auxilia o desenvolvimento da autonomia do pensamento (2007, p. 165).
Matthew Lipman acreditava que fazer filosofia não é uma questão de idades, mas de
habilidades em refletir sobre o que se considera importante. Daí a importância de se educar
para o desenvolvimento do pensamento reflexivo, e do pensar criativo.
Foi procurando pensar criativo que se elaborou um plano de aula buscando
contemplar esta educação para o pensar. Para que os alunos pudessem refletir sobre o que
estava sendo discutido, e estimular a capacidade de comparar e questionar.
O plano de aula elaborado no tema Nutrição, teve como objetivo geral refletir sobre o
tema, relacionando-o com uma alimentação saudável. Os objetivos específicos do plano
foram:
•
Identificar os motivos pelos quais nos alimentamos;
•
Compreender o que é necessário para uma alimentação saudável;
4
•
Fazer os alunos pensarem sobre o assunto “nutrição e alimentação saudável”, e
relacionar com o seu dia a dia.
Buscou-se, ao ser lançada a pergunta: “Porque comemos?”, respostas de acordo com
aquilo que as crianças mais gostam de fazer, que é comer. Para eles, não importa o que
alimenta de forma saudável, mas, o que mata a fome. E, por sua vez, o que é mais gostoso. O
paladar é muito importante para as crianças, assim como a aparência do alimento. Ao sentir
fome, a criança busca o alimento. E isso é uma lição. As crianças não comem, ao não ser que
estejam com fome. Com a pergunta lançada, porém, as crianças puderam pensar e refletir
realmente, sobre qual a função do alimento, e por quais razões precisamos nos alimentar
quando a “barriga está roncando”. E porque não se pode comer “qualquer coisa”.
Na sala do encontro presencial, foi aplicada uma atividade prática com o objetivo de
fazer os alunos pensarem sobre uma alimentação saudável. Foi mostrada na atividade quatro
tipos de alimentação em cestos com porções de comida, e com alimentos naturais e
industrializados. Apenas um dos cestos continha uma alimentação saudável e equilibrada. Os
outros continham porções desequilibradas de alimentos. A proposta é que os alunos
discutissem em equipes e identificassem as razões pelas quais, cada tipo de alimentação era
ou não saudável, e explicar quais seriam as conseqüências de uma pessoa que se alimentasse
com apenas um determinado tipo de alimentação.
O mais interessante é conscientizar as crianças de que são inteligentes e que podem
sim fazer boas escolhas quando se fala em alimentação. E gratificante é que puderam
descobrir sozinhos que dar preferência a alimentos que nos mantêm saudáveis é a melhor
escolha. Isto nos remete à manutenção da saúde, um dos pressupostos contidos nos
Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino de saúde.
Lipman e seus colaboradores na obra Filosofia na Sala de Aula, pontuam esta questão
de não trabalhar com resultados prontos com os alunos (2001, p. 32 apud ELIAS, 2005, p.
69).
Os significados não podem ser partilhados. Eles não
podem ser dados ou transmitidos às crianças. Os
significados precisam ser adquiridos: eles são capta e não
dados. Temos que aprender como estabelecer as condições
e oportunidades que capacitarão as crianças, com sua
curiosidade natural e ansiedade por significados, a se
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apoderarem das pistas adequadas e, por si mesmas,
imprimirem significados às coisas.
Muito mais objetivo seria, apenas transmitir aos alunos quais alimentos seriam mais
saudáveis, e a quantia de alimentos que devemos ingerir de cada um deles. Neste sentido,
porém, na haveria vivência do tema, não seria oportunizado a descoberta do significado da
alimentação. E não seria refletido, pensado e questionado, problematizado o tema.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Reconhecer a importância do educar para o pensar, acredito ser um ponto de partida
para que a prática educativa prepare o aluno para a vida, reconhecendo o missão da escola de
ensinar a criança a viver no mundo.
Valorizar a capacidade de pensar dos alunos é possível. É, ainda, papel fundamental
da escola desenvolver o pensamento crítico dos alunos, e criar cidadãos ativos e
participativos no mundo, com criatividade e sensibilidade.
O significado do aprendizado toma outro sentido quando a criança aprende
vivenciando todo o processo de ensino-aprendizagem. Não apenas, por exemplo, comer o que
está posto na mesa, como foi contemplado no plano de aula. Mas, enfim, saber o “porque e
para que” comer as verduras, frutas, os doces de forma moderada e cuidar, enfim, da saúde do
corpo. Porque as crianças não podem saber disso? Porque não podem filosofar? Será que
estão privadas de pensar?
Uma postura diferenciada dos educadores neste sentido vai proporcionar ma educação
que contemple o pensar, refletir, questionar e comparar. Se as crianças já são críticas, cabe ao
educador saber também ser crítico e ainda mais criativo no educar.
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REFERÊNCIAS
ELIAS, Gizele G. Parreira. Matthew Lipman e a Filosofia para crianças.
Universidade Católica de Goiás. Goiânia, 2005.
RAMALHO, Priscila. O Pensador que levou a prática para a escola. Revista Nova
Escola. Grandes pensadores, 2008, p. 25 – 27.
TOMELIN, Janes Fidélis. SIEGEL, Norberto. Caderno de Estudos: Filosofia Geral
e da Educação. Centro Universitário Leonardo da Vinci. Indaial, ASSELVI, 2007.
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APÊNDICE A – Plano de aula elaborado para aplicação na sala do encontro presencial
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PLANO DE AULA
TEMA: NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL
OBJETIVO GERAL: Refletir sobre o tema Nutrição, relacionando-o com uma
alimentação saudável.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
Identificar os motivos pelos quais nos alimentamos;
Compreender o que é necessário para uma alimentação saudável;
Fazer os alunos pensarem sobre o assunto “nutrição e alimentação saudável”;
DESENVOLVIMENTO:
Através de figuras fazer a introdução do tema nutrição.
Perguntar aos alunos: “Por que nos alimentamos?”.
Depois de ouvir as respostas, explicar os principais motivos pelos quais nos
alimentamos através de uma apresentação, na qual será respondida a pergunta tema da aula e
abordado os alimentos necessários para se ter uma alimentação saudável.
Realizar uma atividade prática sobre o tema alimentação saudável.
Realizar uma degustação de um alimento saudável: Patê de beterraba com pão.
ATIVIDADE PRÁTICA DE ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL:
Objetivo: Fazer os alunos pensarem sobre qual alimentação mostrada na atividade é a
mais saudável. Dividir a turma em quatro grupos. Entregar para cada grupo uma cesta
contendo os seguintes alimentos:
Cestinha 1: Doces, refrigerantes e salgadinhos
Cestinha 2: Vegetais e frutas
Cestinha 3: Arroz, carne, feijão, leite e pão
Cestinha 4: Um pouco de alimentos de cada cesta.
Pedir para que o grupo analise o conteúdo da cesta. Escolher entre si um integrante
para que fale a respeito dos alimentos. Fazer com que os alunos pensem e avaliem sobre o
que aconteceria se o ser humano se alimentasse com apenas aquele tipo de alimento.
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Explicar de acordo com o esquema abaixo:
Cestinha 1: engordaria e não teria saúde pois os doces, refrigerantes e salgadinhos
não alimentam de verdade, só servem para engordar.
Cestinha 2: emagreceria, não teria energia para brincar, estudar, trabalhar, não
cresceria o suficiente. Apesar de as frutas e verduras serem alimentos bastante saudáveis não
se pode comer somente esses tipos de alimentos.
Cestinha 3: Poderia ficar doente com facilidade, não cresceria direito, etc., pois estão
faltando alimentos importantes como as frutas e os vegetais que contêm substâncias
importantes para o desenvolvimento e saúde das pessoas.
Cestinha 4: Saúde! Energia e força para as atividades, além de crescer corretamente
pois come alimentos de diversos tipos. Explicar que não precisa deixar de comer nada, apenas
ter cuidado com a quantidade que se come e os tipos de alimentos que se escolhe.
Nós somos seres inteligentes e podemos fazer boas escolhas, como por exemplo, dar
preferência aos alimentos que nos mantêm saudáveis (como pães, massas, arroz, feijão,
frutas, verduras, carnes e leite).
MATERIAL NECESSÁRIO:
4 cestinhas contendo diversos tipos de alimentos, sendo:
1 cesta com doces, refrigerantes, salgadinhos
1 cesta com vegetais e frutas
1 cesta com arroz, carne, feijão, leite e pão
1 cesta com um pouco de alimentos de cada grupo
Figuras de alimentos para introdução do tema;
250g de patê de beterraba;
Torradas para degustação;
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