Setembro 2013
N° 29
Carta dos Amigos de Ana de Guigné
Na presença de Deus
Ana de Guigné não termina de nos surpreender! Vendo-a passar sem alguma
dificuldade, como se fosse natural, de um tempo de oração à uma animada
brincadeira, perguntamo-nos juntamente com a sua prima Helena: “Será porque
não deixa nunca o seu Deus?” Como pode Ana, tão fervorosa, dar tanta
importância a atividades tão infantis quanto à oração? Aí reside o segredo da sua
vida interior.
A intuição de Helena é justa: sua prima vive habitualmente, pela fé, na
presença desse Deus de quem se sabe amada, e esta presença unifica todos os
aspetos da sua vida. É tão importante para Ana brincar quanto aplicar-se no seu
trabalho escolar ou recolher-se um instante num degrau das escadas. Deus está em
todo o lado, está na sua alma pois Ele compraz-se especialmente na alma dos
justos, e ela mantem continuamente o olhar do seu coração dirigido para Ele, tal
como uma flor de girassol que segue o curso do sol. “Oculi mei sempre ad
Dominum – Mês olhos estão sempre voltados para o Senhor” (Salmo 24). A
brincadeira será em consequência mais fraterna, o trabalho mais cuidado, o
recolhimento mais fácil e profundo.
Permanecer na presença de Deus é também cumprir a sua vontade, expressão
do seu desígnio de amor sobre nós. Pois Deus está inteiramente presente na sua
vontade que consiste essencialmente no cumprimento do dever de estado. Deus
não espera de Ana senão a oferta quotidiana dos seus pequenos trabalhos
escolares, das suas brincadeiras, das suas alegrias e penas, com o maior e mais
puro amor possível.
E como será para nós?
Viver na presença de Deus, sem cessar sob o seu olhar… Que penitência,
pensamos nós! “O olhar estava no sepulcro mirava Caim” (Victor Hugo)
Mas esse olhar pousado sobre nós, se nos julga e sonda, não é no entanto um
jugo pesado. É o olhar do Criador que nos mantem no ser, o olhar o Pai que ama e
infinitamente misericordioso, o olhar do Salvador terno e compassivo, o olhar do
Amigo e do Esposo que nos conhece perfeitamente e nos convida incessantemente a comungar da sua intimidade: “Permanecei no meu amor…”
ISSN 2102-7838
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Carta dos Amigos de Ana de Guigné
N° 29
Responder a esse olhar com o nosso, permanecer na presença divina através
das nossas diversas ocupações não deve ser pois uma fadiga ou uma tensão, pelo
contrário! Esta presença em Deus permite-nos discernir a sua vontade, evitar o
pecado e mantem-nos na paz e na alegria. Observemos Ana tão ligeira, tão feliz…
Como fazer concretamente? Dom Godefroy Bélorgey, abade cisterciense do
século XXe autor de “Sob o olhar de Deus” dá-nos um excelente meio para nos
manter nessa cara presença. É a prática do “regresso a Deus”, que se resume em
três pontos:
– Primeiramente, pergunto-me : qual é a vontade de Deus a meu respeito?
– Em segundo lugar: tenho-a cumprido?
– Finalmente: segundo o caso, retifico a minha intenção, ou mantenho-a
intensificando o amor com o qual ajo.
Assim, multiplicando os recursos a Deus ao logo do dia, posso reposicionarme sob o olhar do meu Pai dos céus e crescer no seu amor, aderindo cada vez
mais À sua vontade.
Experimentemos! A nossa vida será transformada! A nossa fé será
progressivamente mais viva, a nossa caridade mais atuante. É a graça, que nos
podemos desejar mutuamente, pela intercessão da Venerável Ana de Guigné, no
termo deste Ano da fé.
Uma monja beneditina
© 2013 Association des Amis d’Anne de Guigné.
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Enfance et sainteté