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Rodrigo Viegas
Em busca do sucesso para as crianças
Nos programas do The Little Gym o objectivo é estimular o crescimento e o
desenvolvimento das crianças, não apenas em termos motores mas também ao nível de
componentes como a social, a emocional e a cognitiva. O objectivo, diz o homem que
trouxe o conceito para Portugal, é «preparar as crianças para uma vida de sucesso».
POR ANTÓNIO MANUEL VENDA
R
odrigo Viegas, 32 anos, queria desenvolver um projecto relacionado com o
bem-estar das crianças; isto depois
de uma passagem pelo mundo das empresas,
que tinha começado em 1997, ainda antes de
concluídos os estudos universitários. Algumas
noites de reflexão e também algumas conversas
levaram-no a perceber que um projecto daquela natureza fazia todo o
sentido. As pesquisas que fez levaram-no a descobrir o The Little Gym,
nos Estados Unidos.
[Pessoal] A ideia que tradicionalmente se associa a um ginásio é
a de actividade física. No caso do
The Little Gym, o que é que existe para além disso? E quais são
os objectivos, quando se trata de
algo destinado a bebés e crianças até aos
12 anos?
[Rodrigo Viegas] Os programas do The Little
Gym têm como objectivo estimular o crescimento e o desenvolvimento da criança, não só na
componente motora mas também na componente social, emocional e cognitiva. O objectivo
final dos nossos programas é preparar as crian-
ças para uma vida de sucesso, razão pela qual
valorizamos em particular a componente emocional, nomeadamente a auto-estima e a auto-confiança. Como dizemos no The Little Gym,
«confiança no ginásio, confiança na vida».
O conceito parece ser novo em Portugal.
Como espera que venha ser a reacção dos
será muito positiva. Existe uma sensibilização
crescente por parte da sociedade para a importância da prática de exercício físico e de um estilo de vida saudável. As famílias querem também
estimular a componente social dos seus filhos. A
componente emocional dos nossos programas
tem sido uma surpresa muito positiva para as famílias e temos tido comentários muito simpáticos ao trabalho desenvolvido nas primeiras semanas e sobre os
objectivos do projecto em particular.
E em relação às crianças?
As crianças adoram. Temos tido reacções muito curiosas. Crianças de
dois anos a dizer que querem voltar
quando vão conhecer o espaço pela
primeira vez com os pais. Temos
crianças que chegam muito antes da
hora porque querem sair de casa e ir para o The
Little Gym. Mas a alegria das crianças durante as
aulas é a melhor reacção que temos.
Que programas específicos foram desenvolvidos para as várias classes?
O programa está organizado em três grupos.
Dos quatro meses aos três anos existe o «Programa Pais/ Filhos». Os pais participam activa-
«Temos tido reacções muito curiosas.
Crianças de dois anos a dizer que querem
voltar quando vão conhecer o espaço pela
primeira vez com os pais. Crianças que
chegam muito antes da hora porque querem
sair de casa e ir para o The Little Gym.»
Fotos: Alexandre Moreira
pais portugueses com filhos ainda em idade de frequentarem os vossos programas?
Mais, que reacções têm tido nestes primeiros tempos?
O conceito é de facto novo em Portugal. Por esta
razão sabemos que o nosso principal desafio é
dar a conhecer o conceito do The Little Gym às
famílias portuguesas. Acreditamos que a adesão
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«Há que desenvolver a auto-estima e a auto-confiança de
cada criança, ouvir uma criança a dizer ‘eu sou capaz’ e ver a
sua expressão de felicidade. Esta atitude terá impacto na sua
formação e na forma como vai abordar a vida em geral.»
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mente nestas aulas. É um óptimo momento para
partilhar emoções e novas conquistas com os
filhos, ao mesmo tempo que se estimula o sentido de ritmo, a coordenação mão-olho, a linguagem e os conceitos numéricos. Dos três aos seis
anos existe o «Programa da Idade Pré-Escolar».
Trata-se de um programa de desenvolvimento
progressivo onde as crianças exploram, sem a
presença dos pais, novos desafios. São introduzidos conceitos básicos de ginástica e jogos não
competitivos de modo a desenvolver as capacidades perceptuais, sociais e cognitivas. Dos
seis aos 12 anos existe o «Programa da Idade
Escolar». Nesta idade são introduzidos exercícios mais complexos, tendo como objectivo
reforçar a auto-estima de cada criança. O programa-base acontece uma vez por semana, mas
existe a possibilidade de frequentar mais do que
uma aula por semana. Para além do «Programa
de Ginástica Progressiva», existe o «Programa
de Dança», que tem um currículo baseado em
ginástica, ‘ballet’ e sapateado, o «Programa de
Actividades Desportivas», no qual são introduzidas várias modalidades ao longo do ano, desde
o ténis ao golfe, e por último o «Programa de
Cheerleading».
Consegue em linhas gerais traçar o percurso de um bebé de quatro meses que é integrado no The Little Gym, na primeira das
vossas classes, até chegar aos 12 anos?
Pode-se falar em várias fases de aprendizagem?
Sim. Podemos falar em várias etapas de desenvolvimento e de aprendizagem. Todas elas são
desenvolvidas num ambiente divertido e não
competitivo. Aos quatro meses o bebé tem a
oportunidade de estar num ambiente social estimulante ao mesmo tempo que desenvolve a
noção de ritmo, coordenação e sentido de partilha. Por exemplo, aos 10 meses introduzimos as
bolas para estimular o conceito de partilha em
grupo. Aos três anos introduzimos de forma mais
activa as actividades em grupo, ao mesmo tempo que desenvolvemos novas habilidades. Aos
seis anos são introduzidas instruções mais técnicas. Permitimos ainda que cada criança tenha a
possibilidade de explorar, avaliar o risco e tomar
decisões. Tudo isto num ambiente acolhedor e
em segurança.
Além do desenvolvimento de capacidades
físicas, nos textos explicativos dos programas utilizam expressões como «desenvolvimento emocional», «competências sociais»,
«autoconfiança», «motivação», «comunicar
de forma criativa» ou «espírito de ‘coaching’», expressões que encontramos com
frequência no mundo das empresas. Que
benefícios podem ter as crianças ao contactarem com esta realidade, que acaba por
ser nova? Acha que, no limite, elas poderão
começar aqui a adquirir competências que
virão a ser-lhes úteis no trabalho e na vida
em geral?
Sim, sem dúvida. A nossa frase favorita no The
Little Gym é «o desenvolvimento das capacidades motoras num ambiente divertido cria confiança e contribui para uma vida de sucesso».
Acreditamos que a componente emocional
tem uma importância vital no desenvolvimento
da criança. O nosso objectivo é desenvolver a
auto-estima e a auto-confiança de cada criança,
é ouvir uma criança a dizer «eu sou capaz» e ver
a sua expressão de felicidade. Esta atitude em
criança terá impacto na sua formação e na forma
como vai abordar a vida em geral.
Referem também que «as crianças se desenvolvem melhor num ambiente acolhedor
e não-competitivo, onde o esforço para tentar fazer melhor é mais importante do que
ser melhor»...
O nosso objectivo é preparar a criança para en-
frentar desafios, definir novos objectivos e ultrapassar os mesmos de forma segura. Acreditamos que a vida é feita de conquistas, etapa após
etapa. Se cada um de nós tentar o seu melhor
poderá estar certamente entre os melhores.
Acha que esta ideia de fazer melhor e não
de ser o melhor poderá justificar-se na formação das pessoas para as organizações,
sobretudo no caso de empresas? E qual é
a sua opinião sobre a realidade portuguesa
a este nível, ou seja, nas empresas o que é
que verdadeiramente se valoriza mais nas
pessoas?
Considero que não somos suficientemente estimulados a fazer o nosso melhor ao longo do
nosso processo de formação e educação. Considero que a maioria das organizações dá pouco
valor à criatividade e à inovação. Para que isto
aconteça é necessário criar um ambiente acolhedor, onde cada um possa avaliar e tomar decisões, propor novas abordagens. As empresas
portuguesas ainda valorizam pouco esta abordagem. Continuamos a trabalhar na zona de
conforto, mas felizmente existem cada vez mais
organizações a desenvolver abordagens inova-
doras para valorizar as pessoas e os processos
de trabalho.
A propósito de empresas... Está a divulgar
o conceito do The Little Gym junto de empresas, nomeadamente junto dos respectivos departamentos de recursos humanos.
O que é que pretende com isso, ou melhor,
o que é que tem para oferecer aos quadros
das empresas?
Rodrigo Viegas
Rodrigo Viegas (n. Lisboa, 1975) é casado e
pai de dois filhos. Tem uma licenciatura em
«Gestão de Empresas», pelo Instituto Superior de Gestão (ISG) e uma pós-graduação
em «Controlo de Gestão e Performance», pelo
Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da
Empresa (ISCTE), ambos de Lisboa. Passou
por empresas como a Luságua – Gestão de
Águas, a Luma e a Promosoft, tendo nestas
duas últimas sido accionista e administrador.
Fora do trabalho, interessa-se por algumas
modalidades desportivas (ténis, ‘ski’, ‘trikke’,
ginástica), cinema, música e leitura. MSA
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Estamos a desenvolver duas abordagens. A
primeira passa por oferecer condições preferenciais aos colaboradores das empresas. Adicionalmente, as empresas podem oferecer os
nossos programas como benefícios aos seus
colaboradores, em particular o «Programa Pais/
Filhos». É um óptimo instrumento para conciliar a vida familiar com a vida profissional. Uma
outra abordagem que estamos a desenvolver é
integrar algumas sessões do The Little Gym no
processo de formação das organizações. Esta
é uma abordagem inovadora. Iremos pedir às
chefias para reflectir sobre a forma de valorizar
as conquistas e as derrotas, como podem promover a auto-confiança e auto-estima nas equipas, entre outros temas. As sessões vão ter uma
componente maioritariamente prática.
Acha que as escolas, onde as crianças têm educação física, poderiam desenvolver algo parecido com este conceito do The Little Gym?
Penso que seria excelente existir uma abordagem mais personalizada e completa.
Os programas terminam nos 12 anos. Os
adolescentes, e mesmo os adultos, poderiam prosseguir com este conceito?
The Little Gym em Portugal
O primeiro The Little Gym abriu em 1976 pelas
mãos de Robin Wes, tendo como objectivo o
bem-estar das crianças. Hoje, expande-se por
300 unidades internacionais e o currículo, mantendo-se fiel à missão definida pelo fundador,
integra as recomendações de um grupo com
diversas formações e experiências, tendo-se
tornado referência na promoção do crescimento
e do desenvolvimento progressivo das crianças
com idades compreendidas entre os quatro meses e os 12 anos. Os programas do The Little
Gym promovem o equilíbrio entre o desenvolvimento físico e o desenvolvimento emocional,
cognitivo e social das crianças, seguindo um
método estritamente não-competitivo e focado
na criação de experiências positivas e divertidas. Utilizando a ginástica e a música como instrumentos, estão estruturados para estimular a
auto-estima e desenvolver a auto-confiança.
O The Little Gym chegou a Portugal em 2008.
Após ter verificado que existia uma oferta limitada de programas para crianças, Rodrigo Viegas
tomou a decisão de implementar o conceito
no país. A paixão pelas crianças e por novos
projectos foram determinantes. Ainda em fase
inicial, o The Little Gym propõe-se crescer de
forma sustentável, baseando o seu crescimento orgânico na abertura de novas unidades nas
principais zonas urbanas do país. Para dar a
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conhecer a sua existência no mercado português,
estão a ser desenvolvidos contactos com as escolas e empresas portuguesas, no sentido de serem estabelecidos protocolos que permitam que
quer alunos, quer colaboradores tenham acesso a
condições preferenciais.
Será a equipa inicial, que passou por um processo de formação nos Estados Unidos na vertente
curricular e de serviço ao cliente, que irá apoiar e
formar a equipa de cada nova unidade. Existe um
plano de certificação para toda a equipa de professores e um sistema de avaliação permanente
de modo a verificar oportunidades de melhoria. A
equipa é multidisciplinar, com formações académicas em áreas complementares como Exercício
e Saúde, Psicomotricidade, Psicologia, Educação,
Filosofia e Gestão.
A primeira unidade do The Little Gym em Portugal
é um espaço com aproximadamente 360 metros
quadrados, onde se espera que as crianças explorem novos desafios, em grupo e de forma individual, num ambiente divertido e não competitivo.
As bases curriculares são desenvolvidas e adaptadas aos programas de campo de férias, festa
de aniversário e noite dos pais. Os programas e
actividades são organizados em função do grupo
etário (ver entrevista), sendo as aulas baseadas
num currículo anual.
Definindo como objectivo máximo preparar as
Acreditamos que faz todo o sentido continuar
a desenvolver algumas das componentes que
abordamos nos nossos programas, em particular as variáveis relacionadas com os processos
de tomada de decisão, criatividade e trabalho
em equipa, e naturalmente o desenvolvimento
emocional. Penso que acompanhar uma criança
até aos 12 anos é uma longa etapa. Queremos
contribuir com os nossos programas para fortalecer as raízes de cada criança.
Descobriu o The Little Gym nos Estados
Unidos... Como é que isso aconteceu? E o
que é que o levou a trazê-lo para Portugal?
Na sequência de algumas noites de reflexão e
conversas diversas percebi que faria sentido desenvolver um projecto relacionado com o bem-estar das crianças. Após algumas pesquisas
descobri o The Little Gym. Adorei o conceito. Fui
aos Estados Unidos conhecer a equipa, visitei
várias unidades, falei com vários donos e todos
tinham algo de mágico quando falavam do The
Little Gym. Tive a oportunidade de assistir a algumas aulas e conhecer o projecto um pouco
melhor. Fiquei apaixonado e disse o mesmo nos
Estados Unidos que me dizem com muita fre-
quência em Lisboa: «Como é que o The Little
Gym ainda não existia em Portugal?»
Que planos tem para os próximos anos?
Quer criar uma rede de espaços como este
primeiro que abriu em Lisboa?
O nosso projecto é crescer de forma sustentada. Temos como objectivo principal formar uma
equipa de excelência que possa suportar o crescimento, garantindo assim a qualidade dos nossos programas. O objectivo é estar representado
de norte a sul. Queremos abrir a nossa próxima
unidade durante o ano de 2009, mas a localização não está ainda escolhida.
Como é que passou do mundo das empresas para um mundo em que, mesmo sendo empresário, acaba por ser o mundo das
crianças? E quais é que foram as suas motivações para a mudança?
A possibilidade de desenvolver um projecto empresarial no mundo das crianças é, de facto, algo
de mágico. É essa a beleza do The Little Gym,
e a minha principal motivação, para além dos
meus dois filhos, a Matilde e o Francisco.
O que é que eles acham do The Little Gym?
Eles adoram. ■
crianças para uma vida de sucesso, toda a comunicação é desenvolvida de modo a promover
a auto-estima de cada criança. A comunicação
é feita de forma positiva, apontando-se o caminho para a sua evolução. Os programas aplicados pretendem também promover a componente social, em particular o trabalho em equipa
e o conceito de partilha.
A importância do conceito «objectivo» também é
transmitida, dando a conhecer às crianças que
existem objectivos, que os mesmos podem ser
alcançados de forma individual ou em equipa e
que há consequências em função de determinado objectivo ser atingido. Ensina-se ainda e valoriza-se a existência de instruções, podendo as
crianças receber instruções de três professores
diferentes ao longo de uma aula. Aquilo que se
pretende é promover a comunicação e a interacção com pessoas num curto espaço de tempo.
Outra componente trabalhada e fortemente
estimulada é a componente emocional, não
havendo vencedores nem vencidos. Os sucessos, por muito pequenos que sejam, são sempre comemorados. A máxima aplicada é que
«o desenvolvimento das capacidades motoras
num ambiente divertido cria confiança e contribui para uma vida de sucesso».
Pode obter-se mais informações em http://
www.thelittlegym.pt/. ALM
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