janeiro/ fevereiro 2012 - Ano XI nº A revista Educando em Mogi é um projeto da Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes por meio da Secretaria de Educação em 59 Editorial A Rede Municipal de Ensino de Mogi das Cruzes, ainda tem um grande caminho a percorrer, porém... chegamos em 2012 com prêmios conquistados e muitos elogios, principalmente dos municípios que vêm em busca de novas ideias. Dez anos de Revista Educando em Mogi retratam muito bem este incansável percurso dos profissionais para chegar ao Ensino com qualidade social para todos os mogianos. Para esta edição especial, foram selecionados excelentes projetos desenvolvidos pelos professores em sala de aula, inclusive aqueles premiados pela Câmara Municipal de Mogi das Cruzes. A implantação do Programa Escola de Tempo Integral, ousadia da atual administração, é uma das iniciativas consideradas referência para outros municípios brasileiros que, em 2012, irá beneficiar aproximadamente 15 mil alunos. Projetos arrojados nas áreas de música e artes visuais e, muito especialmente, o atendimento inovador às crianças com necessidades especiais no Pró-Escolar, também integram esta edição comemorativa, assim como a formação em serviço para todos os professores da Rede Municipal. Todas estas ações são permeadas pelo Programa de Tecnologia Educacional, que caminha a passos largos colaborando, desde a alfabetização das crianças até a educação de jovens e adultos. A conscientização sobre as questões que envolvem a sustentabilidade do Planeta, a justiça social no enfrentamento das diferenças e na formação dos alunos, valores que chegam até os jovens e adultos por meio do Centro de Apoio à Educação de Jovens e Adultos (Crescer) e do Centro de Iniciação Profissional (CIP), que atendem e oferecem a formação inicial para o mundo do trabalho, uma colaboração e incentivo à independência financeira. Ressaltamos o privilégio de nossa publicação merecer uma análise tão séria e consistente da profª Geraldina Witter, que atua em pesquisa há mais de 50 anos, sendo uma de suas áreas a de produção científica. Atuante em periódicos científicos, a especialista fez considerações valiosas para a continuidade e aprofundamento do nosso trabalho. Assim, esta edição que comemora os 10 anos da Revista Educando em Mogi é a homenagem da Secretaria Municipal de Educação a todos aqueles que contribuem com este projeto ousado de divulgação e formação de educadores. A revista parabeniza e agradece a toda esta equipe de profissionais comprometida com a Educação Integral com Qualidade Social para todos. 3 Expediente Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes Secretaria Municipal de Educação Coordenadoria de Comunicação Social Av. Ver. Narciso Yague Guimarães, 277 Centro Cívico – Mogi das Cruzes – SP CEP 08790-900 Tel.: (11) 4798-5085 Fax: (11) 4726-5304 www.mogidascruzes.sp.gov.br ■ Conselho Editorial Maria Geny Borges Avila Horle Eulália Anjos Siqueira Kelen Cristiane dos Santos Chacon Maria Estela Ribeiro Fernandes Marilda Aparecida Tavares Romeiro Safiti ■ Jornalista Responsável Kelli Correa Brito – MTB 40.010 ■ Coordenação Editorial Bernadete Tedeschi Vitta Ribeiro ■ Colaboraram nesta edição Geraldina Porto Witter Equipe de Supervisão de Ensino Equipe da Coordenadoria de Atenção Integral à Criança Equipe do Departamento Pedagógico Equipe de Supervisão do Programa Escola de Tempo Integral Kelli Correa Brito Geraldo Monteiro Neto Equipe do Departamento de Educação Não-Formal Vanessa Rodrigues Barreto Aguilar Ana Maria Sala Mesquita Patrícia Ferraz Mandaglio Tatiane Nunes da Rocha Neusa Bolanho Thiago Minami (Todos pela Educação) Gilda Piorino (Salto para o Futuro) Maria Alice Setúbal Vera Lúcia Vieira Andrea Rodrigues Barbosa Marinho Celio Knipel Moreira Lúcia Helena Martins Gonçalves Sonia Aparecida Quadra Pereira Stela Dalva Sorgon ■ Nossa capa Capas de todas edições da Educando em Mogi Fábio Faria (CCS) ■ Fotos Arquivos das Escolas Municipais Ney Sarmento (CCS) ■ Fotolito, impressão e acabamento Marpress Gráfica e Editora Av. Henrique Peres, 1.500 Mogi das Cruzes/SP Tel.: (11) 4723-6600 www.marpress.com.br ■ Projeto Gráfico Jorge Ricardo (CCS) ■ Diagramação Fábio Faria (CCS) ■ Tiragem 4.000 exemplares A Revista Educando em Mogi nº 59 é uma publicação da Secretaria Municipal de Educação de Mogi das Cruzes, por meio da Coordenadoria de Comunicação Social, e não se responsabiliza por conceitos emitidos em artigos assinados. 6 12 A Educação em Mogi - Política de Estado A ação supervisora na efetividade das Políticas Públicas buscando a melhoria da Educação com Qualidade Social 20 28 Pioneirismo em educação musical 34 40 59 67 Aluno, Professor, Aprendizagem e Formação: um caminho para a qualidade na Educação Retrospectiva dos 10 anos do Programa de Qualificação Profissional 2001-2011 Principal desafio da avaliação é promover equidade e incentivar bons educadores Educador: a missão da justiça social - Uma ação cheia de erros As paisagens mogianas e seu potencial didático pedagógico 72 Educação de Jovens e Adultos: Oportunidades e parcerias na formação docente 5 Índice 9 16 Educando em Mogi: 10 anos Educação inclusiva com qualidade social para todos: a experiência do Pró-Escolar em Mogi das Cruzes 24 31 Ensino de Artes em Mogi das Cruzes 37 A educação no Brasil, algumas considerações 44 48 62 Educação Integral em Tempo Integral Ampliando horizontes e oportunidades O Currículo: um mundo de tecnologias Prêmio Professor Nota 10 A escola e a televisão (Uma fábula nada fabulosa) 65 A importância da Educação Infantil no processo de alfabetização 69 76 Inclusão x Integração Ensino da biodiversidade em campo e uso das matrizes curriculares municipais Educando em Mogi - nº 59 - ano XI Educação em Mogi 6 Educação em Mogi – Política de Estado Especial 10 anos 7 Em seus dez anos de existência, Educando em Mogi foi testemunha da evolução da educação e da elaboração e implementação de uma política educacional de Estado em Mogi das Cruzes, fruto de duas administrações municipais preocupadas com as questões sociais, com a melhoria da qualidade de vida de seu povo e com a evolução contínua dos serviços prestados. Achamos importante que este assunto seja objeto de reflexão por todos os educadores que aqui trabalham e ajudam a construir um sistema educacional que busca a qualidade social. Para isto, transcrevemos uma entrevista com Geraldo Di Giovanni, professor doutor do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP) da Unicamp, originalmente publicada pelo Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro em seu Jornal nº 27, de março/abril de 2010. Hoje, o conceito de políticas públicas tem que ser ampliado, alargado. Inicialmente, a compreensão de políticas públicas era simplesmente uma intervenção do Estado em uma situação que a sociedade considerava problemática. Embora seja verdade que toda política pública seja uma intervenção estatal, esse conceito se amplia porque o conceito tem que incorporar do que resulta a política pública e a política pública é sempre resultado de uma interação muito complexa entre o Estado e sociedade. Essa interação tem que ser incorporada no conceito de políticas públicas. Essa nova forma de intervenção do Estado começa a ganhar muita força na última metade do século passado. Por várias razões, os Estados se tornam cada vez mais obrigados a intervir na realidade social e na econômica, particularmente após a Segunda Guerra Mundial. Primeiro, porque o modelo de política econômica dos Estados modernos mudou, passou a ser mais inspirado em Keynes, o que exigiu muito a participação do Estado. Segundo, particularmente nos países capitalistas da Europa, essas intervenções se deram no contexto da Guerra Fria. Os países capitalistas tinham que dar alguma demonstração de que o capitalismo podia atender as necessidades das populações. Outra razão é que, de fato, no século XX, houve um grande crescimento dos direitos de cidadania. Foi aí que cresceram os sistemas de Previdência, Saúde, Educação. Isso tudo vai marcando a presença do Estado nessa interação com as demandas da sociedade. Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes 1) Em sua opinião, o que são políticas públicas? Educação em Mogi 8 Educando em Mogi - nº 59 - ano XI 2) Qual é a diferença entre política pública, de Estado e de governo? Outro fator importante nesse contexto de direitos é que o próprio conceito de democracia mudou. Antes, via-se democracia como simples direito de votar e ser votado. Hoje, considera-se Estado democrático aquele que responde às demandas sociais. Nesse contexto, foi surgindo uma nova forma de relação entre Estado e sociedade, uma nova forma política. A política pública deixa de ser uma simples intervenção do Estado e passa a ser uma nova forma de exercício do poder numa sociedade democrática. Isso acontece em âmbito quase planetário. As políticas públicas são fruto da democratização da sociedade moderna, onde os cidadãos, instituições, organizações sociais, movimentos sociais e organizações não-governamentais participam mais. Ou seja, as instituições atuam como agentes políticos, pressionando, refazendo a agenda do estado. Em geral, diz-se que as políticas de Estado são aquelas que conseguem ultrapassar os períodos de um governo. Ou seja, políticas públicas são políticas de Estado ou políticas de governo. A diferença entre aquilo que é política de Estado e o que é política de governo é a maneira como elas são institucionalizadas. Se elas são fortemente institucionalizadas em uma sociedade, não há quem as mude. Não adianta trocar o governo. Um exemplo disso é o Bolsa-família. Dificilmente, se houver um governo diferente do atual, ele vai mexer nesse programa. Hoje, existe uma concepção social de que esse tipo de assistência aos pobres é um requisito da sociedade moderna. Outro exemplo é o que aconteceu com a política econômica do governo anterior, que o governo atual adotou. A política macro-econômica é igual. Então, a política de estabilidade monetária, que é uma política pública, é uma política de Estado. As políticas de governo são aquelas têm menor durabilidade, com institucionalização mais fraca. Tanto a política do Bolsa-família quanto a política econômica atual estão muito institucionalizadas; vai ser difícil mexer nelas. 3) Como a sociedade civil pode efetivamente participar das políticas públicas? Exercendo o controle social, quando elas já estão ativadas, e também identificando questões sociais e fazendo com que elas entrem na agenda pública que é o rol de necessidades sociais para a qual a sociedade leva o estado a se debruçar. Isso pode ser feito através das organizações, seja da sociedade civil ou políticas, como partidos, sindicatos, movimentos sociais, conselhos etc. Esse compromisso social depende muito dos valores das pessoas e das instituições. Há grupos que são francamente vinculados a valores de mercado, outros não. As políticas públicas são também um campo de conflito. 9 10 anos Entre as formas de comunicação, o texto (impresso ou on line) tem características de potencial de impacto, durabilidade, recuperação e retenção da informação e possibilidades de graduação de dificuldade que o tornam muito eficaz como instrumento para a capacitação, atualização e mesmo a informação das pessoas. Nestas circunstâncias, não é de estranhar que a publicação textual venha crescendo mundialmente, tanto em papel como virtualmente. Muitas revistas comerciais, técnico-científicas e mesmo de divulgação já existem nas duas formas (papel e on line). Também não é de estranhar que os organismos responsáveis pela Educação se ocupem em produzir conhecimento (pesquisas sólidas), dividir seus resultados e oferecer aos pais e profissionais uma base para cuidar de seu desenvolvimento pessoal. É um movimento institucional que se intensificou com as possibilidades tecnológicas hoje disponíveis. A Secretaria Municipal da Educação da Prefeitura de Mogi das Cruzes desenvolveu um grande esforço para se inserir neste contexto conforme se verifica no periódico Educando em Mogi pelo qual ela é responsável. Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes Geraldina Porto Witter Especial 10 anos Educando em Mogi: 10 Educação em Mogi Crescer em 10 anos Educando em Mogi - nº 59 - ano XI Educando em Mogi A revista se insere, pelo seu conteúdo e dependência administrativa, na área educacional. Representa um esforço e empenho que começou em 2001 (vol.1, nº 1) e já completou 10 anos superando o famoso mal dos sete anos que é, para muitos periódicos, seu limite de vida. De fato, manter um periódico científico ou de divulgação científica é uma atividade muito complexa, difícil, de alto custo em recursos financeiros e em tempo dispêndio por pessoas especializadas. Mesmo as revistas de cunho mais documentário, informativos e de ampla difusão são muito difíceis de manter, como é o caso de Educando em Mogi. Só por implantar e conseguir manter o recurso informativo, a Secretaria da Educação merece admiração e cumprimentos. Mas só elogiar não cumpre plenamente o papel de quem a analisar. Sabe-se que é possível colaborar mais para que o veículo de comunicação educacional abranja objetivos mais eficientes para a melhoria da qualidade da educação. Nestas circunstâncias se fará aqui uma sucinta análise dos aspectos internos e externos de Educando em Mogi e posteriormente algumas sugestões para que alcance nível mais avançados em revista destes tipos associados a órgãos educacionais, como ocorre em outras instituições similares. Os dez anos de vida de Educando em Mogi merecem algumas considerações. A revista foi sendo progressivamente melhorada e o número de páginas ampliados, começou com 12 páginas de textos e alcançou 40. A qualidade e visual do Educando foi também se aprimorando gradativamente inclusive tornando o contato físico mais agradável. Esteticamente vem crescendo, sem exageros e sem perda de valor educacional. O expediente se estruturou e cresceu com um quadro de colaboradores. A regularidade na editoração é um ponto alto no empenho dos envolvidos, garantindo um aspecto relevante em qualquer prisma de editoração. Para considerar quem responde efetivamente pelas matérias publicadas focou-se a autoria. Inicialmente vale considerar o gênero dos autores. O esperado é que tanto homens, como mulheres contribuam substancialmente em todos os setores, de forma equilibrada. Entretanto, na Área Educacional, especialmente em países como o Brasil, prevalecente a presença feminina, embora as áreas de maior poder de decisão fiquem ainda nas mãos masculinas (Buriti, Witter e Witter, 2007). Assim sendo não é de estranhar que a participação do gênero masculino (7,69%) seja muito menor que a do feminino (9,23%) já no primeiro número e esta situação ainda tenda a perdurar. No primeiro número (nº 55) do X ano, o quadro foi de 7,69% de textos assinados por homens e 92,31% por mulheres. O quadro se repete ao longo do período, em raras as ocasiões cresce a presença masculina, como no número 56 em que 33,33% eram gênero masculino assinaram textos, ou em colaboração, ficando a participação feminina com 66,67%. A presença marcante de textos sobre esportes pode estar subjacente. Mas é evidente que se está diante de uma revista de produção essencialmente feminina. Todo número conta com editorial e alguma matéria informática sem autoria específica, mas provavelmente originária de secretária ou dos responsáveis mais diretos pela revista. Os informativos foram reduzidos ultimamente. No número 1, sete destes textos foram localizados, o que no nº55, ou seja, o primeiro do X ano, apenas dois se fizeram presentes. Isto é indício de que houve redução de monopólio de falas oficiais. Para uma avaliação mais específica seria necessário cruzar a informação com os nomes que constam como responsáveis pela revista. É tolerável que até 20% da matéria seja da autoria dos responsáveis direitos (diretores, administradores, corpo editorial), é preciso rever a política de editoração para torná-la mais compatível com valores democráticos, tornando-a mais aberta e com deliberação sobre aceite ou não da matéria por um corpo editorial com normas transparentes. Cabe então indagar a que público se destina Educando em Mogi. Revistas vinculadas a órgãos públicos podem ser informativas quanto às atividades de órgãos para públicos de níveis diversos. Sua amplitude de abrangência depende do número de exemplares produzidos, de como são distribuídos e de como chegam aos seus consumidores potenciais. Além de outras características de formato, conteúdo, nível de discurso. Também podem ser formativos se ocupam em repassar novas tecnologias, procedimentos, estratégias e formas de saber-fazer-poder para assegurar capacitação, formação, atualização permanente do profissional para obter melhores resultados. Este últimos tipo é o dominante nos países mais avançados e tem uma abrangência maior. Muitas são produzidas em papel e on line para maior difusão. Pode ser uma segunda linha de publicação mais avançada ou implicar em uma nova diretriz de publicação abrindo espaço no primeiro tipo para sessões informativas, reportagem, sessões para pais, sessões para docentes e para gestores naturalmente em níveis e tipos de discursos bem diferenciados em termos de alvos a serem atingidos. Considerações Finais Nova década se inicia é um momento para festejar, mas também para se repensar o grande esforço financeiro e de recursos humanos, reconsiderar as metas gerais a atingir com a revista. Isto pede pesquisas para sustentação, não apenas opiniões. É tempo de fazer um trabalho de metaciência para se dispor de dados, direcionar mais objetivamente os alvos. Cabe uma análise sobre potencial para mudar a realidade mais do que fazer sugestões. As muitas batalhas vencidas mostram a necessidade de lutas mais profundas. Que se tenha coragem e força para autosuperação. Geraldina Porto Witter é doutora em Ciências, livre-docente em Psicologia Escolar; professora Emérita da UFPa, do UNIPÊ e da UNICASTELO, coordenadora da Extensão e do Comitê de Ética em Pesquisa da UNICASTELO e membro da Academia Paulista de Psicologia. Referências bibliográficas: Prefeitura do Município de Mogi das Cruzes, Secretaria da Educação. Educando em Mogi, volume 1 a 10, 2002-2011. Buritti, M. De ª, Witter, G.P. (orgs.). Produção Científica e Psicologia Educacional. Guararema, SP: Anadarco, 2007. Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes Em termos de temas tratados nos vários números há uma grande variação, o que é esperado face a complexidade educacional. Em alguns números, quase que totalmente temáticos aparecem assuntos de estação: dia do professor, aniversário da cidade, índio, educação ambiental, além de olimpíada escolar etc. A revista como nasceu, continua sem sessões, desmarcadas para assuntos temáticos específicos e que devem ser preocupações constantes de quem trabalha com a educação. Isto dificulta estabelecer para ela um perfil técnico-científico. Acabam por não compor um corpo de conhecimento sistemático cumulativo e útil à prática educacional, ficando sua aplicabilidade diluída e dependente de variáveis aleatórias. A grande maioria dos textos tem características de reportagem de eventos comemorativos e educacionais que evidenciam o fazer educação no sistema municipal ou relatam vivências ( vinculadas ou não a concursos) de docentes de algumas classes. Iniciativas elogiáveis, criativa mas com baixo potencial de reaplicabilidade dada a superficialidade e generalidade com que a matéria é exposta. Ficam muito aquém do discurso técnico e ainda mais distante do esperado cientificamente. É um risco ético, científico, tecnológico imensurável tentar usar o realizado em outro contexto e em outra classe. Quando muito, são boas sugestões para outros docentes mas não podem, sem alto risco, serem considerados reaplicáveis. Mas sempre é uma luz, um fio de esperança pela existência de pessoas que se empenham de fato em busca de melhores patamares. É evidente nas reportagens e relatos o apoio existente quer na comunidade, entre os pais, o corpo administrativo, o corpo docente, o estímulo da secretária e outros órgãos governamentais. Há informações mas apresentada de modo a não gerar evidências técnico-administrativas que valorizam, sustentem e assegurem o uso posterior com ética e segurança. Isto requer ir muito além de informar e receber a informação, pode gerar, testar, usar, retestar sucessivamente até se ter um conhecimento científico comprovado. Acontece que no Brasil, a tradição de pesquisa científica, de capacitação científica do docente foi esvaziada ao longo do tempo. O discurso “parece válido” por si mesmo quando isto é considerado abominável em países avançados. O discursos técnico-científico tem um tipo de beleza diferente do literário e poético. É preciso dominar técnicas especiais de leitura, que diferem das literárias que se ensina na escola brasileira como válidas para qualquer conteúdo de texto. Especial 10 anos 11 Educando em Mogi - nº 59 - ano XI Educação em Mogi 12 A ação supervisora na efetividade das Políticas Públicas buscando a melhoria da Educação com Qualidade Social A educação pública com qualidade social deve ser acessível a todos, parafraseando GRAMSCI (2004:101), devemos ter em vista o combate às profundas desigualdades existentes em nosso país e fundar uma Escola Cidadã. A Secretaria Municipal de Educação de Mogi das Cruzes (SP) conta com uma equipe de supervisão de ensino dividida em dois segmentos: atendimento à rede conveniada e atendimento à rede municipal. Desta feita, a equipe de supervisão de ensino da rede conveniada observou a necessidade da melhoria da prática educativa destas escolas. Paralelamente, a equipe de supervisão da rede municipal constatava que a concepção de avaliação de aprendizagem que permeava a gestão das unidades escolares pautava-se por uma abordagem limitada. No que diz respeito às avaliações institucionais externas e internas, os resultados encerravam-se em si mesmos, não redimensionando as ações pedagógicas. A partir disso, foi necessário articular os diversos Departamentos da Secretaria Municipal de Educação a fim de buscar maneiras para que as escolas conseguissem visualizar a importância da utilização dos resultados das avaliações como mecanismo de retroalimentação da prática da gestão nos diversos aspectos que envolvem o ensino e a aprendizagem. A construção da ação supervisora A ação coletiva da equipe de supervisão escolar, por meio de análises e estudos das avaliações externas, desenvolve desde 2004 um trabalho baseado em visitas focadas às unidades escolares nos aspectos de infraestrutura, currículo/ aprendizagem e gestão, promovendo avaliações institucionais internas, mapeando e acompanhando a gestão escolar do Sistema de Ensino municipal. No ano de 2006, tendo o município implantado a Vigilância Sanitária Municipal iniciou-se um trabalho conjunto entre as secretarias municipais de Educação e Saúde para a verificação dos espaços nas escolas de educação infantil, tanto municipais quanto conveniadas. A partir daí, reforçou-se a necessidade de investimentos na infraestrutura dos espaços físicos das escolas conveniadas, tendo em vista que estas se encontravam em casas adaptadas. Essa constatação fez com que houvesse um novo redirecionamento das políticas públicas, corroborado pela avaliação externa contratada (Ação Social e Políticas Públicas Ltda) no final de 2007 e avaliação interna da equipe supervisora no início de 2008. Após analisar os dados, a Secretaria Municipal de Educação solicitou às entidades mantenedoras das escolas conveniadas que indicassem terrenos próximos as suas unidades a fim de que houvesse a construção de prédios para a transferência das mesmas. Assim, ao elaborar seu plano de governo a atual administração se propôs a construir, no período de quatro anos, 40 prédios escolares, sendo 15 para novas unidades e 25 para substituir os prédios alugados. Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes Equipe de Supervisão de Ensino Deste modo, buscou-se: ■ identificar as potencialidades e fragilidades da gestão da rede municipal e conveniada do Município de Mogi das Cruzes para apropriar-se dos resultados de avaliações institucionais (externas e internas) a fim de promover mudanças; ■ desencadear junto às unidades escolares a importância de utilização das avaliações como instrumento de melhoria na qualidade social de ensino; ■ desenvolver ações que propiciassem a formação contínua dos diferentes profissionais de educação do Sistema Municipal, tendo em vista a análise dos aspectos frágeis apontados pelos indicadores das avaliações institucionais. Especial 10 anos 13 Educação em Mogi 14 No início de 2009, o trabalho conjunto entre as secretarias municipais de Educação e Planejamento para o estudo e desenho arquitetônico conforme as normas técnicas exigidas pela Vigilância Sanitária Municipal e aprovadas pelo Conselho Municipal de Educação, culminou com um projeto padrão para estes 40 prédios, objetivando ao mesmo tempo a qualidade do espaço físico e ampliação do atendimento à demanda, ou seja, de 50 crianças atendidas por unidade, que também não ofereciam berçário, para 110 crianças por unidade com berçário. Esse trabalho com o intuito de avaliar com mais profundidade e utilizando-se de intervenções pautadas na missão da Secretaria Municipal de Educação no tocante ao atendimento educacional com Qualidade Social para todos, vem culminando na construção/reconstrução de Políticas Públicas efetivas. Educando em Mogi - nº 59 - ano XI Investimento na formação dos educadores das conveniadas Como estratégia de implementação desta política pública, a equipe de supervisão da rede conveniada definiu a cada visita focada o rol de informações a serem coletadas nas escolas tendo em vista o aspecto a ser avaliado. A partir da tabulação dos dados era emitido um relatório conclusivo. Os dados disponibilizados subsidiavam o redimensionamento das políticas públicas, desencadeando ações visando o atendimento às necessidades observadas. Além das visitas, a equipe promoveu ações integradas, como: • cursos de formação, tais como: A arte e os contos de fadas na Educação Infantil; Infância e história: arquivos e memórias das creches mogianas; Terceiro Setor: importância, deveres, responsabilidades; Manipulação de alimentos; Normas de convivência: criança, família e comunidade; Violência: responsabilidades atingindo os diversos segmentos da sociedade, Registro do cotidiano e elaboração do PPP, entre outros; ■ reuniões mensais - com as pedagogas, com as mantenedoras e funcionários administrativos; ■ visitas pedagógicas e culturais - Museu da Língua Portuguesa, Catavento Cultural, Museu do Folclore, etc; ■ subsídios pedagógicos - folderes, elaboração de pautas, apostilas, entre outros. Integração entre as equipes Diante da necessidade de discutir estratégias da equipe e viabilizar a unidade do trabalho, instituiu-se o GEAS – Grupo de Estudo da Ação Supervisora com periodicidade semanal, onde, conforme as necessidades levantadas, articulasse ações com os demais departamentos. A equipe de supervisão das escolas municipais de Educação Infantil e de Ensino Fundamental, que antes individualmente elaborava roteiro de visita, alinhou a sua atuação e definiu um roteiro com caráter investigativo e interventivo nos processos internos da gestão escolar, com foco no movimento avaliativo e reorganizador das ações educativas, uma vez percebido que os resultados das avaliações não eram discutidos pelas equipes escolares e nem mesmo redirecionavam as ações educativas das mesmas. Foram focados os seguintes aspectos: ■ currículo/aprendizagem - planejamento das aulas e o acompanhamento da gestão escolar até o levantamento das causas que motivaram os índices de retenção e aprovação dos alunos, frente ao desempenho dos mesmos no ano subsequente; ■ recuperação da aprendizagem; ■ frequência; ■ gestão - projetos desenvolvidos; ■ espaços e tempos promovidos para análise e discussão sobre o desempenho do trabalho realizado; ■ análise dos olhares da gestão quanto às possíveis causas do fracasso e do sucesso escolar dos alunos; ■ estratégias de acompanhamento e assessoramento pedagógico, curso de legislação e Pró Gestão; ■ infraestrutura - necessidades humanas, físicas e materiais. Os relatórios finais eram fundamentados teoricamente e analisados conforme as políticas existentes. Após a conclusão, os mesmos eram encaminhados para a secretária municipal de educação. Após a análise, as informações impulsionavam a elaboração ou reelaboração de novas políticas públicas e articulações com os demais departamentos na busca de redirecionamento das ações das redes de atendimento. Especial 10 anos 15 Essa ação redimensionadora, enfocando os aspectos de infraestrutura, currículo/aprendizagem e gestão, tem sido o diferencial da ação supervisora, reconhecida como experiência exitosa em gestão municipal da educação. Tendo como público-alvo as crianças em idade de creche e pré-escola, bem como do Ensino Fundamental de Mogi das Cruzes, o alcance dos objetivos propostos pela ação supervisora se faz perceber nos resultados que se seguem: 1. Indicação para inclusão no Plano de Governo da meta de construção de novos prédios para acolher as creches conveniadas instaladas em prédios alugados, de modo a garantir a melhoria da qualidade de ensino. ■ A atual administração incluiu esta meta em seu Plano de Governo. O objetivo é construir 40 prédios em quatro anos, sendo 25 para troca de prédios alugados e 15 para novas unidades. Para esta ação determinou a adoção da concepção desenvolvida em parceria pelas secretarias municipais de Planejamento, Educação e Saúde, da instalação de projeto arquitetônico único com identidade própria (espaços que valorizem os aspectos: lúdicos, de integração, de leitura, de civismo e das diferentes manifestações artísticas e culturais) a ser implantado pelo Governo do Estado de São Paulo em parceria com as Prefeituras, objetivando a construção de 1,5 mil unidades em quatro anos. ■ Com estas decisões observou-se a valorização da comunidade local, tendo em vista a implantação do mesmo padrão arquitetônico tanto na região central quanto na periferia e a valorização e procura de vagas motivadas pelas instalações e equipamentos oferecidos, devido ao seu layout. 2. Formação de comissão com representação dos diferentes profissionais do magistério para a construção das Diretrizes Curriculares para a Educação da Infância e das Matrizes Curriculares Municipais. 3. Conscientização dos professores de educação infantil e séries iniciais sobre a necessidade de aprofundamento entre a teoria e a prática da construção da base alfabética. 4. Articulação dos Departamentos: Pedagógico, Planejamento e Coordenadoria do Pró-Escolar visando o redirecionamento das ações da Secretaria Municipal de Educação. 5. Mobilização das equipes de supervisão da rede municipal e conveniada quanto à avaliação e intervenção nos aspectos de infra-estrutura, currículo/aprendizagem e gestão. 6. Redimensionamento na utilização dos resultados das avaliações institucionais externas e internas pelas escolas, com o estabelecimento de metas, nas Propostas Pedagógicas, especialmente nas escolas de Ensino Fundamental, proporcionando a melhoria nos índices do IDEB. 7. Redirecionamento da formação contínua com base na constatação da ação supervisora junto às escolas. 8. Revisão na setorização do município, implantação e implementação do Cadastro Municipal Unificado. Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes Resultados da Ação Supervisora Educando em Mogi - nº 59 - ano XI Educação em Mogi 16 Educação inclusiva com qualidade social para todos: a experiência do Pró-Escolar em Mogi das Cruzes Equipe da Coordenadoria de Atenção Integral à Criança O projeto para implantação de um Centro de Apoio aos educandos com necessidades educacionais especiais surgiu em 2004 a partir da implantação de uma sala de recursos para deficiência visual no Centro de Iniciação Profissional (CIP), no Mogilar. Com a necessidade de atendimento de alunos em outras áreas de deficiência surgiu a ideia do Centro de Apoio, que até então era ligado ao Departamento Pedagógico da Secretaria Municipal de Educação. A proposta foi consolidada no segundo semestre de 2004 com a designação de uma coordenadora, que visitou várias instituições de atendimento a pessoas com necessidades especiais e sugeriu o levantamento e coleta de dados de alunos com necessidades educacionais especiais das escolas municipais de Mogi das Cruzes para verificar a demanda existente na no município. O projeto inicial do Centro já visava a estrutura, a equipe multiprofissional e o tipo de atendimento realizado atualmente. Em 2005, o levantamento identificou que realmente era necessária a implantação de um Centro, que atendesse diferentes tipos de deficiência. Neste período, a sua equipe, ainda em formação, visitava as escolas para o acompanhamento de alunos no processo de inclusão e orientação para o professor e comunidade escolar (SAPI – Serviço de Apoio Pedagógico Itinerante, atividade que até então era vinculada ao Departamento Pedagógico), além de realizar acompanhamento de casos emergenciais por meio de parcerias com instituições e órgãos públicos e ministrar palestras, cursos e atividades para os professores e pais de alunos com deficiência. No ano seguinte, foi instalada a sala de recursos para deficientes auditivos, oferecendo atendimento à família e aos alunos e também orientação específica ao professor do ensino regular com deficientes auditivos em sala de aula. Em 2007, a equipe do Centro de Apoio passou a fazer parte da Coordenadoria de Atenção Integral à Criança, ligada à Secretaria Municipal de Educação. Neste ano, também teve início a Avaliação de Alunos com Hipótese de Serem Portadores de Necessidades Educacionais Especiais com profissionais da equipe de avaliação multi e interprofissional e a licitação para a construção da sede própria. Em 27 de dezembro de 2.007, a Lei Municipal nº 6.095 criou o Centro de Atendimento ao Portador de Necessidades Especiais – Pró-Escolar, que tem como patrono Ricardo Strazzi. A sede própria foi inaugurada em março de 2008 de acordo com as normas técnicas de acessibilidade, além de equipamentos adequados para o atendimento de alunos em diversas áreas de deficiência. Neste ano, houve a estruturação do trabalho com a chegada da equipe de profissionais. Foi um momento de construção e formatação do trabalho a ser desenvolvido pelas equipes de avaliação e intervenção, como é realizado até o momento. Em 2009, a equipe do Pró-Escolar recebeu o apoio das profissionais do SAPI – Serviço de Apoio Pedagógico Itinerante, que realizam o trabalho de orientação aos professores nas escolas. Em 2010, foi realizado o concurso para contratação de profissionais efetivos para as equipes que até então eram contratados por meio de processo seletivo simplificado. Na prática A Prefeitura de Mogi das Cruzes investe com recursos próprios em uma política pública arrojada para a educação inclusiva com qualidade social para todos. O Centro de Atendimento ao Portador de Necessidades Educacionais Especiais Ricardo Strazzi – Pró-Escolar integra a Secretaria Municipal de Educação e tem como foco o atendimento de estudantes de classes regulares de educação infantil à Educação de Jovens e Adultos, que necessitam de atendimento educacional complementar à sala de aula e também na área técnica para que ocorra uma educação inclusiva de qualidade. Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes Especial 10 anos 17 Educando em Mogi - nº 59 - ano XI Educação em Mogi 18 O Pró-Escolar, como é conhecido no município, não atua em apenas uma área, atua no acompanhamento técnico e pedagógico de educandos com diferentes tipos de necessidades especiais, como altas habilidades/superdotados, deficiências múltiplas, deficiência visual, auditiva, mental, motora e com distúrbio psiquiátrico. O público-alvo atendido pelo Centro de Atendimento ao Portador de Necessidades Educacionais Especiais Ricardo Strazzi – Pró-Escolar divide-se em: ■ alunos com necessidades educacionais especiais da rede regular de ensino (escolas de educação infantil e de ensino fundamental municipais e subvencionadas, inclusive classes de Educação de Jovens e Adultos). ■ munícipes (profissionais, estudantes, pesquisadores ou pessoas de necessidades especiais), que necessitem apenas de orientações e encaminhamentos para diagnósticos, encaminhamentos para benefícios a que o deficiente tenha direito e orientações sobre peculiaridades de cada deficiência, por meio de palestras, orientações e promoções. O Pró-Escolar tem cumprido sua missão de atender o público-alvo citado acima, de acordo com as suas especificidades. Sendo que para os educandos, objetivo principal do Centro, é realizado atendimento com as equipes de avaliação e intervenção. Muitos alunos são atendidos por mais de um técnico, por exemplo, eles podem ser atendidos por fonoaudióloga, psicóloga e fisioterapeuta simultaneamente. Profissionais técnico-pedagógicos O Centro conta com duas equipes multi e interprofissionais, em que juntos os especialistas concluem uma hipótese diagnóstica da criança, e em separado, atuam no atendimento aos educandos, são elas: a equipe de avaliação e a de intervenção. Ambas são compostas pelos mesmos profissionais (psicólogos, fonoaudiólogos, psicopedagogos e fisioterapeutas), e a equipe de intervenção que conta ainda com pedagogas especializadas nas áreas das deficiências. Todos os profissionais são contratados pela Secretaria Municipal de Educação. A equipe de avaliação realiza o trabalho de mutirão nas escolas aos finais de semana e a equipe de intervenção faz o acompanhamento dos educandos na sede do Pró-Escolar no contraturno do ensino regular. Todo este trabalho começa na escola com o professor, que indica o aluno que necessita da avaliação e responde a um questionário sobre o desenvolvimento da criança e seu comportamento em sala de aula. A informação é encaminhada ao Pró-Escolar para que a equipe multiprofissional de avaliação vá até a escola no final de semana. A data é marcada com o objetivo de assegurar a presença dos pais e principalmente, para que eles não precisem se deslocar até a sede do Pró-Escolar. Com a família é feita a anamnese (questionamento sobre a gravidez, desenvolvimento da criança e relacionamento com a família) e enquanto isso, a criança é atendida por outros profissionais da equipe. A escola atendida no final de semana recebe uma devolutiva da avaliação após a conclusão das hipóteses diagnósticas do aluno, feita pelo grupo de profissionais em conjunto. No documento constam orientações e os encaminhamentos necessários. Após a avaliação o aluno, se necessário, é encaminhado a médicos especialistas e instituições parceiras, como também à equipe de intervenção do Pró-Escolar. A equipe de intervenção atende o educando na sede própria do Pró-Escolar, localizada no bairro da Vila Lavínia, Distrito de Braz Cubas. O Pró-Escolar oferece transporte e alimentação para os alunos atendidos. A partir do atendimento da equipe de intervenção, a escola também recebe a devolutiva para o acompanhamento do aluno, inclusive com sugestões de atividades para o professor. O trabalho acontece em parceria entre a escola e os profissionais da equipe, que também se dispõem a ir à escola, se necessário. Em sua sede, o Pró-Escolar dispõe de área técnica pedagógica (salas de recursos para pessoas com deficiência visual, auditiva e mental, sala de intervenção precoce, bem como para condutas típicas – altas habilidades/superdotados, hiperativos, sindrômicos, autistas e portadores de transtornos psiquiátricos – psicóticos, neuróticos e esquizofrênicos), área técnica multiprofissional (serviço de psicologia, fonoaudiologia, fisioterapia, psicopedagogia), espaço para atividades da vida diária (casa experimental para estimular a autonomia do deficiente), jardim sensorial (para pessoas com deficiência visual), sala de audiometria, sala de avaliação (para a equipe que avalila os alunos nas escolas), sala multiuso (para palestras, cursos e eventos) e sala do SAPI (Serviço de Apoio Pedagógico Itinerante – equipe que oferece orientação pedagógica aos educadores). O Pró-Escolar integra a Coordenadoria de Atenção Integral à Criança, da qual também fazem parte a Divisão de Orientação e Promoção e a Divisão de Saúde do Escolar, sendo que esta última conta com profissionais da Secretaria Municipal de Saúde, como pediatras, dentistas, neurologista, enfermeiro e auxiliar de enfermagem. Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes Especial 10 anos 19 Educação em Mogi 20 Aluno, Professor, Aprendizagem e Formação: Um caminho para a Educando em Mogi - nº 59 - ano XI qualidade na Educação Especial 10 anos 21 Equipe do Departamento Pedagógico ■ CONTINUADAS EXTERNAS: - anuais, tendo como foco a discussão de grandes temas que permeiam a educação. - sequenciais, que discutem temas específicos como ALFABETIZAÇÃO e LETRAMENTO, MATRIZES DE REFERÊNCIA e EMPREENDEDORISMO. Trabalham com grupos menores, inseridos no mesmo ano ou série, possibilitando levantar problemas educacionais e encontrar soluções no âmbito municipal. Investimento na formação de professores Em 2001, foi diagnosticada a fragilidade da formação dos professores. A maioria deles possuía apenas a formação inicial e o sistema só oferecia uma formação continuada bimestral voltada aos aspectos didático-pedagógicos. Entendendo que para garantir a qualidade de ensino se faz necessário ter professores fundamentados nos eixos conteúdo e forma, gradativamente, formações continuadas fora do horário de serviço foram oferecidas aos profissionais da educação em consonância com as formações que já aconteciam durante o horário de trabalho e que passaram a ser mensais. A partir de então, surgiu a necessidade de maiores ações neste âmbito. Assim, a Secretaria Municipal de Educação (SME), por meio de seu Departamento Pedagógico, ofertou formações continuadas externas no horário de trabalho, que aconteciam em alguns momentos do ano sem caracterizar dia letivo, cujo enfoque era grandes temas educacionais. Em 2009, a SME propôs a implantação do PROJETO LÚDICO-PEDAGÓGICO, como mais uma ação desafiadora, trazendo os professores para formações continuadas externas no horário de trabalho que promovessem discussões sobre temas específicos referentes a cada ano ou série, em grupos menores, garantindo o dia letivo com aulas lúdico-pedagógicas aos alunos. Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes No intuito de atender o artigo 67 da Lei de Diretrizes e Bases n 9.394/96, a Secretaria Municipal de Educação (SME) vem investindo na formação dos profissionais da educação como requisito para qualidade de ensino e aprendizagem, promovendo melhores resultados nas avaliações internas e externas. Para atingir este objetivo, as formações realizadas desde 2009 foram: ■ FORMAÇÃO CONTINUADA FORA DO HORÁRIO DE TRABALHO – nas diferentes áreas de conhecimento com oficinas, workshops, palestras, cursos entre outros. ■ FORMAÇÃO CONTINUADA NO HORÁRIO DE TRABALHO - Equipe gestora: encontros mensais, que objetivam reflexões e estudos que abordam o papel da gestão democrática. Contemplam as discussões sobre as políticas públicas educacionais. - Professores responsáveis pelos Centros de Divulgação e Construção do Conhecimento (CEDIC) e Agentes Escolares – encontros mensais, que visam fomentar o papel do agente de leitura. Os profissionais são orientados a trabalhar com as diferentes práticas e estratégias de leitura e subsidiar o trabalho do aluno no tocante à pesquisa, ao estudo e à leitura nos CEDIC (bibliotecas multimídias). - Auxiliar de Desenvolvimento Infantil (ADI) e Auxiliar de Desenvolvimento de Educação (ADE) – encontros anuais, in loco e externos. Para as ADI, fomentam a importância da educação infantil no processo do educar e cuidar; para as ADE, a importância da educação alimentar. - Orientadores de Informática – encontros semanais, os orientadores dividem-se em comissões específicas que focam a introdução das diferentes tecnologias de informação e comunicação nas escolas. - Professores da Educação Básica: ■ FORMAÇÃO CONTINUADA IN LOCO – Reuniões para Organização do Trabalho Escolar (ROTE). Espaço mensal para informação, formação, troca de saberes, análise de resultados e promoção de possíveis ações de cada equipe escolar. Educando em Mogi - nº 59 - ano XI Educação em Mogi 22 Tal projeto foi implantado tendo como base três ações: ■ contratação de profissionais especializados para a formação dos professores; ■ contratação de empresa que fornecesse professores externos para lecionar enquanto os professores da rede municipal estivessem em formação; ■ orientação e acompanhamento do Departamento Pedagógico referente ao trabalho desenvolvido pela empresa, primando pela qualidade das aulas/atividades. Com a implantação do PROJETO LÚDICO-PEDAGÓGICO, a SME também atende o Plano Nacional de Educação (PNE), que retrata a preocupação com a melhoria da qualidade do ensino em todos os níveis e a valorização dos profissionais da educação e o Compromisso Todos Pela Educação que traz a necessidade de instituir programa próprio ou em regime de colaboração para formação inicial e continuada de profissionais da educação e estabelecer como foco a aprendizagem, apontando resultados concretos a atingir. A formação continuada externa dos professores em horário de trabalho tem sido um marco inovador na conquista de melhor qualidade de ensino e aprendizagem, pois contempla o educador e garante o direito do aluno ao dia letivo com o desenvolvimento de atividades lúdico-pedagógicas. O projeto vem beneficiando em torno de 15.978 alunos e 630 professores do Ensino Fundamental. A efetivação do projeto objetiva a melhoria a qualidade do ensino e da aprendizagem, o atendimento ao direito de aperfeiçoamento e atualização dos professores da educação básica, a promoção da ampliação da oferta de formações continuadas em horário de trabalho em grupos menores com temas específicos e direcionados para as necessidades de cada ano e série, a elevação dos índices de desempenho nas avaliações internas e externas, a garantia do direito ao aluno em ter aulas de qualidade e o cumprimento dos 200 dias de efetivo trabalho escolar. Estrutura de implantação - Contratação de profissionais especializados e parcerias estabelecidas com a sociedade civil para atuarem como formadores: análise dos currículos e observação da formação, do campo de atuação e da experiência. Em seguida, reuniões de orientação quanto ao conteúdo cognitivo-cultural e os aspectos pedagógico-didáticos e acompanhamento da formação. - Logística das formações continuadas: delimitação dos conteúdos abordados, da carga horária da formação, da separação dos grupos por ano ou série e da quantidade de professores, além da divulgação dessas informações às equipes escolares. - Substituição dos professores da rede municipal: contrato da empresa por meio de processo de licitação exigindo o fornecimento de professores graduados ou graduandos em Pedagogia, para cada sala de aula a ser substituída, inclusive com profissionais reservas para atender possíveis faltas dos substitutos. - Profissionais contratados para substituição: formação dos profissionais referente ao estudo dos conteúdos existentes nos planos de ação, bem como sua aplicabilidade, respeitando as especificidades de cada comunidade escolar. Resultados positivos Os resultados qualitativos e quantitativos bem como os indicadores de resultados puderam ser percebidos a curto e médio prazo: - aumento progressivo de 388,37% no atendimento dos professores da Educação Básica em formação continuada no horário de trabalho, resultando numa melhor qualidade de ensino comprovada pelos índices de aprovação e das avaliações externas. - reconhecimento da sociedade por meio do aumento da procura de vagas em Escolas Municipais. - diversos prêmios conquistados por alunos e professores no âmbito nacional e internacional. - aumento dos índices de aprovação: ■ Anterior à implantação, em 2006: 84,2% ■ Posterior à implantação, em 2010: 95% - aumento nos índices das avaliações externas, o que reflete a melhoria na qualidade de ensino: ■ IDEB de 2007: 4,8 ■ IDEB de 2009: 5,6 (Resultado que alcança a meta projetada para 2013) A experiência contribuiu para o aperfeiçoamento e a atualização dos profissionais da educação, visando sua total competência para uma nova proposta de formação. Seu foco de ensino é a aprendizagem, realçando o êxito do aluno, trabalhando positivamente a diversidade, estimulando o desenvolvimento de práticas investigativas, criando espaços curriculares para execução de projetos, inovando em metodologias através de estratégias criativas e não meramente reprodutivas. O enfoque formativo se concentra em atividades cooperativas construindo com o aluno um saber/aprender dinamicamente articulado. Isso implica em uma visão reconceituada de ALUNO, PROFESSOR, APRENDIZAGEM E FORMAÇÃO: um caminho para a qualidade na Educação. Outros impactos foram percebidos no âmbito educacional e social: ■ aperfeiçoamento do professor referente às questões teóricas e práticas. ■ valorização pessoal e profissional do docente. ■ geração de empregos para profissionais graduados ou graduandos na área da educação com a contratação de 125 professores pela empresa terceirizada. ■ envolvimento dos profissionais contratados nas questões educacionais municipais desde sua formação inicial. ■ investimento responsável da verba destinada à educação. Este trabalho tornou-se inovador e possui um diferencial ao passo que garante o direito ao aluno em ter aulas de qualidade, assegura o cumprimento dos 200 dias de efetivo trabalho escolar, promove o acompanhamento constante do processo de ensino e aprendizagem por meio da ação-reflexão-ação, valoriza o profissional, acrescentando em seu currículo formações específicas, resulta em melhorias nos índices de desempenho nas avaliações internas e externas decorrentes do avanço na qualidade de ensino e aprendizagem e institui um programa próprio de formação continuada externa em horário de serviço, atendendo o artigo 67 da Lei de Diretrizes e Bases n° 9.394 de 1996. Em sua implantação contou com parceiros como o Ministério da Educação, Secretaria Estadual de Educação, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e Empresa Jhones Projetos em Educação e Lazer Ltda ME. Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes - Acompanhamento do Projeto - análise e inferência nos planos de ação, garantindo a qualidade do ensino em conformidade com as Matrizes Curriculares Municipais para a Educação Básica, assim como visitas às escolas, a fim de verificar o andamento das aulas ministradas pelos professores contratados, o cumprimento dos Planos de Ação e a aceitação da comunidade escolar. Especial 10 anos 23 Educando em Mogi - nº 59 - ano XI Educação em Mogi 24 Educação Integral em Tempo Integral - Especial 10 anos 25 Equipe de Supervisão do Programa Escola de Tempo Integral O Programa Escola de Tempo Integral no Município de Mogi das Cruzes foi criado pelo Decreto 9325/2009 e implantado a partir de 09 de fevereiro de 2009. Atendia, a princípio, 540 alunos das escolas municipais Profª Etelvina Cáfaro Salustiano, Prof. Mario Portes e CEMPRE (Centro Municipal de Programas Educacionais) Drª Ruth Cardoso. Em 2011 foram 5.048 alunos atendidos em Período Integral. Estas escolas estão localizadas em bairros e regiões de alta vulnerabilidade e risco social. Os alunos passaram a ter, diariamente, uma jornada de estudo de 9 horas, cinco refeições balanceadas e atividades complementares de: Informática, Língua Estrangeira, Educação Ambiental, Reforço e Recuperação, Leitura e Literatura, Futsal, Handebol, Basquetebol, Voleibol, Karatê, Judo, TaeKwonDo, Tênis de Campo, Xadrez, Atletismo, Capoeira, Natação, Recreação, Dança, Teatro, Artes Visuais, Música, todas realizadas no contra-turno escolar. Para melhor atender os alunos das Escolas de Período Integral diversas adaptações e reformas foram realizadas nos prédios escolares. Também foram contratados novos profissionais, como auxiliares de desenvolvimento da educação (ADEs/merendeiras), professores de Educação Física e Artística, auxiliares de limpeza e ajudantes gerais, que atuam como cuidadores das turmas durante o traslado das oficinas, no horário de refeições, oficinas e passeios externos. As atividades complementares acontecem na própria escola, em clubes, parques e associações da cidade. Os responsáveis por estas atividades são profissionais da própria rede municipal de ensino, estagiários ou de parceiros de instituições diversas da sociedade civil com a coordenação e supervisão dos profissionais das áreas de Educação Física e Educação Artística. As unidades escolares contam com um ou mais ônibus de empresas contratadas ou da própria frota da administração municipal, o dia todo, que viabilizam a realização das oficinas externas. Todos os espaços da cidade se tornam educativos, reforçando o conceito de CIDADE EDUCADORA que Paulo Freire nos ensina. Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes Ampliando horizontes e oportunidades Educação em Mogi 26 A iniciativa representa uma importante ferramenta no combate ao trabalho infantil, violência doméstica e prevenção à criminalidade. Além disso, observa-se a grande contribuição na melhoria da economia familiar e geração de emprego no município. Não se trata de simplesmente preencher o tempo livre da criança com atividades variadas ou se dar mais do mesmo, mas sim, garantir uma EDUCAÇÃO INTEGRAL que trabalhe dentro de uma perspectiva de que o horário expandido representa a ampliação de oportunidades e situações que promovam aprendizagens significativas e emancipadoras para os cidadãos das comunidades contempladas. Educando em Mogi - nº 59 - ano XI O caminhar Antes da implantação do programa, na cidade já haviam algumas experiências de jornada ampliada nas escolas municipais Profª Florisa Faustino Pinto, Profº Antonio Paschoal Gomes de Oliveira, Profª Marlene Muniz Schimidt, Profº Mario Portes e Profª Etelvina Cáfaro Salustiano, através de parcerias com outras secretarias (Projeto Esporte Mogi da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer), entidades filantrópicas (LBV) e voluntários da comunidade. Em 2009, todos os alunos da Escola Municipal Profª Etelvina Cáfaro Salustiano, os alunos de 2ºs e 3º anos do CEMPRE Drª Ruth Cardoso e 50 % dos alunos da E.M. Profº Mario Portes, num total de 540 alunos, se beneficiaram do período integral. Neste período, os profissionais responsáveis pelas atividades complementares eram das Secretarias de Esporte e de Cultura do Município, além de alguns professores da própria rede municipal de ensino e profissionais contratados temporariamente por meio de empenho, vinculados ao Centro de Iniciação Profissional (CIP). A partir de 2010, além de 100% dos alunos dessas 3 escolas, outras 14 escolas aderiram gradativamente ao Programa Escola de Tempo Integral, sendo que duas unidades escolares são rurais. Totalizamos 5.048 alunos ao final de 2011. Em 2012 mais três escolas passarão a funcionar em tempo integral,totalizando 20 unidades escolares e beneficiando 5.695 alunos. Desta forma, além de cumprirmos a meta determinada pela administração municipal, que previa o atendimento de 5 mil alunos do ensino fundamental (1º ao 5º ano) pela iniciativa, contribuímos para oferecer uma Educação Integral com Qualidade Social para Todos. Foco no desenvolvimento global do aluno A cada novo dia se intensifica o debate sobre a ampliação do tempo escolar dos educandos brasileiros, não somente pela demanda da sociedade civil ou pelo atendimento a textos legais, mas principalmente pela necessidade de se oferecer a oportunidade a todos de uma educação realmente emancipadora e libertadora. Os ideais defendidos por Darcy Ribeiro resultaram na redação final da LDB 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) que determina a ampliação da jornada escolar. Dentro de um conceito de EDUCAÇÃO INTEGRAL é preciso ressignificar espaços, conteúdos e práticas pedagógicas que impulsionem aprendizagens expressivas, que considerem o aluno como um ser único, sujeito de direitos e possibilidades variadas. A utilização de espaços comunitários, clubes, teatros, etc., visam dar melhor qualidade a interação escola/comunidade, ampliando o universo das possibilidades de aprendizagem para o aluno. Acreditamos que a oferta de Educação Integral em Tempo Integral proporciona a melhoria dos índices de educação do município e se concretiza como o melhor caminho para diminuir as desigualdades sociais e de aprendizagem entre os alunos de comunidades mais carentes. Também cremos que as atividades oferecidas fora dos muros da escola efetivam sentimento de pertencimento do aluno em relação ao seu meio e abrem portas da sociedade para este cidadão/aluno. Diferencial mogiano Diferentemente de outros municípios consideramos inovadora a proposta de Escola de Tempo Integral do município de Mogi das Cruzes pelos seguintes motivos: 1. Não priorizamos o desenvolvimento das atividades complementares por professores efetivos da rede municipal de ensino e tampouco delimitamos o espaço da escola para estas atividades. 2. A busca constante de parcerias com as instituições da sociedade civil enriquece o trabalho desenvolvido nas escolas, pois, são visões diferenciadas de educação. 3. A preocupação por parte da administração municipal em formar uma comissão permanente que acompanhe e gerencie o Programa garante a continuidade e sucesso do mesmo. 4. A formação continuada de todos os profissionais envolvidos neste programa evidencia a constante preocupação com a oferta de um ensino de qualidade para todos. 5. O desenvolvimento das atividades complementares nas Escolas de Tempo Integral já está permitindo a descoberta de novos talentos esportivos e artísticos, ou seja, estamos contribuindo para a construção de cidadãos mais criativos e felizes. Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes Especial 10 anos 27 Educando em Mogi - nº 59 - ano XI Educação em Mogi 28 Pioneirismo em Mogi das Cruzes: educação musical Especial 10 anos 29 Em 2011, ano em que a educação musical tornou-se obrigatória nas escolas de educação básica, Mogi das Cruzes mostrou seu pioneirismo com o lançamento do livro “Brincando e Aprendendo: um novo olhar para o ensino de música”, editado pelo selo Cultura Acadêmica da Editora Unesp. A publicação trouxe jogos e material didático sobre o ensino de música, criados por educadores da rede municipal. A obra é fruto do projeto “Tocando, Cantando... Fazendo Música com Crianças”, realizado na cidade desde 2002 e que hoje atende 31 escolas municipais no horário de aula. Para quem busca complementar, seus estudos na área de música, a administração municipal criou o projeto “Pequenos Músicos... Primeiros Acordes na Escola”, que oferece o ensino de instrumentos musicais no contraturno das aulas. Os dois projetos diferenciam-se pela metodologia de trabalho, sendo que o primeiro é voltado para a sensibilização musical dos alunos e formação de professores para o ensino de música e o segundo seria a continuidade deste processo, em que os alunos interessados optam por aprender um determinado instrumento e participar da Banda Sinfônica de sua escola. Os alunos mais destacados integrarão a Banda Sinfônica Municipal de Mogi das Cruzes. O objetivo não é formar músicos e sim, cidadãos. São trabalhos educacionais que contribuem para a formação global da criança a partir do conceito de educação integral que é desenvolvido em todas as unidades da rede municipal. Claudia Aparecida de Souza, supervisora de cultura e arte da Secretaria Municipal de Jacareí, veio à cidade acompanhada pelos formadores Roseli Aparecida da Silva e Edson Albino para conhecer os projetos e ficou impressionada com o trabalho desenvolvido em Mogi. “Superou as expectativas. É um trabalho consolidado com pesquisa de campo. Estivemos no lugar certo na hora certa”, contou a educadora, que conheceu a iniciativa mogiana em um congresso realizado em São Paulo. Também estiveram na cidade, educadores de Cajati e São Carlos, cidades do interior de São Paulo. Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes Kelli Correa Brito Educação em Mogi 30 Educando em Mogi - nº 59 - ano XI O livro Lançado em agosto de 2011, no XI Congresso Estadual sobre Formação de Educadores e I Congresso Nacional de Formação de Professores, em Águas de Lindóia, o livro “Brincando e Aprendendo: um novo olhar para o ensino de música” é ricamente ilustrado e acompanha um CD-ROM, que além de oferecer matrizes para que o jogo ou material didático seja construído, traz também vídeos e composições musicais feitas nas escolas. O livro nasceu em 2007, quando o projeto passou a aprofundar a pesquisa sobre educação musical com a contratação de pesquisadores estagiários que atuam nas escolas, por meio de uma parceria entre a administração municipal, o Instituto de Artes da Unesp e a Fundunesp – Fundação para o Desenvolvimento da Unesp. A equipe passou a se questionar sobre quais materiais e atividades didático-pedagógicas poderiam ser criadas para auxiliar o ensino-aprendizagem de música na sala de aula e como eles poderiam contribuir para melhor desenvolver a linguagem musical e o conhecimento na área de Arte/Música. Estes questionamentos levaram a coordenação e as equipes das 22 escolas que integravam o projeto, dentre os quais os pesquisadores estagiários, a investigar, experimentar e criar jogos, atividades lúdicas e materiais didáticos para desenvolver conhecimento em música e ensino de música. O livro foi publicado por meio Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD) da Unesp e em parceria com a Fundação Editora UNESP (FEU), que mantém o Programa de Apoio à Produção de Material Didático de Docentes da universidade, sob o selo Cultura Acadêmica da Editora da UNESP. Primeiros acordes na escola O projeto “Pequenos Músicos... Primeiros Acordes na Escola” teve início em setembro de 2011 e beneficia mais de 1 mil crianças. O projeto tem como meta oferecer uma atividade diferenciada para todas crianças mogianas, dentro do princípio da escola de tempo integral. Ao todo são beneficiadas quatro escolas de período integral e três de período parcial. A iniciativa tem como modelo o projeto “Música: Formação, Expressão e Emoção”, da Escola Municipal Prof. Mario Portes, em Jundiapeba. A Prefeitura investiu ao todo R$ 1.371.737,60 na aquisição de um conjunto de instrumentos para cada uma das unidades escolares participantes. Pelo projeto, os alunos têm aulas de música três vezes por semana no horário contrário ao da aula, incluindo os sábados. Sua participação no projeto depende do seu bom rendimento na escola. Kelli Correa Brito é jornalista da Secretaria Municipal de Educação de Mogi das Cruzes Ensino de Artes em Mogi das Cruzes Geraldo Monteiro Neto A história do Ensino de Artes em Mogi das Cruzes é fruto do trabalho de muitos agentes, que ao longo dos últimos anos, contribuíram para solidificar cada vez mais a qualidade do aprendizado das crianças mogianas frente ao universo da Arte. Um dos projetos mais longevos da Secretaria Municipal de Educação é o Projeto de Artes Visuais, que integra o Programa “Educando com Arte”. O início do projeto foi de maneira até modesta, como uma demanda da própria Rede Municipal, na medida em que educadores tiveram a iniciativa de abarcar diversas ações num projeto interdisciplinar voltado para as Artes Visuais. Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes Especial 10 anos 31 Educando em Mogi - nº 59 - ano XI Educação em Mogi 32 Sem dúvida, um passo importantíssimo foi dado quando a Secretaria Municipal de Educação passou a oferecer a assessoria às escolas envolvidas no Projeto, numa parceria com a Universidade Braz Cubas. Os professores Kátia Cilene de Mello Franco e Francisco Carlos Franco logo se tornaram conhecidos dos nossos professores, quer por conta das visitas às escolas e encontros de formação, quer por meio dos cursos oferecidos à Rede. Também uma equipe de arte-educadores, orientada pela professora Kátia, passou a visitar semanalmente as escolas do Projeto a fim de fornecer subsídio aos alunos e professores. O trabalho desenvolvido nas mais de vinte escolas que passaram pelo Projeto ao longo dos últimos anos rendeu a publicação do livro “Educando com Arte”, que traz em três volumes, relatos e orientações didáticas. Os livros compõem o acervo de todas as escolas da Rede Municipal. Acervo, aliás, sempre foi outra preocupação da Secretaria, que buscou equipar as escolas com vasto material sobre o assunto. Biografias de artistas (muitas adaptadas para crianças), ricamente ilustradas, podem ser encontradas tanto em escolas de Educação Infantil quanto de Ensino Fundamental. Esse material, bem como DVDs com documentários sobre a vida a obra de grandes mestres, também pode ser conferido na Biblioteca do Centro Municipal de Formação Pedagógica Prof. Boris Grinberg (CEMFORPE). As exposições das obras dos alunos são frequentes, tanto nas próprias escolas, quanto no foyer do Auditório do CEMFORPE, valorizando e divulgando a produção das crianças. Com a implantação das Escolas de Tempo Integral, um novo viés se abriu para o Ensino de Artes. As atividades complementares, que compreendem atividades esportivas, intelectuais e culturais, buscaram atender as quatro linguagens apontadas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs): a Música, a Dança, o Teatro e, naturalmente, as Artes Visuais. As Escolas de Tempo Integral contam com professores de Artes que coordenam as oficinas culturais e conduzem, eles mesmos, grande parte das aulas. São cada vez mais comuns eventos promovidos por essas escolas, integrando as Artes Visuais e as demais linguagens, enriquecendo o aprendizado dos alunos. Também o Programa Formar em Rede, desenvolvido em parceria com o Instituto Avisa Lá, e que em anos anteriores havia focado suas ações na brincadeira infantil e na leitura, voltou suas atenções em 2011 para as Artes. Integrantes da Equipe de Orientação Pedagógica do Departamento Pedagógico atuaram como formadores locais junto às gestoras e coordenadoras de creches municipais e subvencionadas, e por meio de leituras, discussões e oficinas, procuraram estender aos professores de Educação Infantil e Auxiliares de Desenvolvimento Infantil uma rica formação em Artes Visuais, centrada principalmente na questão do desenvolvimento do desenho nas crianças. Todas essas ações, embora em formatos diferentes e atendendo, cada qual à sua maneira, uma parcela significativa dos nossos alunos, se pautaram nos mesmos princípios. Em primeiro lugar, na visão de que a Arte não deve ser privilégio uma elite ou de alguns poucos “escolhidos” dotados de talento nato, mas uma linguagem universal, que pode ser entendida e desfrutada por todos. Em segundo lugar, na ideia de que um aprendizado completo em Artes só se dá ao valorizar a produção dos alunos, o contato com obras de arte produzidas e veiculadas nos diversos meios, e a reflexão sobre a Arte – os conhecidos três eixos da Abordagem Triangular, propostos pela professora Ana Mae Barbosa: o fazer, o apreciar e o refletir/contextualizar. O próximo grande passo para o Ensino de Artes em Mogi já está a pleno vapor: a publicação das Matrizes Curriculares Municipais para a Educação Básica – Arte, que está sendo desenvolvida por uma comissão formada por professores de Arte, diretores, supervisores de ensino, professores de Educação Infantil e Ensino Fundamental. A exemplo de outras Matrizes já publicadas, o documento irá nortear o ensino das quatro linguagens previstas pelos PCNs desde as crianças de menos de um ano de vida até o final do Ensino Fundamental II, garantindo a todos os professores da Rede Municipal uma fonte para o trabalho com Artes. Naturalmente, o futuro guarda ainda muitas outras ações e desafios – há quem já sinta falta das “Unidades Didáticas” dedicadas à Arte, que certamente serão o passo seguinte à publicação das Matrizes. Geraldo Monteiro Neto é professor de Educação Artística com Habilitação em Música pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Atualmente, trabalha como coordenador da área de Arte na Equipe de Orientação Pedagógica do Departamento Pedagógico da SME. Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes Especial 10 anos 33 Educando em Mogi - nº 59 - ano XI Educação em Mogi 34 Retrospectiva dos 10 anos do Programa de Qualificação Profissional Equipe do Departamento de Educação Não-Formal Investir em uma política municipal integrada com programas e ações voltados para o desenvolvimento integral de jovens e adultos mogianos representa uma dupla aposta: criar condições necessárias para romper o ciclo de reprodução das desigualdades e restaurar a esperança da sociedade em relação ao futuro do município. Com esta perspectiva, a Prefeitura de Mogi das Cruzes, a partir de 2001, agregou à Secretaria Municipal de Educação o Departamento de Educação Não-Formal com a missão de implantar e desenvolver de forma gradativa um Programa de Qualificação Profissional atrelado à elevação da escolaridade dos cidadãos. 35 No 2º semestre de 2003 iniciou-se o Programa de Cursos Descentralizados em parceria com escolas municipais e associações de bairro 2002 Em 27/12/2007 a Lei Nº 6.093 autoriza a utilização das dependências da EM “Prof. Carlos Polimeno” pelo Centro de Iniciação Profissional 2003 2004 A partir de 30/08/2002 o prédio do Mogilar passou a ser denominado “Centro Municipal Integrado Deputado Mauricio Nagib Najar” Início de cursos de Informática para comunidade, ministrado nas escolas municipais 2005 2006 Especial 10 anos Em 14/09/2011 foi inaugurado o Telecentro Comunitário de Mogi das Cruzes nas dependências do CIP Braz Cubas Realização do ProJovem Urbano, no período de junho de 2009 a janeiro de 2011, possibilitando a conclusão do ensino fundamental e qualificação profissional aos 1.106 alunos matriculados Reformulação dos cursos com ampliação da carga horária e introdução de noções de empreendedorismo e empregabilidade em todos os cursos ministrados pelo CIP 05 salas ocupadas pelo CIP no prédio do Mogilar no período de 2001 a 2007 2001 Duas iniciativas importantes foram realizadas na atual administração: a implantação da EJA com função qualificadora e a criação do Crescer - Centro de Apoio à Educação de Jovens e Adultos. Para resgatar, cronologicamente, o desenvolvimento deste programa de forma simples, porém esclarecedora, apresentamos o quadro informativo abaixo: No 2º semestre de 2009 foi implantada a EJA (1ª a 4ª série) com função qualificadora em parceria com o DEPED 2007 Em 18/03/2006 foi inaugurada a 2ª unidade do Centro de Iniciação Profissional em Braz Cubas Realização do ProJovem Original, no período de novembro de 2006 a dezembro de 2007, possibilitando a conclusão do ensino fundamental e qualificação profissional aos 4662 alunos matriculados 2008 2009 2010 2011 Em 27/10/2010 foi inaugurado o Centro de Apoio à Educação de Jovens e Adultos – CRESCER com uma sala do Acessa São Paulo nas suas dependências No início de janeiro as salas que funcionavam no “Centro Municipal Integrado Deputado Mauricio Nagib Najar” foram transferidas para a EM “Prof. Carlos Polimeno” e os cursos ampliados Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes Assim, lança mão de políticas públicas voltadas para a formação integral do cidadão, em especial, daqueles excluídos dos diversos setores da sociedade por displicência ou falta de oportunidade na idade própria. Tendo um tímido início, ao longo destes dez anos, o programa tornou-se bastante amplo. Hoje, atuando em diferentes vertentes que se complementam entre si, busca qualificar para o trabalho munícipes com diferentes graus de escolaridade ou mesmo sem ela e procura incentivar aqueles que não concluíram, no mínimo, o ensino fundamental a retornarem à escola para ampliar suas possibilidades de ingresso e permanência no mercado de trabalho. "Telecentro Comunitário de Mogi das Cruzes" Departamento de Educação Não Formal - DENF (SME) Educando em Mogi - nº 59 - ano XI Educação em Mogi 36 Educação de Jovens e Adultos - EJA com função qualificadora Centro de Iniciação Profissional - CIP "Braz Cubas" Centro de Apoio à Educação de Jovens e Adultos - CRESCER Centro de Iniciação Profissional - CIP "Vila Natal" "Acessa São Paulo" Projeto "Pra Ver a Banda Passar" ■ Beneficiados pelo programa de Qualificação Profissional - 2001 a 2011 Profissionalização Básica 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 CIP Vila Natal e Braz Cubas 717 2.430 4.246 7.821 8.955 12.696 11.799 11.664 12.600 13.100 15.270 Mini cursos --- 500 1.200 1.600 --- --- --- --- --- --- --- Cursos descentralizados 12 945 3.732 4.116 5.427 6.216 6.750 4.864 4.382 2.755 CRESCER --- --- --- --- --- --- --- --- --- 473 2.743 EJA Função qualificadora --- --- --- --- --- --- --- --- 579** 1.361* 925* Projovem original --- --- --- --- --- 462 --- --- --- --- --- Projovem urbano --- --- --- --- --- --- --- --- 1.106 --- --- TOTAL de ALUNOS 717 2.942 6.391 13.153 13.071 18.585 18.015 18.414 19.149 19.316 21.693 TOTAL de TURMAS 7 24 67 84 38 48 71 78 98 121 226 Observação: * 1º e 2º semestre / ** apenas 2º semestre A educação no Brasil, algumas considerações Vera Lucia Vieira Falar sobre a má qualidade do ensino e da quase falência do sistema educacional no Brasil tem sido uma das prioridades entre os educadores, sociólogos, politólogos, historiadores, economistas e áreas afins, após a realização do milagre de termos universalizado o ensino fundamental sem, praticamente, nenhum custo adicional, pelo contrário, racionalizando custos, conforme divulgou o governo na década de 1990. Um verdadeiro milagre, pois em fins da década de 1980, mais de 60% da população economicamente ativa não possuía o ensino fundamental completo, ou seja, éramos praticamente um país de analfabetos funcionais, com licença da ampliação do conceito, e sequer tínhamos uma lei de diretrizes que definisse com clareza o que significava investir em educação os parcos 3% do PIB a ela destinados em 1988 (veja quadro na página 39) e que se manteve quase que nos mesmos patamares até fins da década de 1990, embora a universalização resultasse em um aumento substancial do número de alunos nas escolas1. O que não significa que, tratar do assunto e saber de sobejo quais são os problemas existentes, leve necessariamente á sua solução. Se tal ocorresse já não os vivenciaríamos mais, não é mesmo? Pois hoje pode-se dizer que qualquer leigo sabe relacionar os fatores que geram tal condição e estes podem ser encontrados em sites de ajuda a vestibulandos: elevados índices de repetência, principalmente em regiões mais carentes; baixa permanência dos alunos nas escolas (média de 4 horas diárias); existência de professores lecionando sem formação específica para a área (principalmente em regiões mais carentes do Brasil); uso em excesso de métodos de ensino ultrapassados (questionários, cópias de lição na lousa, muitas aulas teóricas Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes Educação no Brasil 37 Educando em Mogi - nº 59 - ano XI Educação no Brasil 38 sem participação dos alunos, etc.); falta de conexão entre os níveis de ensino (infantil, fundamental e médio); carência de condições materiais em escolas de regiões pobres; baixa remuneração paga aos professores de Ensino Básico, principalmente da educação pública; falta de um sistema que beneficie os profissionais mais eficientes; faculdades e universidades não preparam o professor para a realidade da sala de aula; carência em sistemas eficientes de aperfeiçoamento, capacitação e educação continuada para professores; currículo pouco interessante para os alunos ou desconectados da realidade; baixa participação dos pais na vida escolar dos filhos e nos assuntos da escola; burocracia em excesso na administração escolar; investimentos públicos insuficientes para atender com qualidades as necessidades educacionais. Baseados nestes diagnósticos observa-se que, pontualmente, têm ocorrido esforços no sentido de enfrentar tais problemas, particularmente em níveis municipais, os quais passaram a arcar com a maior parte do ensino fundamental e médio a partir da ultima Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Acresce-se a tudo isto o que poderíamos denominar a perda da função social das escolas. Ou seja, estas tradicionalmente atuavam como uma organização que condensava em sua dinâmica tanto as políticas públicas definidas pelo Estado, como as relações comunitárias da qual eram parte componente. Neste sentido, sua função social era cumprida quando funcionava como um pólo de aglutinação da comunidade e como tal articulava as relações entre a ordem pública e a privada, entre indiví- duos e comunidade. No entanto, cada vez mais, sua atuação evidencia um distanciamento da dinâmica social e assim transforma-se em mais um componente da desagregação e da exclusão. Tais aspectos podem ser observados em seu clima organizacional, nas relações de poder vigentes em seu interior e no interior da estrutura burocrática (democrática, autocrática, ditatorial, anárquica), no currículo que pratica, em seu planejamento e gestão. Em fins de 2011, o Congresso Nacional discutia se investiremos em 2012 7% do PIB, conforme proposta do governo, ou 10%, conforme reclamam as entidades de classe e outras organizações civis. Não vamos aqui entrar no mérito se tais investimentos serão prioritários para o ensino fundamental ou para o terceiro grau, pois não teríamos espaços para tanto e nem é objetivo deste artigo. Pois, apesar dos propalados avanços, chegamos a 2011 investindo ainda parcos 5% do PIB.2 O que talvez explique porque continuamos ocupando o vergonhoso 53º lugar entre 65 países, atrás de Trinidad e Tobago, em continuidade ao que já ocorria desde 2009.3 A justificativa governamental para manter os investimentos neste patamar é a de que países que compõem a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) investem de 6 a 8% do PIB4, incluindo-se aí o Chile, considerado, desde a década de 1990, o espelho para a América Latina. “Mas, segundo o professor Nelson Cardoso do Amaral, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás (UFG), ‘seria necessário investir muito mais do que 10% do PIB para haver condições de comparar o Brasil com os EUA e países europeus’”, pois, não há termos de comparação se não agregarmos a este dado o tamanho do alunado a ser atendido, ou seja, o resultado da divisão entre o montante do PIB em termos reais de riqueza versus a quantidade de pessoas em idade escolar, que no Brasil está em torno de 45% da população. “Caso o Brasil investisse 10% em educação, descreve o estudo, o investimento anual por aluno seria de ‘US$ 2.398,00, comparado com o valor de Botswana (US$ 2.532,00), África do Sul (US$ 2.694,00), Cuba (US$ 4.152,00), México (US$ 3.738,00), Argentina (US$ 4.152,00), Chile (US$ 4.425,00), Uruguai (US$ 4.647,00) e Rússia (US$ 6.845,00)’, se esses países também estivessem aplicando o equivalente a 10% de seus PIB, em educação”. 5 Atualmente a média de investimentos por aluno no Brasil, conforme o estudo acima é de US$ 959,00 e para atingir a média de US$ 4.456,00 não bastariam sequer os 10% aludidos, quanto mais 7%. Não se pode afirmar que basta investir mais em educação, mas que tal variável é fundamental, fica provado nas comparações com investimentos e a qualidade atendida por outros países. Tal afirmativa pode soar estranha para municípios com poder econômico suficiente para resolver as carências apontadas no início deste trabalho e que, mesmo assim, não atingiram melhores patamares de qualidade escolar. Mas, conforme vários autores, não se pode restringir a qualidade aos indicadores de desempenho escolar, mas sim considerar também os indicadores de qualidade humanos que os investimentos em educação impactam. Ou seja, conforme BEHRMAN, a eliminação do atraso educacional reduz o crescimento populacional em 15% e a mortalidade em 20%; o desempenho educacional futuro melhora em cerca de 20%. “O fato de o impacto direto da educação sobre importantes variáveis não-econômicos ser tão ou mais importante que o seu impacto sobre as variáveis econômicas revela que investimentos em educação têm importantes externalidades sociais que tornam o subinvestimento em educação ainda mais penoso para o desenvolvimento humano de uma sociedade”. 6 Educação no Brasil 39 Educação no Brasil entre 15 e 39 anos de idade haviam completado a oitava série, outros 10% completariam depois dos 15 anos de idade, e 55% jamais completaria. Embora tivesse havido uma significativa melhoria em relação a 1982, quanto os índices eram respectivamente 28%, 7% e 65%, a baixa taxa de conclusão e as altas taxas de repetência refletiam problemas básicos de qualidade, eficiência e equidade”. GOLDEMBERG, José. Relatório sobre a Educação no Brasil, São Paulo, Instituto de Estudos Avançados, Coleção Documentos, 1993; DURHAM, Eunice Ribeiro, Uma Política para o Ensino Superior, São Paulo, Núcleo de Pesquisas sobre o Ensino Superior, Documento de Trabalho 2/93. Vera Lucia Vieira é professora doutora do Departamento de História da Faculdade de Ciências Sociais da PUC (São Paulo, SP, Brasil). Coordenadora do Centro de Estudos de História da América Latina (CEHAL-PUCSP) e co-autora, juntamente com Nora Krawczyk, do livro: A reforma Educacional na America Latina, uma perspectiva historico-sociológica: Argentina, Brasil, Chile e México. São Paulo: Editora Xamã, 2008. Notas: 1) 1988 o investimento do PIB mal ultrapassou 3%. Após a vigência da nova Constituição, subiu substancialmente, atingindo, em 1990, 4,21%. GOLDEMBERG, José. O repensar da educação no Brasil. Estudos Avançados, vol.7 nº18, São Paulo Mai/Ag. 1993. www.scielo.br 2 ) h tt p : / / o g l o b o . g l o b o . c o m / e d u c a c a o / p n e - d e f i n e - m e t a - d e - i n v e s t i m e n t o - e m - e d u c a c a o - e m - 8 - d o -pib-3387308#ixzz1jctFVmnr 3) Program for International Student Assessment (PISA), 2009. 4) Comparar investimento brasileiro em educação com o de países da OCDE para justificar 7% do PIB é falaciosos, afirma especialista. Ter, 19 de Abril de 2011 13:58 http://www.observatoriodaeducacao.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1029:comparar-investimento-brasileiro-em-educacao-com-o-de-paises-membros-da-ocde-e-uma-falacia-afirma-especialista&catid=48:sugestoes-de-pautas&Itemid=98 5) idem, ibidem. 6) BEHRMAN, J. Human resources in Latin America and the Caribbean. Washington: Inter-American Development Bank, 1996, apud BARROS, Ricardo Paes de e MENDONÇA, Rosane. Investimentos em educação e desenvolvimento econômico. IPEA - Texto para discussão, nº 525. Rio de Janeiro, novembro de 1997. Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes Conforme estudos realizados em 1993, o sintoma mais grave da educação era “as grandes taxas de repetência na educação básica, que tendiam a ser superior a 50% para os alunos de primeira série de primeiro grau. O estudante brasileiro permanecia em média 8,5 anos nas escolas, mas só conseguia chegar até a sexta série de escolarização. Comparado com a repetência, o problema da evasão escolar precoce era relativamente menor, atingindo a somente 2.3% dos alunos de primeiro ano, mas alcançando marcas mais significativas na medida em que os fracassos educacionais se acumulavam, chegando a 32% ao final da quarta série. Em 1988, 35% da população Educando em Mogi - nº 59 - ano XI Educação no Brasil 40 Principal desafio da avaliação é promover equidade e incentivar bons educadores Para especialistas, o Brasil precisa aprimorar o uso dos resultados dos exames Thiago Minami Especial para o Todos Pela Educação O próximo passo da avaliação educacional no Brasil é ajudar a alcançar a equidade no aprendizado dos alunos, para que todos tenham desempenho satisfatório. É preciso também saber mais sobre os bons educadores – quem são eles, como reconhecê-los e estimulá-los. Essa é a opinião dos especialistas consultados pelo Todos Pela Educação. “Não adianta ter poucos bons alunos e muitos maus. Temos que olhar não só para as escolas com melhores resultados, mas também para aquelas com equidade no aproveitamento”, diz Fátima Alves, professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Em outras palavras, isso significa reduzir a defasagem entre os estudantes com melhor e pior desempenho, ao invés de incentivar somente aqueles com potencial para elevar a posição da escola no ranking da Prova Brasil ou do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Os resultados devem ser utilizados para melhorias internas, e não apenas para atender as exigências do poder público”, argumenta. Na análise dos pesquisadores, o papel de professores e de gestores é fundamental. A avaliação tem de dar conta de identificar aqueles que fazem diferença e, com isso, encorajar educadores desmotivados. “É preciso combater os cenários tão frequentes de paralisia e inércia”, diz Lina Kátia Mesquita, professora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e presidente da Associação Brasileira de Avaliação Educacional (Abave). O que mudou desde 1990 Até 1990, as informações sobre desempenho dos estudantes e outros atores da Educação não eram obtidas de forma sistemática no Brasil. Isso mudou com a criação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), realizado a cada dois anos por meio de teste de desempenho dos alunos e questionários aos gestores e professores. Com ele, identificaram-se numericamente os problemas do ensino no Brasil. “Porém, dado o seu caráter amostral, ele não apreendia toda a diversidade educacional do País”, escrevem os professores da Universidade de São Paulo (USP) Reynado Fernandes e Amaury Gremaud no artigo “Qualidade da Educação: avaliação, indicadores e metas”. Este primeiro momento da avaliação caracterizou-se pela “quebra da resistência da sociedade”, explica Fátima Alves. Surgiram grupos de pesquisa no governo e nas universidades para analisar os dados e percebeu-se, por exemplo, a importância de uma gestão escolar eficiente. Em 2005, a Prova Brasil instituiu a avaliação censitária para o último ano de cada ciclo do Ensino Fundamental, mas somente nas escolas públicas e urbanas. Em 2007, ela se fundiu ao Saeb e o exame foi ampliado para parte dos municípios pouco populosos e escolas rurais. “Como a Prova Brasil não era realizada em 100% da rede, havia um risco de superestimação nos resultados”, aponta Fátima. Além disso, a avaliação se limitava a apontar os resultados, sem atrelar a eles prêmios, sanções e assistência, afirmam Fernandes e Gremaud. Ainda restava, contudo, uma lacuna grande no sistema de avaliação: o Ensino Médio. Por isso, em 1998, foi criado o Enem. A prova, de participação voluntária, ganhou vigor a partir de 2005, quando começou a interferir na nota de alguns vestibulares e até substituí-los. Também foi aplicada para a seleção do Programa Universidade para Todos (ProUni), que oferece bolsa de estudos a estudantes com problemas financeiros. Naquele ano, o Enem passou a ser utilizado como ferramenta de diagnóstico do ensino público, com resultados por Estado, sistema de ensino e escola. Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes Educação no Brasil 41 Educação no Brasil 42 Educando em Mogi - nº 59 - ano XI Avaliação educacional é pouco abrangente O Ideb O momento atual da avaliação educacional brasileira começou com a criação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), em 2007. A principal novidade instituída é levar em conta o fluxo escolar – se o aluno está na série correta e com o aprendizado necessário à sua idade, o que ainda é um dos problemas mais sérios da Educação brasileira. “Existem grandes contingentes de crianças e adolescentes que, às custas das dificuldades da aprendizagem e do pouco incentivo para os estudos, terminam por desistir da escola, seja pelo abandono da sala de aula, seja entregando-se às reprovações e às turmas dos excluídos”, diz Lina Mesquita. “Também é necessário entender melhor a escala de proficiência [aprendizado] e usar os resultados para aprimorar a aprendizagem. Entender, por exemplo, quais conteúdos os alunos não entendem e por quê”, diz Fátima. Para os críticos da avaliação, as provas de desempenho deixam de fora aspectos da aprendizagem que não dizem respeito à transmissão de conhecimento. “A Educação vai muito além dos conteúdos exigidos por esses testes. Além disso, não tem como entender as necessidades de cada aluno com uma prova única”, opina Vitor Paro, professor da Faculdade de Educação da USP. Ele explica que a avaliação deveria ser feita no dia a dia, com supervisão das escolas. “Não existe um teste nacional para todos os fabricantes de automóveis – cada um é capaz de se autoavaliar. Por que fazer isso na Educação?”, questiona. Fátima Alves concorda com o fato de que a avaliação tem lacunas atualmente. No entanto, a pesquisadora acredita que, no Brasil, a aprendizagem de conteúdos básicos ainda é um desafio e, nisso, as provas podem ajudar. Fernandes e Gremaud argumentam que os resultados podem servir de incentivo aos professores – não para culpá-los pelo mau desempenho dos estudantes. “A divulgação de resultados fornece parâmetros ao público interno (no caso das escolas, professores e diretor) e pode desfazer certas percepções que a escola ou a rede de ensino têm de si mesmas. Na falta de resultados comparáveis, pode-se acreditar estar fazendo um bom trabalho, quando de fato não se está”, dizem os autores. Existem, de fato, riscos como o de fraudes, por exemplo, quando professores respondem às questões pelos alunos. Também é possível que as escolas e redes de ensino façam treinos específicos para melhorar o desempenho na prova, que se tornaria o objetivo final da Educação em vez de um instrumento de avaliação. Mais um problema é a escola decidir excluir os estudantes com baixo aproveitamento. Evitar esses obstáculos depende de contínuo acompanhamento dos órgãos públicos, apontam Fernandes e Gremaud. Pesquisa na área da Educação precisa se aprofundar na profissão docente Educação no Brasil 43 TPE - Quais são as pesquisas atuais sobre o tema? Fátima Alves, da PUC-Rio, diz que Fátima - Uma das linhas mostra como o trabao desafio é tornar estimulante o lho do professor pode fazer a diferença. Tem exemtrabalho em sala de aula plos de pesquisa que vão desde como gerir melhor Todos pela Educação - Em qual direção a avaliação pode avançar a partir de agora? Fátima Alves - O debate prossegue quanto à escala de proficiência – como interpretá-la – e de que forma aprimorá-la, de maneira que seja utilizada pela escola de modo pleno. Precisamos também identificar os bons professores, suas características e saber como estimulá-los. Pesquisar não só as práticas docentes, mas a profissão de forma geral. Além disso, temos que verificar como se faz a construção dos indicadores educacionais. Há propostas para verificar não apenas a média da escola – como no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) – mas tentar apreender a distribuição pelo nível de proficiência. Não adianta ter poucos bons alunos e muitos maus alunos. Temos que olhar não só para as escolas com melhores resultados, mas também naquelas com equidade no aproveitamento. TPE - Existem exemplos internacionais que podemos seguir? Fátima - O Brasil participa do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), o que é interessante porque tem um elevado custo político – já que o Brasil tem mau desempenho. A inspiração em reformas de países com bons resultados no Pisa é positiva, desde que não seja de forma dogmática e, sim, pensando-se em ideias para pontos em que não conseguimos avançar. Na Coreia, por exemplo, um dos pilares da reforma foi a mobilização da sociedade, até da família. O Todos pela Educação é um exemplo de tentativa de mobilização da sociedade civil, no sentido de abrir a visão para quais temas precisam ser discutidos na agenda política. TPE - Houve melhoras significativas na Educação brasileira por conta da avaliação? Fátima - Sim, pois houve mobilização política. Tem gente que pensa que os alunos foram treinados para ir bem no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) – mas não é isso. A avaliação é importante porque questiona se uma determinada política pública educacional foi eficiente. Matérias publicadas no site Todos pela Educação www.todospelaeducacao.org.br no dia 16/11/2011 Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes “Precisamos pesquisar não só as práticas docentes, mas a profissão de forma geral”, diz Fátima Alves, especialista em avaliação educacional da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Segundo ela, isso ajudaria a entender, por exemplo, qual a melhor maneira de fazer com que trabalhar em sala de aula seja estimulante. Estudar a docência, entretanto, não significa somente cobrar dos professores os resultados pelo desempenho dos alunos. Para Fátima, um dos maiores méritos da avaliação educacional é o de colocar as políticas públicas à prova, medindo se uma determinada ação foi eficiente. Confira a entrevista com a pesquisadora. o tempo em sala de aula, para não gastá-lo com atividades burocráticas e, sim, com aprendizagem. Isso tudo para criar um profissional que tenha estratégias didáticas aliadas a um bom planejamento. Também está sendo discutido o uso menos mecanizado e mais contextualizado dos conteúdos. Em matemática, por exemplo, mostrar diferentes formas de se achar o mesmo resultado. Educando em Mogi - nº 59 - ano XI Educação no Brasil 44 O Currículo: um mundo de tecnologias Educação no Brasil 45 Nos dias de hoje, a vida se realiza para além de um mundo real, palpável e limitado, em um movimento que não é apenas linear, único e constante. O movimento é múltiplo, fluindo entre tênues fronteiras de mundos que se sobrepõem, incluindo o real, o imaginário, o atual e o virtual. O mundo é tecnológico. As tecnologias se ampliam e se modificam a todo instante, ordenando e desordenando as relações pessoais em diferentes ambientes. Vive-se com um pé no mundo real, atual e com o outro no virtual. Às vezes, com o corpo todo mergulhado no virtual, que se constitui em ambiente inovador e estimulante para o homem, no qual as experiências não se restringem ao limite de um corpo que já é considerado um ponto de conexão para um espaço que não tem fronteiras. Um mundo entre dois mundos. O ser humano se situando, buscando encontrar-se sob, sobre e entre realidades virtuais e presenciais. A tecnologia móvel, hoje em destaque com a evolução dos dispositivos móveis – celulares, laptops, tablets – não é uma invenção atual. Na realidade, ela foi se transformando e adquirindo o potencial ao qual assistimos na atualidade, permitindo que os indivíduos se comuniquem de qualquer lugar e a qualquer momento, não dependendo de presença física para realizarem negócios, divertirem-se ou estudarem. A conexão é contínua; as pessoas e as tecnologias são nômades e se encontram em espaços físicos não contínuos e constituídos por elementos distintos. As tecnologias atuais possibilitam aprender de modo informal, em redes e comunidades de aprendizagem, onde se compartilham problemas e soluções. Os processos de aprendizagens tornam-se espontâneos, assistemáticos e muitas vezes caóticos. Este novo modo de interagir modificou a rotina e a vida dos indivíduos, inclusive o modo como eles adquirem informações e processam seus conhecimentos. As pessoas estão mais receptivas e participativas, recebem informações em diferentes linguagens e os sites de buscas acabam por constituírem-se em extensões da memória. Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes Gilda Piorino Educando em Mogi - nº 59 - ano XI Educação no Brasil 46 A conexão é contínua; as pessoas e as tecnologias são nômades e se encontram em espaços físicos não contínuos e constituídos por elementos distintos. Dessa maneira, a aprendizagem nem sempre está associada ao ensino, tal qual ocorre na sala de aula de uma escola tradicional e presencial, ganhando contornos inimagináveis, que passam a influenciar a relação pedagógica que acontece no espaço da escola. As experiências extraescolares que os alunos levam para a sala de aula, incluindo vivências no espaço virtual, somam-se às experiências vividas no cotidiano escolar e resultam em conhecimentos que poderão ajudá-los a interferir no mundo real e virtual, a depender da orientação recebida. Ao mesmo tempo, o aluno acessa o mundo por diferentes canais, telas, e ambientes de aprendizagem, assiste a aulas em salas presenciais, usando diferentes mídias, impressas e digitais, mas cada um desses modelos exige uma lógica nem sempre compreendida pelos profissionais que elaboram os cursos, os conteúdos, as estratégias, os critérios de avaliação e os cursos de formação de professores, questões diretamente relacionadas ao currículo. Currículo enquanto um corpo de conhecimento e “seleção de uma cultura social mais ampla” (GIROUX, 1997, p. 47-48). Assim, no dia a dia, participar de uma rede de aprendizagem, usar a televisão, o netbook, o smartphone, um iPod ou um iPad podem ser opções, conscientes ou inconscientes, para conhecer, ensinar, aprender e apropriar-se do objeto ou do conteúdo por ele formatado, em um jogo constante para realizar a vida em um mundo globalizado política, econômica, social e culturalmente, com novos instituintes, teorias e práticas de toda ordem. Como as tecnologias assumem o centro do debate, é preciso ter claro que estas se constituem em elemento da cultura, inserida no processo produtivo e, portanto, contendo uma dupla natureza, a de bem de produção e a de bem de consumo (PINTO, 1969, p. 124), sendo de suma importância para a intervenção do homem no meio em que vive, pois permitem a ele interagir com o mundo de maneira a “dominar a natureza, transformá- la, adaptá-la às suas necessidades” (PINTO, 1969, p.13), e produzir sua existência de maneira cada vez mais inovadora. Porém, isto só é possível a partir de um conhecimento mais profundo de seu contexto histórico, e de uma tomada de consciência das diferentes relações e elementos nele existentes, o que pode ser viabilizado pela Educação – instrumento do mundo para a continuidade da obra humana (SEVERINO, 2007) –, por meio de um currículo escolar mais aberto, flexível e investigativo, construído a partir das necessidades daqueles que o vivenciam, mobilizando o interesse de alunos e professores, de modo que estes se reconheçam e vejam sentido nas tarefas desenvolvidas com ou sem tecnologias. O conteúdo selecionado para compor o currículo é fundamental para que se possa dar conta do conhecimento local e global, conceitos, procedimentos e atitudes e, assim, dar oportunidade para o aluno criar e expressar-se para além da sala de aula. O mundo é tecnológico e as tecnologias, portanto, além de fazerem parte do conhecimento que constitui o currículo, podem romper com as prescrições por ele predeterminadas, a partir do momento em que os educadores delas se apropriam, reconhecendo que o mundo está em mudança e requer novas metodologias e concepções epistemológicas que levem alunos e professores a adquirirem uma nova postura diante da própria existência e da existência do outro. O uso de tecnologias, ao mesmo tempo em que traz mudanças, ajuda a refletir sobre essas mudanças, pois permite o diálogo e aproxima as pessoas para a reflexão de seus problemas, possibilitando a busca de temas importantes que traduzam sua realidade, tal qual coloca Freire (2003, p.103). Desse modo, a relação com as tecnologias pode ser construída de maneira a potencializar as relações do humano, possibilitando cada vez mais a sua evolução e para que o mundo virtual não se sustente só pela manipulação das tecnologias, como temos visto, mas, sobretudo, pela supremacia do humano. O currículo, inicialmente definido como um mundo de tecnologias pode, afinal, ser a tecnologia utilizada pelo homem para interpretar e interferir no mundo. O currículo, inicialmente definido como um mundo de tecnologias pode, afinal, ser a tecnologia utilizada pelo homem para interpretar e interferir no mundo. Gilda Piorino é assessora pedagógica da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo e doutoranda no Programa de Pós-graduação em Educação:Currículo – PUC-SP. Artigo publicado no portal do Salto Para o Futuro, programa TV Escola Referências bibliográficas: FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 37ª ed., São Paulo: Paz e Terra, 2003. GIROUX, Henry A. Os professores como intelectuais: rumo a uma pedagogia crítica da aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 1997. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais, Brasília, 1997. PINTO, Álvaro. Ciência e Existência. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1969. SANTAELLA, Lúcia. Cultura e Artes do Pós-Humano: da cultura das mídias à cibercultura. São Paulo: Paulus, 2003. SPARROW, Betsy; LIU, Jenny; WEGNER, Daniel M. (2011). Google Effects on Memory: HYPERLINK “http://www.sciencemag.org/content/early/2011/07/13/science.1207745” Cognitive Consequences of Having Information at Our Fingertips. Science 333(6043) (5 August): 776–778. SEVERINO, Antonio Joaquim. Educação, sujeito e história. São Paulo: Olho D’Água, 2007. Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes O conhecimento tecnológico, reconhecido como “uma estratégia de sobrevivência” (SEVERINO, 2007, p.40), traduz-se como um direito que não pode ser ignorado a fim de que o acesso e a apropriação do objeto tecnológico para apreender o mundo não se restrinjam a poucos. Nesse sentido, se a escola tem como objetivo a realização das demandas de conhecimento, questiona-se a Educação formal, o currículo prescrito e a ordem disciplinar presentes nas escolas, uma vez que esta estrutura já não dá conta de atender à demanda de conhecimentos necessária a uma geração que vive em uma era digital. Questiona-se, também, a política educacional para uso de tecnologias na escola, se esta não prevê um currículo construído em conjunto com a comunidade escolar, via diálogo, que poderá ser potencializado, inclusive, por meio dos recursos tecnológicos. Educação no Brasil 47 Educando em Mogi - nº 59 - ano XI Professor Nota Dez 48 Prêmio Professor Nota 10 é entregue pelo terceiro ano consecutivo Durante as comemorações pelo Dia do Professor, em outubro de 2011, foram entregues os prêmios da terceira edição do Prêmio Professor Nota 10, instituído pela Câmara Municipal em 2009. Foram premiados os educadores que se destacaram dentre os inscritos na premiação nas categorias Educação Infantil, Ensino Fundamental (1º ao 5º ano) e Educação de Jovens e Adultos. A iniciativa tem como objetivo a valorização do professor da rede municipal de ensino e a divulgação de experiências educativas planejadas e executadas pelos professores. Os trabalhos foram selecionados por uma comissão julgadora formada pela professora doutora Tatiana Platzer do Amaral, coordenadora do curso de pedagogia da Universidade Mogi das Cruzes, Agnes Arruda, assessora de imprensa da RP Propaganda, Anderson do Prado Barbosa, diretor de Esportes da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer e Iara Guadalupe Garcia, professora da Universidade Braz Cubas. Além da premiação, a festa em homenagem aos professores contou com a apresentação de dois trabalhos importantes de educadores da rede municipal: o livro "Brincando e Aprendendo - um novo olhar para o ensino de música", editado pela UNESP e o Software de Educação Infantil (SEI), criado por orientadores de informática e professores e finalista do Prêmio Internacional Educarede. Vanessa Rodrigues Barreto Aguilar Vencedora da categoria Educação Infantil Justificativa O processo de letramento se dá por meio da familiarização do indivíduo com os diversos usos sociais da leitura e da escrita. É o resultado do processo de ensino– aprendizagem de ler e escrever. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/96, amparada pela Constituição Federal de 1988, diz que a educação deve promover a formação de cidadãos críticos, além de prepará–los para o mercado de trabalho. Infelizmente, uma triste realidade da educação nacional é que muitos alunos terminam a sua trajetória escolar como “analfabetos funcionais”. Apesar de conseguirem ler palavras e textos, esses alunos não conseguem extrair o sentido das palavras, não conseguem escrever um texto que demonstre suas histórias, desejos e necessidades. Segundo uma pesquisa realizada pelo IBGE em setembro de 2009, o nosso país apresentava cerca de 14,1 milhões de brasileiros considerados analfabetos funcionais, cerca de 9,7% da população. Outra questão alarmante é o fato de que essas pessoas, quando vão procurar emprego, não têm as habilidades de leitura compreensiva, escrita e cálculo para fazer frente às necessidades de profissionalização. Sabemos que as crianças estão inseridas no mundo da leitura e escrita direta ou indiretamente desde o seu nascimento. Quando elas chegam na escola carregam consigo conhecimentos culturalmente ricos sobre a nossa língua. É papel da escola, ao longo da Educação da Infância, fazer com que a leitura e a escrita não percam sua função social e conexão com o mundo real. Avançar no processo de letramento implica na compreensão da leitura, estimulando o desenvolvimento de habilidades para receber, interpretar, classificar e julgar as informações necessárias. O processo de letramento deve ser fruto do interesse e curiosidade do educando sobre os usos da língua. Utilizei Maurício de Souza nesse projeto, pois além de ser considerado “mogiano”, é um dos grandes colaboradores da literatura infantil atual. Suas histórias são carregadas de ilustrações, o que torna a leitura prazerosa para as crianças. Esse trabalho foi desenvolvido para alunos do Infantil II (educandos que estavam por completar 3 e 4 anos). Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes O prazer de ler e escrever com a Turma da Mônica Professor Nota Dez 49 Professor Nota Dez 50 Aonde chegar No interesse pela leitura de histórias, na familiarização e no interesse pela escrita de palavras e textos. Reconhecendo a importância da língua escrita, a fim que o aluno a utilize esta na sua vida social e cultural, exercendo de fato a sua cidadania. Educando em Mogi - nº 59 - ano XI Como chegar e o que fazer para chegar ■ Rotina Diária: ■ Escrita da data e do dia da semana (esperava–se que as crianças reconhecessem a importância do registro) ■ Leitura do Alfabeto Ilustrado (reconhecimento da letra como código social) ■ Apresentação do nome (é o primeiro texto carregado de significado para a criança) ■ Leitura de textos (participação de situações de leitura de diferentes gêneros) ■ Brincadeira: Qual letra é? – eleição de uma letra e escrita de palavras iniciadas por ela seguidas de suas ilustrações. ■ Rotina Semanal: ■ Empréstimo de livro: as crianças levavam um livro infantil para casa na sexta–feira a fim que seus pais e responsáveis lessem para elas. O livro era devolvido na segunda–feira. (assim a criança participava de situações nas quais se faz necessário o uso da leitura e escrita feita pelo adulto). ■ Rotina Bimestral: ■ Histórias e historinhas: participação em histórias lidas ou encenadas por educadores da instituição escolar apresentadas para todos os educandos. ■ Atividades diárias: Toda semana, a instituição escolar trabalhava com um determinado tema. As atividades eram pautadas neste assunto. Dentre essas atividades, diferentes gêneros textuais foram trabalhados, tais como: letras de música, poesia, parlenda, brincadeiras escritas, como caça-palavra adaptado para a faixa etária (nesse caso a letra), entre outras. Por exemplo: na semana em que foi falado sobre os Meios de Transporte, a educadora falou sobre o sonho do Cebolinha em pilotar um avião. Então, as crianças tiveram que procurar os quadrados que continham a letra A para ajudar o Cebolinha. No outro dia, a professora falou que o Cascão estava começando a aprender a dirigir um carro e que precisava da ajuda delas. Elas chegaram à conclusão que deveriam cantar a música “Motorista”. Foi apresentada a música escrita e perguntado o que elas estavam vendo. Nesse dia, os educandos compreenderam que a música também é escrita por letras. E que as letras formam as palavras, pois fomos cantando e fazendo a leitura da música com a ajuda do “dedo”. No dia seguinte, a professora falou que o Cebolinha e o Cascão adoravam deixar a Mônica nervosa, eles acabaram desorganizando os meios de transporte e por isso as crianças deveriam ligá–los. Com isso, a Mônica não ficaria triste com os meninos e os desculparia. Além disso, em alguns dias as crianças manipularam diferentes portadores textuais, principalmente gibis e tirinhas (elas interrelacionaram o nosso alfabeto ilustrado, formado por letras de forma maiúsculas, com esses materiais). Em outros dias, os alunos assistiram o cine gibi, que são as historinhas dos gibis feitas com os recursos audiovisuais. Além de conhecer as músicas próprias da Turma da Mônica. Professor Nota Dez 51 Eu, particularmente, sou apaixonada pela alfabetização. Acredito que essas crianças farão uma enorme diferença neste mundo competitivo. Elas aprenderam a gostar deste universo linguístico, pois apresentaram interesse e curiosidade pelo mundo das palavras. É muito gratificante, os pais relatarem que durante sua vida social, as crianças utilizaram os conhecimentos adquiridos na escola de forma espontânea. Uma mãe disse que ela e seu filho foram participar de um culto religioso, e enquanto ela estava fazendo a leitura da Bíblia, seu filho disse: “Mãe, olha esta folha começa com a letra M de macaco”. Ela ficou perplexa e pediu que procurassem outras, tanto vogais como consoantes, e ele conseguiu encontrar. Esta criança só tinha 3 anos. Chegando em casa, ele observou um enfeite de porcelana em forma de gato e conseguiu visualizar que seus olhinhos eram feitos com a letra X da xícara. Esse é apenas um exemplo dos relatos que os pais e familiares contam. Outra atitude interessante em que as crianças demonstram o gosto pelas letras é quando são servidas as refeições nos pratos; elas escolhem aqueles que têm a letra X no seu fundo (marca feita durante a fabricação desses utensílios). Essa atitude virou “mania” entre os alunos. E a cada dia, eu vou ficando com o sentimento de dever cumprido. Acredito que todos os dias, estou aprendendo mais com essas crianças. Tenho convicção de que o enfoque e as atitudes, muitas vezes considerados simples, quando planejados e feitos com dedicação, mais que carregam consigo a finalidade de despertar o interesse e a curiosidade das crianças, permitem ressignificar o ensino-aprendizagem comprometido na construção de uma vida cidadã. Vanessa Rodrigues Barreto Aguilar é professora do CEIM Profª Adahyla Marques Campos Carneiro. Graduada em Pedagogia pela Universidade de Mogi das Cruzes com especialização em Direito Educacional e Inspeção e Supervisão Escolar pelo Centro Universitário Claretiano. Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes Ao chegar faz se necessário saber se ... Professor Nota Dez 52 Pitacos nos Contos de Fadas - Escrita de um livro com diferentes gêneros textuais Educando em Mogi - nº 59 - ano XI Ana Maria Sala Mesquita Vencedora da categoria Ensino Fundamental – 1º ao 5º ano Sou professora do ciclo I do Ensino Fundamental e no ano passado, 2010, pela primeira vez lecionei para uma turma de 1º ano. A sala era composta por 21 alunos com idade de 5 anos (a maioria completaria 6 no segundo semestre). Todos já haviam frequentado o Ensino Infantil e demonstravam muita curiosidade quanto ao que estava por vir. Me perguntava: “O que trabalhar com os pequenos?” Queria desenvolver meu trabalho de maneira prazerosa e divertida, focando na leitura e construção da escrita. O primeiro passo foi verificar o nível da hipótese de escrita de cada criança através de uma sondagem e o resultado obtido foi que 85% da turma encontrava-se na hipótese de escrita pré-silábica. Optei pela leitura como a base do meu trabalho, essa atividade era diária e sempre estava aguçando a curiosidade através das antecipações, entonação de voz e comparações com o que já haviam ouvido. As crianças se soltaram e desenvolviam a oralidade com interpretações orais. Eu procurava trazer também os mais tímidos para as discussões. Em pouco tempo percebi o quanto apreciavam a leitura e como se sentiam atraídas pelos contos de fadas, resolvi organizar meu trabalho partindo daí. Organizei rotinas que propiciavam iniciativa, autonomia e interação entre as crianças, onde um colaborava com o outro, com atividades objetivando a construção da escrita que mais pareciam jogos e que estabeleciam pontes com as histórias contadas. Das histórias programei atividades variadas, sempre desafiadoras e mais divertidas o possível. Não foi fácil, foi preciso muita criatividade e trabalho porque tive que planejar atividades com um nível de complexidade cada vez maior para que houvesse avanços. Todavia valeu a pena, fui me surpreendendo a cada dia. Com sondagens mensais, só via progressos. No início do 2º semestre, apliquei a sondagem para verificar o nível da hipótese de escrita de cada criança e o resultado foi que a maior parte da turma encontrava-se alfabética. Observei o envolvimento com a leitura e escrita, vi que a curiosidade e a surpresa foram os melhores incentivos para a alfabetização, tanto nas histórias que cercavam as atividades como na apresentação dos gêneros textuais que justificassem a importância da leitura, da escrita e na compreensão do “pra que” e “pra quem” escrevemos. Resolvi desafiá-las a produzir um livro. Não era escrever por escrever, as crianças precisavam de uma razão para isso. E foi buscando esse significado que optei por produzir um livro com diferentes gêneros. Aproveitei que as crianças já conheciam vários contos de fadas e propus: “Pitacos nos contos de fadas”. O objetivo do livro foi dar funcionalidade à escrita através de diferentes gêneros de textos e o conteúdo foi a produção de textos. Foi assim: Estávamos no final de agosto quando apliquei mais uma sondagem, como acontecia no final de cada mês e o resultado foi que o quadro havia se revertido: 70% da sala estava alfabética e os demais avançando a cada dia. Como já liam e escreviam, para que se sentissem motivados a fazer uso da escrita, resolvi propor o desafio de produzir um livro que relacionasse todo o trabalho até então desenvolvido. Para por em prática, selecionei 21 contos e 21 gêneros de texto. Para cada conto era solicitada uma determinada produção. As crianças já conheciam as histórias, a apresentação de diferentes gêneros de textos também fazia parte da rotina das aulas, pois no dia-a-dia trazia exemplos, comentava sobre seu uso e em que situação se encaixavam. Queria “amarrar” todo trabalho a partir dos contos, propondo situações que estimulassem respostas escritas. E assim foi feito. Baseando-me nas histórias, desafiava-os a exercer a escrita. Ninguém ficava para trás, um ajudava o outro. Usando a imaginação e criatividade foi-se observando e fazendo uso da função social de cada tipo de texto. Contava a história com muita magia, levando os pequenos para o mundo do faz-de-conta e ia colocando situações para que necessitassem usar o texto. Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes Professor Nota Dez 53 Educando em Mogi - nº 59 - ano XI Professor Nota Dez 54 Os contos trabalhados e os gêneros textuais solicitados foram: ■ “João e Maria” - lista (dos doces que as crianças encontraram na casinha) ■ “Os Três Porquinhos” - bilhete (os porquinhos tinham que responder o bilhete do lobo) ■ “O Patinho Feio” - história em quadrinhos (ilustrações das fases da vida do patinho) ■ “O Lobo e os sete Cabritinhos” - códigos (decifrar o título da história) ■ “As Fadas” - capa (ilustração para a capa deste livro) ■ “Os Três Ursos” - receita (escrita da receita do mingau) ■ “A Princesa e o Sapo” - acróstico (com as palavras princesa e sapo) ■ “O Mágico de Oz” - placa (de indicação) ■ “Cinderela” - anúncio (procura-se...) ■ “O Casamento de Dona Baratinha” - convite (confecção do convite de casamento) ■ “Pinóquio” - o que é, o que é? (adivinha com características do boneco de madeira) ■ “A Boa Sopa” – cartão-postal (ilustração da cidade) ■ “A Princesa e a Ervilha” - lembrete (para que não colocassem nada sob o colchão) ■ “Branca de Neve e os Sete Anões” - carta (avisando a princesa sobre a maçã envenenada) ■ “João e o Pé de Feijão” - versos e rimas (rimando palavras) ■ “A Bela Adormecida” - música (uma nova versão para uma canção de ninar) ■ “Rapunzel” - carta enigmática (decifrando a fala do príncipe) ■ “Chapeuzinho Vermelho” - reescrita (reescrever a história) ■ “O Gato de Botas” - texto informativo (sobre o gato) ■ “A Bela e a Fera” - você sabia... (curiosidades retiradas de um trecho da história) ■ “Bambi” - ficha técnica (ficha de um veado) Por três meses estivemos ocupados com as produções. As crianças demonstravam interesse e a criatividade voava longe ao interferirem nas histórias. Durante este período, continuei aplicando as sondagens mensais e a cada mês me surpreendia ainda mais. Ao término de novembro, os livros estavam prontos. De cada aluno solicitei uma produção e com elas montei o livro da sala, onde todos haviam dado “pitacos” nos contos de fadas. Reproduzi uma cópia para cada criança e dei como recordação. Eu observei o desenvolvimento dos alunos ao longo de três meses do trabalho e pude constatar que as crianças tiveram grandes progressos tanto na ideia que faziam sobre pra quê servem os textos, como em suas produções escritas. Trabalharam através da experiência. Deu muito certo acreditar na potencialidade da turma, bem como permitir que um aluno interagisse com o outro para que realizassem suas produções, pois aos que ainda não dominavam o sistema de escrita, intervenções e estímulos não faltavam. Adorei ter realizado este trabalho, pude observar que além do interesse, as crianças se divertiam ao “palpitar’ nas histórias, tornando-se próximas das personagens que admiravam. Percebi que o planejamento não foi só importante, foi fundamental. Práticas que eu não fazia passaram a fazer parte da minha rotina como registrar os avanços, refletir e fazer interferências sobre as ideias das crianças. Já havia lido que o “humor e a surpresa eram as melhores emoções para chamar a atenção das crianças” e com este trabalho pude experimentar e reconhecer que, realmente, essas emoções fazem toda a diferença. Acredito que a alfabetização e o letramento caminham juntos, mesmo porque, para a construção das hipóteses de escrita a criança precisa ter referências, motivos para elaborar suas ideias. Leciono para séries iniciais há 22 anos, mesmo com todas as dificuldades que enfrento na escola pública não perdi o encanto pelo meu ofício, me realizo vendo o desenvolvimento dos alunos. Sei que tenho que acompanhar as mudanças constantes do tempo, assim procuro me atualizar lendo, fazendo cursos e acreditando que faço a diferença na vida deles. Estou, a todo momento, procurando caminhos para que as crianças possam aprender para que, no futuro, ocupem com dignidade seu lugar na sociedade. Ana Maria Sala Mesquita é professora das escolas municipais Profª Cynira Oliveira de Castro e Des. Armindo Freire Mármora. Possui licenciatura plena nas séries iniciais e é pós-graduada em Gestão, Orientação e Supervisão Escolar. Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes Professor Nota Dez 55 Professor Nota Dez 56 Elementos bióticos e abióticos: interações e dependências Educando em Mogi - nº 59 - ano XI Patrícia Ferraz Mandaglio Vencedora da categoria Educação de Jovens e Adultos - EJA Justificativa Reconhecer características que definem um elemento como um ser vivo, bem como identificar suas necessidades básicas e as interações que realiza em seu meio são de suma importância para que os alunos compreendam seu papel em nosso ecossistema urbano, percebam que estão inseridos neste ecossistema tanto quanto outros seres vivos e que há relações de dependência entre todos, portanto, um elo que se rompe nesta ligação interfere no bem-estar de todos. Com esta base, os alunos poderão compreender melhor e estabelecer relações entre todos os assuntos que serão abordados na série. Aonde chegar No entendimento da relação de interdependência entre homem e natureza: ■ compreender o conceito de ser vivo, bem como as condições necessárias para sua existência; ■ levantar informações sobre componentes bióticos e abióticos do local em que se vive; ■ identificar as relações de dependência entre fatores bióticos e abióticos do meio; ■ analisar o papel e a interferência do homem no meio. Professor Nota Dez 57 Todo educador que já trabalhou com Educação de Jovens e Adultos deparou-se com um quadro de insegurança e bloqueio. Para conseguir alcançar os objetivos propostos e fazer com que os alunos mostrassem todo o conhecimento que já possuíam, seja ele adquirido em meios escolares ou mesmo empírico, utilizei-me de diálogos, exemplos, associações, vivências pessoais e muita valorização das falas discentes. O primeiro tema abordado foi: “o que é um ser vivo?”. Iniciamos um debate sobre as características que definem um ser vivo: organização celular, ciclo vital, alimentação, reprodução e interação com outros elementos do meio ambiente. As respostas não surgiram com clareza, a princípio. Alguns alunos definiam que elementos com a terra e a água eram seres vivos: a terra por possuir pequenos animais, a água por permitir a vida. As dúvidas foram lançadas e, com base nas informações transmitidas e nos questionamentos que propus, os alunos foram construindo este conhecimento, diferenciando os mais diversos elementos. Condições necessárias para a sobrevivência dos seres vivos também foram estudadas: neste ponto, a ideia da fotossíntese foi lançada como primeira forma de obtenção de energia e produção de alimento, possibilitando a manutenção da vida de todas as espécies direta ou indiretamente. Além de adquirir novos conhecimentos e novas perspectivas de análise do meio ambiente, os alunos também precisavam enriquecer seu vocabulário. Termos técnicos foram empregados, como: componente biótico e abiótico. Biótico corresponde a todo elemento vivo; abiótico, com seu prefixo de negação “a”, a todo elemento não vivo. Os alunos, no início receosos com palavras diferentes, gostaram de aprendê-las e a explicação sobre o prefixo os ajudou bastante. Utilizando estas novas palavras, fizemos um quadro para classificar os elementos presentes em nosso ecossistema urbano como bióticos ou abióticos. Neste momento novas dúvidas surgiram e fiz a mediação, propondo reflexões sobre as características estudadas e o elemento em questão. As informações deste quadro foram utilizadas para estabelecer relações de dependência entre os componentes e chegamos a interações das mais diversas: uso da água para beber, tomar banho e limpar casa; utilização da madeira para construção de móveis e de rochas e derivados para construção civil, entre outras. Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes Como chegar e o que fazer para chegar Professor Nota Dez 58 Por fim, discutimos sobre a atuação do homem sobre o meio ambiente. Embora os outros elementos bióticos alterem o mesmo, o ser humano é o elemento que mais o modifica. Refletimos sobre nossas necessidades alimentares, de água, de moradia, de locomoção e verificamos o quão capazes somos para utilizar o meio ambiente para satisfazer nossas necessidades e o quão prejudicial isso pode ser para os outros elementos do meio. A necessidade de parcimônia no uso dos recursos naturais foi questionada pelos próprios alunos. Educando em Mogi - nº 59 - ano XI Ao chegar faz necessário saber se... O aluno avalia como se dá a intervenção do ser humano no ambiente e reconhece as necessidades humanas que mobilizam as transformações prevendo possíveis alterações. Os alunos apresentaram muitas dúvidas para diferenciar os elementos bióticos dos abióticos: como a água não é um ser vivo, se ela permite a vida? O ato de se alimentar e se reproduzir foram características cruciais para os alunos distinguirem elementos bióticos e abióticos. Ao conversar sobre as dúvidas que surgiam no desenvolvimento das aulas, os alunos compreenderam que elementos abióticos também são fundamentais para a existência da vida, entendendo assim a dinâmica das interações. Essa compreensão também possibilitou o entendimento da dependência existente entre todos os componentes do meio, pois quando um elemento não está disponível, outros elementos têm sua existência alterada. As necessidades humanas foram discutidas e analisadas: todo ser vivo altera o meio em que vive, porém, os seres humanos promovem alterações mais profundas. O equilíbrio entre a satisfação de nossas necessidades e a preservação das outras espécies é a situação que devemos almejar. O desmatamento e o avanço imobiliário foram citados com frequência pelos alunos. Por fim, os alunos ampliaram seus conhecimentos, adquiriram um novo vocabulário e se prepararam para os assuntos que ainda estudarão (água, solo, fotossíntese, cadeia alimentar e poluição), pois, em Ciências, tudo está interligado! Patrícia Ferraz Mandaglio é professora de EJA no Cempre Dra. Ruth Cardoso e nas escolas municipais Profª Teresa Martins Pinhal e Profª Cecília de Souza Lima Vianna. É graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Braz Cubas, em Pedagogia pela Universidade Iguaçu e pós-graduada em Educação Infantil e Alfabetização pelo Centro Universitário Claretiano. Educador: a missão da justiça social – Uma ação cheia de erros Educação Hoje 59 Andrea Rodrigues Barbosa Marinho “... aprendam que o desenvolvimento com justiça social só pode ser alcançado quando as próprias pessoas participam da formulação das políticas públicas e da elaboração de planos, programas e projetos que interferem em suas vidas.” (Gadotti & Romão) Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes Em março de 2011, quando a secretária municipal profª Maria Geny Borges Ávila Horle, apresentou os slides sobre a Responsabilidade Social do Servidor, ela completou em sua fala: “Não podemos, cada um, olharmos apenas para nosso microcosmos. Prestem atenção em uma coisa: não existem decisões para sempre, temos que ter responsabilidades e justiça social para atender a realidade e necessidade de nossas políticas públicas e comunidade. Assim como escreveu Paulo Freire: “O mundo não é. O mundo está sendo!”. Temos que ter o olhar humano, responsável, social e justo no atendimento educacional.” Educando em Mogi - nº 59 - ano XI Educação Hoje 60 No artigo que escrevi anteriormente, intitulado: “Gestão Democrática: entrei nessa e errei!” apontei três erros para iniciar uma discussão sobre a gestão democrática na escola pública. Dados aos telefonemas e comentários a respeito da escrita, percebi que o texto tomou contexto em muitos lugares e cumpriu sua missão de conquistar vida própria nas várias discussões que tomei conhecimento. Mas, como ele não acabou em si, aponto agora outro GRANDE ERRO que por 10 anos cometi enquanto educadora municipal. Nos erros e acertos dos sonhos e contra-sonhos que me encontro ao enveredar pela gestão democrática ou mesmo nos caminhos que andei ao construir-me como educadora municipal, surgiu e surge latente na oralidade de muitos colegas: “- Você tem uma missão a cumprir!” Devo sim ficar irritada quando me reportam com esta fala. Sou profissional que gosta de ser reconhecida pela competência e trabalho. Não é missão, é profissão! Certo? Sempre tive certeza disto até ouvir a nossa secretária com a fala supracitada. Em Pedagogia da Autonomia, na página 85, Paulo Freire afirma como uma das categorias de ser Educador que “O mundo não é. O mundo está sendo.” E a secretária remete a questão que não existem decisões para sempre. Pois é, a gente também muda no SENDO. O SER não É por simples vocação ontológica. O SER ontologicamente é incompleto (por isto busca o que o completa em várias áreas, várias personas). É inconcluso (por isto está sempre tentando concluir sonhos, projetos e depois de concluí-los, busca outros). É inacabado (por isto busca o acabamento nas ideias, metas, finalizações...) Assim, estamos sempre SENDO. É nesta ontologia do SER SENDO que, agora consigo reconhecer meu ERRO: 1) Não sou Profissional; sou AMADORA. O profissional tem sua profissão, hora, função. O AMADOR tem amor no que faz; vê além da função, vê a complexidade de suas ações no trabalho (Morin). O trabalho do Amador tem função biológica, orgânica, semântica, ontológica do SENDO. O amador estuda para aprofundar seus conhecimentos para então mudar sua realidade ou entender quando deve ser mudado por ela... 2) Tenho sim MISSÃO no que faço: O caráter profissional do ensino é o mínimo que podemos fazer, pois assim, somos puros especialistas. Dizia Edgar Morin: “O ensino deve voltar a ser não apenas uma função, uma especialização, uma profissão, mas também uma tarefa de saúde pública: uma missão” (Morin; 2006). Uma missão de transmissão que exige não só competência, mas também uma Arte. Exige um EROS que é a um só tempo: desejo, prazer e amor de transmitir amor pelo conhecimento e amor pelos alunos; comunidade. A Missão também supõe FÉ: Fé na cultura; Fé no espírito humano. Oras... como é difícil exercer a Missão! Algo elevada demais uma vez que supõe ao mesmo tempo Arte, Fé e Amor. Missão como justiça social... Como assim? Carlos Alberto Torres coordena a disciplina Social Justice Education que é ministrada desde 2006 na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) no qual possui 4 eixos bases: a) A educação como justiça social estuda, analisa e critica a desigualdade entre as pessoas; b) A educação como justiça social questiona o individualismo possessivo propugnado pela globalização; c) A educação como justiça social procura dar poder aos estudantes e comunidade por meio do conhecimento; o conhecimento e tecnologia como domínio público; d) A educação como justiça social confronta a noção de mercantilização, ou seja, resgata a noção de uma educação para o cidadão; cidadão que tem direitos e deveres. No paradigma da missão como justiça social, mesmo que faltem elementos ou infraestrutura nas escolas públicas, nelas existe o fundamental: GENTE! Educadores, Alunos e Alunas, Comunidade Escolar, todos se esforçando para fazer o melhor. Nem sempre há o êxito, mas ‘as gentes’ estão tentando. Assim, precisamos falar mais e melhor de nossas escolas, de nossa educação, de nossos EDUCADORES, pois nelas há gente que ensina e aprende. Mas, como se faz esta tal educação como justiça social? Como se constrói essa “escola de companheirismo que vive a experiência tensa da democracia”, como afirmou Paulo Freire? Postos os eixos de UCLA, como desenvolver a gestão democrática como justiça social na escola pública? Como ser Educador com missão como justiça social? Penso que podemos desenvolver: a) uma cultura tentando distinguir, contextualizar, denunciar e anunciar os problemas dedicando-se a eles; a sua superação, por meio do coletivo; b) preparar as mentes para enfrentar as incertezas que não param de aumentar, para enfim, resgatar um mundo melhor; c) educar para a compreensão e fé humana aos próximos e aos distantes; d) em nossos bairro, trabalhar a mogianidade com toda sua história, cultura, cidadania; e) trabalhar a aprendizagem do viver bem, a aprendizagem da incerteza e a educação cidadã. Sim, não é fácil, porém com todas estas pequenas reflexões, sinto-me muito feliz, enquanto Educadora, quando ouço de alguém que tenho uma missão e, completo: “Uma missão das mais amadoras possíveis!” Referências bibliográficas: Paulo Freire – Pedagogia da Autonomia Edgar Morin – A Cabeça Bem Feita Carlos Alberto Torres et al – Reinventando Paulo Freire no Século 21 Moacir Gadotti e José Eustáquio Romão – Educação de Adultos Andrea Rodrigues Barbosa Marinho é pedagoga (UBC), mestre em Educação (USP), doutoranda em Educação (UNINOVE), pesquisadora internacional (RIAIPE3) e diretora da EM Profª Cleonice Feliciano em Mogi das Cruzes. Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes Educação Hoje 61 Educando em Mogi - nº 59 - ano XI Educação Hoje 62 A escola e a televisão (Uma fábula nada fabulosa) Educação Hoje 63 E a escola encontrou-se certa feita com a TV e foi logo dizendo: - Ah! Eis-me de cara com a responsável pelas dificuldades que venho enfrentando. - O quê? Eu lá posso ser responsável pelas dificuldades de outrem? E de que a senhora está falando? - Estou falando das dificuldades que venho encontrando ultimamente para formar pessoas que atuem com princípios, pessoas que sejam honestas, que respeitem normas, que venham a tornar o mundo mais acolhedor, agradável e com maior durabilidade. – Ao dizer isso dona Escola foi ficando realmente triste. - Creio que a senhora está enganada. Apesar de suas boas intenções, acredito que está querendo encontrar explicações para suas próprias falhas nos outros e por isso, está acusando a mim por seus fracassos. Olha, sei que pode ser difícil, mas acredito que você precisa olhar para dentro de si mesma para encontrar a raiz de suas próprias dificuldades. - Não, não creio. Até você entrar em cena eu conseguia formar as pessoas que queria com facilidade. Havia uma grande tranquilidade, pois todos estavam contentes e as perspectivas eram de progressivas melhorias. Havia profissionais competentes, havia crianças alegres e havia também confiança num lindo futuro mais a frente. - Ora, dona Escola, a senhora está falseando um pouco as coisas. Apesar de eu ter vindo muito depois da senhora, vejo que quando a senhora era quase a principal formadora das pessoas, deixava muito a desejar. Muitos tropeçavam e ficavam com uma sensação bastante duradoura de que eram incapazes. Muitos a criticavam e viam que suas promessas eram falsas e que se dirigiam apenas a uma minoria. Sim, muitos eram excluídos por não ter recursos suficientes sequer para o uniforme, que na época era exigido em muitos países. - Posso até concordar que alguns fracassavam e que muitos ficavam de fora, mas eram as regras daquela época... Esse papo de exclusão e inclusão não colavam. Ninguém pensava nisso ainda. Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes Celio Knipel Moreira Educando em Mogi - nº 59 - ano XI Educação Hoje 64 - É, e minha chegada veio a mudar as regras da época. As pessoas começaram a se ver mais. Mais bonitas e a desejar parte dessa beleza. Começaram a ver mais os acontecimentos e a entender mais o que se passava no mundo. - Não, não foi bem assim não, dona TV. As pessoas passaram a ver mais o mundo e a ficar frias, sem emoções, diante dele. Até então, elas ouviam e ouvindo sentiam. Vendo, - e você mostrou-lhes muitas tragédias, guerras e outras coisas de que antes só ouviam falar, - elas foram ficando menos sensíveis. As pessoas passaram a desenvolver mais o outro lado de seus cérebros, dizem os especialistas. E isso se refletiu na capacidade delas entenderem o que leem. Aí está parte da grande coisa que você é, parte da grande contribuição que você trouxe a esse mundo: graças a essa contribuição, as pessoas foram gradativamente perdendo a capacidade de ouvir e de ler. Além disso, passaram a se preocupar muito mais com a aparência das coisas do que com seu significado verdadeiro e profundo. - Credo, dona Escola. Acho que a senhora está me valorizando em demasia. Não posso ter feito tudo isso não. Eu apresento imagens e por meio delas as pessoas enxergam o mundo. Mas, são as pessoas que procuram ficar mais atentas às formas, cores e outros aspectos mais visíveis das coisas. Jamais ninguém me viu dizendo para as pessoas esquecerem de seus livros. Jamais. - Você pode não ter tido essa intenção, dona TV, mas de bem intencionados o inferno está cheio, costuma-se dizer. Estou falando sobre o que resultou de seu jeito de agir e não de sua intenção. - Mas isso não resolve nada. É capaz que tenha ocorrido isso mesmo, apesar de eu não ter tido a intenção, diga-se. Mas você não vai conseguir anular aquilo que eu fiz e faço. Sou um fato consumado. As pessoas me amam. Eu não sei se elas ainda te querem tão bem como querem a mim. Elas querem pagar por mim e me compram. Quanto a você, Escola, elas nem sabem que pagam. Só te compram porque está incluída nos impostos. Ficar me acusando não vai tornar sua consciência mais leve. Acusar-me não vai fazê-la assumir o seu próprio papel, nem reduzirá sua responsabilidade de formação da consciência das pessoas. - Ah, sim eu sou a responsável pela formação da consciência das pessoas! Mas você continuará estragando tal consciência, incapacitando as pessoas (e os alunos) à leitura, insensibilizando-as diante de graves acontecimentos, aos quais você banaliza por estar mostrando a todos constantemente. Você continuará, ainda, a iludir as pessoas, dando-lhes a impressão de que é simples e fácil lidar com qualquer problema: basta evadir-se, basta mudar de canal. É isso o que você está constantemente dizendo a todos que convivem com você. E se é isso, como posso formar a consciência das pessoas, se você, desde quando pequenas, as converte em seres todo-poderosos que acreditam poder mudar qualquer situação que esteja diante delas bastando-lhes apertar um botão (como se mudar o mundo fosse como mudar de canal ou desligá-la)? Percebe agora o quanto você está contribuindo para realçar qualquer egoísmo que alguém possa ter? Como é que qualquer desses todo-poderosos cidadãos vai poder entrar em acordo com seus semelhantes? Percebe o quanto você está limitando a capacidade de diálogo das pessoas? - Diálogo? Você, Escola, quer falar em diálogo? Eu, de fato, não sou especialista nisso. Mas, no momento em que vim ao mundo, você também já não praticava muito disso, não. Aliás, naquele momento o mundo estava justamente se recompondo da falta de diálogo que o havia levado à guerra. Creio que o egoísmo atual, com toda a sua falta de diálogo pode não ser tão grave quanto o egoísmo que conseguiu arregimentar as pessoas em ideologias e levá-las à guerra. - A TV ficou pensativa por um instante e concluiu: - É, eu não existia ainda. E você? O que você fazia? Celio Knipel Moreira é professor de Ensino Fundamental II – História na EM Benedito Ferreira Lopes – CAIC. A importância da Educação Infantil no processo de alfabetização Tatiane Nunes da Rocha Alfabetização. Por muitos anos, essa palavra esteve rodeada da concepção que as crianças só poderiam ler e escrever ao chegar às séries iniciais do ensino fundamental. Hoje, porém, sabemos que desde que nascemos estamos inseridos num mundo repleto de informações, textos, palavras e letras recebendo constantes estímulos para entrar nesse universo letrado. A Educação Infantil constitui a primeira etapa da educação básica e cabe a ela desmistificar essa antiga concepção. Ainda hoje, a comunidade chega à escola acreditando que nessa fase de escolarização as crianças irão apenas brincar, encarando-a sem seriedade. Muitas vezes, até, nós, profissionais desse segmento, nos equivocamos ao responsabilizar o professor de Ensino Fundamental por todo o processo de alfabetização, pois sabemos o quanto o nosso papel é imprescindível dentro desse processo, assim contribuindo para o avanço das crianças na aquisição de competências e habilidades leitoras e escritoras. Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes Educação Hoje 65 Educando em Mogi - nº 59 - ano XI Educação Hoje 66 E o que fazer para contribuir para a alfabetização e ainda reverter a concepção da família sobre a escola? O primeiro ponto que devemos ter claro em nossa prática é que o brincar se faz necessário e deve estar presente na rotina das instituições de Educação Infantil, assim como o movimento, a música, a imaginação, a criatividade, a socialização, mas devemos englobar tais atividades em situações significativas que ofereçam aos educandos o desenvolvimento de suas competências. Essa contextualização e envolvimento das áreas do conhecimento, bem como a intervenção do professor, são fundamentais para que tais atividades se tornem ricas em aprendizagem. Outro ponto a ser abordado é que já contribuímos para o desenvolvimento leitor e escritor das crianças com atividades permanentes ou até mesmo sequências didáticas que realizamos em nossas salas de aula, como: ■ a leitura pelo professor de diversos gêneros textuais; ■ o manuseio e a apreciação de diferentes livros e outros materiais escritos pelos alunos; ■ a escrita de palavras e textos, ora com o professor escriba, ora a escrita espontânea de maneira não convencional; ■ a utilização de letras móveis; ■ atividades com nome próprio; ■ a construção da rotina diária; ■ a percepção entre o falado e o escrito dentro de cantigas, parlendas, quadrinhas. Estas são situações que contribuem para o início da apropriação do sistema de escrita e ainda na inserção e participação das crianças em práticas sociais. O que acontece, muitas vezes, é que não nos damos conta do valor e da riqueza do nosso trabalho e o fato de que podemos transformar essa visão errônea da comunidade. Precisamos acreditar o quanto a nossa rotina é preciosa para o processo de ensino-aprendizagem e o mais fascinante de tudo isso é que podemos e devemos realizar nosso papel sem perder a ludicidade e a pureza que está nos pequeninos. Afinal, ninguém está dizendo que as crianças devem concluir essa etapa da escolaridade totalmente alfabetizadas, elas devem ser respeitadas em suas singularidades e em sua infância. A nossa função é buscar estratégias didáticas que estimulem o processo de aquisição da escrita, contribuindo para sua formação. Assim, conscientes da importância da Educação Infantil para a alfabetização, estaremos colaborando rumo a uma Educação Básica de qualidade. Tatiane Nunes da Rocha é professora da Escola Municipal Profª Ilda Pereira Peña Alvarez. Referências bibliográficas: BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Fundamental: Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, vol. III: Conhecimento de mundo. Brasília: MEC/ SEF, 1998. BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Programa de Formação de Professores Alfabetizadores. Coletânea de textos. Brasília, 2001 . Prefeitura de Mogi das Cruzes. Matrizes Curriculares Municipais para a Educação Básica – 9 anos, Mogi das Cruzes/ SP, 2009. Prefeitura de Mogi das Cruzes. Secretaria Municipal de Educação. Unidades Didáticas de Língua Portuguesa, Mogi das Cruzes/SP, 2010. As paisagens mogianas e seu potencial didático pedagógico Lúcia Helena Martins Gonçalves “A paisagem não é formada apenas por volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons (...). A dimensão da paisagem é a dimensão da percepção, o que chega aos sentidos”. (Milton Santos) A localização geográfica de Mogi das Cruzes, área de transição entre o vale do Paraíba e o litoral, possui grande potencial didático, cientifico e cultural e a torna particularmente importante para a Educação Ambiental. A cidade se destaca por sua riqueza em flora e fauna, por encontrar-se no Bioma Mata Atlântica, é generosa em nascentes que abastecem três bacias hidrográficas: Tietê, Paraíba do Sul e Itapanhaú. Para completar o cenário o município é envolvido por duas serras: a serra do Mar e a serra do Itapeti. Além de possuir vários parques que nos convidam a investigar as diferentes formas de vida e possibilitam a integração de atividades de lazer com a educação. Nestes parques, com o auxilio de trilhas interpretativas, a observação em campo é tarefa simples de ser realizada. Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes Educação Hoje 67 Educando em Mogi - nº 59 - ano XI Educação Hoje 68 A represa do rio Jundiaí em Taiaçupeba, a pedreira de Sabaúna, o Pico do Urubu na serra do Itapeti, as lagoas naturais, os lagos formados pela extração de areia no entorno do rio Tietê, as nascentes de César de Souza que abastecem duas importantes bacias hidrográficas, a do Tietê e a do Paraíba do Sul, são apenas exemplos dessa riqueza. A vegetação, em forma de ilhas florestais distribuídas por todo o município, a produção agrícola e o clima de nossa cidade somada à abundância de exemplos de estruturas tectônicas, de variadas rochas e solos, além da facilidade em que se podem ser observados por meio de novas exposições abertas por atividades humanas ou graças a implantação e expansão das redes viárias podem aguçar a curiosidade e a capacidade de se relacionar estes elementos através da observação. Pois: ■ Que características geográficas determinam esta diversidade? ■ Como a localização determina o clima? ■ Como o solo e clima determinam as paisagens? ■ Como as características geográficas influenciam a fauna e a flora? ■ Como os seres vivos se adaptam às características geográficas? ■ Como o ser humano participa ou interfere nestes ciclos? A diversidade de assuntos e enfoques trabalhados neste cenário é enorme. Sejam eles realizados em sala de aula ou ultrapassando os limites físicos das escolas são capazes de gerar conhecimento ao estimular a observação, a reflexão e a ação ao analisar os aspectos da dinâmica das diferentes paisagens, uma vez que a dimensão da paisagem, segundo Santos (1988), é dada pela dimensão da percepção, ou seja, aquilo que chega aos nossos sentidos. De fato, a paisagem é tudo aquilo que nossa visão abarca, sendo composta, além dos volumes, por cores, movimentos, sons, odores, etc. A percepção ambiental, segundo Del Rio (1996), refere-se ao processo de interação dos indivíduos com o ambiente. Tal processo envolve mecanismos perceptivos e cognitivos, podendo constituir importante instrumento para a avaliação das práticas e fundamentos da educação ambiental. Posto que permite expor a visão à imagens e valores que desenvolvem o respeito ao que lhes cerca. O processo de aprendizagem iniciado por essas observações fica mais rico quando pontuado por ações de registro e reflexão sobre o que se observou e descobriu. Ao se promover a leitura da paisagem é necessário ter em conta que essa é uma atividade que requer alguns procedimentos específicos, para sua análise, sendo preciso obedecer a alguns estágios, tais como: ■ Observação – quanto maior domínio conceitual possuir o observador, maior será a capacidade de discriminação do que é observado. ■ Análise – Estabelecer relações entre os objetos presentes na paisagem, sejam naturais ou artificiais. ■ Interpretação – Atribuir significado e avaliar a disposição dos elementos e suas interrelações. Assim, se torna necessário sensibilizar, chamar a atenção para a preservação desta paisagem, natural ou modificada, fazer com que as crianças conheçam primeiramente o jardim de suas casas, as árvores de sua rua, a vegetação de seu bairro, as serras que contornam sua cidade. Enfim, chegarmos a uma prática pedagógica e social efetiva através das sensações que as formas ao nosso entorno nos suscitam. Notarmos algo que nos incomoda para tentarmos mudar, para buscarmos uma compreensão do porque daquele fato ser como o é, ou notar simplesmente para gostar, para apreciar e cuidar como valor. Referências bibliográficas: AB’SABER, A.N. O problema das Conexões Antigas e da separação da Drenagem do Paraíba e do Tietê. “Boletim Paulista de Geografia” em julho de 1957. CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo, Cultrix, 1997. SANTOS, Milton. Metamorfoses do Espaço Habitado. São Paulo: Hucitec, 1988. STRAFORINI,Rafael. Ensinar geografia o desafio da totalidade-mundo nas séries iniciais. DEL RIO, V. & OLIVEIRA, L. (orgs.) Percepção Ambiental: a experiência brasileira.São Paulo: Universidade de São Carlos (SP)Studio Nobel, 1996. Lúcia Helena Martins Gonçalves é pedagoga com licenciatura plena em geografia e especialização em psicopedagogia.. Desenvolve pesquisas sobre Linguagem e Educação Ambiental e leciona na EM Benedito Ferreira Lopes - Mogi das Cruzes (SP) Educação Hoje 69 Navio dos Loucos ou Nau dos Insensatos, quadro de Hieronymus Bosch (1450-1516) “É tempo de mudar as escolas, as atitudes, os pensamentos, o ambiente como um todo. Inclusão significa transformação”. Sonia Aparecida Quadra Pereira A partir da segunda metade do século XVII, a loucura é sistematicamente internada e, assim, como a lepra na Idade Média, este banimento vai se constituir como um mecanismo de segregação social. O “internamento” do século XVII tem uma de suas origens na crise econômica que afetava todo o mundo ocidental: os desocupados, os pobres, “os diferentes” e os desempregados foram sistematicamente aprisionados sob pretexto de garantia da ordem social. “A hostilidade que o acolhe se tornará num novo equívoco, a medida de saneamento que o põe fora do caminho. De fato ele continua a vagar, porém não mais no caminho de uma estranha peregrinação: ele perturba a ordem do espaço social”. Talvez parte destas naves que levavam os loucos para terras distantes fossem destinadas a viagens de peregrinação e outra parte realmente era destinadas a retirar estes sujeitos do convívio social, entregando-os à responsabilidade de marinheiros, que se encarregavam de levar os loucos para portos longínquos, garantindo assim que eles não voltariam. Era a segregação social clara e cruel. A sociedade, desde o período da Idade Média buscou formas de eliminar “os diferentes” da convivência com os ditos “normais”. Eles eram lançados ao mar e eram associados à ociosidade e à incapacidade. Nos dias de hoje ainda acontece essa segregação, não tão cruel como antigamente, mas diariamente podemos observar seres humanos excluídos, humilhados por seus familiares e pela sociedade. Junto com as mudanças de “termos” vieram também uma série de documentos e discussões sobre a inclusão: ■ 1990 - Declaração Mundial sobre Educação para Todos/Unesco; ■ 1993 - Normas sobre a Equiparação de Oportunidades para Pessoas com Deficiência/ONU e Inclusão Plena e Positiva de Pessoas com Deficiência em Todos os Aspectos da Sociedade/ONU; ■ 1994 - Declaração de Salamanca e Linhas de Ação sobre Educação para Necessidades Especiais/Unesco; ■ 1999 - Convenção Interamericana para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência (Convenção da Guatemala)/OEA; ■ 2001 - Classificação Internacional de Funcionalidade, Deficiência e Saúde (CIF)/OMS, documento que substituiu a Classificação Internacional de Impedimentos, Deficiências e Incapacidades/OMS de 1980; ■ 2003 - Convenção Internacional para Proteção e Promoção dos Direitos e Dignidade das Pessoas com Deficiência/ONU. Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes Inclusão x Integração Educação Hoje 70 As legislações vão caminhando até os dias de hoje, sofrendo alterações, sempre preocupadas em acolher o deficiente à escola e à sociedade. Educando em Mogi - nº 59 - ano XI A diferença entre inclusão e integração Na inclusão é a escola que tem de estar preparada para acolher todos os alunos; na integração é o aluno que tem de se adaptar às exigências da escola. Na inclusão, o fracasso escolar é da responsabilidade de todos (professores, auxiliares, pais, alunos); na integração, o fracasso é do aluno que não teve competência para se adaptar às regras inflexíveis da escola. A inclusão é estar com o outro; a integração é estar junto ao outro (o que não necessariamente significa compartilhar nem aceitar estar junto dele, mas não estamos com ele). Mas, na integração, nem todos os alunos com deficiência têm a chance de entrar numa turma de ensino regular. A integração escolar acaba sendo o deslocamento da educação especial para dentro da escola regular. Integrar-se é um caminho de mão única: cabe à pessoa com deficiência modificar-se para poder dar conta das exigências da sociedade. É um processo de seleção, processo que atinge todas as pessoas, uma vez que vivemos em uma sociedade altamente competitiva. Com as pessoas com deficiências, no entanto, o processo se faz mais perverso: não lhes é dada nem a oportunidade de competir, elas são excluídas por princípio, o princípio da incapacidade. Se incapazes, devem ser reabilitadas, se não reabilitadas adequadamente, não podem se integrar. É a partir do princípio do respeito à diversidade que se firma o movimento da inclusão social. De maneira nenhuma se propõe a negação das diferenças, mas, sim, o respeito a elas. Não se propõe a igualdade mascarada, mas a equidade, oferecer oportunidades iguais a cada um, segundo sua necessidade. Não se trata de preparar para integrar, mas de incluir e transformar. O que temos observado com o movimento da inclusão social é que muitas crianças que, anteriormente, eram consideradas incapazes de frequentar qualquer programa de caráter educacional, seja pela gravidade ou complexidade de sua condição, hoje chegam às instituições especializadas. Elas chegam reivindicando seu direito de estarem incluídas naquele espaço, reivindicam o seu direito de ter acesso à educação. Isso não se confunde com o preparar para integrar, mas representa a busca do que é educação de qualidade para cada pessoa. Isto exige uma análise bastante séria que aponta para o que chamamos de inclusão com responsabilidade, que traz implícita a busca pela equidade: oportunidades iguais com respeito às necessidades de cada um. Queremos viver em uma sociedade inclusiva, na qual cada cidadão tenha o direito e a oportunidade de construir-se como sujeito e como cidadão, tendo acesso a todos os benefícios que essa sociedade puder oferecer. Segundo Maria Teresa Eglér Mantoan em seu artigo “Todas as crianças são bem-vindas à escola” (publicado no site www. pro-inclusao.org.br): “As escolas e professores já apresentam sintomas pelos quais podemos perceber que estão evoluindo dia-a-dia para uma educação de qualidade para todos: ■ reconhecimento e valorização da diversidade, como elemento enriquecedor do processo de ensino e aprendizagem; ■ professores conscientes do modo como atuam para promover a aprendizagem de todos os alunos; ■ necessidade de cooperação entre os implicados no processo educativo - dentro e fora da escola; ■ valorização do processo sobre o produto da aprendizagem; ■ enfoques curriculares, metodológicos e estratégias pedagógicas que possibilita a construção coletiva do conhecimento”. A escola prepara para o futuro e se as crianças conviverem e aprenderem a valorizar a diversidade, nas suas salas de aula, serão adultos bem diferentes de nós, que temos de nos empenhar tanto para este momento. A inclusão está denunciando o abismo da qualidade dos processos de ensino e aprendizagem. A inclusão educacional pretende o que se deseja de uma escola: o favorecimento da convivência com a diversidade, a instituição do respeito e da fraternidade sem excluir ninguém do ensino regular. Somente dessa forma, preparar-se-ão verdadeiros cidadãos, construindo uma escola livre de preconceitos. O Ministério da Educação, por meio da Secretaria de Educação Especial, criou o Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais – SRM, instituído pela Portaria nº 13 de 24 de abril de 2007. O Programa tem como finalidade a disponibilização dessas salas e visa apoiar as redes públicas de ensino na organização e na oferta do Atendimento Educacional Especializado (AEE). É um espaço organizado preferencialmente em escolas comuns da rede básica de ensino, que pode atender também unidades escolares próximas. As salas de AEE são constituídas de mobiliários, equipamentos específicos, materiais didáticos, recursos pedagógicos e de acessibilidade, além de contar com professores com formação para realizar este tipo de atendimento. As Salas de Recursos Multifuncionais – SEM são espaços físicos localizados nas escolas públicas de educação básica específicos para o atendimento aos alunos, em turno contrário ao que frequentam a escola comum. Estes locais são de responsabilidade do diretor e da comunidade escolar, que devem zelar pela conservação, organização e administração do mesmo. As atribuições do professor são identificar, elaborar, produzir e organizar serviços, recursos pedagógicos e de acessibilidade e estratégias, considerando as necessidades específicas dos alunos de forma a construir um plano de atuação para atendê-las. Ao identificar certas necessidades do aluno, o professor de AEE reconhecerá também as suas habilidades e a partir de ambas traçará o seu plano de atendimento. Para o deficiente é dada mais uma oportunidade com as salas de AEE, para que ele possa caminhar para uma inclusão escolar e social, integrando-se com a sociedade. Sonia Aparecida Quadra Pereira é professora da E.M. Dr. Álvaro de Campos Carneiro, pedagoga e pós-graduada em Psicopedagoga Institucional e Clínica e em Distúrbio de Aprendizagem. Referências bibliográficas: Mantoan; Maria Teresa Eglér: Todas as crianças são bem vindas às escolas. Revista Ciranda da Inclusão, ano 1.Nº5; ano2.nºs15 e 17. Secretaria de Educação Especial/MEC. Revista Inclusão, v4. Nº1. Janeiro/julho 2008 Lopes, Maura Corcini: Inclusão Escolar: Desarrumando a casa. Suplemento NH na escola, Novo Hamburgo (RS), p.22,12nov.2005. www.ip.usp.br www.portal.mec.gov.br www.novaescola.com.br Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes existente entre o velho e o novo na instituição escolar brasileira. Ela é reveladora dessa distância que precisa ser preenchida com as ações que irão fazer a diferença na educação. Assim sendo, o futuro da escola inclusiva está, a meu ver, dependendo de uma expansão rápida dos projetos verdadeiramente imbuídos do compromisso de transformar a escola para que ela se adeque aos novos tempos. A educação como um direito de todos é o principio constitucional que fundamenta a organização da educação especial na perspectiva da educação inclusiva e a implantação de políticas públicas que conduzam à superação dos valores educacionais, constituindo as condições de acesso, participação e aprendizagem de todos os alunos nas escolas de ensino regular. Há necessidade de orientações para mudanças no contexto educacional voltadas para garantir as condições de acessibilidade, a formação de professores, a oferta do atendimento educacional especializado e a organização da educação especial. O atendimento educacional especializado no ensino regular, como prescreve os textos legais, vem atender a educação em geral e a educação especial, que nos conduz a uma melhoria Educação Hoje 71 Educando em Mogi - nº 59 - ano XI Educação Hoje 72 Educação de Jovens e Adultos: Oportunidades e parcerias na formação docente Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes Educação Hoje 73 Neusa Bolanho Como professora universitária, tive a oportunidade de desenvolver uma parceria com a Prefeitura de Mogi das Cruzes. Momento gratificante entre professores da rede municipal e alunos do 4.º período do curso de Pedagogia da Universidade Braz Cubas, que frequentaram a disciplina de Educação de Jovens e Adultos, que ministrei durante o 1.º semestre de 2011, e alunos das salas de EJA (do 2.º ao 4.º termo). Nosso compromisso em sala de aula, ao desenvolver a disciplina, foi o de estudar histórica e metodologicamente os conteúdos propostos. Os estudos se dividiram entre aspectos teóricos e práticos. Estudos realizados Apresentamos aos alunos a Educação de Jovens e Adultos atrelada a duas questões polêmicas e também muito atuais, a saber: respeito à diversidade e a inclusão social. Reportamo-nos a vários autores que tratam direta ou indiretamente do assunto na atualidade. Levamos um questionamento importante para os alunos, demonstrando, que se nota na história da educação brasileira, descaso com relação à educação das massas, chamada por Paulo Freire de Educação Popular. Trata-se de uma questão cultural que nos reporta a ideia de que para a nação brasileira até o início do século XX, o analfabetismo não constituía problema. Educando em Mogi - nº 59 - ano XI Educação Hoje 74 Discutimos a primeira tentativa de mudança educativa, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, publicado em 1932. Desse debate resultou a nossa primeira Lei de Diretrizes e Bases, implantada em 1961. Apesar de tratar-se de reivindicação de um grupo específico de educadores, o clamor por educação sempre existiu. Na pauta das discussões esteve também Paulo Freire, educador, respeitado mundialmente e pouco reconhecido no Brasil até os anos 80, quando recebeu a anistia política. Suas ideias e ações, muito polêmicas para alguns, representaram uma grande contribuição para o crescimento da educação popular no Brasil, caracterizado pelo Método Paulo Freire. No final dos anos 80, iniciou-se no Brasil, o processo de reconstrução democrática, tendo sido promulgada a Constituição de 1988, conhecida como Constituição Cidadã, que trouxe avanços para a EJA, conforme descrito no artigo 208: O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I – Ensino Fundamental obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria. (BRASIL, CF, art. 208) Em 1990, o Brasil e outros países em desenvolvimento participaram da Conferência Mundial de Educação para todos, em Jotim, na Tailândia, quando se firmou o compromisso pela extinção do Analfabetismo, supervisionada por entidades internacionais, como UNESCO, UNICEF e Banco Mundial. O compromisso brasileiro foi firmado no Plano Decenal de Educação para Todos, em 1993. Com relação à Educação de Jovens e Adultos, as ações se aplicaram no Projeto “Alfabetização Solidária”. Nossos estudos contemplaram, ainda, os avanços legais existentes no final do século XX e constantes na Lei de Diretrizes e Bases – LDB 9394/96, como descrito abaixo: Art. 37 – a educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. § 1.º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e adultos, que não puderam efetuar seus estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. A nosso ver as perspectivas atuais para a EJA precisam considerar que a alfabetização depende de todo um contexto histórico e político; e, de concepções pedagógicas, de que o alfabetizador é um mediador entre o sistema de ensino e os alunos. Para resgatar nossa proposta inicial, dizemos que hoje, o analfabetismo é um problema nacional que deve ser discutido e avaliado permanentemente. A partir da(s) teoria(s) estudada(s), chegamos às metodologias de ensino mais adequadas à Educação de Jovens e Adultos hoje. Foram organizados grupos de pesquisa para analisarem as experiências que deram certo. Num segundo momento, unindo a teoria à prática, os alunos foram encaminhados às escolas. Catorze grupos se distribuíram em escolas da rede municipal de Mogi das Cruzes e outros dois grupos ficaram em escolas de Itaquaquecetuba e Santa Isabel respectivamente. Em Mogi das Cruzes, nosso contato aconteceu diretamente com Secretaria de Educação Municipal, que prontamente viabilizou o trabalho que se estruturou da seguinte forma: ■ os grupos de pesquisa se subdividiram em duplas e trios e estiveram nas várias escolas da rede municipal e em municípios vizinhos, que possuem salas de EJA. ■ no dia 17 de maio, os alunos se deslocaram para as diversas escolas que os acolheram, estabelecendo contato com os professores, conhecendo as metodologias de trabalho, alunos e níveis de aprendizagem. Foi um primeiro contato muito importante para a coleta de dados sobre os conteúdos ministrados nas aulas e desenvolvimento da pesquisa. ■ no dia 24 de maio, de posse das informações coletadas nas escolas visitadas e com a sugestão da professora das salas, os universitários prepararam uma aula especial para aplicarem nas classes de EJA. A aplicação da aula ocorreu no dia 31 de maio em todas as escolas parceiras. ■ no dia 7 de junho, os universitários em aula, relataram a experiência positiva, gratificante que tiveram. Naquela oportunidade deram conhecimento das experiências que vivenciaram e entregaram seus relatórios de pesquisa. Vejamos alguns depoimentos: “(...) Pudemos observar na prática o grande desafio dessa realidade, pois é completamente diferente alfabetizar uma criança e alfabetizar um adulto”. “(...) uma experiência incomparável. (...) Os educandos desenvolveram as atividades propostas com entusiasmo e satisfação. É gratificante ver o brilho nos olhos e o sorriso estampado no rosto daqueles alunos que tem sede de aprender”. “(...) Houve interação entre alunos e professores. Conseguimos atingir o objetivo proposto. A professora da escola gostou da nossa atuação em sala de aula. Enfim para nós, que realizamos o projeto, foi uma soma de conhecimentos e experiências”. Os depoimentos acima só foram possíveis, porque, diretores e professores da rede municipal, abriram as portas das escolas para que os universitários pudessem vivenciar a realidade escolar. Nossa gratidão a Equipe de Educadores da Secretaria Municipal de Educação de Mogi das Cruzes, sempre tão solidária e parceira. Neusa Bolanho é professora da disciplina de Educação de Jovens e Adultos e supervisora de estágio do curso da Universidade Braz Cubas. Referências bibliográficas: AZANHA, José Mário Pires. Planos e Políticas de Educação no Brasil: Alguns Pontos para Reflexão. In:MENESES, J. G. de C. e outros. Estrutura e Funcionamento da Educação Básica – Leituras. 2.ª ed. atualizada. São Paulo: Pioneira, 2001, cap.4: p. 102-123. BRASIL. Constituição (1988), Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988/ Obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com colaboradores, 38. ed. Atual, SP. Saraiva, 2006, (coleção Saraiva Legislação). ______. ______. ______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, (Lei n.º 9394/96). Brasília, MEC/SEF, 1997. Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes Vivenciando a prática atual Educação Hoje 75 Educando em Mogi - nº 59 - ano XI Educação Hoje 76 Ensino da biodiversidade em campo e uso das matrizes curriculares municipais Educação Ambiental como Projeto A Educação Ambiental tem a característica de poder promover o desenvolvimento sustentável e fazer com que as pessoas abordem questões relacionadas ao meio ambiente buscando resolver os problemas inerentes a ele. O ensino sobre o meio ambiente, para ser eficiente, deve abordar a dinâmica do desenvolvimento não só dos meios físicos e biológicos, mas, também o socioeconômico e o humano (PIVA, 2008). A palavra “biodiversidade” surgiu na década de 1980 com a junção das palavras diversidade e biológica, representa o conjunto da variedade de organismos viventes no planeta Terra e nos remete automaticamente à noção de conservação e manutenção da mesma. Na formação continuada oferecida pela Escola Ambiental de Mogi das Cruzes no mês de agosto de 2011, os professores da rede municipal participaram de uma palestra ministrada pelo prof. Moacir Wuo (Universidade de Mogi das Cruzes), que abordou o tema: Educação Ambiental como Projeto. Aspectos como biodiversidade, ensino-aprendizagem, saberes docentes, teoria cognitiva e aprendizagem significativa foram trabalhados; tendo como enfoque o uso das Matrizes Curriculares Municipais no planejamento de aula dos educadores da rede municipal de ensino. O professor discorreu sobre o passo a passo da elaboração de um projeto bem como as dificuldades para sua execução. Mas afinal o que é um projeto? Projeto, do latin pro-jicere: literalmente é colocar adiante. A elaboração de qualquer projeto depende de dois fatores fundamentais: a capacidade de se construir uma imagem mental de uma situação futura e a capacidade de se conceber um plano de ação a ser executado em um tempo determinado, o que vai permitir sua realização (SILVA, 2004). Para traçar um caminho eficaz que o conduza a atingir os objetivos a que se propõe define-se no projeto: o que fazer (assunto); porque fazer (justificativa); para que fazer (objetivo); onde fazer (local); como, com que, quanto e quando fazer (método); com quanto fazer e como pagar (custo); quem vai fazer (SILVA, 2004). Um planejamento de ensino ou elaboração de um projeto pode ter como subsídio o próprio local onde o educando mora e estabelece suas vivências, não sendo necessárias excursões a locais não conhecidos ou mesmo distantes. Uma aula de campo, ainda que dentro da própria unidade escolar, pode ser fascinante, criativa, estimulante e extremamente proveitosa, desde que bem planejada. Segundo Moacir Wuo, a proximidade da questão da biodiversidade associada ao valor histórico, cultural e geográfico do Rio Tietê, permite o estabelecimento do vínculo motivador para a construção de um projeto de ensino centrado na aprendizagem significativa a partir de um problema real (WUO et al, 2010). Nas atividades em ambientes naturais de campo devem integrar-se fatores cognitivos e afetivos. Os fatores cognitivos referem-se àqueles ligados aos conteúdos científicos, metodológicos e explicativos, enquanto que os afetivos referem-se aos fatores motivacionais sobre preservação, conservação e manutenção da qualidade de vida (SENICIATO E CAVASSAN, 2008). Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes Stela Dalva Sorgon "A relação com a realidade concreta, com seus cheiros, cores, frios, calores, pesos, resistências e contradições é mediada pela imagem virtual que é somente imagem. O pé não sente mais o macio da grama. A mão não pega mais um punhado de terra escura. O mundo virtual criou um novo habitat para o ser humano, caracterizado pelo encapsulamento sobre si mesmo e pela falta do toque, do tato e do contato humano." (Leonardo Boff) Educação Hoje 77 78 Educando em Mogi - nº 59 - ano XI Educação Hoje Pesquisa e Estudo em Campo Para que um trabalho de campo ou excursão tenha significado para a aprendizagem, e não apenas seja visto como atividade de lazer, é importante que o professor tenha clareza dos diferentes conteúdos e objetivos que pretende explorar. Deve-se considerar a riqueza do trabalho de campo em áreas próximas, como o próprio pátio da escola, a praça que muitas vezes está a poucas quadras da escola, as ruas da cidade, os quintais das casas, os terrenos baldios e outros espaços do ambiente urbano (PCNS Ciências). Pesquisas em educação ambiental costumam valer-se de várias técnicas de coleta de dados. As mais usuais são: a observação espontânea, participante ou sistemática; a entrevista, o questionário, a história de vida, entre outros. No caso do estudo realizado na Escola Ambiental, durante a formação continuada, a técnica utilizada foi a de coleta de insetos, utilizando uma parcela da população de formigas habitualmente presente no local com o objetivo de conhecer a diversidade desses insetos e seu comportamento frente à oferta de alimento. As professoras foram levadas ao laboratório da Escola Ambiental, onde prepararam sob a orientação do professor Rogério Cordeiro, as iscas para captura dos insetos a serem identificados. Após um breve espaço de tempo, as iscas foram recolhidas e os exemplares de formigas foram colocados em recipientes com álcool. Após alguns minutos, as mesmas puderam ser observadas com as lupas de mesa. Seguindo uma Chave de Identificação (CORDEIRO, 2010), as participantes puderam identificar os espécimes coletados, por meio de suas estruturas morfológicas, definindo a espécie a que pertencem, a família, o gênero, etc. O objetivo da aula prática foi demonstrar a significância de uma aula em campo, principalmente para o estudo de Ciências e da biodiversidade, onde os educandos podem perceber fenômenos e processos naturais presentes no ambiente como um todo, não apenas no que é chamado de natureza. Nesse sentido, o professor pode elaborar um roteiro de campo para a coleta e o registro de dados durante a excursão, a fim de que sejam explorados posteriormente em sala de aula. As participantes perceberam que não é preciso “sair” da unidade escolar para desenvolver uma aula prática norteada pela pesquisa científica e toda a sua metodologia. De acordo com Cordeiro, as atividades de campo permitem observações, coleta de dados, análises, descrições, comparações, prospecções, predições, experimentações e inferências diversas em tempo e situações reais (CORDEIRO et al, 2010). Para Sorrentino, um estudo do meio, hoje em dia, para seres urbanizados, industrializados e globalizados que somos precisa ser dirigido de forma suave, porém firme, para que os participantes resgatem, inclusive, sua capacidade de se espantarem, de acolherem o silêncio, de sentirem a solitude, a diversidade, o contato com o outro e, sobretudo, com o belo, o ético e o estético – uma relação quase desconhecida na atualidade (SORRENTINO E LESTRINGE, 2008). A atividade de campo realizada durante a formação continuada permite ao professor discutir junto com seus alunos temas importantes e relacionados à biodiversidade, tais como: competição, evolução e filogenia. O método utilizado é simples e pode ser aplicado nas dependências da unidade escolar. Durante a atividade, o aluno vai construindo o seu aprendizado porque participa ativamente de todo o processo. Uso das Matrizes Curriculares Municipais Um grupo de educadores de diferentes áreas da rede municipal de ensino de Mogi das Cruzes reuniu-se num esforço comum para, apoiados pelos PCNs e pelas Diretrizes Curriculares Municipais, unificar o conteúdo oferecido nas unidades escolares do município. Com isso, foram lançadas no ano de 2008, as Matrizes Curriculares Municipais para Educação Básica - Língua Portuguesa, em 2009 de Matemática e em 2010 as de Ciências Naturais e Sociais. As Matrizes são ferramentas importantíssimas desenvolvidas para nortear o trabalho do educador municipal e foram utilizadas na apresentação dos palestrantes, estimulando seu uso pelos educadores participantes da formação. Como exemplo de utilização das Matrizes Curriculares localizamos na mesma os quatro eixos que podem ser utilizados em um estudo em campo e, neste caso, visualizando a aula prática sobre biodiversidade utilizando as formigas como modelo. Aonde chegar Na caracterização das condições e da diversidade de vida no planeta Terra em diferentes espaços. Como chegar Reconhecendo a importância da classificação biológica para a organização e compreensão da enorme diversidade de seres vivos. O que fazer para chegar Identificar e classificar seres agrupando-os por suas características celulares nos diferentes reinos. Ao chegar faz necessário saber se Caracteriza os diferentes seres vivos e classifica-os de acordo com sua estrutura, alimentação, movimentação, organização celular e ambiente em que ocorrem. Educação Hoje 79 Desta maneira, o estudo da biodiversidade deixa de ser uma perspectiva longínqua para tornar-se uma atividade prática e local, podendo os atores participarem ativamente do aprendizado desde a elaboração do protocolo de aula até a finalização do estudo. O conceito de biodiversidade, que envolve riqueza (número de espécies) e abundância (número de indivíduos de cada espécie) de organismos na Terra, poderá ser compreendido ao manipular insetos (neste caso as formigas) ou mesmo plantas, percebendo-se a importância da competição (por alimento, luz solar, abrigo, parceiros para acasalar) para a estruturação das comunidades dos seres vivos. A biodiversidade existente e conhecida levou milhares de anos no processo evolutivo para se estabelecer como é atualmente. Para conhecer a complexidade desse processo deve munir-se de um olhar de RESPEITO por tudo que existe na natureza e ao nosso redor. A formação realizada na Escola Ambiental de Mogi das Cruzes foi muito significativa e gratificante, pois, desmistificou a noção de que aula de campo é uma ação difícil, senão, impossível. Como educadora ambiental, trago a plena convicção de que hoje, mais do que nunca, é preciso que se tenha o olhar curioso e investigativo de quem quer CONHECER PARA PRESERVAR. Stela Dalva Sorgon é bióloga e pós-graduada em Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável. Atualmente integra a equipe da Escola Ambiental de Mogi das Cruzes. Referências bibliográficas: CORDEIRO, R.S.; WUO, M.; MORINI, M.S. C. Propopsta de atividade de campo para o ensino de biodiversidade usando formigas como modelo. Acta Scientiarium. Education . Maringá, v.32, n.2, p. 247 – 254, 2010. MATRIZES CURRICULARES MUNICIPAIS para a educação básica. 9 anos. Ciências Naturais e Sociais. Mogi das Cruzes. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental.- Parâmetros Curriculares Nacionais : Ciências Naturais /Secretaria de Educação Fundamental. . Brasília : MEC /SEF, 1998.138 p. PIVA, I. Construção de Projetos em Educação Ambiental – UGF – Brasília – DF- 2008. SENICIATO, T.; CAVASSAN, O. Afetividade, motivação e construção de conhecimento científico nas aulas desenvolvidas em ambientes naturais. Ciência e Cognição, v.13, n.3, p. 120-136,2008. SILVA, C. R. O., Metodologia e Organização do Projeto de Pesquisa – Guia Prático – Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará. Fortaleza – CE – 2004. SORRENTINO, M., LESTINGE, S. As Contribuições A Partir Do Olhar Atento.Estudos Do Meio E A Educação Para A Vida. Ciência & Educação, v. 14, n. 3, p. 601-19, 2008 Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes Fonte: Matrizes Curriculares Municipais para a Educação Básica - Ciências Naturais e Sociais – 7º Ano – Evolução dos Seres Vivos e Universo – Pág. 39 Educação Secretaria Municipal