ORGANIZAÇÃO SETE DE SETEMBRO DE CULTURA E ENSINO LTDA
FACULDADE SETE DE SETEMBRO - FASETE
CURSO: LICENCIATURA PLENA EM LETRAS COM HABILITAÇÃO
EM PORTUGUÊS E INGLÊS
CRIZA DE ANDRADE MACÊDO
MAGIA, NATUREZA E MITOLOGIA: A PRESENÇA DA CULTURA
CELTA NA OBRA “O SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO” DE
WILLIAM SHAKESPEARE.
PAULO AFONSO-BA
DEZ./2010
CRIZA DE ANDRADE MACÊDO
MAGIA, NATUREZA E MITOLOGIA: A PRESENÇA DA CULTURA
CELTA NA OBRA “O SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO” DE
WILLIAM SHAKESPEARE.
Monografia apresentada ao curso de
Licenciatura Plena em Letras com Habilitação
em Português e Inglês, da Faculdade Sete de
Setembro – FASETE. Sob orientação do Profº
Kárpio Márcio de Siqueira.
PAULO AFONSO-BA
DEZ./2010
À menina que fazia com que parasse de correr
ao me mirar com seu olhar curioso de quem
deseja saber quem sou e que ainda, por vezes,
fito... Interrogando-se, achando respostas,
duvidando de suas certezas, que às vezes
chora, mas muito mais me sorrir... Dedico as
linhas deste trabalho.
AGRADECIMENTOS
Eu agradeço a Deus pelo cuidado diário que tem por mim, por seu amor e misericórdia nos
momentos que tenho precisado, por toda força, coragem e inspiração que me concedeu para
concluir este trabalho. Eu Te Agradeço Por Tudo Querido Jesus.
Em especial quero agradecer aos meus pais: Efigênia Ferreira de Andrade Macêdo e Antônio
Lima de Macêdo, que sempre estiveram orando por mim, sei que suas orações têm trazido
bênçãos para minha vida. Hoje tudo o que sou devo a eles. Também quero agradecer A minha
irmã Ester de Andrade Macêdo pelo seu companheirismo e amor, ela que sempre confiou em
mim e que muitas vezes me mostrou o quanto à vida é importante.
Ao meu querido Anildo Reis da Silva pelo incentivo que prestou a mim durante o
desenvolvimento deste trabalho, suas palavras fizeram toda diferença.
Ao meu Professor Kárpio Márcio de Siqueira que me orientou da melhor forma possível,
doando parte do seu tempo para a construção desse trabalho. Kárpio é de grande importância
para essa pesquisa, graças ao seu conhecimento e capacidade que esse trabalho teve início.
Obrigado Professor Kárpio por acreditar em meu potencial.
E a toda minha família e amigos que me apoiaram, tanto na vida particular como profissional.
Obrigado Por Tudo!
“Mas muito mais feliz na terra é a rosa que
destilar se deixa do que quantas no espinho
virgem crescem, vivem, morrem em sua
beatitude solitária”.
William Shakespeare.
MACÊDO, Criza de Andrade. Magia, Natureza e Mitologia: A Presença da
Cultura Celta na Obra “O Sonho de uma Noite de Verão” de William
Shakespeare. 2010. 49 f. Monografia (Licenciatura em Letras
Português/Inglês). Faculdade Sete de Setembro – FASETE. Paulo Afonso – BA.
Este trabalho procura demonstrar o surgimento da literatura inglesa e as influências que
recebeu de diferentes povos que viveram na Inglaterra. Logo após a formação dessa nação
veremos o contexto histórico que marcou o século XVI durante o reinado de Elizabeth e o
surgimento de William Shakespeare, onde toda a sociedade passou por transformações com a
Reforma Protestante e o Renascimento, criando uma nova literatura através dos aspectos
econômicos e culturais que atingiu a sociedade Britânica. Nesta pesquisa analisaremos os
aspectos da natureza na obra O Sonho de uma Noite de Verão de William Shakespeare,
destacando a cultura celta, a magia e a mitologia, representadas na obra com precisão por
Shakespeare através das imagens que observava na natureza.
Palavras-Chave: Literatura Inglesa, William Shakespeare, O Sonho de uma Noite de Verão.
This research paper demonstrates the origen of the English Literature and the influences that
received by different peoples that lived in England. After the formation of this nation we will
observe the historical context that marked the century XVI during Elizabeth‟s reign and the
appearance of William Shakespeare, where all the society passed by transformation with the
Protestant Reform and the Renaissance, creating a new Literature through the economic and
cultural aspects that affected British society. In research paper we will examine the aspects of
the nature in the work A Midsummer-Night‟s Dream by William Shakespeare emphasizing
Celt‟s culture, the magic and the mythology, represented with precision in Shakespeare‟s
Work, through the pictures that he observed in nature.
Key-words: English Literature, William Shakespeare, A Midsummer-Night‟s Dream.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 09
2. LITERATURA INGLESA ................................................................................................ 11
2.1. O ESPAÇO DE ROMA NA INGLATERRA ................................................................... 12
2.2. O ESPAÇO ANGLO-SAXÃO E OS NORMANDOS ..................................................... 12
2.3 CULTURA CELTA ........................................................................................................... 14
2.4. LITERATURA CELTA .................................................................................................... 16
2.5. A REPRESENTAÇÃO DA NATUREZA NA LITERATURA INGLESA ..................... 18
3. WILLIAM SHAKESPEARE - CONTEXTO HISTÓRICO .......................................... 20
3.1 A VIDA E A PRODUÇÃO SHAKESPEARIANA ........................................................... 23
3.2 COMÉDIAS ....................................................................................................................... 28
4. O SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO - UMA ANÁLISE ....................................... 34
4.1 PERFIL DOS PERSONAGENS ........................................................................................ 34
4.2. ENREDO ........................................................................................................................... 35
4.1 A PRESENÇA DA NATUREZA ...................................................................................... 36
4.2. A MITOLOGIA, MAGIA E A CULTURA CELTA ........................................................ 41
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 46
6. REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 48
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1 INTRODUÇÃO
A literatura é construída juntamente com a história de uma nação, as culturas de diferentes
povos e suas diversidades compõem a literatura, mostrando às mudanças e aperfeiçoamentos
que são transferidos de uma geração a outra com a passagem dos anos. No contexto histórico
da literatura inglesa conhecemos a relação entre língua e literatura, no qual o desenvolvimento
da língua inglesa acontece durante o percurso da literatura inglesa. As mudanças, o
crescimento e a evolução de uma nação se tornam bases para o alvorecer da literatura, é por
ela que os acontecimentos e pensamentos são registrados através dos tempos.
A literatura inglesa tem características que possuem um diferencial nas obras escrita em inglês
percebemos a essência da Inglaterra, assim como os costumes do povo que transmitem a
origem de um país e suas virtudes naturais. Os períodos de desenvolvimento da Ilha Britânica
eram retomados para dentro da literatura inglesa, desde quando a literatura era passada
oralmente pelos celtas como depois com a chegada dos romanos, anglo-saxão e os normandos
que estabeleceram o cristianismo na Inglaterra, esses fatos favoreceram a literatura, pois ela
em sua grande maioria passou a ser escrita pelos monges na idade média.
A Inglaterra passou por fortes mudanças, a Rainha Elizabeth tinha posse do trono, durante o
seu reinado a Inglaterra se desenvolveu, a literatura se expandiu, e o renascimento chegou
revolucionando o drama inglês. Surge então William Shakespeare considerado o maior
dramaturgo de todo o mundo. O século XVI marca a história da literatura com as
transformações culturais e econômicas da Inglaterra.
Shakespeare trás em suas obras os aspectos da vida humana encontrados na sociedade em que
viveu, no entanto, sua busca estava na profundidade do psicológico da sociedade, seus
personagens descrevem intimamente características tais como a inveja, o amor, o medo, a
indecisão e a busca pelo poder, seus temas se baseavam no contexto social da época que
refletem no momento atual.
Este trabalho monográfico se divide em três capítulos, o primeiro capítulo fala sobre a
literatura inglesa num contexto histórico que ressalta as conquistas e mudanças de diferentes
povos que viveram na Inglaterra, onde também retoma a literatura e cultura celta dando ênfase
a representação da natureza dentro da literatura inglesa.
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Durante o segundo capítulo veremos os aspectos históricos no momento em que viveu
William Shakespeare, e as influências que recebeu em suas produções literárias,
intensificando a grandeza de sua vida como escritor sendo representado através de suas obras
e sua plena importância para a literatura inglesa e a literatura de todo o mundo.
No terceiro capítulo analisaremos a Obra Um Sonho de uma Noite de Verão, evidenciando a
representação da natureza, assim como os aspectos da Mitologia, Magia e a Cultura Celta
encontrados na obra.
A base para este trabalho se deu por meio de uma pesquisa bibliográfica de livros que se
referem ao assunto da Literatura Inglesa e a relação da literatura com a natureza além de
outros autores que abordavam tema sobre a vida de William Shakespeare e suas obras. Tendo
como principal objetivo estudar os conteúdos para o desenvolvimento desse trabalho para que
sirva como instrumento de pesquisa para outras pessoas.
11
2 LITERATURA INGLESA
A produção Literária é uma manifestação cultural que acontece em todo o mundo, e a
Literatura inglesa não é diferente. Sabemos o quanto ela antecede as correntes literárias dos
outros países, rica pela misturas de povos que invadiram a Inglaterra e deixaram suas
influências.
Sendo a Inglaterra uma ilha, pensamos que não deve ser profunda a contribuição que uma
língua poderia receber. Mas, a literatura e a língua inglesa nos mostram o quanto à Inglaterra
se expandiu conforme as invasões e tentativas de possessão de terras.
A Literatura Inglesa teve sua formação prestigiada por culturas diferentes, dentre elas estão os
Celtas, Romanos e Germânicos. É por esse vasto povo que viveu na Ilha Britânica que temos
uma língua que sofreu variações com o passar do tempo, dentro dessas mudanças veremos
como a literatura inglesa surge e juntamente com ela toda a evolução histórica da Língua
inglesa. Nesse contexto histórico notamos que a literatura inglesa esteve lado a lado com a
língua inglesa. Durante o período que os movimentos literários eram formados a língua
inglesa ia tomando forma deixando de lado os dialetos, o latim e o inglês arcaico usado na
idade média.
Todavia, sabemos que a literatura inglesa foi constituída não somente por escritores ingleses,
mas por todos aqueles que conhecem a língua inglesa e a utilizou na escrita de suas obras,
quando nos referimos à literatura inglesa, falamos tão somente de todas as obras que foram
escritas na língua inglesa.
“A literatura inglesa é a literatura escrita em inglês. Não é apenas a literatura
da Inglaterra ou das ilhas britânicas, mas um corpo vasto e crescente de
escritos constituído pela obra de autores que usam a língua inglesa como um
veículo natural de comunicação”. (BURGESS, 2006. p.17)
Para Borges (2006, p.1), “A literatura inglesa começa a se desenvolver em fins do século VII
ou princípios do século VIII. São dessa época as primeiras manifestações que possuímos
anteriores às das outras européias”. Vemos que os primórdios da literatura inglesa vêm desde
o povo celta até 1066 quando os normandos chegaram à Inglaterra.
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A abertura da literatura na Inglaterra foi constituída através da oratória, as poesias eram
cantadas e contadas pelo povo celta, para Silva (2005, p.18) “os celtas não utilizaram a escrita
para deixarem registrada a sua história; toda a sua cultura era passada oralmente pela classe
religiosa”. Assim, durante esse período muita coisa se perdeu, deixando pouca influência na
língua inglesa que é usada hoje.
2.1 O ESPAÇO DE ROMA NA INGLATERRA
Quando Roma tomou posse da Inglaterra em 43 d.C. parte da cultura celta foi destruída, o
cristianismo e o latim começaram a ser promovido pelos romanos entre o povo celta, somente
em meados de 409 d.C. Roma foi retirada do país pelos anglo-saxões, mas o novo cenário
social e político deixado por Roma através do cristianismo prevalecem. Conforme Silva
(2005, p. 22) “mesmo com a saída dos romanos da Bretanha em 409 d.C., essa instituição se
tornaria não apenas uma força religiosa, mas também política e econômica a partir do período
anglo-saxônico”. Não restou muito da cultura celta e romano na Inglaterra, mas a língua
deixada pelos romanos que é o latim marca o inglês até os dias atuais.
Roma caiu, e os anglo-saxões vieram invadir o território inglês. No entanto, com a invasão
dos germânicos, o cristianismo continuou ponderando na Inglaterra e conseguinte o sistema
político e econômico deixado pelos romanos. Segundo Silva (2005, p. 29) “o cristianismo foi
fundamental para o desenvolvimento da literatura na Inglaterra pelo simples fato de que, antes
dele, não havia livros. [...] os celtas, a cultura dos anglo-saxônicos era transmitida oralmente”.
Vemos que o cristianismo foi fundamental para a literatura inglesa, apesar de todas as poesias
e histórias serem entoadas, os leitores de hoje têm acesso a criação dos antepassados que
foram salvas por serem passadas de geração a geração.
2.2 O ESPAÇO ANGLO-SAXÃO E OS NORMANDOS
No período anglo-saxão, a Literatura Inglesa inicia o processo de desenvolvimento através da
escrita, o domínio dos germanos à ilha trouxe vantagens, pois era um povo que sabia governar
e conhecia as artes e juntamente consigo veio a sua literatura. Para Burgess (2006, p. 24)
“Eram fazendeiros e homens do mar, sabiam algo a respeito do direito e da arte de governar e
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[...] trouxeram com eles uma literatura da Europa para a Inglaterra”. Mesmo sendo usado o
inglês arcaico e o latim, hoje temos uma valorosa produção literária que busca mostrar todos
os mitos, crenças e o contexto histórico da Inglaterra.
Em Beowulf, um poema épico de 3.182 versos, criado em meados do século VIII d.C. vemos
muito da mitologia e da magia deixada pelo povo pagão, ou celta. O poema que faz parte da
literatura anglo-saxônica, conta a história de uma batalha de um homem com um ogro e sua
mãe uma bruxa, apresentando uma lenda com fortes características célticas.
“[...] narrativa em verso que trata de batalhas, heroísmos, feitos sobre
humanos, perigos, forte presença do sobrenatural, amor, honra e amizade na
qual mito, lenda e historia se encontram para criar um efeito maior que a
vida. O poema também tem um caráter nacional simbolizado na figura do
herói. Devido a essa estrutura, sua linguagem é grandiosa e solene. Todos
esses elementos que caracterizam um poema épico estão presentes em
Beowulf.” (SILVA, 2005, p. 42)
Portanto, essa obra marcou a literatura inglesa se tornando referência na demonstração das
características do povo e suas crenças, além de ressaltar a natureza como forte elemento que
em suas paisagens transmitem situações obscura e de riscos profundos.
A maioria dos ingleses tinha se tornado cristão fazendo com que a igreja crescesse, quando os
monastérios já existiam na Inglaterra os monges começaram a inscrever a Literatura anglosaxônica. Como afirma Burgess (2006, p.24) “[...] os registros da primeira literatura dos
anglo-saxões pertencem à Inglaterra cristã, escritos por monges e guardados em monastérios”,
visto que muito do que eram lembrado e registrado em sua maioria seus autores não eram
conhecidos. Porém, na literatura inglesa o verso antecede a prosa, e sabe-se que a poesia era
recitada de forma épica que exprime a identidade dos habitantes da Bretanha.
De acordo com Silva (2005, p.51) “A invasão dos normandos em 1066 e a instauração de seu
modo de vida causaram uma profunda transformação nas esferas social e política e artística da
Inglaterra cujos reflexos ainda estão presentes nos dias de hoje”. Com a chegada dos
normandos, já convertidos ao cristianismo a Inglaterra chega à idade média, prosseguindo
com o desenvolvimento do país, porém não podemos falar o mesmo na sua contribuição à
literatura inglesa. Os normandos ergueram a Ilha Britânica através do meio social e político,
mas, o que se pode perceber é que a sua contribuição para com a literatura não foi verdadeira,
quando a colocamos ao lado dos momentos literários feita pelos povos celtas e anglo-saxão.
Segundo Burgess (2006, p.32) “Os normandos na Inglaterra criaram uma literatura que não
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era nem uma coisa nem outra – nem uma autêntica literatura inglesa nem uma autêntica
literatura francesa”.
Entretanto, nota-se que foi a partir da língua usada pelos normandos que o inglês arcaico foi
deixado e uma nova língua inglesa foi fincada na corrente literária e entre os cidadãos
Ingleses. De modo geral a literatura inglesa é a história de toda a Ilha Britânica, sendo ela
contada através dos mitos, lendas que os celtas criaram através da poesia, e em seguida os
anglo-saxões com epopéias, que tiveram grandes destaques até hoje na historia da Inglaterra.
2.3 CULTURA CELTA
Os celtas são conhecidos desde antes de 2000 a.C. quando chegaram à Inglaterra.
“As controvérsias sobre os celtas começam com a data de sua chegada à
Bretanha. Segundo os estudiosos, quando falamos sobre os celtas devemos
ter em mente vários povos pertencentes ao mesmo tronco indo-europeu que
iniciaram sua passagem do continente para a ilha no ano de 2000 a.C.”
(SILVA, 2005, p.18)
Os celtas simbolizam os primórdios da língua e literatura inglesa, além de serem os primeiros
habitantes da Bretanha a deixar sua herança cultural. A língua usada pelos celtas é muito
pouco usada no inglês moderno, mas sua cultura ficou marcada até hoje em todo o mundo.
Sua cultura recebe influências dos gregos, vemos isso por meio dos cultos aos deuses. Os
celtas cultuavam a natureza como a deusa mãe, usava a terra para o cultivo e fonte de renda,
para eles todo ser vivo possui alma, ou necessariamente, todo o ambiente é vivo.
A cultura celta nos chama atenção através do mito e dos deuses que são cultuados, o povo
celta atribui formas aos deuses por meio do seres da natureza. Daí, a trindade celta onde um
único deus é simbolizado pela a força, a sabedoria, o amor e a beleza, exibem como funciona
celtismo e a trindade, ou seja, A Sabedoria é vista através do ancião que ensinava e
aconselhava os homens mais jovens que se tornariam guerreiros. A Força foi dada aos jovens
como símbolo do homem que cuida da terra, e luta pelo seu povo. O Amor e a Beleza foram
concedidos a Mulher, perante todos os aspectos do amor materno, fraterno, e o amor que a
mulher como companheira possa compartir com um homem.
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“NERZ, a Força, SKIANT, a Sabedoria, KARANTEZ, o Amor, a Beleza.
Cada uma destas três modalidades dá lugar a uma „Personificação‟ particular
de OIW (Deus). [...] E os Celtas, por um antropomorfismo comum a todos os
povos, personificaram estes Atributos. [...] E este triplo aspecto de um só
Deus lhe basta. Com três formas escolhidas entre as mais elevadas que a
vida cotidiana lhe oferece”. (AMBELAIN, 1991, p.32-33)
Notamos que A trindade celta é marcante na cultura celta, por meio dela que vemos como a
sociedade foi formada, suas influências marcaram e constituíram os costumes de muitos
povos tanto em 2000 a.C. durante a idade média e hoje em todo o mundo.
Na sociedade homens e mulheres eram tratados com igualdade, e aderiam o mesmo lugar na
sociedade. A esse respeito afirma Silva (2005, p.19) “É importante mencionar que as
mulheres eram tratadas como iguais perante aos homens e podiam, inclusive, se tornar líderes
de sua tribo”.
Os sacerdotes celtas chamados de Druídas eram responsáveis pela passagem de geração em
geração da mitologia e crenças celta, eles dominavam a sociedade e eram vistos como
conselheiros para os reis, por intermédio do poder religioso e político que exerciam entre o
povo celta.
“Os druídas desempenhavam um papel-chave na sociedade Celta, pois
detinham o poder político e religioso. Tão forte era a influência dos druidas
sobre seu povo que eles eram vistos como uma ameaça pelo império
romano”. (SILVA, 2005, p.20)
O comportamento dos celtas, desde os rituais e a crença nos seres que estavam na natureza,
contribuíam no desenvolvimento tanto dos jovens que eram preparados para batalha, onde os
sacerdotes que instruíam esses jovens eram vistos como mestres, e como das mulheres que
doavam seu amor para com os filhos, esposo, e toda a sociedade. Os celtas buscavam o poder
da mãe terra, por ser vista como meio que fornece energia, alimento e dá subsistência ao ser,
além de abrigar o homem.
“[...] os celtas de forma geral eram animistas, ou seja, acreditavam que os
elementos da natureza eram encarnações dos espíritos de e seus
antepassados. Eles estabeleceram uma misteriosa relação com as arvores,
usando bosques sagrados como templos, além de acreditar que após a morte
vivia-se nas pedras, na água, ou nas colinas. Compartilhavam da crença de
que a natureza era a Terra Mãe, fonte de tudo, e daí decorre sua valorização
das mulheres.” (SILVA, 2005, p.20)
Um costume que ficou marcado até hoje em quase todo o mundo é o Halloween, que é uma
festa do povo celta no período que chegava a colheita, esse era um ritual de agradecimento
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oferecido aos antepassados celebrando as boas novas após a colheita. No entanto, hoje é tido
como o dia das bruxas, onde é festejado em outras culturas. Conforme Silva (2005, p.21) “O
Halloween, como é comemorado atualmente, é uma celebração que reúne costumes celtas e
crenças cristãs levados para a América por imigrantes irlandeses no começo do século XX.”.
Entretanto, mesmo após a invasão de Roma, e a chegada do cristianismo, acreditou-se que as
origens dos cultos celtas teriam sido apagadas, porém as crenças célticas penetraram na
Bretanha, no cristianismo que imaginava tê-las apagado, dessa forma os cultos celtas
sobreviveram até hoje. Assim, a fim de prevalecer o culto aos deuses e toda a cultura celta,
foram criadas As Tríades da Ilha da Bretanha, que eram usadas pelos Druídas como um meio
de sentenciar leis ou normas, que facilitavam a memorização dos seus seguidores.
“As Tríades são aforismos sempre desenvolvidos imutavelmente em três
pontos principais, provavelmente para gravá-los mais facilmente na memória
do discípulo do Druída. Há tríades históricas, morais, jurídicas, teológicas,
poéticas, etc., cuja massa é considerável”. (AMBELAIN, 1991, p.157)
As tríades favorecem a história e a literatura celta, pois elas correspondem o real valor do que
se acredita na cultura do povo gaulês, onde matem a tradição druídica.
2.4 LITERATURA CELTA
A literatura inglesa é fortemente composta pela literatura celta, algumas lendas como Asterix
e Obelix, o Rei Arthur, entre outras, todas têm características cultural dos gauleses, eis que
nessas lendas notamos o místico, a adoração do homem para com a natureza e suas crenças
em deuses que ganharam formas. Observamos como a comunidade era constituída e
governada, e com relação à posição da mulher percebemos sua igual condição no meio social
e político com o homem.
Na lenda do Rei Arthur, observamos vários pontos históricos da época, percebemos que
Arthur era um guerreiro cristão, ou seja, tinha adotado o cristianismo. Porém as suas raízes
eram do povo celta.
“Um herói bem maior do que qualquer um outro da Grécia ou de Roma
emerge na figura do rei Arthur. [...] Arthur pertence à mitologia de uma raça
– os galeses ou autênticos bretões - que os anglo-saxões expulsaram da
Inglaterra e que os normandos, invadindo suas fronteiras, esmagaram com
mão de ferro”. (BURGESS, 2006, p. 33 - 34)
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Nessa lenda o mago Merlin era o conselheiro de Arthur, Merlin é considerado um homem
sábio, ou seja, um druída, sacerdote que passava os ensinamentos para a população celta. A
espada Excalibur é uma das grandes lendas que pertence aos celtas, acredita-se que ela foi
feita pelas sacerdotisas de Avalon, que segundo a lenda foi criada com magia e símbolos
místicos.
“A famosa espada do rei Arthur, chamada nos primeiros relatos de
Caladfwich (derivação da palavra galesa caladbolg – “duro corte”) e
posteriormente no século XII de Caliburn, foi entregue a ele pela Dama do
Lago e foi forjada pelas fadas”. (SILVA, 2005, p.83)
Lancelot, o melhor dos guerreiros do Rei Arthur também descendia do povo gaulês, consta na
história do Rei Arthur que os guerreiros se reuniam na Távola Redonda para comemorar suas
vitórias, a mesa era algo simbólico que foi criado pelos celtas.
“A famosa mesa circular criada pelo mago Merlin com o propósito de
agrupar 150 cavaleiros era o ponto de encontro no qual Arthur e sua
companhia celebravam seus feitos. O formato da mesa tem suas origens na
reverência celta ao círculo como um símbolo da coerência e da totalidade. A
cultura celta e tudo o que se acreditava pelo povo gaulês são fortemente
citados na lenda do rei Arthur”. (SILVA, 2005, p. 85)
Em Asterix e Obelix, a magia é mostrada através de dois guerreiros que por terem uma porção
mágica consegue derrotar o exercito romano. Essas lendas são de certa forma a história da
Inglaterra, é através delas que nos baseamos nos acontecimentos históricos da Ilha Britânica.
“Contam a historia de Asterix, um baixinho narigudo que, após beber a
porção mágica preparada pelo druida Panoramix, adquire uma momentânea
força sobre humana e comenda a resistência celta-gaulesa aos ataques dos
legionários romanos dos fortes de Babaorum, Aquarium, Laudanum e
Petibonum. Ao lado de Asterix esta Obelix, um simpático comilão que caiu
no caldeirão da poção mágica quando era pequeno, beneficiando-se dos
efeitos permanentemente”. (SILVA, 2005, p.23)
A lenda de Asterix e Obelix é uma versão de um dos momentos em que o povo celta resistia
ao império Romano.
A literatura celta assim como grande parte da literatura inglesa foi transmitida oralmente, mas,
isso não foi o bastante para impedir que ela se estendesse até hoje. Inicialmente, notamos que
as Tríades da Ilha da Bretanha eram usadas pelos druídas em seus ensinamentos, foi muito do
que não se perdeu da literatura celta, muito das tríades foram manuscritos e conservados. As
tríades além de serem morais ou históricas também podem ser poéticas, dessa forma as tríades
foram mais uma expressão literária celta.
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Os celtas trouxeram conhecimento histórico, místico e o cultivo da terra, para o povo da
Inglaterra, além da literatura que deu formação para os povos, instruiu guerreiros para guerra,
criou leis, divertiu com poemas e contos. A literatura celta nos auxilia no estudo do homem
com o mundo, e com a natureza.
2.5 A REPRESENTAÇÃO DA NATUREZA NA LITERATURA INGLESA
A Inglaterra também é verde, tem um clima aconchegante, é frio durante o inverno e quente
durante o verão, mas nenhuma das temperaturas chega a ser insuportável. Na Inglaterra a
passagem das estações é notada e festejada uma a uma pelos ingleses. Com belos campos,
vegetação verde, lagos, rios, e florestas montanhosas, a natureza da Inglaterra se tornou um
centro de encantamento por sua beleza, belezas que se tornaram símbolos e interpretações
para as mais variáveis situações do estado da alma do ser humano. Muitos poetas se
inspiraram no encanto dos aspectos da natureza, tal graciosidade transporta o homem para
uma condição comparável ao da natureza.
“O predomínio do mar e a terra formam o clima inglês. Nos trópicos não há
estações a não ser o tempo chuvoso e o tempo seco, mas na Inglaterra temos
consciência da Terra se aproximando e se afastando do Sol – primavera,
verão, outono, inverno, e as festas associadas a essas estações. [...] Quatro
estações distintas, mas todas relativamente suaves - o verão demasiado
nunca quente e o inverno nunca ártico”. (BURGESS, 2006, p.18)
Para Conhecer o clima inglês é necessário vive-lo, é poder sentir o frio nas montanhas, e
apreciar a braveza das ondas do mar, é esperar a chegada do verão para saborear o sol e o
vento quente acompanhado do verde admirável. Essa exuberante vida natural, as diversidades
que existem na natureza, os efeitos que ela causa em nossos sentidos, são transformados em
sentimentos pelos poetas, como a paixão, a tristeza, melancolia, a saudade e os temas mais
variados que avassalam o coração do homem. Esses sentimentos são especialmente notados
em todas as paisagens da linda Inglaterra.
A beleza de um país que é uma ilha cercada por montanhas, um mar gelado e agitado,
florestas de um verde sublime, que os escritores ingleses se inspiravam, e trazia para dentro de
suas poesias, porque para eles a natureza é vista como um símbolo primordial da aproximação
de um mundo belo. A natureza pode estar presente nas estações do ano, com suas passagens,
nas tempestades, ou dias de muito sol. O escritor interage com a natureza que funciona como
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estímulo liberando o intenso desejo de expressão de espírito do escritor. Normalmente todos
os poetas mostram o sentimentalismo através dos poemas que refletem, demonstram e
indicam o sentimento do poeta, suas emoções transmitem a essência da vida.
“A Inglaterra é uma ilha, e o mar banha tanto sua literatura quanto suas
costas. É um mar frio, tempestuoso, bem diferente do plácido Mediterrâneo
ou das águas quentes dos trópicos. Sua voz nunca está muito distante da
música da poesia inglesa [...]. A paisagem da Inglaterra é variada –
montanhas e lagos e rios -, mas seu efeito uniforme é de suavidade verde –
colinas perto do mar e fazendas e florestas. [...] Temos de conhecer algo
sobre a paisagem inglesa antes de começarmos a apreciar os poetas ingleses
da natureza”. (BURGESS, 2006, p.18)
Conhecer a literatura inglesa é ao mesmo tempo descobrir a natureza da Ilha Britânica,
quando os primeiros textos começaram a surgir passavam a descrever as características da
natureza, que foi muito bem representada pela literatura inglesa, onde vemos o culto à
natureza refletida em obras escritas desde a idade média.
“A Inglaterra é uma nação de marinheiros e de viajantes, e esses personagens
se refletem em sua literatura, assim como o mar frio e tempestuoso. Desde o
século X, em poemas anglo-saxônicos como “The Wanderer” (975 d.C.), até
o século XX, [...]”. (SILVA, 2005, p.4)
Em Beowulf vemos o quanto os sentimentos são expressos por meio da natureza em vários
pontos da obra, a narração está cheia de elementos que descrevem florestas, rios, cavernas,
fazendo com que a narrativa fique repleta de ações que excita o leitor.
“Esse monstro percorre os ermos e vive com a mãe no fundo de uma laguna,
tão profunda que o herói, que mergulha nela, tem de nadar um dia inteiro
para chegar à caverna subterrânea [...]. Dizem que os cervos temem se
aproximar da laguna, como uma zona de tempestades, de neblina, de solidão,
e por causa do que também poderíamos chamar de horror sagrado. [...] no
Beowulf temos o sentimento da natureza como algo temível, além do mais,
como algo hostil aos homens; o sentimento da noite e da escuridão como
algo temível, [...]”. (BORGES, 2006, p.23-24)
Certamente na literatura inglesa vemos o quanto às sensações são ressaltadas com o relato das
ações em Beowulf. Os poetas conseguiam traduzir as características dos indivíduos, por meio
dos elementos da natureza. Tais elementos são cultualdos pelos poetas ingleses no intenso
meio de escrever poemas que tem a prentenção de comparar a personalidade humana e suas
qualidades com a própria natureza.
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3 WILLIAM SHAKESPEARE – CONTEXTO HISTÓRICO
A Inglaterra se estabilizou no sec. XVI com o reinado de Henry VII durante 1485-1509, um
período de desenvolvimento na Inglaterra, como um Rei ele proporcionou a inglaterra paz e
prosperidade, após sua morte seu filho Henry VIII subiu ao trono, diferentemente do seu pai,
Henry era um gastador que acabou com toda riqueza que seu pai havia poupado, porém, em
seu domínio rompeu com a Igreja católica, dando inicio a Igreja Anglicana.
Henry VIII, casou-se várias vezes, Primeiro com a mãe de sua primeira Filha Mary I, mas
como queria um filho para herdar o trono, casou pela segunda vez, porém sua esposa teve
uma filha que foi chamada de Elizabeth I. No entanto, não estando satisfeito armou para que
sua segunda esposa fosse executada, casando pela terceira vez e tendo seu primeiro filho
Edward IV.
“Henry VIII queria um herdeiro legítimo, mas após vinte anos de casamneto,
sua esposa católica, Catarina de Aragão, só havia lhe dado uma filha, Mary.
Ele decidiu então pedir ao papa que lhe concedesse o divorcio a fim de que
ele pudesse se casar com sua amante, Ana Bolena. Acontece que além de ser
o lider da Igreja Catolica, o papa Leão X era sobrinho da esposa de Henry
VIII e obviamente negou-lhe o pedido de divorcio. Henry então matou dois
coelhos com uma só cajadada: tomou as terras da Igreja declarando-se chefe
da mesma na Inglaterra, e se casou com Ana Bolena. Estava criada a Igreja
Anglicana”. (SILVA, 2005, p.106)
Nesse mesmo período a Reforma Protestante teve início através de Lutero em 1517 em Roma.
Lutero pregava contra os abusos da Igreja Católica, como a venda do perdão e de indulgências
para alcançar a salvação, mas, para Lutero a salvação vinha somente da fé. João Calvino havia
aderido a reforma, Calvino foi perseguido, com isso, teve que fugir se refugiando em
Genebra, onde fundou o Calvinismo. João era contra a vida luxuosa, o culto das imagens e os
divertimentos. O Calvinismo se expandiu, mas não somente por motivos religiosos e sim por
causas econômicas que gerou crescimento no comércio, fazendo com que o protestantismo se
propagasse em vários países, entres eles estava a Inglaterra.
Entretanto, após a morte de Henry VIII, Edward IV subiu ao trono, mas, morreu cedo, logo
depois, começou o reinado de sua Irmã Mary I, que tentou restituir a Igreja católica, porém
seu reinado foi rejeitado pelo povo inglês, quando Mary veio a falecer, as boas novas foram
trazidas a Inglaterra com o governo da Rainha Elizabeth I em 1558, Elizabeth reestabeleceu o
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governo, organizando os problemas religiosos que foram causados por sua irmã; Elizabeth
ergueu a Igreja Anglicana como única a ser seguida pelo povo.
Durante o período do seu domínio a europa passou por mudanças que chegaram a Inglaterra,
fatores importantes para o desenvolver da Ilha Brintânica. Porém, devemos ressaltar que o
desenvolvimento da Inglaterra foi devido as navegações concedida pela rainha, que buscavam
por terras, e favoreciam o comércio com outros países. Nesse momento os espanhóis tentaram
invadir a Ilha Britânica, mas, foram derrotados pelos ingleses. Após a derrota dos espanhóis
vários comerciantes protestantes fugiram para a Inglaterra, dessa forma, a Ilha foi favorecida
com todos esses acontecimentos, que proporcionou a chegada da Renascença, aumentando o
crescimento de Londres.
“[...] Elizabeth se cercou dos melhores conselheiros que a ajudaram a
enfrentar as dificuldades de uma economia arrsada pelas fanfarronices de seu
pai. No Parlamento, Elizabeth demosntrou habilidade ao evitar
radicalizações políticas. Ela conseguiu encontrar um ponto de equilibrio
entre os anseios de prostestantes e católicos, ao mesmo tempo em que firmou
a sua posição como líder da Igreja Anglicana: “Para mim, há apenas um
Jesus Cristo e uma fé. O resto são Trivialidades”, declarou certa vez”.
(SILVA, 2005, p.108)
A Reforma Protestante é paralelo a Renascença. A Renascença foi um movimento que se
desenvolveu na Itália no mesmo momento histórico que a Reforma Protestante. O
Renascimento chegou e se firmou durante o reinado de Elizabeth, a Rainha admiradora das
artes.
“O Renascimento se opôs à mentalidade medieval mediante a idéia de que a
razão deveria se sobrepor ao pensamento religioso tradicional e ser aplicada
para um melhor entendimento do mundo. Em vez da ênfase no „mundo de
Deus‟, a sociedade caminhou para um antropocentrismo (homem como
centro), valorizando a obra humana. Isso levou ao desenvolvimento do
racionalismo, do humanismo e do nacionalismo”. (SILVA, 2005, p.110)
Esse era o novo modo de pensar do homem, pensamento que deixava a igreja de lado, que
passou a se preocupar com o ser humano, o homem passaria a ter liberdade de conhecer e se
tornar capaz de conquistar o centro do mundo. Uma das exclusividades do Renascimento era
enaltecer o homem e a sua beleza.
Todavia, o drama ja existia desde muito antes do sec. XVI através das peças religiosas que
tratavam de temas moralistas, os atores apresentavam suas peças em várias cidades, com isso
ganhavam um meio de sobreviver, pois, durante o reinado de Henry VIII foram destituídos os
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monastérios que asseguravam trabalho para os homens que haviam concluído os estudos, no
entanto, o único meio de se sustentar era escrevendo peças. Os autores que surgiram durante
essa época eram chamados como The University Wits “Os Sábios da Universidades”, que
contribuíram para o crescimento do renascimento no teatro.
“[...] o monastério sempre se encarregou tanto de subvencionar previamente
como de alojar o estudante sem dinheiro. [...] O ensino não era uma
profissão atraente, e não havia concursos para o serviço civil. Só restava um
tipo de jornalismo – panfletos, romances, e, o mais lucrativo talvez, escrever
peças para os novos teatros populares”. (BURGESS, 2005, p. 81)
Shakespeare surgiu no momento de transformação da Inglaterra e do drama inglês, as peças
deixaram os temas religiosos, e começaram tratar os temas morais como algo real para o ser
humano, transcrevendo-as através do comportamento do homem. Com isso, o drama
elisabetano começou a se destacar ganhando fama.
As peças eram apresentadas nos centros da cidades, em vilarejos ou no meio da rua, todos
tinham acesso aos espetáculos desde o nobre ao pebleu. Com o alvorecer do drama alguns
nobres aristocratas financiavam companhias de teatros que eram apresentadas para eles em
suas casas ou em festas particulares. Dessa forma, com a Rainha Elizabeth não era diferente,
ela era fã da Dramartugia, daí por diante o drama elisabetano favoreceu a literatura, dando
facilidade e acesso as classes sociais menos favorecidas. O drama se expandiu, com a
influência renascentista, as peças apresentavam as facetas do homem que passa a viver em seu
próprio mundo esquecendo o cristianismo.
“Antes que os atores elisabetanos tivessem um lar permanente, eles se
apresentavam em qualquer lugar, bastava erguer um palco e reunir uma
multidão. Ou seja, eles realizavam espetáculos públicos em vilarejos, nos
fundos das estalagens e em arenas em que ursos eram perseguidos.
Realizavam espetáculos particulares nos grandes salões das casas da nobreza
ou em um dos palacios da Rainha. [...] Em 1576, quando Shakespeare tinha
12 anos, james Burgage, um carpinteiro que depois virou ator, construiu o
primeiro teatro “de verdade”. [...] ele foi simplismente chamado de O
Teatro”. (ROZAKIS, 2002, p. 26)
Com isso as companhias de teatro ganharam o nome de seus senhores que lhes forneciam
recursos. Porém, com a evolução do drama, em 1576, o primeiro teatro foi construído, e o
drama ganha uma nova casa.
Um país em fase de mudanças e renovação se transforma em inspiração e referência para um
escritor. Na Inglaterra como em outros países os escritores recebiam influências do
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movimento renascentista criando uma literatura rica e exuberante. As pessoas e os poderes
estatais marcam uma época tornando-se símbolos para os escritores e suas peças. A literatura
ganha um novo rótulo e espaço que envolve as pessoas através do teatro e as obras criadas
pelos artistas.
3.1 A VIDA E A PRODUÇÃO SHAKESPEARIANA
William Shakespeare foi um escritor que se tornou conhecido em todo em mundo, ele
atravessou as fronteiras da Inglaterra e do momento em que viveu; tudo o que Shakespeare
produziu se estendeu para além da Ilha Britânica.
Seu modo de ver a sociedade servia como inspiração para suas peças, seu ponto de vista era
demonstrado em suas obras, porém, suas peças não limitaram-se apenas ao séc. XVI, até hoje
a forma com que Shakespeare fez uso das palavras como um meio de descrever e exprimir o
sentimento do ser humano através da linguagem em suas peças e poesias, se tornou um
veículo de conhecimento e estudo do homem do século XVI até os dias atuais.
“Shakespeare queria martelar ou cortejar, ou encantar os ouvidos de sua
platéia com a linguagem, e, em qualquer uma de suas peças – as primeiras
ou as últimas -, o tesouro das palavras se abre por inteiro, e o ouro se
derrama prodigamente”. (BURGESS, 2006, p.91)
William transmitia uma espontaneidade ao escrever, seus pensamentos fluíam como um bom
som, a sua oralidade era um diferencial entre os outros autores teatrais.
William Shakespeare em suas obras recebeu influências de outros escritores que o
antecederam, e alguns que faziam parte de sua época. A literatura grega e latina também o
influenciou fortemente.
Shakespeare foi um grande poeta e crítico que olhava a sociedade de forma e modo diferente,
o Autor ousou em suas peças, nelas descreveu momentos de uma época passada, mas que
reflete na sociedade presente, com o intuito de escrever para entreter a nobresa, a burguesia e
todas as classes sociais William conquistou recursos financeiros. Por fim, ele conseguiu não
somente uma vida bem sucedida, como também o que não imaginava, o reconhecimento por
ser um grande autor que atingiu o mundo com o seu talento.
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Shakespeare tinha uma vastidão de imagens que o atraía basicamente para satisfazer a sua
criatividade, toda a experiência e convívio com os diversos povos e as classes sociais nas
quais circulava serviu-lhe como fundamentos nas escritas de obras que consideramos
essenciais na demonstração dos costumes de um povo através dos pensamentos de William
Shakespeare.
Shakespeare nasceu no dia 23 de abril de 1564 em Stratford-upon-Avon no momento em que
a Rainha Elizabeth I governava a Inglaterra, filho de John Shakespeare e Mary. John era um
comerciante que prosperou e conseguiu um cargo público, Mary era dona de casa.
Shakespeare vinha de uma familia de classe média, ele era o terceiro de oito filhos.
“Filho de John Shakespeare e Mary Arden, William Shakespeare nasceu em
Stratford upon Avon no dia 23 de abril de 1564 e lá faleceu no dia de seu
aniversário, em 1616. seu pai era um fabricante de luvas e mercador de
couro cuja prosperidade nos negocios o levou a assumir alguns postos
públicos na administração local”. (SILVA, 2005, p.118)
William casou-se com a filha de um fazendeiro, Anne Hathaway que era 8 anos mais velha
que Shakespeare, ao que consta Anne poderia ter casado grávida. Eles casaram em novembro
de 1582, e sua primeira filha Suzana nasceu em maio de 1583. Logo depois, Anne teve os
gêmeos Hamnet e Judith. No início de sua vida conjugal e depois que se tornou pai dizem que
Shakespeare era um mero homem trabalhador que exercia várias funções designados a todos
os tipos de serviços.
“Em 28 de novembro de 1582 as autoridades da igreja deram permissão para
que Shakespeare, então com 18 anos, se casasse com Anne Hathaway, na
época com 26. Tudo leva a crer que Anne estava grávida, [...] O período de
1585 a 1592 é chamado por estudiosos de „Os Anos Perdidos‟, dada a falta
de informações sobre os rumos de Shakespeare. Especula-se que ele tenha
trabalhado como tutor ou professor particular”. (SILVA, 2005, p.119)
Não se sabe muito sobre o período entre o nascimento dos gêmeos e o início de William
Shakespeare como poeta, dramaturgo e ator. O que se sabe é que em 1592, Shakespeare foi
para Londres e deu origem a vida de escritor. Sabemos que Shakespeare já fazia fama, devido
à crítica do escritor inglês Robert Greene que marcou a história de William, foi nesse mesmo
ano que Shakespeare saiu de Stratford e foi para Londres, lá começou a sua vida de
dramartugo e poeta se tornando conhecido entres todos através de sua arte.
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“Em 1592, tivemos a primeira evidência da ascensão de Shakespeare no
teatro londrino. Sendo o destino o que é, a referência é um insulto: [...]
porque há um corvo arrogante, embelezado com nossa plumagem, que com
seu coração de tigre, envolto em pele de ator, pressupõe-se que seja bem
capaz de escrever um verso vazio de forma bombástica, como o melhor de
vocês: e ser um absoluto Johannes fac totum está em sua própria presunção”.
(ROZAKIS, 2002, p.7)
Em 1594 Shakespeare ingressou na companhia teatral de Lord Chamberlain, que mais tarde
receberia o nome de Homens do Rei. William permaneceu nessa companhia até o final de sua
carreira em Londres. Segundo Rozakis (2002, p.26) “De 1594 a 1599, “Os Homens de
Chamberlain” tornaram-se a companhia de atores mais famosa de Londres”. Consquistando
fama e o povo de Londres, Ele se tornou um dos sócios do teatro o Globe onde começou a
ganhar dinheiro, criando um novo rumo para sua vida.
Shakespeare se aposentou devido a um incêndio que destruiu o seu teatro. Voltou para
Stratford onde garantiu uma vida tranquila vivendo bem o resto de seus dias até a sua morte
em abril de 1616.
As peças de Shakespeare abordavam as situações mais variadas e complexas, o governo e
suas quedas e vitórias, o homem, suas virtudes, limitações e origens; em suas obras o Autor
expõe a intensidade da condição vivenciada pela humanidade, onde vitaliza a realidade que é
dada uma maior abrangência que qualquer outro escritor. Suas peças satisfaziam o povo, sua
produção se estendeu aos mais diversos gêneros desde os romances, comédias, tragédias e as
obras históricas.
Durante o período da epidemia de peste em Londres, Shakespeare escreveu dois poemas
narrativos, Vênus e Adônis em 1593, e o Rapto de Lucrécia 1594, além de 154 sonetos que
foram publicados pela primeira vez em 1609.
“A sorte de Shakespeare mudou bruscamente em janeiro de 1593, quando os
teatros londrinos foram fechados por causa da peste bubônica (a “Peste
Negra”). Os teatros só puderam reabris durante o inverno de 1594, mas
foram fechados de novo e continuaram assim até a primavera de 1594. [...]
Durante essa época, Shakespeare escreveu poesia lírica, sonetos e peças para
o entretenimento particular de seus amigos aristocratas”. (ROZAKIS, 2002,
p.8)
Conforme Rozakis (2002, p.39) “Estudiosos geralmente dividem a carreira de Shakespeare em
quatro fases, baseando-se nas semelhanças entres as obras escritas por ele em cada época”. As obras
de Shakespeare foram divididas em fases, que representam os períodos correspondentes ao
momento histórico e vida do autor.
26
O momento inicial da carreira de Shakespeare denominou o primeiro período que destacamos
como um momento de aprendizagem quando Shakespeare começou a escrever peças
históricas e algumas comédias, logo depois, em outros períodos podemos dizer que
Shakespeare já tinha descoberto a sua essência como escritor. As peças escritas no primeiro
período foram Henrique VI entre 1589-1591, Ricardo III entre 1592-1593, além das
comédias, como Comédias dos Erros, em 1592-1594, A Megera Domada, Tito Andrônico e o
Rapto de Lucrécia escritas entre 1593-1594, Dois Cavalheiros de Verona, em 1594, também
escreveu os poemas como Vênus e Adônis, em 1592-1593, e deu inicio aos sonetos, em 15931609.
Em sua segunda fase Shakespeare com o momento de experiências já vivido, ele estava ágil e
dominador na escrita das comédias e das tragédias, em suas peças os personagens possuem
qualidades específicas, Shakespeare personifica elementos cruciais e únicos em seus
personagens, que adquirem personalidades marcantes, esses personagens são vistos em suas
comédias, peças históricas e tragédias que são elas O Mercador de Veneza e Henrique IV que
foram escritas em 1596-1597, as comédias O Sonho de uma Noite de Verão e Romeu e Julieta
de 1594-1596, Muito Barulho por Nada, em 1598-1599, Como Gostais e Júlio Cesar, em
1599, As Alegres Comadres de Windsor, em 1600, também escreveu as peças Ricardo II, em
1595, Henrique V, em 1599.
As tragédias são as obras de maior profundidade de Shakespeare que foram produzidas no
terceiro período, Shakespeare retomou a poesia nas suas peças com uma intensidade capaz de
apontar a plenitude do pensamento e demonstrar os sentimentos nas dimensões mais
complexas, que em grande parte foram ostentadas nas peças dramáticas. Entre 1601 a 1606
escreveu Hamlet, Otelo, Macbeth e Rei Lear, além das comédias Tróilo e Créssida, Tudo esta
Bem Quando Acaba Bem, Medida por Medida e os poemas A Fênix e a Rola, e Queixas de
uma Amorosa.
Em sua última fase Shakespeare se estabeleceu sendo considerado um escritor virtuoso, o
equilíbrio é um elemento que nesse período faz parte das estruturas de suas peças, o
romantismo e a magia, são destacados na escrita, suas principais obras de destaque foram A
Tempestade, Conto de Inverno, Tímon de Atenas, e Cimbelino, também foram escritas
Antônio e Cleópatra, Coriolano, Péricles e Henrique VIII.
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Shakespeare não precisava sair do lugar, para sentir o que precisava colocar no papel, ou seja,
o mar, o sol, a natureza, os ambientes da barulhenta Londres era observado por ele com uma
perspectiva diferente, William sentia dentro si, e isso bastou para escrever e expressa-las em
seus dramas e poemas. Em suas obras ele penetra o olhar do poeta dentro da natureza humana,
na qual formam uma composição perfeita que comove e satisfaz o povo com as específicas
situações relatadas em suas peças como os assassinatos, as traições, o amor, as mazelas e o
cômico.
Shakespeare recebeu contribuições de Plutarco, Sêneca e Virgílio, John Lyly, Thomas Kyd,
em suas obras. William escreveu Hamlet, através da obra Tragédia Espanhola de Thomas
Kyd, de acordo com Burgess (2006, p.77) “Kyd é particularmente importante para o estudo de
Shakespeare, pois tudo indica que ele escreveu a primeira versão da história de Hamlet na
qual Shakespeare iria basear sua obra prima, [...]”. Sêneca que também influenciou
Shakespeare por meio das escritas de tragédias que eram carregadas de cenas fortes e
violentas com mortes e assassinatos, como afirma Burgess (2006, p.61) “A linguagem de
Sêneca [...] tem uma violência, uma sanguinolência que atraía os dramaturgos elisabetanos
[...]”. Esses escritores entre outros foram importantes para o desenvolvimento do talento e
criatividade de Shakespeare.
Na obra de Shakespeare as características de seus personagens são dotadas de traços
fortemente marcados como, por exemplo, Hamlet pela indecisão, Romeu pelo amor juvenil,
Calíbã pelo ressentimento, Próspero pelo conhecimento, etc. Onde torna seus personagens
intensos e singulares.
“[...] Ele desenvolveu peças técnicas dramáticas que descreviam a identidade
psicológica de seus personagens; por essa razão até hoje os personagens de
Shakespeare são os mais representativos da dramaturgia. [...] Por fim, a
riqueza imaginativa do autor e a maneira como ele revelava as implicações
do pensamento e da ação fizeram de suas peças fontes inesgotáveis de
interpretação até os dias de hoje”. (SILVA, 2005, p.120)
Em suas peças o ser humano é determinado pelos seus traços de bondade, inveja, cobiça
ganância, ciúme, entre outros aspectos. Sem esquecer que Shakespeare também usa os seres
místicos em algumas de suas obras, ele coloca o mundo real e imaginário entrelaçados em
suas peças.
Na obra O Sonho de uma Noite de Verão o autor apresenta as fadas como seres bons. No
entanto, vemos outro ser místico na obra A Tempestade que é o espírito Ariel que demonstra
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submissão a Próspero, nessa mesma peça outro fato marcante é a traição de Antônio para ficar
com o trono de seu irmão Próspero que para isso o exila em uma ilha; o mesmo acontece na
peça Hamlet, onde o pai de Hamlet foi supostamente envenenado por seu irmão Cláudio que
desejava ser coroado e casar-se com a Rainha. Shakespeare revela em suas peças seu interesse
específico em alguns temas, tais como o místico, a ganância e a inveja que são colocados em
personagens que se diferem em suas personalidades, mas que nas obras possuem iguais
situações comportamentais.
Os dramas de William trazem em seus personagens múltiplas interpretações, como no caso de
Hamlet que ao analisarmos a peça supomos que ele estaria louco ou com toda razão de
desconfiar de seu tio. Notaremos que em suas peças os personagens recebem as características
da alma e os defeitos ou qualidades do seres humanos, Shakespeare transcreve os sentimentos
com profunda vivacidade, as palavras jorram como se estivessem sendo levadas na correnteza
de um rio.
A natureza em suas obras é vista como vemos a própria vida, em O Sonho de uma Noite de
Verão, o autor utiliza os elementos da natureza para montar o cenário cheio de belezas que
expressam os sentimentos dos personagens pela mulher amada e as situações vividas.
Shakespeare utiliza a diversidade da natureza e seus estados diferentes e os une com os
diversos tipos de caráter e sensações de seus personagens.
As obras de William Shakespeare ganharam o mundo, Shakespeare é um autor que viveu
séculos atrás, mas que tem a sua sobrevivência notada através dos tempos.
3.2 COMÉDIAS
As comédias de William Shakespeare são: A Comédia dos Erros, Os Dois Cavalheiros de
Verona, O Mercador de Veneza, Muito Barulho Por Nada, Como Gostais, A Megera Domada,
Trabalhos de Amor Perdidos, Noite de Reis, As Alegres Comadres de Windsor e Sonho de
Uma Noite de Verão.
As comédias de William Shakespeare celebram o amor e suas faces, o casamento, as trocas de
identidades, a posição da mulher na sociedade, o homem sagaz e ganancioso, e a honestidade;
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todas essas características o autor expõem em suas comédias que em sua maioria traz o amor
como tema central.
“As comédias românticas de Shakespeare giram em torno do amor: suas
provações, seus tormentos e arrebatamentos. [...] os personagens nas
comédias de Shakespeare terminam alegremente casados, ou, pelo menos,
legalmente casados!”. (ROZAKIS, 2002, p.71)
Algumas de suas comédias são na maioria leves e divertidas, que incluem além do dramático
os personagens cômicos. As comédias animadas, definida pelo bom humor e personagens
cativantes que trazem qualidades divertidas e encantadoras, também dentre essas comédias há
algumas baseadas em problemas que tratam de temas complexos e normalmente morais, onde
o falso moralismo, a inveja, a infidelidade são mostrados nas peças.
A Comédia dos Erros é uma obra onde a farsa é um dos principais elementos da peça, ela gira
em torno de confusões, que deixa o leitor desorientado com os enganos que acontecem
durante a trama, todavia, a obra também faz referência à submissão da mulher com seu
esposo, nela observamos o cômico, o sermão moral, a vida e a felicidade amorosa.
Na Comédia dos Erros conta a história de dois irmãos gêmeos que foram separados ainda
pequenos em um naufrágio, o pai salva uma das crianças e a mãe salva a outra Mas, os
criados de seus respectivos filhos também são gêmeos e também são separados durante o
náufrago. A peça tem início com Egoente pai dos gêmeos que é um comerciante de Siracusa,
porém ele é condenado à morte em Éfeso, por ser proibido à circulação dos moradores de
Siracusa em Efeso. Antes de ser executado, ele conta ao Duque de Efeso que veio a Siracusa
em busca de sua esposa e de seus filhos e servos gêmeos. A partir daí vários mal entendidos
acontecem.
“Como a maioria das comédias de Shakespeare, A Comédia dos Erros
começa com sofrimento e termina em alegria. [...] A ação em A Comédia
dos Erros é amplamente baseado no artifício dramático da identidade
trocada. Os dois pares de gêmeos são constantemente confundidos”.
(ROZAKIS, 2002, p.74-75)
Notamos que na peça Noite de Reis e a Comédia dos Erros, o intuito maior é de entreter o
público, são comédias que a diversão é um fator que se destaca na peça, assim como afirma
Rozakis (2002, p.122) “[...] O enredo festivo e levemente satírico gira em torno de uma série
de brincadeiras e de identidades trocadas”. Nos momentos em que os gêmeos são confundidos
a trama passa a deixar uma expectativa de sua possível resolução, o expectador quer saber de
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que forma esse quebra-cabeça será finalmente organizado, essa expectativa constrói o
divertimento que é um dos pontos marcante nessa obra.
Shakespeare correlaciona alguns fatos entre uma comédia e outra, como à troca de identidade,
e os disfarces que são atribuídos por alguns personagens. Viola é confundida com seu irmão
gêmeo Sebastião, nessa mesma obra Viola se disfarça de pajem para trabalhar para Orsino
Duque de Ilíria, isso também acontece na peça Dois Cavalheiros de Verona De acordo com
Rozakis (2002, p.79) “essa peça inicial tem muitos elementos que Shakespeare usou em suas
comédias seguintes, incluindo os dois pares contrastantes de amantes, a garota disfarçada de
pajem [...].”. Esse ato acontece no momento em que Júlia se disfarça de pajem para trabalhar
para Proteu seu amado.
Dois Cavalheiros de Verona apresenta os temas da amizade, assim como o da infidelidade, a
obra faz uma menção maior com relação à cobiça da mulher do próximo. A trama termina a
amizade reconstituída, percebemos que a história está construída em torno do amor, e do
perdão, ou seja, Valentino concede seu perdão a Proteu, depois dele fazer de tudo para separar
Valentino e Silvia, assim como o Duque de Milão perdoa os fora da lei que viviam na floresta
a pedido de Valentino.
Na obra As Alegres Comadres de Windsor acontecem uma sucessão de confusões através do
personagem Falstaff que vivia aprontando com as pessoas. Falstaff se interessa pelas Senhoras
Page e Ford, que resolvem dar uma lição no rapaz, no entanto, o Senhor Ford fica sabendo
que Falstaff está cortejando sua esposa, por esse motivo o Senhor Ford resolve testar a
fidelidade de sua mulher. Para Rozakis (2002, p.122) “As Alegres Comadres de Windsor
apresenta características peculiares, dentre as comédias de Shakespeare, [...]. A peça retrata a vida
comum, a classe média. [...] e a questão de identidade trocada”. Dessa forma percebemos a
semelhança de fatores entre as comédias de Shakespeare.
Portanto, em Como Gostais a maioria dos fatos acontecem na floresta. Percebemos que a
floresta se torna fonte de inspiração e o lugar propício para se descobrir o amor e o declarar
para mulher amada.
“Como Gostais é uma ótima comédia, uma das melhores de Shakespeare.
Nessa peça, as cartas de amor parecem crescer em árvores, e o duque
malvado passa por uma miraculosa mudança. Porém, há uma mensagem em
toda essa confusão: a peça satiriza o pastoralismo, a exaltação do campo
[...]”. (ROZAKIS, 2002, p.109)
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Como Gostais é uma peça que como as outras de Shakespeare mostram como os tronos eram
tomados por irmãos, mas como toda comédia de Shakespeare os personagens terminam
felizes, Na peça Como Gostais, não é diferente. Na natureza onde tudo acontece, os casais
terminam casados, e o trono é devolvido ao verdadeiro dono.
Nas muitas comédias de Shakespeare veremos a questão do casamento, como algo a ser
negociado, acertado pelo pai com o suposto pretendente. Na peça A Megera Domada, isso
fica bastante evidente, Catarina precisa se casar para que assim sua irmã mais nova também se
case. Conforme Rozakis (2002, p.85) “Os casamentos geralmente aconteciam por dinheiro,
dinheiro e mais dinheiro. Em A Megera Domada, vemos isso em Batista, que primeiramente
considera as vantagens econômicas de um casamento”. Petruchio, o noivo que foi achado,
conversa com Batista pai de Catarina e acerta o casamento com o mesmo. Logo depois
Petruchio vai atrás da aceitação de Catarina, onde percebemos que ela não teve muita escolha.
A posição da mulher como esposa é um traço marcante nessa comédia, ela expõe que a esposa
deveria se dedicar ao marido e a sua casa, como afirma Rozakis (2002, p.85) “Após o
casamento, a esposa devia obedecer a seu marido [...] Suas tarefas eram basicamente
domésticas, [...]”. Apesar de Catarina se posicionar como uma mulher que buscava por
liberdade e igualdade, logo, ela volta atrás e se torna só mais uma esposa sem escolhas que
depende do marido, Catarina era uma moça de gênio difícil de lidar, mas, Petruchio consegue
domá-la, transformando-a em uma esposa dedicada. No final Catarina é vista como uma
esposa mais obediente que sua irmã Bianca.
Em Trabalhos de Amor Perdidos os fatos ocorre em torno de tentativas de conquistar e
declarar o sentimento amoroso a mulher amada, depois de tantas situações percorridas e
argumentações feitas, os casais terminam separados, porém, com juramentos de amor que são
dados através de penitências, ou trabalho voluntário. De acordo com Rozakis (2002, p.91) “Os
casais não se casam alegremente. Contudo, a conclusão é paralela ao começo: o mundo do
sofrimento e da dor se intromete no mundo do amor”. O final dessa história é diferente das
outras peças de Shakespeare, pois, todos se separam, fica somente a promessa de casamento
dos casais.
Muito Barulho por Nada tem como tema central a conquista amorosa, o casamento, e a
diferença entre os sexos, esses mesmo temas são abordados na maioria das comédias de
Shakespeare.
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“Muito Barulho por Nada é uma comédia romântica excêntrica, na qual
todos, menos os amantes, percebem o encanto que há por trás da caçoada. Os
brilhantes personagens Beatriz e Benedito dançam ao redor de seu amor...
até que seja impossível ignorá-lo”. (ROZAKIS, 2002, p.109)
A história é sobre o casal Cláudio e Hero, mas quem acaba tendo maior ênfase na peça são o
casal Beatriz e Benedito que são o oposto de Cláudio e Hero, pois, Cláudio ama Hero que são
declarados um para o outro, mas Beatriz e Benedito ao invés de se declararem, se insultam.
Porém, Beatriz e Benedito se tornam vítimas de uma armação de seus amigos Cláudio e Hero
para que eles confessem o seu amor pelo outro.
O Mercador de Veneza, não tão diferente das outras comédias, fala do amor, no entanto, a
obra se prende ao Judeu Shylock e a Antônio O Mercador de Veneza. Antônio faz um
empréstimo com Shylock para seu amigo Bassânio casar-se com Pórcia. O prazo que Shylock
deu a Antônio acaba e ele não paga a divida, porém o acordo é que se Antônio não pagasse a
Shylock, ele lhe tiraria uma tira de couro. Daí por diante surge várias intervenções para
resolver o caso de Antônio. Mas, o final dessa história também acaba bem, Antônio consegue
se livrar da dívida.
“O Mercador de Veneza é uma peça perturbadora. É classificada como
comédia, embora às vezes se pareça mais com uma tragédia. Como comédia,
poderia ser uma história de amor, mas há momentos em que parece uma
história de ódio”. (ROZAKIS, 2002, p. 102)
No Mercador de Veneza, Pórcia também se disfarça de Homem para defender Antônio no
tribunal. Esse é um dos traços marcantes em Shakespeare, pois, no século XVI as mulheres
não atuavam, ou seja, os atores eram homens, Conforme Burgess (2006, p. 90) “[...] suas
heroínas eram rapazes e se sentiam mais confortáveis (provavelmente representavam melhor
também) vestidas como rapazes”. Os que interpretavam as mulheres eram adolescente, por
isso na maioria de suas comédias, Shakespeare utiliza o disfarce de homem em algumas de
suas heroínas.
O Autor em quase todas as suas comédias faz uso dos elementos da natureza, vemos que os
romances em sua maioria aconteciam dentro da floresta, os pontos primordiais de algumas
peças e o seu desfecho eram realizados nos ambientes de aspectos românticos, a natureza com
a sua beleza, seja noite ou dia, é um lugar certo para expressar e declarar os sentimentos do
mundo do amor.
33
Em suas comédias, Shakespeare colocou em evidência a posição da mulher e como elas eram
vistas pela sociedade, a ganância pela ascensão do poder e dinheiro, o amor proibido, o
casamento arranjado, assim como também as várias desconfianças, em que é revelada por
meio de seus personagens que se disfarçavam para provar a lealdade do seu companheiro.
William usava o entretenimento para falar sobre a sociedade, a diversão trazida pelo teatro é
um transporte de conhecimento social de uma época. Esse mesmo transporte revela um
mundo atual, através do romantismo de Shakespeare que nos contagia com as diversas
histórias de amor carregadas das mais diferentes situações que expressam à sociedade.
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4 O SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO – UMA ANÁLISE
Em O Sonho de uma Noite de Verão, Shakespeare mostra um paralelo entre a magia, o amor,
as fadas, e os seres humanos, que por fim todos se encontram na floresta. Shakespeare coloca
o drama dentro da obra. Na peça as confusões são formadas por uma porção mágica do amor
usada em casais errados, além do amor, o cômico aparece em vários momentos, um deles se
destaca quando Bottom é transformado em burro por Puck, apesar de a obra conter cenas
alegres, ela também apresenta a disputa amorosa e a condição imposta pelos pais de escolher
o marido para filha.
Hérmia ama Lisandro, porém, seu pai Egeu quer que ela se case com Demetrio, mas, ao
desenrolar da peça e com as confusões desfeitas, Lisandro casa-se com Hérmia, Demétrio
com Helena, o que proporciona a todos um final feliz.
“Sonho de uma noite de Verão oferece uma folga da realidade; é uma grande
viagem. [...] Como num sonho, a peça apresenta uma estranha mistura de
personagens realísticos e fantásticos, de falas cotidianas e poesia sublime, de
acontecimentos verossímeis e arrojados vôos da imaginação”. (ROZAKIS,
2002, p.96-101)
A peça O Sonho de uma Noite de Verão foi escrita entre 1594-1596 por William Shakespeare,
obra que se refere ao romance e a comédia, trazendo uma história cheia de fantasias e magia
relacionando o real mundo dos homens com o imaginário mundo das fadas.
4.1 PERFIL DOS PERSONAGENS
Teseu – Duque de Atenas.
Hipólita – Noiva de Teseu, Rainha das amazonas.
Egeu – Pai de Hérmia, um homem rígido que segue a risco o costume e as leis atenienses.
Lisandro – Um belo cavaleiro, romântico, virtuoso e corajoso que é apaixonado por Hérmia.
Demétrio – Um rapaz bonito que tem consigo um coração duro, que se comporta como uma
fera selvagem, além de ser inconstante e desleal, que é apaixonado por Hérmia.
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Bottom – Um homem entusiasmado de figura agradável. Tecelão.
Hérmia – Filha de Egeu, que é apaixonada por Lisandro, uma moça muito bonita e formosa
aos olhos de todos, que transcende encanto tanto ao falar quanto a olhar, menina de baixa
estatura qual se mostra meiga, valente e ousada.
Helena – Uma mulher de igual Beleza comparada a Hérmia, porém de estatura alta, mas, seus
traços se diferem com relação à graciosidade de Hérmia, pois, Helena carregava um
semblante triste e aflito. Helena é apaixonada por Demétrio.
Oberon – Rei das Fadas, um Rei ciumento, astuto e esperto.
Titânia – Rainha das Fadas, uma fada orgulhosa, generosa, e leal.
Puck – ou Bom Robim, um elfo travesso.
4.2 ENREDO
O Sonho de uma Noite de Verão conta a história de um casal apaixonado, Hérmia e Lisandro.
Mas, Egeu o pai de Hérmia quer que ela se case com Demétrio. Porém, Lisandro vendo que
não há como convencer Egeu, decide fugir com Hérmia. Helena é apaixonada por Demétrio,
sabendo que Hérmia sua amiga fugira com Lisandro decide contar a Demétrio, nesse
momento ele resolve ir atrás deles na floresta.
Na floresta próxima a Atenas se encontra Oberon Rei das fadas, e Titânia Rainha das fadas.
Ambos começam a discutir, Oberon quer o menino que Titânia cria, porém ela se recusa a
cumprir seu desejo. Diante dessa circunstância Oberon resolve usar a magia a favor de suas
vontades, pedindo para Puck seu fiel escoteiro usar uma flor mágica nos olhos de Titânia
quando ela estiver dormindo, que ao acordar se apaixonará pelo primeiro que ver. Demétrio
está na floresta com Helena, ao ver o modo como Demétrio maltrata Helena, Oberon pede
para que Puck também passe a flor nos olhos de Demétrio. Lisandro e Hérmia já estão na
floresta e decidem repousar. Puck ao invés de enfeitiçar Demétrio ele enfeitiça Lisandro que é
acordado por Helena, nesse instante Lisandro se apaixona por Helena, deixando Hérmia
sozinha na floresta.
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Puck vê os cortesãos ensaiando na floresta a peça Píramo e Tisbe que será apresentada no
casamento de Teseu e Hipólita e resolve divertir-se com o grupo, Puck lança um feitiço sobre
Bottom, deixando-o com cabeça de burro, ao perceberem a diferença em Bottom todos os
seus companheiros saem correndo. Mas, ali está Titânia a dormir, Titânia acorda e se encanta
por Bottom o Jumento.
Oberon percebe que Puck enfeitiçou o ateniense errado. Daí por diante várias confusões
acontecem, os dois cavaleiros que amavam Hérmia, agora amam a Helena, porém as belas
donzelas não conseguem compreender todo esse emaranhamento dos fatos; por fim, quando
todos estão a dormir Puck quebra o encantamento de Lisandro, Bottom o tecelão e Titânia.
Ao acordarem todos pensam que tudo não passou de Um Sonho, Lisandro volta ao normal,
Demétrio declara seu amor por Helena. Com isso, tudo termina bem no mundo dos homens e
das fadas, Oberon e Titânia se reconciliam. Enquanto isso no castelo a peça de Píramo e Tisbe
dá fim a obra com muita graça e diversão.
Na comédia O Sonho de uma Noite de Verão, Shakespeare traz alguns personagens cômicos,
dessa forma os acontecimentos são reduzidos pelo humor, usando o artifício de fazer com que
sentimos a existência dos personagens imaginários como reais, notamos que ao amanhecer, os
humanos que estavam na floresta pensam que tudo era fruto de sua imaginação, porém, no
final da história as fadas mais uma vez aparecem provando sua real existência, expressando a
beleza da noite que chegou. Percebemos que na peça O Sonho de uma Noite de Verão a
realidade e a ilusão estão bem definidas já que no desenrolar da peça elas não se dividem.
4.3 A PRESENÇA DA NATUREZA
Na obra O Sonho de uma Noite de Verão, Shakespeare buscou na natureza apresentar a obra
em volta de um lugar mágico, fantasioso e belo a luz do luar. A natureza é mostrada de vários
pontos, tanto com o reino animal e vegetal, além dos astros e estrelas que iluminam a noite.
Sentimos como se fosse um ambiente surreal, um lugar repleto de coisas maravilhosas,
Shakespeare nos faz usar a imaginação, ele nos coloca dentro dos seus próprios sentidos, com
quais usa para descrever o bosque de O Sonho de uma Noite de Verão.
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O Autor expressa nos elementos da natureza, as sensações do homem através das
interpretações do tempo, ou seja, dias de sol simboliza alegrias constantes, festas, diversão,
enquanto uma tempestade remete a infelicidade, tristeza, tribulações.
Em alguns pontos Shakespeare exibe a lua com o resplendor da sua presença, como se ela
fosse o indivíduo principal da noite, sendo a beleza feminina em muitos momentos comparada
com a grandeza do luar e suas fases. Hipólita e Teseu descrevem a noite que aguardam com a
chegada da lua que representará a união dos dois.
“HIPÓLITA: Mergulharão depressa quatro dias na negra noite; quatro
noites, presto, farão escoar o tempo como em sonhos. E então a lua que,
como arco argênteo no céu ora se encurva, verá a solene noite das bodas.
TESEU: [...] na outra lua quando tiver de ser selado o liame sempiterno entre
mim e a minha amada [...]”. (SHAKESPEARE, Ato I, Cena I)
As passagens da noite são descrita pela sua escuridão até a chegada da lua que é expressa
como um marco ou a primordial testemunha no enlace matrimonial entre os personagens, sua
chegada é tão importante quanto à união do casal. A lua é vista para ser louvada, porém é tida
como algo estéril, que não dá fruto, comparada à situação de quem vive em um convento e
que a aprecia, é como Teseu duque de Atenas se refere à lua ao falar com Hérmia, se ela
pretende obedecer a seu pai ou passar o resto de sua vida no convento.
“TESEU: [...] Vede se é possível suportardes um hábito de freira, para o caso
de recusardes a paterna escolha, ficar encarcerada para sempre num
convento sombrio, como estéril irmã passar a vida, hinos dolentes cantar à
lua infrutuosa e fria”. (SHAKESPEARE, Ato I, Cena I)
A mulher que é um ser gerador ao se colocar em um convento, onde a solidão é a companhia
cotidiana, faz com que o autor a veja como aquela que deixa de dar vida, como a lua que em
muitas noites se encontra só, assim a mulher é equiparada a ela como um ser que sozinho não
fornece vida e nem tampouco luz.
Durante toda a obra a lua é tida como sinônimo de tempo e lugar, ela representa tanto as
características dos personagens como os sentimentos expressos durante a noite, ou seja,
sensações alegres, ou tristes, além de se referir à beleza da deusa da lua.
“HÉRMIA:[...] é mau indício assim nos encontrarmos ao luar. [...] se com
tratável disposição quiserdes tomar parte de nossa alegre ronda e ver os
ludos à clara luz da lua”. (SHAKESPEARE, Ato II, Cena I).
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“LISANDRO: [...]Febe a luz prateada nas águas refletir, cobrindo a relva de
pérolas e encanto dando à selva [...]. [...] Procurai-me no bosque do palácio,
a uma milha da cidade, logo que a lua sair”. (SHAKESPEARE, Ato I, Cena
I)
Esses entre outros trechos exibem as fases da lua, a sua luz, a noite enluarada. O Autor
evidencia a majestade da lua em todos os Atos no desenrolar da obra. A profunda transmissão
da natureza na obra, nos elementos tais como a lua, as flores, o verde, revela a comoção, os
sentimentos que indicam o modo como o autor se interessa demonstrar em seus personagens a
perfeita descrição da plenitude do que é visto como beleza natural, a beleza da natureza que
além da fauna e flora é associada também à natureza humana.
As expressões nas faces dos personagens, a aflição, a dor ou o riso contagiantes, são
características intensamente notadas nos aspectos da vida da natureza. Lisandro observa o
rosto de Hérmia e a descreve como flores murchas, e Hérmia explica que é por muito tempo
não ter chorado, Shakespeare demonstra tais situações por meio dos elementos da natureza.
“LISANDRO: [...] Qual motivo de murcharem tão rápido essas rosas?
HÉRMIA: [...] Talvez por falta de água que lhes viesse da tempestade dos
meus próprios olhos”. (SHAKESPEARE, Ato I, Cena I)
Lisandro revela a delicadeza do rosto de Hérmia assim como a rosa que com a falta de
cuidado desfaz da sua formosura, no entanto, Hérmia leva em conta as suas lágrimas, que
nesse caso revela o sofrimento, a qual serviria para regá-las sendo esse o modo de conservar a
graça de tais rosas.
Shakespeare ainda revela a aflição sentida por Hérmia que corroeu o seu coração transmitido
por animais peçonhentos.
“HÉRMIA: [...] Tira-me a serpente que no seio me causa dor pungente [...]”.
(SHAKESPEARE, Ato II, Cena II)
Observamos a força da reflexão feita da dor sentida por Hérmia, que indica uma obscura e
horrenda situação na qual se encontrava. Um animal que trás medo ao homem da mesma
forma que a dor, esse é um dos elementos que tem poder para exprimir a angústia por meio
das palavras que se refere aos sentimentos dolorosos.
Na mesma cena Shakespeare através do personagem de Helena faz uma perfeita imagem de
Hérmia comparando-a a natureza, ela que é tida especialmente com desejo aos olhos dos
homens.
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“HELENA: [...] nesses olhos encontra a luz mais pura; acha ele em tua voz
mais melodia do que o pastor na doce cotovia, quando o trigo nos campos
enverdece e o pilritreiro de botões se tece”. (SHAKESPEARE, Ato II, Cena
II)
Observamos que Helena ressalta a natureza humana como algo que transmite luz, ou
iluminado, a formosura de Hérmia chega a ser espontânea, assim como as plantações que
estão a florescer, e a sua voz é tida mais doce do que os cantos que são apreciados pelo
pastores, da mesma forma que a terra fornece uma beleza que chamamos de natural ao seres
da natureza, assim O Autor nos faz sentir com que Hérmia tenha sido simplesmente agraciada
em sua beleza.
Porém, Helena coloca o homem em menor aspecto do que animal feroz, o ser humano é de
certo modo caracterizado igualmente com os seres da natureza, William ainda considera a
linhagem do homem que faz parte do mundo nivelado com a natureza, transformando tudo em
um único ser.
“HELENA: [...] Nem me faltam mundos de companhia nestes bosques, por
serdes para mim o mundo todo. Como, pois, se dirá que eu estou sozinha, se
o mundo toda agora me contempla? [...] Qualquer fera selvagem tem mais
brando coração do que vós [...]”. (SHAKESPEARE, Ato II, Cena I)
Helena se une a floresta referindo-se a ela como seu mundo, ela não a vê com diferenças, e a
sente como um ser que o acompanha. Ainda nessa cena Helena descreve Demétrio como um
bruto, que transparece não ser gentil dessa forma Shakespeare equipara o homem e a natureza,
revelando que em certas situações um animal feroz pode ser considerado mais afável e
bondoso que o homem.
Todavia, a leitura feita da obra nos leva a perceber que Shakespeare investiga a graciosidade
das estações, que invadem a alma de seus personagens, a simplicidade da primavera é
assistida e revelada para nós leitores por entre uma palavra e outra que dá existência e
formosura ao tempo que passa e as estações que chegam, o autor nos faz saborear e descobrir
a perfeição em cada uma das estações.
“LISANDRO: [...] uma vez ti vi em companhia de Helena a realizar os
sacros ritos de uma manhã de maio. [...] Naquele bosque em que, sobre
canteiros de primaveras, instantes tão fagueiros passamos tantas vezes [...]”.
(SHAKESPEARE, Ato I, Cena I)
No entanto, a exaltação da natureza é mostrada pelas fadas com um exuberante encanto como
se todas as coisas tivessem perfume e sabores.
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“FADAS: [...] As altivas primaveras ela as adora deveras; em seu dourado
vestido de traçado mui garrido, há rubis, muito perfume, de que as fadas têm
ciúme. Ora sacudo as pétalas das rosas à procura das pérolas donosas porque
às orelhas ponha redolentes das primaveras lúcidos pingentes. [...] da sincera
violeta e da graciosa primavera, onde há latada de fragrantes rosas e
madressilvas nímio dulçorosas”. (SHAKESPEARE, Ato II, Cena I)
Esse momento da primavera é destacado na natureza pelo tempo em que chegou e a força da
graciosidade com que ela se aproxima trazendo cores e cheiros, as flores trazem alegrias e os
campos são contemplados pelos verdes que exprime tranqüilidade, onde os climas das
estações causam prazer.
William Shakespeare também fez referência a um período em que as estações não permitiram
que a terra viesse a dar bons frutos, essa cena indica um momento em que as plantações se
perderam, e as paisagens que se referiam a agricultura ou a natureza não tinham boniteza, o
campo estava coberto de água, e os animais se escondiam para longe dos pastos; Shakespeare
através do personagem de Titânia Rainha das Fadas descreve como foi esse momento tanto
para natureza como para os humanos, e no final fala das mudanças das estações.
“TITÂNIA: [...] Em vão os bois no jugo se cansaram; perdeu o suor o
lavrador; o verde trigo podre ficou antes de a barba juvenil lhe nascer; os
currais se acham vazios nas campinas alagadas; cevam-se os corvos no
pastoso gado: as quadras de pelota estão desertas e cobertas de lama; quase
desfeitos na verde relva os belos labirintos, porque ora já ninguém neles
transita. [...] enquanto sobre o queixo e nos cabelos brancos do velho
inverno, por escárnio, brotam grinaldas de botões odoros do agradável estio.
A primavera, o estio, o outono procriador, o inverno furioso as vestes
habituais trocaram, de forma tal que o mundo, de assombrado, para
identificá-los não tem meios. [...]”. (SHAKESPEARE, Ato II, Cena I)
O Autor descreve as características do inverno com termos que remete a algo rabugento e
desagradável, o frio inverno é uma das estações em que Shakespeare nos leva a tê-lo como
algo ruim e temeroso, que provoca não apenas um frio físico, mas também a frieza da alma.
Os animais silvestres e domésticos também são situados na peça, em alguns trechos
observamos a espontaneidade de William ao interpretar os atos humanos com relação às
simples características da personalidade da vida animal, como no momento em que o grupo de
Bottom fugiu ao ver que ele estava com cabeça de burro.
“PUCK: Ao vê-lo, os outros, tal como bulhento bando de patos bravos, no
momento em que percebem caçador matreiro que para eles se arrasta
sorrateiro, ou como gralhas de pés rubros, quando a um tiro súbito, a gritar,
voando, se espalhando pelo céu [...]”. (SHAKESPEARE, Ato III, Cena II)
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Puck fala do alvoroço causado pelo espanto que os amigos de Bottom tiveram ao vê-lo
transformado, buscando representá-los como as aves que fogem dos caçadores no momento
que se sentem ameaçados.
Nesse outro ato observamos como Helena se coloca diante de Demétrio e da forma como ele a
trata.
“HELENA: [...] como cãozinho me tratai; repeli-me, dai-me golpes, não vos
lembreis de mim, deixai-me à toa; mas por mais que de tudo eu seja indigna,
permiti que vos siga. Mais modesto lugar em vosso amor não me é possível.
Mas para mim será titulo honroso como vosso cãozinho ser tratada”.
(SHAKESPEARE, Ato II, Cena I)
Percebemos como Helena é colocada em termos de tratamento e condição comparada com um
cãozinho, vemos que sua posição como ser humano é rebaixada por seus sentimentos que não
são correspondidos, onde ser maltratada se torna sinônimo de afeição desde que ela seja aceita
por Demétrio. Shakespeare provoca fortes colocações que podem ser notados em fatos que
são assistidos na sociedade, que nos leva a entender a intenção do autor de revelar o íntimo do
homem através dos aspectos que a natureza traduz.
4.4 MAGIA, MITOLOGIA E A CULTURA CELTA
Shakespeare transfere o amor como algo mágico, sentir-se apaixonado, é tido por alguns
momentos como ilusões, fantasias, amar é estar enfeitiçado na peça O Sonho de uma Noite de
Verão, observamos que isso realmente é revelado na obra quando Puck enfeitiça Titânia,
Lisandro e Demétrio sem que eles saibam, mas, Shakespeare faz com que os personagens
sintam essa magia do amor, Egeu se refere a Lisandro como se ele tivesse dado a Hérmia uma
porção do amor, é como se os personagens reais agissem como se estivessem em um conto de
fadas, esse é o efeito causado por Shakespeare.
“EGEU: [...] o peito de Hérmia traz enfeitiçado, sim, Lisandro, tu mesmo,
com tuas rimas! [...] cantaste-lhe canções com voz fingida, versos de amor
fingido, e cativaste as impressões de sua fantasia [...]”. (SHAKESPEARE,
Ato I, Cena I)
Assim também como Lisandro sobre o feitiço de Puck agora apaixonado por Helena, fala que
o amor que Hérmia sente por ele não tem mais efeito.
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“LISANDRO: A Hérmia não percebeu. Dorme até o dia, que em mim não
tem poder tua magia”. (SHAKESPEARE, Ato II, Cena II)
Os artifícios da conquista são retratados por Shakespeare como uma simpatia, o amor é visto
como algo mais forte que o querer ter a pessoa amada por perto, assim as poesias que
Lisandro recitava para Hérmia eram vistas por Egeu como magia deixando-a sobre um
encantamento. Os personagens de William expressam as sensações do homem quando se
encontra apaixonado, o autor aborda o mundo do amor como algo mágico e fantasioso pelos
aspectos em que são demonstrados no indivíduo que está enamorado, esses aspectos
geralmente leva o homem a ver o impossível como possível, onde tudo pode ser feito por algo
ou aquele a quem se ama.
Shakespeare também usa o personagem Puck para mostrar como o povo via as fadas, Puck
com suas travessuras, atormentava moradores das aldeias, agricultores e viajantes, essas
situações retomam a sociedade celta que acreditavam nas fadas, além das crenças do povo
inglês.
“FADA: [...] tu és aquele espírito travesso do nome Bom Robim. És tu que
enleias de noite as raparigas das aldeias, tiras do leite a nata e, de mansinho,
desajustas as peças do moinho; [...] que ris às gargalhadas, de inclemente, do
viajante noturno exausto e lasso, pós o teres transviado um bom pedaço.
PUCK: [...] Eu sou, realmente, o ledo vagabundo noturno que brinquedo
faço de tudo, [...] às vezes ponho tudo em polvorosa, [...]”.
(SHAKESPEARE, Ato II, Cena I)
Puck é um dos principais personagens na obra que representa a mitologia, ele retrata fielmente
a cultura Celta até o século XVI em que os ingleses acreditavam que os elfos existiam e que
influenciavam na vida cotidiana, ou seja, as fadas viviam entre os humanos podendo assim
mudar o rumo da colheita, como do trabalho de uma dona de casa, ou o do caminho de um
viajante, o autor registra através de Puck que as fadas tinham fácil acesso aos seres humanos,
além de podermos considerá-las superiores aos homens, pois possuíam a magia.
Assim como os homens têm nomes, William dá nomes ao seres místicos, nomes que indicam
elementos da natureza, como por exemplo, Teia de aranha, Semente de Mostarda, Flor de
ervilha e Traça.
“TITÂNIA: [...] silfos belos vais ter, como eu, também, que jóias te trarão do
mar profundo, e te farão dormir sempre jucundo. [...] Traça! Mostarda! Flor
de ervilha! Teia!”. (SHAKESPEARE, Ato III, Cena I)
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Shakespeare fez com que a vida das fadas fosse transmitida através de como elas eram
chamadas, as fadas representavam os elementos da floresta e tudo o que nela existiam,
basicamente quaisquer seres poderiam dar nomes ou descrever as fadas.
Tudo o que inspirou William Shakespeare em O Sonho de uma Noite de Verão está dentro de
sua própria realidade, considerando que ele usou sua imaginação para percorrer por entre os
seres reais e imaginários. O Autor com sua criatividade uniu os seres imaginários com os reais
dentro da floresta. Shakespeare é mais um dos escritores que é um constante admirador da
natureza, aquilo que lhe trás inspiração faz com que analisemos o homem como a própria
natureza, ou seja, é dela que vive, e recebe toda a sua essência. Shakespeare descreve seus
princípios por meio da natureza e da sua própria natureza humana.
Mas, não ficaremos somente na análise dos elementos da natureza como expressão de
sentimentos, veremos os costumes que são basicamente mostrados pelas crenças de um povo.
Acredita-se na Tradição Celta que as plantações e colheitas eram abençoadas pelos deuses,
que na mitologia são fadas. Em forma de agradecimento o povo lhes dava oferendas.
Shakespeare transmite a mitologia como um elemento mágico, a magia pertence às fadas,
sendo elas encantadas e espirituosas, em Sonho de uma Noite de Verão Titânia rainha das
fadas nos demonstra que uma senhora da índia lhe prestava adoração.
“TITÂNIA: Ao meu culto sua mãe era voltada, muitas e muitas vezes, na
atmosfera perfumada das Índias, me aprazia ouvi-la discretear, tê-la ao meu
lado nas amarelas praias de Netuno a admirar os cargueiros balouçantes
sobre as ondas inquietas”. (SHAKESPEARE, Ato II, Cena I)
Essa cena nos direciona ao tempo em que os Celtas cultuavam os deuses, e os espíritos que
ganhavam personificações com os elementos da natureza, com isso o culto a natureza, ou a
mãe terra era algo comum nos costumes celtas. Certamente as fadas faziam parte desses
deuses que eram adorados pelos Celtas. Nessa mesma cena está Oberon Rei das fadas, nos
mostra que com seus saberes pode usar a magia a qual usa para enfeitiçar Titânia.
“OBERON: De posse desse suco, hei de achar meio de surpreender Titânia
adormecida, para nos olhos lhe deitar o liquido ao despertar, o que enxergar
primeiro, [...] perseguirá com alma enamorada. E antes de lhe tirar da vista o
encanto, o que farei com suco de outra erva [...]”. (SHAKESPEARE, Ato II,
Cena I)
Notamos que o feitiço lançado por Oberon causa um deslocamento dos sentidos naqueles que
foram atingidos, o Rei das fadas mostra que sua sabedoria lhe dá acesso a magia, tanto para
colocar encantamento como para quebrá-lo.
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A magia e os mitos são fortemente registrados na peça, a vivacidade dos seres mitológicos os
seus poderes nos fornecem uma imagem que vitaliza a existência desses seres na época de
Shakespeare, e durante a sobrevivência do povo Celta.
Shakespeare fazia uma investigação daquilo que vivia e observava. Os costumes de seu povo
ou aquilo que acreditava foi retomado para dentro da peça O Sonho de uma Noite de Verão
com uma estrutura um tanto diferente da realidade, os deuses não eram vistos pelo povo, eles
não apareciam, ainda assim o povo acreditava que se a colheita fosse boa, era devido a
bondade dos deuses, assim era no período da habitação do povo Celta na Inglaterra, essas
tradições e mitos foram cultivados, e Shakespeare revela parte desse contexto histórico e
cultural dentro da obra. A peça termina com a benção das fadas, tanto para colheita, como
para uma vida sem maus presságios.
“OBERON: [...] Enquanto a aurora se atrasa, rondai todos esta casa, que ao
tálamo principal vou lançar a bênção real. Sua prole numerosa será sempre
venturosa. Os três casais que aqui estão em concórdia viverão; seus filhos
não serão presa das manchas da Natureza. Beiço de lebre, sinais e outros
defeitos que tais, que deixam triste o aleijão, seus filhos nunca terão. Com
orvalho consagrado cada elfo cumpra o recado, este palácio abençoando e
paz por tudo espalhando. Jamais caia em abandono, feliz seja sempre o dono
[...]”.(SHAKESPEARE, Ato V, Cena II)
O Autor faz uma menção destacando a relação das fadas com os homens, as fadas tinham o
poder de proporcionar coisas boas para as famílias, no final da peça elas proferem para os
humanos uma linhagem sem maldiçoes abençoam a casa de Teseu e todos os casais que ali
estavam assim, acreditava-se nos costumes celtas que os seres místicos que habitavam na
natureza realizavam o desejo da população através das petições, cultos e oferendas que eram
designadas para eles.
Os celtas acreditavam que todos os seres existentes simbolizavam a vida, dessa maneira toda a
natureza era vista como uma deusa que dava vida aos homens e vida a tudo o que na terra
habitava, tudo o que a terra fornecia tudo, o que ela expressava como os sons, as cores, os
sabores, os cheiros, os alimentos, a mudança de tempo, o vento, a chuva, e o sol e a própria
terra, todos esses elementos diversos que existiam eram cultuados por um povo que outrora
habitou a Inglaterra.
Para Shakespeare tais existências têm vidas, isso é o que sentimos nas imagens que por ele
são descritas na peça, tudo o que se move na natureza, cresce e morre, todas as expressões e
estímulos produzidos pela natureza são observados da mesma maneira no ser humano, não
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somente observado, mas unido, a vida da natureza é expressa no agir e pensar do homem.
William Shakespeare faz um elo, vitalizando toda a paisagem natural em emoções que
personificam a vida humana.
Shakespeare emerge dentro das paisagens, suas interpretações das emoções vistas nas faces
dos homens, fazendo com que pensássemos que ele cuidasse e vivesse junto da natureza. O
Autor também utiliza toda essa diversidade natural, todas as diferenças na beleza entre
animais e plantas que a natureza representa, em suas obras, as imagens naturais simples e
singulares são bem entoadas em suas peças, que revela o amor através do poeta e seu
romantismo, que valoriza a natureza do homem e a natureza da terra.
O Sonho de uma Noite de Verão é uma obra Shakespeariana mágica, pois nos transporta para
um lugar com efeitos especiais, onde a realidade e a fantasia vivem juntas na plenitude da
natureza. A natureza descrita nessa obra é extremamente exuberante. A vida das coisas se
transforma nos aspectos primordiais que vitaliza todas as paisagens que transparece na
natureza. Toda a essência, perfeição e diversidade são os efeitos avassaladores usados por
William Shakespeare na Obra O Sonho de uma Noite de Verão.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com as argumentações propostas neste trabalho, acreditamos que a literatura é
importantíssima para o desenvolvimento da sociedade no processo de formar cidadãos
comprometidos com a natureza. Usar a literatura como recurso que produz conhecimento é
bastante prazeroso, pois nos dá facilidade e acesso aos valores e crenças de diferentes povos,
tornando possível a ampliação da compreensão do mundo natural e social no qual estamos
inseridos.
William Shakespeare em O Sonho de uma Noite de Verão revela a natureza em vários
aspectos da vida animal e vegetal. A natureza em toda a obra é destacada como fonte de
existência no meio da civilização, além da sua comunicação com os homens e o mundo. O
comportamento e os atos dos personagens são percebidos ao notarmos a situação imposta ao
homem onde ele se encontra lado a lado com a natureza.
Shakespeare em O Sonho de uma Noite de Verão busca algo que vai além de simples
entretenimento, uma vez que a obra mistura fantasia e realidade, o autor tem o intuito de
transmitir sua exaltação pelas coisas naturais e os aspectos simples da vida da natureza, no
entanto, O existir da natureza é mostrado nesse trabalho como ser que é vida e gera vida.
William Shakespeare, o povo elisabetano, assim como os gauleses que habitaram na
Inglaterra possuiam uma herança cultural na qual a natureza e o homem viviam em equilíbrio.
As tradições celtas, a mitologia e a magia são representadas na obra. O Autor cria um vínculo
entre esses aspectos unindo o real e o imaginário, com isso as emoções e sentimentos que
Shakespeare expressa em seus personagens são fluídos por entre os elementos naturais. As
coisas simples do nosso mundo são descritas com grandeza e espiritualidade, levando-nos a
acolher a fantasia, despertando a nossa capacidade de se envolver com o modo de olhar e
sentir a natureza como fez Shakespeare.
Essa pesquisa tem a perspectiva de apresentar ao leitor as diversas faces de William
Shakespeare, também é direcionado para aqueles que querem conhecer um pouco mais
daquele que é um dos maiores escritores que contribuiu e contribui para a literatura e as mais
diversas artes do mundo, este trabalho dar um melhor embasamento na vida e obra de
Shakespeare destacando-o como um admirador da natureza e seus ambientes mágicos. No
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final deste trabalho temos a percepção de um Shakespeare como indivíduo que acreditava nos
ideais e valores de uma sociedade na qual estava inserido. Suas emoções foram manifestadas
em suas obras deixando uma herança cultural para a humanidade.
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6 REFERÊNCIAS
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http://www.dominiopublico.gov.br
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