JORNAL: O Estado de Minas
14/04/1991
ENGENHEIRO cria um carro elétrico híbrido. O Estado de Minas, p.12, il., 14/04/1991.
Engenheiro cria um carro elétrico híbrido
Propostas de carros elétricos
não poluentes, silenciosos e imunes a crises de combustíveis existem muitas. País como a França,
a Inglaterra, os Estados Unidos e
o Japão já possuem protótipos
superavançados, segundo os especialistas. Inclusive no Brasil, a
Gurgel propôs um carro elétrico
cuja viabilização, assim como os
modelos desenvolvidos nos países ricos, esbarrou na dificuldade
que é o peso elevado das baterias.
O desafio de conciliar o peso
com a potência necessária para
movimentar o veículo — a chamada relação peso/potência, favorável ao carro convencional foi
aparentemente superado pelo
engenheiro de telecomunicações
Antônio Augusto Andrade Araújo.
Para contornar a dificuldade,
este mineiro de 45 anos, nascido
em Campanha, no Sul de Minas e
formado pelo Inatel de Santa Rita
do Sapucaí em 1968, exfuncionário da Telebrás e da Em104288
bratel e professor da Faculdade
de Engenharia da Unicamp durante 16 anos, trabalhou durante
seis anos no projeto de um veículo elétrico híbrido, movido por
motores alimentados por baterias
mas que possuísse também um
grupo de geradores movido por
uma turbina a combustíveis líquidos ou gasosos.
Este ano, o inventor deu entrada a um pedido de registro de
patentes na representação do Instituto Nacional da Propriedade
Industrial - INPI - em Belo Horizonte e está pleiteando junto ao
INDI um financiamento para
desenvolver o protótipo do carro,
estimado, em dezembro, pelo
Centro Tecnológico da Unicamp,
onde o projeto aguarda financiamento, em cerca de 800 mil
BTNF. O engenheiro também
solicitou, através de carta onde
descreve o projeto do carro elétrico híbrido, a intervenção do
presidente Fernando Collor na
abertura de um financiamento
que viabilize a construção do
protótipo.
A carta foi enviada à Presidência em dezembro, mas o inventor ainda não obteve resposta.
Simplicidade
Um modelo simplificado que
não gasta peças e, portanto, dispensa oficina e que seja imune a
crises. Assim o inventor define o
que deverá ser este carro “difícil
de deixar alguém a pé”. Composto de quatro motores elétricos
diretamente acoplados às rodas, o
carro dispensa eixo de transmissão e embreagem e possui um
sistema eletrônico de velocidade
controlado por um microcomputador. Deverá ser mais leve e
barato que os modelos tradicionais, podendo funcionar, durante
os períodos de recarga das baterias, com o combustível disponível
naquele momento.
Os veículos elétricos existentes no mundo são acionados por
motores elétricos alimentados por
baterias, células fotoelétricas,
grupos geradores convencionais
(motor à explosão mais gerador)
ou por um combinação desses
dispositivos. O engenheiro Antônio Augusto propôs a aplicação
de um grupo gerador movido à
turbina como fonte de energia
alternativa às baterias, o que ele
garante que até agora ninguém
havia pensado.
O sistema
Os quatro motores elétricos
que impulsionam o veículo são
de corrente alternada, controlados
por circuitos eletrônicos que equalizam a curva de torque, permitindo a variação de velocidade
através de perda do acelerador,
opção que atende aos quesitos
simplicidade de construção, baixo custo e peso, solidez e facilidade de controle. Esse carro não
possui caixa de câmbio, embreagem, diferencial nem qualquer
sistema de transmissão dos veículos convencionais.
Um conjunto de baterias e um
grupo de geradores são as fontes
de energia. O grupo gerador alimenta os motores, quando as
baterias estiverem descarregadas,
produzindo mais potência que a
somatória do consumo máximo
dos quatro motores, sendo o excesso de potência utilizado para
recarregar as baterias.
As baterias podem ser recarregadas, através da rede comercial possuindo o veículo um carregador apropriado que pode ser
conectado a qualquer tomada
convencional de 110 ou 220
104288
volts, quando o veículo estiver
estacionado.
Opcionalmente, o veículo poderá ser equipado com células
solares no capô com a mesma
função de recarregar as baterias,
utilizando-se então a energia solar.
O grupo gerador é composto
por um alternador acionado por
uma pequena turbina, e todos os
sistemas elétricos e eletrônicos
são controlados por um microcomputador, sem necessidade de
intervenção do motorista.
Funcionamento
Prioritariamente, o inventor
explica que esse veículo é sempre
alimentado pela carga das baterias que é suficiente para trajetos
curtos. Em trajetos longos, quando essa carga atingir seu valor
minimo, o micromputador dará
partida na turbina e os motores
passarão a receber alimentação
do alternador. Ao mesmo tempo,
as baterias começarão a ser recarregadas.
Quando as baterias alcançam
o válor máximo de carga, a turbina é desligada pelo microcomputador e os motores voltam a ser
alimentados pelas baterias. O
processo se repete inúmeras vezes.
Os quatro motores podem ser
ligados simultaneamente, ou um,
dois ou três de cada vez, conforme a necessidade de maior ou de
menor potência em virtude das
características topográficas do
percurso. Nas descidas, os motores são revertidos a modo gerador, sendo a potência gerada aplicada às baterias, ajudando a
recarregá-las.
Preço
A produção em série desse
veículo, segundo o inventor, deverá ser bem mais barata que a de
um veículo convencional devido
à simplicidade de construção do
motor e ao uso restrito de peças.
A durabilidade, ainda conforme o
engenheiro, deve ser maior já que
o carro possui apenas duas peças
móveis: o eixo da turbina e os
eixos das rodas. Ele explica que a
confiabilidade também é alta,
pois o veículo possui quatro motores. “No caso de defeito em um
deles, o microcomputador elimina-o do circuito e o veículo passa
a ser acionado pelos outros três e
mesmo no caso de defeito em três
motores, o veículo é capaz de ser
impulsionado em baixa velocidade pelo motor restante até uma
oficina de reparos. Considerando
o aspecto de conservação de energia, o inventor garante que o
carro projetado não desperdiça
energia no trânsito das grandes
cidades em virtude de paradas
obrigatórias em sinais e engarrafamentos. Toda energia gerada
pela turbina é armazenada nas
baterias, inclusive nos declives.
E, para recarregar as baterias, o
inventor sugere que os motoristas
utilizem a rede comercial, durante a noite, “quando o consumo é
baixo e as usinas estão gerando
energia de forma ociosa”.
A tecnologia proposta se aplicaria, ainda de acordo com o
inventor, a veículos especiais que
apresentam custos de produção
muito elevados, caso de máquinas especiais para lavoura, veículos robotizados e anfíbios.
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