ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental
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O REAL SIGNIFICADO DA TRANSPARÊNCIA NA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE DA ÁGUA DE LAGOS E REPRESAS
Eduardo Von Sperling (1)
Engenheiro Civil e Sanitarista (UFMG, 1975). Mestre em Engenharia
Sanitária e Ambiental (UFMG, 1976). Doutor em Ecologia Aquática
(Universidade de Berlim, 1989). Professor Titular do Departamento de
Engenharia Sanitária Ambiental da UFMG.
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RESUMO
O trabalho apresenta considerações sobre o conceito de transparência, sua medição, seu
significado limnológico e sua relação com a produtividade do ambiente aquático. É dado
destaque ao fato das águas tropicais possuírem em geral baixos valores de transparência,
independente de seu grau de trofia.
PALAVRAS -CHAVE: Limnologia; Transparência; Qualidade da Água.
INTRODUÇÃO
Dentre os campos de atuação da Engenharia Sanitária e Ambiental, um dos mais importantes
aspectos refere-se às medidas de proteção e recuperação de ambientes aquáticos. Os diversos
usos da água estão em geral fortemente vinculados às atividades humanas, destacando-se aqui o
abastecimento doméstico e industrial, a geração de energia elétrica, irrigação, transporte,
recreação, aquicultura e até mesmo harmonia paisagística.
Para a correta definição de medidas protetoras e recuperadoras torna-se necessária uma
criteriosa avaliação da qualidade da água, lançando-se mão para tanto de uma série de
indicadores físicos, químicos e biológicos. Dentre estes os parâmetros físicos são os de menor
custo e de mais fácil obtenção, fato que é bastante relevante em situações de carência de
recursos financeiros, como o caso de nosso país. Alguns exemplos de indicadores físicos são a
temperatura, turbidez, cor, sólidos suspensos e transparência.
Este último assume um significado importante no caso de lagos e represas, que são ambientes
hídricos com reduzida movimentação da água e elevado tempo de residência.
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CARACTERIZAÇÃO DA TRANSPARÊNCIA
A transparência é medida de forma bastante simples através da utilização de um disco metálico
de aproximadamente 30 cm de diâmetro, preso a uma corda calibrada. A determinação da
transparência é feita por meio da observação da profundidade de desaparecimento do disco na
água. Como este processo foi descrito inicialmente no século passado pelo naturalista italiano
Secchi, a transparência é muitas vezes denominada também profundidade de Secchi. Desta
forma, a transparência pode ser conceituada como a medida visual da profundidade de
penetração dos raios solares. A alteração de penetração da luz devido à presença de material
em suspensão é medida pelo parâmetro turbidez. Esta por sua vez é influenciada pelo tamanho
e características superficiais da partícula suspensa, diferindo portanto da conceituação de
sólidos suspensos. Assim sendo, se o material suspenso estiver finamente dividido a turbidez
será alta e o teor de sólidos suspensos baixo. Em caso da presença de material grosseiro a
situação se inverterá.
É freqüentemente citada na literatura técnica a associação entre a transparência e a
profundidade de um ambiente aquático, considerando-se que lagos e represas eutróficos
apresentam intenso crescimento de algas, o que leva naturalmente à obtenção de baixos valores
de transparência. No entanto, em lagos e represas tropicais, sujeitos à forte influência sazonal
de chuvas e do conseqüente processo erosivo na bacia de drenagem, constata -se que a
associação entre transparência e produtividade raramente existe. Na verdade, as águas de
ambientes tropicais são pouco transparentes muito mais em decorrência de carreamentos
superficiais do solo adjacente do que em função de um elevado grau de produtividade
biológica.
OBJETIVO
O presente trabalho pretende demonstrar a inconveniência de se utilizar a transparência como
indicadora de trofia (intensidade de produção primária) no caso de lagos e represas tropicais.
Sugere-se que a interpretação deste parâmetro esteja vinculada aos aspectos sazonais reinantes
na maioria dos corpos d’água tropicais. Embora possa se tratar de um ponto de fácil
compreensão, ele é freqüentemente esquecido ou mal interpretado por ocasião de processos de
avaliação da qualidade da água.
A TRANSPARÊNCIA EM AMBIENTES AQUÁTICOS TROPICAIS
As águas tropicais brasileiras apresentam via de regra valores muito baixos de transparência.
Para o caso de ambientes lênticos (lagos e represas) a transparência atinge naturalmente valores
na faixa de 0,2 m a 2 m, que são quase sempre superiores àqueles encontrados em ambientes
lóticos (rios).
Transparências superiores a 2 m são encontradas muito raramente no nosso país e mesmo
assim apenas em períodos de seca e em bacias hidrográficas de solos pouco erosíveis.
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Situação oposta ocorre nas regiões de clima temperado, onde são registrados com freqüência
valores acima de 10 m. A literatura técnica cita como o valor mais elevado já registrado até
hoje a incrível marca de 41,6 m, encontrada no Lago Mashu, na ilha de Hokkaido, Japão. No
Lago Baikal, que é o ambiente de água doce mais profundo do mundo (1.751 m) são
regularmente obtidas transparências na faixa de 20 a 35 m.
Deve-se dar destaque ao fato da transparência não constituir-se em um indicador adequado da
produtividade de ambientes aquáticos tropicais. Nestes sistemas o metabolismo dos organismos
é muito mais acelerado, conduzindo a uma decomposição mais intensa de matéria orgânica e
também a uma relação bastante complexa entre presença de nutrientes e crescimento de
biomassa. Como conseqüência ambientes aparentemente eutróficos (em função da
concentração de nutrientes) podem apresentar mesmo assim elevada transparência, ao passo
que corpos d’água oligotróficos podem exibir baixas transparências originárias de processos
erosivos na bacia de drenagem.
CONCLUSÕES
As considerações teóricas emitidas no trabalho e a discussão dos dados apresentados com
relação a valores de transparência permitem concluir sobre a necessidade de uma interpretação
cuidadosa das medidas de transparência. Se por um lado, o custo operacional da medição é
reduzido, o que naturalmente é um atrativo para sua realização, por outro lado, os resultados
podem facilmente conduzir a constatações errôneas, principalmente com relação ao grau de
produtividade do ambiente aquático.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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