Angel para o Shabat
Conversando com a Rocha: Reflexões da Parashá Chukat, 5775.
Pelo Rabino Marc D. Angel
Esta semana, a parashá inclui um dos episódios mais intrigantes na Torá. Nele os israelitas reclamaram
amargamente pois não tinham água para beber, assim irão morrer de sede, e o melhor era ter permanecido no
Egito, em vez de sofrer um destino tão terrível. D-s dize a Moshé e Aharon para reunir as pessoas, falar com
uma rocha, e que a água sairia da rocha para saciar a sede do povo. Moshé chamou o povo de “ rebeldes”, fere
a rocha duas vezes, e água emerge em abundância. D-s, então, informa Moshé e Aharon que a sua falta de fé
levou à sua não santificar o nome de D-s na presença dos israelitas. “ Portanto, você não deverá trazer esta
congregação na terra que lhes tenho dado”. Moshé e Aharon foram condenados a morrer no deserto, mas não
pronunciaram nenhuma palavra de protesto ou pedido de desculpas a D-s.
Nossos comentaristas tentar explicar por que Moshé e Aharon receberam um castigo tão pesado. Qual foi o
seu pecado? Alguns sugerem que o pecado consistiu em Moshé perder a paciência e chamar as pessoal de
rebeldes. Alguns sugerem que o pecado foi que Moshé feriu a rocha em vez de falar a ela como D-s havia
ordenado. Alguns sugerem que Moshé e Aharon se deram o crédito de ter trazido a água, em vez de atribuir o
milagre a D-s.
Talvez haja outra maneira de compreender este episódio. Precisamos estudar essa história à luz dos versos
que vêm imediatamente antes: “E os filhos de Israel, a congregação toda, chegaram ao deserto de Zin no
primeiro mês, e o povo ficou em Kadesh, e Miriam morreu e foi enterrada lá. E não havia água para a
congregação, e ajuntaram-se contra Moshé e Aharon” (Bemidbar 20:1-2).
Um Midrash conecta a morte de Miriam com a falta de água. Enquanto ela estava viva, seu mérito foi tão
grande que um poço milagrosamente acompanhava as pessoas. Depois que ela morreu, o poço também
deixou de dar água e as pessoas, portanto, veio a sede. O Midrash está destacando a importância de Miriam.
Ela era uma das principais líderes de Israel e era dotada de profecia.
No entanto, quando ela morreu, a Torá laconicamente relata que ela foi enterrada. Não há nenhuma menção
dos israelitas lamentando sua morte. (Por outro lado, com as mortes de Aharon e de Moshé, a Torá indica um
período de luto nacional 30 dias). Não só as pessoas não parecem apreciar o serviço ao longo da vida de
Miriam, não é relatado que elas tenham oferecido qualquer palavra de consolo aos seus irmãos Moshé e
Aharon. As pessoas não parecem se importar muito com a morte de Miriam, e não parecem associar sua
virtude com a existência do poço de água que os tinha acompanhado no deserto. As pessoas estavam com
sede, eles não estavam preocupados com a morte de Miriam nem com a tristeza de Moshé e Aharon.
Quando os israelitas se queixaram, Moshé e Aharon ficaram profundamente decepcionado e tristes. Não só o
povo deveria ter tido mais fé em D-s, que tinha fornecido eles ao longo de seus anos no deserto, mas o povo
deveria ter demonstrado algo de apreço por Miriam! Como poderiam ser tão insensíveis? Como poderiam
ignorar tudo o que ela tinha feito por eles? Como poderiam não ter a decência elementar para lamentar seu
falecimento e expressar condolências a seus irmãos?
Assim Moshé e Aharon ficaram pessoalmente magoados e irritados. As pessoas não só traíram D-s, mas
também tinham traído Moshé e Aharon.
Quando Moshé e Aharon reuniram o povo para tirar água da rocha, eles não estavam em um estado de
espírito calmo. Eles estavam amargos, decepcionados e irritados. D-s disse a Moshé para falar à rocha, como
dizendo: “Moshé, eu sei que você está frustrado e zangado, mas não deixe seus sentimentos pessoais ficar no
caminho do seu serviço ao povo. Fale com eles. Explique as suas preocupações. Ensiná-los a respeitar a
memória de Miriam”. Mas Moshé estava muito perturbado para acatar essa orientação divina. Ele atacou as
pessoas, chamando-as de rebeldes. Ele feriu a rocha em vez de falar com ela. Moshé deixou sua raiva tirar o
melhor dele. Aharon, como Moshé, foi cúmplice neste episódio, aparentemente compartia com Moshé os
mesmos sentimentos e concordou com suas palavras e ações.
Portanto, este foi o grande “pecado” de Moshé e Aharon: deixar sua dor pessoal e frustração ultrapassar a sua
razão e senso de responsabilidade para com as pessoas. Eles poderiam ter santificado o nome de D-s, falando
com as pessoas, lembrando-as de provisão milagrosa de D-s da água através do mérito de Miriam. Em vez
disso, sua raiva dominou eles, e perderam a oportunidade de ensinar uma lição importante para os israelitas.
D-s nunca prometeu a Moshé e Aharon, que iriam levar o povo para a Terra Prometida. Suas mortes no
deserto, como Miriam, não precisam serem interpretadas como uma punição por um pecado particular. Na
verdade, o Pirkei Avot (5:8) lista o local de enterro de Moshé entre as dez coisas que D-s havia criado na
véspera do primeiro sábado. Isso indica que o Todo-Poderoso conhecia bem e planejou com antecedência que
Moshé iria morrer no deserto, antes de entrar na Terra Prometida. Isso não tinha nada a ver com pecado e
punição.
No entanto, este episódio demonstra que os seus termos de liderança tinham chegado ao fim. Uma vez que
permitiram que seus sentimentos pessoais assumissem o controle, era hora de passar a liderança para outras
pessoas que poderiam permanecer mais desapaixonadas e acima da batalha. Moshé e Aharon ficaram
simplesmente muito decepcionadas com as pessoas como para continuar como líderes eficazes e professores.
Quando D-s informou Moshé e Aharon que não iria levar o povo para a Terra Prometida, nenhum deles
levantou uma palavra de protesto ou pedido de desculpas. Eles sabiam plenamente que seus mandatos
tinham chegando ao fim, e eles estavam prontos para passar o manto da liderança para os outros.
Naquele momento, eles podem muito bem ter sentido uma sensação de alívio e gratidão.
Shabat Shalom.
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