Sra. Secretária de Estado do Ensino Básico e Secundário;
Sra. Presidente do IPDJ;
Sra. Presidente do IPJ;
Sr. Presidente do IDP;
Srs. Deputados à Assembleia da República;
Autarcas;
Sr. Presidente do Comité Olímpico de Portugal,
Srs. Presidentes das entidades integradas no Comité Olímpico de Portugal –
Academia Olímpica de Portugal e Comissão de Atletas Olímpicos;
Sr. Presidente do Comité Paralímpico de Portugal:
Sr. Presidente da Confederação do Desporto de Portugal;
Srs. Presidentes e representantes de Federações, clubes e demais organizações
desportivas;
Atletas
Comunicação Social
Restantes Ilustres convidados
Minhas Senhoras e Meus Senhores
Estamos aqui para lançar o Plano Nacional da Ética no Desporto, que arranca com
o “Ano Nacional da Ética no Desporto” mas que não se esgotará em 2012. É um
Plano para quatro anos, isto é, para todo o mandato deste Governo.
A ideia parte deste Governo, em particular da Secretaria de Estado do Desporto e
Juventude, e tem na Administração Pública – em concreto no novo Instituto
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Português do Desporto e Juventude – o elemento-chave do ponto de vista da
operacionalização prática.
Não obstante, o que se pretende é que nos próximos anos o Plano Nacional de
Ética no Desporto seja não uma acção dos poderes públicos mas sim uma
mobilização de toda a Sociedade Civil Portuguesa.
É nessa lógica que a Comissão de Honra do Plano, Presidida por Sua Exa. o
Presidente da República e integrando Sua Exa. o Primeiro-Ministro de Portugal,
congrega depois um conjunto heterogéneo de personalidades de reconhecido
mérito, verdadeiros referenciais Éticos, autênticos porta-estandartes da Sociedade
Civil Portuguesa, que neles certamente muito se revê. Aproveito aqui para
agradecer e cumprimentar todos os Membros da Comissão de Honra, os presentes
e aqueles que justificadamente não puderam estar aqui hoje.
Foi também com o mesmo fito que gizámos a criação de um Provedor da Ética no
Desporto, o qual, fará juntar à Sua voz a voz da Sociedade Civil, recebendo,
disseminando e veiculando criticamente a implementação do Plano, numa lógica
construtiva de tornar a População Portuguesa não só destinatária do Plano mas
sobretudo sua intérprete e sua artífice. Uma palavra de apreço e agradecimento ao
Sr. Juiz Desembargador, Sérgio Abrantes Mendes, por ter aceite este repto.
Por seu turno, os Embaixadores da Ética no Desporto, seja pelo seu perfil pessoal,
pela sua profissão, pela instituição que representam ou a que pertencem, seja por
qualquer outro motivo relevante, serão agentes práticos, no terreno, isto é, este
Plano faz-se muito a partir da Sociedade Civil, com a Sociedade Civil, para a
Sociedade Civil. Um muito obrigado a todos.
O Plano não é, pois, do Governo. O Plano é de Todos nós.
Aliás, penso que outra não poderia ser a forma de encarar esta iniciativa.
A Ética, na Vida como no Desporto, não de decreta, não se impõe.
A Ética, na Vida como no Desporto, não é exclusiva de uma pessoa ou de uma
entidade que, no alto do seu Saber, reúne um séquito junto de si ao qual concede
o privilégio de partilhar e ensinar virtudes. Não, pelo contrário. Porque a Ética está
na génese da Cidadania e do Respeito.
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Reenviando-nos para a ciência da moral, a Ética parte de cada um de nós. Das
regras que cada qual entende aplicar livremente e que escolhe praticar, em
matéria de direitos, como de deveres.
Por conseguinte, só quando muitos indivíduos escolhem aplicar as mesmas regras,
os mesmos princípios e os mesmos valores, é que assistimos ao nascimento da
Cidadania e do Respeito.
E que melhor senão o Desporto para promover tais regras, tais princípios e tais
valores?
O Desporto, não o esqueçamos, é, por natureza, uma forma de os cidadãos
interiorizarem e respeitarem as regras, e de promoverem o interesse colectivo.
Intrinsecamente educativo, o Desporto encerra uma convergência de práticas que
têm todas como finalidade abrir a pessoa aos outros, à Sociedade, numa relação
de respeito e de partilha.
O desporto, não duvidemos, é, por excelência, um portador de valores humanistas,
de princípios éticos, de virtudes morais.
É no desporto, em especial junto das crianças e dos jovens, que se adquirem
qualidades de emancipação e de socialização, incutindo-lhes valores, formando o
seu corpo e o seu carácter.
E porque são os valores que dão um sentido a toda a actividade humana, por
maioria de razão, quando o Desporto é encarado e vivido correctamente, os
valores são omnipresentes a todo e qualquer fenómeno desportivo – da vertente
de lazer e recreação ao contexto da competição, do Alto Rendimento.
……………
Minhas Senhoras e Meus Senhores
……………
Com este Plano, o Governo procura mobilizar a Sociedade Portuguesa a praticar
mais desporto e, com isso, a adquirir estilos de vida saudáveis, proporcionando-lhe
um bem-estar físico e psíquico. A par da prática desportiva propriamente dita, o
Plano tem em vista implementar medidas bem concretas que difundam a Ética mas
que essencialmente permitam que a mesma seja Vivenciada.
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Adiante, o Coordenador do Plano elencará as dezenas de medidas já articuladas.
…………
Mas, Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Há algo de que não nos podemos afastar neste Plano, sob pena de, a meu ver, se
insistir num caminho errado, ou pelo menos incompleto: urge dar ênfase ao
binómico Ética-Desporto na sua vertente Positiva e relegar, cada vez mais,
para um segundo plano, a concentração das energias na sua vertente
Negativa.
Ou seja, temos de agir e falar pela Positiva e não insistir numa lógica da
preservação e garantia da Ética no Desporto que se cinja ao combate a
flagelos associados ao desporto.
Sim, eu prefiro olhar e enfatizar para o que de mais positivo o desporto
encerra, não descurando, é certo, como é bom de ver, a repressão de
condutas desviantes.
Penso que se essa linha, se esse desiderato, forem alcançados, será uma vitória
de todos nós. Se o não for, a derrota a todos pertencerá. E porquê? Porque,
insisto, depende de todos e de cada um.
Há que mudar de mentalidade. No nosso discurso como na nossa postura prática,
quotidiana.
Permitam-me brevemente, deixar no ar alguns exemplos para clarificar o que
pretendo sugerir.
Todos conhecemos a crescente comercialização e profissionalização do desporto.
É um facto. Irrefutável. Podemos olhá-las e ressaltar os inerentes interesses
económicos, políticos, contextuais ou mesmo pessoais. Prefiro, contudo, salientar
não os interesses mas sim os valores universais, desinteressados, intemporais do
Desporto que a comercialização e a profissionalização permitem difundir,
precisamente porque contribuem para a globalização, para o gigantismo, para o
universalismo do desporto.
Sim, prefiro salientar a Ética do Jogo em detrimento da Ética do Lucro.
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Sim, prefiro valorizar a Ética do Exemplo que o desporto proporciona, ao invés de
insistir nas derivas que, infelizmente, teimam em ocorrer.
Sim, prefiro ver no desporto algo que proporciona a Ética da Regra em vez de, de
forma meticulosa e até masoquista, me deter no que de arbitrário possa o desporto
ter.
Sim, prefiro a Ética da Saúde à Ética do Perigo. Por que razão se fala tanto
nalguns perigos que esta ou aquela modalidade pode comportar e quase omitimos
da narrativa discursiva os tamanhos efeitos benéficos que o Desporto proporciona
à Saúde do praticante?
Sim, prefiro salientar a alegria de milhões de crianças que, no desporto na escola,
no desporto escolar, aqui e ali, formal ou informalmente, se mexem, do que me
deter exaustivamente nos casos de tráficos de menores, sobrecarga de treinos a
crianças, e diferentes abusos de menores que infelizmente também grassam no
universo desportivo.
Sim, prefiro enaltecer aqueles – muitos - que agem correctamente - e tentar
replicar o seu exemplo - do que ter o foco permanente em casos, muitas vezes
isolados, de resultados fraudulentos, viciados.
Sim, eu prefiro que o País saiba que existem muitos dirigentes desportivos em
regime de voluntariado, que, anónima e benevolamente, algumas vezes
avançando mesmo dinheiro do seu bolso, mantêm activos clubes, associações,
colectividades, federações, pensando altruisticamente, querendo apenas como
recompensa a alegria de ver à noite o pavilhão ou a piscina cheios de jovens, de
sentir a população sénior activa, de propiciar às pessoas o contacto com o meio
natural, de ver a alegria nos olhos de pais, treinadores, equipas técnicas…
Não, Minhas Senhoras e Meus Senhores, não se pode deixar generalizar a ideia
de que o Desporto é terreno fértil e exclusivo para dirigentes corruptos. Não
tomemos, por favor, a Nuvem por Juno. Uma vez mais, o que interessa é a Regra,
não a Excepção.
Sim, prefiro admirar e mostrar a estética e a festa de um grande derby – no terreno
de jogo, no seu perímetro e nas bancadas – do que reiterar a disseminação de
imagens de um acto violento, racista ou xenófobo, no campo ou fora dele.
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Sim, prefiro admirar o ciclista que, de forma limpa, subiu, com um esforço hercúleo,
o alto da montanha, mesmo que terminando em último lugar, do que falar o tempo
todo no caso daquele que terá recorrido a substâncias ou métodos interditos, isto
é, a atenção não deve ser dada ao dopado mas ao esforçado.
Sim, prefiro que não se banalizem conceitos ímpares, afirmando-se sempre,
indiscriminadamente, que se espera que determinado evento “decorra com muito
espírito desportivo”, “no respeito pelo „ideal olímpico‟”, ou dentro do fairplay”.
Prefiro, antes, debater o que efectivamente significam esses conceitos,
distinguindo-os uns dos outros e de tantos outros que se multiplicam. Acima de
tudo, prefiro que, neste domínio, se valorize, por diferentes formas, e cada vez
mais, quem, após os eventos, efetivamente, se comportou no quadro Ético
exigível, até que um dia deixe de ser necessário, de tal forma essa conduta se
tornou Regra.
Sim, prefiro conhecer e valorizar sem limites o exemplo de crer, de raça e de
superação daquele atleta que durante uma Olimpíada se sacrificou pessoal,
académica e familiarmente, do que, se infelizmente for esse o caso, condenar a
não obtenção, por esse mesmo atleta, da medalha nos Jogos Olímpicos, lamentar
as verbas públicas despendidas com ele, criticar a sua performance física ou
psíquica, ou mesmo deter-me à exaustão nas palavras menos felizes que o atleta
possa proferir, muitas vezes “a quente”, isto após ver o Seu eterno sonho se
esfumar.
E poderia aqui continuar a testemunhar o que me vai na alma. Mas não é tempo
nem há mais tempo para isso.
No essencial, o que quero sublinhar é que só apostando na valorização do
positivo é que vamos mitigando o negativo: não podemos ignorar os flagelos
e devemos, todos, também através do Plano Nacional de Ética no Desporto,
combatê-los, reprimi-los, dissuadi-los. Mas, acima de tudo cabe-nos a tarefa
a montante: evitá-los.
E aqui penso que há duas premissas fundamentais.
A primeira é a de que convirá que todos, públicos e privados, nos inspiremos no
Comité Olímpico Internacional e nos seus bons exemplos. Diz-nos o COI que o
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Desporto é sinónimo de Valores como “Excelência, Respeito e Amizade”; Erige
como os três Pilares do Olimpismo, o “Desporto, a Cultura e o Ambiente”, sempre
aliando Ética e Estética; prevê, na Carta Olímpica, dos mais belos e impressivos
princípios, regras e valores que só o desporto consegue proporcionar, exigindo-se
o seu respeito por todo o Movimento Olímpico e afim.
A segunda premissa é a de que temos todos que agir em sinergias,
concertadamente, em parceria, permitindo-me destacar o importantíssimo papel
que a comunicação social vai ter a ajudar-nos a passar as nossas mensagens
Positivas, agradecendo antecipadamente essa valiosa ajuda.
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Minhas Senhoras e Meus Senhores
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Agora, sim, vou terminar, com dois exemplos práticos bem recentes que muito me
sensibilizaram e que, com a Vossa licença, partilharei de seguida, muito
sumariamente.
Sexta-feira última, encontrava-me no Porto no âmbito do “Roteiro da Juventude”
promovido por Sua Exa. o Presidente da República. Num breve tempo livre, depois
de me ter apercebido, pela leitura de um jornal, de que o antigo atleta António
Leitão se encontrava hospitalizado, fui visitá-lo. Falou-me nas visitas e ajudas de
muitos amigos de décadas, a maioria deles atletas e dirigentes com quem
competiu e conviveu no seu percurso desportivo, pessoas que nunca o
esqueceram. Pediu-me até para Vos transmitir aqui hoje que quer muito regressar
rapidamente às escolas para sensibilizar crianças e jovens para as virtudes da
prática desportiva e de como tal os pode afastar de comportamentos desviantes
como o recurso a drogas.
Eis um exemplo de quem, pela sua conduta Ética, no Desporto e na Vida, fez
muitos amigos e quer ajudar muitos desconhecidos. Viveu a Ética e quer continuar
a propagá-la. É esse o seu mote, o seu norte, mesmo quando fragilizado por uma
doença.
Segundo e último exemplo: estive ontem à noite, no Salão Nobre da Junta de
Freguesia de Alpendorada, Marco de Canavezes, associando-me à cerimónia de
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homenagem à selecção nacional de padres católicos de futsal, pela sua conquista
do título europeu, no Campeonato que decorreu em Fevereiro, na Hungria. De
Dioceses diferentes, treinam à noite, tentam compatibilizar horários e conseguem
ser vitoriosos.
Porventura esta brilhante conquista passou à margem de quase todos os
Portugueses. Mas há ali muitas outras conquistas. Desde logo, a Amizade entre
todos é bem patente. Mais: dizia-me um dos vitoriosos que sente que o futsal faz
dele melhor pessoa e melhor padre. Por conseguinte, aos valores apreendidos no
contexto da sua formação católica, aquele padre junta a experiência, a vivência
desportiva e seus valores, ajudando-o a si e ao próximo para se pautar Eticamente
no dia-a-dia.
São exemplos singelos, que me tocaram e para os quais o Plano Nacional de Ética
no Desporto nada contribuiu. Mas estou certo que tudo o que vamos fazer juntos
multiplicará experiências e emoções, fazendo de nós cada vez melhores
desportistas, logo, cada vez melhores seres humanos.
Muito obrigado.
Alexandre Miguel Mestre
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Sr. Presidente do I - Plano Nacional de Ética no Desporto