Cruzamentos em genética – como herdamos as nossas características?
Todas as características que apresentamos são determinadas pelos genes que possuímos
e pela influência que sofremos do ambiente onde estamos inseridos. A cor dos nossos olhos, por
exemplo, é definida pela combinação de alelos que recebemos de nossos pais. Assim, cada gene
que possuímos é formado por um alelo de origem materna e outro de origem paterna. Isso
decorre do fato de que nossos gametas são capazes de carrear apenas um alelo para cada
característica. Por isso, a necessidade de uma divisão meiótica na formação dos gametas que,
ocorrendo da união dos gametas na fecundação, dá origem ao zigoto, restabelecendo o número
par de alelos para todas as características que apresentamos. Uma vez formado, o zigoto se
desenvolve, multiplicando o número de células que o compõem, todas idênticas do ponto de vista
genotípico.
Um indivíduo adulto, heterozigoto (Aa), para uma determinada característica, originou-se
da união entre um gameta contendo o alelo A e outro contendo o alelo a. Esse indivíduo, por sua
vez, será capaz de produzir gametas A e a, na proporção de 1:1, ou seja, metade de seus
gametas será portador do alelo A e a outra metade do alelo a.
Ao ocorrer o cruzamento deste indivíduo com outro, também heterozigoto, para essa
característica, os gametas unir-se-ão de forma aleatória e independente, podendo originar
algumas combinações possíveis. Mas como isso é possível?
Sendo a geração parental (P) formada por indivíduos heterozigotos, ambos produzirão
gametas A e gametas a. Combinando-os dois a dois, obtêm-se os seguintes genótipos possíveis:
P: Aa x Aa
Gametas paternos: A e a.
Gametas maternos: A e a.
A
a
A
AA
Aa
a
Aa
aa
Os gametas maternos e paternos, portanto, combinam-se ao acaso, formando três tipos de
descendentes, nas seguintes proporções:
1AA: 2Aa: 1aa
A essa maneira relativamente simples de combinar os gametas produzidos em uma
geração, de modo a obter os genótipos possíveis dos descendentes, é chamado Quadro de
Punnett.
Quando para uma determinada característica há dominância completa, a análise fenotípica
não permite distinguir o indivíduo homozigoto dominante do heterozigoto, pois ambos apresentam
o mesmo fenótipo. Entretanto é possível distingui-los pela análise de sua prole, em cruzamentos
especialmente idealizados para esse fim: os cruzamentos testes.
Um cruzamento teste consiste em promover o cruzamento de um indivíduo de fenótipo
dominante, cujo genótipo pode ser homozigótico ou heterozigótico, com um indivíduo portador de
fenótipo recessivo, portanto, sabidamente homozigótico recessivo. Se o indivíduo testado for
homozigótico, ele produzirá apenas um tipo de gameta e, consequentemente, sua prole será
idêntica geneticamente. Vamos comprovar?
A
A
P: AA x aa
A
Aa
Aa
a
Aa
Aa
100% da prole será Aa.
Mas, caso o indivíduo testado seja heterozigoto, ele produzirá dois tipos de gametas e,
consequentemente, originará dois tipos de descendentes: 50% deles com fenótipo dominante e
50% com o fenótipo recessivo. Vamos tirar a prova:
A
a
P: Aa x aa
a
Aa
aa
a
Aa
aa
50% da prole Aa e 50% aa.
E onde entra a probabilidade? Como dito anteriormente, todas as nossas características
são determinadas pela união de alelos maternos e paternos durante o evento da fecundação.
Assim, somos formados pela combinação ao acaso de gametas femininos e masculinos. Em
outras palavras, a probabilidade de se originar um indivíduo de determinado genótipo é igual ao
produto das probabilidades de ocorrência dos gametas que o originam.
A probabilidade, portanto avalia a chance de certo evento ocorrer, entre dois ou mais
eventos possíveis, como é o caso da união dos gametas para a formação dos mais variados
seres vivos.
A probabilidade de ocorrência de um evento é sempre representada por um número puro,
isto é, sem unidade de medida, podendo variar entre 0 e 1. Quando a ocorrência de um evento é
impossível, sua probabilidade é 0, enquanto que um evento que, com toda certeza, ocorrerá tem
probabilidade 1. Quanto mais próximo de 1 for a probabilidade de um evento, maior a chance dele
ocorrer e o contrário também é verdadeiro.
A regra do “ou”
A regra do “ou” é empregada, quando dois eventos simultâneos se excluem. Para
exemplificar, pensemos em um dado. Qual seria a probabilidade de, numa jogada, tirarmos o
número 4 ou 5? Os dois eventos podem ocorrer, mas eles são mutuamente exclusivos, tendo em
vista que, saindo o 4, o 5 não pode sair e vice-versa. Nesse caso, a probabilidade é calculada
pela soma das probabilidades isoladas:
Assim: 1/6 + 1/6 = 2/6 = 1/3
Trazendo o exemplo para a genética: Qual seria a probabilidade de um casal heterozigoto
para determinada característica ter uma criança de genótipo AA ou aa? Montando o Quadro de
Punnett, observamos:
A
a
A
AA
Aa
a
Aa
aa
Existe ¼ de chance da criança ter genótipo AA e ¼ de chance de ser aa. Calculando-se a
probabilidade, encontramos: ¼ + ¼ = ½
Assim, podemos dizer:
A probabilidade da ocorrência de dois eventos mutuamente exclusivos é dada pela soma
das probabilidades isoladas.
A regra do “e”
A regra do “e” é empregada, quando da ocorrência simultânea de dois eventos
independentes. Essa regra é comumente utilizada nos problemas de genética. Vamos entender?
Imagine que lancemos ao ar, simultaneamente, duas moedas. Qual a probabilidade de obtermos
cara na primeira e cara na segunda moeda? É necessário compreender que o aparecimento de
cara na primeira moeda não exclui a possibilidade de cara na segunda. Isso quer dizer que são
eventos independentes. Sendo eles independentes, a probabilidade da ocorrência de ambos é
igual ao produto de suas probabilidades individuais.
Sendo assim, a probabilidade de sair cara na primeira moeda é de ½ e de sair cara na
segunda também. A probabilidade, portanto, é dada por ½ x ½ = ¼.
Aplicando-se o conceito à genética, temos: Qual a probabilidade de um casal heterozigoto
para uma determinada característica ter duas crianças, sendo a primeira heterozigota e a
segunda homozigota recessiva?
A
a
A
AA
Aa
a
Aa
aa
Existe 2/4 de chance da criança ter genótipo Aa e ¼ de chance de ser aa. Calculando-se a
probabilidade, encontramos: 2/4 x ¼ = 2/16 = 1/8
Assim, podemos dizer:
A probabilidade de dois eventos independentes ocorrerem simultaneamente é dada pelo
produto das probabilidades isoladas.
Aprofundando-nos no aprendizado da genética, poderemos verificar que os conceitos
básicos de probabilidade podem ser empregados na construção de heredogramas. Utilizando
essas ferramentas, podemos compreender uma série de manifestações genéticas, a partir do
levantamento de dados nos problemas sobre a transmissão das características hereditárias. Por
isso, mãos a obra.
Referências Bibliográficas

AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Fundamentos de Biologia Moderna. São Paulo:
Moderna, 1997.

SILVA JÚNIOR, C.; SASSON, S. Biologia – volume 3 – 3ª série – Genética, Evolução, e
Ecologia. 7ª ed. São Paulo: Ed. Saraiva, 2005.

UZUNIAN, A.; BIRNER, E. Biologia – Volume único – 2ª ed. São Paulo: Ed. Harbra, 2004.
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