Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Geografia das Indústrias – Professor: Tibério Mendonça
PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA
O processo de industrialização no Brasil, e por conseguinte da mudança de uma
sociedade rural e agrária para uma urbana e industrial, iniciou-se na segunda metade do século
XIX, ganhou impulso nas primeiras décadas do século XX e teve um grande salto no período pósSegunda Guerra Mundial. Tal processo apresentou várias fases de declínio e crescimento da
atividade industrial, mas o traço comum a todas elas foi a presença, em maior ou menor grau, de
ações do Estado impulsionando a formação e a consolidação do parque industrial brasileiro.
É essencial compreender que a independência do Brasil não resulta da luta travada pelas
classes dirigentes brasileiras contra o sistema colonial, mas do afastamento de Portugal,
economia demasiadamente fraca para gerir a sua colônia, em face da potência crescente da
Inglaterra em plena industrialização.
A proclamação da independência, em 7 de setembro de 1822, provocara, pois,
relativamente poucos distúrbios e nenhuma transformação essencial das estruturas internas:
ratificava uma nova forma de existência do Brasil no sistema capitalista; refletia por um Iado a
ultrapassagem do capitalismo mercantilista e a decadência da Península Ibérica, e por outro lado
o crescimento do capitalismo industrial e a potência da economia inglesa. Não refletia, e isto é
fundamental, o aparecimento no Brasil de atividades econômicas e de uma classe social
capaz de pôr em causa a própria relação colonial.
Se a ruptura do laço colonial entre o Brasil e Portugal se explica pelo declínio relativo de
Portugal e o reforço prodigioso da Inglaterra, é necessário perguntar-se por que a Inglaterra não
se substituiu simplesmente a Portugal como colonizadora e estabeleceu uma relação neocolonial
onde antes havia relações coloniais.
Um elemento determinante parece ter sido a estrutura interna que o Brasil herda da sua
função colonial: nas colônias de outros continentes, onde o imperialismo sobrepunha uma
estrutura colonial às formações sociais pré-capitalistas, mas introvertidas, a presença da
dominação política devia impedir a tendência natural destas economias de seguir o seu caminho
e de produzir em função das necessidades internas; no Brasil, e isto é verdade para outras
economias latino-americanas, o fato de toda a economia ter sido constituída em função das
necessidades externas, a ponto de a própria classe dominante local ver a sua prosperidade
depender da boa marcha das exportações, tornava possível a forma neocolonial de dominação –
por intermédio de mecanismos econômicos e financeiros – quando a forma de dominação
colonial estava ainda nos seus primeiros passos em outros continentes.
A apreciação da nova forma de dependência da economia brasileira em relação ao capital
dominante exige, portanto, a compreensão do papel particular da classe dirigente local.
Portugal jogava relativamente ao Brasil um papel intermediário: Estado entreposto de
todo o comércio, Portugal ganhava sobre a importação de manufaturas estrangeiras que iam ser
consumidas no Brasil, ganhava novamente sobre os impostos que estes artigos pagavam na
colônia; ganhava ainda sobre os impostos dos produtos que a colônia exportava em pagamento
dos que consumia. Os artigos estrangeiros consumidos no Brasil eram desta forma taxados em
mais de 40 por cento do seu valor inicial. Era natural que uma situação de tal ordem despertasse,
na maioria dos colonos, a consciência de uma autonomia que, de fato, existia já no início do
século XIX.
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Assim, para os colonos brasileiros não era a orientação colonial em si que constituía uma
fonte de conflito, mas o fato de a posição lucrativa de intermediário ser ocupada pelos
aristocratas de Lisboa e não por eles mesmos. Com efeito, a herança colonial não predispunha a
classe dirigente crioula a uma verdadeira independência: vimos que a fase colonial havia deixado
no Brasil uma estrutura econômica essencialmente extrovertida. Isto significava não somente
que o produto era em grande parte exportado, mas que o conjunto da estrutura econômica, a
escala de produção, o tipo de produto e as relações de produção existentes haviam sido
constituídos em função de necessidades externas à colônia. O fato traduzia-se, como vimos, pela
não-constituição de uma classe camponesa, pela fraqueza do mercado interno e das atividades
comerciais e artesanais locais, tornando pouco viável a reconversão da economia para um
modelo capitalista autodinâmico.
Explica-se, pois, pela orientação da classe dirigente brasileira – ela mesma determinada
pela herança colonial, em termos de estrutura econômica, que a criara – a facilidade com que a
Inglaterra pôde manter a orientação colonial do país sem outro elemento de poder que a
instalação de uma rede de comércio, de transportes e de crédito em alguns centros urbanos e,
naturalmente, a potência dos laços econômicos do capitalismo dominante expresso no mercado
capitalista mundial.
O Brasil possuía, por certo, como o vimos, uma burguesia introvertida embrionária, ligada
na maior parte às atividades de aprovisionamento da agricultura de exportação. Além da
agricultura alimentar, tratava-se de uma pequena indústria dispersa e de uma rede comercial de
importância crescente. No entanto, presa entre a concorrência inglesa e a atração das atividades
de serviços ligadas ao comércio longínquo ou à nova administração, esta burguesia nascente foi
carregada e absorvida na dinâmica neocolonial.
Assim, a uma independência política correspondia uma integração mais direta na esfera
das necessidades do mercado capitalista mundial. A dependência mudava de forma, mas
permanecia.
No final do século XIX, o território brasileiro ainda encontrava-se fragmentado em “ilhas”
econômicas regionais. As ligações internas desse “arquipélago econômico” eram frágeis: os
mercados externos tinham importância muito maior que o embrionário mercado nacional.
O Nordeste açucareiro constituía um desses polos exportadores. A produção canavieira,
após uma prolongada decadência, vivia um surto de prosperidade ligado às transformações
tecnológicas que culminaram com a substituição do engenho pela usina. Enquanto isso, no
sertão semiárido, o cultivo de algodão têxtil, adaptado às condições ecológicas regionais e
destinado às indústrias europeias, dividia o espaço com a tradicional atividade pecuária.
A Amazônia sediava o polo exportador de borracha, cuja importância se restringiu ao
período 1870-1920. As grandes exportações de borracha natural (látex) para a Europa e os
Estados Unidos tinham atraído levas de migrantes nordestinos principalmente, para a Amazônia
ocidental. Entretanto, o sistema de produção, baseado no controle dos seringais pelas
companhias agroexportadoras, impediu qualquer acumulação interna da riqueza gerada pelas
exportações. O surto da borracha não criou as bases para o desenvolvimento regional e sequer
dinamizou um mercado regional de importância significativa.
Até o século XVIII e início do XIX, o Brasil permaneceu atado aos interesses da metrópole,
sofrendo, entre outras imposições, barreiras ao nosso desenvolvimento industrial.
Com o pacto colonial, proibia-se a atividade industrial no país. As poucas iniciativas de
transformação permitidas eram para o fabrico de aguardente e alimentos.
A chegada da família real ao Brasil, em 1808, marcou o fim do pacto colonial, e houve
enormes alterações na estrutura administrativa do país. A revogação de medidas proibitivas fez
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surgir algumas pequenas fábricas de transformação e beneficiamento de couro e de produção de
tecidos e sapatos, formando a raiz da industrialização brasileira. Em abril daquele ano, revogou o
Alvará de 1785 que determinava a extinção de todas as manufaturas têxteis da colônia, com
exceção das que produziam panos grossos para vestir os escravos, favorecendo, assim, aos
ingleses em prejuízo do nosso desenvolvimento industrial. No ano seguinte, concedeu isenção de
direitos aduaneiros às matérias-primas necessárias às fábricas. Mas, em vista da concorrência
dos produtos ingleses e dos obstáculos colocados pelos grandes produtores rurais, nosso
desenvolvimento industrial foi bastante modesto até por volta de 1850, quase três décadas após
a independência formal do país.
Em 1844, dificuldades financeiras do Tesouro Público levaram o Estado brasileiro a baixar
a lei conhecida como Lei Alves Branco que taxava as importações entre 20% e 60%, dependendo
de o produto ter ou não similar nacional. Isso acabou criando um protecionismo a algumas
atividades industriais no Brasil em relação à concorrência estrangeira. Em 1846, foram dados
vários incentivos tributários à indústria têxtil e, em 1847, as matérias-primas necessárias às
indústrias nacionais foram isentadas do pagamento de taxas alfandegárias.
Esses procedimentos, todavia, não foram suficientes para ntensificar
i
nosso
desenvolvimento industrial.
Vale lembrar que a elevação das tarifas alfandegárias de produtos importados não visava
primordialmente ao desenvolvimento das indústrias nacionais, mas atender de imediato às
necessidades financeiras do Tesouro Nacional.
Outras razões mais importantes mantiveram o Brasil nesse quadro de fraco desempenho
industrial:
 A permanência, ainda na Segunda metade do século XIX, das relações escravagistas de
trabalho;
 O pequeno mercado interno, determinado pela baixa densidade populacional e pelo
predomínio da mão de obra escrava que, nessa condição, não tinha poder aquisitivo;
 Um Estado alheio à industrialização, desprovido de propósito de inserir o país no
capitalismo industrial dominado por uma aristocracia agro-exportadora;
 As elites brasileiras, salvo raras exceções, estavam preocupadas em manter e expandir a
produção do café, de onde provinham sua riqueza e poder;
 As forças produtivas (meios de produção e força de trabalho) brasileiras eram pouco
desenvolvidas.
A segunda metade do século XIX marcou o início do processo de industrialização, com a
implantação de diversas fábricas. A lavoura de café era uma realidade consistente, exigindo do
governo diversas obras estruturais, como a instalação de rede de telégrafos, ferrovias e
navegação. Proliferaram fábricas nacionais de tecidos, chapéus, sapatos, vidros, couros, sabão e
cerveja para o consumo interno. O fim da escravatura, em 1888, e a proclamação da República,
em 1889, consolidaram esse processo.
Assim, chegamos ao início do século XX participando da divisão internacional do trabalho
na condição de país exportador de produtos primários, e não como um país em franco processo
de industrialização.
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Os fatores indispensáveis para a modernização do Brasil foram a abolição da escravidão e
a consequente expansão do trabalho assalariado, a imigração e a expansão de um mercado
consumidor, as exportações de café e os capitais que elas geraram.
Foi apenas no final do século XIX que a escravidão no Brasil foi abolida, período em que
também se aceleraram a vinda de imigrantes e a expansão da relação de trabalho assalariada.
Isso tudo foi fundamental para a expansão das indústrias no país. Antes havia no máximo
algumas indústrias isoladas, muito artesanato e algum crescimento manufatureiro, mas não
industrialização. Isso porque a própria existência do trabalho escravo, que era o sustentáculo da
economia, impedia a evolução industrial.
A escravidão dificultava a modernização tecnológica do trabalho, a aquisição de
máquinas, pois a compra de escravos era um investimento alto e feito à vista, antes mesmo que
eles começassem a trabalhar. Além disso, a evolução tecnológica pressupõe especialização do
trabalhador, e não convinha aos proprietários educar e especializar seus escravos. Além disso, o
trabalhador, a evolução tecnológica pressupõe especialização do trabalhador, e não convinha
aos proprietários educar e especializar seus escravos. Além disso, o trabalhador escravo não
constitui um mercado consumidor – como os assalariados, que podem adquirir produtos com
seu rendimento –, já que não tem dinheiro e vive do que o dono lhe fornece, geralmente o
indispensável para sobreviver e trabalhar. Ademais, os gastos com vigilância – para impedir
fugas, reprimir os amotinados ou vigiar a execução correta do trabalho – são mais elevados na
escravidão, o que é mais um elemento para barrar a inovação tecnológica.
A escravidão no Brasil contribuiu para nosso atraso industrial
A relação de trabalho assalariada apresenta efeitos contrários à escravidão no que se
refere à modernização tecnológica, à expansão da maquinaria. O trabalhador assalariado não
constitui investimento elevado à vista, pois ele só recebe depois de começar a trabalhar e aos
poucos – de forma semanal ou quinzenal ou mensal. Os salários e a liberdade de comprar o que
quiserem, desde que os preços sejam compatíveis com seu orçamento, fazem dos proletários
uma parcela de consumidores de bens industrializados. Ou seja, com o trabalho assalariado, o
mercado consumidor se amplia.
Outro fator importante para o surto de industrialização brasileira foi a imigração. Os
imigrantes, principalmente italianos, alemães e espanhóis, foram os primeiros trabalhadores
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assalariados no Brasil, os primeiros operários da indústria nascente, e aumentaram o mercado
consumidor do país, pois já tinham o hábito de adquirir bens manufaturados nos seus países de
origem.
Como a industrialização brasileira foi tardia, pois começou com um atraso de mais de um
século em relação aos países líderes da Revolução Industrial, as máquinas utilizadas e a
tecnologia não foram produzidas internamente, mas importadas daqueles países que já as
desenvolviam há mais de um século, notadamente o Reino Unido. Isso significa que não ocorreu
aqui a passagem do artesanato para a manufatura e desta para a indústria, como nos atuais
países desenvolvidos. A atividade fabril começou já em sua forma moderna – para época – não
com as máquinas antiquadas do início da Revolução Industrial, como a máquina a vapor, mas
com máquinas movidas à eletricidade ou a combustão. E os estabelecimentos industriais já
surgiram com grande porte para a época, neles trabalhavam dezenas ou centenas de operários e
não na forma de pequenas oficinas. Em grande parte, os pequenos estabelecimentos artesanais
ou manufatureiros que existiam antes desse processo acabaram sendo destruídos por ele –
faliram, vencidos pela concorrência.
Para importar essa maquinaria era preciso uma fonte de divisas, um produto de
exportação que gerasse rendas para serem aplicadas na atividade industrial. Esse produto existia
desde o início do século XIX: o café. A lavoura cafeeira era, na época, a principal atividade da
nossa economia, o negócio mais lucrativo, e desenvolvia-se, sobretudo em São Paulo, de início
no Vale do Paraíba e, no fim do século XIX e começo do século XX, na porção oeste desse estado.
Foi a lavoura cafeeira que originou o capital inicialmente aplicado na indústria.
Mas, para que os fazendeiros ou comerciantes de café resolvessem investir na indústria,
deixando de aplicar seus capitais na expansão da lavoura cafeeira, eram necessárias algumas
condições favoráveis. Essas condições surgiram com as crises nas exportações de café e com o
crescimento do mercado consumidor de bens industrializados, antes importados da Europa. De
fato, foi nos momentos de crise – como a Primeira Guerra Mundial, a crise econômico de 1929 e
a Segunda Guerra Mundial – que o processo de industrialização do Brasil teve seus períodos de
maior impulso. Nesses momentos havia dificuldades para exportar o café, que deixava de ser um
negócio tão atraente, e também para importar os bens industrializados, que já eram bastante
consumidos. Isso tornava interessante e atraente investir capitais na indústria, especialmente na
indústria de bens de consumo duráveis e não duráveis.
Colheita de café por imigrantes italianos
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Assim, pode-se afirmar que a industrialização brasileira teve, até o final da Segunda
Guerra Mundial, caráter substitutivo: ela foi um processo de substituição de importações.
Tratou-se de produzir internamente bens que eram importados dos países desenvolvidos.
Após a Segunda Guerra Mundial e especialmente a partir da década de 1950, esse
processo de industrialização adquire novo caráter: as empresas estadunidenses, europeias e
japonesas começam a se internacionalizar, tornam-se multinacionais, e penetram fortemente no
Brasil. O Estado passa, então, a associar-se ao capital estrangeiro ou ao privado nacional, além de
criar grande número de empresas industriais públicas.
Nessa segunda metade do século XX, a industrialização do Brasil deixa de ser feita
essencialmente com capitais privados nacionais em razão da notável expansão das empresas
estrangeiras e também das estatais. E o surto industrial não se restringe mais às indústrias de
bens de consumo, mas atinge também o setor de bens intermediário e até o de bens de capital,
embora, neste caso, em menor escala.
A participação do Estado no desenvolvimento industrial
A industrialização rompeu o isolamento dos mercados regionais. Os manufaturados de
São Paulo e do Rio de Janeiro, produzidos com tecnologia superior e em escala industrial,
invadiram todo o país. A competição desigual com as mercadorias fabricadas nas outras regiões
resultou no predomínio da indústria do Sudeste.
O censo industrial do Brasil de 1920 comprova a concentração espacial da atividade
industrial no Sudeste. Da produção industrial brasileira, 65,3% concentravam-se nessa região.
Desse total, São Paulo participava com 31,5%, o Rio de Janeiro/Distrito Federal, com 28,2% e
Minas Gerais, com 5,6%.
O desenvolvimento industrial e urbano consolidou a polarização de duas novas classes
sociais no país: a burguesia industrial e o operariado.
Em 1930 a classe operária já possuía certo grau de organização, como resultado de um
processo de politização que vinha desenvolvendo desde 1870, quando nasceram as ligas
operárias, das quais se originaram os sindicatos de trabalhadores no Brasil, exteriorizando os
conflitos entre o capital e o trabalho. As principais reivindicações da época eram a redução da
jornada de trabalho (que chegava a ser de 15 horas, em alguns casos), aumentos salariais,
melhores condições de trabalho e o uso da greve como arma de pressão junto aos patrões. Em
contrapartida, o empresariado respondia com repressão policial e ameaça de desemprego.
Não havia então uma legislação trabalhista que regulamentasse as relações de trabalho.
Cada empresário determinava as regras em sua empresa. O Congresso Nacional já havia criado a
Lei de Acidentes de Trabalho (1919), a Lei de Férias (1926) e o Código do Menor (1929), mas a
legislação não era respeitada pelo empresariado em geral, nem cobrada pelo governo.
As manifestações operárias, como as greves e passeatas, eram vistas por muitas pessoas
da classe dominante como coisas de “selvagens” e “baderneiros”, gente ignorante que devia
gratidão aos patrões, já que estes lhes davam emprego e salário para sobreviverem. Essa postura
patronal ainda estava fortemente impregnada das relações de trabalho da sociedade escravista,
em que o trabalho braçal era desprezado, e não teve uma mudança sensível até hoje.
O espaço geográfico urbano nos centros industriais passou a ser organizado no sentido de
atender à vigência da nova ordem social. No início do século, os industriais procuraram
concentrar espacialmente seus operários próximos aos seus estabelecimentos, no sentido não só
de lhes facilitar os deslocamentos ao trabalho como também de controlar suas mobilizações
reivindicatórias. Criaram-se vilas e bairros operários que separavam nitidamente patrões e
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empregados. Muitos trabalhadores viviam em cortiços, famílias inteiras amontoadas em
conjugados de quarto e cozinha, utilizando banheiros coletivos, ou em favelas, como no Rio de
Janeiro, estabelecendo-se assim uma nítida segregação socioespacial ditada pelo poder
econômico ou pela renda.
Lembramos que até 1930 a concentração urbano-industrial no Sudeste ainda se dava
num Brasil essencialmente agrícola, situação que se prolongaria ainda por muitas décadas.
A marcha de conquista se acelerou na década de 1930, quando Getúlio Vargas eliminou
os impostos interestaduais que protegiam os mercados regionais. Na década seguinte, rodovias
começaram a interligar os estados de São Paulo e Rio de Janeiro ao Sul e ao Nordeste, gerando
uma expansão inédita do comércio interno. A tradicional indústria têxtil doméstica do Nordeste,
baseada no algodão, foi destruída pela penetração dos tecidos paulistas e cariocas. As novas vias
de circulação serviram também para transportar milhões de nordestinos que buscavam
oportunidades de trabalho nas principais capitais do Sudeste.
Durante a Segunda Guerra Mundial e no pós-guerra a concentração geográfica da
indústria se intensificou, com a implantação das indústrias de bens de produção e de bens de
consumo duráveis. O crescimento da participação do Sudeste na indústria nacional limitou o
desenvolvimento do Sul e, principalmente, do Nordeste. A reorganização da economia nacional
atingiu tanto a indústria como a agricultura.
O Sul conseguiu manter uma participação estável na produção industrial, em função da
qualificação da força de trabalho gerada pela imigração e do desenvolvimento tecnológico de
setores industriais ligados aos bens de consumo não-duráveis. O Nordeste conheceu uma
regressão acentuada da sua participação na indústria nacional, o que agravou os desníveis de
renda que separavam do Sudeste.
A agricultura também se transformou. A produção para exportação deixou de dominar o
setor, com a ampliação da agricultura comercial direcionada para o mercado interno. As cidades
do Sudeste tornaram-se grandes mercados consumidores de alimentos de todas as regiões.
A existência de estrutura para os negócios com o café, de mercado interno para produtos
industriais e a vontade política de levar adiante a industrialização geraram um novo ciclo de
industrialização por substituição de importações, com inúmeras iniciativas, sobretudo de
imigrantes.
A Segunda Guerra Mundial acentuou mais uma vez a necessidade de produzir
internamente produtos antes importados. Esse tipo de industrialização ficou conhecido como
industrialização por substituição de importações, constituindo o principal processo pelo qual se
deu o crescimento industrial brasileiro.
Outra característica do período pós-1930 foi a preocupação dos governos, via de regra
nacionalistas, em implantar companhias de base, como as de siderurgia (Companhia Siderúrgica
Nacional, Companhia Vale do Rio Doce), petróleo (Petrobras) e energia elétrica (Eletrobras).
A instalação da Petrobras, em 1953, foi precedida de campanhas a favor do petróleo ("O
petróleo é nosso") e contra o capital estrangeiro no setor de extração de recursos do subsolo
brasileiro. A Petrobras e as demais empresas estatais de bens de capital forneceriam o suporte
necessário para a implantação de indústrias de bens de consumo, as quais ficariam a cargo do
setor privado.
Para fornecer suporte técnico e financeiro à atuação do setor privado, foi criado o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), em 1952, hoje o BNDES.
A partir da década de 1940, o Estado brasileiro passou a apostar em um planejamento
integrado da economia, com o objetivo de promover o desenvolvimento econômico no país. Essa
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atitude marcou o período conhecido como desenvolvimentista, que se estendeu até a década de
1980.
Estudos foram empreendidos, constatando-se vários obstáculos ao desenvolvimento:
sistema de transporte e distribuição de combustíveis inadequado e sistema retrógrado de
distribuição de energia, entre outros. Para superá-los, o governo concluiu ser necessário
expandir as indústrias siderúrgicas e de bens de capital.
O esforço para dotar o país de infraestrutura (estradas de rodagem, por exemplo)
adequada e para importar bens de capital (máquinas, equipamentos e ferramentas), necessários
à expansão da indústria, marca a política de desenvolvimento do período.
O plano de metas foi um planejamento econômico e social integrado, lançado durante o
mandato de Juscelino Kubitschek (1956-1961), que objetivava o desenvolvimento do país por
meio de um direcionamento adequado dos investimentos do governo. Ele identificava, na
economia, os pontos de estrangulamento e os pontos mais propícios à aceleração do
crescimento. A missão do governo seria estimular os pontos de aceleração e solucionar os
pontos de estrangulamento. Essas foram as metas, que atingiam diretamente os setores de
energia, transporte, alimentação e educação. Também a construção da nova capital, Brasília,
incluía-se no esforço de desenvolvimento integração nacional.
A política desenvolvimentista da época tinha como preocupação central a industrialização
e o desenvolvimento econômico do setor urbano. Do plano de metas decorreu, por exemplo, o
aumento da produção da indústria automobilística. Vale lembrar que, quando ele foi criado, o
país ainda era majoritariamente rural e seria necessário fazer alterações significativas na
estrutura da sociedade para alcançar os objetivos de desenvolvimento propostos.
Após a instauração do regime militar, em 1964, a necessidade de superar o obstáculo do
atraso tecnológico levou à priorização de pesquisas e investimentos em diversas áreas:
petroquímica, extração mineral, siderurgia, construção naval, mecânica, agropecuária e
comunicações .
Esse período, que ficou conhecido como "milagre econômico", foi marcado também por
fortes investimentos públicos em obras de infraestrutura e no aumento de empresas estatais em
setores considerados estratégicos, como o energético, o de transportes e o de extração mineral.
Uma das características que marcaram todo o processo de industrialização brasileira foi a
presença de capitais nacionais, estrangeiros e estatais. Isso se deveu à política nacionalista e
desenvolvimentista, que entendia que o Estado deveria ser responsável por oferecer as
condições de infraestrutura necessárias ao processo de implantação da indústria, inclusive como
investidor nos setores estratégicos da economia, sobretudo geração de energia e produção e
transformação mineral.
Concentração e desconcentração industrial
Todos os elementos indispensáveis para o processo de industrialização do Brasil estavam
concentrados no Centro-Sul do país, principalmente em São Paulo. A industrialização brasileira
ocorreu de fato nesse estado da federação, especialmente na sua capital e vizinhança.
A cidade de São Paulo também foi muito beneficiada pela sua posição geográfica.
Localizada na porção oriental do estado, no planalto e próxima à serra do Mar, e constituindo
passagem obrigatória para o porto de Santos, o mais importante do país desde o fim do século
XIX, ela cresceu bastante com o comércio do café. No século XIX, esse comércio criou eficiente
infraestrutura de ferrovias necessárias ao escoamento da produção cafeeira até o porto de
exportação, e todas essas ferrovias passavam pela capital paulista.
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No fim do século XIX e começo do século XX, os serviços públicos da cidade expandiramse muito: construíram-se moderno sistema de água e esgoto, redes de iluminação, linhas de
bonde e algumas usinas hidrelétricas nas vizinhanças. E tudo isso foi importante para o surto
industrial da capital paulista. A atividade industrial aproveitou, portanto, uma série de condições
favoráveis criadas em São Paulo pelo café: mão de obra, mercado consumidor, eletricidade,
transportes e excelente sistema bancário (também instalado para financiar a lavoura cafeeira).
Com o surto industrial, a cidade cresceu ainda mais: em 1872, época do primeiro
recenseamento geral do Brasil, São Paulo tinha apenas 31 400 habitantes, ocupando o quinto
lugar entre as cidades brasileiras, após Rio de janeiro (275 000), Salvador (30 000), Recife (16
700) e Porto Alegre (44 000); já em 1900, com 240 mil habitantes, vinha em segundo lugar,
perdendo apenas para o Rio de janeiro (691 600); em 1960, São Paulo ultrapassou o Rio de
janeiro e tomou-se a maior cidade brasileira, com 3,3 milhões de habitantes. Portanto, o
crescimento da cidade começou com o café, mas foi acelerado pelo desenvolvimento industrial.
Essa concentração da produção industrial brasileira em São Paulo, como se observa na
tabela a seguir, iniciou-se no começo do século XX e estendeu-se até por volta de 1970. O
momento em que São Paulo ultrapassou as demais unidades da federação, tornando-se líder na
produção industrial, foi entre 1907 e 1919, mas, mesmo depois, continuou a apresentar
crescimento industrial superior ao dos demais estados, pelo menos até 1970.
Como se observa, enquanto algumas áreas perderam, a longo prazo, boa parte de sua
posição industrial no conjunto do país (notadamente o Nordeste e sobretudo Pernambuco),
outras áreas ganharam, em particular São Paulo. Mas também Minas Gerais, Paraná e até Santa
Catarina ganharam com essa concentração industrial no Centro-Sul do Brasil, e o Rio de janeiro e
a Guanabara sofreram uma perda relativa.
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O importante é ressaltar que esse decréscimo de algumas unidades da federação
constitui mais um declínio relativo que absoluto, ou seja, em geral não se tratou de fechamento
de empresas no local, e sim do maior crescimento em outras áreas ou regiões.
Por volta de 1970, começou a ocorrer uma relativa desconcentração industrial no Brasil,
com decréscimo relativo de São Paulo e crescimento maior em outras unidades da federação
(Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia, Minas Gerais, Ceará, Goiás, Amazonas, Mato Grosso e
ouras). Também nesse caso o que houve não foi tanto uma regressão da atividade industrial em
São Paulo, mas um maior ritmo de crescimento em outros estados.
Após 1970, temos um momento marcado por um processo de desconcentração
industrial, que se deve, em grande parte, à ação do Estado, o qual buscava diminuir os
desequilíbrios regionais. Mas outros fatores também foram importantes para esse processo.
As dificuldades de transporte relacionadas ao trânsito intenso nas grandes cidades
impediam a agilidade na chegada da matéria-prima ou na saída da mercadoria pronta. Assim, as
cidades menores, onde esse problema ainda não ocorria, apareceram como opção de localização
industrial.
Outro fator importante para a desconcentração das indústrias foi a possibilidade de
redução de custos com mão de obra. As empresas instalaram-se em regiões onde os sindicatos
não estão estruturados e a população local aceita salários menores.
O menor preço de terrenos fora das áreas industriais mais consolidadas e a facilidade em
encontrar grandes áreas para a construção de plantas industriais de grande porte também foram
importantes para a desconcentração das indústrias.
Guerra fiscal entre os estados
No Brasil, a indústria é um setor fundamental da economia, pois fabrica os bens que dão
conforto e bem-estar à nossa vida, além de empregar milhões de brasileiros. A atividade
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industrial exige bastante investimento e gera muitas riquezas, resultando em mercadorias com
maior valor do que a agricultura, por exemplo. Por isso, incentivar o desenvolvimento da
atividade industrial é uma das preocupações constantes dos governos.
Foi a necessidade de redução de custos que provocou a transferência de várias indústrias
para outras regiões a partir da década de 1980, a mais difícil para o setor, por causa da retração
da economia. Partindo do interesse que as empresas passaram a demonstrar em mudar-se para
áreas onde gastassem menos, os governos estaduais começaram a oferecer vantagens, como
isenção de impostos e doação de infraestrutura, às companhias que se instalassem em seu
território. Essa disputa para ver quem dava mais benefícios ganhou o nome de "guerra fiscal". Ao
tentar atrair uma indústria, o poder público reduz ou deixa de cobrar certos tributos e dá várias
regalias, como infraestrutura de serviços - instalação de água, esgoto, energia elétrica e
construção de vias de acesso.
Distribuição industrial no Brasil
A vantagem para os estados é que as indústrias movimentam sua economia, gerando
emprego e arrecadação de impostos e criando, indiretamente, outras empresas, que vão
fornecer peças e matéria-prima para abastecer a produção da fábrica principal (uma montadora
de carros, por exemplo, precisa que funcionem fabricantes de autopeças nas imediações). Essa
competição se transforma numa "guerra" porque os estados passam a oferecer cada vez mais
vantagens, a ponto de muitas vezes perderem muito dinheiro público nesse jogo em benefício de
empresas privadas.
Os estados vizinhos aos países do Mercado Comum do Sul (Mercosul), as cidades do
interior das regiões mais industrializadas, o Norte e o Nordeste têm sido os principais destinos
das novas unidades industriais.
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Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul, que ficam mais próximos
dos demais integrantes originais do Mercosul (Uruguai, Argentina e Paraguai), passaram a
receber crescente número de fábricas, porque sua localização facilita o transporte de produtos
entre os países, diminuindo os custos das empresas.
O aspecto geográfico também foi um dos fatores que estimularam a mudança de
indústrias para o Norte e o Nordeste. Além das vantagens fiscais e dos custos menores de
produção que oferecem, essas regiões estão mais próximas dos Estados Unidos e da Europa, os
principais mercados internacionais. Essa proximidade reduz os custos de frete para a linha de
produtos que são exportados para esses mercados.
Há também um movimento de ida das fábricas das capitais para o interior. Em menos de
dez anos, de 1996 a 2003, a porcentagem nacional de indústrias fora das capitais cresceu de 54%
para 73%. As cidades do interior, além de isenções fiscais, estão conseguindo oferecer
infraestrutura satisfatória de produção e transportes, aliado a uma mão de obra qualificada que
recebe salário menor. Como nessas regiões o custo de vida é, em geral, mais baixo que o das
grandes cidades, as vagas acabam sendo atrativas para profissionais qualificados, mesmo com
salário menor. Além disso, cidades do interior estão proporcionando melhor qualidade de vida
do que há alguns anos. Como resultado, entre 2000 e 2004, 76% do 1.057 milhão de emprego
criados na indústria foram abertos fora das capitais brasileiras, segundo dado do Serviço
Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).
Para os economistas, outro fator que tem afugentado empresas de regiões tradicionais é
o poder dos sindicatos dos trabalhadores. O ABC paulista (região da qual fazem parte os
municípios de Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul) é exemplo sempre
citado. A força dos sindicatos locais - liderados pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que já foi
comandado pelo ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva - teria levado as empresas a
buscar novas regiões do país para se instalar, locais nos quais os trabalhadores estivessem menos
organizados e tivessem menor poder de negociação e pressão.
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O Brasil atravessou boa parte do século XX com cerca de três quartos de suas indústrias
concentradas na Região Sudeste. Cem anos atrás, havia apenas 3,2 mil empresas no país, 80%
nessa região. Há 30 anos, o Sudeste ainda monopolizava o parque industrial, cujo crescimento
esteve estreitamente ligado à urbanização do país. Mas essa realidade está mudando. Em 2008,
a concentração baixou para 48,1% das indústrias.
A possibilidade de as companhias se deslocarem de uma região para outra (e até de um
país para outro, num fenômeno chamado relocalização) virou um fator de pressão sobre os
sindicatos de trabalhadores. Nessa circunstância, tanto quanto reivindicar melhores salários e
condições de trabalho, os sindicalistas são levados a atuar contra várias medidas que barateiam
o custo do trabalho: jornada prolongada, terceirização, contratação sem carteira assinada e
emprego temporário.
A indústria é muito importante na produção de riquezas do Brasil, mensurada no Produto
Interno Bruto (PIB), embora a liderança seja do setor de serviços. Em 2009, o PIB brasileiro
atingiu 3,14 trilhões de reais, e a indústria foi responsável por 25,4% de todo esse valor.
A participação da produção industrial nas exportações do país é significativa e vem
crescendo. De 1964 a 2009, em pouco mais de 40 anos, a exportação dos produtos
manufaturados passou de 6% para 57,4% do total vendido ao exterior, segundo dados do
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).
Por causa dessas enormes vantagens oferecidas às empresas, muitos autores questionam
se essa guerra fiscal tem de fato algum valor para a população, principalmente para o Brasil
como um todo. Essas firmas seriam construídas de uma maneira ou de outra, neste ou naquele
estado ou município, e com essa "guerra" o poder público deixa de arrecadar volumosos
recursos que poderiam ser gastos na saúde, na educação ou na segurança dos habitantes.
Após os anos 1980, a política de industrialização brasileira foi praticamente abandonada.
A crise provocada pelo alto endividamento externo feito nos anos 1970 criou uma grande
recessão econômica, que ficou conhecida como crise da dívida. O aumento do desemprego e um
generalizado aumento do custo de vida foram os principais problemas enfrentados.
Com o endividamento, o Estado brasileiro diminuiu sua atuação no desenvolvimento
industrial. Os grandes investimentos em infraestrutura feitos nas décadas anteriores foram
praticamente deixados de lado. A década de 1980 ficou conhecida como a "década perdida".
Nos anos 1990, colocou-se em prática uma série de privatizações de empresas estatais,
como a Vale do Rio Doce (mineração), a Embratel (telecomunicações), a CSN (siderúrgicas),
bancos públicos, entre outros. Um forte processo de internacionalização das empresas foi
característico da década de 1990. Vários setores importantes da indústria nacional foram
vendidos a grupos estrangeiros, como o de autopeças, alguns setores ligados ao agronegócio
(fertilizantes, por exemplo), o da indústria alimentícia, etc.
A abertura comercial colocou as indústrias brasileiras em uma concorrência mais intensa
com as indústrias do restante do globo. Alguns setores foram muito prejudicados, como o têxtil e
o de calçados, e outros tiveram de elaborar estratégias para enfrentar essa concorrência,
melhorando sua tecnologia, diminuindo salários ou fazendo parcerias com empresas
estrangeiras.
Entre as estratégias adotadas pelas empresas para enfrentar a concorrência externa
destacam-se os processos de transferência de unidades produtivas para áreas com mão de obra
mais barata e sindicatos mais fracos, num processo de realocação industrial no país.
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Buscando a competitividade
Para manter-se competitivas nos mercados local e internacional, as indústrias têm de se
atualizar tecnologicamente ao mesmo tempo que precisam investir em processos que
aumentem sua produtividade para tornar seus bens e serviços mais baratos. Ocorre que investir
em tecnologia e expansão de instalações custa muito dinheiro e as empresas vão buscá-lo nos
bancos. Assim, quando os juros estão muito altos, as dívidas das companhias vão ficando
maiores e mais difíceis de pagar. Por isso, muitas vezes os empresários desistem de fazer os
investimentos necessários.
O resultado é que as indústrias podem ficar obsoletas, perder competitividade e,
eventualmente, fechar. Para reagir a essa situação e se capitalizar, o setor industrial brasileiro
passou a brigar pela ampliação de sua presença no mercado internacional. Nos últimos anos,
vem crescendo a participação da produção industrial nas exportações.
Em geral, os países ricos exportam produtos industrializados ou manufaturados (como
computadores e carros), enquanto os países pobres vendem, sobretudo, itens básicos ou
matérias-primas, também chamadas de commodities (como café e soja, no caso brasileiro). É
mais vantajoso, porém, comercializar bens industrializados, porque, com tecnologia agregada,
eles custam mais caro, e, mesmo vendendo menos, o país ganha mais.
No esforço para se tornar competitiva no mercado externo, a indústria nacional busca
ampliar nos itens que fabrica o índice de "valor agregado" - a quantidade de tecnologia e
trabalho que se coloca no processo de produção. Se o produto tiver mais técnica e demandar
muitas horas de trabalho em sua produção, ele custará mais caro e poderá ser vendido por um
preço mais vantajoso. Uma laranja tem muito menos valor agregado que seu peso em suco, por
exemplo. O suco inclui, além da própria fruta, a adição de conservantes, o trabalho dos
empregados da fábrica e a embalagem, entre outros processos para sua industrialização.
Um dos entraves para melhorar o desempenho das vendas no mercado internacional dos
produtos brasileiros é o pouco investimento em tecnologia e desenvolvimento de projetos,
fundamental para aumentar a competitividade industrial. É por isso que o país precisa investir
em tecnologia, para fabricar e exportar produtos com maior valor agregado. O Ministério do
Desenvolvimento da Indústria e Comércio afirma que isso tem sido feito. Pelos dados oficiais, as
exportações da indústria de alta tecnologia cresceram 32,5% entre 2004 e 2005. É mais que o
dobro da variação obtida na indústria de baixa tecnologia (14,4%).
Entre os produtos de alta tecnologia estão os dos setores aeronáutico, aeroespacial,
farmacêutico, de informática e de equipamentos de comunicação. A indústria de baixa
tecnologia engloba itens como madeira, alimentos, bebidas, tabaco, roupas e calçados. O melhor
exemplo do avanço da indústria nacional da área da alta tecnologia são os aviões da Embraer,
que se destacam entre os produtos brasileiros com o maior valor agregado. A Embraer é a
terceira maior exportadora de aviões do mundo - está presente em 65 países, nos cinco
continentes.
As novas descobertas de petróleo no litoral brasileiro possibilitaram a autossuficiência do
Brasil em relação a esse recurso. A tecnologia brasileira de extração de petróleo em águas
profundas é uma das mais avançadas do mundo, e o setor tem grande importância nacional.
Apesar da presença em vários estados, é no Rio de janeiro que mais se desenvolvem as
atividades extrativa e de refino.
A existência de indústrias nacionais é considerada muito importante para a economia de
um país, uma vez que o Estado não perde divisas, como ocorre com as remessas de lucros, para
os países de origem, das filiais de multinacionais. Assim, ainda que haja empresas multinacionais
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nos países, é necessário haver indústrias nacionais, para que a economia não se torne muito
dependente dos capitais externos. Além disso, contar com empresas nacionais permite Um
planejamento mais apropriado, já que as multinacionais acabam por ter suas políticas de
investimento ou atuação ligadas aos interesses da matriz, portanto dos países de origem.
Também é importante frisar que o desenvolvimento tecnológico gerado por empresas
multinacionais acaba se concentrando apenas nos países de origem, e muito pouco é repassado
a suas filiais. A indústria nacional também proporciona, dessa forma, a possibilidade de um
desenvolvimento tecnológico nacional.
Referências Bibliográficas
A Industrialização Brasileira. Atualidades Vestibular. São Paulo: Abril, 2010.
DOWBOR, LADISLAU. A formação do capitalismo dependente no Brasil. São Paulo: Brasiliense,
2010.
História
da
Industrialização
no
Brasil.
Disponível
em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_industrializa%C3%A7%C3%A3o_no_Brasil> Acesso em
30/06/11
MENDONÇA, SÔNIA. A Industrialização Brasileira. São Paulo: Moderna, 2004.
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O processo de industrialização no Brasil, e por conseguinte da