CONHECIMENTOS QUE INTERFEREM NA PRÁTICA DO PEDAGOGO:
UM ESTUDO ANTES E DEPOIS DO ESTÁGIO DE EDUCAÇÃO FORMAL
Iriane Gerzeli Brandão
[email protected]
Universidade Estadual de Londrina
Vilze Vidotte
[email protected]
Universidade Estadual de Londrina
Resumo
Este trabalho refere-se às atividades realizadas, como parte integrante do
Estágio de Educação Formal, efetuado por uma aluna do 3º ano de Pedagogia
da Universidade Estadual de Londrina. Esse estágio possui caráter obrigatório,
devendo ser realizado em um espaço escolar, no qual a acadêmica em
formação
observou, preferencialmente, o trabalho desempenhado pelo
pedagogo na instituição escolhida. Posteriormente, mediante diálogos com as
pedagogas da escola, decidiu-se sobre qual ação, desenvolvida pela
estagiária, contribuiria como medida de intervenção no espaço escolar. Dessa
forma, o artigo contempla os momentos de estágio obrigatório em Educação
formal bem como teorias que devem estar relacionadas ao papel do pedagogo
na gestão escolar.
Palavras-chave: Educação formal, pedagogo, comunidade escolar
1. Introdução
Esse trabalho visa tratar sobre o estágio obrigatório em
Educação formal do curso de pedagogia da Universidade Estadual de
Londrina.
Então,
se
propõe,
no
decorrer
do
texto,
mostrar
no
“Desenvolvimento” as atividades do pedagogo diante da organização do
trabalho escolar em espaço de educação formal, sendo contemplado, nessa
mesma parte, as observações feitas acerca do trabalho pedagógico em Colégio
da rede Estadual de Londrina, e a intervenção aplicada nesse espaço. Outro
ponto a ser destacado é a globalização e a interferência dos organismos
30
internacionais na gestão escolar. Por último, procurar-se-á refletir, em
“Considerações finais”, sobre a importância do estágio para a formação do
acadêmico de Pedagogia. Dessa forma, tem-se um estudo de caso aliado a
algumas teorias que se relacionam à questão da gestão escolar. Sendo assim,
é um estudo que traz reflexões de uma estagiária sobre as questões da prática,
juntamente com a teoria estudada com a disciplina “Estágio” e disciplinas de
gestão contempladas no currículo de Pedagogia da Universidade Estadual de
Londrina.
2. Desenvolvimento
2.1.
Fundamentação teórica
Para discutir as questões apresentadas na introdução é
necessário compreender que a escola é um espaço onde há uma
administração, a qual pode ser boa ou má. Mas é necessário ponderar que seja
qual for a qualidade da administração, ela exercerá influência em relação às
oportunidades sociais da vida em sociedade, podendo ter caráter includente
ou excludente. Dessa forma, pensa-se na importância de uma administração
escolar assumir a “responsabilidade de avançar na construção de seu estatuto
teórico/prático a fim de garantir que a educação se faça com a melhor
qualidade para todos possibilitando, desta forma, que a escola cumpra sua
função social e seu papel político institucional” (Ferreira, p.296).
É nesse sentido da administração, ou melhor, da gestão da
educação que a escola põe em prática a formação do indivíduo partindo de um
ideal de homem e mulher. Tal ideal de indivíduo é pensado pela política
pública, que estabelece parâmetros de ação na formação do sujeito no espaço
escolar. Assim, percebe-se que a relação entre sociedade, educação/formação,
políticas educacionais e gestão da educação é algo importante ao pensar o
papel da escola e de seus agentes na formação do indivíduo, o qual,
atualmente, será orientado sobre a importância da cidadania e os pré-requisitos
para adentrar-se ao mundo do trabalho.
31
Tais fatores na formação do sujeito deve acontecer em um
processo de gestão democrática dentro da escola o que segundo Dourado
apud Ferreira (p. 304) consiste em:
...processo de aprendizado e de luta política que não se
circunscreve aos limites
da prática educativa mas
vislumbra, nas especificidades dessa prática social e de
sua relativa autonomia, a possibilidade de criação de
canais de efetiva participação e de aprendizado do ‘jogo’
democrático e, consequentemente, do repensar as
estruturas de poder autoritário que permeiam as relações
sociais e, no seio dessas, as práticas educativas.
Cabe ressaltar que gestão democrática não significa que todos
os agentes da escola fazem tudo ou que qualquer agente da escola faz
qualquer coisa. Mas essa gestão remete que cada agente da educação, na
escola, tem sua função específica, mas o planejamento e implementação das
ações na escola partem da decisão do coletivo. (Taques et AL, p.5)
É importante que a gestão seja dessa forma, pois a escola
primará pela formação da cidadania do sujeito, ou seja, visa-se formar um
sujeito que consiga expor suas opiniões e participar das decisões da escola. A
alimentação da gestão democrática impede que estruturas autoritárias resistam
em ambientes escolares. E quando o sujeito se conscientiza da importância da
democracia, da participação em sociedade, ele pode perceber mais facilmente
quando um setor menor da sociedade objetiva dominar a forma de pensamento
de um segmento maior da sociedade. Assim, a escola estará realmente
contribuindo para a formação de um cidadão.
Apesar da importância da gestão democrática, é importante
salientar que muitas instituições de ensino não conseguem implementá-la,
dessa forma, Ferreira (p. 305) diz:
... a gestão democrática da educação é hoje, um valor já
consagrado no Brasil e no mundo, embora não ainda
32
totalmente compreendido e incorporado à prática social
global e à prática educacional brasileira e mundial. È
indubitável sua importância como um recurso de
participação humana e de formação para a cidadania. É
indubitável sua necessidade para a construção de uma
sociedade mais justa e igualitária. È indubitável sua
importância como fonte de humanização. (Ferreira, 2000,
p. 167)
A respeito dessa citação é importante ponderar não ser
surpreendente
o fato da gestão democrática não vigorar plenamente em
grande parte das instituições sociais. Pois tornar os indivíduos participativos e
pensantes é algo que pode romper o poder de um grupo. Isso traz dificuldades,
por exemplo, para industriários convencerem seus operários trabalharem muito
para ganharem pouco. As pessoas cidadãs questionam seus próprios modos
de vida e almejam ser livres, podendo ter uma vida mais digna. Porém, há
quem não queira que a cidadania seja trabalhada nas escolas ou outros
setores. A escola formadora de cidadãos passa a não ajudar plenamente o
mercado capitalista, visador do lucro através da exploração do trabalho. Além
disso, é válido ressaltar que é mais trabalhoso lidar com a opinião de várias
pessoas do que simplesmente alguém ditar o que se tem a fazer. Então, a
partir dessas situações, vê-se os motivos da gestão democrática não ser muito
interessante.
Mas a gestão democrática, por mais difícil que seja a sua
implementação, ela deve ser alvo das escolas por contemplar a participação
dos profissionais e da comunidade escolar na construção do Projeto Político
Pedagógico da escola. Tudo isso ajuda a instituição ter autonomia nas
decisões escolares, que, possivelmente, ecoarão na sociedade. Nesse sentido
acrescenta-se o pensamento de Saviani apud Ferreira (p. 307): A gestão da
educação é responsável por garantir a qualidade de uma “mediação no seio da
prática social global”(Saviani, 1980, p. 120), que
se constitui no único
mecanismo de hominização do ser humano, que é a educação, a formação
humana de cidadãos.”
33
Nesse cenário o pedagogo passa a assumir papel fundamental
para que ocorra a gestão que “garanta” a qualidade do processo de formação
humana, o que possibilitará ao educando crescer e, por meio dos conteúdos
aprendidos na escola, hominizar-se, ou seja, tornar-se mais humano. Mas é
bom lembrar que historicamente o papel do pedagogo foi definido pela lógica
economicista. A indústria exigia um controle rigoroso do ritmo de trabalho.
Dentro desse contexto, a escola passou a visar a formação para o trabalho,
dessa forma, “o modelo fabril acabou refletindo na escola a figura do pedagogo
especialista, traduzido pela lógica do supervisor e orientador escolar.”
(fragmento retirado de documento produzido pela Secretaria do estado do
Paraná, Núcleo Regional de Educação de Curitiba). Essa situação do
pedagogo fez com que se alterasse a identidade da pedagogia no que diz
respeito às transformações que pode promover no homem, no sentido de ser
cidadão livre e não dominado.
O documento mencionado acima aponta também que o caráter
tecnicista do pedagogo existiu, tendo esse profissional inúmeras funções
burocratizantes e, dessa forma, no passado, poderia ser uma função
desempenhada por professores de várias licenciaturas. Apesar dessa situação,
com o tempo houve uma conquista da pedagogia no sentido político e
pedagógico, pois esse profissional passou a ser entendido não simplesmente
como agente de funções burocráticas, disciplinadoras e fragmentadoras do
processo pedagógico (ensino e aprendizagem), ele é um profissional que deve
ser enxergado em uma multidimensão: social, política, humana e cultural e não
deve ser visto como um “faz tudo”.
Ainda no mesmo documento tem-se que:
O pedagogo é (como diria Gramsci) o intelectual orgânico
das massas, um profissional que compreende a natureza
do trabalho coletivo na escola e que percebe a
necessidade de pensar a educação neste processo de
contradição: contra-hegemônico, que toma por base as
condições concretas e articula a educação às relações
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sociais, democráticas e emancipadoras. É um profissional
que pensa o papel da escola historicamente e que media
as relações pedagógicas: professor, aluno, currículo,
metodologia, processo de avaliação, processo de ensino
e aprendizagem e organização curricular.
Nesse sentido, o pedagogo deve distanciar-se, na gestão
democrática, da lógica tecnicista, “... na qual o supervisor controla o trabalho
dos professores, em questões burocráticas e não de ensino e aprendizagem e
o orientador recorre ao assistencialismo aos alunos e às famílias.” (Taques et
al, p. 7). No mesmo artigo as autoras citam Saviani (1985, p. 28) que diz:
Vocês, pedagogos, têm uma responsabilidade grande
nesse esforço de reversão. Enquanto especialistas em
pedagogia escolar cabe-lhes a tarefa de trabalhar os
conteúdos de base científica, organizando-os nas formas
e métodos mais propícios à sua efetiva assimilação por
parte dos alunos.
Ainda segundo documento produzido pelo Núcleo Regional de
Educação de Curitiba, o pedagogo na gestão escolar deve preocupar-se com a
construção do Projeto Político Pedagógico (PPP), o qual será coordenado em
sua elaboração pelo pedagogo, que deverá promover meios para que esse
documento seja construído com o coletivo, isto é, esse documento deve ser
elaborado com a participação dos membros da escola, comunidade, pais de
alunos. Pois, se assim for feito, esse documento será mais acreditado por mais
pessoas, que poderão se empenhar na implementação do PPP na escola.
Sobre a organização do trabalho pedagógico, o pedagogo deve
estar atento para a aquisição e seleção de materiais didáticos, participando,
inclusive, da organização da biblioteca da instituição. Também deve, junto aos
professores, pensar como podem se dar projetos de recuperação, para que
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esses projetos sejam realmente significativos aos alunos. A organização de
pré-conselhos e conselhos de classe também ficam a cargo do pedagogo, o
qual deverá esforçar-se para garantir um processo coletivo de reflexão-ação
sobre o trabalho pedagógico desenvolvido pela escola e em sala de aula.
O pedagogo também deve ocupar-se: da análise do caráter
pedagógico dos projetos a serem implementados pela escola, trabalhar junto
da direção na elaboração do calendário letivo, na formação das turmas, na
distribuição do horário semanal das aulas e disciplinas. Também cabe ao
pedagogo acompanhar e avaliar o trabalho pedagógico escolar pela
comunidade interna e externa.
Os alunos que têm dificuldades de aprendizagem devem ser
observados e direcionados pelo pedagogo. Isso deve ser feito junto dos
professores, que devem estar, sempre, bem informados sobre o tipo de
acompanhamento que o aluno está tendo. É também esse profissional que
analisa os índices de aproveitamento escolar, evasão, repetência, tentando
minimizá-los. A promoção de estratégias para evitar formas de discriminação,
preconceito, exclusão social também é papel do pedagogo, que deve estar
atento aos preceitos constitucionais, a legislação educacional em vigor e ao
Estatuto da Criança e do Adolescente.
A intervenção em relação escola – comunidade deve ser feita
pelo pedagogo, que tentará promover a integração da família com os agentes
escolares, podendo assim orientar os pais sobre a importância de eles
acompanharem seus filhos permanentemente. Esse profissional também deve
encontrar formas dos pais conhecerem a proposta da escola e saber a
importância de tal situação.
Além disso, o pedagogo deverá contribuir com processos de
formação continuada ao coletivo de profissionais da escola e acompanhar e
assessorar os processos de avaliação adotados pelo docente, avaliando
sempre se é um processo condizente com os objetivos presentes no
PPP.Também é da alçada dele ações burocratizantes , como: a análise do
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livro de registros, que deve ser preenchido sem rasuras e de maneira clara,
sem usar símbolos.
O momento do Conselho de Classe merece destaque por ser
muito importante
no que tange o processo de ensino e aprendizagem. É
comum ouvir-se dizer que durante esse momento há profissionais, que se não
estiverem bem direcionados pelo pedagogo, cometem falhas quando não
pensam como se pode melhorar o processo de aprendizagem de determinado
aluno. Dessa forma, é preciso, nessa reunião, fazer um levantamento das
dificuldades desse aluno e propor meios para auxiliá-lo. A partir desse
momento, a escola (professores e equipe pedagógica) pode ajudar o aluno a
superar sua dificuldade.
Em resumo, pode-se dizer que o pedagogo é o profissional que
trabalha em várias instâncias da prática educativa, as quais podem estar
vinculadas direta ou indiretamente à organização e aos processos de aquisição
dos saberes, os quais devem estar interligados aos objetivos de formação
humana estipulados no Projeto Político Pedagógico. Assim, o pedagogo passa
a ser entendido como mediador e articulador do PPP na escola. Lembrando
que tal projeto se faz por meio do Plano do Trabalho Docente e do trabalho do
professor em sala. (Taques et al, p. 17)
Vale lembrar que o pedagogo também deverá estar ciente do
processo de globalização bem como a interferência dos organismos
internacionais na gestão escolar. Para tanto é necessário compreender-se que
quando Fernando Henrique Cardoso tornou-se presidente da República, ele
tinha
como
objetivo
implementar
a
seguinte
situação:
ter-se
maior
favorecimento do mercado e redução do papel do Estado. Então, houve uma
grande abertura da economia, privatização do patrimônio público e redução dos
direitos sociais, com desregulamentação das leis trabalhistas. (Reis, 2006, p.
42-43)
Nesse sentido, o mesmo estudioso mencionado acima,
pondera quem o governo brasileiro pôs-se a seguir alguns receituários do
Fundo Monetário Internacional (FMI): introduziu arrochos salariais, ajustes
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fiscais, redução do Estado. Dessa forma, a qualidade dos serviços prestados
pela saúde, educação, segurança são deficitários, tendo grande parte dos
cidadãos pagar por esses serviços. No caso da educação, assunto de interesse
nesse trabalho, a qualidade do ensino está comprometida e a promessa do
aumento do número de vagas no Ensino Fundamental não tem sido cumpridas.
Além disso, o índice de evasão e repetência tem aumentado.
As escolas caminham tentando alcançar metas, certas notas.
Isso são direcionamentos de órgãos internacionais que emprestam dinheiro ao
Brasil, com a garantia de que o país em desenvolvimento cumpra os quesitos
estabelecidos por eles nas diversas áreas, inclusive, na educação.
O contexto político e social deve ser compreendido pela equipe
pedagógica, pois ela lidará com a realidade vigente, enfrentando problemáticas
do dado momento. Então, é preciso reconhecer os motivos que norteiam a
parte do processo escolar, para assim melhor conduzir o processo de ensino e
aprendizagem, que deve estar em compasso com a participação do coletivo
por meio do Projeto Político pedagógico.
2.2.
Relatos dos dias observados
O estágio aconteceu em Colégio da rede Estadual de Londrina,
no período vespertino, 13:30 às 17:30. É um Colégio localizado na região
central de Londrina, onde se encontram hospitais, clínicas médicas, outras
escolas, comércio e domicílios. A orientação do estágio na escola se deu por
duas pedagogas, as quais foram muito atenciosas, trouxeram muitos
ensinamentos e, até mesmo, deram certa
autonomia, para a estagiária
desempenhar certas funções na escola no curto período de tempo do estágio.
Dessa forma, a seguir, o relato dos dias de observação e intervenção na
referida Instituição de ensino.
No dia 30 de maio, as duas pedagogas sugeriram para a aluna
a leitura do Projeto Político Pedagógico da escola. No início da leitura foi
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questionado se o P.P.P, havia sido confeccionado coletivamente e elas
disseram que, na verdade, não. Justificaram que é muito difícil reunir todos
para a elaboração do documento.
Conforme lido, o alvo desse documento è: “ a produção e a
socialização do conhecimento,das ciências, das letras, das artes, da política,
da tecnologia, para que o aluno possa compreender a realidade sócioeconômica, político e cultural, tornando-se capaz de participar do processo de
construção de sociedade até aqui.” Percebe-se nessa citação a preocupação
com a formação do homem integral e não do homem trabalhador.
O colégio, hoje, tem 14 turmas no matutino e 11 turmas no
vespertino. Isso soma o atendimento a 947 alunos. Sendo que a comunidade
atendida é refere-se a 3% da zona rural, 20% moram próximo ao Colégio e
80% dos alunos vêm de bairros distantes. Uma pequena parcela vem de
Cambé.
Procura-se incentivar a participação dos pais na Escola, por
meio de atividades como: festa junina, feira cultural, atividades esportivas e
acompanhamento dos filhos. A Instituição conta com um bom quadro de
funcionários, tais quais: equipe administrativa, equipe pedagógica, professores
especializados. Além disso, consta no PPP que a situação econômica das
famílias atendidas é regular e que os alunos têm famílias pouco numerosas
com estrutura tradicional.
Os conteúdos norteados no P.P.P. são diretrizes do que se
deve ser trabalhado em sala de aula. Os professores concursados fizeram
cursos no Núcleo de Ensino relacionados a tais diretrizes, foram eles que
planejaram os conteúdos a serem trabalhados em suas respectivas áreas. Foi
questionado a uma das pedagogas se havia cumprimento das diretrizes
apontadas no PPP. A profissional disse que não ficam fiscalizando, só é feito
esse tipo de checagem se houver reclamações a respeito do professor.
As salas de aula têm de 29 a 39 alunos, elas são amplas. A
reunião com os pais é feita no início do ano e no fechamento do bimestre, mas
39
como destacamos adiante, alguns pais não se dirigem à escola para saber da
vida escolar do filho.
No P.P.P. estão registrados os projetos de vários professores e
de uma das pedagogas. Segundo a equipe pedagógica, os projetos são
sempre desenvolvidos pelos professores.
No próximo dia de observação, 31/05/2011, foi feito o
atendimento a alunos, pois já havia sido observado o modo como as
pedagogas encaminhavam situações de indisciplina na sala de aula e na
escola. Então, o que aconteceu muito foi: o professor retirava o aluno da sala,
por ele não respeitar o próximo ou por atrapalhar a aula, assim esse aluno era
encaminhado para a equipe pedagógica que conversava, às vezes, rudemente
com o sujeito. Posteriormente se fazia o registro sobre o acontecido na pasta
de ocorrência da série. Nesse dia também foram observadas as três 5ª séries,
pois a intervenção seria feita com tais alunos.
Foi decidido com as pedagogas como seria a intervenção. Elas
relataram que alguns alunos dessa série tinham problemas de se relacionarem
de forma amena com os outros e dificuldade de se organizarem nos estudos.
Dessa dificuldade foi proposta a elaboração de um projeto de intervenção como
tentativa de minimizar o problema. É importante registrar a constatação de que
as pedagogas tinham razão quando diziam que alguns alunos de 5ª série
traziam problemas de indisciplina porque a maioria das ocorrências feitas no
decorrer dos dias eram referentes a alunos de 5ª série.
No dia seguinte, 01/06/2011, foi feito atendimento a alunos que
foram retirados da sala de aula, pois estavam com um comportamento ruim. As
pedagogas comentavam que alguns professores, em especial os substitutos,
excluíam boa quantidade de alunos da sala de aula. Faziam isso com o intuito
de controlar a disciplina da sala. As pedagogas não viam isso com bons olhos,
diziam que o professor deve saber conduzir certas situações de conflito em
sala. Mesmo porque os alunos excluídos ficavam fora de sala fazendo alguma
atividade ou fingindo que faziam alguma atividade.
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Também nesse dia precisou-se ajudar nos preparativos da
festa junina, a qual contava com uma participação intensa de toda comunidade
escolar. Alguns alimentos foram colocados em caixas confeccionadas pelos
alunos, tais caixas teriam valor de R$ 2.50 no dia da festa. Além disso, a escola
tinha conseguido algumas prendas como blusas novas, que também seriam
vendidas. A diretora estava bastante interessada no evento e pedia
colaboração de toda equipe nos ajustes finais para a realização da festa. Os
professores não estavam muito envolvidos. Os alunos deveriam apresentar
coreografias no dia da festa, estas seriam ensaiadas pelas professoras de
Educação Física e de Arte. Mas nenhuma delas se comprometia com os
ensaios. Assim, os alunos desciam no pátio para ensaiar e ficavam pedindo a
todos os professores para deixá-los sair da sala para ensaiar. As pedagogas
estavam implicadas com essa situação, mas não fizeram nada de efetivo para
resolver o problema. Apenas deixaram claro para todos que, quem podia
acompanhar os ensaios eram as professoras de Arte e Educação Física.
No dia 02/06/2011 foram analisados os boletins de 5ª a 8ª dos
alunos que os pais não haviam retirado o documento da escola. Uma dúvida
das pedagogas em relação a isso é se o responsável pelo aluno já havia
retirado o boletim pela internet. Mas a secretaria da escola informou que menos
de 10% retiram o boletim pela internet. Os alunos que tinham notas abaixo de
4.5 foram selecionados, e no próximo dia, 03/06/2011, um bilhete, foi redigido
pela estagiária e revisado pelas pedagogas e diretora, para ser entregue aos
pais, no sentido de se direcionarem a escola para a retirada do documento.
Quem entregou os bilhetes aos alunos foram os próprios professores, que
chamavam o aluno em questão pelo nome (estava anotado no bilhete).
Posteriormente foram verificados que de 30 casos que se tinha, 11 alunos
trouxeram o bilhete assinado pelo responsável. Os bilhetes assinados foram
colados na ficha de ocorrência de cada aluno.
Como o foco de intervenção era a 5ª série, observou-se que
nenhum aluno dessa série havia devolvido o bilhete assinado pelo responsável.
Eram cinco casos. Então, o contato com os pais foi pelo telefone, sendo pedido
o comparecimento à escola e os conscientizando sobre a importância de se
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participar da vida escolar do filho. Tudo isso foi feito tendo apoio das
pedagogas e diretora da escola.
Na outra semana foi o momento da intervenção. As salas de 5ª
série são bastante intensas no que diz respeito ao comportamento. Os alunos,
de maneira geral, gostaram de discutir os princípios para o bom relacionamento
humano bem como a organização do dia a dia escolar. Ao final da intervenção,
os alunos trocaram cartinhas entre si. Eles gostaram muito da atividade.
É importante mencionar que a direção da escola agia em
conjunto com as pedagogas. As duas pedagogas e a diretora conversaram
com pai de aluno que tem dificuldades de aprendizagem. Nesse dia, todos os
professores do aluno foram chamados para a reunião. A diretora não agia de
forma autoritária, as pedagogas, sempre que precisavam recorriam a ela, e a
diretora se punha à disposição. Assim, foi percebido, em parte, a importância
do trabalho coletivo na gestão escolar. A construção do PPP, infelizmente, não
entra nesse molde de participação coletiva, pois a pedagoga contou que nem
todos se disponibilizam para a construção do documento. Mas as pedagogas
disseram que os professores concursados leram o documento.
3. Considerações finais
O estudo dos textos teóricos sobre o papel do pedagogo na
instituição de educação formal e as interferências da globalização e órgãos
internacionais na gestão escolar, ajudam na percepção da importância do
pedagogo estudar a teoria, para que ela esteja unida à prática, direcionando
assim o trabalho escolar da melhor forma.
Assim, o estágio ou prática de ensino sempre esteve presente
nos currículos de formação profissional, tendo como finalidade a unidade entre
teoria e prática. Segundo Pimenta (p.24)
42
A atividade teórica é que possibilita de modo
indissociável o conhecimento da realidade e o
estabelecimento de finalidades para a sua transformação.
Mas para essa transformação não é suficiente a atividade
teórica; é preciso atuar praticamente.
O momento do estágio deve servir para que o futuro
profissional consiga interligar a teoria estudada com a prática observada. Esse
é um momento essencial na formação do pedagogo, que se bem orientado
pela teoria pode refletir no momento de sua futura prática bem como aliar a sua
prática à teoria.
Tendo ciência do papel do pedagogo, o estágio, os relatos de
estágio mostram que os pedagogos pouco conseguem atuar dentro do que
lhes cabem. Pois articular teoria à prática, de modo a ajudar a equipe docente
no seu fazer é algo que pouco se vê na escola. Isso ocorre porque os
pedagogos se dedicam em grande parte, na escola, ao atendimento de alunos
indisciplinados. Acredita-se que isso ocorra, porque o professor não sabe
direito o papel do pedagogo. Se o docente soubesse a função do pedagogo,
talvez, poderia esforçar-se para resolver certos conflitos em sala de aula.
Assim, o pedagogo atuaria mais próximo a sua real função.
É
necessário
mencionar
que
as
pedagogas
atuaram
verdadeiramente ao reunir-se com pai de aluno que apresenta dificuldade de
aprendizagem. Tentaram apoiar a família do aluno, para que ele pudesse
melhorar o rendimento escolar. Olharam para a realidade da família, tentaram
buscar os recursos pedagógicos na escola, com ajuda dos professores. A
direção acompanhou tal processo. Além disso, as pedagogas estavam
empenhadas na realização da Festa Junina, a qual estava prevista no Projeto
Político Pedagógico da escola. Tal momento era considerado importante, pois
integra toda a comunidade escolar bem como a família dos alunos com a
escola. Mas há uma ressalva, a falta de interesse dos professores com relação
à festa, poderia ser também trabalhada pelos pedagogos, que poderiam
43
mostrar/ conscientizar a importância de se ter a família integrada a toda
comunidade escolar.
A prática do estágio, apesar do pouco tempo, traz reflexões
importantes. Ao fim, desse trabalho, acredita-se que é possível o pedagogo
atuar dentro de suas atribuições, mas para isso, pensa-se que deva haver
maior conscientização da equipe docente, da direção e, principalmente, dos
pedagogos do papel desse último na escola.
É preciso pontuar que a direção mostrou-se aliada da equipe
pedagógica nos momentos de reunião com pais de alunos indisciplinados e de
alunos com dificuldades de aprendizagem. Com isso, constatei que a direção
não exerce poder vertical sobre a equipe pedagógica, mas os dois seguimentos
tentam se respeitar e trabalhar juntos.
REFERÊNCIAS
FERREIRA, Naura S. C. Gestão Democrática da Educação: Ressignificando
Conceitos e Possibilidades. In Ferreira, Naura S. C.; Márcia A. da S. Aguiar
(orgs.). Gestão da educação: impasses, perspectivas e compromissos. Ed.
Cortez. 2ª. ed. SP,2001.
PARANÁ, Edital N 037/2004. Descrição das Atividades Genéricas do Professor
Pedagogo nos Estabelecimentos de Ensino de Educação Infantil, Educação
Profissional, Ensino Fundamental e Ensino Médio da Rede Estadual do
Paraná. Curitiba, 2004.
PIMENTA, Selma G. “O Estágio na Formação de Professores: Unidade entre
Teoria e Prática? In Relatos de pesquisa – série documental, n 25, maio, 1995.
44
REIS, Carlos Nelson. “Acumulação Capitalista e Políticas Sociais no Brasil:
Marchas e Contramarchas de uma Trajetória em Curso.” In Sociedade em
debate. Pelotas: Universidade Católica EDUCAT, 2006.
TAQUES, Mariana F. et al. O papel do pedagogo na gestão: possibilidades de
mediação do currículo. Curitiba: Secretaria de Estado da Educação, PR, s/d.
45
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conhecimentos que interferem na pratica do pedagogo: um