Congresso SET 2014
Os principais desafios
da transmissão 8K
Por Guilherme Rossi Ganzaroli
A
transmissão 8K é uma tecnologia muito promissora, trazendo consigo detalhes nunca antes vistos em uma transmissão de TV Digital,
mas também com muitos desafios a serem
vencidos. A Copa do Mundo realizada no Brasil este
ano foi um evento para ser lembrado por engenheiros
de telecomunicações no mundo inteiro. Lembrado, pois
nele foi feito um dos principais testes de transmissão
8K já realizado, o que nos proporcionou um vislumbre
do que será o futuro da televisão nos próximos anos.
Em 1995 começaram, na emissora japonesa NHK, as
primeiras pesquisas da tecnologia que viria a ser chamada de “Super Hi-Vision”, mais conhecida por nós como
“8K”. Ao longo de quase duas décadas grandes avanços
foram feitos, culminando nos testes de transmissão das
Olimpíadas de Londres em 2012, e da Copa do Mundo do
Brasil 2014, além dos testes bem- sucedidos de transmissão via ondas terrestres, realizados em Janeiro deste ano.
Mais do que resolução, a transmissão em 8K proporciona uma escala de cores muito superior do que
as vistas atualmente, deixando as imagens muito
mais vivas. Porém, por ter uma resolução maior, o
olho humano consegue perceber melhor as imperfeições da transmissão, portanto é necessária uma taxa
de quadros por segundo muito maior que a de uma
HDTV comum.
E isso é um grande problema. A taxa de bits se torna altíssima, tanto pelo aumento do número de quadros por segundo, quanto pelo aumento da resolução,
além de outros fatores. Assim sendo, uma transmissão
8K com os padrões de compressão atuais demandaria
uma banda muito maior para a transmissão desses
dados, o que inviabilizaria sua transmissão por ondas
terrestres. Por isso, foi necessária a criação de um novo
padrão de compressão, o HEVC, que promete ser muito
mais eficiente que o H.264 utilizado atualmente, possibilitando assim, a transmissão terrestre deste sinal.
Nos testes de campo realizados pela NHK, foi utilizada uma modulação de 4096-QAM, polarização dupla,
que suporta uma taxa de transmissão muito mais alta
que a modulação 64-QAM polarização única, comumente utilizada. Isto implica que o sinal é muito mais
propício a ruídos, e isto pode se tornar um grande problema, uma vez que na transmissão digital não existe
recepção parcial: ou você recebe o sinal, ou não recebe.
Também, a transmissão em 8K trará desafios na produção de conteúdo, uma vez que cada programa gravado
90 Revista da SET | Setembro/Outubro 2014
terá centenas de gigabytes – ou até mesmo alguns terabytes de tamanho. Isso sem contar os programas ao vivo,
que terão um fluxo de informação muito alto. As emissoras terão que se modernizar e adquirir equipamentos
com processamento mais rápido e maior capacidade de
armazenamento se quiserem fazer parte deste futuro.
Obviamente, isso não será feito da noite para o dia,
uma vez que antes de chegar no 8K ainda passaremos
pelo 4K. Portanto, as emissoras terão tempo para se
preparar. Também, não há a necessidade de apressar
esta modernização, uma vez que televisores são caros, e as diferenças entre uma imagem em 4K e 8K, por
exemplo, só são perceptíveis em telas maiores que 60
polegadas. Portanto, de nada serve as emissoras transmitirem seus programas em 8K se os telespectadores
não possuem uma TV 8K. E para os consumidores, não
adianta comprar um televisor 8K, se em suas casas não
for possível comprar uma TV maior que 60 polegadas.
Tudo isto deve ser levado em conta, mas muitos apostam que esta tecnologia irá se consolidar. OS japoneses
da NHK planejam transmitir as Olimpíadas de Tóquio
em 2020 em 8K, e já estão trabalhando para tornar isto
uma realidade. Claro, esta tecnologia está apenas dando
seus primeiros passos, mas com certeza, todos os desafios encontrados serão vencidos nos próximos anos.
*Guilherme Rossi Ganzaroli é estudante do 8º semestre (4º ano) de Engenharia Eletrônica na Universidade Presbiteriana Mackenzie, e estagiário no
Laboratório de TV Digital da Universidade.
Contato:
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