CENTRO UNIVERSITÁRIO VILA VELHA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA DE ECOSSISTEMAS
DANIELA NICIOLI ESTEVAM DA SILVA SOARES
Bases microbiológicas e químicas da qualidade
ambiental da água e areia da orla de Manguinhos
- Serra, Espírito Santo, Brasil
VILA VELHA
2009
0
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DANIELA NICIOLI ESTEVAM DA SILVA SOARES
Bases microbiológicas e químicas da qualidade
ambiental da água e areia da orla de Manguinhos
- Serra, Espírito Santo, Brasil
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado
em Ecologia de Ecossistemas do Centro
Universitário Vila Velha, como requisito parcial para
a obtenção do título de Mestre em Ecologia de
Ecossistemas. Área de concentração Impactos e
Recuperação do Meio Ambiente.
Orientador: Prof. Dr. Alessandro Coutinho Ramos
VILA VELHA
2009
1
DANIELA NICIOLI ESTEVAM DA SILVA SOARES
Bases microbiológicas e químicas da qualidade
ambiental da água e areia da orla de Manguinhos
- Serra, Espírito Santo, Brasil
BANCA EXAMINADORA
_________________________________
Dr. Alessandro Coutinho Ramos
Orientador
________________________________
Dra. Zilma Maria Almeida Cruz
Membro interno
________________________________
Dr. Daniel Basílio Zandonadi
Membro externo
Vila Velha, 21 de dezembro de 2009
2
“Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo,
à sombra do onipotente descansará.”
Salmos 91:1
3
Dedico esse trabalho a meus pais,
Eliana Estevam da Silva e Edmar Soares da Silva.
4
AGRADECIMENTOS
Ao Centro Universitário de Vila Velha – UVV e ao Laboratório de
Microbiologia e Biotecnologia (LMAB), pela infra-estrutura que possibilitou
efetivar todo o estudo da melhor maneira possível.
A ARCELOR MITAL e ao Istituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos
Hídricos, cuja parceria celebrada possibilitou a bolsa de estudos que resultou
nesse trabalho.
Ao orientador Alessandro Coutinho Ramos, uma pessoa maravilhosa.
Agradeço as palavras de ânimo e a empolgação ao dedicar-se a esse trabalho.
As biólogas Juliana Melo, Mariana Wolkartt e Aline Spínola, extendendo
a todos os demais colegas do LMAB.
Aos colegas de turma do PPEE (Ferderico Eutrópio, Adriana Canal das
Virgens, César Abel Krohling, Roberta Guio Azevedo, Celina Alcoforado e
tantos outros).
Ao Dr. Ary Gomes da Silva e demais professores do curso.
Ao MSc. Pablo Merlo Prata pelas sugestões que valorizaram este
trabalho.
A toda a equipe de Gerenciamento Costeiro que me suportaram nesse
período de muito nervosismo e trabalho (Aline Nunes Garcia, Christianne
Bitencourt, Helaine Alvarino, Rubens Barbosa e Tainan Bezerra).
A todos os meus familiares e a Deus que compõem a parte mais
importante da minha vida.
5
RESUMO
As praias são essenciais para o desenvolvimento de atividades de lazer,
esporte, turismo e convivência da população. Entretanto, o descarte
indiscriminado de resíduos e efluentes nesse ambiente favorece a ocorrência
de microorganismos patogênicos nas areias e água marinha, que podem
comprometer a saúde dos usuários. Gastrenterites, salmoneloses, viroses,
dermatites e micoses são algumas das doenças cuja ocorrência pode estar
associada a recreação em balneários com elevados índices de contaminação.
Com o objetivo de estudar a qualidade das águas e areias de praias utilizadas
para o lazer, foram realizadas análises microbiológicas e químicas das areias e
da água do mar da orla de Manguinhos no município da Serra (ES). Os níveis
mais elevados de contaminação fecal foram encontrados nos pontos
localizados sobre fontes pontuais de contaminação e em pontos próximos,
comparável a um gradiente de contaminação. O valor máximo de coliformes
totais (CT) e de coliformes termotolerantes (CTe) na água foi de 2400
NMP1/100mL. Na areia a densidde de CT variou de 3 a 210 NMP/100g e de
CTe de 3 a 240 NMP/100g. A água e a areia apresentaram padrões distintos
quanto a abundância relativa das espécies, sendo Escherichia coli mais
abundante nas amostras de água. Na areia E.coli representou 23% das
colônias e Klebsiella apresentou a mesma
abundância. O ponto 3C e os
Córregos Irema e Laripe apresentaram condições impróprias a balneabilidade,
sendo constatado o descarte de efluente doméstico in natura nesses córregos.
Excetuando-se o ponto 3C, a qualidade ambiental da água e areia da orla de
Manguinhos é influenciada principalmente pelo deságüe dos Córregos Maringá,
Laripe e Irema, sendo tal constatação corroborada pelo modelo hidrodinâmico
da área e pelos resultados das análises químicas da água. Considerando os
resultados obtidos em outros estudos na costa brasileira e a legislação
pertinente, as areias da praia de Manguinhos apresentaram boa qualidade
microbiológica.
1 NMP: Número Mais Provável.
6
SUMÁRIO
RESUMO .......................................................................................................
6
LISTA DE FIGURAS .....................................................................................
9
LISTA DE QUADROS ...................................................................................
11
LISTA DE TABELAS ....................................................................................
12
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS .......................................................
13
1 INTRODUÇÃO ..........................................................................................
14
2 OBJETIVOS ..............................................................................................
17
2.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................
17
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..................................................................
17
3 REVISÃO DE LITERATURA ....................................................................
18
3.1 ZONA COSTEIRA: CARACTERÍSTICAS E IMPACTOS ......................
18
3.2 DOENÇAS ASSOCIADAS A CONTAMINAÇÃO DE ÁREAS
BALNEARES ................................................................................................
22
3.2.1 BACTÉRIAS ........................................................................................
26
3.2.2 FUNGOS .............................................................................................
28
3.2.3 PROTOZOÁRIOS (PARASITAS) .......................................................
30
3.2.4 VÍRUS ..................................................................................................
31
3.3 QUALIDADE DAS PRAIAS ...................................................................
32
3.3.1 RESÍDUOS SÓLIDOS (LIXO) E EFLUENTES ...................................
33
3.3.2 FONTES DIFUSAS DE CONTAMINAÇÂO ........................................
35
3.3.3 BALNEABILIDADE ............................................................................
36
3.3.4 BIOINDICADORES DE QUALIDADE ................................................
38
3.4 CONTAMINAÇÃO DA AREIA DE PRAIA .............................................
40
3.5 PADRÕES DE QUALIDADE DAS AREIAS ..........................................
43
3.6 PROGRAMA DE MONITORAMENTO DA BALNEABILIDADE DO
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO ..................................................................
46
3.7 ADEQUAÇÃO DO PROGRAMA DE BALNEABILIDADE DO ES ........
48
4 MATERIAL E MÉTODOS .........................................................................
53
4.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ......................................
53
4.2 DESCRIÇÃO DOS PONTOS AMOSTRAIS ..........................................
55
4.3 COLETA DA ÁGUA MARINHA E AREIA .............................................
59
4.4 ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS ..........................................................
60
4.4.1 TÉCNICA DE TUBOS MÚLTIPLOS (NMP) ........................................
61
4.4.2 CULTIVO EM PLACAS (CPP) ....………………………………………..
62
4.4.3 COLORAÇÃO DE GRAM ...................................................................
62
7
4.5 ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS .............................................................
63
4.6 ANÁLISE ESTATÍSTICA ...…………………………………………….......
64
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ...............................................................
65
5.1 ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS .........................................................
65
5.1.1 COLIFORMES TOTAIS (CT) ..............................................................
65
5.1.2 COLIFORMES TERMOTOLERANTES (CTe) ....................................
68
5.1.3 BACTÉRIAS HETEROTRÓFICAS AERÓBICAS ...............................
71
5.1.4 COLORAÇÃO DE GRAM ...................................................................
73
5.1.5 ABUNDÂNCIA DE ESPÉCIES ...........................................................
73
5.2 HIDRODINÂMICA ..................................................................................
75
5.3 ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS .............................................................
80
5.4 USO E OCUPAÇÃO DO SOLO .............................................................
90
6 CONCLUSÃO ...........................................................................................
92
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................
93
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................
94
ANEXO 1........................................................................................................
106
ANEXO 2........................................................................................................
110
ANEXO 3 .......................................................................................................
113
8
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Delimitação da Zona Costeira do Estado do Espírito Santo ......................
19
Figura 2. Relações entre patógeno, ambiente e saúde humana ...............................
23
Figura 3. Categorias de classificação da água das praias do Espírito Santo ............
47
Figura 4. Localização da área de estudo e distribuição dos pontos amostrais na
orla de Manguinhos, Serra (ES).................................................................
56
Figura 5. Ponto 1: (a) Visão geral da área de amostragem no ponto 1C; (b) e (c)
Destaque para a presença de barcos de pesca e animais domésticos.....
58
Figura 6. Ponto 3: (a) Córrego Irema (IR); (b) Manilha de descarte de efluente
doméstico no Córrego Irema; (c) Crescimento excessivo de algas nas
proximidades do ponto 3 ............................................................................
58
Figura 7. Foto ilustrativa da metodologia de coleta de água do mar (a) e da coleta
de areia (b) da orla de Manguinhos, Serra – ES .......................................
59
Figura 8. Esquema ilustrativo da técnica de diluições seriadas para cultivo em
placas .........................................................................................................
60
Figura 9. Figura ilustrativa do método de cultivo em tubos múltiplos. Tubos
positivos de EC e VB com produção de gás (a), e tubos negativos de VB
e EC sem a produção de gás (b) ...............................................................
61
Figura 10. Coloração de Gram, exemplo de uma Lâmina com bactéria Gramnegativa (a) e uma Lâmina com bactéria Gram-positiva (b) ......................
63
Figura 11. Medição do pH da água através de pHmetro (a) e medição dos
parâmetros físico-químicos através de multiparâmetro (b) ........................
63
Figura 12. Densidade de coliformes totais encontrados na areia, água marinha e
córregos da orla de Manguinhos. Diferença significativa a 5% (*) e a 1%
(**) de probabilidade pelo teste t-student ...................................................
65
Figura 13. Densidade de coliformes termotolerantes encontrados na areia, água
marinha e córregos da orla de Manguinhos. Diferença significativa a *
5% e a ** 1% de probabilidade pelo teste t-student ...................................
68
Figura 14. Densidade de bactérias por Contagem Padrão em Placa (CPP) .............
71
Figura 15. Resultados da coloração de Gram das bactérias isoladas das amostras
de areia e água marinha nas estações de amostragem 1, 2 e 3 da orla
de Manguinhos ..........................................................................................
73
Figura 16. Abundância de espécies de bactérias encontradas na areia e na água
marinha da orla de Manguinhos, Serra (ES) .............................................
74
Figura 17. Modelo hidrodinâmico do padrão de corrente em condição de baixamar
em uma maré de sizígia para a Região Litorânea de Jacaraípe e
Manguinhos (Fonte: Núcleo de Modelagem / IEMA) .................................
76
9
Figura 18. Detalhe do ponto 3 (a) e pontos 1 e 2 (b) do modelo hidrodinâmico do
padrão de corrente em condição de baixamar em uma maré de sizígia
para a Região Litorânea de Jacaraípe e Manguinhos (Fonte: Núcleo de
Modelagem / IEMA) ...................................................................................
77
Figura 19. Modelo hidrodinâmico do padrão de corrente em condição de meia
maré enchente em uma maré de sizígia para a Região Litorânea de
Jacaraípe e Manguinhos (Fonte: Núcleo de Modelagem / IEMA) .............
78
Figura 20. Detalhe do ponto 3 (a) e pontos 1 e 2 (b) do modelo hidrodinâmico do
padrão de corrente em condição de meia maré enchente em uma maré
de sizígia para a Região Litorânea de Jacaraípe e Manguinhos (Fonte:
Núcleo de Modelagem / IEMA) ..................................................................
79
Figura 21. Localização dos pontos amostrais em relação ao Rio Jacaraípe, e em
detalhe o anteparo que direciona o fluxo da água (as setas indicam a
direção da corrente) ...................................................................................
80
Figura 22. Dados físico-químicos da água do mar em Manguinhos: (a) pH, (b)
Temperatura, (c) Oxigênio Dissolvido (OD), (d) Saturação de oxigênio,
(e) Salinidade, e (f) Condutividade Elétrica (CE) (* Significativo a 5% de
probabilidade pela ANOVA) .......................................................................
82
Figura 23. Isolinhas de salinidade em instante de meia-maré vazante de sizígia na
Região Litorânea de Jacaraípe e Manguinhos. As linhas em vermelho
destacam os limites entre águas doces (região mais a esquerda),
salobras (entre as linhas em vermelho) e salinas (a direita da isolinhas
de 30 UPS) (Fonte: Núcleo de Modelagem / IEMA) ..................................
83
Figura 24. Detalhe da região do ponto 3 (a) e dos pontos 1 e 2 (b) no Modelo de
isolinhas de salinidade em instante de meia-maré vazante de sizígia na
Região Litorânea de Jacaraípe e Manguinhos (Fonte: Núcleo de
Modelagem / IEMA) ...................................................................................
84
Figura 25. Dados físico-químicos da areia da praia de Manguinhos: pH, P, Mg, Na,
Ca, K, S.B., e C ..........................................................................................
87
Figura 26. Dados físico-químicos da areia da praia de Manguinhos: M.O., Fe, Mn,
S, Zn e B ....................................................................................................
88
Figura 27. Localização dos pontos amostrais em relação as Estações Elavatória
de Esgoto no loteamento Castelândia .......................................................
91
10
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Distribuição populacional nos municípios litorâneos do Espírito Santo ....
20
Quadro 2. Bactérias relacionadas a contaminação de praia e doenças associadas..
26
Quadro 3. Fungos relacionados a contaminação de praia e doenças associadas ....
29
Quadro 4. Parasitas relacionados a contaminação de praia e doenças associadas .
30
Quadro 5. Virus relacionados a contaminação de praia e doenças associadas ........
31
Quadro 6. Padrões adotados pela Resolução 274/00 para balneabilidade das
águas costeiras brasileiras ......................................................................
37
Quadro 7. Parâmetros analisados em estudos de qualidade de areia de praia .......
43
Quadro 8. Valores máximos recomendados (VMR), valores máximos admissíveis
(VMA) e novos valores máximos recomendados (NVMR) para
qualificação das areias de praias ............................................................
44
Quadro 9. Classificação da areia de praia segundo a Resolução SMAC Nº 81/2000
e Lei Municipal Nº 3.210/2001 .................................................................
45
Quadro 10. Revisão dos valores de referência da Resolução SMAC Nº 81/00 ........
45
Quadro 11. Estações de monitoramento da balneabilidade do litoral do município
da Serra ...................................................................................................
48
Quadro 12. Padrões de CT e CTe adotados pela Resolução CONAMA nº 20/86
para balneabilidade das águas costeiras brasileiras, revogada pela
Resolução CONAMA nº 274/00 ...............................................................
66
11
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Descrição dos pontos de amostragem 1 (A, B, C), 2 (A, B, C), 3 (A, B,
C), IR (Córrego Irema), LA (Córrego Laripe) e MA (Córrego Maringá) .....
57
Tabela 2. Análise de correlação de Pearson a 1% (**) e 5% (*) de probabilidade
para os parâmetros físico-químicos da água da orla de Manguinhos,
Serra/ES ....................................................................................................
85
Tabela 3. Valores mínimos e máximos dos resultados da análise química da areia
da orla de Manguinhos – Serra/ES ............................................................
86
12
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABAE – Associação Bandeira Azul da Europa
ALERJ – Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro
APHA – American Public Health Association
AN – Ágar Nutriente
CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente
CTe – Coliformes Termotolerantes
CT – Coliformes totais
EC – Caldo Escherichia coli
E.coli – Escherichia coli
EPA – United States Environmental Protection Agency
IEMA – Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Espírito
Santo
IR – Córrego Irema
LA – Córrego Laripe
MA – Córrego Maringá
NMP – Número mais Provável
SMAC – Secretaria Municipal do Meio Ambiente do Rio de Janeiro
UFC – Unidades Formadoras de Colônias
VB – Caldo Verde Brilhante Bile (2%)
WHO – Organização Mundial da Saúde
13
1 INTRODUÇÃO
As praias são essenciais para o desenvolvimento de atividades de lazer e
convivência da população, atividades de promoção da saúde física e mental,
como a prática de esportes e a realização de eventos culturais. Entretanto, a
contaminação desses ambientes, especialmente pelo descarte indiscriminado
de resíduos e efluentes, favorece a ocorrência de microorganismos
patogênicos na água, nas areias e nos recursos pesqueiros utilizados como
alimento, o que pode comprometer a saúde dos usuários (GHINSBERG et al.
1994, ALM et al. 2003, ALERJ 2006, ANDRAUS 2006, CARDOSO-DE-OLIVEIRA &
PINHATA 2008).
O monitoramento de parâmetros microbiológicos nas areias, água e
recursos pesqueiros, é de extrema importância, uma vez que tal medida pode
subsidiar ações que reduzem os riscos à saúde pública e ações de
recuperação do ambiente costeiro.
Estudos sobre a qualidade das águas
marinhas são produzidos constantemente (CETESB 2004, IEMA 2009, PMV
2009), oriundos principalmente de monitoramentos sistemáticos
realizados
pelo poder público em cumprimento à Resolução nº 274, do Conselho Nacional
do Meio Ambiente (CONAMA 2000).
A Resolução 274 define os critérios de balneabilidade em águas
brasileiras,
incluindo
metodologia
de
monitoramento,
indicadores
microbiológicos e valores de referência que classificam a água marinha
analisada como imprópria ou própria para execução de atividades de lazer de
contato primário. Essa Resolução não obriga o poder público a analisar a areia
da praia, porém no disposto no artigo 8º ela recomenda a avaliação das
condições parasitológicas e microbiológicas deste meio, para futuras
padronizações, reconhecendo a importância deste estudo.
A areia apresenta características distintas da água marinha, incluindo
fatores bióticos e abióticos que determinam a sobrevivência de microrganismos
patogênicos. Dependendo do organismo estudado, poderá haver maior
sobrevivência na areia em relação a água do mar. Como o contato do usuário
com a areia se dá por períodos prolongados e, em especial por crianças, há o
risco de veiculação de doenças também pela areia da praia.
14
Dentre as doenças que podem ser veiculadas pela areia estão a hepatite,
distúrbios gastrintestinais, desidratação, micoses e doenças parasitárias, sendo
que as crianças, idosos, e pessoas com baixa resistência são as mais
suscetíveis à exposição aos microrganismos a elas relacionados (CETESB
1998).
No Brasil os estudos que incluem a análise da qualidade das areias de
praia ainda são escassos, especialmente quando consideramos o extenso
litoral brasileiro. Além disso, como o monitoramento da ocorrência de cada
microrganismo potencialmente causador de doenças aos humanos é inviável
pelos custos e pelo tempo que demandaria. Por isso são estudados
microrganismos bioindicadores, ou seja, alguns microrganismos que sejam
indicadores da contaminação da areia, cuja ocorrência em determinada
quantidade aponta a presença dos microrganismos patogênicos e conseqüente
risco à saúde dos usuários da praia.
A atividade turística no Espírito Santo é responsável por 6,1% do PIB do
Estado e são investidos anualmente cerca de 6 milhões de reais na promoção
do turismo. Durante o ano, o Espírito Santo recebe mais de 3,5 milhões de
visitantes, sendo que as praias constituem os locais mais visitados (SEDETUR
2006).
De acordo com o Plano de Desenvolvimento Sustentável do Turismo do
Espírito
Santo
-
2025,
“o
turismo
capixaba
está
hoje
concentrado
principalmente no segmento de mercado do turismo de sol e mar, com as
praias funcionando como maior atrativo”. As características do nosso litoral e a
disponibilização de infra-estrutura adequada têm servido de atrativo para a
realização de eventos ligados ao esporte e lazer, incluindo-se o esporte
náutico, o esporte de praia e outras modalidades, principalmente na Região
Metropolitana (SEDETUR 2006).
Apesar do reconhecimento da relevância e da beleza das praias
capixabas para o desenvolvimento do Estado e da necessidade de
manutenção da qualidade ambiental das mesmas, cabe registrar que até o
momento não é conhecida as condições sanitárias das areias das praias
capixabas, pois nenhum estudo foi realizado com esse objetivo.
15
Acrescenta-se ainda que não foram estabelecidos valores de referência
ou limites que permitam a classificação das areias das praias capixabas,
quanto ao risco potencial pelo uso de contato primário. Esses limites poderão
ser obtidos a partir da análise conjunta de áreas que apresentam diversas
fontes de contaminação em relação às áreas com baixo risco de contaminação,
bem como a utilização de outros dados existentes em literatura específica.
Neste cenário, este estudo contemplou análises microbiológicas da água
do mar e das areias da orla de Manguinhos, Serra-ES, utilizadas para o lazer,
fornecendo dados para o monitoramento da melhoria da qualidade da areia e
servindo de subsídios para o estabelecimento de valores de referência para a
classificação das praias do ES.
16
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Avaliar a qualidade ambiental da água do mar e das areias da orla de
Manguinhos, no município de Serra, Espírito Santo.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
⋅ Verificar a ocorrência de microrganismos indicadores de contaminação
fecal em amostras de areia e água marinha;
⋅ Analisar a influência de interferências antrópicas na qualidade ambiental
da praia;
⋅ Relacionar
os
parâmetros
físico-químicos
com
os
padrões
microbiológicos obtidos.
17
3 REVISÃO DE LITERATURA
3.1 ZONA COSTEIRA: CARACTERÍSTICAS E IMPACTOS
A Zona Costeira é a área de interface entre o oceano e o continente.
Abriga recursos naturais e áreas estratégicas de interesse de toda a
população, portanto considerada patrimônio nacional pela Constituição Federal
de 1988 (BRASIL, 1988). Seus limites são definidos pelo Plano Nacional de
Gerenciamento Costeiro – PNGC, como sendo a faixa terrestre, que abrange
os Municípios que sofrem influência direta dos fenômenos ocorrentes no litoral,
e a faixa marítima, que compreende o espaço que se estende por doze milhas
náuticas, e a totalidade do mar territorial (BRASIL, 1988; 2004).
Considerando os recortes litorâneos, a zona costeira brasileira possui
extensão de 8.698 km, abrangendo 395 municípios litorâneos ou de
importância para o litoral. A área é de aproximadamente 514 mil km2, sendo
324 mil km2 de área territorial emersa e o restante compondo o mar territorial
(MMA, 2008).
Estima-se que 50% da população mundial vivem em cidades localizadas
a menos de 100 km da linha de costa (SHUVAL 2006 apud STEWART et al. 2008).
No Brasil, estudos mostram que 1/3 da população vive a beira-mar e cerca de
50% vive a menos de 200 km da costa (MMA 2008).
De acordo com a metodologia oficial das Cartas de Sensibilidade
Ambiental de derrames de Óleo (CARTAS SAO), o litoral brasileiro é dividido
em dezesseis bacias sedimentares, sendo que a porção norte do litoral
capixaba está incluída na Bacia do Espírito Santo e a porção sul incluída na
Bacia de Campos (MMA, 2008).
Dezenove municípios, divididos em cinco setores, compõem a zona
costeira do Estado do Espírito Santo. São estes, setor Extremo Norte:
municípios de Conceição da Barra, São Mateus e Jaguaré; setor Norte:
municípios de Sooretama, Linhares e Aracruz; setor Centro: municípios de
Fundão, Serra, Vitória, Cariacica, Viana e Vila Velha; setor Sul: municípios de
Guarapari, Anchieta e Piúma; e setor Extremo Sul: municípios de Cachoeiro de
Itapemirim, Itapemirim, Marataízes, Presidente Kennedy (Figura 1).
18
Figura 1. Delimitação da Zona Costeira do Estado do Espírito Santo.
Ainda que não sejam defrontantes com o mar, os municípios de Jaguaré,
Sooretama, Cariacica, Viana e Cachoeiro de Itapemirim estão incluídos na
Zona Costeira, uma vez que apresentam características de relevante
importância para o gerenciamento costeiro.
O quadro 1 foi elaborado apartir de dados obtidos pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE 2007) e apresenta a distribuição da população
nos municípios litorâneos do Espírito Santo divida por setor costeiro. Ressalvase que a zona costeira compreende ¼ da área do Estado do Espírito Santo,
porém concentra quase metade da população capixaba. Além disso,
municípios como: Conceição da Barra, Vitória e Guarapari, recebem grande
19
quantidade de turistas, especialmente no período do verão, aumentando o
número de pessoas nesse período.
Quadro 1. Distribuição populacional nos municípios litorâneos do Espírito Santo.
SETOR COSTEIRO
POPULAÇÃO
(Km ) / (%)
1
(hab.) / (%)1
1.188 / 2,6
26.230 / 0,8
SÃO MATEUS
2.343 / 5,1
96.390 / 2,8
LINHARES
3.502 / 7,6
124.564 / 3,6
ARACRUZ
1.436 / 3,1
73.358 / 2,1
FUNDÃO
280 / 0,6
15.209 / 0,4
SERRA
553 / 1,2
385.370 / 11,2
VITÓRIA
93 / 0,2
314.042 / 9,1
VILA VELHA
209 / 0,5
398.068 / 11,5
GUARAPARI
592 / 1,3
98.073 / 2,8
ANCHIETA
405 / 0,9
19.459 / 0,6
PIÚMA
74 / 0,2
16.249 / 0,5
ITAPEMIRIM
557 / 1,2
30.833 / 0,9
MARATAÍZES
135 / 0,3
31.221 / 0,9
PRESIDENTE KENNEDY
586 / 1,3
10.307 / 0,3
46.077,5
3.453.647
NORTE
CENTRO
SUL
EXTREMO SUL
ESPÍRITO SANTO
1
litoral
2
CONCEIÇÃO DA BARRA
EXTREMO NORTE
O
ÁREA
MUNICÍPIO
Em relação a totalidade do Estado.
capixaba
apresenta
geomorfologia
caracterizada
por
afloramentos cristalinos pré-cambrianos, planícies flúvio-marinhas quaternárias
e tabuleiros terciários da formação barreiras. Compreende uma grande
diversidade de tipologias de praias de diferentes comportamentos erosivos e
construtivos (MUEHE 2006).
20
O clima é caracterizado por chuvas tropicais de verão, com estação seca
no outono e inverno. A temperatura média anual é de 22ºC, ficando as
temperaturas a média das máximas entre 28º e 30ºC e mínimas em torno de
15ºC. Os ventos de maior freqüência e intensidade são os ventos alísios,
oriundos do quadrante NE-ENE (maior parte do ano), e os ventos relacionados
a frentes frias, oriundos do quadrante SE. As ondas mais freqüentes
apresentam altura entre 0,9 e 0,6 metros, podendo alcançar até 1,5 metros
(MUEHE 2006).
Quanto aos recursos naturais, nota-se a presença de deltas, falésias,
recifes de arenito, cordões litorâneos, foz de rios, costões rochosos, ilhas,
lagunas, manguezais, vegetação de restinga, praias arenosas, várzeas,
turfeiras, dunas, falésias, estuários e marismas. Esses ambientes abrigam
inúmeras espécies de flora e fauna, incluindo espécies de uso comercial,
endêmicas e ameaçadas de extinção (MMA 2008).
Verifica-se
também
o
desenvolvimento
industrial
acelerado
nos
municípios litorâneos, incluindo, principalmente, as indústrias siderúrgicas e as
indústrias de papel, além da presença de importantes pólos de movimentação
de minérios e de um grande complexo portuário. Tal desenvolvimento vem
provocando uma notável degradação ambiental, incluindo a contaminação do
ambiente costeiro por metais e outros poluentes característicos de efluentes
industriais.
Outros problemas ambientais existentes são ocasionados pela forma
inadequada de ocupação. Dentre eles estão: expansão urbana em áreas
protegidas ou impróprias para ocupação, desmatamento de vegetação nativa,
pesca predatória e a disposição inadequada de resíduos e efluentes
domésticos.
Como conseqüência disso, constata-se a intensificação de processos
erosivos e a poluição das praias que freqüentemente apresentam elevados
índices de contaminação fecal. Esses índices são superiores aos aceitáveis
para as atividades de recreação, pesca e coleta de recursos para consumo
humano.
21
O trecho da costa capixaba onde observa-se os maiores impactos sobre o
meio ambiente, é o trecho da Grande Vitória, que concentra 63% da população
residente no litoral e ocupa apenas 7% da zona costeira capixaba (IBGE 2007).
O crescimento desordenado da malha urbana e a ampliação de plantas
industriais agravam cada vez mais o processo de poluição ambiental nessa
região.
3.2
DOENÇAS
ASSOCIADAS
A
CONTAMINAÇÃO
DE
ÁREAS
BALNEARES
Surtos de diversas doenças relacionadas à recreação no ambiente de
praia, ocorrem em áreas balneares de todo o mundo, especialmente nos
períodos de alta temporada (verão). Diversos fatores contribuem para a
ocorrência desses surtos, que são diretamente relacionados com o grau de
contaminação do ambiente, características do patógeno e da população
afetada.
A figura 2 apresenta um resumo da relação entre patógeno, ambiente e
ser humano, distinguindo nas fases I, II, III e IV os faotores envolvidos nessa
relação. Essa abordagem permite a compreenção das interrelações entre
esses fatores e dos diversos pontos de controle e intervenção possíveis.
A fase I compreende a chegada do patógeno ao ambiente costeiro que se
dá a partir de fontes pontuais e difusas. Geralmente, a contribuição
predominante é de fontes pontuais de contaminação, como o descarte de
efluentes e resíduos contaminados na areia e água da praia. O aporte de
efluente doméstico é uma das principais fontes, sendo o grau de contaminação
desse efluente dependente da incidência de doenças na população que o
produz (STEWART et al. 2008).
22
Figura 2. Relações entre patógeno, ambiente e saúde humana (adaptado de STEWART
et al. 2008).
Observa-se que quanto maior a incidência de doenças na população,
maior o aporte de microrganismos patogênicos no efluente e o consequente
aumento do risco de disseminação de doenças pelo contato com o ambiente
que recebe esse efluente. Como apenas uma parte desses organismos tem a
capacidade de sobreviver e desenvolver no ambiente, com o aumento da
contaminação, aumenta proporcionalmente a ocorrência de microrganismos
com essa habilidade (STEWART et al. 2008).
23
A redução e o tratamento de efluentes domésticos e a extinção dos
pontos de descarte na costa, são as intervenções possíveis nesta fase. Ações
de educação ambiental e controle nas áreas urbanas adjacentes às praias
podem reduzir a contaminação, uma vez que parte do esgoto chega às praias
de forma clandestina.
A presença de animais domésticos nas praias constitue fator de risco a
saúde pública, pois podem haver organismos patogênicos nas fezes desses
animais. Diversas espécies de parasitos patogênicos ao homem foram
encontrados na areia de praia, tais como: S. stercoralis, Toxocara spp, A.
lumbricoides, Ancilostomídeos e outras espécies veiculadas por animais que
transitam pela praia (GONZÁLES-CÁCERES et al. 2004).
A fase II apresenta os faotores envolvidos na sobrevivência dos
microrganismos patogênicos no ambiente. No caso das areias da praia os
principais fatores são: características do ambiente, granulometria da areia, teor
de matéria orgânica, salinidade, insolação; eventos externos, como períodos de
chuva prolongados, revolvimento da areia, ressaca e outros. As características
do patógeno também determinam a sua sobrevivência, pois cada patôgeno tem
sua faixa de tolerância às condições ambientais (EPA 2009).
A precipitação pluviométrica afeta significativamente a freqüência de
fungos na areia da praia e água marinha, pois após a chuva o número de
fungos é superior ao do período seco (PINTO et al. apud LOUREIRO et al. 2005).
Esta afirmação é corroborada por LOUREIRO et al. (2005), nos resultados do
estudo realizado por este autor nas praias de Olinda – PE.
Com o desenvolvimento da população patogênica no ambiente (Fase II)
ocorrem trocas genéticas com os microrganismos nativos, havendo a
possibilidade de troca de material genético que confere patogenicidade e/ou
resistência (BONILLA et al. 2006).
Os métodos tradicionais de avaliações do nível de contaminação das
áreas costeiras, consistem na quantificação de microrganismos patogênicos ou
indicadores de contaminação fecal. Entretanto, mais recentemente têm sido
utilizadas as características de resistência dos organismos encontrados em
24
ambientes contaminados como indicadoras da fonte de contaminação, se
antrópica ou não.
O gênero Enterococcus, por exemplo, mostra resistência intrínseca a
diversos antibióticos e pode adquirir rapidamente resistência a outros
antibióticos a partir de plasmídios. A característica de resistência a antibióticos
é diferenciada nas espécies de origem humana, das encontradas no ambiente
natural ou oriundas de animais silvestres (CARDOSO-DE-OLIVEIRA & PINHATA
2008).
Além disso, as praias que apresentam elevados índices de contaminação
fecal de origem humana, podem contribuir com a disseminação de resistência
entre bactérias, o que resulta na redução da eficácia de certos antibióticos no
combate a doenças infecto-contagiosas (CARDOSO-DE-OLIVEIRA & PINHATA
2008).
O comportamento do usuário (Fase III) determina o grau de exposição a
doenças. Hábitos de se enterrar na areia, de nadar próximo ao deságüe de
cursos d’água e outros, podem ampliar as chances de infecção. Os indívidos
com baixa imunidade, crianças, idosos e mulheres em período gestacional são,
também vulneráveis, apresentando maior risco a um quadro infeccioso
(STEWART et al. 2008).
No litoral de São Paulo foi realizado um estudo epidemiológico conduzido
pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São
Paulo (CETESB), que analisou a correlação entre a incidência de doenças
gastrointestinais em banhistas e os índices de contaminação fecal das águas
das praias (CETESB 1999).
Os resultados desse estudo indicaram que as pessoas expostas à água
marinha apresentaram mais sintomas do que aqueles que não tomaram banho
de mar, sendo significativamente maior o risco de ocorrência de sintomas de
doenças de veiculação hídrica para o grupo exposto à água do mar. A praia de
pior qualidade hídrica também apresentou maior incidência de doenças
gastrintestinais (CETESB 1999).
25
Após a infecção (Fase IV), ainda que os indivíduos doentes sejam
rápidamente tratados, o efluente por eles gerados contém microrganimos
patogênicos. Se não forem destinados adequadamente, inicia-se novamente o
cilco de contaminação (Fase I).
3.2.1 BACTÉRIAS
O quadro 2 apresenta as espécies de bactérias patogênicas que podem
ser encontrados na água e/ou areia de praias e as doenças e sintomas a eles
associados.
Quadro 2. Bactérias relacionadas a contaminação de praia e doenças associadas
(MENDONÇA-HAGLER et al. 2001, ABAE 2002, EPA 2002, BOUKAI 2005 e consulta a
profissional da área).
Patógeno
Aeromonas hydrophila
Campylobacter jejuni
Chlamydia psittaci
Cyanobactéria
Clostridium perfrigens
Escherichia coli
Enterococcus
Flavobacterium
meningocepticum
Helicobacter pylori
Legionella pneumoniae
Legionella pneumophila
BACTÉRIAS PATOGÊNICAS
Doença
Sintomas
Doença diarréica aguda
Diarréia
Gastrenterite
Diarréia
Ornitose (doença
Febre, cefaléia, mialgia,
infecciosa aguda)
calafrios, tosse
Câncer hepático
Diarréia
Início súbito de cólica
abdominal, diarréia e náusea.
Gastrenterite
Dor abdominal aguda, diarréia
Enterite necrotizante ou
sanguinolenta, vômitos,
doença de Pigbel
choque e peritonite, com 40%
de letalidade.,
Gastroenterites
Vômito, diarréia, morte*
Endocardite, Infecção
Febre, calafrios, sudorese
pélvia e intra-abdominal,
(suor excessivo),
Infecção urinária,
emagrecimento, mal estar,
meningite, septicemia.
perda de apetite, tosse, dor de
cabeça, náuseas e vómitos.
Causa ocasional de infecção
Meningite
hospitalar, incluindo a
meningite neonatal.
A infecção pode ser
sintomática ou assintomática.
Gastrite, úlcera
70% das infecções são
assintomáticas
Tosse produtiva, febre
elevada, dispneia e hipoxémia,
Pneumonia
com pouca resposta aos ßlactâmicos.
Doença do legionário ou
Doença respiratória aguda.
26
Legionelose
Leptospira interrogans
Leptospirose (Enfermidade
de Weil)
Pseudomonas
aeruginosa
Infecções*
Salmonella
typhimurium
Salmonelose (doença
infecciosa aguda)
Salmonella typhi
Febre tifóide
Shigella sp
Shiguelose
Staphylococcus aureus
Staphylococcus
epidermidis
Sindrome de choque
tóxico, Gastroenterite,
Impetigo,
Foliculite,Endocardite,
osteomielite,Pnemonia.
As infecções causadas por
esta espécie são
geralmente de origem
hospitalar (nosocomiais).
Sintomas inespecíficos como
fadiga, anorexia, cefaleias,
vómitos e diarreia, associados
a febre, tosse seca e dor
torácica tipo pleurítica.
Infecções purulentas graves,
icterícia, febre
Infecções no olho e ouvido,
infecções urinárias, infecções
no sistema respiratório,
dermatites, infecções no tecido
mucoso, bacteremia e outros
Diarréia, vômitos, dor
abdominal, desidratação
Febre alta, diarréia, ulceração
no intestino delgado
Disenteria bacilar, diarréia
hipotensão, febre, eritemas
difusos; vómitos, diarreia
aquosa, dores abdominais;
infecção da pele
Pústulas da acne, furúnculo,
abscessos, endocardite
Diarréia grave, desidratação,
abruptamente uma diarréia
Vibrio cholerae
Cólera
aquosa e serosa, como água
de arroz
Quadros explosivos de diarréia
Vibrio
aquosa acompanhadas
Goastroenterites
parahaemolyticus
náusea, vómitos e dor
abdominal.
Doença que afeta
Vibrio harveyi
Vibriose luminosa
comercialmente cultivados
camarões peneídeos
Vómitos, diarréia, Dor
Gastroenterite, Celulite,
abdominal, e uma dermatite
Vibrio vulnificus
septicemia
com bolhas e infecção
generalizada
Diarréia, febre, dores
abdominais. Em crianças mais
Yersinose, gastroenterites,
velhas e em adultos, os
Yersinia enterolitica
bacteremias
sintomas predominantes são
dor abdominal no lado direito e
febre.
* Em populações susceptíveis (imunodeprimidas, crianças, idosos, mulheres em
período gestacional)
27
Nos Estados Unidos as infecções bacterianas mais comuns são causadas
por Campylobacter, Salmonella, Escherichia coli e Shigella, totalizando mais de
cem mil casos documentados por ano e doze vezes esse valor de casos não
documentados. Destes, 90% estão relacionados a eventos esporádicos (DENNO
et al. 2009). Naquele estudo o contato com águas recreacionais naturais foi um
fator de risco fortemente relacionado à incidência de infecções por
Campylobacter, Salmonella e Shigella, já as infecções causadas por
Escherichia coli estiveram mais relacionadas ao uso de piscinas.
Na ocorrência de surtos de infecções bacterianas em um determinado
local, algumas atitudes são tomadas e muitas informações são transmitidas
pela mídia. Entretanto, as ocorrências esporádicas, que afetam principalmente
crianças, não recebem o mesmo tratamento. Os surtos de doenças geralmente
estão ligados ao consumo de alimentos contaminados, já as infecções
esporádicas estão mais relacionadas à exposição à água e animais
contaminados.
DENNO et al. (2009) concluem que dentre os fatores de risco de infecção
bacteriana, as águas recreacionais são tão importantes quanto a alimentação,
apesar da regulação quanto aos alimentos ser mais comum e mais rígida.
3.2.2 FUNGOS
Os fungos são considerados os microrganismos mais ativos na
decomposição de matéria orgânica, tanto na areia, quanto na água do mar,
sendo descritas mais de 500 espécies presentes no ambiente marinho (GOMES
et al. 2008). O quadro 3 apresenta os principais fungos patogênicos que podem
ser encontrados na água e/ou areia de praia e as doenças e sintomas a eles
associados.
28
Quadro 3. Fungos relacionados a contaminação de praia e doenças associadas
(MENDONÇA-HAGLER et al. 2001, ABAE 2002, EPA 2002, BOUKAI 2005, e consulta a
profissional da área).
Patógeno
FUNGOS PATOGÊNICOS
Doença
Aspergillus candidus, A.
ochraceus and A.
fumigates
Aspergiloses
Candida albicans
Candidíase (sapinho ou
brotoeja)
Chrysosporium sp
Cryptococcus neoforman
Criptococose (Torulose)
(micose profunda)
Epidermophyton sp
Dermatofitoses ou Tinhas
Fusarium sp
Ceratite micótica,
onicomicose e
hyalohyphomycosis
Histoplasma capsulatum
Histoplasmose (micose
profunda)
Microsporum nanum
Tinea capitis e Tinea
corporis
Phaeoannellomyces
werneckii
Tinea nigra (micose
superficial)
Rhodotorula sp
Fungemia, meningite
fungica e Micoses em
Imunossuprimidos
Scopulariopsis sp
Scedosporium sp
Scytalidium sp
Trichophyton
mentagrophytes,
T. rubrum
Trichosporum cutaneum
Wallemia sp
Onicomicoses humanas
ou micoses pulmonares
Infecção subcutânea,
osteomielite e artrite
geralmente póstraumático. Pneumonia,
Meningoencephalitis e
endocardite.
Queratomicoses
Pé de atleta
Sintomas
Tosse, expectoração de
catarro,fraqueza, dor torácica, chiado
no peito, febre, perda de peso.
Pontos vermelhos na pele, coceira nos
genitais e em mucosas
Infecções na pele e unhas
Febre, tosse, dor toráxica
Infecções do couro cabeludo e mais
raramente das unhas e pele. Micoses
superficiais que ocorrem em pêlos,
unhas e pele.
Infecções oculares, mais raramente
infecções da pele e das unhas, e
infecções sistêmicas em doentes
imunodeprimidos (vítimas de
queimaduras e transplante de medula
óssea).
Infecção assintomática, febre, tosse,
dor toráxica, mal estar geral,
debilidade e anemia
Infecções do couro cabeludo e da pele
Infecção crônica da camada córnea da
epiderme com aparecimento de
máculas castanho-enegrecidas
Infecções em pacientes
imunodeprimidos.
Septicemia por fungo (infecção
generalizada), meningite e infecção
em pele.
Infecções da córnea e das unhas
Infecções sub-cutâneas (micetomas) e
infecções profundas, ou pneumonias
em imunodeprimidos
Infecções da pele e unhas das mãos e
dos pés
Dermatofitose inflamatória nos pés, no
corpo, nas unhas, na barba e no couro
cabelo.
Infecções de pele e tecidos
Infecções sub-cutâneas
29
3.2.3 PROTOZOÁRIOS (PARASITAS)
O quadro 4 apresenta os parasitas que podem ser encontrados nas águas
e/ou areias das praias e as doenças e sintomas a eles associados.
Quadro 4. Parasitas relacionados a contaminação de praia e doenças associadas
(MENDONÇA-HAGLER et al. 2001, ABAE 2002, EPA 2002, BOUKAI 2005 e consulta a
profissional da área).
Patógeno
Acanthamoeba
Ancylostoma
braziliensis
Ancylostoma Caninum
PROTOZOÁRIOS / PARASITAS
Doença
Ceratite amebiana, otite,
encefalite
Larva migrans cutânea
(LMC) (bicho geográfico)
Larva migrans cutânea
(LMC) (bicho geográfico)
Ancylostoma duodenale
Ancilostomíase (Amarelão)
Ascaris lumbricóides
(lombriga)
Ascaridíase
Balantidium coli
Cryptosporidium
Balantidíase
Criptoporidíase
Entamoeba hystolytica
Amebíase
Giardia lamblia
Giardíase
Naegleria fowleri
meningoencefalite amebiana
Necator americanus
Ancilostomíase (Amarelão)
Pfiesteria
Síndrome humana da
doença de Pfiesteria (PHIS)
Toxocara canis
Larva migrans visceral (LMV)
(toxocaríase)
Toxocara cati
Larva migrans visceral (LMV)
(toxocaríase)
Toxoplasma gondii
Toxoplasmose
Sintomas
Erupção vermelha, coceira intensa
Erupção vermelha, coceira intensa
Dor abdominal, perda de apetite e
geofagia
Podem permanecer assintomáticos.
Podem causar danos viscerais,
peritonite e inflamação. obstrução do
intestino por um bolo de vermes
(observadas principalmente em
crianças) e obstrução das bile ou
duto pancreático.
Diarréia, disenteria
Diarréia
Diarréia prolongada com
sangramento, abscessos do fígado e
do intestino delgado
Diarréia média a severa, náusea,
indigestão
Doença fatal, inflamação no cérebro
Desconforto abdominal, diarréia e
cólicas, anorexia, perda de peso e
anemia ferropriva
Perdas de memória, prejuízos
cognitivos, dores de cabeça,
pruridos da pele, a dor abdominal, a
diarreia secretora, a irritação
conjunctival, e o broncoespasmo.
Febre, problemas pulmonares, como
tosse, troncos e sibilos, convulsões
e ocasionalmente exantemas
parecidos com urticária
Febre, problemas pulmonares, como
tosse, troncos e sibilos, convulsões
e ocasionalmente exantemas
parecidos com urticária
Cegueira
30
SILVA et al. (2009) reportam a análise de enteroparasitas realizada nas
areias das praias de Porto de Galinhas, Muro Alto e Maracaípe no sudeste do
Estado de Pernambuco. A contaminação mais alta ocorreu na praia de Porto
de Galinhas, na qual 42% das amostras estavam contaminadas com larvas de
Ancylostoma e 13% com ovos de Trichuris sp. Na praia de Muro Alto, 30% das
amostras estavam contaminadas com larvas de Ancylostoma e 13%
contaminadas com Ascaris lumbricoides.
3.2.4 VÍRUS
O quadro 5 apresenta os vírus que podem ser encontrados na água e/ou
areia de praias e as doenças e sintomas a eles associados.
Quadro 5. Virus relacionados a contaminação de praia e doenças associadas
(MENDONÇA-HAGLER et al. 2001, ABAE 2002, EPA 2002, BOUKAI 2005 e consulta a
profissional da área).
PATÓGENO
Adenovirus (31 tipos)
Astroviruses
Calicivírus (como os vírus
Norwalk e Sapporo)
VIRUS
DOENÇA
Doenças respiratórias
Gastroenterites
SINTOMAS
Infecção ocular, diarréia
Vômito, diarréia
Gastroenterites
Vômito, diarréia
Coxsackieviruses
Encefalites, meningites,
Síndrome mão-pé-boca
Echovirus
Infecção gastrointestinal e
erupções cutâneas.
Meningite asséptica
Enterovirus (67 tipos, ex.
poliomielite, echo,
coxsackie vírus)
Gastroenterites
Poliovirus
Poliomelite
Reovirus
Rotavirus
Virus da Hepatite (A e E)
Gastroenterites
Gastroenterites
Hepatites infecciosas
* Muito raro
Meningite asséptica,
diabetes, herpangina,
conjuntivite
Erupções, doenças
respiratórias, as síndromes
similares ao crupe; as
doenças inespecíficas
acompanhadas de febre
Diarréia, anomalias
cardíacas e meningites*
Fraqueza muscular e
agudo paralisia flácida.
Pode ocorrer diferentes
tipos de paralisia.
Vômito, diarréia
Vômito, diarréia
Icterícia, febre
31
3.3 QUALIDADE DAS PRAIAS
A Lei Nacional de Gerenciamento Costeiro conceituou praia como sendo
a área coberta ou descoberta periodicamente pelas águas, acrescida da faixa
seguinte de material detrítico, como: areias, cascalhos, seixos e pedregulhos
até o limite onde inicia a vegetação natural, ou, em sua ausência, onde começa
outro ecossistema. As praias arenosas apresentam a área emersa composta
predominantemente por sedimento não consolidado, ou seja, areia, havendo
movimentação de sedimento ao longo de toda a sua extensão, por ação
predominante de correntes de ventos e maré (BRASIL 1988).
Fatores como a morfologia da praia, proximidade de costões rochosos,
rios e estuários, o regime de ondas, ventos e maré, granulometria do
sedimento, morfologia do fundo, padrão de circulação, correntes e marés,
inclinação da praia, freqüência de fenômenos meteorológicos de grande
escala, como frentes e ressacas, e a interação entre eles determinam a
dinâmica específica de cada praia (VELOSO et al. 1997).
Diversos aspectos podem ser considerados para avaliação da qualidade
das praias balneares, destacando-se os aspectos ambientais como a
abundância de recursos naturais e o estado de conservação dos mesmos.
A vegetação de restinga, típica de praias, é protegida por lei e não deveria
ser removida (CONAMA 2002). Entretanto, é comum encontrá-la degradada
pelo avanço de estruturas de urbanização, pela ocupação por quiosques, e
para abertura de vias, estacionamento de veículos e pelo pisoteio. A
vegetação, quando presente, promove a fixação do sedimento arenoso e
delimita a área de uso da faixa de areia. A vegetação também funciona como
locais de acúmulo e aprisionamento de resíduos transportados pelo vento, e de
habitat para pequenos animais que podem ser vetores de doença.
A disseminação de espécies exóticas como Terminalia catappa
(castanheiras) e Casuarina equisetifolia (casuarinas), para fins paisagísticos ou
sombreamento, descaracteriza a vegetação natural, podendo causar impacto
sobre a fauna e outros danos ainda não estudados. O acúmulo de folhas e o
sombreamento no entorno de castanheiras, por exemplo, cria um ambiente
32
favorável ao desenvolvimento de fungos e bactérias, e são locais preferidos
pelos usuários para a permanência por períodos prolongados.
A urbanização adequada pode conferir elementos de conforto ao usuário,
como sombreamento, banheiros, quiosques e restaurantes. Para tanto, deve-se
manter um distanciamento adequado da praia, a fim de não causar degradação
do ambiente natural.
Quando não são considerados os aspectos naturais e paisagísticos da
praia, a urbanização modifica para pior a estética da paisagem e pode interferir
no processo de transporte sedimentar, tanto eólico como marinho, provocando
desequilíbrios no balanço sedimentar e conseqüentemente na estabilidade da
linha de costa (MUEHE 2001).
3.3.1 RESÍDUOS SÓLIDOS (LIXO) E EFLUENTES
Diversos registros da ocorrência e distribuição de resíduos sólidos em
praias foram realizados no Brasil (ARAÚJO & COSTA 2004, W ETZEL et al. 2004,
SANTOS et al. 2005, IVAR
DO
SUL & COSTA 2007, ARAÚJO & COSTA 2007) e em
outros países (REES & POND 1995, MADZENA & LASIAK 1997, PEREIRA et al.
2001, KUSUI & NODA 2003, SOMERVILLE et al. 2003). O conhecimento da origem
e composição do resíduo permite a proposição de medidas de controle dessa
poluição.
Os resíduos comumente encontrados na praia podem ter sido
descartados em áreas distantes e transportados até a praia pelo vento, maré,
corrente marinha, rio, canal de drenagem e de descargas de águas residuais,
industriais e urbanas. Incluem embalagens de produtos de limpeza, garrafas
pet e outros objetos de uso doméstico.
Os resíduos gerados e descartados na praia são materiais relacionados
às atividades exercidas pelos usuários da praia, como os plásticos e
embalagens de produtos e alimentos consumidos na praia. Incluem pontas de
33
cigarro, garrafas e latas de bebidas, restos de alimento e partes do corpo,
como cabelos, unhas e escamação da pele.
Há também os resíduos da atividade pesqueira que são lançados
diretamente sobre a água e areia da praia, como vísceras, sobras de pescado,
fauna acompanhante, isca artificial, sinalizadores e restos de materiais de
pesca, contendo matéria orgânica e bactérias.
O acúmulo de resíduos gera riscos a saúde humana em decorrência da
existência de fragmentos de vidro, metais cortantes e vetores de doenças,
riscos para a fauna aquática e terrestre, impacto econômico como: prejuízos
para a pesca, declínio de atividades de lazer, comércio e turismo (hotéis,
quiosques, esportes, eventos), e conseqüentes gastos públicos com a limpeza
das praias.
Os resíduos servem de alimento e abrigo para vetores de doenças como
ratos, aves e cachorros, e são fonte de matéria orgânica e habitat para
microrganismos patogênicos, podendo transportar patógenos de outros
ambientes para a areia e água do mar.
As praias utilizadas para o lazer devem ser dotadas de estruturas
adequadas de coleta, transporte, tratamento e destinação final de resíduos e
efluentes.
As praias arenosas geralmente apresentam o deságüe natural de rios ou
córregos, que em diversos casos contribuem com o sedimento que compõe a
própria praia. No entanto, com a contaminação dos rios esse sistema constitui
uma fonte de poluição da praia. Somam-se a isso, o efluente produzido em
embarcações e lançado próximo à costa, e os efluentes advindos da
urbanização do entorno das praias, da rede de drenagem da água de chuva
(runoff), os efluentes industriais e de estações de tratamento de esgoto.
Em geral, as redes coletoras de esgoto estão inseridas em galerias de
drenagem da água pluvial, que por sua vez deságuam em rios ou direto na
costa. Quando não recebem a manutenção adequada de suas estruturas ou
quando sua capacidade é ultrapassada, ocorrem extravasamentos do esgoto
na rede pluvial. Além disso, é comum a ligação clandestina de esgoto na rede
34
pluvial por moradores e empreendedores com o intuito de não pagar as taxas
devidas ao poder público ou por não se enquadrarem na legislação pertinente.
O despejo de efluente doméstico também transporta matéria orgânica e
nutrientes, que favorecem o desenvolvimento desses organismos. Além do
constante input de organismos patogênicos, existe ainda a disseminação de
patógenos que possuem genes de resistência a antibióticos que podem ser
transmitidos aos microrganismos presentes no ambiente (OLIVEIRA & PINHATA
2008).
3.3.2 FONTES DIFUSAS DE CONTAMINAÇÃO
As fontes difusas de poluição contribuem de forma significativa para a
contaminação das praias, sendo equivalentes ou superiores às fontes pontuais.
A United States Environmental Protection Agency (EPA), responsável pela
gestão ambiental dos Estados Unidos da América (EUA), estima que 60-80%
das águas contaminadas tem como principal contribuição as fontes difusas, tais
como o runoff de áreas urbanas e agricultura, vazamentos no sistema de
coleta, transporte e tratamento de esgoto, descarte de efluentes de barcos e
deposição de aerosóis atmosféricos (STEWART et al. 2008).
Os próprios usuários das praias podem constituir uma fonte de poluição.
Conforme relatado por STEWART et al. (2008), alguns estudos apresentam uma
correlação entre a densidade de usuários e a incidência de doenças
relacionadas, mostrando que os usuários podem deixar uma quantidade
significativa de microrganismos no ambiente costeiro, especialmente o
Enterococcos e o Staphylococcus aureus.
STEWART et al. (2008) indicam o uso de S. aureus como um indicador do
impacto oriundo dos usuários, pois este organismo geralmente está presente
no esgoto em baixa densidade (103 ufc/100ml) em relação a Enteroccos (104 a
105 ufc/100ml), porém apresenta densidade elevada em áreas com alta
freqüência de usuários.
35
O conhecimento da contaminação oriunda de fontes difusas é limitado,
sendo, portanto, difícil a determinação dos indicadores mais apropriados para
avaliar tal contaminação. Para ampliar o conhecimento sobre a contaminação a
partir de fontes difusas os estudos devem incluir principalmente a identificação
de patógenos associados, a análise da abundância desses patógenos, análise
do risco à saúde humana, bem como formas para identificação das fontes de
contaminação com o objetivo de extingui-las (STEWART et al. 2008).
3.3.3 BALNEABILIDADE
Balneabilidade é o termo utilizado para designar a qualidade da água para
fins de recreação de contato primário, como atividades de lazer ou prática de
esportes, por meio de critérios previamente estabelecidos. A principal
preocupação está relacionada ao risco de transmissão de doenças pela água
do mar.
Os critérios de balneabilidade são definidos por políticas públicas,
portanto podem variar de um local para outro. Geralmente, são critérios
baseados no monitoramento de indicadores, cujos resultados são confrontados
com padrões de referencia, que refletem as condições de balneabilidade em
um determinado local, definindo inclusive, classes de qualidade para melhor
orientação dos usuários.
No Brasil, o Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA trata da
qualidade das águas costeiras nas Resoluções nos 274/00 e 357/05. A
Resolução 357/05 trata da classificação dos corpos d’água continentais e
costeiros, das diretrizes para seu enquadramento e estabelece condições e
padrões de lançamento de efluentes (CONAMA 2005).
A Resolução nº 274/00 (ANEXO 1) define os critérios de balneabilidade
em águas brasileiras, incluindo metodologia de monitoramento, indicadores
microbiológicos e valores de referência que classificam a água marinha
36
analisada como imprópria ou própria para execução de atividades de lazer de
contato primário (CONAMA 2000).
Segundo a Resolução nº 274/00, é classificada como água doce aquela
com salinidade igual ou inferior a 0,50º/00; água salobra aquela com salinidade
entre 0,50º/00 e 30º/00; e salina aquela com salinidade igual ou superior a
30º/00. Quanto a balneabilidade, conforme disposto na resolução, as águas
costeiras são classificadas utilizando como referência a densidade de
microrganismos indicadores de contaminação fecal, conforme os valores de
referência apresentados no quadro 6.
Os valores estabelecidos na Resolução 274 referem-se a monitoramentos
de periodicidade semanal ou freqüência superior, sendo considerado um
conjunto de 80% do total das amostras obtidas em cinco semanas
consecutivas, e a densidade de microrganismos em 100 mL da amostra.
Quadro 6: Padrões adotados pela Resolução 274/00 para balneabilidade das águas
costeiras brasileiras.
PRÓPRIA
IMPRÓPRIA
INDICADOR
EXCELENTE
MUITO BOA
SATISFATÓRIA
Coliformes fecais
(termotolerantes)
< 250
< 500
< 1000
> 1000
Escherichia coli
< 200
< 400
< 800
> 800
Enterococos
< 25
< 50
< 100
> 100
Para classificação das águas costeiras como impróprias para atividades
de contato primário, a Resolução 274 adota também os seguintes critérios:
Valor da última amostragem superior a 2500 coliformes fecais
(termotolerantes), ou 2000 Escherichia coli ou 400 Enterococos por
100mL da amostra;
Incidência elevada ou anormal de enfermidades relacionadas a
qualidade hídrica, na região;
37
Presença de resíduos e efluentes, como esgoto sanitário, óleos, graxas
e outras substâncias que tragam risco a saúde dos usuários ou que
tornem desagradável a recreação; e
Floração de algas ou outros organismos que ofereçam risco aos
usuários.
Reconhecendo a importância da análise da areia, a Resolução nº 274,
recomenda aos órgãos ambientais a avaliação das condições parasitológicas e
microbiológicas da areia de praia, porém não estabelece indicadores ou valores
de referência para o monitoramento e classificação das areias. Não obstante
esta resolução sugerir a futura padronização, até o momento o Conselho
Nacional de Meio Ambiente não realizou estudo ou quaisquer iniciativas para
tornar obrigatória a análise da areia de praia e estabelecer valores de
referência para sua classificação.
3.3.4 BIOINDICADORES DE QUALIDADE
Nos Estados Unidos e Europa os indicadores de balneabilidade da água
marinha comumente utilizados são: Enteroccos e Escherichia coli. No Brasil
são utilizados o Coliforme fecal (termotolerante) e a E. coli, sendo mais
recentemente introduzido o uso do Enterococcos (CONAMA 2000).
Com base em estudos epidemiológicos a EPA afirma que a Escherichia
coli e os Enterococcos são indicadores de contaminação fecal de águas
recreacionais, mais adequados que Coliformes totais e fecais. Relata também
que os Enterococcos são mais apropriados para análise de água salgada e E.
coli para análise de água doce. De acordo com essa agência, a densidade
desses organismos prediz de forma mais eficiente o risco a saúde dos
usuários, pois apresentam uma correlação mais forte com a incidência de
gastroenterites, que os demais indicadores.
38
No caso da água marinha, a correlação entre Enterococcos é mais forte
provavelmente pela habilidade desses organismos de sobreviverem por mais
tempo nesse ambiente, que os demais indicadores, tal como os organismos
causadores das doenças gastrointestinais.
Além disso, os coliformes fecais podem ser identificados em locais onde
não há contaminação fecal. Por exemplo, a Klebsiella spp. é uma bactéria que
faz parte do grupo coliformes fecais, mas que geralmente não é patogênica aos
humanos e não ocorre quando há contaminação fecal, mas ocorre em
efluentes de industrias de papel, celulose e tecido (EPA 2004).
A
Salmonella
é
responsável
por
grande
parte
dos
sintomas
gastrointestinais manifestos na população em geral (EUFRASTIOU 2009). A
ocorrência de Salmonella no esgoto doméstico é variável de acordo com o grau
de infecção da população que produz o esgoto. Em algumas amostras com
valores elevados de contaminação fecal não foi encontrado Salmonela
(EUFRASTIOU 2009).
EUFRASTIOU et al. (2009) analisaram a eficiência dos indicadores
tradicionais de balneabilidade, enterococos, Coliformes fecais e Coliformes
totais, na identificação da presença de Salmonella na água marinha. Foi
constatado que esses indicadores isoldamente podem indicar a presença de
Salmonella, sendo Enterococos o mais eficiente. A análise conjunta desses
indicadores aumenta a eficiência de detecção de Salmonella. Os limites
adotados pela EPA e União Européia (UE) para esses parâmetros apresentam
a mesma eficiência na identificação de Salmonella.
39
3.4 CONTAMINAÇÃO DA AREIA DA PRAIA
Diversos microrganismos patogênicos e indicadores de contaminação
fecal sobrevivem por longos períodos na areia de praia, pois encontram
condições favoráveis como abundância de nutrientes, abrigo da luz solar e
proteção contra predação (GHINSBERG et al. 1994, ALM et al. 2003, CARDOSO-DEOLIVEIRA & PINHATA 2008). O uso intenso da faixa de areia para o lazer, prática
de esportes e caminhadas, especialmente no período do verão, gera uma
preocupação com relação à qualidade sanitária da areia e o risco de
propagação de doenças, e em alguns países a análise da areia também é
considerada na avaliação da qualidade da praia (ABAE 2007).
Diversos estudos sobre a contaminação das areias de praias foram
conduzidos na costa brasileira (SANCHEZ et al. 1986, VIEIRA 2000, VIEIRA et al.
2001, RIBEIRO 2002, MAIER et al. 2003, GONZÁLES-CÁCERES et al. 2004, BOUKAI
2005, LOUREIRO et al. 2005, SATO et al. 2005, ANDRAUS 2006, MATESCO et al.
2006, SANTOS et al. 2006, GOMES et al. 2008, CARDOSO-DE-OLIVEIRA & PINHATA
2008, SILVA et al. 2009) e em outros países (MENDES et al. 1993, 1997, 1998,
ABAE 2002, ALM et al., 2003, LE-FEVRE & LEWIS 2003, FERGUSON et al. 2004,
SHIBATA et al. 2004, ELMANAMA et al. 2005, MANCINI et al. 2005, LEE et al. 2006,
BOUMS et al. 2007, BRANDÃO et al. 2007, BONILLA et al. 2007, VOGEL et al. 2007,
HEANEY et al. 2009). Alguns trabalhos apresentam uma revisão bibliográfica do
tema (MENDONÇA-HAGLER et al. 2001, VIEIRA 2000, CBC 2005, STEWART et al.
2008).
A maioria dos estudos sobre a contaminação das areias de praias
oceânicas mostram que a areia geralmente apresenta contaminação superior a
da água do mar (SANCHEZ et al. 1986, ABAE 2002, ALM et al., 2003, ELMANAMA
et al. 2005, BOUKAI 2005, SATO et al. 2005, BONILLA et al. 2007, BOUMS et al.
2007, CARDOSO-DE-OLIVEIRA & PINHATA 2008). Nas praias da Flórida - EUA,
estudadas por BONILLA et al. (2007) foi identificada uma densidade de
microrganismos indicadores de contaminação fecal nas areias de até 460
vezes superior àquela identificada na água do mar.
Vários estudos analisaram a contaminação das areias em diferentes
épocas do ano, comparando a estação seca e chuvosa ou o período de alta
40
temporada (verão) com períodos de menor freqüência de usuários (VIEIRA et al.
2001, RIBEIRO 2002, ABAE 2002, ELMANAMA et al. 2005, BOUKAI 2005, SATO et
al. 2005, LOUREIRO et al. 2005, ANDRAUS 2006, MATESCO et al. 2006, BONILLA et
al. 2007, VOGEL et al. 2007, GOMES et al. 2008).
O período do verão e o período chuvoso geralmente apresentam
contaminação superior em relação ao restante do ano (ELMANAMA et al. 2005,
BOUKAI 2005, SATO et al. 2005, LOUREIRO et al. 2005, ANDRAUS 2006). Segundo
ANDRAUS (2006) o grande aumento da população flutuante registrada nesta
época do ano e o conseqüente aumento na freqüência de banhistas influencia
a contaminação da areia da praia.
No período do verão o número de turistas é maior e aumenta também a
população flutuante, com isso a produção e descarte de resíduos e efluentes é
maior que no restante do ano. Pressupõe-se com isso que o risco associado ao
contato com a areia da praia é maior no período do verão em relação ao
restante do ano, e alguns estudos focaram apenas esse período (ALM et al.,
2003, GONZÁLES-CÁCERES et al. 2004, MANCINI et al. 2005, BOUKAI 2005,
BRANDÃO et al. 2007).
Outros estudos analisaram separadamente a areia seca e a areia úmida,
sendo esta última a faixa constantemente atingida pela água do mar, e a areia
seca a parte emersa raramente alcançada pela maré (VIEIRA et al. 2001,
RIBEIRO 2002, ABAE 2002, MAIER et al. 2003, GONZÁLES-CÁCERES et al. 2004,
BOUKAI 2005, SATO et al. 2005, ANDRAUS 2006, BOUMS et al. 2007, BRANDÃO et
al. 2007, VOGEL et al. 2007, BONILLA et al. 2007, CARDOSO-DE-LIVEIRA & PINHATA
2008).
Dentre os estudos que analisaram a contaminação da água em relação a
areia, em sua maioria, foi verificada uma forte relação entre a areia úmida e a
água, indicando um fluxo contínuo de microrganismos entre os meios (ABAE
2002, BOUKAI 2005, SATO et al. 2005, CARDOSO-DE-OLIVEIRA & PINHATA 2008).
Conforme CARDOSO-DE-OLIVEIRA & PINHATA (2008) as atividades de recreação e
eventos naturais como tempestade, ondas e maré, promovem a turbulência no
sedimento, remobilizando microrganismos do sedimento para a água e
aprisionando no sedimento microrganismos presentes na água.
41
No entanto, a areia seca apresenta um comportamento distinto, com
contaminação superior aos demais meios. A areia seca sofre pouca influencia
da maré e sua contaminação não está diretamente relacionada com a água
marinha (VIEIRA et al. 2001, ABAE 2002, BOUKAI 2005, SATO et al. 2005,
ANDRAUS 2006, BOUMS et al. 2007, VOGEL et al. 2007, CARDOSO-DE-OLIVEIRA &
PINHATA 2008).
A areia seca é exposta a elevados níveis de contaminação de fontes
distintas àquelas que exercem maior influencia sobre a contaminação da areia
úmida (VIEIRA et al. 2001, ABAE 2002, BOUKAI 2005, SATO et al. 2005, ANDRAUS
2006, BOUMS et al. 2007, VOGEL et al. 2007, CARDOSO-DE-OLIVEIRA & PINHATA
2008). A água do mar pode ser a fonte principal de contaminação da areia
úmida, enquanto outras fontes, como resíduos sólidos e fezes de animais,
podem constituir as fontes de contaminação predominantes da areia seca.
O monitoramento da água não é suficiente para eliminar o risco à saúde
dos freqüentadores das praias. Faz-se necessário, também, o monitoramento
da areia. O quadro 7 foi elaborado a partir de um levantamento dos estudos
que analisaram a qualidade das areias de praia na costa brasileira e
internacioanal. Esse quadro apresenta os parâmetros analisados nos principais
estudos sobre o tema.
A maioria dos estudos analisou o grupo Enterococos e alguns estudos
apontaram este grupo como um indicador de contaminação fecal da areia
melhor que o grupo Coliformes (MENDES et al. 1997, RIBEIRO 2002, ANDRAUS
2006). Não há organismos que satisfaçam simultaneamente todas as
condições necessárias para um indicador de contaminação. Na ausência de
um indicador ideal, então deve ser utilizado o melhor indicador possível,
considerando a melhor correlação com os riscos de saúde associados com a
contaminação de um determinado ambiente (BASTOS 2000).
As metodologias tradicionais de análise de bactérias, fungos e parasitas
foram adotadas pela maioria dos estudos. Alguns estudos recentes adotaram
técnicas mais sofisticadas como kits rápidos de análise e análises moleculares
(RIBEIRO 2002, ABAE 2002, MAIER et al. 2003, SHIBATA et al. 2004, BOUMS et al.
2007, BRANDÃO et al. 2007, VOGEL et al. 2007).
42
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
Outros
Salmonella
Pseudomonas
aeruginosa
Parasitas
Fungos
X
X
Enterococos
X
X
Escherichia coli
C. termotolerantes
(fecais)
SANCHEZ et al. 1986
MENDES et al. 1997
MENDES et al. 1998
VIEIRA et al. 2001
RIBEIRO 2002
ABAE 2002
MAIER et al. 2003
ALM et al. 2003
LE FEVRE & LEWIS 2003
GONZÁLES-CÁCERES et al. 2004
FERGUSON et al. 2004
SHIBATA et al. 2004
BOUKAI 2005
ELMANAMA et al. 2005
LOUREIRO et al. 2005
MANCINI et al. 2005
SATO et al. 2005
ANDRAUS 2006
LEE et al. 2006
MATESCO et al. 2006
SANTOS et al. 2006
BOUMS et al. 2007
BRANDÃO et al. 2007
BONILLA et al. 2007
VOGEL et al. 2007
GOMES et al. 2008
OLIVEIRA & PINHATA 2008
SILVA et al. 2009
Coliformes totais
Quadro 7. Parâmetros analisados em estudos de qualidade de areia de praia.
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
3.5 PADRÕES DE QUALIDADE DAS AREIAS
Existem apenas duas normas em vigor que qualificam as areias de praia,
apesar de diversos estudos sobre qualidade das areias de praia confirmarem o
risco de veiculação de doenças por esse meio.
43
LEGISLAÇÃO INTERNACIONAL
A Associação das Bandeiras Azuis para a Europa (ABAE), o Instituto
Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), e o Instituto do Ambiente (IA),
realizaram um extenso estudo sobre qualidade das areias das praias de
Portugal, e estabeleceram valores de referência para classificação das
mesmas. O quadro 8 apresenta a classificação em vigor em 2002 (Mendes et
al. 2002) e novos valores propostos por Brandão et al. (2007).
Quadro 8. Valores máximos recomendados (VMR), valores máximos admissíveis
(VMA) e novos valores máximos recomendados (NVMR) para qualificação das areias
de praias (adaptado de BRANDÃO 2007).
VMR
NVMR
VMA
Parâmetros
Ufc/100g
Leveduras
3.000
300
6.000
Fungos potencialmente patogênicos
7.000
500
8.500
Dermatófitos
100
100
1.500
Coliformes totais
100
100
1.500
Escherichia coli
100
100
2.000
Enterococos intestinais
100
100
2.000
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente do Rio de Janeiro – SMAC,
publicou a Resolução SMAC nº 081/2000 (ANEXO 2) e a Lei municipal nº
3.210/2001, que estabelecem, respectivamente, valores de referência para a
classificação da areia de praia (Quadro 9) e a obrigatoriedade de divulgação de
informações de qualidade da areia para a população (SMAC 2000, RIO
DE
JANEIRO 2001, ALERJ 2006). Essa legislação foi elaborada com base em
estudos de qualidade das areias por meio de indicadores e parâmetros
microbiológicos conhecidos.
44
Quadro 9. Classificação da areia de praia segundo a Resolução SMAC Nº 81/2000 e
Lei Municipal Nº 3.210/2001.
1
Coliformes Totais
****
Até 10.000
Até 10
***
> 10.000 a 20.000
> 10 a 200
**
> 20.000 a 30.000
> 200 a 400
Acima de 30.000
Acima de 400
*
2
IMPRÓPRIA
1
1
Classificação
Escherichia coli
Valores em NMP/100g de areia
2
Considera-se também imprópria a areia que contiver ovos e larvas de parasitos
em quantidade que cause risco a saúde
Os parâmetros e valores de referência da Resolução nº 81/00, foram
analisados por BOUKAI (2005), com base em um novo monitoramento da
qualidade das areias das principais praias do município do Rio de Janeiro,
resultando em novos parâmetros e valores de referência (Quadro 10).
Quadro 10. Revisão dos valores de referência da Resolução SMAC Nº 81/00 (BOUKAI
2005).
Classificação
****
***
**
* IMPRÓPRIA
Até 10.000
> 10.000 a
20.000
> 20.000 a
30.000
Acima de 30.000
Até 10
> 10 a 200
> 200 a 400
Acima de 800
Bactérias
Coliformes
1
Totais
1
Escherichia coli
Fungos
2
Cândida sp
< 1000
1000
Ancylostoma sp
AUSENTE
PRESENTE
Toxocara sp
AUSENTE
PRESENTE
Parasitas
1
Valores em NMP/100g de areia;
2
Valores em ufc/100g de areia
Os valores da Resolução SMAC nº 81/00 para as praias cariocas, estão
em vigor, apesar do estudo apresentado por BOUKAI (2005).
45
3.6 PROGRAMA DE MONITORAMENTO DA BALNEABILIDADE DO
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Desde 1991 o Governo do Estado do ES monitora a balneabilidade das
praias capixabas, com exceção das praias da capital Vitória, pois são
monitoradas pelo município. Atualmente, são monitorados 70 pontos
distribuídos ao longo do litoral, que englobam lagoas, estuários e água marinha
(ANEXO 3). O monitoramento é realizado pelo Instituto Estadual de Meio
Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA), com base nos padrões estabelecidos na
Resolução CONAMA nº 274/00.
Segundo as informações fornecidas pelo IEMA o monitoramento consiste
na análise quinzenal da densidade de coliformes termotolerantes presentes na
água, por meio da técnica de tubos múltiplos. Para tanto, são adotadas as
diluições 101, 10-1, 10-2 da amostra, para inoculação em séries de cinco tubos
contendo caldo lactosado e púrpura de bromocresol, para cada diluição.
Após incubação por 24 ± 2h a 35 ± 0,5ºC, os resultados positivos são
identificados pela turvação com acidificação do meio (mudança da cor de roxo
para amarelo). Destes, são inoculadas amostras em caldo lactosado verde
brilhante (bílis a 2%), incubados por 48 ± 3h a 35 ± 0,5ºC, e feita a leitura dos
resultados positivos pela turvação.
Finalmente, são inoculadas amostras dos tubos positivos em EC-MUG por
24 ± 2h a 44,5 ± 0,2ºC. Os tubos que apresentaram turvação são quantificados
para cada diluição e a seqüência numérica é comparada em tabela de
probabilidade, que confere um Número Mais Provável para cada 100mL de
água marinha (NMP/100mL).
Os valores obtidos são lançados em planilhas digitais e analisados para
classificação da água, conforme os seguintes critérios:
a. Se o valor recém obtido for superior a 2.500 NMP/100mL o ponto é
classificado como IMPRÓPRIO;
b. Se o valor recém obtido for inferior a 2.500 NMP/100mL, são adotados
como referência os cinco valores mais recentes, incluindo o valor recém
46
obtido. Desse conjunto de dados é excluído o de maior valor, e dos
quatro valores restantes é utilizado o maior valor para classificação de
acordo com as classes apresentadas abaixo (Figura 3):
COLIFORMES
TERMOTOLERANTES
CLASSIFICAÇÃO
(NMP/100ML)
< 250
EXCELENTE
< 500
MUITO BOA
< 1.000
SATISFATÓRIA
> 1.000
IMPRÓPRIA
Figura 3. Categorias de classificação da água das praias do Espírito Santo.
No município de Serra são monitorados 11 pontos distribuídos na orla de
Nova Almeida, Jacaraípe, Manguinhos, Carapebus e Bicanga (Quadro 11). Os
pontos 05, 06 e 07 estão localizados próximos aos pontos 3, 2 e 1,
respectivamente, de análise da areia e água da Orla de Manguinhos realizada
no presente trabalho.
A análise do período de 2007 a 2009 concluiu que, no Estado do Espírito
Santo,
os
locais
abaixo
apresentam
pior
qualidade
da
água
para
balneabilidade:
⋅
Anchieta – Praia Central (AN4)
⋅
Aracruz – Próximo a foz do Rio Guaxindiba (AR3), e do Rio Sahy (AR1)
⋅
Serra – Jacaraípe próximo a Manguinhos (S5), e Nova Almeida (S1 e S2)
⋅
Guarapari – Meaípe (G14)
Estes pontos permaneceram de 12% a 79% do período pesquisado em
condições imprópias ao banho, ou seja, oferecendo risco a saúde dos usários.
Os dados de colimetria desses pontos apresentam grandes variações ao longo
do tempo, sendo muitas vezes na ordem de 350 vezes a diferença entre
resultados de semanas consecutivas.
47
Quadro 11. Estações de monitoramento da balneabilidade do litoral do município da
Serra (fonte: IEMA).
ESTAÇÃO (PONTO) – LOCALIDADE
COORDENADAS
UTM
01
Nova Almeida - Próximo ao Posto de Saúde
20°03’33,0” S
40°11’15,0” W
02
Nova Almeida - Quiosque Doce Mar. Próx. Hotel Praia Sol
20°07’11,9” S
40°10’36,1” W
03
Jacaraípe - Quiosque Stravagancia. Rua Caiçara
20°08’14,0” S
40°11’01,5” W
04
Jacaraípe - Colônia de Férias do BANESTES
Não identificada
05
Jacaraípe - Colônia de Férias da CVRD
20°09’36,9” S
40°11’03,7” W
06
Manguinhos - Em frente ao Condomínio Ainda
20°1126,2” S
40°11’28,8” W
07
Manguinhos - Primeira estação de Manguinhos
20°11’53,4” S
40°11’32,8” W
08
Bicanga - A 500m do Córrego Manguinhos
Não identificada
09
Lagoa Carapebus - Entre Colônia de Férias e a passarela
20°13’51,2” S
40°12’47,4” W
10
Carapebus - Restaurante GJ-Drink 's
Não identificada
11
Carapebus - Colônia de pescadores
20°14’08,7” S
40°12’56,7” W
3.7 ADEQUAÇÃO DO PROGRAMA DE BALNEABILIDADE DO ES
Diagnóstico das condições sanitárias das areias das praias do
Espírito Santo
Os resultados do estudo da qualidade das areias da orla de Manguinhos e
de outros estudos na costa brasileira e em outros países que abordaram o
tema, mostram que as condições sanitárias das areias devem ser consideradas
na análise da qualidade das praias utilizadas para o lazer. Como ainda não é
conhecida a condição das areias das praias capixaba, faz-se necessário um
48
diagnóstico que contemple a avaliação de parâmetros microbiológicos em pelo
menos um a três pontos em cada praia do Estado.
O diagnóstico deve indicar as áreas com os níveis mais elevados de
contaminação, nas quais serão necessários estudos detalhados. Também deve
contemplar a análise da diversidade microbiana, a fim de subsidiar propostas
de indicadores específicos para o litoral capixaba. Para tanto sugere-se um
programa utilizando a metodologia e os parâmetros de referência propostos por
ABAE (2007) e BOUKAI (2007), com adaptações para o contexto capixaba.
Análise integrada dos dados de balneabilidade do ES
O atual programa de balneabilidade do ES conta com séries históricas de
dados, mas não com uma análise integrada e sistematização das informações
na forma de relatórios. A análise integrada dos dados deve indicar as áreas
onde faz-se necessário um detalhamento maior e as áreas nas quais poderiam
ser reduzidos os esforços de monitoramento, pela boa condição que
apresentam.
A análise integrada dos resultados deve relacionar os valores de
colimetria com as condições ambientais e interferências identificadas em cada
praia, tais como a existência de fontes pontuais e difusas de contaminação e a
freqüência de usuários. Deve ser utilizado métodos estatísticos para verificação
de tendências e diferenças ao longo do tempo e espaço. Sugere-se a distinção
das praias em classes que reflitam a necessidade de intervenções e manejo.
As informações devem ser consolidadas em um relatório técnico para uso
na gestão ambiental e ampla divulgação científica, e em uma publicação
didática para consulta por usuários ou técnicos de outras áreas. Os relatórios
da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São
Paulo (CETESB) e da United States Environmental Protection Agency (EPA)
podem ser utilizados como referência (CETESB 2008, EPA 2009).
49
Adequação da malha amostral e frequência de amostragem
Com base na análise dos dados históricos de balneabilidade e outras
informações relevantes, a malha amostral deve ser revista para inclusão e
exclusão de pontos amostrais, aumento ou redução da periodicidade de
análise.
A malha amostral do programa de balneabilidade deve contemplar as
principais fontes de contaminação da orla e pontos adjacentes, a fim de
verificar até onde há influencia dessas fontes. Além disso, deve abranger de
forma mais detalhada os pontos de maior freqüência de usuários,
especialmente no período do verão.
Adequação dos parâmetros e metodologias de análises laboratoriais
A metodologia utilizada no programa adotado pelo Governo do Estado do
ES é morosa e apresenta grande variação nos resultados. As informações de
balneabilidade divulgadas à população demostram a situação com 15 (quinze)
dias de atraso, em média. Os dados obtidos no programa devem refletir a
situação do momento para que possa proporcionar a prevenção e redução do
risco de disseminação de doenças pelo lazer nas praias capixabas.
Atualmente existem métodos rápidos de análise que garantem maior
eficácia no monitoramento, reduzindo o tempo em 24 a 48 horas. Diversos kits
comerciais e métodos de análise molecular foram descritos e validados pela
literatura, mas o custo para adequação dos labortórios e aquisição dos kits tem
sido reportado como um fator dificultador.
Diante do exposto, cabe ressaltar que a ocorrência de doenças na
população e a diminuição substancial do turismo na praia, geram custos e a
população local sente diretamente a queda da receita esperada. A medida a
ser adotada pelos órgão competentes para evitar tais efeitos será um
monitoramento adequado da qualidade da água balnear. Algumas praias ao
longo da costa capixaba apresentam áreas com índices colimétricos passíveis
50
de interdição e, caso seja adotada tal medida, resultará em prejuízos para o
comércio e demais atividades relacionadas as praias.
Diagnóstico das fontes pontuais de contaminação
As fontes pontuais de contaminação das praias são passíveis de
identificação e caracterização. A partir deste diagnóstico é possível estabelecer
as áreas de intervenção e as áreas onde o uso para o banho pode ser
incentivado. O monitoramento dessas fontes permite a utilização de métodos
para extinção ou redução da contaminação e melhoria das praias.
Esse diagnóstico deve contemplar a identificação georreferenciada e a
caracterização de:
•
Deságüe da rede pluvial;
•
Foz artificial e natural de rios e córregos;
•
Despejo de efluentes de ETE, EEEB e indústrias;
•
Efluentes de banheiros, quiosques, comércios e residências
lançados diretamente na praia;
•
Pontos de comunicação com lagoas costeiras e áreas alagáveis.
O diagnóstico poderá ser realizado ao longo de todo o Estado ou em
áreas previamente definidas pelas características de uso e qualidade balnear.
O diagnóstico deverá apontar fontes passíveis de extinção imediata, a exemplo
de manilhas e tubulações abandonadas, banheiros irregulares e estruturas sem
licenciamento ambiental. Deverá indicar também, as fontes pontuais de grande
relevância para a balneabilidade, que devem ser incluídas no programa de
monitoramento.
Estudo Epidemiológico – areia e água
Em outros países as normas elaboradas sobre balneabilidade foram
fundamentadas em estudos epidemiológicos que relacionam o nível de
contaminação do ambiente ao grau de comprometimento da saúde do usuário.
51
Entretanto, no Brasil esses estudos são raros e as normas de balneabilidade
foram construídas por meio de discussões com base nos parâmetros adotados
internacionalmente.
No Espírito Santo é aplicada a Resolução CONAMA nº 274/00 para
análise
da
balneabilidade,
não
sendo
encontrado
nenhum
estudo
epidemiológico sobre o tema. Assim, faz-se necessária a realização de um
estudo epidemiológico que analise os índices microbiológicos encontrados na
areia e na água marinha com a ocorrência de doenças como a gastroenterites.
HEANEY
et
al.
(2009)
apresenta
os
resultados
de
um
estudo
epidemiológico que avaliou o risco associado a recreação na areia de praia,
abordando inclusive aspectos importantes como o comportamento do usuário
de se enterrar ou não na areia, idade, estado de saúde e outros fatores
relacionados ao contato do usuário com o meio e a sucetibilidade a patógenos.
Os
resultados
de
estudos
epidemiológicos
devem
subsidiar
o
estabelecimento de níveis de contaminação aceitáveis para qualidade das
areias e água marinha, com base no risco associado a disseminação de
doenças.
52
4 MATERIAL E MÉTODOS
4.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
O Município de Serra está localizado no litoral Central do Estado do
Espírito Santo (ES), região metropolitana da Grande Vitória – ES. Apresenta
uma área de aproximadamente 553 km² e uma população estimada de 385.370
habitantes, sendo o segundo maior município em população do Estado (IBGE
2007). A economia municipal é baseada principalmente na atividade industrial,
constituindo o maior centro industrial do Estado. Possui terminais portuários,
estradas, linha férrea, e outros elementos que compõem a estrutura logística
agregada à atividade industrial (SERRA 2004).
O litoral desse município estende-se por aproximadamente 23 km, sendo
que a maior parte é composta por praias arenosas utilizadas para o lazer,
pesca e turismo. Aproximadamente 160.000 turistas visitam o município a cada
ano, dos quais 63% ficam hospedados em residência de parentes (SERRA
2004). Ocorre que, com o aumento do número de pessoas por residência,
especialmente nos períodos de alta temporada, aumenta também o aporte de
efluentes domésticos, extrapolando muitas vezes, a capacidade de suporte das
redes públicas de coleta e tratamento desse efluente, ocasionando o
extravazamento de esgoto no ambiente.
O clima da região é tropical quente e úmido, com temperatura média
anual de 24ºC, com predominância de ventos no quadrante NE, durante a
maior parte do ano e média anual pluviométrica variando entre 900 a
1.200mm3. A hidrografia é formada pelas bacias dos rios Reis Magos, Santa
Maria da Vitória e Jacaraípe, e pelas microbacias do Córrego Jacaraípe, da
Lagoa Jacuném e do Córrego Maringá (SERRA 2004).
O
relevo
do
município
apresenta
uma
variedade
de
feições
geomorfológicas, destacando-se as regiões das planícies costeiras, das colinas
e maciços costeiros e da Mantiqueira setentrional. A formação vegetal original
é composta por Mata Atlântica, restanto porém apenas pequenas áreas
preservadas (SERRA 2004).
53
De acordo com MUEHE (2006) a dinâmica do litoral da Serra é influenciada
pela presença dos terraços de abrasão na antepraia e na plataforma
continental interna, que dissipam a energia das ondas incidentes, ocasionando
a redução da amplitude de variação das alturas das ondas, resultando em
pequena variação topográfica sazonal dos perfis das praias. A dinâmica da
maré então, se destaca atuando como armadilhas para retenção do sedimento
na antepraia.
As praias variam entre dissipativas e intermediária, apresentando áreas
com declividade suave, zona de surfe, faixa entre-marés extensas e areia fina,
e áreas com declividade moderada, faixa entre-marés pouco extensa e areia
média. Ressalva-se a presença de couraças lateríticas em distribuição esparsa
e de dunas fortemente degradadas pela ocupação, intensificando o processo
erosivo em alguns locais (MUEHE 2006).
Apesar da urbanização do balneário de Manguinhos estar ainda em
processo de desenvolvimento, suas praias são intensamente freqüentadas pela
população e por turistas. Tais fatores, talvez, devem-se às características da
região, que se diferencia das demais praias da Grande Vitória, principalmente
pela tranqüilidade do local e paisagem bucólica.
A maior parte da orla de Manguinhos apresenta estrutura urbana voltada
ao uso turístico e veraneio, caracterizada por quiosques, restaurantes, praças,
iluminação pública adequada, calçadas, edificações residenciais e de veraneio
e de ruas pavimentadas e não pavimentadas, incluindo os trechos ocupados
pela Rodovia ES – 10.
A orla de Manguinhos foi escolhida para a realização do estudo pelos
seguintes fatores:
⋅ Presença de fontes pontuais de contaminação (deságüe de córregos de
águas contaminadas por efluentes domésticos);
⋅ Intenso uso turístico;
⋅ Área de uso da população local para atividades de lazer e convivência;
54
⋅ Hidrodinamismo considerado moderado ocasionando baixa renovação da
água em alguns pontos;
⋅ Estudos preliminares do Laboratório de Microbiologia Ambiental e
Biotecnologia (LMAB) do Centro Universitário Vila Velha (UVV)
indicaram altos níveis de contaminação na areia e água de Manguinhos
4.2 DESCRIÇÃO DOS PONTOS AMOSTRAIS
O trecho estudado está compreendido entre a foz do Rio Jacaraípe (UTM
376226/7769905 – datum WGS 84) e o deságüe do Córrego Maringá
(375489/7766352) (Figura 4).
Foram delimitados 12 (doze) pontos de amostragem da areia e da água
da orla de Manguinhos, abrangendo áreas de elevado uso (1A, 1B, 1C) e áreas
próximas ao deságüe do Córrego Maringá (MA e 2A), Córrego Laripe (LA, 2B e
2C) e Córrego Irema (3A, 3B, 3C e IR). A tabela 1 apresenta uma descrição de
cada ponto amostral e as figuras 5 e 6 apresentam fotos ilustrativas das
principais características desses pontos.
55
Figura 4. Localização da área de estudo e distribuição dos pontos amostrais na orla de
Manguinhos, Serra (ES).
56
Tabela 01. Descrição dos pontos de amostragem 1 (A, B, C), 2 (A, B, C), 3 (A, B, C),
IR (Córrego Irema), LA (Córrego Laripe) e MA (Córrego Maringá).
Ponto
3C1
3B1
3A1
IR1
2C1
LA1
2B1
2A1
MA1
1C1
1B1
1A1
Coordenada
20º 09’ 47,29 S
40º 11’ 02,04 W
20º 09’ 50,99 S
40º 11’ 03,03 W
20º 09’ 57,79 S
40º 11’ 02,98 W
20º 09’ 59,32 S
40º 11’ 03,48 W
20º 10’ 51,95 S
40º 11’ 22,23 W
20º 10’ 53,43 S
40º 11’ 24,17 W
20º 10’ 59,88 S
40º 11’ 28,22 W
20º 11’ 09,29 S
40º 11’ 26,19 W
20º 11’ 10,43 S
40º 11’ 25,48 W
20º 11’ 21,03 S
40º 11’ 26,28 W
20º 11’ 25,94 S
40º 11’ 26,94 W
20º 11’ 29,49 S
40º 11’ 25,59 W
Descrição
Área que apresenta: médio fluxo de banhistas,
poucas barracas, via litorânea asfaltada, presença
eventual de animais domésticos e proximidade com
loteamentos residenciais
Deságue do Córrego Irema e possivelmente da rede
de drenagem pluvial das vias adjacentes
Área que apresenta: baixo fluxo de banhistas, faixa
de areia estreita e proximidade com a Rodovia ES -10
Deságue do Córrego Laripe e possivelmente da rede
de drenagem pluvial das vias adjacentes
Área que apresenta: baixo fluxo de banhistas, faixa
de areia estreita e proximidade com a Rodovia ES -10
Área que apresenta: baixo fluxo de banhistas e
ocupação de parte da faixa de areia por residências
Deságue do Córrego Maringá e possivelmente da
rede de drenagem pluvial das vias adjacentes
Área que apresenta: freqüencia elevada de banhistas
e animais, quiosques e estruturas de lazer, alto fluxo
de vendedores ambulantes, desembarque de
pescado e proximidade com Colônia de Pescadores e
loteamentos residenciais
57
Figura 5. Ponto 1: (a) Visão geral da área de amostragem no ponto 1C; (b) e (c)
Destaque para a presença de barcos de pesca e animais domésticos.
Figura 6. Ponto 3: (a) Córrego Irema (IR); (b) Manilha de descarte de efluente
doméstico no Córrego Irema; (c) Crescimento excessivo de algas identificado no dia
28/01/09 em área próxima ao ponto 3 (altura da maré: 0.3).
58
4.3 COLETA DA ÁGUA MARINHA E AREIA
As amostras de água e areia da orla de Manguinhas foram coletadas no
período de julho a agosto de 2009 com a variação da maré de 0.5 até 1.0 (DHN
2009). Em cada ponto foram delimitados, na faixa de areia, transectos
paralelos ao calçadão nos quais foram estabelecidos pontos em zigzag para
coleta de amostra composta. Em cada transecto foram coletados em torno de
500g de areia da camada superficial na profundidade aproximada de 0–25 cm,
utilizando régua, coletores e sacolas plásticas devidamente esterilizadas e
identificadas.
Foram coletados aproximadamente 100 mL da água do mar nos pontos 1
(A, B, C), 2 (A, B, C) e 3 (A,B,C) e da água dos Córregos Irema (IR), Laripe
(LA) e Maringá (MA), utilizando frascos previamente esterilizados e
identificados (Figura 7). As amostras de areia e de água foram acondicionadas
em caixas térmicas e levadas ao LMAB onde foram armazenadas em freezer 20ºC até a realização das análises.
Figura 7. Foto ilustrativa da metodologia de coleta de água do mar (a) e da coleta de
areia (b) da orla de Manguinhos, Serra - ES.
59
4.4 ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS
As análises microbiológicas foram realizadas pela técnica de fermentação
em tubos múltiplos que utiliza a contagem indireta de microrganismos pelo
método do número mais provável (NMP), e pelo método de cultura em placas
com resultados obtidos por contagem direta também conhecida por contagem
padrão em placas (CPP) de unidades formadoras de colônia (ufc). Sendo
ambos os métodos baseados na técnica de diluições seriadas (APHA, 1995).
Testes bioquímicos para confirmação e identificação das bactérias também
foram realizados.
As amostras de areia foram preparadas adicionando-se 10g de areia em
90 ml de água destilada em um Becker seguido de agitação por 10 minutos, e
coletado o sobrenadante para ser utilizado como a solução inicial. Para as
amostras de água foram utilizadas diretamente sem diluição inicial. Com ajuda
de uma pipeta estéril foi retirado 1mL diretamente da solução inicial para um
tubo de ensaio contendo 9 mL de salina peptonada à 1%, homogeneizando-se
o conteúdo por agitação e com outra pipeta estéril transferiu-se 1 mL da
diluição10-1 para diluição 10-2 e assim sucessivamente até a diluição 10-4
(Figura 8) (VASCONCELLOS et al. 2006).
Figura 8. Esquema ilustrativo da técnica de diluições seriadas para cultivo em placas
(Adaptado de http://bervieira.sites.uol.com.br/dilui.gif)
60
4.4.1 TÉCNICA DE TUBOS MÚLTIPLOS (NMP)
Alíquotas de 1 ml das diluições seriadas de 10-1 a 10-4, foram inoculadas
nos meios de cultivo Caldo Lactosado e E.C. incluindo um tubo de Durhan,
usando-se séries de 3 tubos para cada diluição. Em seguida os tubos foram
incubados por 48h a 37ºC e obtidos os resultados a partir de cada conjunto de
tubos da mesma diluição. O resultado foi interpretado como positivo na
ocorrência de turbidez e produção de gás no tubo de Durhan.
Os tubos positivos para caldo lactosado foram semeados em Caldo
Lactose Bile Verde Brilhante (VB) para detecção de coliformes totais e
incubados à 37ºC em estufa bacteriológica. Para analise de coliformes
termotolerantes foi usado Caldo EC incubados à 45,5°C por 48 horas (Feitosa
et al., 1997) (Figura 9). Para a determinação da concentração média das
bactérias por 100 mL foi utilizada uma tabela de número mais provável (APHA,
1998).
De cada tubo de Caldo EC positivo, foi retirada uma alçada do meio e
estriada em placas contendo Ágar Maccnonkey que foram incubadas à 37ºC
por 48 horas, para verificar o crescimento de colônias típicas de E. coli e
Klebsiella sp.
Figura 9. Figura ilustrativa do método de cultivo em tubos múltiplos. Tubos positivos de
EC e VB com produção de gás (a), e tubos negativos de VB e EC sem a produção de
gás (b).
61
4.4.2 CULTIVO EM PLACAS (CPP)
De cada diluição transferiu-se 0,1 mL para placas de Petri contendo 20 ml
de Agar nutriente, e espalhando-se na placa com o auxilio de alça de Drigalski.
Todo o processo foi realizado em fluxo laminar próximo a chama do bico de
busen. As placas foram devidamente identificadas e incubadas de forma
invertidas em estufas a 37°C durante 48 horas e após esse tempo realizou-se a
contagem das colônias.
4.4.3 COLORAÇÃO DE GRAM
A partir de bactérias isoladas pelo método de cultura em placas foi
realizada a coloração de Gram. Para o preparo do esfregaço foi suspensa com
uma alça bacteriológica flambada uma pequena porção da amostra bacteriana
em uma gota de solução salina 0,85% sobre uma lâmina, em seguida, esse
material foi flambado rapidamente em chama de um bico de Bunsen para a
fixação da amostra. Com a amostra fixada foi aplicado corante cristal violeta
por um minuto, sendo após esse tempo retirado o excesso do corante com
água deionizada.
Seguiu-se a fixação da lâmina com lugol, também por um minuto e
retirado o excesso com água deionizada. Em seguida, com a lâmina inclinada
foi despejado álcool puro para remover o complexo cristal violeta-lugol de
células gram-negativas, porem com o devido cuidado de não exceder o tempo
de cinco minutos, pois o descolorizador poderia remover o corante cristal
violeta das células gram-positivas, em seguida a lâmina foi novamente
enxaguada com agua deionizada.
Em seguida, foi realizada a aplicação do corante secundário safranina por
30 (trinta) segundos e retirada o excesso do corante com água deionizada.
Para leitura das lâminas foi utilizada a microscopia óptica, no aumento de 1000
vezes com o auxilio do óleo de emersão.As bactérias de Gram-positivas tem
uma coloração roxa escura, enquanto que as Gram-negativas apresentam uma
coloração mais rosada (Figura 10).
62
Figura 10. Coloração de Gram, exemplo de uma Lâmina com bactéria Gram- negativa
(a) e uma Lâmina com bactéria Gram-positiva (b).
4.5 ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS
ÁGUA
Os parâmetros Temperatura (T), Salinidade (S), Condutividade Elétrica
(CE), Oxigênio Dissolvido (OD) e Saturação de Oxigênio (SO) foram medidos
com multiparâmetro YSI 85 E. O pH foi medido com auxílio de um pHmetro
portátil Q-400H (Figura 11).
Figura 11. Medição do pH da água através de pHmetro (a) e medição dos parâmetros
físico-químicos através de multiparâmetro (b).
AREIA
As amostras foram submetidas a análises físico-químicas no Laboratório
de Solos da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF),
em Campos-RJ. Os parâmetros analisados incluíram teor de matéria orgânica
(MO), macronutrientes (P, K, Ca, Mg, S), micronutrientes (Fe, Mn, Zn, Cu, B), e
63
outros parâmetros comuns a análise de solo - Al, H+Al, Na, C, Soma de bases
(S.B.), CTC a pH 7,0 (T), CTC efetiva (t), Saturação de Alumínio (m) e
Saturação de base (V).
4.5 ANÁLISE ESTATÍSTICA
Para tratamentos dos dados foi usado excel 2007 for Windows. As
análises estatísticas foram feitas pelo teste ANOVA e t- student utilizando o
programa SAEG®.
64
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS
5.1.1 COLIFORMES TOTAIS (CT)
A figura 12 apresenta os dados de coliformes totais encontrados na areia,
água marinha e efluentes da orla de Manguinhos.
Figura 12. Densidade de coliformes totais encontrados na areia, água marinha e
córregos da orla de Manguinhos. Diferença significativa a 5% (*) e a 1% (**) de
probabilidade pelo teste t-student.
ÁGUA
A densidade de CT na água marinha de Manguinhos atingiu valores entre
≤ 3 a ≥2400 NMP/mL, sendo os maiores valores encontrados nos pontos
localizados no deságüe dos Córregos Irema e Laripe. A Resolução CONAMA
nº 274/00 não utiliza CT como indicador de balneabilidade por ser este grupo
menos específico que CTe, Enterococcos e E. coli. De acordo com BASTOS
(2000) “a presença de coliformes totais em baixas densidades pode ser
65
desprovida de qualquer significado sanitário”, o mesmo valendo para os
“coliformes fecais”.
Entretanto a Resolução CONAMA nº 20/86 revogada pela resolução 274,
classificava como muito boa águas marinhos com valores de CT inferiores a
2.500 CT/100mL (Quadro 12). A luz dos padrões desta resolução todos os
pontos da orla de Manguinhos apresentaram condição muito boa da água
marinha.
Quadro 12. Padrões de CT e CTe adotados pela Resolução CONAMA nº 20/86 para
balneabilidade das águas costeiras brasileiras, revogada pela Resolução CONAMA nº
274/00.
CLASSIFICAÇÃO
CT / 100 mL
CTe
EXCELENTE
< 1.250
< 250
MUITO BOA
< 2.500
< 500
SATISFATÓRIA
< 5.000
< 1.000
IMPRÓPRIA
> 5.000
> 1.000
AREIA
A densidade de coliformes totais nas areias da orla de Manguinhos variou
de ≤ 3 a 210 NMP/100g, sendo o ponto 3C e a foz do Córrego Maringá os
locais de maior contaminação (Figura 12). Os resultados indicam boa qualidade
das areias da orla de Manguinhos, Serra-ES, considerando os padrões da
Resolução SMAC nº 081/00.
A Resolução SMAC nº 081/00, do Município do Rio de Janeiro, classifica
as areias como impróprias ao uso quando os valores de CT são superiores a
30.000 NMP/100g. A legislação internacional admite o valor máximo de 1.500
ufc/100g de CT nas areias de praia, entretando a comparação com os padrões
internacionais não é possível pois tais valores não são expressos em NMP.
66
Esses resultados são semelhantes aos resultados obtidos nas praias do
Rio Grande do Sul por RECHDEN-FILHO (2002), e muito inferiores a maioria dos
casos relatados na literatura pertinente. A densidade de coliformes totais das
areias da orla de Capão Canoa e Xangrilá – RS, variaram de 07 a 33
NMP/100g (RECHDEN-FILHO 2002). As condições climáticas características do
litoral sul do Brasil podem influenciar nas baixas densidades encontradas, pois
a ocorrência de baixas temperaturas podem reduzir o metabolismo de algumas
bactérias.
A orla de Camburi - Vitória (ES) também apresentou boa qualidade das
areias, sendo os valores de CT de 10 a 2.400.000 NMP/100g (RIBEIRO 2002).
Nesse estudo foram analisados oito pontos distribuídos a partir do Canal de
Vitória, que recebe constante aporte de efluente doméstico. Os resultados
também mostraram contaminação elevada apenas nos pontos próximos ao
canal, que funciona como fonte pontual de contaminação para a praia de
Camburi.
SANCHEZ et al. (1986) analisaram a qualidade das areias de oito praias da
Baixada Santista (SP). Nesse estudo a média geométrica de CT variou de
6.450 a 38.100 NMP/100g nas praias do Tombo e Itararé, respectivamente. Em
um estudo semelhante nas praias mais freqüentadas do Rio de Janeiro a
densidade de CT encontrada nas areias foi muito superior a encontrada nas
praias capixabas e paulistas, atingindo valores de 95 a 110.000 NMP/100g2
(BOUKAI 2005).
Nas praias de Matinhos, Coiabá e Guaratuba no Estado do Paraná, os
valores máximos da densidade de CT nas areias foram 500.000, 1.600.000 e
300.000 NMP/100g, respectivamente, e o valor mínimo em todas as praias foi
de 200 NMP/100g (ANDRAUS 2006). As praias paranaenses também
apresentaram contaminação muito superior a identificada na orla de
Manguinhos quanto ao parâmetro CT.
2 Valores de mediana.
67
5.1.2 COLIFORMES TERMOTOLERANTES (CTe)
A figura 13 apresenta os dados de coliformes termotolerantes
encontrados na areia, água marinha e efluentes da orla de Manguinhos.
Figura 13. Densidade de coliformes termotolerantes encontrados na areia, água
marinha e córregos da orla de Manguinhos. Diferença significativa a * 5% e a ** 1% de
probabilidade pelo teste t-student.
ÁGUA
A densidade de CTe na água marinha de Manguinhos atingiu valores
entre ≤ 3 a ≥2400 NMP/mL, sendo os maiores valores encontrados nos pontos
localizados no deságüe dos Córregos Irema e Laripe e no ponto 3C. De acordo
com os padrões estabelecidos pela Resolução CONAMA nº 274/00 os pontos
LA, IR e 3C podem ser classificados como impróprios ao banho. Os demais
pontos podem ser classificados como próprios ao banho, sendo que os pontos
1A, 1B, 1C, 2B e 2C também classificados como de excelente qualidade.
Os Córregos Irema, Laripe e Maringá foram adotados como fontes
pontuais de contaminação, pois recebem contribuições de efluente doméstico e
água de drenagem, que aumentam a concentração de microrganismos
patogênicos na água. Como os locais de deságüe desses córregos são
68
utilizados para o lazer, especialmente por crianças, há o risco de veiculação de
doenças pelos elevados níveis de contaminação encontrados nessas áreas.
O ponto 3C apresentou densidade de CT na areia superior aos demais
pontos e densidade de CTe elevada na água e na areia em relação aos demais
pontos. Este ponto pode ser influenciado pelo deságüe do Rio Jacaraípe
localizado o norte de Manguinhos, e pelo deságüe de efluente da rede de
drenagem urbana. Tais suposições são corroboradas pelos resultados do
monitoramento realizado pelo IEMA no ponto denominado Jacaraípe (JAC)
(Figura 13), que apresenta histórico de má qualidade das águas marinhas,
atingindo valores superiores a 16.000 NMP/100mL no verão de 2009.
AREIA
A densidade de coliformes termotolerantes nas areias da orla de
Manguinhos, Serra-ES, atingiu valores entre ≤ 3 a 240 NMP/100g, sendo que
os pontos 2C, 3A e 3C apresentaram níveis mais elevados de contaminação
(Figura 13). Considerando a Resolução SMAC nº 81/00, cujo limite aceitável de
contaminação por CTe é de 400 NMP/100g, as areias da orla de Manguinhos
podem ser classificadas como próprias para o uso, sendo tal classificação
corroborada pelos valores de CT e por outros estudos no litoral brasileiro.
Os resultados obtidos por RIBEIRO (2002) mostram valores de 10 a 104
NMP/100g de CTe nas areias da praia de Camburi (Vitória/ES), que quando
comparados com os padrões definidos pela Resolução SMAC 81/00,
classificam as areias como próprias ao uso.
Nas praias de São Paulo a densidade de CTe nas areias variou de 248 a
16.500 NMP/100g3 no monitoramento realizado por SANCHEZ et al. (1986), e de
103 a 106 NMP/100g, nos estudos realizados por SATO et al. (2005). Nas praias
de Fortaleza (CE) VIEIRA et al. (2007) encontraram resultados semelhantes aos
das praias paulistas. A praia de Meireles e do Futuro a densidade de CTe
variou, respectivamente, de < 30 a 4.600 NMP/100g e de < 30 a 1.500
NMP/100g.
3 Média geométrica.
69
Os níveis de coliformes termotolerantes encontrados nas praias do litoral
do Rio Grande do Sul, estudadas por RECHDEN-FILHO (2002), variaram de 02 a
11 NMP/100g, sendo valores muito inferiores aos identificados no litoral
nordeste. A região Sul do Brasil apresenta condições climáticas distintas que
podem refletir na qualidade microbiológica das areias.
As
características
da
praia
determinam,
até
certo
ponto,
a
susceptibilidade da praia à contaminação. Praias com elevado hidrodinamismo,
por exemplo, tendem a ser menos susceptíveis à contaminação, pois a areia é
constantemente lavada pela água do mar. No caso de praias mais calmas, a
areia
permanece
mais
tempo
sem
revolvimento,
o
que
propicia
o
desenvolvimento de microrganismos patogênicos.
A
orla
de
Manguinhos,
por
sua
hidrodinâmica,
é
considerada
intermediária, com isso a dispersão da contaminação a partir de fontes
pontuais é limitada em algumas áreas. Esse fator permite que, sob certas
condições, a contaminação fique acumulada em áreas específicas e
apresentando gradiente de contaminação a partir de cada fonte pontual de
contaminação.
A areia da orla de Manguinhos apresentou níveis de contaminação
inferiores aos constatados na água. Entretanto pode-se observar que os pontos
de maior contaminação da areia e água não estão associados a maior
freqüência de usuários, mas pela localização próxima ao deságüe de efluentes.
Essa constatação permite inferir que a principal fonte de contaminação da orla
de Manguinhos é o deságüe de efluentes na costa. Portanto, a influência das
ações dos usuários na qualidade da areia é inferior a influência dos efluentes.
Desta forma, a extinção dos pontos de descarte de efluentes na costa ou
o tratamento prévio dos mesmos poderá reduzir o risco de veiculação de
doenças relacionadas ao lazer na praia, ou seja, melhorar a balneabilidade da
orla de Manguinhos.
A maioria dos estudos que compara a contaminação da água com a da
areia em pontos próximos revela uma contaminação superior da areia em
relação a da água, indicando, assim, um processo de acumulação na areia ou
70
fontes distintas de contaminação. No caso da orla de Manguinhos a
contaminação fecal da água foi igual ou superior a da areia, sendo até 267
vezes superior em relação a CT e até 56 vezes superior em relação CTe.
Exceto o ponto 2C onde a areia apresentou contaminação 80 vezes superior a
encontrada na água.
5.1.3 BACTÉRIAS HETEROTRÓFICAS AERÓBIAS
A Figura 14 apresenta a densidade de bactérias heterotróficas aeróbias
viáveis presentes nas amostras de areia e água da orla de Manguinhos,
enumerada por contagem direta de unidades formadoras de colônia.
Figura 14. Densidade de bactérias por Contagem Padrão em Placa (CPP).
O método de contagem padrão em placas (CPP) é baseado na premissa
de que cada célula viável, isolada, homogeneizada em meio sólido (Agar) dará
origem a uma colônia, uma vez que uma colônia provém de uma célula
microbiana, e portanto, o número de unidades formadoras de colônias (ufc),
71
encontrado na areia representa a contagem de bactérias aeróbias, mesófilas
que estavam presentes nas amostras (VIEIRA et al. 2002, 2007).
Os resultados obtidos pela CPP nas areias da orla de Manguinhos –
Serra/ES variaram de 0 a 250.000 ufc/g. Os resultados na água do mar foram
inferiores aos da areia, atingindo no máximo 70.000 ufc/g. Não existe padrão
ou valores de referência para classificação das areias, a partir dos resultados
de bactérias aeróbias em geral, pois predominam referências de grupos
específicos como coliformes e enterococos.
Entretanto, os resultados de Manguinhos podem ser comparados com os
resultados obtidos por VIEIRA et al. (2007) nas praias de Fortaleza-CE. A
densidade de bactérias heterotróficas aeróbias nas areias da praia do Futuro
variaram de < 10 a 230.000 ufc/g, e na Praia do Meireles de <10 a 520.000
ufc/g (VIEIRA et al. 2007), sendo valores semelhantes aos encontrados na orla
de Manguinhos.
Estudos realizados quanto a qualidade microbiológica de areia de praias
internacionais, em geral, utilizam metodologias que expressam os resultados
em ufc/100g ou ufc/g, além de transformações logarítmicas que expressam os
dados em Log ufc/100g ou Log ufc/g. Mesmo assim, não há como comparar os
dados obtidos por CPP na orla de Manguinhos com os resultados desses
estudos, pois os trabalhos em praias internacionais se referem à enumeração
de indicadores específicos (Enterococos, Coliformes e outros).
Ainda assim, a comparação dos resultados obtidos pela técnica de NMP e
de CPP mostrou ser relevante, pois foi observado que utilizando o método de
CPP os valores encontrados na areia é superior aos encontrados nas amostras
de água. O oposto ocorre quando é utilizada a tácnica de NMP, indicando que
a CPP pode ser mais eficiente que a utilização de NMP na análise da areia.
72
5.1.4 COLORAÇÃO DE GRAM
As bactérias isoladas a partir da cultura em placas foram submetidas a
coloração de Gram, cujos resultados estão apresentados na figura 15, sendo
resumidos por estação de amostragem.
Figura 15: Resultados da coloração de Gram das bactérias isoladas das amostras de
areia e água marinha nas estações de amostragem 1, 2 e 3 da orla de Manguinhos.
A coloração de Gram permitiu verificar que a maioria das bactérias
heterotróficas aeróbias encontradas na areia da praia são gram positivas. Esse
grupo inclui o gênero Enterococcus que são um problema global e têm sido
isolados com alta frequência nos hospitais do Brasil (CAMARGO 2005). Esse
gênero é adotado pela legislação nacional e internacional como indicador de
qualidade da água marinha, entretando, na maioria dos estados brasileiros
ainda é utilizado o grupo coliformes em monitoramentos de balneabilidade.
5.1.5 ABUNDÂNCIA DE ESPÉCIES
A areia e a água marinha da orla de Manguinhos– Serra/ES apresentaram
resultados distintos em relação a abundância das espécies, com dominância de
grupos distintos de bactérias em cada meio (Figura 16).
73
Figura 16. Abundância de espécies de bactérias encontradas na areia e na água
marinha da orla de Manguinhos, Serra (ES).
Na água marinha o indicador E. coli é mais abundante que outros
organismos. Portanto a análise desse indicador pode refletir os níveis de
contaminação da água do mar. Já nas areias da orla de Manguinhos o
indicador E. coli não foi dominante e apresentou abundância semelhante a
apresentada por Klebisiella. Tais resultados podem indeicar que os parâmetros
74
microbiológicos comumente utilizados para monitoramento da água do mar,
talvez não sejam os mais adequados para análise da areia de praia.
A abundância de espécies de certos grupos tem sido utilizada para a
identificação da origem dos microrganismos patogênicos encontrados no
ambiente costeiro. Fezes de animais e de seres humanos, por exemplo,
apresentam padrões de dominância distintos para o gênero Enterococcus. A
predominância das espécies E. faecalis e E. faecium são consideradas mais
específicas dos humanos, enquanto a predominância de espécies com E.
avium e E. raffinosus tem sido associada a contaminação por fezes de animais
(CARDOSO-DE-OLIVEIRA & PINHATA 2008).
5.2 HIDRODINÂMICA
Os dados utilizados para análise da hidrodinâmica do litoral de
Manguinhos – Serra/ES foram levantados pelo Projeto de Gerenciamento da
Poluição Costeira e de Águas do Estado do Espírito Santo - Projeto Águas
Limpas, realizado pelo Governo do Estado em conjunto com o Banco Mundial
(BIRD) e outras instituições parceiras.
O Projeto Águas Limpas contempla, dentre outros estudos, a modelagem
computacional de dados ambientais da Baía de Vitória e Guarapari, Bacias
Hidrográficas dos Rios Reis Magos, Jacaraípe, Jucu e córregos da região de
Manguinhos e o sistema costeiro que compõem essas áreas. O programa
utilizado para elaboração da modelagem computacional é o SISBAHIA 5.1 com
a interface gráfica do software SURFER 7.0.
Conforme o modelo hidrodinâmico do padrão de corrente em condição de
baixamar em uma maré de sizígia para a Região do Rio Jacaraípe, a direção
predominante da corrente é para o sul, com velocidade reduzida próximo ao
deságüe dos Córregos Irema, Laripe e Maringá. Os resultados obtidos no
presente estudo seguem de acordo com a hidrodinâmica estudada para a
região pela modelagem computacional (Figuras 17 e 18).
75
Velocidade (m/s)
0.80
0.70
0.60
0.50
0.40
0.30
0.25
0.20
0.15
0.10
0.09
0.08
0.07
0.06
0.05
0.04
0.03
0.02
0.01
0.00
Oceano Atlântico
Figura 17. Modelo hidrodinâmico do padrão de corrente em condição de baixamar em
uma maré de sizígia para a Região Litorânea de Jacaraípe e Manguinhos (Fonte:
Núcleo de Modelagem / IEMA).
76
Figura 18. Detalhe do ponto 3 (a) e pontos 1 e 2 (b) do modelo hidrodinâmico do
padrão de corrente em condição de baixamar em uma maré de sizígia para a Região
Litorânea de Jacaraípe e Manguinhos (Fonte: Núcleo de Modelagem / IEMA).
Em condições de meia maré enchente, as correntes predominantes se
mantém em direção ao sul. No caso do ponto 3, que compreende a área de
deságüe do Córrego Laripe, a influência deste córrego é limitada até o ponto
3B (Figura 19 e 20). O ponto 3C apresenta resultados distintos dos demais pois
sofre influência predominante de fontes localizadas a norte, devido às
condições hidrodinâmicas locais.
77
Velocidade (m/s)
0.80
0.70
0.60
0.50
0.40
0.30
0.25
0.20
0.15
0.10
0.09
0.08
0.07
0.06
0.05
0.04
0.03
0.02
0.01
0.00
Oceano Atlântico
Figura 19. Modelo hidrodinâmico do padrão de corrente em condição de meia maré
enchente em uma maré de sizígia para a Região Litorânea de Jacaraípe e
Manguinhos (Fonte: Núcleo de Modelagem / IEMA).
78
Figura 20. Detalhe do ponto 3 (a) e pontos 1 e 2 (b) do modelo hidrodinâmico do
padrão de corrente em condição de meia maré enchente em uma maré de sizígia para
a Região Litorânea de Jacaraípe e Manguinhos (Fonte: Núcleo de Modelagem /
IEMA).
As análises microbiológicas mostraram que o ponto 3C distintingui-se dos
demais pontos próximos ao Córrego Irema, apesar de inicialmente ter sido
considerado sob influência desse córrego. Como pode ser visto no gráfico
apresentado na figura 13, a densidade de coliformes termotolerantes da água
coletada no ponto 3C assemelhou-se àquela encontrada no ponto JAC,
monitorado pelo IEMA. O ponto JAC sofre influencia das águas do Rio
Jacaraípe, que são direcionadas para o sul pelo anteparo posto a foz do rio
(Figura 21).
79
Figura 21. Localização dos pontos amostrais em relação ao Rio Jacaraípe, e em
detalhe o anteparo que direciona o fluxo da água (as setas indicam a direção da
corrente).
5.3 ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS
ÁGUA
Os resultados das análises físico-químicas da água da praia de
Manguinhos estão apresentados na Figura 22 (a - f). O pH da água marinha da
Orla de Manguinhos atingiu valores entre 6,0 e 8,5, sendo os menores valores
encontrados no deságüe dos Córregos Irema, Laripe e Maringá e em pontos
adjacentes. A temperatura da água variou de 25 a 27,5 ºC. A salinidade variou
de 0,0 a 35,4 ppt, e a condutividade elétrica atingiu valores entre 0,0 a 52,5 ms.
O oxigênio dissolvido varou de 0,17 a 7,77 mg/L e a saturação de oxigênio de
1,8 a 109,7%.
80
81
Figura 22. Dados físico-químicos da água do mar em Manguinhos: (a) pH, (b)
Temperatura, (c) Oxigênio Dissolvido (OD), (d) Saturação de oxigênio, (e) Salinidade,
e (f) Condutividade Elétrica (CE) (* Significativo a 5% de probabilidade pela ANOVA).
Nos pontos amostrais localizados na foz dos Córregos Laripe, Irema e
Maringá em Manguinhos – Serra/ES, observa-se os menores valores de
salinidade e condutividade, indicando o aporte de água doce a partir desses
efluentes. O ponto 2A apresenta maior influencia do Córrego Maringá que o
ponto 1C localizado ao sul do córrego, o que indica uma tendência de
82
dispersão para o norte nessa área. Esta tendência também é vista nos
resultados microbiológicos, nos quais o ponto 2A exibe resultados superiores
ao ponto 1C.
Salinidade (ups)
35.00
33.00
31.00
29.00
27.00
25.00
23.00
21.00
19.00
17.00
15.00
13.00
11.00
9.00
7.00
5.00
3.00
1.00
0.00
Oceano Atlântico
Figura 23. Isolinhas de salinidade em instante de meia-maré vazante de sizígia na
Região Litorânea de Jacaraípe e Manguinhos. As linhas em vermelho destacam os
limites entre águas doces (região mais a esquerda), salobras (entre as linhas em
vermelho) e salinas (a direita da isolinhas de 30 UPS) (Fonte: Núcleo de Modelagem /
IEMA).
83
Figura 24. Detalhe da região do ponto 3 (a) e dos pontos 1 e 2 (b) no Modelo de
isolinhas de salinidade em instante de meia-maré vazante de sizígia na Região
Litorânea de Jacaraípe e Manguinhos (Fonte: Núcleo de Modelagem / IEMA).
Os dados de salinidade encontrados em todos os pontos amostrais, estão
em conformidade com o modelo de isolinhas de salinidade proposto para a
área (Figuras 23 e 24). De acordo com o modelo são esperados valores de
salinidade mais baixos nos pontos LA, MA e IR, e valores intermediários nos
pontos 2A, 2B e 3A, dada a hidrodinâmica local e a porte de água doce dos
córregos.
84
TESTE DE CORRELAÇÂO
A análise de correlação de Pearson, apresentada na tabela 2, mostrou
que os parâmetros pH e salinidade apresentaram correlação significativa com
quase todos os outros parâmetros analisados. A temperatura não apresentou
correlação com os demais parâmetros.
Tabela 2: Análise de correlação de Pearson a 1% (**) e 5% (*) de probabilidade para
os parâmetros físico-químicos da água da orla de Manguinhos, Serra/ES.
Parâmetros físico-químicos da água
pH
OD
pH
OD
SO
S
CE
Temp
-
0.9261**
0.9282**
0.8927**
0.9105**
0.1577ns
-
0.9979**
0.9539**
0.8789**
0.0896ns
-
0.9686**
0.8992**
0.1243ns
-
0.9392**
0.2294ns
-
0.2595ns
SO
S
CE
Temp
ns
: Não significativo
AREIA
Os resultados das análises físico-químicas da areia da praia de
Manguinhos estão apresentados graficamente nas figuras 25 e 26 e a tabela 3
apresenta um resumo dos valores mínimos e máximos encontrados para cada
parâmetro.
85
Tabela 3: Valores mínimos e máximos dos resultados da análise química da areia da
orla de Manguinhos – Serra/ES.
Parâmetros
Mínimo
Máximo
pH
7,6
8,5
P (mg/dm3)
4,0
9,0
Mg (cmolc/dm3)
0,5
3,6
Na (cmolc/dm3)
1,5
1,3
Ca (cmolc/dm3)
1,4
2,2
K (mg/dm3)
19
182
V (%)
100
100
C (%)
0,1
0,3
MO (g/dm3)
1,7
4,5
Fe (mg/dm3)
5,0
19,0
Mn (mg/dm3)
14,8
44,4
S (mg/dm3)
30,1
196,8
Zn (mg/dm3)
0,0
4,8
B (mg/dm3)
0,57
0,86
Cu (mg/dm3)
0,1
0,1
Al (cmolc/dm3)
0,0
0,0
H+Al (cmolc/dm3)
0,0
0,0
S.B. (cmolc/dm3)
3,6
19,4
T (cmolc/dm3)
3,6
19,4
t (cmolc/dm3)
3,6
19,4
m (%)
0,0
0,0
86
Figura 25. Dados físico-químicos da areia da praia de Manguinhos: pH, P, Mg, Na, Ca,
K, S.B., e C.
87
Figura 26. Dados físico-químicos da areia da praia de Manguinhos: M.O., Fe, Mn, S,
Zn e B.
Não existem referências quanto a parâmetros químicos de areia de praia.
Apenas o estudo conduzido por ANDRAUS (2008) analisa, comparativamente,
parâmetros químicos e microbiológicos das areias no estudo das praias do
Paraná. Para a análise dos parâmetros não contemplados por ANDRAUS (2008),
foram utilizados padrões para solos agrícolas.
88
Os parâmetros pH, P, Mg, Ca, e S.B., apresentaram resultados
semelhantes ao identificado por ANDRAUS (2008). Já os parâmetros Na e K
apresentaram valores superiores no presente estudo. O oposto ocorreu com o
parâmetro C, onde os valores obtidos nesse estudo foram inferiores aos
obtidos por ANDRAUS (2008).
De acordo com os padrões estabelecidos para solos arenosos destinados
à agricultura, a alcalinidade apresentada pelas areias da orla de Manguinhos é
considerada elevada, o que é comum em solo salino ou sódico. O elevado
valor do pH também pode estar relacionado a deficiência de P, altos valores de
Ca, Mg e K e alta saturação por bases, o que ocorreu na maioria das amostras
de Manguinhos (CAMARGOS 2005).
O pH tem um efeito importante na distribuição dos metais no solo, com
implicações
relevantes
na
retenção
e
mobilidade
desses
elementos,
principalmente em solos contaminados (ANDRÉ et al. 2003). O pH elevado
causa a precipitação dos cátions metálicos sobre óxidos de Mn e de Fe
cristalinos e amorfos, decrescendo, por sua vez, a forma trocável e a forma
ligada à matéria orgânica (ZHANG et al. 1997, ANDRÉ et al. 2003).
O teor de S encontrado no ponto 3 em Manguinhos pode ser considerado
elevado, pois quando comparado ao valor de referência para solos agrícolas
excede em até 19 vezes o limite de 10 mg/dm3. Os valores elevados de S
encontrados no ponto 3 está associados ao descarte de efluente doméstico
neste ponto.
Os resultados da análise qímica da areia da Orla de Manguinhos permitiu
distinguir as duas estações de amostragem, especialmente em relação ao teor
de enxofre. A estação de amostragem 1, que inclui os pontos 1A, 1A' e 1B,
apresentou valores em geral inferiores aos encontrados na estação 3 (pontos
3A, 3A' e 3B).
89
5.5 USO E OCUPAÇÂO DO SOLO
A bacia de drenagem do Córrego Irema é ocupada principalmente por
loteamentos residenciais e industrias e comércios de pequeno porte. Inclui,
principalmente, os seguintes loteamentos: Feu Rosa, Estados Unidos, Sítio
Irema, Portal de Jacaraípe e Castelândia no município da Serra - ES. Em toda
a extensão do Córrego Irema são identificadas áreas de ocupação urbana
consolidada, sendo possível o descarte de efluentes urbanos e industriais
diretamente sobre o corpo hídrico.
De acordo com a Companhia Espírito Santense de Saneamento
(CESAN), a rede pública de coleta de esgoto nesta localidade foi implantada
recentemente, atendendo toda a área. A rede conta com tubulações para
transporte de esgoto bruto e 3 Estações Elevatórias de Esgoto Bruto (EEEB –
Curva da Baleia, Leão Castelo, Portal de Jacaraípe) que conduzem o efluente
e uma Estação de Tratamento de Esgoto em, pois a ETE de Castelândia
encontra-se desativada.
A EEEB – Curva da Baleia está localizada próximo ao deságüe do
Córrego Irema no bairro Castelândia, onde predominam casas residências e de
veraneio. Neste caso, se a rede apresentar problemas no funcionamento
poderá ocorrer contaminação do córrego e da praia. Como a rede de coleta de
esgoto foi instalada recentemente, ela provavelmente não atende a todas as
residências, pois em geral os munícipes demoram em efetuar a ligação das
casas com a rede pública, protelando assim, o pagamento das taxas devidas à
CESAN.
O ponto 3C está localizado próximo a EEEB – Leão Castelo e
possivelmente em frente a um ponto de lançamento do efluente da rede pluvial
(Figura 27). É conhecida a prática de ligações clandestinas de esgoto na rede
pluvial do município da Serra e em outras localidades. Esta prática tem como
conseqüência a contaminação da praia, especialmente em períodos de chuva.
90
Figura 27. Localização dos pontos amostrais em relação as Estações Elavatória de
Esgoto no loteamento Castelândia.
O presente estudo idenfificou que os Córregos Irema, Maringá e Laripe
funcionam como fontes pontuais de contaminação da orla de Manguinhos, mas
para melhor caracterização dessa contaminação faz-se necesário estudos mais
detalhados e prolongados e que englobem também as fontes difusas de
contaminação.
91
6 CONCLUSÃO
A água marinha e as areias da orla de Manguinhos apresentam qualidade
microbiológica boa, exceto nos pontos próximos ao deságüe dos Córregos
Irema e Laripe.
Os Córregos Maringá, Laripe e Irema funcionam como fontes pontuais de
contaminação microbiológica para a orla de Manguinhos.
A contaminação microbiológica das areias da orla de Manguinhos foi
melhor analisada com o uso da metodologia de cultivo e contagem padrão em
placas.
A análise físico-química da areia fornece informações relevantes, sendo
uma ferramenta útil na análise da qualidade da areia de praia. Entretanto, como
é pouco utilizada e a comparação dos resultados é limitada.
O Programa de Balneabilidade atualmente em funcionamento no Estado
do Espírito Santo é ineficaz, não atendendo as principais necessidades que o
tema exige.
92
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A qualidade da água e areia da orla de Manguinhos pode ser considerada
própria ao contato primário no período de estudo, com base nos padrões
exigidos pela resolução CONAMA nº 274/2000, exceto nos pontos localizados
no deságüe dos Córregos Irema e Laripe e ponto 3C. Entretanto, existem
ressalvas na interpretação dos resultados pois o período de estudo não
contemplou o período do verão que tende a apresentar valores superiores ao
restante do ano.
As análises físico-químicas foram pontuais fazendo-se necessário
análises periódicas e a comparação com áreas não contaminadas a fim de
possibilitar a utilização desses parâmetros na qualificação das areias de praias.
Diversos outros fatores e parâmetros ambientais devem ser estudados em
conjunto com as condições microbiológicas da água e areia de praia. Os
estudos epidmiológicos também devem ser priorizados, pois relacionam a
incidência de doenças em usuários de praia com os níveis de contaminação
devem, fornecendo subsídios para a gestão.
93
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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qualidade das areias em zonas balneares. Lisboa.
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94
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105
ANEXO 1
RESOLUÇÃO CONAMA Nº 274 DE 29 DE NOVEMBRO 2000
Publicada no DOU de 8 de janeiro de 2001
O Conselho Nacional do Meio Ambiente-CONAMA, no uso das competências
que lhe são conferidas pela Lei nº 6938, de 31 de agosto de 1981,
regulamentada pelo Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990, e tendo em
vista o disposto na Resolução CONAMA nº 20, de 18 de junho de 1986 e em
seu Regimento Interno, e
CONSIDERANDO que a saúde e o bem-estar humano podem ser afetados
pelas condições de balneabilidade;
CONSIDERANDO ser a classificação das águas doces, salobras e salinas
essencial à defesa dos níveis de qualidade, avaliados por parâmetros e
indicadores específicos, de modo a assegurar as condições de balneabilidade;
CONSIDERANDO a necessidade de serem criados instrumentos para avaliar a
evolução da qualidade das águas, em relação aos níveis estabelecidos para a
balneabilidade, de forma a assegurar as condições necessárias à recreação de
contato primário;
CONSIDERANDO que a Política Nacional do Meio Ambiente, a Política
Nacional de Recursos Hídricos e o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro
(PNGC) recomendam a adoção de sistemáticas de avaliação da qualidade
ambiental das águas.
RESOLVE:
Art. 1º Para efeito desta Resolução são adotadas as seguintes definições:
a) águas doces: águas com salinidade igual ou inferior a 0,50º/00;
b) águas salobras: águas com salinidade compreendida entre 0,50º/00 e
30º/00;
c) águas salinas: águas com salinidade igual ou superior a 30º/00;
d) coliformes fecais (termotolerantes): bactérias pertencentes ao grupo dos
coliformes totais caracterizadas pela presença da enzima ß-galactosidade e
pela capacidade de fermentar a lactose com produção de gás em 24 horas à
temperatura de 44-45°C em meios contendo sais biliares ou outros agentes
tenso-ativos com propriedades inibidoras semelhantes. Além de presentes em
fezes humanas e de animais podem, também, ser encontradas em solos,
plantas ou quaisquer efluentes contendo matéria orgânica;
e) Escherichia coli: bactéria pertencente à família Enterobacteriaceae,
caracterizada pela presença das enzimas ß-galactosidade e ß-glicuronidase.
Cresce em meio complexo a 44-45°C, fermenta lactose e manitol com
produção de ácido e gás e produz indol a partir do aminoácido triptofano. A
Escherichia coli é abundante em fezes humanas e de animais, tendo, somente,
sido encontrada em esgotos, efluentes, águas naturais e solos que tenham
recebido contaminação fecal recente;
106
f) Enterococos: bactérias do grupo dos estreptococos fecais, pertencentes ao
gênero Enterococcus (previamente considerado estreptococos do grupo D), o
qual se caracteriza pela alta tolerância às condições adversas de crescimento,
tais como: capacidade de crescer na presença de 6,5% de cloreto de sódio, a
pH 9,6 e nas temperaturas de 10° e 45°C. A maioria das espécies dos
Enterococcus são de origem fecal humana, embora possam ser isolados de
fezes de animais;
g) floração: proliferação excessiva de microorganismos aquáticos,
principalmente algas, com predominância de uma espécie, decorrente do
aparecimento de condições ambientais favoráveis, podendo causar mudança
na coloração da água e/ou formação de uma camada espessa na superfície;
h) isóbata: linha que une pontos de igual profundidade;
i) recreação de contato primário: quando existir o contato direto do usuário com
os corpos de água como, por exemplo, as atividades de natação, esqui
aquático e mergulho.
Art. 2º As águas doces, salobras e salinas destinadas à balneabilidade
(recreação de contato primário) terão sua condição avaliada nas categorias
própria e imprópria.
§ 1º As águas consideradas próprias poderão ser subdivididas nas seguintes
categorias:
a) Excelente: quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas em
cada uma das cinco semanas anteriores, colhidas no mesmo local, houver, no
máximo, 250 coliformes fecais (termotolerantes) ou 200 Escherichia coli ou 25
enterococos por l00 mililitros;
b) Muito Boa: quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas em
cada uma das cinco semanas anteriores, colhidas no mesmo local, houver, no
máximo, 500 coliformes fecais (termotolerantes) ou 400 Escherichia coli ou 50
enterococos por 100 mililitros;
c) Satisfatória: quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas
em cada uma das cinco semanas anteriores, colhidas no mesmo local, houver,
no máximo 1.000 coliformes fecais (termotolerantes) ou 800 Escherichia coli ou
100 enterococos por 100 mililitros.
§ 2º Quando for utilizado mais de um indicador microbiológico, as águas terão
as suas condições avaliadas, de acordo com o critério mais restritivo.
§ 3º Os padrões referentes aos enterococos aplicam-se, somente, às águas
marinhas.
§ 4º As águas serão consideradas impróprias quando no trecho avaliado, for
verificada uma das seguintes ocorrências:
a) não atendimento aos critérios estabelecidos para as águas próprias;
b) valor obtido na última amostragem for superior a 2500 coliformes fecais
(termotolerantes) ou 2000 Escherichia coli ou 400 enterococos por 100
mililitros;
c) incidência elevada ou anormal, na Região, de enfermidades transmissíveis
por via hídrica, indicada pelas autoridades sanitárias ;
107
d) presença de resíduos ou despejos, sólidos ou líquidos, inclusive esgotos
sanitários, óleos, graxas e outras substâncias, capazes de oferecer riscos à
saúde ou tornar desagradável a recreação;
e) pH < 6,0 ou pH > 9,0 (águas doces), à exceção das condições naturais;
f) floração de algas ou outros organismos, até que se comprove que não
oferecem riscos à saúde humana;
g) outros fatores que contra-indiquem, temporária ou permanentemente, o
exercício da recreação de contato primário.
§ 5º Nas praias ou balneários sistematicamente impróprios, recomenda-se a
pesquisa de organismos patogênicos.
Art. 3º Os trechos das praias e dos balneários serão interditados se o órgão de
controle ambiental, em quaisquer das suas instâncias (municipal, estadual ou
federal), constatar que a má qualidade das águas de recreação de contato
primário justifica a medida.
§ 1º Consideram-se ainda, como passíveis de interdição os trechos em que
ocorram acidentes de médio e grande porte, tais como: derramamento de óleo
e extravasamento de esgoto, a ocorrência de toxicidade ou formação de nata
decorrente de floração de algas ou outros organismos e, no caso de águas
doces, a presença de moluscos transmissores potenciais de esquistossomose
e outras doenças de veiculação hídrica.
§ 2º A interdição e a sinalização, por qualquer um dos motivos mencionados no
caput e no § 1o deste artigo, devem ser efetivadas, pelo órgão de controle
ambiental competente.
Art. 4º Quando a deterioração da qualidade das praias ou balneários ficar
caracterizada como decorrência da lavagem de vias públicas pelas águas da
chuva, ou em conseqüência de outra causa qualquer, essa circunstância
deverá ser mencionada no boletim de condição das praias e balneários, assim
como qualquer outra que o órgão de controle ambiental julgar relevante.
Art. 5º A amostragem será feita, preferencialmente, nos dias de maior afluência
do público às praias ou balneários, a critério do órgão de controle ambiental
competente.
Parágrafo único. A amostragem deverá ser efetuada em local que apresentar
a isóbata de um metro e onde houver maior concentração de banhistas.
Art. 6º Os resultados dos exames poderão, também, abranger períodos
menores que cinco semanas, desde que cada um desses períodos seja
especificado e tenham sido colhidas e examinadas, pelo menos, cinco
amostras durante o tempo mencionado, com intervalo mínimo de 24 horas
entre as amostragens.
Art. 7º Os métodos de amostragem e análise das águas devem ser os
especificados nas normas aprovadas pelo Instituto Nacional de Metrologia,
Normatização e Qualidade Industrial-INMETRO ou, na ausência destas, no
Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater-APHAAWWA-WPCF, última edição.
Art. 8º Recomenda-se aos órgãos ambientais a avaliação das condições
parasitológicas e microbiológicas da areia, para futuras padronizações.
108
Art. 9º Aos órgãos de controle ambiental compete a aplicação desta
Resolução, cabendo-lhes a divulgação das condições de balneabilidade das
praias e dos balneários e a fiscalização para o cumprimento da legislação
pertinente.
Art. 10. Na ausência ou omissão do órgão de controle ambiental, o Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis-IBAMA
atuará, diretamente, em caráter supletivo.
Art. 11. Os órgãos de controle ambiental manterão o IBAMA informado sobre
as condições de balneabilidade dos corpos de água.
Art. 12. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios articular-se-ão
entre si e com a sociedade, para definir e implementar as ações decorrentes
desta Resolução.
Art. 13. O não cumprimento do disposto nesta Resolução sujeitará os infratores
às sanções previstas nas Leis nºs 6.938, de 31 de agosto de 1981; 9.605, de 12
de fevereiro de 1998 e no Decreto nº 3.179, de 21 de setembro de 1999.
Art. 14. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 15. Ficam revogados os arts. nºs 26 a 34, da Resolução do CONAMA nº
20, de 18 de junho de 1986.
JOSÉ SARNEY FILHO
Presidente do CONAMA
JOSÉ CARLOS CARVALHO
Secretário-Executivo
109
ANEXO 2
RESOLUÇÃO SMAC Nº 081 DE 28 DE DEZEMBRO DE 2000
Dispõe
sobre
a
análise
e
informações das condições das
areias das praias no Município do
Rio de Janeiro.
O SECRETÁRIO MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE no uso das atribuições que
lhe são conferidas pela legislação em vigor e;
CONSIDERANDO que a Lei Orgânica do Município do Rio de Janeiro
determina em seu Art. 472, inciso II que o Poder Público é obrigado a garantir
amplo acesso dos interessados às informações sobre fontes e causas de
poluição e de degradação ambiental, os níveis de poluição, qualidade do meio
ambiente, situações de risco de acidentes e a presença de substâncias
potencialmente danosas à saúde na água potável, nos alimentos e nas areias
das praias;
CONSIDERANDO que a Constituição Federal determina em seu artigo 30,
inciso I, que compete aos Municípios legislar sobre assuntos de interesse local;
CONSIDERANDO a lacuna existente na legislação Federal, notadamente nas
Resoluções do CONAMA, e Estadual sobre os padrões para classificação da
qualidade das areias das praias;
CONSIDERANDO o disposto na Lei n.º 2.138 de 11 de maio de 1994, que cria
a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e estabelece em seu artigo 2o, inciso
VII, que no exercício de sua competência, caberá à SMAC estabelecer padrões
ambientais que terão vigor no território do Município;
CONSIDERANDO a necessidade de informar a população sobre a qualidade
das areias das praias do Município;
CONSIDERANDO os estudos realizados pela Secretaria Municipal de Meio
Ambiente, pelo período de um ano, em pontos de areia da Prainha e da praia
de Copacabana, abrangendo zonas de areia próximo à calçada, no centro da
faixa de areia e próximos ao mar, bem como nas laterais das “línguas
negras”, além de outros vinte pontos nas praias oceânicas e cinco pontos nas
praias no interior da Baía de Guanabara;
CONSIDERANDO que a qualidade da areia da Prainha foi considerada a meta
a ser atingida;
CONSIDERANDO que os referidos estudos revelaram nas praias a ocorrência
de densidade de coliformes totais e E.coli, que se revelaram em condições de
ser indicadores de poluição;
110
RESOLVE:
Art. 1o – A Secretaria Municipal de Meio Ambiente - SMAC divulgará,
quinzenalmente, o Boletim de Avaliação da condição das areias das praias do
Município do Rio de Janeiro, garantindo amplo acesso da informação à
população.
Art. 2º - Os resultados apresentados no Boletim, de que trata o artigo anterior,
serão gerados a partir de análises físico-químicas e bacteriológicas das
amostras de areia coletadas nas praias, verificação das condições
meteorológicas, notificações de incidentes nas redes de esgotamento sanitário
e drenagem e constatações visuais de interferências poluidoras.
Parágrafo único - A emissão do Boletim estará sob a responsabilidade
técnica de profissionais habilitados para este fim.
Art. 3º - As amostras de areia serão sempre coletadas em um dos dias da
semana correspondentes aos do monitoramento da balneabilidade nas praias,
realizado pela SMAC.
§ 1o - As amostras, de que trata o caput deste artigo, serão coletadas
sempre no mesmo local, no centro da faixa de areia, local mais freqüentado
pelos banhistas, porém não atingido pela maré, definido por medição com a
utilização de trena.
§ 2o - As coordenadas dos pontos de coleta de amostras serão
registradas com o auxílio de um Sistema de Posicionamento Global – GPS.
Art. 4o - As condições para realização da amostragem deverão atender aos
seguintes critérios:
I – A amostragem de areia em cada estação de coleta será realizada em área
de 2 m², no centro da faixa de areia.
II – As amostras deverão ser coletadas na área delimitada, de onde serão
retiradas cinco sub-amostras em sua parte superficial (até 5 cm) e colocadas
em frascosesterelizados com capacidade de 250 ml, que serão preenchidos até
a metade
III - As amostras serão acondicionadas em isopor à temperatura de 4o C e
levadas ao laboratório para análise imediata.
Art. 5o - As análises laboratoriais serão realizadas pelo método dos tubos
múltiplos com a utilização do Caldo LMX, produzido pela Merck.
Parágrafo único - As análises laboratoriais serão realizadas por
laboratórios credenciados no INMETRO e contratados para este fim.
Art. 6º - Os limites máximos de colimetria a serem utilizados na classificação
da areia para recreações de contato primário são:
111
Coliformes Totais
Coliformes Fecais
(NMP/100g)
(NMP/100g)
****
até 10.000
até 10
***
> 10.000 a 20.000
> 10 a 200
**
> 20.000 a 30.000
> 200 a 400
*
acima de 30.000
acima de 400
Classificação
§ 1º - Não serão recomendados contatos com areias que possuam
classificação igual a *.
§ 2º - Também não serão recomendados contatos com areias que
tenham sinais de poluição perceptíveis pelo olfato ou visão.
§ 3º - No caso de se constatar a presença de substância potencialmente
danosa à saúde da população será adotada sinalização gráfica nas praias
como advertência quanto à utilização da área em questão.
§ 4º - A classificação apresentada é baseada nos resultados
de colimetria obtidos com o monitoramento da areia da Prainha, considerada
limpa e sem influência de urbanização.
Art. 7o – A classificação de que trata o artigo 6o deverá ser revista no prazo de
dois anos, contados da publicação desta Resolução.
Art. 8o - O Boletim de Avaliação da condição das areias das praias será
utilizado para divulgação nos meios de comunicação escrita e outros.
Art. 9º - Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação,
revogadas as disposições em contrário.
MAURÍCIO LOBO
SECRETÁRIO MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE
D.O. Rio de 29.12.2000
112
ANEXO 3
ESTAÇÕES DE MONITORAMENTO DA BALNEABILIDADE NO ESTADO DO
ESPÍRITO SANTO
DA BARRA
LINHARES
SÃO MATEUS
CONCEIÇÃO
MUNICÍPIO
PONTO
PRAIA – Localização
COORDENADAS
18°24’49,2” S
CB1
Itaúnas - Meio da praia das Dunas
CB2
Itaúnas – Rio Itaúnas. Próximo à ponte no
Parque de Itaúnas
CB3
Guaxindiba - Em frente ao Hotel Barra Mar
CB4
Praia da Barra - Fim do calçadão – Ponto
mais ao Norte
CB5
Praia da Barra - Em frente ao restaurante
Caranguejão
39°43’51,0” W
SM1
Rio Preto - Próximo à foz do rio
*
SM2
Guriri - Av. Oceano Atlântico, em frente à
Capelinha
*
SM3
Guriri - Em frente à Av. Ari Paixão, ponto
mais ao Sul
*
SM4
Praia de Barra Nova - Área do Projeto
Tamar
*
SM5
Barra Nova - Enseada - Foz do rio Mariricu,
próx. à 1ª barraca
*
L1
Lagoa Juparanã - Em frente à Cabana
Juparanã
L2
Lagoa Nova – Em frente ao Restaurante
Cabana
L3
Lagoa Nova – 10 metros a direita do
banheiro público
39°41’51,4” W
18°25’06,2” S
39°42’24,8” W
18°33’42,0” S
39°43’52,4” W
18°34’58,9” S
39°43’50,8” W
18°34’45,1” S
19°18’17,1” S
40°05’06,5” W
19°25’05,4”S
40°09’22,7”W
19°25’05,6”S
40°09’19,1”W
113
ARACRUZ
FUNDÃO
SERRA
L4
Pontal Ipiranga - Em frente ao acesso
principal
*
L5
Povoação - Em frente ao acesso principal
*
L6
Regência - Rio Doce, no portinho, ao lado
da Vila Regência
*
AR1
Rio Sahy - Próximo à foz do rio
AR2
Barra do Sahy - Próximo ao 1º posto salvavidas
AR3
Rio Guaxindiba - Próximo à foz do rio
AR4
Mar Azul – Meio da Praia
AR5
Coqueiral de Aracruz em frente ao Bochas
Bar
AR6
Santa Cruz - Em frente à manilha da rede
pluvial
AR7
Praia Formosa – em frente ao SESC
F1
Praia Grande – À dir. da Escola
Comunitária, próx. ao Casebre
F2
Praia Grande - 300m à esq. da
desembocadura do R. Reis Magos
S1
Nova Almeida - Próximo ao Posto de
Saúde
S2
Nova Almeida - Quiosque Doce Mar. Próx.
Hotel Praia Sol
S3
Jacaraípe - Quiosque Stravagancia. Rua
Caiçara
40°11’01,5” W
S4
Jacaraípe - Colônia de Férias do
BANESTES
20°07’11,9” S
40°10’36,1” W
19°52’24,5” S
40°04’53,4” W
19°52’47,0” S
40°05’07,9” W
19°53’08,8” S
40°05’17,3” W
19°54’53,7” S
40°05’56,9” W
19°56’14,1” S
40°08’02,0” W
19°57’13,7” S
40°09’05,5” W
19°59’16,2” S
40°08’51,7” W
20°02’22,4” S
40°11’05,3” W
20°02’44,9” S
40°11’19,7” W
20°03’33,0” S
40°11’15,0” W
20°07’11,9” S
40°10’36,1” W
20°08’14,0” S
114
VITÓRIA
20°09’36,9” S
S5
Jacaraípe - Colônia de Férias da CVRD
S6
Manguinhos - Em frente ao Condomínio
Aida
S7
Manguinhos - Primeira estação de
Manguinhos
S8
Bicanga - A 500m do Córrego Manguinhos
S9
Lagoa Carapebus - Entre Colônia de Férias
e a passarela
S10
Carapebus - Restaurante GJ-Drink 's
S11
Carapebus - Colônia de pescadores
V1
Jardim Camburi – em frente ao campo de
futebol Zé da Bola
*
V2
Jardim Camburi – Av. Dante Michelini,
esquina com a Rua Silvino Grecco
*
V2 A
Jardim Camburi – Av. Dante Michelini,
100m. à direita do 3° píer
*
V3
Jardim Camburi – Av. Dante Michelini,
100m. à esquerda do 2° píer
*
V4
Mata da Praia – Av. Dante Michelini,
esquina com a Av. Adalberto Simão Nader
*
V5
Mata da Praia – Av. Dante Michelini,
esquina com a Av. Nicolau Von Shilgen
*
V6
Jardim da Penha – Av. Dante Michelini,
próximo a av. Carlos Orlando Carvalho
*
V7
Jardim da Penha – Av. Dante Michelini,
esquina com a Rua Eugenilio Ramos
*
V8
Praia de Camburi – Av. Dante Michelini,
150m. à esquerda do píer de Iemanjá
*
V9
Praia de Camburi – Canal de Camburi, ao
lado direito do píer de Iemanjá
*
40°11’03,7” W
20°1126,2” S
40°11’28,8” W
20°11’53,4” S
40°11’32,8” W
*
20°13’51,2” S
40°12’47,4” W
*
20°14’08,7” S
40°12’56,7” W
115
VILA VELHA
V10
Praia do Canto – 80m. à direita do Iate
Clube
*
V11
Praia do Canto – 80m. à esquerda da ponte
da Ilha do Frade
*
V12
Praia de Santa Helena – 100m. à direita da
Ponte da Ilha do Frade – Praça dos
Desejos
*
V13
Praia de Santa Helena – 200m. à esquerda
das barracas da Curva da Jurema
*
V14
Praia de Santa Helena – Em frente às
barracas da Curva da Jurema
*
V15
Ilha do Frade – 1ª praia à direita
*
V16
Ilha do Frade – Praia da Castanheira
*
V17
Ilha do Frade – Praia da Ilha do Frade
*
V18
Ilha do Boi – Praia da direita
*
V19
Ilha do Boi – Praia Grande
*
V20
Praia/Enseada do Suá – Praia do
Suá/Praça do Papa
*
V21
Praia/Enseada do Suá – Praia do Meio
(embaixo da 3ª ponte)
*
V22
Santo Antônio – Praia de santo Antônio /
Praça Dom João Batista
*
V23
Canal da Passagem – Canal de Camburi /
Ponte da passagem
*
VV1
Praia da Costa - Próximo ao clube Libanês
VV2
Itapoã - Ponta de Itapuã, próximo à colônia
dos Pescadores
VV3
Coqueiral de Itaparica - Próximo ao
Quiosque Chalezinho
VV4
Barra do Jucu - Próx. ao 1º quiosque,
sentido Vitória – Guarapari
VV5
Lagoa Grande - Ponta da Fruta,em frente
ao Bar do Camilo
S 20º19’45.9”
W 40º16’24.9”
S 20º21’12.1”
W 40º17’03.1”
S 20º21’52.9”
W 40º17’55.1”
S 20º25’37.4”
W 40º19’21.7”
S 20º30’13.5”
W 40º21’34.1”
116
GUARAPARI
VV6
Ponta da Fruta - Próx. ao acesso principal,
em frente ao Bar do Helvécio
G1
Lagoa de Caraís - Meio da lagoa
G2
Setiba
G3
Santa Mônica - Próx. a Feira de
Artesanato, em frente ao Iglu
G4
Praia do Morro – Em frente ao Maison
Classic
G5
Praia do Morro - Em frente ao Maison
Classic
G6
Praia do Morro - Em frente ao Residencial
Flat
G7
Muquiçaba - Ao lado da marinha
G8
Praia das Virtudes
G9
Praia dos Namorados
G10
Castanheiras - Próx. ao Clube Siribeira
G11
Praia da Areia Preta - Meio da Praia
G12
Enseada Azul – Em frente ao Edifício
Monteiro Lobato
G13
Enseada Azul – Em frente ao restaurante
Sete Mares
G14
Meaípe – Aproximada/ a 100m do riacho,
em frente ao Hotel Gaeta
S 20º31’01.3”
W 40º21’40.5”
*
S 20º38’01.6”
W 40º26’21.6”
S 20º37’21.7”
W 40º27’31.3”
S 20º39’07.9”
W 40º28’35.4”
S 20º39’27.9”
W 40º29’35.3”
S 20º39’37.8”
W 40º29’43.4”
S 20º39’50.5”
W 40º29’51.9”
S 20º40’07.7”
W 40º29’36.9”
S 20°40’16,2”
W 40°29’50,9”
S 20º40’27.2”
W 40º29’50.9”
S 20º40’28.0”
W 40º29’58.9”
S 20º43’39.9”
W 40º31’31.1”
S 20º43’57.6”
W 40º31’51.2”
S 20º44’17.7”
W 40º32’17.8”
117
ANCHIETA
PIÚMA
ITAPE-MIRIM
MARATAÍZES
AN1
Ubu - Praça em frente ao abrigo de ônibus
AN2
Parati – próximo ao camping
AN3
Castelhanos - Em frente ao 2ª chuveiro,
sentido Vitória- Anchieta
AN4
Anchieta - Praia Central - Meio da Praia
AN5
Iriri - Em frente à praça, próx. ao Res.
Cheiro de Mar
AN6
Iriri - Areia Preta, próximo às pedras,
quiosque Ja1000
P1
Piúma - Prainha em frente a R. da Escola
de Pesca
P2
Piúma - Quiosque do Gelson, meio da praia
I1
Itaipava - Meio da praia, em frente ao
Mineiro's Bar nº 500
S 20º48’06.3”
W 40º35’39.3”
S 20º48’15.1”
W 40º36’11.1”
S 20°50’03,7”
W 40°37’28,8”
S 20º48’23.6”
W 40º38’57.0”
S 20º49’52.0”
W 40º41’38.9”
S 20°49”57,5”
W 40°41”51,7”
S 20º50’29.4”
W 40º43’30.3”
S 20º50’56.1”
W 40º44’45.0”
S 20º53’36.8”
W 40º46’27.0”
S 20º54’30.9”
I2
Itaoca - em frente ao Camping
M1
Areia Preta - Em frente ao Bar Verão, meio
da praia
M2
Marataízes - Meio da praia, em frente ao
Bar Chalé
M3
Marataízes – Praia Cidade Nova, em frente
ao Quiosque Toa Toa
M4
Lagoa do Siri – Em frente ao Caiacos Bar
W 40º46’59.3”
S 21º02’14.3”
W 40º49’06.5”
S 21º02’42.4”
W 40º49’43.2”
S 21º03’06.8”
W 40º49’54.5”
S 21º06’24.1”
W 40º51’10.6”
118
PRESIDENTE
KENNEDY
PK1
Praia de Marobá - em frente ao 2º
quiosque, meio da praia
PK2
Praia das Neves -Meio da praia, em frente
ao Rest. do Ivo
S 21º11’27.7”
W 40º55’40.7”
S 21°16’37,8”
W 40°57’44,8”
* Informação não encontrada
119
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