O PAPEL DO PROFESSOR NA MOTIVAÇÃO À
APRENDIZAGEM DOS ALUNOS DE ENGENHARIA
Arlindo Tribess1, Henor Artur de Souza2, Eliana Ferreira Rodrigues2
Universidade de São Paulo1
Escola Politécnica – Depto. Eng. Mecânica
Av. Prof. Mello Moraes, 2231
05508-900 - São Paulo – SP
atribess@usp,br
Universidade Federal de Ouro Preto2
Escola de Minas – Depto. Eng. Controle e Automação e
Técnicas Fundamentais
Morro do Cruzeiro
35400–000 - Ouro Preto – MG
[email protected] ; [email protected]
Resumo. As reformulações curriculares, a adequação de ementas e a melhoria dos laboratórios
acontecidos em cursos de engenharia da UFOP e da USP não têm tido o efeito esperado na
motivação de seus alunos. Através de um trabalho de pesquisa continuada, que vem sendo
realizada por professores da área de ciências térmicas, é mostrado que a metodologia adotada e a
relação discente-docente afeta fortemente no desempenho, no aprimoramento e na motivação dos
alunos ao longo do curso. Neste trabalho são apresentados resultados, com novas conclusões sobre
a relação ensino-aprendizagem, que mostram que o papel do professor ainda é fundamental na
motivação do aluno durante o desenvolvimento do seu curso de engenharia.
Palavras-chave: Engenharia, Metodologia de ensino, Motivação, Relação discente-docente.
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1.
INTRODUÇÃO
1.1. O docente e a aprendizagem
Segundo José Carlos [1] as atividades de aprendizagem são os processos internos e externos através dos quais os
alunos adquirem novas informações, habilidades ou atitudes. Este conceito proposto implica que o processo de
aprendizagem depende, em parte, do trabalho mental do aluno. Entretanto, esses processos internos podem ser
influenciados por fatores e/ou eventos externos, que atuam de forma a controlar, modificar, ampliar, intensificar ou
atrapalhar os processos que se passam dentro de cada aluno. De um modo geral o aluno tende a progredir, dentro dos
seus objetivos pessoais, em direção ao cumprimento de algumas atividades específicas de aprendizagem. Desse modo
quanto maior a participação do aluno no processo de aprendizagem tanto melhor será o seu rendimento. É imperativo,
dentro deste propósito, que o aluno planeje e estabeleça os objetivos de suas atividades e para isso pesquise, descubra e
experimente obedecendo seu ritmo e capacidade. É nesse momento que aparece a importância do papel do docente para
despertar as habilidades nos alunos através de estratégias e atitudes adotadas.
Pelo exposto pode-se concluir que as atividades de aprendizagem mais concretas, ou seja, mais reais serão sempre
mais eficazes. Um outro fator importante para que as atividades de aprendizagem sejam eficazes é que se estabeleça um
sistema de classificação da aprendizagem através do qual os temas tratados sejam relacionados e agrupados para
propósitos mais práticos. Os métodos e as técnicas de ensino devem variar de acordo com o domínio a que se referem.
Além de utilizar métodos e técnicas apropriadas, cabe ao professor despertar e manter a atenção do aluno. O docente
deve sempre utilizar estratégias e/ou processos através dos quais o aluno aprenda a pensar e a descobrir coisas. É
também papel do docente procurar sempre mostrar e comunicar entusiasmo em relação ao conteúdo tratado em cada
aula, relacionando este conteúdo com a prática. Segundo Vani [2] o papel didático do professor para ser consistente
precisaria ainda promover o diálogo entre os alunos e os conhecimentos, independentemente do recurso utilizado na sua
aquisição.
Na atualidade o dinamismo no surgimento e na evolução de novas tecnologias exige mais habilidades de qualquer
profissional. Para que o docente tenha competência para transferir, entregar e repassar estas habilidades, ele precisa se
atualizar nos seus conteúdos e passar por constantes reciclagens. No caso das escolas de engenharia é imperativo que
elas busquem parcerias que possibilitem esta reciclagem, por exemplo através de trabalhos conjuntos com empresas
envolvendo professores e alunos.
Além de melhorar e ampliar seus conteúdos o docente de engenharia, dentro deste contexto de avanço tecnológico,
deve também avançar nos seus métodos didáticos, abrindo caminhada no sentido do humano e não apenas do
instrucional, ou seja, no de trabalhar só competências, Ref.[2]. Neste sentido é importante também saber transferir uma
educação mais aberta que estimule a criatividade, a intuição, a imaginação, a aprender a pensar, e reforce, além dessas
habilidades, a necessidade de se ter a ética profissional.
O professor é ainda o principal instrumento para todo o processo de mudança na aprendizagem. Será preciso, que
além da capacidade técnico científico, ele adquira uma capacitação pedagógica para o melhor desenvolvimento das
habilidades e capacidade dos estudantes.
Conforme consta na Ref. [2], que o ensino objetive a aprendizagem através
do envolvimento integral do aluno: o racional e o emocional; a análise lógica e a intuitiva; a ação; a interação; a
exploração de possibilidades; o assumir de responsabilidades; o criar e o refletir. É utilizar-se a pessoa do aluno e do
professor para conversas orientadas, parcerias na discussão dos problemas práticos já existentes e na descoberta de
soluções dos problemas novos propostos.
1.2 Os cursos de engenharia na UFOP e na USP
Na Universidade de São Paulo e na Universidade Federal de Ouro Preto ocorreram algumas mudanças curriculares
recentes abrangendo modificações como a diminuição de carga horária, alterações de ementas, maior diversificação de
disciplinas eletivas e modificações de pré-requisitos em todos os seus cursos de engenharia.
Na USP, mais especificamente nos Cursos de Engenharia Mecânica e Mecatrônica, a atual reestruturação destes
cursos foi precedida por uma reformulação realizada em 1988, Ref. [3], em que se procurou responder à inovação
tecnológica reforçando o ensino de eletrônica e informática e de técnicas de automação, para formar engenheiros
capacitados a responder aos desafios profissionais que devem enfrentar e a conduzir à modernização do parque
industrial e desenvolvimento de produtos. Como uma das conseqüências, pode-se destacar a reestruturação que houve
no ensino de laboratório, Ref. [4] e Ref.[5].
Na Universidade Federal de Ouro Preto, as modificações recentemente introduzidas abrangeram tanto os seus
cursos de Engenharia com entrada semestral, já consolidados como os cursos de engenharia civil, de minas, geológica e
metalúrgica, bem como os cursos novos, com entrada anual, como os cursos de engenharia ambiental, de controle e
automação, e de produção.
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2.
METODOLOGIA ADOTADA NESTA PESQUISA
A pesquisa foi realizada através de questionários respondidos individualmente pelos alunos de engenharia em sala
de aula. Estes questionários, Henor et al.[6,7,8,9], incluíram questões relacionadas à avaliação do docente, à sua
expectativa no curso, às maiores dificuldades encontradas nas disciplinas cursadas, ao tempo de estudo extra-classe, ao
papel do professor no seu aprendizado e à motivação durante o curso. Mais especificamente na área térmica foi
questionado também sobre o tipo de avaliação da disciplina, o tempo de estudo dedicado a cada disciplina, conteúdo e
aplicação da mesma.
Na Universidade Federal de Ouro Preto pesquisas vem sendo realizadas com alunos dos cursos engenharia civil,
engenharia de minas e engenharia metalúrgica, desde 1996. Na Universidade de São Paulo pesquisas semelhantes vem
sendo realizadas com alunos dos cursos de engenharia mecânica e mecatrônica, desde 1999. Os alunos questionados
estão distribuídos entre os períodos iniciais, do meio e do final dos cursos conforme apresentado na Tabela1.
Tabela1. Posição dos alunos dentro curso.
Período do aluno no curso
Alunos dos Quatro primeiros períodos do curso (10 e
20 anos)
Alunos dos períodos intermediários do curso (30 e 40
anos)
Alunos dos dois últimos períodos do curso (último
ano)
3.
Número de alunos, [%]
16,70
61,10
22,20
RESULTADOS
Para melhor situar a relação ensino-aprendizagem, que mostra que o papel do professor ainda é fundamental na
motivação do aluno durante o desenvolvimento do seu curso de engenharia, serão apresentados os resultados de uma
série de questionários de avaliação por alunos com relação a seus cursos de engenharia na UFOP e na USP.
Inicialmente, foi abordada a questão da motivação, participação e o índice de aprovação, como forma de fomentar
a discussão com os alunos. Uma vez que os professores envolvidos nesta pesquisa foram docentes da área térmica da
UFOP, foi solicitado aos alunos que avaliassem as disciplinas desta área nos seus seguintes aspectos
- conteúdo;
- importância com relação às demais disciplinas;
- tempo de estudo dedicado;
- participação nas aulas;
- aplicabilidade do conteúdo;
- sistema de avaliação;
- sugestões para modificações.
As sugestões dadas pelos alunos para a melhoria das disciplinas compreenderam os seguintes pontos:
- aumentar o número de aulas práticas;
- mostrar mais aplicações práticas com a colocação de problemas reais e/ou através de projetos;
- adequar o conteúdo muito extenso para ser dado num semestre, o que reduzia discussões mais detalhadas dos
problemas práticos e quase eliminava os trabalhos em grupo por falta de tempo;
- uma maior diversificação no sistema de avaliação;
- um maior número de exercícios e trabalhos em grupos.
No semestre seguinte a este questionamento houve discussões com os alunos para a análise das sugestões e
discussão dos procedimentos para as mudanças requeridas na avaliação anterior. Algumas modificações foram
implementadas e em uma segunda avaliação observou-se uma melhoria na relação discente-docente o que acarretou
numa maior motivação e, também num melhor desempenho dos alunos frente à metodologia de ensino e ao sistema de
avaliação utilizados.
O empenho dos alunos em termos de assiduidade, participação e dedicação extra-classe foi novamente avaliado e
mostrou que a maior parte dos alunos teve um empenho de médio a grande, Fig.1, Ref. [2]. Estes resultados foram
melhorados em novas avaliações e também mantiveram-se quando foi ampliada a população de alunos. Obtiveram-se
resultados indicando que 60% dos alunos se dedicam integralmente ao estudo extra-classe, 31% têm uma dedicação
parcial e somente 9% deles limitam-se a assistir as aulas.
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Grande
28,7%
Médio
57,6%
Pequeno
10,6%
Mínimo
3,1%
Figura 1. Empenho do aluno, em termos de assiduidade, participação e dedicação extra – classe.
Na área térmica da UFOP, a metodologia de ensino neste período foi sendo adaptada, observando-se os
questionamentos apontados pelos alunos. Na avaliação da metodologia de ensino adotada os alunos abordaram como
mais importantes os seguintes pontos:
- Seqüência dos conteúdos da disciplina;
- O tempo gasto em cada tópico do programa;
- Aplicação prática dos conteúdos teóricos ministrados na disciplina;
- Tempo gasto em exercícios, e/ou trabalhos práticos, e/ou de campo e laboratório.
O resultado desta avaliação, Tabela 2, mostrou percentuais em torno de 22,0 % de alunos, considerando o método
de ensino apenas satisfatório na forma como foram abordados os tópicos acima, e o restante dos alunos considerando-o
bom e ótimo. Este percentual de 22,0 % é ainda significativo, indicando a necessidade de uma análise mais profunda e
atuação direta sobre estes tópicos específicos da metodologia de ensino.
Tabela 2. Tópicos destacados como importantes na metodologia de ensino de uma dada disciplina.
Tópicos
Seqüência dos conteúdos da disciplina e o tempo
gasto em cada tópico do programa
Aplicação prática dos conteúdos teóricos
ministrados na disciplina
Tempo gasto em exercícios, e/ou trabalhos práticos,
e/ou de campo e laboratório
Satisfatório, [%]
Bom, [%]
Ótimo, [%]
22,20
61,80
16,00
18,30
46,70
35,00
26,40
53,70
19,90
Embora tenham sido feitas várias mudanças, em função das avaliações ocorridas junto aos alunos da UFOP, e
trabalhos semelhantes tenham sido conduzidos na USP, observa-se ainda que a grande maioria dos alunos apresenta
problemas de motivação em relação ao seu curso, resultando num percentual de 45% dos alunos da UFOP e 39% dos
alunos da USP, Henor et. al. [9].
Uma vez que os resultados não mostraram diferença significativa entre as expectativas dos alunos de engenharia
da UFOP e da USP, mesmo considerando-se o fato de serem abordados na pesquisa alunos de diferentes habilitações,
serão apresentados a seguir os resultados médios encontrados, Tabela 3.
Tabela 3. Fatores que influenciam na motivação do aluno em relação ao curso,
(USP e UFOP).
Fatores
Carga horária teórica elevada do curso
A não interligação entre as disciplinas
Falta de expectativa profissional
O professor
Peso, [%]
19,50
24,40
19,50
36,60
Pelos dados apresentados na Tabela 3, nota-se que o docente representa ainda o papel mais importante na
motivação do aluno para o aprimoramento e o desenvolvimento de suas habilidades voltadas para o seu curso,
confirmado também pelos resultados mostrados nas Figs. 2 e 3. Dentre os fatores que mais se destacaram na
importância do papel do docente foram citados: o relacionamento professor-aluno, a didática do professor, o entusiasmo
e o empenho do professor ao passar o conteúdo, o estímulo transmitido, o domínio do conteúdo e o tipo e a forma das
aulas.
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a
31%
c
61%
b
8%
Figura 2. Docente x Motivação.
(a) Soube motivar; (b) Não soube motivar; (c) Motivou em parte.
c
12%
d
8%
a
60%
b
20%
Figura 3. O papel do professor no aprendizado.
(a) É fundamental; (b) Não é fundamental; (c) É indiferente; (d) Não respondeu.
4.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados deste trabalho mostram claramente que as reformulações curriculares, a adequação de ementas e a
melhoria dos laboratórios acontecidos em cursos de engenharia da UFOP e da USP não têm tido o efeito esperado na
motivação de seus alunos.
Através de um trabalho de pesquisa continuada, que vem sendo realizada por professores da área de ciências
térmicas, é mostrado que a metodologia adotada e a relação discente-docente afeta fortemente no desempenho, no
aprimoramento e na motivação dos alunos ao longo do curso.
Estes resultados constituem-se ainda em alerta importante em uma época em que os avanços da informática
(internet) e dos recursos multimídia pretendem a substituição do professor em sala de aula por meios eletrônicos.
5.
REFERÊNCIAS
[1] J.C.A. Oliveira, Glossário de Tecnologia Educacional, 2a Ed, 1978, 71 p.
[2] V. M. Kenski, “O professor, a escola e os recursos didáticos em uma sociedade cheia de tecnologias.,” in Anais de
VII ENDIPE, Florianópolis, SC, 1994.
[3] E. Yamane, M. P. Barreto; R.B. Salvagni e L. A. Moscato, “Reforma curricular do curso de Engenharia Mecânica
da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo”, in Anais do X Congresso Brasileiro de Engenharia
Mecânica, Rio de Janeiro, RJ, 1989, vol II, pp. 613-615.
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[4] A.H. Neto, A. Tribess, E.V. Volpe e F.A.S. Fioreli, “O Laboratório no ensino de máquinas térmicas na Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo,” In Anais do XI Congresso Brasileiro de Engenharia Mecânica, São
Paulo, SP, 1991, pp. 209 – 212.
[5] A.H. Neto, A. Tribess e F.A.S. Fioreli, “The laboratory as a tool for learning thermodynamics, heat transfer and
thermal systems,” in Anais do International Conference on Engineering Education, Rio de Janeiro, RJ,
Proceedings of ICEE’98, 1998 (CD-ROM).
[6] H.A. Souza, J.M.G. Rocha e J.R.T. Rios, “Considerações sobre o ensino de transferência de calor nos cursos de
engenharia,” in Anais do XXIV Congresso Brasileiro de Ensino de Engenharia, Manaus, AM, v. 2, 1996, pp. 769
– 777.
[7] H.A. Souza; J. M. G. Rocha; J.R.T. Rios; M. P. S. M. P. Palmieri, “Análise da relação ensino-aprendizagem em
ciências térmicas nos cursos de engenharia,” in Anais do XXV Congresso Brasileiro de Ensino de Engenharia,
Salvador, BA, v.4, 1997. pp.1999-2010.
[8] H.A. Souza, e E.F. Rodrigues, “Expectativas dos estudantes dos cursos de engenharia da UFOP em relação ao seu
futuro profissional,” in Anais Eletrônicos do XXVII Congresso Brasileiro de Ensino de Engenharia, Natal, RN,
1999, pp. 82 – 88.
[9] H.A. Souza, E.F. Rodrigues e A. Tribess, “A motivação dos estudantes de engenharia diante da atual conjuntura
sócio-econômica brasileira,” in Anais Eletrônicos do XXVIII Congresso Brasileiro de Ensino de Engenharia, Ouro
Preto, MG, 2000 (CD-ROM).
The teacher role on the motivation in the learning process in engineering courses
Abstract. The curricula reformulations, the adequation of the programs and the actual improvement of laboratories in
the engineering courses at Federal University of Ouro Preto and University of São Paulo haven’t had the expected
effect on the students motivation. Some researches carried out by the teachers, of the thermal area, showed that the
adopted methodology and the students-teachers relationship are very important for the students performance. The
research also presents results, with new conclusions about the teaching-learning process, which show that the role of
the teachers is still fundamental for the motivation of the students during their engineering course.
Keywords: Engineering, Teaching methodology, Students motivation, Student-teacher relationship
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