Fequimetal/CGTP-IN Federação Intersindical da Metalurgia, Metalomecânica, Minas, Química, Farmacêutica, Petróleo e Gás Boletim sindical z III Série z N.º 2 Outubro a Dezembro de 2004 Distribuição gratuita Editorial Construir a esperança O final do ano de 2004 trouxe algumas notícias positivas para quem trabalha, como os profissionais de informação médica. m primeiro registo positivo, para a nossa classe profissional, é o pedido formulado pelo Procurador-Geral da República ao Tribunal Constitucional, para que declare a inconstitucionalidade do Despacho N.º 2837/2004, sobre o acesso dos delegados de informação médica aos estabelecimentos e serviços de saúde. Esta decisão deve ser acolhida com satisfação por todos os colegas que, assim, vêem ser acolhida pelas instâncias judiciais a contestação constante que a nossa organização sindical desencadeou contra aquele perverso diploma. Entretanto, o nosso sindicato prosseguirá a sua firme actuação, para que se não crie um vazio legislativo, pugnando pela elaboração de um diploma com normas que, efectivamente, correspondam ao objectivo de dignificação da nossa classe profissional. m segundo registo tem a ver com a dissolução da Assembleia da República, a demissão do Governo e a convocação de eleições legislativas antecipadas. Foi assim posto termo a uma série de malfeitorias e desmandos, cometidos contra os interesses e direitos dos trabalhadores e em exclusivo benefício de uma arrogante minoria de exploradores sem escrúpulos. ando satisfação às aspirações da generalidade dos homens e mulheres que, dia a dia, lutam pela melhoria das suas condições de vida, realizam-se eleições no dia 20 de Fevereiro. O seu resultado deverá contribuir para a alteração da política seguida há quase três décadas e para a formação de um Governo que, enfim, se empenhe na resolução dos mais graves problemas que afectam os trabalhadores e seja um efectivo paladino da promoção do trabalho com direitos e de uma perene justiça social. Para isso, tal como para toda a nossa acção futura, é indispensável o contributo dos profissionais de informação médica. U The Sales Force NOTAS DE REGISTO O Procurador-Geral da República e o Despacho 2837/2004 Construir uma política do medicamento ORGANIZAÇÃO Reunião no Porto Eleições no Sinquifa Almoço de convívio anual U D s ai po n Si em T do Que rigor? Dos cerca de 23 500 médicos que trabalham no SNS, pouco mais de 6 mil são médicos de família. São estes que constituem o painel principal e prioritário de visitação da indústria farmacêutica. A razão é muito simples: o ambulatório representa cerca de 80 por cento do mercado. Se considerarmos que, dos cerca de 6 500 profissionais de informação, 4 500 desenvolvem em permanência a sua acção junto dos médicos de família, teremos menos de 1,5 médicos para cada DIM. Se este assunto merece algum rigor, esta relação é o que é. 2 The sales force O medicamento não é um vulgar bem de consumo. É um instrumento de saúde. Mas a indústria quer vender um medicamento como quem vende um sabonete - com "balde de plástico" e tudo, se o cliente for nisso. E às vezes vai... isto a propósito da "opinião" depositada na caixa de sugestões de um Centro de Saúde e que, embora não assinada, se presume ser de um delegado de informação médica: "Gostaríamos que os Dr.s do C.S. mostrassem + respeito pelos DIM pois temos uma função a desempenhar e gostaríamos de ser recebidos e vistos como profissionais e não como aqueles que só interessa receber quando têm algo a pedinchar". A função do DIM insere-se em critérios estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde e o seu desempenho consiste em conduzir um trabalho promocional de forma rigorosa, responsável e ética, fornecendo aos médicos uma informação completa e não distorcida sobre cada medicamento apresentado, nomeadamente no que respeita a questões de segurança. Fosse este o desempenho funcional dos DIM, na rigorosa observância das disposições legais, recomendações da OMS e demais normas regulamentares e éticas, e certamente que os DIM seriam recebidos e vistos VEM como profissionais de informação médica e fariam jus ao respeito dos médicos e demais intervenientes no sistema de saúde, a começar pelos seus utentes e destinatários. nós já não somos, de facto, delegados de informação médica. Vergados pelo discurso redondo dos marketing shares, das médias, dos objectivos, das vendas, deixámos que os managers do marketing fizessem de nós a task force dos seus objectivos de vendas, sem grande consideração pelos que decidem da utilização dos medicamentos e sem qualquer respeito pelos sujeitos a quem se destinam. E também sem respeito pela dignidade dos DIM e em permanente e sistemática violação dos seus direitos laborais e de cidadania. Nunca a pressão sobre os médicos foi tão grande. Nunca o marketing farmacêutico foi tão agressivo. Nunca os DIM foram tão manipulados. Daí, o vale-tudo que por aí vai: das empresas-fantasmas às empresas de aluguer, dos free-Iancers aos mercenários, dos delegados que são aos que fingem ser, tudo a monte e fé no deus- MAS mercado, usando e abusando de todo os tiques e truques, do choradinho à sedução, do aliciamento ao compromisso, na ânsia duma subida ao pódio de Schwarzenegger das vendas. E quando não respeitamos a função do médico nem a confiança da nossa relação com o médico, nem nos respeitamos a nós próprios, certamente que os médicos não poderão ter respeito por nós nem pela nossa função e menos ainda pelo nosso desempenho. E enquanto não formos capazes de criticamente avaliar a nossa função e a relação que estabelecemos com ela, enquanto não formos capazes de fazer a síntese entre informar e vender, enquanto não formos capazes de rasgar o colete-de-forças de força de vendas, não conseguiremos superar frustrações e gritos de raiva, como aquele que um de entre nós deixou algures na caixa de sugestões de um Centro de Saúde. desafio impõe-senos. O mercado dos medicamentos não se pode reger apenas e só pelas regras da oferta e da procura. E nós sabemos que é possível conciliar a especificidade do mercado de produtos farmacêuticos com o carácter social do sistema de saúde. ESSE J. Amílcar Carvalho (DIM) Fequimetal/CGTP-IN Federação Intersindical da Metalurgia, Metalomecânica, Minas, Química, Farmacêutica, Petróleo e Gás Sede Rua dos Douradores, 160 1100-207 LISBOA Telef.: 218 818 500 Fax: 218 818 555 [email protected] Sindicatos federados Sinorquifa - Sindicato dos Trabalhadores da Química, Farmacêutica, Petróleo e Gás do Norte z Sinquifa - Sind. Trab. Química, Farmacêutica, Petróleo e Gás do Centro, Sul e Ilhas z Sind. Trab. das Indústrias Metalúrgicas e Metalomecânicas dos Distritos de Aveiro, Viseu e Guarda z Sind. Trab. Indústrias Metalúrgicas e Metalomecânicas do Distrito de Braga z Sind. Trab.Ind. Metalúrgicas e Metalomecânicas dos Distritos de Coimbra e Leiria z Sind. Metalúrgicos e Ofícios Correlativos da Região Autóno- ma da Madeira z Sind. Trab. Ind. Metalúrgicas e Metalomecânicas dos Distritos de Lisboa, Santarém e Castelo Branco z Sind. Trab. Indústrias Metalúrgica e Metalomecânica do Norte z Sind. Trab. Indústrias Metalúrgicas e Metalomecânicas do Sul z Sindicato dos Trabalhadores da Metalurgia e Metalomecânica do Distrito de Viana do Castelo z Sind. Trab. da Indústria Mineira. PGR pede inconstitucionalidade do Despacho 2837/2004 No final de Novembro, o Procurador-Geral da República pediu ao Tribunal Constitucional que declare a inconstitucionalidade de todas as normas do regulamento sobre o aceso dos DIM aos serviços de saúde, segundo um documento a que a agência Lusa teve acesso. Em carta datada de 19 de Novembro e assinada pelo chefe de gabinete de Souto Moura, refere-se que o Procurador-Geral "solicitou ao Tribunal Constitucional a declaração de inconstitucionalidade de todas as normas" daquele regulamento. As novas regras foram definidas por despacho do ministro da Saúde, a 8 de Janeiro de 2004. Entre elas contam-se o registo obrigatório dos DIM junto das autoridades de saúde, a imposição a cada laboratório de um limite anual de seis visitas, por hospital ou centro de saúde, e um máximo de dez médicos visitados em cada dia por cada delegado, sempre fora do horário de assistência aos doentes. O Despacho prevê também que os DIM e os laboratórios que representam percam o acesso ao Serviço Nacional de Saúde, por um máximo de três anos, em casos de violação das normas definidas. A Apifarma contestou esta última disposição e solicitou, em Março, um parecer ao jurista Jorge Miranda. O constitucionalista e professor catedrático concluiu pela "inconstitucionalidade orgânica, material e formal" do despacho e considerou que as sanções definidas constituem uma "privação ou uma incapacidade para o exercício da profissão que só um tribunal judicial poderia decretar". Segundo Jorge Miranda, a exclusão até um máximo de três anos "vai muito para além do necessário, não corresponde a uma ponderação satisfatória dos bens jurídicos a preservar" e "pode ter consequências devastadoras para toda a vida profissional dos delegados de informação médica". 3 Eleita Comissão Coordenadora no Porto Em reunião havida no Porto, na sede do Sinorquifa, no dia 11 de Novembro, para avaliar as condições do exercício profissional na Zona Norte face ao Despacho 2837/2004, foi eleita uma Comissão Coordenadora Norte dos profissionais de informação médica, no âmbito do sindicato. Esta Comissão deverá proceder ao levantamento das principais dificuldades que a aplicação daquele despacho veio colocar à actividade dos delegados de informação médica e procurar, com as autoridades responsáveis, a concertação possível, enquanto aquele diploma não for substituído por um novo ordenamento de acesso dos DIM aos estabelecimentos e serviços do SNS. Eleições no Sinquifa Nos dias 29, 30 e 31 de Março, o Sindicato dos Trabalhadores da Química, Farmacêutica, Petróleo e Gás do Centro, Sul e Ilhas (Sinquifa) vai eleger os seus corpos gerentes (Direcção, Mesa da Assembleia Geral e Conselho Fiscalizador) para o triénio 2005-2008. Oportunamente será divulgada a convocatória, bem como o prazo para a entrega de listas. O sindicato apela à participação dos associados, para que estas eleições contribuam para reforçar a organização, aumentar a sindicalização e incrementar a capacidade de intervenção e acção. Almoço de convívio anual Como já é tradicional, terá lugar em Abril o próximo almoço de convívio dos profissionais de informação médica, iniciativa da Fequimetal e dos sindicatos do sector. Oportunamente, será divulgada informação mais detalhada, sobre o local e a data em que vai decorrer. Tal como os anteriores (na foto, o que se realizou no dia 17 de Abril de 2004), este será um alegre momento de convívio entre as diferentes gerações de colegas. 4 Construir uma política do medicamento Uma autêntica política de Saúde, ao serviço dos mais elementares interesses e direitos das populações, constitui um dos pilares essenciais para qualquer País que queira ser, de facto, uma sociedade civilizada. Para a construção de uma efectiva política de Saúde contribui, como uma das vertentes de extrema importância, a concretização de uma política de medicamentos que assegure à generalidade dos cidadãos uma inequívoca acessibilidade aos medicamentos de que têm necessidade. Neste breve texto, sobre política de medicamentos, dar-se-á relevo a um dos pontos mais relevantes para a sua construção: - os medicamentos destinam-se a prevenir enfermidades ou a auxiliar na cura todo e qualquer cidadão que se debata com uma doença ou tenha sido atingido por qualquer acidente. Nessas circunstâncias, os medicamentos devem ser colocados à sua disposição, não como um qualquer produto para consumo, mas como um instrumento, muitas vezes precioso, para superar situações difíceis e dolorosas, actuando como elemento importante para a reposição da saúde. Este é o ponto essencial a definir! O medicamento não pode ser entendido como uma fonte de grandes negócios e de fabulosos lu- cros, mas como um bem essencial à saúde. Não é por acaso que, por somente os encararem numa perspectiva mercantil, as empresas farmacêuticas são vistas com uma péssima imagem pelos utilizadores de medicamentos que, cada vez mais, se vêem impossibilitados de adquirir os medicamentos de que estão carecidos, devido ao seu elevado custo. Por ter tomado consciência dessa situação, a Directora-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), em Maio de 2001, no decurso da 54.ª Assembleia da Organização, afirmou com toda a transparência que "a posição da OMS é clara. Nós trabalhamos para assegurar que os remédios vitais sejam acessíveis a todas as pessoas que deles necessitam - não importa os seus rendimentos, não importa as suas condições de saúde, não importa os países onde vivem". O objectivo é tornar possível o acesso aos remédios com base na necessidade, e não consoante a capacidade de os pagar. O acesso ao tratamento da saúde é um direito humano. Este direito humano, o direito a dispor de um medicamento para o seu tratamento, é o ponto maior e mais importante a ter em conta na elaboração de uma verdadeira e séria política do medicamento. Entretanto, é da maior importância ter plena consciência de que o problema dos medicamentos e do seu custo só terá solução, quando se conseguir domesticar as famigeradas corporações transnacionais da indústria farmacêutica, a nível interno e internacional, controlando a sua actividade e pondo cobro aos lucros fabulosos que alcançam à custa da exploração da saúde das populações. Quando se alcançar esse objectivo, poder-se-á pensar em alcançar o direito humano de dispor de um medicamento, factor incontestável da maior importância, a ter em conta na elaboração de uma verdadeira, rigorosa e responsável política do medicamento. Álvaro Rana