1 OE NO IDEÁRIO PEDAGÓGICO DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES SILVA, Mª. Ruth S. da; MIRANDA, Marília F.;LEITE, Sandra M. – Docentes UEL. SILVA, Franciele C. da; SOUZA, Marcia de. – Discentes UEL Resumo: Tratamos aqui do Projeto de Pesquisa “O ideário pedagógico na formação de professores em Londrina”, cujo objetivo foi identificar o pensamento pedagógico predominante na formação de professores em instituições de ensino privado, numa cidade no interior do Paraná. Uma de suas vertentes verificou a atuação dos Orientadores Educacionais (OE) cuja influência consistiu em manter a relação de poder dentro das escolas, utilizando práticas preventivas de intervenção e adaptação no processo de poder. A pesquisa revelou fundamentação nas concepções positivistas de homem, de educação, de sociedade. A prática constituiu­se em articular o processo de hegemonia na escola. As políticas educacionais têm­se pautado em modelos importados, formando o pensamento pedagógico brasileiro sem atender à nossa realidade sócio­educacional. Foram impostas, numa relação de submissão da educação à ação autoritária do poder governamental quanto à organização, legislação, financiamento e atividades que orientaram o saber pedagógico. Ora privilegiou, ora descartou o OE, de acordo com o momento político e econômico vigente e, assim, a sua prática tem esbarrado em muitas contradições e limites nos conflitos que se refletem na dinâmica escolar. Palavr as­Chave: Formação de Professores; Orientação Educacional; Políticas Educacionais. EO INTO THE PEDAGOGIC IDEAS ON TEACHER’S GRADUATION Abstract: Discussion of the Research Project “The pedagogic ideas on teachers’ graduation in Londrina”, that aimed to identify the main pedagogic thinking during graduation of teachers in private education institutions in a city in Paraná state. One of its sources checked the actuation of Educational Orientation (EO) whose influence consisted in keeping the power relation inside school, using avoiding practices of intervention and adaptation to this power process. This research based itself into the positivist conceptions of man, education, society. The practice consisted in articulation of hegemonic process inside school. Our educational politics are based on foreign models, so Brazilian pedagogic thinking has no relation to our socio­educational reality. These were imposed, in a relation of education submission to the authority of governmental power that controls its organization, legislation, financial matters and activities that oriented the pedagogic knowledge. Sometimes it privileged or discarded the EO, according to the political or economical moment of that period and, in this way, its practice has been finding obstacles in a number of contradictions and limits in the conflicts which are impairing the school dynamics. Keywords: Teachers’ Graduation; Educational Orientation; Educational Politics.
2 Introdução Ao analisar a caminhada da educação brasileira percebemos que, em cada momento histórico, há uma relação de forças. Elas indicam linhas de ação, tanto conservadoras como renovadoras. Freitag (1989, p.33) nos chama atenção para as políticas educacionais, afirmando que tinham como finalidade: “... disciplinar as mentes, treinar a força de trabalho e reproduzir as estruturas sociais, de um lado, e a sua capacidade de dinamizar os potenciais emancipatórios implícitos na realidade social, de outro”. Tanto umas como as outras identificam ou mascaram as ideologias subjacentes ao contexto histórico que se analisa. Como parte desse modelo de educação, a Orientação Educacional, como as demais áreas, era mediadora dos interesses da classe dominante. Desse modo se reforçava a reprodução das classes sociais. Em sua análise, Garcia (1995, p.32), diz que estava “... contaminada pelo discurso liberal, com princípios de individualismo, liberdade, igualdade e democracia, incorpora a ideologia que tenta explicar a sociedade organizada a partir do modo de produção capitalista”. Assim, fica claro na escola que está sendo investigada, principalmente por ela ser uma instituição particular de caráter confessional protestante e que, como tal, servia aos interesses da elite. Na análise de Bertan (1990. p.173) esta instituição de ensino, “acompanhou esta lógica, quanto `a concentração do capital social nas mãos de uma minoria, as igrejas”. E continua em sua reflexão que, no projeto educativo da referida instituição (p.175) “veiculava o interesse evangelizador, via projeto Pedagógico”, no entanto no transcorrer histórico, na verdade, o que se viu é que o modelo que estava subjacente é o modelo de escola na perspectiva empresarial, preocupada com o lucro. Estes princípios e as formas capitalistas formaram o pensamento pedagógico brasileiro diferentemente da realidade sócio­educacional. No caso da escola que está sendo pesquisada, a proposta educacional tinha por objetivo a “formação integral e era entendida como individualista, dentro dos princípios liberais” (Bertan, 1990, p.156). Não atendiam às necessidades mais prementes de uma educação para nossa sociedade. Para firmar estes princípios e formas foram impostos, numa relação de
3 submissão da educação à ação autoritária do poder governamental de acordo com a organização, legislação e das atividades que orientam o saber pedagógico. Objetivos do projeto de pesquisa desenvolvido:
· Compreender as ações do Orientador Educacional nas questões da evasão, reprovação, currículo e Projeto Político Pedagógico;
· Analisar o pensamento pedagógico contido nas atividades desenvolvidas por este profissional, contratados para atuarem nas escolas particulares de formação de professores, na cidade de Londrina;
· Refletir sobre a construção do referencial teórico que norteou a atuação dos profissionais da orientação Educacional e as formas alternativas do trabalho cotidiano, nas instituições particulares, desta cidade do interior do Paraná;
· Conhecer a realidade das políticas praticadas pela rede privada de ensino, relativas ao Orientador Educacional. Metodologia Nesta investigação está sendo utilizada a metodologia da pesquisa qualitativa e o método de questionamento reconstrutivo (Demo, 1996) de fontes primárias e secundárias. Trata­se de estudos de caso, em que cada instituição pesquisada terá um tratamento específico, conforme a sua história. Mas, ao mesmo tempo, trata­se de estudos de caso, quando cada um dos pesquisadores realizar as suas análises finais, com a intenção de constatar os pontos comuns e, ou, divergentes entre os cursos estudados e conforme a abordagem que cada um deles propõe investigar. Para o estudo dos dados coletados estão sendo utilizadas técnicas de análise de documentos oficiais, entrevistas semiestruturadas, depoimentos, fotos, histórias de vida, diagnósticos de situação, mapeamento(s) de representação (ões) (Thiollent, 1986). Esta metodologia está sendo utilizada por todos os componentes do Grupo, de modo flexível e está sujeita a mudanças, como é próprio da pesquisa qualitativa, não se descartando a possibilidade de utilizar dados e técnicas quantitativos. Todas as ações
4 realizadas individualmente são colocadas à disposição dos demais membros do Grupo para que cada um realize a sua análise, de acordo com as especificidades da sua proposta, registrada em seu Plano de Trabalho. O método de questionamento reconstrutivo (DEMO, op cit.) permite o(s) retorno(s) às fontes sempre que parecer necessário(s). O estudo documental traz a possibilidade de análises sobre as questões estruturais, filosóficas, políticas das idéias pedagógicas oficiais, registradas em cada momento histórico, quer nas implantações de novas tendências, quer nos resultados obtidos. As entrevistas semi­estruturadas, os depoimentos, as histórias de vida, possibilitam a liberação às falas dos entrevistados, permitindo vislumbrar imagens diversas nos fatos relembrados e que envolvam aspectos intelectuais, pedagógicos, filosóficos, emocionais e outros. O mapeamento de representações será utilizado, tanto para indicar os estabelecimentos a serem pesquisados, como para detectar os pontos convergentes e, ou, divergentes entre eles. Convém evidenciar que as considerações apresentadas até o momento são parciais, visto o referido projeto está na fase de análise dos dados dos depoimentos, das entrevistas colhidas com educadores e egressos do curso, tendo a oportunidade de fazer cruzamento das informações obtidas de uns com as de outros, para assim chegar às conclusões sobre o ideário pedagógico que norteia o fazer dos Orientadores Educacionais, na escola de formação de professores na rede particular de ensino, nesta cidade do interior do Paraná. Luzes para compreender Vamos iniciar, fazendo uma breve caminhada histórica para que possamos compreender o fazer dos Orientadores Educacionais em vários momentos da educação brasileira. Nos anos 30 do século XX, surgiu a necessidade de diferentes trabalhadores capacitados profissionalmente, para a empresa, indústria e comércio, por conta da industrialização Nacional. O processo produtivo passou a exigir deles hábitos, atitudes e conhecimentos, entendidos como uma capacitação profissional, compreendida como um conjunto de habilidades para o ajustamento ao processo produtivo, sendo a escola
5 o lugar onde se efetivaria este preparo. Assim, a escola serviu à sociedade capitalista à medida que reproduziu a força de trabalho. A Orientação Educacional, que antes se fazia, acontecia fora da escola, passou a ser exigida para atuar em seu interior, orientando os jovens nos planos de estudos e carreira, de acordo com suas aptidões. A Orientação Profissional, assim entendida, acabou por abrir caminhos para a Orientação Educacional. A afirmação de que era preciso garantir que o homem certo estivesse no lugar certo não mais bastava para resolver os problemas no interior das empresas. Urgia preocupar­se com o ser humano, surgindo desse modo, a preocupação com o ajustamento dos trabalhadores às novas exigências. Daí resultaram importantes estudos sobre relações humanas. A atuação dos Orientadores foi fortemente marcada com os documentos legais, de modo a transformar as atividades, antes isoladas, em um fazer respaldado pela legislação. Caracterizou­se por um enfoque psicológico, na perspectiva de aconselhamento, num aspecto preventivo e de caráter funcionalista. Na análise de Grinspun (1997, p.17), a Orientação Educacional estava “... muito mais a serviço das determinações legais do que das discussões e conclusões travadas pelos profissionais da educação”. Essa autora ainda continua, em sua afirmação, dizendo que a Orientação Educacional corroborava “... com a tese do ensino diferente para as diferentes classes sociais, mascarava seu papel abrangente legitimando por suas funções as desigualdades sociais” (IDEM). A Orientação Educacional fazia parte do sistema que objetivava a consolidação da estrutura elitista do ensino Nacional, em que a educação servia para preparar a elite dirigente. Tinha um caráter preventivo na medida em que lhe cabia prevenir os desajustamentos e os desvios de conduta, encaminhando os jovens nos estudos e na escolha profissional. Desse modo, por um lado havia uma estrutura educacional destinada a reforçar o seu caráter elitista e seletivo. Por outro lado, corroborava e reforçava a estrutura em que a organização estava direcionada para a formação dos trabalhadores, os quais comporiam a mão­de­obra, para atender as necessidades do processo de produção. A Orientação Educacional possuía a concepção de propor aos orientandos, segundo Sigrist e Pimentel (1971, p. 17):
6 Opções conscientes, baseadas no conhecimento racional dos fatos e situações, bem como na avaliação objetiva de seu próprio potencial, num processo de conscientização versus manipulação social, caminhando gradativamente para a maturidade individual e social. Com o surgimento do Movimento em Defesa da Escola Pública, nos idos dos anos 50 do século XX, surgiu a proposta de democratização do ensino com garantias de oportunidade para todos. Buffa (1988, p.32) analisa a efetivação da proposta que deveria ser socializada “... de modo que a população pudesse usufruir os benefícios do desenvolvimento industrial, e da modernização do sistema educacional, pela aplicação de métodos científicos aos problemas educacionais, dentro dos princípios da Escola Nova”. Contrapondo­se àqueles, havia também os defensores da escola particular. Eram lideradas pelos educadores religiosos, que defendiam a liberdade de ensino, as orientações humanísticas e religiosas nas escolas. Primavam pelo financiamento das escolas particulares, com subsídios do Estado. Desse modo, ofereciam alguma gratuidade garantindo – aos pais de menor poder aquisitivo – o direito de escolha da educação para seus filhos. Esses discursos, conforme aponta Libâneo (1984, p.59). “... coincidem com os interesses dos políticos e empresários de sustentar uma ordem social como características oligárquicas e uma escola elitista”. Ao final dos anos 50 do século passado, o conceito de orientação educacional, conforme Lipmann, (Apud GRINSPUN 2002, p. 46), estava a serviço das direções das escolas a fim de aliviá­las das sobrecargas, descentralizando alguns serviços. Os Orientadores Educacionais passaram a ter funções de:
· Disciplinar a conduta dos alunos;
· Desenvolver a vida social dos estudantes;
· Dirigir os estudos dos educandos. Se de um lado havia estas disfunções, por outro havia a garantia dos conceitos da Orientação Educacional, pois na abertura do II Simpósio sobre Orientação Educacional, o Dr. Gildásio Amado, então o diretor do Ensino Secundário, explicita: A Orientação Educacional é o eixo da moderna educação do adolescente. Por seu intermédio, especialmente, a escola assume a grande função de formar personalidades... A evolução da Orientação Educacional acompanha o movimento pedagógico contemporâneo... A Orientação Educacional é fio condutor, o
7 instrumento ordenador. (Apud GRINSPUN 2000, p.48). E continua em seu discurso, falando sobre a importância da Orientação Educacional, seu papel e funções, bem como, sobre os objetivos esperados: A Orientação Educacional transformará a escola instrutiva de nosso meio na escola viva, pesquisadora e orientadora das aptidões e dos interesses... Guiará os alunos de acordo com suas singularidades, para que possam ter maior rendimento, suas virtualidades vocacionais... Buscará realizar esse equilíbrio com que a escola se adapte às necessidades e aspirações dos alunos e os prepare para as exigências profissionais e sociais futuras. (IDEM). O que fica claro, é que o enfoque da Orientação Educacional, possuía ênfase no aspecto preventivo, na perspectiva psicológica. O aluno era o centro do processo de ensino e aprendizagem e deveria ser tratado individualmente, deveria ser ajustado ao meio social e às normas preestabelecidas, identificando suas aptidões, interesses e sua escolha profissional. A Orientação Educacional, em sua abordagem sobre a Orientação Profissional, atendia aos ditames ideológicos de auxiliar o desenvolvimento Nacional industrial, indicando os profissionais mais adequados. Ficou, nesta época, restrita às escolas secundárias, mostrando assim que a sua atuação, com este enfoque, deveria acontecer só para este nível de ensino e não para toda a educação. Neste sentido, o Orientador Educacional auxiliaria os alunos em suas atividades escolares, zelando pelos seus estudos, na busca do desenvolvimento harmonioso de sua personalidade. O caráter funcionalista e elitista desta área se percebe pelo fato de que estava mais a serviço das atribuições legais do que comprometida com as discussões travadas pelos profissionais da educação. Não se percebia a dicotomia do ensino dual, que acabavam legitimando as desigualdades sociais. Com o contexto de endurecimento político dos anos 60/70 do século XX, a educação brasileira tem seu ponto maior na votação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) nº 4024/61. Sua discussão ocorreu durante 13 anos no Congresso Nacional, tendo como principais discussões: o ensino privado versus público (que deu origem ao Projeto Lacerda) com a defesa do ensino privado e a centralização
8 versus descentralização, com o projeto Mariani, defendendo um sistema único de ensino para todo o País. A Orientação Educacional – que aparece no texto como Orientação Educativa e Vocacional – foi estimulada, principalmente por reafirmar a obrigatoriedade e a implantação dos cursos de formação. Em seu Art. 62, a Lei diz que a formação acontecerá em “cursos especiais que atendam às condições do grau, do tipo de ensino e do meio social a que se destinam”. Em seguida, o Art. 63 explicita a formação para a atuação do Orientador Educacional no Ensino Médio: Nas faculdades de Filosofia, será criado, para a formação de Orientadores de Educação do ensino médio, curso especial a que terão acesso os licenciados em Pedagogia, Filosofia, Psicologia ou Ciências Sociais, bem como os diplomados em Educação Física e os inspetores federais de ensino, todos com estágio mínimo de três anos no magistério (LDBEN 4024/61). E o Art. 64 estabelece que para atuarem no ensino Primário, os Orientadores Educacionais deverão ser formados “nos Institutos de Educação, em curso especial a que terão acesso os diplomados em escolas normais do grau colegial e em Institutos de Educação, com estágio mínimo de três anos no Magistério Primário” (IDEM). Há todo um apoio governamental, principalmente quanto a formação do Orientador, com cursos, encontros e seminários. O enfoque de atuação estava na perspectiva terapêutica, utilizando o aconselhamento, assistindo o aluno, em grupo ou individualmente. Tinha como objetivo o desenvolvimento harmonioso da personalidade, a fim de fazer opções conscientes. A educação brasileira, após o Golpe Militar de 1964, entrou em crise. O Governo brasileiro, através do Ministério de Educação e Cultura (MEC), fez uma série de convênios, principalmente o acordo entre o Ministério da Educação e Cultura (MEC) com a United States Agency International for Development (USAID), conhecido historicamente como acordo MEC/USAID, o qual buscou redefinir a Política da Educação Nacional, que acabou por reformar o ensino pelas Leis nº 5.540/68 e 5.692/71. Ao analisarmos esta última Lei, percebe­se a sugestão de ensino dual em que se preparariam alguns para o ingresso nos cursos superiores, como se pode ver na citação a seguir (Cap. III Art. 23): “a conclusão da 3ª série do ensino de 2 º Grau, ou do correspondente no regime de matrículas por disciplinas, habilitará ao prosseguimento dos
9 estudos em grau superior” restando, aos demais jovens o ensino profissional, a fim de que os preparassem para ingressar no mercado de trabalho. Neste sentido a Orientação Educacional foi regulamentada através da Lei 5.564/68 enquanto exercício profissional. Com o Decreto 72.846/73 foram determinadas as atribuições do Orientador Educacional. Ele formalizou a atuação desse profissional, na perspectiva de informação profissional, coordenando o processo de sondagem de aptidão, de interesses e habilidades do aluno, no aspecto do aconselhamento vocacional. Manteve­se o caráter psicológico preventivo como ocorria antes. Grinspun (1987, p.49) afirma, ao analisar esse documento, que a Orientação Profissional era vista “... no aspecto individual – interesses e aptidões – como responsável por uma escolha vocacional acertada”. Considerações Finais A gente vai contra a corrente Até não poder resistir. Na volta do barco é que sente o quanto deixou de cumprir. Faz tempo que a gente cultiva a mais linda roseira que há. Mas, eis que chega a roda viva e carrega a roseira pra lá. (Roda viva: Chico Buarque, 1967) 1 O trecho acima nos demonstra a transitoriedade e o movimento da vida de modo geral. Por analogia nos reporta à dinâmica da educação e, no caso desta pesquisa, à Orientação Educacional. Toda cultura é transitória e sofre uma contínua (re)organização, estando em constante movimento. Assim, também a cultura escolar e a Orientação Educacional, fazendo parte deste contexto maior, sofrem as movimentações ditadas por tempo/espaço, tal como o trecho música de Chico Buarque, acima transcrita. A possibilidade de uma escola competente, que promova a emancipação humana, na verdade não interessa aos grandes senhores do mundo. Agindo dessa maneira, vale lembrar, que estaríamos retrocedendo no tempo por conta de uma pedagogia ‘artesanal’, do pedagogo generalista, escondendo as relações sociais do modo de produção capitalista que atingem e produzem os trabalhadores. 1 Esta música foi escrita para a peça teatral Roda­Viva em 1967 e está no Disco do mesmo ano, sob o título: “Chico Buarque de Holanda”.
10 Atualmente, como em tempos passados, a educação tem sido destaque nos debates, sendo colocada num ponto central e privilegiado. A famigerada “qualidade da educação” é assumida como pseudoprioridade por vários setores governamentais e das empresas. Toma vulto como estratégia, enquanto forma eficaz para realizações mais eficientes, com a finalidade de refinar e aprofundar o projeto de capitalismo e suas novas formas de acumulação. O discurso que está em evidência objetiva, serve aos processos da reestruturação da produção, no que tange ao desenvolvimento da economia e, ainda exige que os trabalhadores sejam incluídos numa sociedade, envolta nos ares da pós­ modernidade. Nesta ‘festejada’ valorização da educação, fica marcada a concepção dos pressupostos econômicos, em que educar está nos patrocínios da competitividade para o mercado. Contrapõe­se dessa forma, à visão de educar para a cidadania, para a participação política e para a cultura. A atuação da Orientação Educacional, na perspectiva de orientar e aconselhar, surgiu não por conta de situações escolares, mas das condições, de mudança da vida industrial­profissional. Quando analisamos as práticas dos Orientadores Educacionais, verificamos que, na verdade, tinham o objetivo maior de disciplinar os jovens, se pautando na utilização de métodos para controlar as pessoas, com a finalidade explícita de torná­los submissos, para uma relação dócil. E isto se dá a partir das necessidades de controlar a força de trabalho, das exigências técnicas e administrativas, que ocorreram no crescimento da revolução industrial. Isto posto, a escola acaba por reforçar os ditames da sociedade, no sentido de enquadrar os seres humanos, aos padrões preestabelecidos pela sociedade e pela escola. Assim, a legitimação de punições é entendida como algo natural. Faz­se necessário que as regras sejam repensadas, discutidas e criadas coletivamente. Dessa maneira, o poder é exercido sob uma capa de impessoalidade, apoiado em normas regimentais, nas leis e nos ditames da administração, que são utilizados e exercidos com a conivência de todos na escola.
11 Refer ências Bibliográficas BERTAN, T. C. – A Educação Confessional Protestante: Instituto Filadélfia de Londrina – 1944 a 1972. Universidade Estadual de Campinas – Faculdade de Educação, 1990 – Dissertação de Mestrado. BRASIL/LDBEN nº 4024/61 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília. MEC, 1961. BUFFA, E. Educação e Cidadania: Quem Educa o Cidadão? São Paulo, Cortez, 1998. Demo, 1996. DEMO, P. Educar pela pesquisa . Campinas, SP: Autores Associados, 1996. FREITAG, B. Escola, Estado e Sociedade. São Paulo, Moraes, 1986. GARCIA, R. L. & MAIA, E. M. Uma Orientação Educacional Nova para uma Nova Escola. São Paulo, Loyola, 1995. GRINSPUN, M. P. S. Z. – A Orientação Educacional: conflito de paradigmas e alternativas para a escola. São Paulo: Cortez, 2002. _________. Orientação Educacional Contextualizada . In: Orientação Educacional Hoje e Amanhã. Revista da Educação, AEC, Abril/Junho, 1987. LIBÂNEO, J. C. Democratização da Escola Pública: a Pedagogia Crítico Social dos Conteúdos, São Paulo, Loyola, 1984. SIGRIST, A. C. & PIMENTEL, M. G. – Orientação Educacional. São Paulo: Pioneira, 1971. THIOLLENT, M. Metodologia da Pesquisa­Ação. São Paulo. Cortez: 1986.
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