No.28, Abr – Jun. 2007
Organização da informação no ambiente virtual por meio de
mapas conceituais: A importância da terminologia
Mônica de Fátima Loureiro
Doutoranda em Ciência da Informação e Documentação
Universidade de São Paulo (USP), Brasil.
[email protected]
Resumo
O presente estudo tem como objetivo destacar a importância da área da Terminologia,
explorar seus conceitos e demonstrar que a mesma é fundamental para o
desenvolvimento de estudos de constituição de mapas conceituais para a organização
da informação, no ambiente virtual. Destaca-se, ainda, a importância dos
conhecimentos da área da Terminologia para os Profissionais da Informação, em suas
atividades de rotina.
Palavras-chave
Organização da informação; terminologia; mapas conceituais
Abstract
This study has the objective to quote the importance of the Terminology, to explore
their concepts and to demonstrate that it is fundamental for studies development of
conceptual maps constitution in order to organize information in cyberspace. The
Terminology is, in this sense, a relevant knowledge to Information Professionals to
develop information activities.
Key words
Information organization; terminology; conceptual maps
Loureiro - Organização da informação no ambiente virtual por meio de mapas conceituais
1 - Introdução
Na contemporaneidade é recorrente a discussão a respeito de ser informado e de
possuir conhecimento. Nesse sentido, uma coisa é entender a informação como aquela
que reduz a incerteza, outra coisa, é pensar no processo de se manter informado a
respeito de algo, ou ainda de conhecer algo, como proposto na discussão de Buckland
(1991) sobre a informação como processo, conhecimento e coisa.
Baitello Júnior (1994) destaca a relação entre os “informados” e os “nãoinformados” ou excluídos, segregados, etc., dentro do processo de comunicação
humana. Sabe-se, também, que possuir informação é garantia de poder e, por essa
razão, ela é cada vez mais manipulada e comercializada a altos custos.
Grosso modo, a comunicação humana pode ser entendida como a troca de
informação entre, no mínimo, duas pessoas. Porém, esse processo reflete as relações
comunicativas humanas, as quais carregam vínculos simbólicos de um grupo ou
comunidade (BAITELLO JÚNIOR, 1994). Esses valores simbólicos, por sua vez, são
transmitidos por meio da linguagem e da terminologia (SAGER, 1993).
Sager (1993), ressalta as várias visões a respeito da terminologia: ela pode ser
entendida como um “vocabulário essencial para uma comunicação eficaz” (p. 11);
como jargões utilizados por especialistas para impressionar o público; como uma
linguagem especial que “protege” os saberes mais importantes de um campo; ou,
ainda, como uma das chaves do progresso, que permite ascender ao mundo das
ciências e especialidades.
A terminologia se refere tanto a uma área de investigação, como, também, se
refere a um conjunto de termos de uma linguagem especializada dentro de qualquer
campo do saber. Ela abarca ainda, a relação entre o conhecimento e a linguagem dentro
do processo de comunicação. Com o desenvolvimento social e intelectual humano,
ocorrem divisões entre grupos, que são formados baseados nas atividades de trabalho,
de estudo, entre outras. Esses grupos, muitas vezes, compartilham uma linguagem
específica correspondente às atividades ou área a que se dedicam, possuindo, assim,
uma terminologia específica (SAGER, 1993).
De acordo com a Norma ISO 1087-1 de 2000 (INTERNATIONAL..., 2000, p. 10),
terminologia é “um conjunto de designações que pertencem a uma língua especial”.
Ou ainda é “ciência que estuda a estrutura, a formação, o desenvolvimento, o uso e a
gerência das terminologias nos vários campos de assunto“ (INTERNATIONAL..., 2000,
p. 10).
Barros (2004, p. 34) destaca que o objeto de estudo da Terminologia “é o conjunto
de termos de um domínio e dos conceitos (ou noções) por eles designados”. Além
disso, os estudos terminológicos
(...) fornecem as bases teóricas e metodológicas para inúmeras
pesquisas, tendo aplicações no ensino de línguas (materna e
estrangeira), na tradução, na elaboração de obras
terminográficas (dicionários especializados), no ensino de
disciplinas técnicas e científicas, na documentação, no
jornalismo científico, nas ciências sociais, na transferência do
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saber técnico e científico, na produção industrial e nas políticas
lingüísticas (...) (BARROS, 2004, p. 34-35).
Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo entender a relação entre
informação, conhecimento e terminologia, explorando conceitos desta última,
destacando que a mesma é fundamental para o desenvolvimento de estudos de
organização da informação por meio de mapas conceituais. Dessa forma, pretende-se,
nesta reflexão, trabalhar os principais conceitos da terminologia ligados à organização
da informação.
2 - Informação E Conhecimento
Informação e conhecimento são conceitos que formam a base da CI como campo
de pesquisa. Especificamente,
[a informação é] o objeto de estudo da Ciência da Informação
como campo que se ocupa e se preocupa com os princípios e
práticas da criação, organização e distribuição da informação,
bem como com o estudo dos fluxos de informação desde sua
criação até a sua utilização, e sua transmissão ao receptor em
uma variedade de formas, por meio de uma variedade de
canais (SMIT e BARRETO, 2002, p. 17-18).
Le Coadic (1996, p. 5) conceitua informação como “um conhecimento inscrito
(gravado) sob a forma escrita (impressa ou numérica), oral ou audiovisual”. A partir da
informação pode-se chegar ao conhecimento. Dessa forma, o mesmo autor destaca que
um conhecimento (um saber) é o resultado do ato de conhecer,
ato pelo qual o espírito apreende um objeto. Conhecer é ser
capaz de formar a idéia de alguma coisa; é ter presente no
espírito. Isso pode ir da simples identificação (conhecimento
comum) à compreensão exata e completa dos objetos
(conhecimento científico). O saber designa um conjunto
articulado e organizado de conhecimentos a partir do qual
uma ciência – um sistema de relações formais e experimentais
– poderá originar-se (LE COADIC, 1996, p. 5).
Rendón Rojas (2005) destaca as diferenças entre informação e conhecimento,
utilizando os seguintes critérios:
a) as fontes em que eles se originam: para o autor, o ponto de partida para se
obter informação são os dados e objetivos sensíveis; sendo diferente do ponto
de partida para se obter conhecimento, que é a própria informação;
b) as atividades que se realizam para obtê-los: para se obter informação realizase uma síntese (união de extremos opostos). Essa síntese é realizada por uma
ação do indivíduo que une elementos objetivos (dados e estímulos
sensoriais) com elementos subjetivos (que são estruturas interpretativas do
sujeito). Assim, para se obter conhecimento é indispensável realizar
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Loureiro - Organização da informação no ambiente virtual por meio de mapas conceituais
estruturação e interpretação de símbolos, como também, uma série de outras
atividades mais complexas, como a análise, a síntese e as inferências;
c) os resultados alcançados por essas atividades: a interpretação e as formas
simbólicas que fornecem sentidos, ajudando o indivíduo a entender a
realidade, fixando significados a tudo o que ele percebe.
Informação e conhecimento também se diferenciam quanto à natureza: a
informação é uma entidade ideal objetivada e o conhecimento é uma entidade ideal
subjetiva. Isto é, o conhecimento existe somente no sujeito; ao sair do sujeito, via
comunicação, o conhecimento se converte em informação (RENDÓN ROJAS, 2005).
Assim, por analogia, Rendón Rojas (2005) entende que a Sociedade da Informação é
diferente da Sociedade do Conhecimento:
[A primeira sendo] o conjunto de relações sociais em um
espaço social (institucionalizado) altamente dinâmico, aberto,
globalizado e ´tecnologizado´, que se apóiam e realizam por
meio da informação (que é igualmente dinâmica, aberta,
globalizada e ´tecnologizada´) além do mais mercantilizada.
(...) [Já a segunda será] o conjunto de relações sociais em um
espaço social (institucionalizado) altamente ´tecnologizado´
que, por um lado funciona graças ao conhecimento objetivado
em instrumentos, e, por outro, devido a existência do
conhecimento no sujeito (RENDÓN ROJAS, 2005, p. 56,
tradução nossa).
Atrelando os conceitos de informação e conhecimento ao campo da Terminologia,
destaca-se a colocação de Cabré (1999, p. 239), que entende que a terminologia cumpre
duas grandes funções: “a função de representar o conhecimento, especializado, e a de
transmiti-lo”. Essas funções possuem dois níveis distintos de atuação: o nível real e o
nível normalizado.
O primeiro nível representa todo o conhecimento real, que é influenciado pelos
valores culturais distintos, valores esse que são passados via linguagem. Nesse nível, a
comunicação se dá em situações reais, considerando, portanto, situações e
interlocutores diversificados. Já no segundo nível, o normalizado, a transferência e o
pensamento são situados em esquemas controlados, considerando uma área ou campo
específico. Esses esquemas dão ênfase, justamente, às características da terminologia: a
univocidade, a ausência de ambigüidade, a polissemia, entre outras (CABRÉ, 1999).
No nível normalizado nota-se o diálogo entre as áreas da Terminologia e da CI,
pois esta última também preza a normalização e o controle de vocabulários para a
transmissão do conhecimento representado como informação.
Barros (2004) ressalta que a Documentação, por sua vez, também coopera com a
Terminologia, identificando, analisando e organizando os documentos para a
Terminologia proceder a atividades como a recolha de termos (objetos de pesquisa),
organização desses termos, levantamento de dados terminológicos, preparação de
projetos terminológicos, entre outras atividades. Por outro lado, a área da
Terminologia colabora com a Documentação para que esta última trate a informação
científica especializada, como foi destacado anteriormente.
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O ciclo social da informação (MIJAÍLOV et al., 1973 apud RENDÓN ROJAS, 2005,
p. 56) começa com a “geração, coleta, processamento, armazenamento, busca e
recuperação, disseminação e uso”, retornando novamente para o pólo da geração, e
assim por diante, num processo cíclico. Assim, pode-se entender que o conhecimento
de um sujeito é convertido em informação, utilizando-se a linguagem e uma
terminologia específica – de acordo com o grupo a que pertence o sujeito – podendo
ser, depois, comunicado para outros sujeitos: nesse momento convertido novamente
em informação.
Tendo em vista as intersecções da Terminologia com o campo da CI, é importante
que os Profissionais da Informação tenham conhecimentos a respeito dessa disciplina,
o que certamente agregará mais valor às suas atividades informacionais, especialmente
no que tange aos conceitos-chave da Terminologia que poderão ser utilizados no
processo de organização da informação no ambiente virtual.
3 - Terminologia
A terminologia é diretamente ligada à linguagem, pela função que a primeira
exerce, tanto no processo de comunicação humana, quanto no processo de
aprendizagem em qualquer área do conhecimento. Vogt (2006) destaca o alto grau de
sofisticação e complexidade da linguagem, e de sua influência absoluta na organização
da cultura e, também, na ordenação dos processos sociais, os quais caracterizam o
comportamento do homem e sua historicidade.
Por exemplo, para aprender uma língua, um aluno recebe conhecimentos de
gramática, morfologia, sintaxe entre outros. Entretanto, quando o mesmo aluno passa a
estudar um tema específico dentro de outro campo do saber, esse aprendizado se dá a
partir dos conhecimentos iniciais de língua do aluno, que ampliará seu vocabulário
como os conceitos da área escolhida (SAGER, 1993).
Dessa forma, cada campo possui um conjunto de termos e expressões que
compõem sua terminologia específica. No caso do termo informação, sabe-se que ele
possui significados distintos para estudiosos do campo da Ciência da Informação e da
Informática: esse é um exemplo de diferenças conceituais entre áreas do conhecimento,
que podem utilizar um mesmo termo ou nome, fenômeno denominado homonímia.
Na representação do conhecimento, a terminologia é fundamental para realizar as
atividades de descrição de conteúdo adaptadas à linguagem utilizada pelo público.
Nesse sentido, Lara (2004) ressalta que a CI, por meio da Lingüística Documentária,
recorre à Terminologia para garantir as bases para a organização de campos temáticofuncionais. No entanto, a mesma autora acrescenta:
A terminologia, por sua vez, não oferece à CI apenas conjuntos
de termos relativos a determinadas áreas de especialidade ou
atividade, mas referenciais metodológicos para sustentar a
estruturação dos campos lógico-semânticos das linguagens
documentárias,
desempenhando,
assim,
um
papel
complementar à norma documentária de elaboração de
tesauros (LARA, 2004, p. 91).
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Loureiro - Organização da informação no ambiente virtual por meio de mapas conceituais
Considerando-se o uso de mapas conceituais no processo de organização da
informação no ambiente virtual, uma primeira idéia, a partir da literatura estudada, é
de que seja necessária uma maior flexibilidade dos sistemas terminológicos, ou que
possa existir um “diálogo” entre as linguagens controladas de várias áreas do
conhecimento, que estejam num mesmo repositório.
Nesse sentido, destaca-se o estudo de Cabré (1999), que ressalta que os conceitos
de uma mesma área especializada mantém, entre sí, diferentes tipos de relações. Todas
essas relações juntas formam o mapa conceitual de determinado campo. Os termos, por
sua vez, “são unidades de forma e conteúdo em que o conteúdo é simultâneo à forma.
Um conteúdo pode ser expresso com maior ou menor rigor por outras denominações
do sistema lingüístico”: isto é, “o conteúdo de um termo nunca é absoluto, apenas
relativo, segundo cada âmbito e situação de uso” (CABRÉ, 1999, p. 132).
Barros (2004), apresenta uma discussão a respeito da sistematização dos
conhecimentos em formas gráficas e de suas vantagens no processo de aprendizado. A
estratégia é organizar os conceitos em forma de árvores (forma hierárquica), esquemas,
redes, entre outras possíveis representações, visando ensinar aos alunos o conteúdo
programático de qualquer disciplina e destacando, por conseqüência, as relações entre
os conceitos em uma área de estudo. Segundo a autora, esse tipo de sistematização é
vantajosa, pois ajuda a fixar as idéias e facilita a memorização.
De acordo com o Centro de Terminologia de Bruxelas citado por Barros (2004, p.
77), as representações gráficas podem mostrar as relações semânticas entre conceitos
complexos, podendo ainda, mostrar as facetas de um mesmo conceito. Destaca-se,
ainda, que essas representações são consideradas mais que um artifício pedagógico,
pois representam, de forma direta, a organização de conceitos na própria memória
humana.
Pretende-se, oportunamente, testar o uso dos mapas conceituais como uma nova
forma de organização da informação e de acesso à mesma, no ambiente virtual. Para
isso, entende-se ser necessária a criação de um “macro-esquema” que relacione os
conceitos nas diferentes especialidades cobertas por uma unidade informacional. Dessa
forma, esse “macro-esquema” funcionará como o esqueleto dos conteúdos cobertos
pela documentação do sistema de informação virtual.
Entendendo que o conceito é a chave da organização proposta pelo estudo,
recorre-se à Tálamo (2004, p. 6), que define conceito como “um conjunto de
propriedades – traços ou características – que não só representam os estados de
mundo, discriminando-os, mas também permitem elaborar redes conceituais segundo
o traço considerado”. Por exemplo, os termos BOI e BEZERRO, a partir do traço idade,
são diferentes; porém, a partir do traço sexo, são iguais. Da mesma forma, a informação
e o conhecimento submetem-se a diferentes ordens de acordo com a temática adotada
(TÁLAMO, 2004).
Termo é entendido como “a unidade mínima da terminologia”
(INTERNATIONAL..., 2000 apud LARA, 2004, p. 92), sendo “uma designação que
corresponde a um conceito em uma linguagem de especialidade. É um signo
lingüístico que difere da palavra, unidade da língua geral, por ser qualificado no
interior de um discurso de especialidade” (LARA, 2004, p. 92).
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Basicamente, a diferença entre o termo e a palavra é que uma mesma palavra
pode possuir significados variados e o termo é uma palavra contextualizada em um
discurso. Assim, Lara (2004) destaca que a terminologia considera o objeto em um
campo do saber (contexto) e utiliza a lógica para organizar terminologias, por meio da
identificação das relações entre as propriedades do objeto.
Os termos se dividem em técnicos e teóricos. Os termos técnicos “são utilizados
para designar observações, medidas, experiências, instrumentos, ou seja, para falar de
objetos logicamente preexistentes aos termos”. Já os termos teóricos “não se relacionam
às noções preexistentes ou a representações mentais de objetos concretos ou abstratos.
Ao contrário, eles são utilizados com uma ou várias significações. Sua significação
depende de seu funcionamento no contexto...” (HERMANS, 1995 apud LARA, 2004, p.
94).
Já a definição é um enunciado que descreve um conceito
permitindo diferenciá-lo de outros conceitos associados,
podendo ser formulada de duas maneiras básicas: definição por
compreensão (ou por intensão), ou ainda, definição intensional, que
compreende a menção ao conceito genérico mais próximo (o
conceito superordenado) – já definido ou supostamente
conhecido – e às características distintivas que delimitam o
conceito a ser definido; e definição por extensão ou extensional,
que descreve o conceito pela enumeração exaustiva dos
conceitos aos quais se aplica (conceitos subordinados), que
correspondem a um critério de divisão (INTERNATIONAL...,
2000 apud LARA, 2004, p. 93, grifos do autor).
Lara (2004) considera que os modelos de definição extensional e intensional são
aplicáveis e úteis à CI para a elaboração de linguagens documentárias. Porém, isso se
dá somente quando o universo a ser tratado possui objetos facilmente identificáveis.
No caso de áreas do conhecimento como as Ciências Humanas, em que os objetos de
estudo, em muitos casos, não são totalmente claros, a organização de informação parte
sempre de uma hipótese ou linha de organização.
Para Sager (1990) apud Lara (2004, p. 93), “a definição é uma explanação aceita do
significado especializado de itens lexicais cuja ocorrência pode ser documentada em
várias fontes”. Para esse autor, a definição serve para fixar a intensão do termo, porém
a precisão com que a definição vai fixá-lo varia do extremo rigor à flexibilidade.
4 - Organização Da Informação No Ambiente Virtual: Importância Da Terminologia
As definições anteriormente apresentadas – conceito, termo e definição – , são
entendidas como um ferramental obrigatório para o desenvolvimento de esquemas de
organização da informação, seja no contexto físico ou virtual. Assim, é importante que
os mapas conceituais sejam desenvolvidos por meio de definições mais flexíveis e
amplas, visando uma maior cobertura dos vários domínios contemplados pelo sistema
de informação virtual e possibilitando, o que se chamou de “diálogo” entre as
linguagens controladas.
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Loureiro - Organização da informação no ambiente virtual por meio de mapas conceituais
Para evitar problemas em relação à precisão na recuperação, uma estratégia
interessante, é o sistema de informação proceder cruzamentos de três ou mais
conceitos em um único domínio, para só depois, liberar os documentos encontrados no
repositório. Além disso, entende-se ser necessário o desenvolvimento de mapas dos
termos (com seus conceitos que podem variar conforme o contexto), para evitar que
sejam realizadas buscas utilizando unicamente esse tipo de termo, o que poderia
“confundir” o sistema e não trazer resultados satisfatórios ao usuário.
Dessa forma, toda a vez que o sistema detectar uma busca com conceitos que
variem entre áreas, o próprio sistema poderá interrogar o usuário a respeito de novos
parâmetros contextuais para complementar a busca e garantir uma recuperação mais
precisa.
Com a criação dos mapas entende-se que o trabalho dos Profissionais da
Informação ficará facilitado, pois eles permitirão tratar um mesmo tema a partir de
dimensões distintas, considerando, dentro de cada uma delas, diferentes pontos de
vista ou linhas adotadas pelos autores dos documentos. Nesse sentido, Cabré (1999)
entende que um conceito pode aparecer com variadas estruturas, contendo valores
parcialmente distintos, fato esse que se dá pela escolha de uma determinada linha
teórica: por exemplo, o tema beleza em um estudo sociológico, médico, etc.
A idéia de Cabré (1999), é sair de uma visão muito lógica e rígida, que a autora
entende que predomina nos controles terminológicos, citando, por exemplo, a proposta
de Eugen Wüster (1898-1977), engenheiro austríaco, com sua Teoria Geral da
Terminologia (TGT). Pelo fato de a Terminologia ser uma área interdisciplinar, as
unidades terminológicas são multidimensionais, isto é, possuem facetas distintas:
lingüísticas, cognitivas e comunicativas. E são justamente essas diferentes facetas que,
muitas vezes, fazem coincidir os termos com as palavras, o que ocasiona, dentro de um
universo mais amplo, um processo denominado poliedricidade.
Como produtos, a Terminologia gera: 1) bancos de termos: “banco de dados
contendo dados terminológicos” (INTERNATIONAL..., 2000, p. 36,); 2) bases de dados
terminológicas: “base de dados contendo dados terminológicos” (INTERNATIONAL...,
2000, p. 36,); 3) dados terminológicos: “dados relacionados aos conceitos ou às suas
designações” (INTERNATIONAL..., 2000, p. 36); 4) dicionários terminológicos: que
podem ser vocabulários ou glossários.
O vocabulário é um “dicionário terminológico que contém designações e
definições de um ou mais campos de assunto específicos” (INTERNATIONAL..., 2000,
p. 36, tradução nossa). Já o glossário é um “dicionário terminológico que contém
designações de um campo de assunto, junto com equivalentes em uma ou mais
línguas” (INTERNATIONAL..., 2000, p. 36).
A idéia da utilização de mapas conceituais poderá dar ao processo de
organização da informação um arranjo mais contemporâneo e aberto, muito ligado às
próprias características do período atual: a busca pela versatilidade, a pluralidade e o
grande volume de informações disponíveis.
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5 - Considerações Finais
É um desafio organizar informações por meio de mapas conceituais para que os
diferentes domínios possam “conversar” entre si. A idéia é que um mesmo termo possa
ser identificado, conceitualmente, no domínio requerido pelo usuário, no momento da
busca.
A área precisa de investigações quanto à viabilidade teórica e, principalmente,
prática desses estudos, os quais poderão fornecer mais subsídios para a continuidade
de pesquisas no futuro, além da melhoria nos processos de recuperação de informação
e produção de conhecimentos. Nesse sentido, uma justificativa forte para o
aprofundamento deste estudo é a possibilidade que os mapas conceituais têm de
ativar, com maior facilidade, as capacidades cognitivas e de aprendizado dos usuários,
o que poderá representar avanços na área da recuperação da informação.
A proposta de Cabré (1999) a respeito da flexibilização de conceitos e organização
de redes conceituais precisa ser testada empiricamente para universos mais gerais,
como é o caso de certos sítios da Internet, que atendem diversas áreas, ou mesmo para
uso dos motores de busca, podendo, posteriormente ser feita, uma avaliação dos
resultados.
Ressalta-se, ainda, a importância da terminologia e de seu ferramental para os
processos de tratamento e organização da informação, seja por meio de mapas
conceituais ou não. Entende-se que os conceitos trabalhados pela Terminologia que são
mais utilizados pela Ciência da Informação – como conceito, termo, definição –,
precisam ser abordados com maior profundidade e destaque, já no ensino de
graduação em CI, pois eles têm grande importância para a organização de informações
em qualquer tipo de repositório.
Espera-se que, mesmo desenvolvendo estudos teóricos e empíricos visando
melhorar a qualidade dos repositórios físicos e virtuais, as pesquisas na CI também
considerem o desenvolvimento de alternativas para solucionar problemas antigos
referentes à exclusão e à segregação dos públicos usuários à informação e ao
conhecimento. De nada vai valer o grande avanço científico se a sociedade continuar
fechando os olhos para as grandes disparidades sociais existentes.
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Dados do autor
Mônica de Fátima Loureiro
Campinas, SP, Brasil, 1975
Doutoranda em Ciência da Informação e Documentação
Universidade de São Paulo (USP), Brasil.
Bacharel em Biblioteconomia e Mestre em Ciência da Informação pela Pontifícia
Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) – Brasil.
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