A FALTA DE LIMITES EM CRIANÇAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL
SEGUNDO A PERSPECTIVA DAS PROFESSORAS
GONÇALVES∗, Josiane Peres – PUCRS
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Resumo
Sabemos que o comportamento da criança tem se modificado com o passar do tempo e que
um dos fatores que muito tem preocupado refere-se à falta de limites evidenciada desde o
início da infância. Tanto em casa quanto na escola o fator mencionado interfere de forma
negativa dificultando a relação entre o adulto e a criança. No caso de crianças que freqüentam
escolas particulares, a falta de limites pode ser presenciada através da manipulação do aluno,
que força o professor a atender as suas vontades sem respeitar os papéis que estão sendo
desempenhados. Dessa forma, o objetivo deste estudo é analisar como o professor está
lidando com a falta de limites e autoritarismo por parte dos alunos de Educação Infantil, para
que se possa evidenciar alguns aspectos inerentes a postura do professor que devem ser
valorizados para evitar este tipo de problema. Para atender a esse propósito, além da pesquisa
bibliográfica foi realizada uma coleta de dados com 11 professoras, com faixa etária de 20 a
37 anos, que atuavam em escolas da rede particular do Município de Cascavel no Paraná. O
instrumento utilizado foi um questionário com cinco questões abertas, que foi aplicado no
próprio ambiente escolar em forma de entrevista dirigida. Os resultados indicaram que existe
uma submissão do professor, mas essa não está explícita por se tratar de escolas particulares
onde se privilegia o aluno, ocasionando a indisciplina. Conclui-se que manter os limites
mesmo em escolas privadas é necessário para que o aluno aprenda a respeitar o professor
como um profissional capacitado para educar, evitando que situações manipulativas do aluno
em relação ao professor predomine no ambiente escolar.
Palavras-chave: Escola; Limites; Prática docente.
Introdução
Nos dias atuais muito se fala na falta de limites, aliados a vivência profissional por
componentes da rede particular de ensino. Para começarmos esta discussão devemos avaliar o
ambiente onde o professor atua. Vamos nos ater ao comportamento dos alunos que ignoram a
autoridade do professor porque os pais induzem a verem como uma espécie de empregado ou
prestador de serviços, pago por seus pais. Certas escolas agem como se a lógica do comércio,
aquela que diz que o freguês sempre tem razão, também valesse dentro da sala de aula,
evitando a escola perca “clientes”. Esta postura pode prejudicar o trabalho do professor que
terá que se ajustar aos interesses dos alunos.
∗
Coordenadora do Curso de Pedagogia da FACIAP/UNIPAN de Cascavel-Pr. Doutoranda em Educação pela
PUC/RS.
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Apoiaremos na educação construtivista, onde o ambiente sócio-moral deve ser
cultivado e o respeito continuamente praticado. Para Rheta De Vries e Betty Zan (1998, p.11),
no livro “A Ética na Educação Infantil” “o ambiente sócio-moral é toda a rede de relações
interpessoais em uma sala de aula. Essas relações permeiam todos os aspectos das
experiências da criança na escola”.
O termo ambiente sócio-moral sugere as relações das crianças com seus professores ou
familiares e entre elas mesmas, tendo assim um impacto sobre suas experiências e seu
desenvolvimento social e moral.
Dar limites às crianças na Educação Infantil é iniciar o processo de compreensão e
apreensão do outro, ninguém pode respeitar seus semelhantes se não aprender quais são os
seus limites, e isso inclui compreender que nem sempre se pode fazer tudo que se deseja na
vida. Começando então, combater a indisciplina. O professor nas aulas da Educação Infantil
constrói conhecimentos, firma habilidades, estrutura significações, desperta potencialidades,
assim também estabelecendo limites.
Portanto é de suma importância uma análise conjunta: família e escola. A família, pai,
mãe e filho, em parceria com a Orientação Educacional ou com os educadores, devem tentar
detectar as possíveis falhas e tentar solucionar os problemas da disciplina.
Sendo assim, com uma posição firme dos pais de encarar a disciplina como prioridade
do filho neste momento, há possibilidade de uma posição pró-ativa por parte do aluno, não só
no que diz respeito à escola, mas também na família.
Esperamos que, nesse momento social em que a mudança de comportamento é visível,
este material possa auxiliar para suas reflexões e contribuir para o repensar da disciplina junto
aos grupos com os quais convive e desenvolve sua ação profissional.
Com certeza não temos a solução pronta e acabada, mas através dos resultados
apresentados no presente estudo, esperamos contribuir com os profissionais que se deparam
com a problemática aqui abordada.
O Professor e a escola diante da indisciplina
Em tempos modernos, certos princípios estão em pauta gerando preocupação sobre a
ação docente perante os valores que devem ser construídos no processo educativo.
Destacamos em especial a indisciplina na educação infantil e como o professor está lidando
com a falta de limites em sala de aula. Vale lembrar que a indisciplina está relacionada à
organização educacional, pedagógica, às políticas econômicas e sociais entre outras.
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Na visão do professor o que falta mesmo é disciplina, ou seja, um hábito interno que
facilite a cada pessoa o comprimento de suas obrigações. Trata-se de um autodomínio, da
capacidade de utilizar a liberdade pessoal isto é a possibilidade de atuar livremente superando
o condicionamento interno e externo que se apresentam no cotidiano.
Para podermos aplicar no ambiente escolar a disciplina faz-se necessário que as
normas básicas de convivência estejam formuladas e justificadas com clareza e sensatez,
sendo conhecidas e aceitas pela escola, família e sociedade.
O problema da indisciplina é um dos principais obstáculos enfrentados pelo professor
em sua atuação em sala de aula, pois se percebe a falta de regras e limites por parte da criança
desde a primeira infância. A criança que aprende desde pequena que o mundo é feito de
regras, poderá se comportar de acordo com elas, mesmo sem a presença dos pais.
Alguns autores como Içami Tiba (2002), Maria Augusta Sanches Rossini (2001) e Tânia
Zagury (2002) fazem referência a geração de pais que confundem autoridade com
autoritarismos e optam por não colocar limites. Outros alegam que a geração de pais recebe
outro tipo de modelo através da mídia e acaba sofrendo sua influência. Para essa abordagem
liberal os pais estão sendo influenciados por modelos mais liberais e terminam por assumir
um papel mais “moderno” de educar.
p.43):
Sendo assim são corretas os seguintes ensinamentos do professor Içami Tiba (1996,
Cabe os pais delegar ao filho tarefas que ele já é capaz de cumprir. Essa é a medida
certa do seu limite. É por isso que os pais nunca devem fazer tudo pelo filho, mas
ajudá-lo somente até o exato ponto em que ele precisa, para que, depois, realize
sozinho suas tarefas. É assim que o filho adquire auto confiança, pois está
construindo sua auto-estima. O que ele aprendeu é uma conquista dele.
Definir limites com os educandos, deixar claro o que é possível ser feito e em que
situações eles poderão ser cobrados só auxilia em seu crescimento pessoal e em suas
atividades estudantis. Também sustentar esses limites em princípios e valores que lhe dêem
respaldo para viver com dignidade é muito importante, pois assim, é estabelecida uma relação
entre educador e educando e entre escola e família.
Na obra “Pedagogia Afetiva” (2001, p.44) Rossini define que:
A complexidade da vida moderna acaba delegando aos professores papeis antes só
de responsabilidade dos pais. A família de hoje conta muito com a escola, ou seja,
com seus professores na formação das crianças e dos jovens. Ela precisa estar
informada sobre a linha de conduta que a escola tem com seus filhos e, o que é
fundamental, concordar com esta linha: é preciso falar a mesma língua. Nos dias de
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hoje, o professor deve ser um “líder”, deve saber também que liderança não se
impõe, se conquista. Na sala de aula, ele representa a direção, a própria família. Ali
ele é o “dono da lei”.
No cotidiano escolar percebemos que o educador necessita ter qualidades humanas
imprescindíveis como, por exemplo: equilíbrio emocional, responsabilidade, caráter, alegria
de viver, ética e principalmente gostar de ser professor. Além é claro de ter um maior
conhecimento sobre o manejo de sala e de como melhor se relacionar com o aluno.
Também o professor, tem um papel de mediador entre nossa realidade social e a
missão de educar. E esta realidade social que nos apresenta o grande desafio: viver num
mundo de alto desenvolvimento tecnológico sem esquecer que estamos tratando com seres
humanos em formação.
De acordo com Rossini (2001), crianças gostam de professores que lhe dêem limites.
Os professores bonzinhos nunca serão respeitados; cairão no esquecimento com muita
facilidade.
Alguns professores declaram que no início de carreira se sentem inseguros por
entregarem o processo de estabelecimento de regras as crianças. Têm medo de que os alunos
não aceitem as regras trazendo inúmeros transtornos para sala de aula como também para sua
profissão.
Naturalmente, o professor não deve entregar tudo às crianças, mas sim discutir o que é
o estabelecimento de regras, oferecer idéias de como criá-las, fixa-las por escrito na sala de
aula e envolvê-las no comprimento destas.
Içami Tiba (1996, p.118) comenta que “Como todo empregado, o professor tem
direitos e obrigações. Eventuais insatisfações ou desavenças empregatícias devem ser
resolvidas por meio dos canais competentes”.
Por isso é importante que os professores adotem um padrão básico de atitudes perante
as indisciplinas mais comuns, como se todos vestissem o mesmo uniforme comportamental.
Esse uniforme protege a individualidade do professor. Quando um aluno ultrapassa os limites,
não está simplesmente desrespeitando um professor em particular, mas as normas da escola.
Portanto, faz necessário o professor ter a mentalidade aberta e acompanhar o processo de
construção do conhecimento, agindo como agente entre os objetos do saber e a aprendizagem,
ser para o aluno seu decifrador de códigos e receptador de suas muitas linguagens, significa
estabelecer limites e construir democraticamente uma interação onde em lugar de opressão e
da prepotência eleva-se a dignidade de quem educa, a certeza de quem planta amanhã.
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Mas na prática os alunos ignoram a autoridade do professor, porque o vêem como uma
espécie de empregado ou prestador de serviços, pagos pelos pais. Certas escolas agem como
se a lógica do comércio, aquela que diz que o freguês sempre tem razão. Sabemos que a
escola é uma empresa, mas tratar os alunos como clientes ou patrões é uma total inversão de
papéis. Nesses casos é preciso ressaltar a importância da autoridade moral do professor que,
para Libâneo (2001), trata-se das qualidades de personalidades do professor: sua dedicação
profissional, sensibilidade, senso de justiça e traços de caráter. Ou seja, crianças
excessivamente inquietas, agitadas, com tendência à agressividade, que se destacam do grupo
pela dificuldade de aceitar e cumprir as normas, às vezes, não conseguindo produzir o
esperado para sua idade, representam um desafio constante para suas famílias e a escola. Por
outro lado, certa dose de teimosia é normal em toda criança e faz parte do processo evolutivo
infantil.
Portanto, queremos deixar claro que não estamos centrando exclusivamente nos
professores a responsabilidade pelo comportamento dos alunos na aula, mas, não podemos
deixar de acentuar que quando os professores atuam com competência profissional, unidade e
coerência, sentindo-se responsáveis pelo que ocorre ao seu redor, os comportamentos
inadequados ficam restritos a poucos alunos, com problemas muitas vezes de origem extraescolar.
A competência profissional do professor está muito relacionada com o conceito de
autoridade que, segundo Cardoso (1998), é diferente do conceito de autoritarismo. Enquanto a
autoridade é indispensável para que a criança perceba seus pais e professores como figuras
fortes de apoio e identificação, internalizando-os de forma positiva, como adultos capazes de
auxilia-la a controlar seus impulsos destrutivos sem se sentir humilhada e com baixa autoestima, o autoritarismo usa de promessas e ameaças para impor, à força, um tipo de
comportamento à criança.
O ideal seria o adulto criar as normas junto com a criança e as sanções ao não
cumprimento destas normas. Além de comprometê-la, responsabiliza-a pelas conseqüências
de seus atos, caso não as cumpra. É importante que ela possa cumprir a norma ou deixar de
participar da tarefa até que esteja se sentindo apta a isso. Assim, o adulto a está auxiliando a
tomar consciência das conseqüências de suas atitudes. Não se trata apenas de suprimir um
comportamento indesejável (indução pelo medo, ou pela imposição), mas de difundir a adesão
ao comportamento desejado.
No livro “Escola sem Conflito: Parceria com os Pais”, Tânia Zagury (2002, p.192)
relata que:
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Hoje, a punição é cada vez mais rara, tanto na escola como em casa. Os pais têm
larga parcela de culpa no que diz respeito à indisciplina dentro da classe. É uma
situação cada vez mais comum: eles trabalham muito e têm menos tempo para
dedicar à educação das crianças. Sentindo culpados pela omissão, evitam dizer não
aos filhos e esperam que a escola assuma a função que deveria ser deles: a de passar
para a criança os valores éticos e de comportamento básicos.
Uma solução possível seria de revitalizar a confiança da família no seu papel de
formadora e trazê-la cada vez mais para dentro da instituição. Quando os pais passaram a se
sentir inseguros e culpados por não estar tão próximo dos filhos, a escola tentou ocupar esse
espaço. Mas ela não tem condições de fazer bem as duas coisas. Os conteúdos estão mudando
rapidamente. O professor precisa se renovar ter responsabilidades profissionais e não pode
arcar com tarefas que são prioritariamente da família.
Ao levar os pais a participar de encontros, palestras, reuniões e troca de experiências
com outros pais, eles saem fortalecidos e sentem que não estão sozinhos nessa luta.
Metodologia
Diante da problemática discutida até então e por ouvir reclamações de alguns
professores que atuam na educação infantil, sobre o comportamento de seus alunos, optamos
por realizar uma pesquisa de campo com alguns docentes da área para compreender melhor
esta situação e se possível, contribuir com a melhoria de sua prática educativa.
Assim a pesquisa exploratória e de abordagem qualitativa, foi realizada com 11
professoras – todas mulheres - provenientes de escolas particulares de Cascavel. A escolha
das escolas foi por conveniência e as professoras foram selecionadas através de experiência
profissional na Educação Infantil. A idade das participantes era de 20 a 37 anos, aptas para
estarem respondendo as questões propostas por serem professoras da Educação Infantil e a
formação das mesmas era acadêmicas e graduadas no curso de Pedagogia. Os nomes aqui
adotados são fictícios para preservar a identidade dos participantes e também as respostas
serão mantidas em fiel ortografia.
Optamos por uma entrevista dirigida com questionário aberto em resposta a cinco
perguntas. Explicamos as professoras que pretendíamos realizar um estudo sobre como o
professor está lidando com a falta de limites na sala de aula e todas se concordaram em
colaborar, sem hesitação.
Para a análise dos dados realizou-se uma leitura atente de cada entrevista, obtendo a
compreensão do todo. Dos relatos obtidos proporcionamos aos professores a fazerem uma
reflexão específica sobre seu papel profissional e sua trajetória com alunos indisciplinados.
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Visamos também proporcionar a livre expressão de idéia e vivência dos participantes
em relação à experiência de solicitar e obter auxílio de um grupo de orientação.
Resultados e Discussão
Para iniciarmos esta discussão daremos ênfase a submissão do aluno em sala de aula
perante aos professores. Defenderemos esses resultados que vêm de encontro aos estudos de
autores como: Tânia Zagury, Rheta De Vries & Betty Zan e Içami Tiba.
Esses autores permeiam os aspectos das experiências da criança na escola. Apresentase a seguir os questionamentos e suas respectivas análise da entrevista com as 11 professoras
da Educação Infantil da rede privada.
Ao serem questionadas sobre sua opinião em relação à indisciplina dos alunos da
educação infantil, percebemos que a maioria das professoras que participaram da pesquisa deu
um enfoque no papel da “família”, que passou a delegar funções que antes eram de pai e mãe,
para professores e instituição. Como foi citado pela professora Amanda: “Considerando a
faixa etária da criança, acredito que é nesta etapa que se forma na criança muitos valores e eu
diria regras que ele deve respeitar como bons princípios e que ela levará para sua vida. Não se
pode confundir. Dar limites é necessário, a criança precisa disso. A permissividade em
excesso é nociva. E tudo que se vivencia na família, reflete na escola”.
Estes dados levam a crer que as famílias que deveriam ajudar na formação dos valores
das crianças, tornando estas a terem responsabilidades de tornar o filho (a) adaptado para o
mundo moderno, proporcionando as condições para sobrevivência em uma sociedade global e
competitiva. E tal idéia vai de encontro a que foi proposta por Zagury (2002, p.196) que diz:
Há um grupo de pais que, depois de matricular os filhos parece considerar sua
missão terminada e daí em diante entrega à escola toda e qualquer problemática
relacionada à educação (quer se trate de conteúdo, quer se esteja falando de
formação ética ou cidadania). De uma maneira geral, esses são pais ausentes, que
não comparecem a reuniões quando convidados ou que, quando chamamos para
entrevistas ou reflexões conjuntos, nunca podem ir.
Por outro lado houve situações em que as causas da indisciplina dos alunos da
Educação Infantil foram escolares como cita Renata uma das participantes: “A indisciplina
dos alunos acontece quando há falta de interesse por não compreender a atividade proposta ou
por falta de organização da “rotina” escolar, portanto é necessário o diálogo entre alunoprofessor sobre os combinados de como devemos nos comportar para realizar com sucesso tal
atividade, pois cada atividade exige um tipo de comportamento diferente. Nos dias atuais não
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é possível organizar atividades em que se exija do aluno o silêncio total e a inércia durante
todo o período escolar”.
Entendemos que o professor tem um papel essencial como o de remeter informações
que os alunos vão transformar em conhecimento. Em outras palavras o professor precisa ter
muita criatividade, alegria, bom humor, respeito humano e disciplina tornando assim sua aula
mais atrativa.
Considerando que o objetivo deste estudo é conhecer como o professor está lidando
com a falta de disciplina e autoritarismo por parte dos alunos, procuramos verificar se as
professoras em algum momento vivenciaram situações em que seu aluno tentou manipular
pelo fato de estarem pagando ou por ser escola particular. Como apresenta a professora
Eliane: “Sim. Mas estes são conceitos que não partem da própria criança e sim são
pensamentos que acabam sendo comentados pelos adultos e que influenciam as atitudes das
crianças”.
Analisando as respostas das professoras a maior parte deixou explícito que a relação
de poder vem dos pais. Que são os manipuladores de seus filhos. Os estudos de Rheta De
Vries & Betty Zan (1998, p.55) enfatiza que:
Quando as crianças são continuamente governadas pelos valores, crenças e idéias
dos outros, elas desenvolvem uma submissão (se não uma rebeldia) que pode levar
ao conformismo irrefletido na vida moral e intelectual. Em outras palavras, enquanto
os adultos mantiverem as crianças ocupadas em aprender o que os adultos desejam
que elas façam e em obedecer às regras deles, elas não serão motivadas a questionar,
analisar ou examinar suas próprias convicções.
Já na visão da professora Vanessa o problema pode ser outro. Segundo ela, “Não casos
de alunos, mas com certeza e freqüência à manipulação por parte da direção da escola”. Nos
dias de hoje a escola particular passou a ser empresa sendo assim o que se visa é o lucro, este
lucro se chama aluno “cliente”. Portanto a direção impõe que seus professores “empregados”
sejam submissos a qualquer atitude inadequada dos alunos.
Na questão seguinte questionava-se as professoras qual seria sua posição diante da
manipulação dos alunos, de que forma agiriam e porque. Para professora Eliane: “O primeiro
passo é promover uma conversa informal, com o intuito de explicar que mesmo quando
pagamos, temos os nossos direitos e deveres a cumprir e que nossos direitos terminam quando
começam os direitos dos outros, fazendo-se necessário o respeito mútuo entre as pessoas”.
Ainda que esta seja uma postura questionável essa é uma atividade que pode ser
entendida e praticada de diferentes maneiras. Portanto faz necessário que a criança
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compreenda que existe regras e normas causando uma construção moral formando relações de
reciprocidade e respeito mútuo.
No livro Disciplina, Limite na Medida Certa, do autor Içami Tiba (1996) argumenta a
disciplina escolar como um conjunto de regras que devem ser obedecidas tanto pelos
professores quanto pelos alunos para que o aprendizado escolar tenha êxito. Portanto, é uma
qualidade de relacionamento humano entre o corpo docente e os alunos em uma sala de aula
e, conseqüentemente, na escola. Como em qualquer relacionamento humano, na disciplina é
preciso levar em consideração as características de cada um dos envolvidos, no caso professor
e aluno, além das características do ambiente.
As demais professoras entrevistadas não vivenciaram nenhum fato de manipulação,
mas sim ouviram relatos de terceiros. Como é o caso da professora Milene: “Não vivenciei
nem um fato de manipulação. Referente a meus colegas, sei que tiveram atitudes de
indignação, pois não são obrigadas a acatar ordens de alunos, estão ali para passar
conhecimentos, são educadores”.
Quando se tratou em saber a percepção das professoras entrevistadas sobre o
posicionamento da escola diante dos fatos manipulativos, a escola mostrou a favor do
professor ou do aluno? A maioria das professoras respondeu que a atitude da escola é
primeiramente de ouvir as duas situações evitando o confronto entre alunos e professores.
Segundo a professora Maria Cecília: “Na maioria das vezes promove uma conversação
entre aluno e professor. Porém posiciona-se a favor do aluno e “questionando” o professor “o
que aconteceu?”.
Acreditamos que a escola deve ter uma relação harmoniosa, agindo com discernimento
para resolver situações problemas para obter êxito na relação professor/aluno.
Portanto a fala da professora Caroline vem ressaltar: “A escola tenta em algumas vezes
posicionar-se com neutralidade, ou seja, nem contra o professor e nem contra os pais. Porém,
se forem pressionadas a posicionar-se, ficam sempre contra o professor, pois entendem o
aluno como “clientes” e fará de tudo para agradá-lo”.
Nesse sentido, Içami Tiba (1996, p.120) questiona: “Um professor que trabalha numa
instituição que sempre protege o aluno, o cliente, independentemente do fato de este estar ou
não com a razão, não tem o respaldo da instituição quando precisa. Quem pode trabalhar bem
nessas condições?”
Os professores não são orientados de maneira adequada para explorar suas
capacidades e aperfeiçoar a qualidade de seu trabalho. Desconhecem sua importância decisiva
na educação dos alunos, que muitas vezes só têm a si mesmos como elementos de confiança,
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uma vez que a crise socioeconômica também consome seus pais. Tais professores passam a
ser material de comércio e, portanto, facilmente descartáveis.
Concluindo a série de questões questionamos qual seria a melhor atitude a ser tomada
se tivessem total autonomia diante dos fatos. A professora Caroline mencionou que: “Com
severidade sem fazer distinção se o aluno paga ou não a escola”.
Isto posto, pode ser entendido que o posicionamento da escola impõem que o papel do
professor deve ser de transmitir conhecimento, a moral da autonomia para qualquer classe
social.
No seu relato a professora Amanda argumentou: “A melhor atitude seria manter um
diálogo aberto e de grande contribuição científica aos pais. Ou seja, levar conhecimento a
eles, esclarecendo e formando opiniões críticas. Falta na escola mais contato com os pais. É
preciso trazê-los para dentro do ambiente escolar. É uma forma de mostrar a eles o que a
escola pretende”.
Cabe ressaltar que das onze professoras entrevistadas oito delas foram favoráveis em
propiciar um diálogo constante entre professor, aluno e família. A respeito da importância do
diálogo entre pais e escola são interessantes mais uma vez às concordâncias do professor
Içami Tiba (2002) afirmando se a parceria entre família e escola for formada desde os
primeiros passos da criança, todos terão muitos a lucrar. A criança que estiver bem vai
melhorar e aquela que tiver problema receberá a ajuda tanto da escola quanto dos pais para
superá-los.
Quando a escola, o pai e a mãe falam a mesma língua e têm valores semelhantes, a
criança aprende sem grandes conflitos e não quer jogar a escola contra os pais e vice-versa.
Considerações Finais
O artigo ora apresentado é resultado de uma pesquisa de campo realizado na prática
com professores da Educação Infantil nas escolas particulares. Ao analisarmos o assunto
concluímos a importância do professor manter uma postura profissional perante a falta de
limites em sala de aula e a manipulação dos mesmos.
Baseado nos estudos que fizemos ficou constatado que os professores devem
demonstrar segurança naquilo que estão fazendo, para serem respeitados por seus alunos
desde o primeiro dia de aula. A pesquisa indicou uma relação de poder imposta pelos pais
reprimindo a atuação do professor.
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Portanto, faze-se necessário criar normas juntamente com todos os alunos e
professores para serem cumpridas, e as que não forem respeitadas, o professor deve
estabelecer um diálogo para saber o porquê e adapta-las.
Não é apenas o professor que deve estar interessado na boa disciplina, mas toda a
escola como também na família, pois é na sala de aula que se ajuda a construir futuros
cidadãos com personalidade, onde vão aprender a limitar seus instintos que são impulsivos e
necessitam de correção desde a primeira infância.
REFERÊNCIAS
CARDOSO, Simone. Estabelecendo Limites. Porto Alegre, 1998.
DE VRIES, Rheta; ZAN, Betty. A Ética na Educação Infantil: O Ambiente Sócio Moral na
Escola. Porto Alegre, 1998.
LIBÂNEO, J. Organização e Gestão da Escola: Teoria e Prática. Goiânia: Alternativa, 2001.
ROSSINI, Maria Augusta Sanches. Pedagogia Afetiva. 4. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2001.
TIBA, I. Disciplina, Limite na Medida Certa. 38. ed. São Paulo: Gente 1996.
TIBA, Içami. Quem Ama Educa. 48. ed. São Paulo: Editora Gente, 2002.
ZAGURY, Tânia. Escola sem Conflito: Parceria com os Pais. Rio de Janeiro: Record, 2002.
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a falta de limites em crianças da educação infantil