A hora da estrela
Autora:Clarice Lispector
Análise:
• É preciso que saibamos que as obras de Clarice dificilmente têm um
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enredo, um começo, meio e fim.
“Quando penso numa história, eu só tenho uma vaga visão do conjunto,
mas isso é coisa de momento, que depois se perde. Se houvesse
premeditação, eu me desinteressaria pelo trabalho.”
Esta novela “não só recolhe quase todos os problemas da narrativa dos
outros romances de Clarice Lispector, mas também muitas de suas
imagens.”
Clarice produz aquela que seria a última de suas obras publicadas em vida
de maneira grandiosa, para que nunca nos esqueçamos da riqueza e
originalidade de seu estilo.
Os temas tratados por ela são universais e essencialmente humanos.
Temáticas como as relações entre o eu e o outro, a falsidade das relações
humanas, a condição social da mulher, o esvaziamento das relações
familiares e, sobretudo, da linguagem, intimista e psicológica.
Foco narrativo:
• O foco narrativo de A Hora da Estrela é um dos pontos
mais inovadores e estilisticamente extraordinários do
livro. A autora inventa um narrador (que, portanto, é
também uma personagem e se assume durante a
narrativa como tal) para contar a história de Macabéa.
Assim sendo, o narrador, apesar de fazer parte da
história, não conta uma trama que acontecera com ele,
e sim, com a sua personagem inventada, que poderia
ser real. A narrativa desvenda a sua problemática
interior e à medida que nos faz conhecer a protagonista,
também nos mostra (e vai descobrindo) a sua própria
identidade. O narrador precisa escrever para poder se
compreender.
• O narrador é onipotente, pois cria um destino. É
onisciente, pois sabe tudo a respeito de suas
personagens, apesar de não conhecer a verdade
inteira, já que se mostra no ato de inventar.
Hesita, pois não conhece o final da história. Por
sentir--se culpado em relação à protagonista,
sentir
suspende--lhe a morte por páginas e páginas. A
suspende
morte foi a hora de estrela. Tanto é assim, que
o narrador morre quando morre Macabéa. E
morre também Clarice Lispector.
• Quanto à sua relação com Macabéa, ele declara amáamá -la
e compreendêcompreendê-la, embora faça contínuas interrogações
sobre ela e embora pareça apenas acompanhando a
trajetória dela, sem saber exatamente o que lhe vai
acontecer e torcendo para que não lhe aconteça o pior.
Ele vê a jovem como alguém que merece amor, piedade
e até um pouco de raiva, por sua patética alienação, por
outro lado, ele estabelece com ela um vínculo mais
profundo, que é o da comum condição humana. Esta
identidade, que ultrapassa as questões de classe, de
gênero e de consciência de mundo, é um elemento de
grande significação no romance, Rodrigo e Macabéa se
confundem.
Além da alinearidade, há pelo menos três histórias encaixadas que se
revezam diante dos nossos olhos de leitor:
• 1. A metanarrativa - Esta é a narrativa central da obra: o escritor
Rodrigo S.M. conta a história de Macabéa, uma nordestina que ele
viu, de relance, na rua.
• 2. A identificação da história do narrador com a da personagem Rodrigo S.M. conta a história dele mesmo: esta narrativa dádá -se sob
a forma do encaixe, paralela à história de Macabéa. Está presente
por toda a narrativa sob a forma de comentários e desvendamentos
do narrador que se mostra, se oculta e se exibe diante dos nossos
olhos.
• 3. A vida de Macabéa - O narrador conta como tece a narrativa.
• O foco narrativo escolhido é a primeira pessoa. O narrador lança
mão, como recurso, das digressões (fuga da narrativa linear para
comentar assuntos paralelos.), o que, aspectualmente parece dar à
narrativa uma característica alinear. Ele foge para o passado a fim
de buscar informações.
Biografia de Clarice Lispector:
• Clarice nasceu em 1925, em uma aldeia ucraniana. Aos dois meses de idade, veio
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com a família para o Brasil. Morou em Alagoas, Pernambuco, mas passou a infância
no Recife.
Transferiu--se para o Rio de Janeiro aos doze anos e lá estudou Direito, chegando a
Transferiu
trabalhar como redatora e, anos mais tarde, jornalista.
Casou--se, nessa mesma época, com um diplomata brasileiro (Maury Gurgel Valente).
Casou
Afastando--se assim afastouAfastando
afastou-se durante longos períodos do país que tanto amava.
Mesmo depois de ganhar o prêmio “Graça Aranha” por seu primeiro romance, não se
considerava uma escritora profissional.
• Com o marido, teve dois filhos: Pedro e Paulo.
• Separa
Separa--se de Gurgel Valente em 1960, ano em que retorna para o Brasil e passa a
morar no Rio de Janeiro.
Obras:
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1944 – Perto do Coração Selvagem (romance)
1946 – O Lustre (romance)
1949 – A Cidade Sitiada (romance)
1952 – Alguns Contos (contos)
1960 – Laços de Família (contos)
1961 – A Maçã no Escuro (romance)
1964 – A Paixão Segundo G.H. (romance)
1964 – A Legião Estrangeira (contos)
1969 – Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres (romance)
1973 – Água Viva (romance)
1974 – A Via Crucis do Corpo (contos)
1977 – A Hora da Estrela (novela)
Ainda, de Lispector, há publicado: Um Sopro de Vida (romance, 1978), A Bela e a
Fera (contos, 1979), Felicidade Clandestina
(contos, 1971), A imitação da Rosa (contos, 1973), Onde Estivestes de Noite
(contos, 1974), De Corpo Inteiro (entrevistas, 1975),
Para não Esquecer (crônicas, 1978), A Descoberta do Mundo (crônicas), O
Mistério do Coelho Pensante (infantil, 1969), A
Mulher que Matou os Peixes (infantil, 1969), A Vida Íntima de Laura (infantil,
1974), Quase de Verdade (infantil, 1978) e Como
nasceram as Estrelas (infantil).
• O método como ela escrevia suas obras é que lhe distinguiu de
outros escritores, Clarice tomava notas onde quer que estivesse, Na
lanchonete, em guardanapos, no cinema, no maço de cigarros,
construindo suas obras fragmentariamente, deixando suas obras
sem começo, meio ou fim
fim..
• Os temas tratados por ela são universais e essencialmente
humanos. Temáticas como as relações entre o eu e o outro, a
falsidade das relações humanas, a condição social da mulher, o
esvaziamento das relações familiares e, sobretudo, da linguagem,
são abordadas pela autora intimista e psicológica, mas de forma
alguma alienada, como muitos já chegaram a dizer.
• A epifania está ligada a náusea, outra característica freqüente na
obra de Clarice. A revelação da verdade conduz, por assim dizer, à
essência de si mesmo e ao desprezo pelo mundo que guarda o
verdadeiro crescimento interior. É uma reação inconsciente da
personagem.
• Em hora da Estrela essa revelação ou libertação só aparece através
de um rápido pensamento existencial da protagonista final,
momentos antes da morte: “Agarrava“Agarrava-se a fiapo de consciência e
repetia mentalmente sem cessar: eu sou, eu sou, eu sou. Quem era,
é que não sabia”.
Fim
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