ID: 57783646
04-02-2015
Tiragem: 34477
Pág: 10
País: Portugal
Cores: Preto e Branco
Period.: Diária
Área: 11,48 x 31,00 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 1 de 1
Portugal lança plataforma
inovadora em São Tomé
para fazer exames de
oftalmologia à distância
Saúde
Romana Borja-Santos
Projecto pretende dar
resposta sobretudo a casos
de doença aguda, num
país onde não há nenhum
oftalmologista
Em Portugal está o médico, em São
Tomé e Príncipe o doente. O conceito
de consultas à distância através da
chamada “telemedicina” não é novo.
Mas Portugal vai introduzir hoje uma
ferramenta de diagnóstico pioneira
que promete “revolucionar a observação e tratamento” de doenças relacionadas com os olhos: chama-se
Teleye e vai permitir que o doente
são-tomense, sem sair do seu país,
faça os exames necessários. Ao mesmo tempo, um oftalmologista vai vêlos em tempo real a partir de Lisboa,
explicou ao PÚBLICO Paulo Telles
de Freitas, presidente do Instituto
Marquês de Valle Flôr, a fundação e
organização não governamental que
lidera o projecto.
A consulta inaugural é feita pela
oftalmologista Ana Almeida a partir das instalações do Instituto Marquês de Valle Flôr, em Lisboa. Mas
a ideia é que com apenas um portátil os médicos consigam fazê-la em
qualquer ponto de Portugal ou do
mundo, já que Paulo Telles de Freitas acredita que a ferramenta pode
fazer a diferença noutros países sem
esta especialidade ou com grandes
distâncias a percorrer, como Brasil
e Austrália. Em São Tomé, onde não
existe nenhum oftalmologista, o doente estará no Hospital Dr. Ayres de
Menezes, onde um técnico de saúde
Mais de 80% das causas
de cegueira são evitáveis
e um enfermeiro foram formados para acompanhar os exames.
O Teleye consiste numa ferramenta que agrega os seis equipamentos
oftalmológicos mais fundamentais
para exames: lâmpada de fenda,
retinógrafo, auto-refractómetro/
keratómetro, tonómetro e câmara
de alta definição. As imagens obtidas em São Tomé são transmitidas
para o portátil do médico como se
estivesse a ver presencialmente. O
equipamento foi desenvolvido com
a PT Inovação e co-financiado pela Cooperação Portuguesa, com o
apoio da Direcção-Geral da Saúde,
da Fundação Calouste Gulbenkian
e da Casa Cotta.
“Conseguimos integrar todos os
equipamentos necessários para fazer uma observação oftalmológica
completa e que podem ser operados
por um técnico com o oftalmologista
à distância. Tudo pode ser gravado
e guardado no processo clínico, o
que permite fazer o seguimento do
doente mais tarde. Esta ferramenta
permite uma abordagem completa
do doente, desde o diagnóstico a
uma abordagem terapêutica precoce”, completou Telles de Freitas,
também médico.
O Instituto Marquês de Valle Flôr
há cinco anos que faz missões de oftalmologia naquele país, integradas
no iSEE — Projecto de Prevenção e
Tratamento das Doenças Oftalmológicas em São Tomé e Príncipe, com o
apoio do Ministério da Saúde local.
Coordenadas pelo oftalmologista Luís Pereira são integradas no programa
Saúde para Todos, há 25 anos no terreno. Em cada uma das três a quatro
visitas anuais que duram duas semanas conseguem fazer 650 consultas e
100 cirurgias. O lançamento coincide
com a 16.ª missão, que o presidente
do instituto acompanha.
O objectivo com o Teleye, salienta Telles de Freitas, “não é tanto de
aumentar a produtividade”, mas dar
resposta a casos agudos e permitir
planear melhor as visitas, sobretudo
os casos cirúrgicos. Para as missões,
que vão continuar, a vantagem fundamental está no planeamento e no facto de os médicos poderem chegar ao
terreno com mais informação, assim
como permite que o doente continue
a ser seguido no pós-operatório. Cataratas, glaucoma, retinopatias, patologia traumática pediátrica e infecciosa são os problemas mais comuns.
“Há muita patologia aguda que não
é abordada em tempo útil, porque
não há oftalmologistas. Mais de 80%
das causas de cegueira são evitáveis”,
sintetiza Telles de Freitas.
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