Aula n.o 01
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Instruções: As questões de números 01 e 02 referem-se
ao poema abaixo.
Brasil
O Zé Pereira chegou de caravela
E preguntou pro guarani da mata virgem
— Sois cristão?
— Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte
Teterê tetê Quizá Quizá Quecê!
Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu!
O negro zonzo saído da fornalha
Tomou a palavra e respondeu
— Sim pela graça de Deus
Canhem Babá Canhem Babá Cum Cum!
E fizeram o Carnaval
(Oswald de Andrade)
01. Este texto apresenta uma versão humorística da formação do Brasil, mostrando-a como uma junção de
elementos diferentes. Considerando-se esse aspecto, é correto afirmar que a visão apresentada pelo
texto é
a) ambígua, pois tanto aponta o caráter desconjuntado da formação nacional, quanto parece sugerir
que esse processo, apesar de tudo, acaba bem.
b) inovadora, pois mostra que as três raças formadoras – portugueses, negros e índios – pouco contribuíram para a formação da identidade brasileira.
c) moralizante, na medida em que aponta a precariedade da formação cristã do Brasil como causa da
predominância de elementos primitivos e pagãos.
d) preconceituosa, pois critica tanto índios quanto
negros, representando de modo positivo apenas
o elemento europeu, vindo com as caravelas.
e) negativa, pois retrata a formação do Brasil como
incoerente e defeituosa, resultando em anarquia
e falta de seriedade.
02. A polifonia, variedade de vozes, presente no poema
resulta da manifestação do
a) poeta e do colonizador apenas.
b) colonizador e do negro apenas.
c) negro e do índio apenas.
d) colonizador, do poeta e do negro apenas.
e) poeta, do colonizador, do índio e do negro.
Variedades Linguísticas: Formalidade
03. No romance Vidas Secas , de Graciliano Ramos, o
vaqueiro Fabiano encontra-se com o patrão para
receber o salário. Eis parte da cena:
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Não se conformou: devia haver engano. (...)
Com certeza havia um erro no papel do
branco. Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estribos. Passar a vida inteira assim no
toco, entregando o que era dele de mão beijada!
Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e
nunca arranjar carta de alforria?
O patrão zangou-se, repeliu a insolência,
achou bom que o vaqueiro fosse procurar serviço
noutra fazenda.
Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou.
Bem, bem. Não era preciso barulho não.
Graciliano Ramos. Vidas secas . 91ª ed. Rio de Janeiro:
Record, 2003
No fragmento transcrito, o padrão formal da linguagem convive com marcas de regionalismo e de coloquialismo no vocabulário. Pertence à variedade do
padrão formal da linguagem o seguinte trecho:
a) “Não se conformou: devia haver engano” (l. 1).
b) “e Fabiano perdeu os estribos” (l. 3).
c) “Passar a vida inteira assim no toco” (l. 4).
d) “entregando o que era dele de mão beijada!”
(l. 4-5).
e) “Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou”
(l. 17).
Variedades Linguísticas – Época
Antigamente
Acontecia o indivíduo apanhar constipação;
ficando perrengue, mandava o próprio chamar o doutor e, depois, ir à botica para aviar a receita, de cápsulas ou pílulas fedorentas. Doença nefasta era a
phtísica, feia era o gálico. Antigamente, os sobrados
tinham assombrações, os meninos, lombrigas (...)
Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa e prosa.
Rio de Janeiro: companhia José Aguilar, p. 1.184.
O texto acima está escrito em linguagem de uma
época passada. Observe uma outra versão, em linguagem atual.
Antigamente
Acontecia o indivíduo apanhar um resfriado;
ficando mal, mandava o próprio chamar o doutor e,
depois, ir à farmácia para aviar a receita, de cápsulas
ou pílulas fedorentas. Doença nefasta era a tuberculose, feia era sífilis. Antigamente, os sobrados tinham
assombrações, os meninos, vermes (...)
No último período do trecho, há uma série de verbos
no gerúndio que contribuem para caracterizar o
ambiente fantástico descrito. Expressões como
“camaronando”, “caranguejando” e “pequeninando e
não mordendo” criam, principalmente, efeitos de
a) esvaziamento de sentido.
b) monotonia do ambiente.
c) estaticidade dos animais.
d) interrupção dos movimentos.
e) dinamicidade do cenário.
O ÚLTIMO POEMA
Assim eu quereria o meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e
menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os
diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
Manuel Bandeira, Libertinagem
04. Comparando-se esses dois textos, verifica-se que,
na segunda versão, houve mudanças relativas a
a) vocabulário.
b) construções sintáticas.
c) pontuação.
d) fonética.
e) regência verbal.
E ainda verbos
05.
“Narizinho correu os olhos pela assistência. Não
podia haver nada mais curioso. Besourinhos de fraque
e flores na lapela conversavam com baratinhas de
mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas douradas,
verdes e azuis, falavam mal das vespas de cintura fina
— achando que era exagero usarem coletes tão apertados. Sardinhas aos centos criticavam os cuidados
excessivos que as borboletas de toucados de gaze
tinham com o pó das suas asas. Mamangavas de ferrões amarrados para não morderem. E canários cantando, e beija-flores beijando flores, e camarões
camaronando, e caranguejos caranguejando, tudo
que é pequenino e não morde, pequeninando e não
mordendo.”
06. Assinale a opção incorreta:
a) O poema contém uma teoria sobre a poesia e
reflete a ânsia do eu poético pelo despojamento e
simplicidade no nível da expressão e do conteúdo.
b) O derradeiro poema pressupõe o refinamento da
expressão poética que deve emocionar pela singeleza, o que se manifesta no segundo verso.
c) O símile, presente no terceiro verso, manifesta o
desejo do eu poético de que a poesia sensibilize o
leitor pelo seu poder de sugestão.
d) A presença constante de verbos no modo subjuntivo manifesta as aspirações do eu poético, tecidas em termos de hipótese, por saber que não
poderá atingir esse ideal poético.
e) O eu poético simula refletir sobre um último
poema, objeto de desejo, quando, na verdade por
meio de seu texto, concretiza as marcas de sua
poética, que o fazem um dos grandes nomes da
poesia brasileira do século XX.
LOBATO. Monteiro Reinações de Narizinho. São Paulo:
Brasiliense, 1947.
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LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS - Vol. II
Leia o texto abaixo para responder às questões de
números 07 e 08.
Geralmente, o povo de uma nação inventa, interroga e venera algum tipo de imagem de si mesmo por
duas razões. Para assoprar nas brasas do patriotismo
ou porque faltam outros argumentos para justificar a
existência da nação.
Felizmente, o caso do Brasil é este (não o primeiro).
Nos falta uma História moderna de fazeres coletivos:
Independência, República, Abolição vieram de cima.
Não foi necessário que o povo batalhasse nas ruas. E
nos faltam registros de experiência comum. Me explico.
Saiam da atmosfera qualidade-total controlada de um
prédio da Paulista com pouso de helicóptero no terraço
e enfrentem ônibus, boteco de vila e desmoronamentos. Verão que, entre elites e povo, a experiência básica
de vida mal se sobrepõe.
Portanto, na hora de construir nossa nação
moderna, era (ainda é) vital uma imagem que representasse a razão de estarmos juntos no Brasil. Como
encontrá-la?
Contardo Calligaris Época Especial “Nós, brasileiros”
24/05/99, p. 1
Instrução: Responder à questão indicando V (verdadeiro) ou F (falso) em cada uma das afirmativas
referentes às formas verbais do trecho “Saiam (...)
se sobrepõe” (linhas 11 a 15).
( ) Se o autor tivesse preferido o tratamento “tu”, as
formas verbais corretas seriam, respectivamente “Sai”, “enfrente” e “verás”.
( ) Se a pessoa verbal escolhida fosse “nós”, as formas verbais corretas seriam “Saiamos”, “enfrentamos” e “veremos”.
( ) Os verbos “Saiam” e “enfrentem”, usados no
imperativo afirmativo transmitem uma sugestão.
( ) Se as formas de imperativo “Saiam” e “enfrentem” fossem substituídas por “Se vocês saírem”
e “enfrentarem”, o sentido permaneceria, mas
haveria necessidade de alterar também o tempo
da forma verbal “Verão” (linha 14)
07. A alternativa que contém a sequência correta é:
a) V – F – V – F
b) V – V – F – F
c) F – V – F – V
d) F – F – V – F
e) V – F – F – V
E, agora, o fenômeno da concordância
Instrução: Responder à questão 08 observando as
substituições sugeridas para as estruturas presentes em
1 a 4.
1. “argumentos para justificar a existência da nação”
(linhas 04 e 05) por “argumentos que justifiquem a
existência da nação”.
2. “Nos falta uma História moderna de fazeres coletivos” (linha 07) por “Falta-nos fazeres coletivos em
nossa história moderna”.
3. “Não foi necessário que o povo batalhasse nas
ruas” (linha 09) por “Não foi necessária a batalha
do povo nas ruas”.
4. “a experiência básica de vida mal se sobrepõe”(linhas 14 e 15) por “há experiências básicas
de vida que mal se sobrepõe”.
08. Pela análise das estruturas, é correto afirmar que
estão de acordo com a norma culta da língua
a) 1 e 2
b) 1 e 3
c) 2 e 4
d) 3 e 4
e) 1, 2 e 4
09. A pluralização da expressão em destaque não acarretaria alteração na forma verbal na frase
a) Seria necessário um dia de viagem para chegar
ao litoral nordestino.
b) No seminário sobre ecoturismo, abordou-se um
tema controvertido.
c) Infelizmente havia-se esgotado o prazo para a
compra de passagens aéreas com desconto.
d) Seguindo pela Linha Verde, não haveria qualquer
dificuldade para chegar ao Mangue Seco.
e) Ao chegar ao hotel o turista constatou, desolado,
que só tinha sobrado o apartamento de fundo.
10. Analise as construções a seguir.
1. Há de haver dias melhores para a educação no
país, em que se valorizem os educadores.
2. Hão de ocorrer dias melhores para a educação no
país, em que os educadores sejam valorizados.
3. Hão de haver dias melhores para a educação no
país, onde se valorize os educadores.
Está(ão) em conformidade com as normas do português escrito culto:
a) as construções 1 e 3.
b) as construções 1 e 2.
c) as construções 2 e 3.
d) todas as construções.
e) nenhuma das construções.
Gabarito
01. a
03. a
05. e
07. d
09. d
02. e
04. a
06. d
08. b
10. b
LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS - Vol. II
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