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Marcel Malczewski
Wolney Betiol
BEMATECH CONQUISTA MERCADO
INTERNACIONAL
EMPRESA PARANAENSE EXPORTA TECNOLOGIA EM AUTOMAÇÃO COMERCIAL
Pequenos detalhes diários podem passar despercebidos, mas
traduzem a evolução do tempo, como, por exemplo, a providência
de uma nota fiscal. Nos anos 90, do século há pouco passado, os
blocos manuais perderam lugar para bobinas de papel acopladas
em pequenas impressoras.
Assim, nos restaurantes, os pedidos anotados em papéis e
entregues no balcão para a cozinha praticamente não existem
mais, sendo, agora, impressos automaticamente para agilizar o
atendimento. Em grande parte do Brasil e, recentemente, do
exterior, esses equipamentos originam-se de uma empresa
paranaense, a Bematech, com sede em Curitiba.
O nome BEMATEC originou-se de BEtiol & MAlczewski TECnologia.
Em 1991, ao admitir seis novos sócios, passou a ser chamada de
Bematech Indústria e Comércio de Equipamentos Eletrônicos S/A.
Em 1992, quando o processo de fabricação teve início, a empresa
contava com 20 funcionários. Três anos depois da fundação, a
Bematech passava a atender a uma nova demanda de mercado,
com o fim dos equipamentos de telex. Contou-nos Marcel que, em
1993, eles começaram a vender mini-impressoras para automação
bancária, inicialmente para a HP. Depois vieram a IBM e a Unisys.
Desse modo, de 1997 a 2001, mais de 300 mil impressoras
Bematech foram instaladas em pontos-de-venda do varejo ou em
terminais de automação bancária.
A empresa “nasceu” de duas dissertações de mestrado
relacionadas a impressoras matriciais desenvolvidas, em 1987,
por Marcel Malczewski e Wolney Betiol. Engenheiros elétricos
recém-formados, os empresários aplicaram seus conhecimentos
para criar uma impressora para Telex, na Incubadora de Tecnologia
de Curitiba, em 1990.
Quase 15 anos após fabricar sua primeira impressora, a Bematech
se parece com uma fábrica de carros, uma montadora. Como
toda indústria de informática, atualmente, a Bematech compra as
peças de parceiros e as monta, porém, com um grande diferencial.
A empresa possui uma área de P&D que emprega cerca de 30
pessoas ligadas à gestão de projetos ou aos projetos em si.
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Anualmente, são investidos de 6 a 7% do faturamento bruto em
pesquisa. Assim, foram investidos, apenas em 2004, R$ 7 milhões.
Tal volume de recursos permite lançar de um a três produtos
totalmente novos por ano, possuindo cada um uma família com
diferentes modelos, exatamente como no caso das fábricas de
carros.
Novos layouts para gabinete, partes eletrônicas, controle dos
softwares de inteligência, mecânica, além de outros componentes
surgem das pranchetas da empresa. Nesse momento, como nos
conta Marcel, entram os parceiros: “De uma empresa
encomendamos o ferramental para injeção na parte plástica; de
outra, a parte metal-mecânica; enquanto a montagem de placas
para circuito impresso, embora terceirizada, é realizada aqui
dentro. Toda a integração final do produto é feita aqui, com nosso
controle de qualidade e com a parte logística terceirizada.
Produzimos de 8 a 10 mil itens/mês, mais da metade são
impressoras.”
Até 1995, a atuação básica era em automação bancária,
entretanto, com os problemas enfrentados pelos bancos, no início
do Plano Real, a empresa rapidamente apostou em outro
segmento, a automação comercial. Foram desenvolvidas miniimpressoras fiscais, com foco no pequeno e médio varejo, a
partir de um produto de qualidade e com preço competitivo, que
acabou virando padrão para o mercado brasileiro.
Hoje, a empresa oferece toda linha de equipamentos de automação
comercial, como leitores de códigos de barras, terminais para
transferência eletrônica de fundos, entre outros itens. O carrochefe da empresa continua sendo as impressoras. São 14
modelos fiscais e 16 não fiscais. Ocupa uma área de quatro mil
metros quadrados, em Curitiba, além de unidades em Atlanta e
Taiwan, e conta com aproximadamente 270 funcionários,
distribuídos nas áreas de engenharia, manufatura, finanças,
marketing, vendas e serviços.
Nos seis primeiros meses deste ano de 2005, a Bematech faturou
cerca de R$ 63 milhões, cifra 33% acima, em relação ao primeiro
semestre de 2004, superando as metas estabelecidas. Segundo
Marcel Malczewski, co-fundador e diretor-presidente da
Bematech, a empresa deve crescer neste ano e chegar a um
faturamento próximo aos R$ 130 milhões. Entre os projetos mais
importantes está o consolidar não só da transição de fabricante
de impressoras para provedor de soluções completas para
automação comercial, mas também de sua atuação no mercado
internacional. Além disso, com o projeto de faturar US$ 100
milhões até 2007 ou 2008 e abrir capital no Novo Mercado da
Bovespa, a empresa almeja que, até 2010, 20% do faturamento
esteja no mercado externo.
A entrada no mercado internacional começou a ser estudada em
1999, após a participação da empresa na Cebit, maior feira de
informática do mundo, realizada em Hannover, Alemanha. O
primeiro acordo para a venda de impressoras para máquinas de
jogos nos Estados Unidos aconteceu em 2002. Nessa ocasião,
implementou-se uma subsidiária em Atlanta para prestar suporte
técnico e enviou-se um engenheiro para viver lá. Segundo o
empresário, a iniciativa resultou em um aprendizado novo. “Não
existe apoio algum governamental, nem linhas de financiamento
específicas a empresas menores que queiram iniciar-se no
mercado externo. É necessário um alto investimento em feiras,
viagens, desenvolvimento e adaptação de produtos. A curva de
aprendizado é longa, o que torna a necessidade de investimentos
ainda maior”, diz o empresário. A preparação profissional é outro
ponto importante nesse processo. “Além da disposição (e
obviamente a disponibilidade) para investir, torna-se fundamental
ter uma equipe motivada e focada no segmento internacional,
senão o sucesso é impossível”.
Quanto ao lançamento de ações na Bovespa, hoje, o BNDES
detém 20% do capital da Bematech e como o banco entrou na
empresa para apoiá-la em seu desenvolvimento, venderá sua
participação quando esta se tornar madura. Embora o tamanho
da Bematech ainda seja pequeno para abrir capital, a Bovespa
está criando um novo segmento de mercado, para resolver esse
tipo de problema, além de disponibilizar o Bovespa Mais, um
mercado de acesso para empresas que vão de 25 milhões de
reais até 250 milhões de reais de faturamento.
Em 1996, a Bematech conquistou o Certificado ISO 9001, pela
TÜV-Rheinland da Alemanha, compreendendo a totalidade de
seus projetos, fabricação, desenvolvimento, comercialização e
assistência técnica de toda sua linha, e, no decorrer de sua história,
tem conquistado vários prêmios em diversas áreas, como: As
100 maiores de informática, da IDG/Computerworld; Empresas
que mais crescem no Brasil, do Valor Econômico, em 2000 e
2001; Melhor Empresa Brasileira em Excelência Empresarial, pela
InfoExame, em 2000 e, mais recentemente, o Prêmio Finep de
Inovação Tecnológica, em 2004, entre outros. Seus cases de
sucesso incluem soluções de automação para empresas como
Água de Cheiro, O Boticário, Lojas Marisa, Banco Panamericano,
Supermercados Super Dip e Tabuba Beach, um resort localizado
no Ceará, além de impressão de votos em urnas eletrônicas,
quando em apenas três meses foram projetadas e fabricadas 75
mil impressoras para as eleições de 2002.
b ENTREVISTA COM MARCEL MALCZEWSKI, CO-FUNDADOR E DIRETOR-PRESIDENTE DA BEMATECH
Como surgiu a Bematech?
A empresa é fruto de duas dissertações de mestrado. Meu sócio Wolney e eu cursávamos o curso de Engenharia Eletrônica, ele no
Cefet e eu na UFPR. Decidimos fazer pós-graduação, que, no final, se transformou em mestrado. Apresentamos nosso projeto
acadêmico para a então principal fabricante de Telex no Brasil, que estava interessada em impressoras, e ela bancou nossas bolsas de
mestrado. A tese de Wolney era relacionada a acionamento de motores de passo e de potência. A minha, ligada à informática, versava
sobre placa controladora para sistema operacional. Com os dois trabalhos juntos, era possível desenvolver uma impressora. No final do
mestrado, em 1989, fomos abordar a empresa para saber se ela queria transformar o projeto em produto. Na mesma época, nascia a
incubadora da Tecpar, que tinha como proposta oferecer infra-estrutura para funcionamento de empresas, mas nós teríamos de pagar
por isso. Procuramos a Tecpar, que entrou em contato com a Telex, a qual já não ia bem. A empresa comprometeu-se a comprar parte b
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da nossa produção e a Tecpar então “bancou a gente”. No final de
1989, o nosso projeto foi o primeiro a ser incubado no Paraná, e
com ele trabalhamos por pouco mais de dois anos. Nesse tempo,
desenvolvemos dois produtos, uma telex e a mini-impressora,
um projeto com flexibilidade de controle e fácil de adaptar. Nessa
época, éramos os dois, mais um estagiário, que hoje está na
Bematech dos Estados Unidos. Começamos a fabricar em
meados de 1992.
Iniciada a produção, quais foram os próximos passos?
Ainda na incubadora, fomos buscar financiamentos para a
produção em escala. Encontramos o empresário Marcos Slaviero,
que reuniu amigos e investiu na empresa 150 mil dólares. Tão
logo saímos da incubadora, a Telex quebrou e passamos a focar
a automação bancária. Estava havendo uma mudança na
plataforma de tecnologia das agências, com a troca dos terminais
dedicados por PCs, os quais necessitavam de impressora. Em
1993, a HP fechou um supercontrato com o Bamerindus, para
aquisição de sete mil impressoras. Aí começamos a viabilização
do negócio de fato. Depois vieram a IBM, a Unisys, entre outras.
O mercado de automação bancária passou para PC, todo mundo
começou a vir para Curitiba para conhecer as impressoras e
nossa produção aumentou.
TÚNEL
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A estratégia em fabricar CPUs é diversificar. Se fizéssemos
somente impressoras não faturaríamos R$ 130 milhões. Por que
não vender uma solução completa? O cliente pode comprar tudo
nosso. Fica muito mais fácil. Hoje, 25 % do faturamento é só de
CPU. Neste ano, 20% do faturamento será de serviços, o que
significa uma rentabilidade alta.
Como surgiu a idéia da Universidade Bematech e o que ela
faz? Qual o investimento para sua criação e manutenção?
A universidade foi idealizada em 1999 e surgiu da necessidade de
treinar parceiros, aumentar o nível de conhecimento e capacitar
quem vende automação comercial, para que ele possa explicar para
o cliente os benefícios e como funcionam os produtos. Os cursos
abordam assuntos como marketing e gestão de pessoas. Investimos
US$ 1 milhão nessa iniciativa. Como retorno, conseguimos a
fidelização dos nossos parceiros e passamos a ser vistos como a
empresa que não quer só vender, mas que capacita e melhora a
condição de trabalho e o atendimento ao usuário final.
Quais os principais cases de sucesso da empresa?
Todas as impressoras do HSBC, adquiridas de 1993 até hoje, são
Bematech, posto que há mais de 10 anos estamos atualizando e
vendendo para o grupo. O case das urnas eletrônicas para a eleição
de 2002 foi importante porque demonstrou o quanto nós podemos
fazer. O terceiro case que podemos citar é o da inserção da nova
tecnologia de impressoras fiscais térmicas no mercado do varejo.
As máquinas anteriores batiam os dados no papel, a térmica permite
armazenar os dados em Memória Fita Detalhe (MFD): uma
tecnologia moderna que está com inserção rápida no mercado. A
capacidade de estar à frente é um case de sucesso. f
b EVOLUÇÃO DA BEMATECH – LANÇAMENTOS E INOVAÇÕES
1991 > mp 10 –
mini-impressora
matricial não fiscal.
1995 > Blocos
impressores
matriciais.
DO
TEMPO
Quais os principais produtos da empresa e quais as novas
áreas de atuação, os últimos lançamentos?
Desde a criação das impressoras, nossa empresa é forte
nesse segmento. Hoje disponibilizamos impressoras fiscais
com impressão de cheques. Do projeto do parafuso à caixa,
tudo é produzido com tecnologia própria. Nossos produtos
vão desde caixas registradoras, passando por microterminais,
CPUs dedicadas ao segmento de automação comercial, leitor
de código de barras e uma série de acessórios e periféricos.
Temos dois pilares como estratégia de negócio: impressoras e
CPUs.
revista FAE BUSINESS
1996 > MP 20 FI I – Impressora
Fiscal.
1998 > Blocos
impressores com
tecnologia térmica.
número 12
setembro 2005
2000 > MP 2000 TH – Primeira Impressora
Térmica não fiscal.
2003 > MP 2000 TH FI – Primeira
Impressora Fiscal Térmica.
2004 > MP 2100 TH – Primeira Impressora
Térmica não fiscal com tecnologia própria.
2002 > Família SB 6000 – Introdução das
CPUs. Aquisição do direito de produção das
caixas registradoras Yanco,
ampliando linha de
soluções para automação comercial. |
BEMATEF – Primeiro
conceito de soluções
da Bematech para PC.
2005 > Smart Box 5000 –
Solução.
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