XVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM
02 de agosto de 2015
Caríssimos Irmãos e Irmãs:
Hoje, muitos cristãos têm a Bíblia em mão e lêem-na com freqüência. Essa realidade acontece, também, entre os católicos, cuja
prática era, antes do Concilio Vaticano II, desconhecida. Entretanto, é
preciso fazer um pergunta: como a lêem?
Insisto! Não basta ler as Sagradas Escrituras, precisamos saber
ler o texto como convém. Caso contrário, poderemos chegar a conclusões diametralmente opostas à vontade de Deus. É como utilizar
uma faca. Posso usá-la para preparar alimentos ou para matar alguém. Em nome da Bíblia, quantos genocídios aconteceram na história!
Há uma forma específica de ler as Sagradas Escrituras, que herdamos dos Padres da Igreja; aqueles homens que, primeiramente,
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pregaram e escreveram sobre o Texto Sagrado para instruir os fiéis
quer na celebração litúrgica quer na defesa da fé. Portanto, não é
possível ler a Sagrada Escritura de forma fundamentalista, como dizemos, ou seja, como se tivéssemos lendo um tratado científico, uma
ciência histórica ou, pior ainda, como um livro de receitas “Dona Benta”.
Como liam os Padres da Igreja o Texto Revelado? Liam-no de
forma alegórica e, sobretudo, de forma tipológica.
Foi esse critério – o tipológico – que inspirou a escolha das leituras para serem proclamadas em assembléias. A primeira leitura que
escutamos refere-se diretamente ao Evangelho. O que aconteceu no
Antigo Testamento era figura de uma realidade na plenitude dos tempos, quando o Verbo de Deus fez-se carne de nossa carne.
Por essa razão, escutamos o relato do Livro do Êxodo (16,24.12-15) com o episódio do maná descido dos céus, pão para matar a
fome dos israelitas no deserto. No Evangelho, São João relata o ensi2
namento de Jesus que se refere a esse momento do povo no deserto,
quando Jesus diz: “...não foi Moisés quem vos deu o verdadeiro pão do
céu.” O maná era figura do próprio Jesus Cristo, o verdadeiro pão
descido do céu, que nos conduz à vida eterna.
A história do povo escolhido, resgatado da escravidão do Egito, caros irmãos, é nossa história, enquanto comunidade de fé, e, também pessoal.
Todos saímos do Egito, passando pelo Mar Vermelho, isto é,
pelo Sacramento do Batismo e pisamos no deserto. A peregrinação
no deserto rumo à terra prometida é figura de nossa vida; o tempo de
nossa existência. Um dia, chegaremos à margem do Jordão, como os
israelitas e o atravessaremos, chegando ao término de nossa vida nesta terra.
Como o povo no deserto, todos os pecados por eles cometidos, isto é, as murmurações, a idolatria, a falta de fé, a luta pelo poder, a desobediência a Deus, o sentimento de abandono diante dos
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desafios da vida nós o experimentamos pessoal e comunitariamente.
Nessa história bíblica está retratada toda a nossa curta existência sobre essa terra, morada não definitiva para todos os filhos de Adão.
A liturgia de hoje quer enfatizar uma realidade para nós batizados de suma importância: sem o maná descido do céu não damos
continuidade à peregrinação para a terra que nos é prometida, a gloriosa Jerusalém.
Foi o Pai quem deu ao povo o maná; em nossa celebração,
também o Pai é quem nos dá o verdadeiro, que é Jesus Cristo, o Pão
descido do céu. Ele no-Lo deu na encarnação do Verbo e agora nas
espécies do pão e do vinho eucaristizados.
Nosso maná desce enquanto estamos reunidos, como o novo
Israel, sob duas formas: o maná da Palavra e o maná da Eucaristia. Ambos são Jesus Cristo em distintas presenças. Ambos alimentam nossa fé; sustentam-nos como Igreja, fortificam-nos como
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pessoas: Nele encontrava cada um um gosto, sabor que em tal momento desejasse, conforme o livro da (Sb 16,26).
Se nos alimentamos do Pão da Palavra e da Eucaristia somos,
por vocação, chamados a realizar obras para a dilatação do Reino,
conforme o mandato do Senhor, antes de sua ascensão: “Ide por todo
o mundo...” Mas, que obra é essa? O próprio Jesus nos responde: “A
obra de Deus é que acrediteis naquele que Ele enviou.”
Apenas acreditando que Jesus foi o enviado pelo Pai, cremos,
igualmente, que Ele nos enviou o Espírito Santo para nos congregar
em Igreja. Quando cremos que Jesus foi enviado pelo Pai e que o Espírito Santo foi enviado pelo Pai e pelo Filho, como Ele nos prometeu,
então podemos transformar nossa fé em obras, em atitudes de amor.
Sem a fé, o amor, que após o pecado original não é inato –
precisamos querer e aprender a amar – desfalece diante das dificuldades. Persevera no amor somente quem tem fé.
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Constatando tantos escândalos e pecados na Igreja, tenhamos
a certeza de ser essa realidade um termômetro do baixíssimo nível de
fé dos cristãos. Fé irrisória, insuficiente, pusilânime leva todo batizado
a viver descompromissadamente o processo em despojar-se do velho
homem para revestir-se do novo, conforme São Paulo.
Caros irmãos e irmãs, não façamos obstáculo ao Espírito Santo.
Que Ele fortaleça a nossa fé. Peçamos-Lhe, insistentemente, para que
não deixe faltar na Igreja os ministros necessários para o povo de
Deus ter a mesa da Palavra e da Eucaristia.
O Espírito Santo, presença atuante na Igreja, gere nos fiéis a
consciência de que adorar o Cristo na Eucaristia supõe escuta atenta
de sua Palavra e, também, efetivo compromisso fraterno para com a
humanidade redimida pelo Sangue do Cordeiro.
Assim seja!
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Homilia do XVIII Domingo do Tempo Comum