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30/12/2012 -03h00
Olhando para trás e para a frente
Esta é a última coluna do ano. Bom momento para olhar para o que passou e
tentar divisar 2013.
A marca de 2012 será o baixíssimo crescimento de 1%, número muito abaixo do
que todos os analistas, inclusive eu, prevíamos. Os prognósticos mais
pessimistas previam crescimento de 2,5%. O Ibre previu 3%.
Não era difícil encontrar números próximos ou superiores a 4%. Assim, a
frustração de crescimento foi generalizada e não se restringiu somente aos
órgãos oficiais. A economia surpreendeu a todos.
O baixo crescimento resultou da retração do investimento ao longo dos quatro
trimestres de 2012. Essa redução não esperada da demanda agregada explica a
maior parte da surpresa negativa. No entanto a inflação terminará acima de 5,5%.
Como conciliar economia em baixa, fruto de choque negativo de demanda, com
inflação alta? Apesar de elevada, houve queda da inflação, já que ela fechou
2011 em 6,5%.
A queda da inflação somente não foi maior por estarmos em um regime de
câmbio fixo. Até o primeiro semestre de 2010, quando o câmbio ainda flutuava,
sempre que havia elevação dos preços das commodities, o câmbio valorizava-se
de forma a manter o preço em reais dessas mesmas matérias-primas
relativamente constante.
Com a alteração do padrão cambial, a economia brasileira ficou mais exposta a
choques de preço. A forte elevação das cotações dos bens agrícolas neste ano,
consequência de safras ruins nos Estados Unidos e na Argentina, foi repassada
aos preços internos. Se não fosse pela alta das commodities agrícolas produzida
pelo regime de câmbio fixo, a inflação em 2012 teria sido quase um ponto
percentual mais baixa.
No entanto, em que pese a frustração de demanda com queda de inflação, o
crescimento liderado pelo setor de serviços tem contribuído para manter o
mercado de trabalho aquecido e, com ele, a inflação de serviços na casa de 8,5%
ao ano.
E aí, talvez, tenhamos por ocasião da divulgação pelo IBGE da revisão das
contas nacionais referente a 2012 (que ocorrerá em alguns anos) alguma
surpresa. Provavelmente o crescimento de 2012 será mais próximo de 2% ou
2,5% do que de 1%. O crescimento será mais coerente com os números do
mercado de trabalho. No entanto teremos que esperar alguns anos por essa
revisão. Por enquanto ficaremos com o crescimento de 1%.
Para 2013, espero crescimento de 3%, com inflação entre 5,5% e 6%. O cenário
de crescimento na casa de 3% prevê recuperação do investimento, que deverá
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crescer 6% em termos reais. A expansão de 6% em 2013 do investimento em
relação ao valor médio de 2012 representa uma variação de janeiro a dezembro
de 2013 de quase 10%. Dado que o investimento andou para trás ao longo de
2012, ele terminou em nível mais baixo do que iniciou.
O ponto a reter é que o crescimento projetado de 3% requer forte avanço do
investimento.
Por ora, os sinais que temos é que essa retomada ficou para o primeiro trimestre
de 2013. Se o investimento não for retomado, o cenário terá que ser revisto.
Finalmente, se o regime de câmbio fixo continuar a funcionar em 2013, haverá
uma força desinflacionária externa se as safras de grãos forem boas e
compensarem o choque negativo de 2012. No entanto é possível que a Fazenda
considere esse possível choque positivo como ocasião para mais um passo em
direção a um câmbio mais competitivo para a indústria.
O cenário Ibre para 2013 sustenta-se em uma perspectiva internacional ruim -crescimento de 1,5% dos EUA e próximo de zero na Europa--, mas sem um
evento de crédito na Europa.
Se houver algum evento com crise aguda de crédito na Europa, reviveremos algo
próximo do que houve em 2008. No entanto, dado que a situação da economia
mundial e da brasileira é muito menos brilhante agora do que no terceiro trimestre
de 2008, o tombo será bem menor.
Do ponto de vista da popularidade da presidente, o cenário de crescimento de
3% com retomada do investimento manterá o desemprego em baixa, com algum
espaço para crescimento da renda. A popularidade deve terminar 2013 em nível
próximo ao atual.
Todo o nó de 2013 é a retomada do investimento. O que ocorrerá se ele não
voltar?
Samuel de Abreu Pessôa é doutor em economia e pesquisador associado do
Instituto Brasileiro de Economia da FGV.
Endereço da página:
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