CPV conquista 70% das vagas do ibmec (junho/2007) IBMEC – 08/Junho /2008 REDAÇÃO Considere o trecho abaixo. Realmente, só pelo fato de ser consciente das causas que inspiram minhas ações, estas causas já são objetos transcendentes para minha consciência; elas estão fora. Em vão tentaria apreendê-las. Escapo delas pela minha própria existência. Estou condenado a existir para sempre além da minha essência, além das causas e motivos dos meus atos. Estou condenado a ser livre. Isso quer dizer que nenhum limite para minha liberdade pode ser estabelecido, exceto a própria liberdade, ou, se você preferir; que nós não somos livres para deixar de ser livres. Jean-Paul Sartre, O Ser e o Nada (1943) • Reflita sobre as idéias apresentadas no fragmento anterior e desenvolva uma dissertação em prosa sobre o tema Condenado a ser livre. • Conforme indicado nas folhas de rascunho e de redação, utilize o próprio tema como título de sua dissertação. • Lembre-se de que sua redação deve ter no mínimo 10 e no máximo 30 linhas. Condenado a ser livre COMENTÁRIO DA PROVA TEMA BEM ELABORADO QUE PRIVILEGIA O ALUNO BEM PREPARADO. A prova de redação do Ibmec junho de 2008 apresentou um excerto da obra O Ser e o Nada, de Jean-Paul Sartre, como base para a discussão sobre o tema Condenado a ser livre. Esse fragmento de texto remete à teoria do existencialismo ou à filosofia da existência: uma vasta corrente filosófica contemporânea que se afirma, na Europa, logo após a Primeira Guerra Mundial e se impõe no período entre as duas guerras, desenvolvendo-se ainda mais e se expandindo até tornar-se moda, sobretudo, nas duas décadas posteriores à Segunda Guerra Mundial. A época do existencialismo é época de crise: a crise daquele otimismo romântico que, durante todo o século XIX e a primeira década do século XX, garantia o sentido da história em nome da Razão, do Absoluto, da Idéia ou da Humanidade, fundamentava valores estáveis e assegurava um progresso certo. O idealismo, o positivismo e o marxismo constituem filosofias otimistas que presumem ter captado o princípio da realidade e o sentido progressivo absoluto da história. O existencialismo, porém, considera o homem como ser finito, lançado no mundo e continuamente dilacerado por situações problemáticas ou absurdas. E é precisamente pelo homem, em sua singularidade, que o existencialismo se interessa. No imediato após guerra, o pensamento de Jean-Paul Sartre, nascido em Paris em 1905, se impôs ao público mundial durante cerca de duas décadas, graças ao seu teatro de situações, influindo amplamente na sociedade e nos costumes. Uma das afirmações mais conhecidas de Sartre é a de que o ser humano está condenado à liberdade. Nesta dissertação, o candidato deveria discutir que cada pessoa é livre e pode, a cada momento, escolher o que fará de sua vida, sem que haja, segundo Sartre, um destino previamente concebido. Obviamente, caberia ressaltar que as pessoas estão sujeitas a limitações e contingências. Assim, não podem sobrepujar seu limite físico, mas podem agir, apesar destas limitações. Sartre explica que isso não diminui a liberdade. Pelo contrário, são as limitações que tornam a liberdade possível, pois, se pudéssemos realizar instantaneamente qualquer coisa que quiséssemos, nós estaríamos no universo do sonho. No mundo real, são as limitações que impõem escolhas. Esta é, para Sartre, a verdadeira liberdade da qual nenhum homem pode escapar: "não é a liberdade de realização, mas a liberdade de eleição". No entanto, cada escolha carrega consigo uma responsabilidade, um fardo, daí a expressão "condenado" presente no tema. Se se escolhe algo, devese ter consciência de que qualquer conseqüência desse ato terá sido resultado dessa mesma escolha. E cada escolha, posta em ação, provoca mudanças no mundo que não podem ser desfeitas. Segundo o existencialismo, não se pode atribuir a responsabilidade por esses atos a nenhuma força externa, ao destino ou a Deus. Em cada momento, diante de cada escolha, o homem torna-se responsável não só por ele mesmo, mas por toda a humanidade. Eis a essência da responsabilidade segundo os existencialistas: o sujeito, por sua vontade e escolha, age no mundo e afeta o mundo todo. É uma responsabilidade da qual não se pode fugir. Ser livre também pressupõe ser responsável. CPV ibmecjun2008 1