ANÁLISE&PERSPECTIVAS
por | RITA Ascenso
Sente que a arquitectura e a engenharia estão a “darse melhor”?
Não. Os novos regulamentos e a ênfase na redução de
consumos energéticos impõem novas referências a arquitectos e engenheiros, as máquinas são maiores (UTA) e as
incoerências nas exigências de isolamento térmico geram
grande tensão e maior incompreensão. Por exemplo, numa
reabilitação: como explicar a um arquitecto que tem que isolar
uma parede que está ao lado de um vidro simples? Como
explicar que é necessário um dispositivo de sombreamento
num vidro que está sombreado por uma enorme pala?
Sim, mas este regulamento substitui os anteriores que
não eram aplicados...
Pois, só que precisamente como estes regulamentos são
mesmo para aplicar quase sem adaptações, o resultado é
que as boas e más implicações passam à prática.
E lá fora este “casamento” já funciona?
Existem países em que claramente funciona melhor, devido
a uma melhor formação técnica dos arquitectos, a um bom
enquadramento regulamentar e de responsabilização dos
projectistas: EUA, Alemanha, Suiça, etc..
“A integração de colectores solares
é verdadeiramente problemática
para todos na equipa de projecto”
Uma conversa com Guilherme Carrilho
da Graça, sobre as tendências de
integração de sistemas, as deficiências
da nova regulamentação, a dificuldade
na integração das especialidades
– arquitectura e engenharia…
O mercado caminha para novas soluções de integração
do ar condicionado com o solar térmico e energias renováveis. Um caminho inevitável?
Penso que será uma via muito interessante para projectos
especiais. Para a maioria dos casos a introdução de energias
renováveis deverá ocorrer através da rede eléctrica (à medida
em que temos maior contribuição de renováveis).
Os equipamentos passam a ser encarados como parte de
uma solução, estamos preparados para esta mudança?
Não, penso que existe falta de informação e capacidade de
resposta para estes desafios especiais.
E do lado da arquitectura esta é uma realidade fácil?
A integração de colectores solares é verdadeiramente problemática para todos na equipa de projecto. Nos edifícios mais
baixos a cobertura é a melhor solução, e deverá ser sempre
prioritária uma vez que permite a colocação de colectores
com orientação óptima de forma económica. As soluções de
integração em alçados verticais são de evitar devido à grande
perda de rendimento dos painéis.
30 | Novembro/Dezembro climatização
O que falta fazer em Portugal?
Melhorar a formação e a responsabilização dos intervenientes
(arquitectos, engenheiros, fiscalização, clientes e empreiteiros). Melhorar e clarificar a regulamentação recentemente
introduzida...
Em que aspectos?
As deficiências do RCCTE e RSECE são diferentes, no caso do
primeiro importa simplificar a aplicação e o texto, no caso do
RSECE é necessário clarificar a sua aplicação, por exemplo: de
onde vêem os IEE? qual o nível de complexidade adequado
numa simulação?
A prazo deveríamos poder implementar as medidas com
maior eficiência energética e financeira, deixando de existir
obrigações (por exemplo no isolamento de paredes em edifícios de serviços). A simulação informática poderia identificar
as soluções mais eficientes.
Todos os edifícios com mais de 1000 m2 encontramse abrangidos pelo Sistema Nacional de Certificação
Energética e da Qualidade do Ar Interior nos Edifícios
(SCE), desde 1 de Julho de 2007. Na sua opinião, quais
as principais mudanças que ocorreram na concepção
dos projectos?
Claramente, ocorreram ou deveriam ter ocorrido, mudanças
de método. Os regulamentos obrigam a um maior desenvolvimento dos projectos na preparação do Licenciamento,
e também a uma mais precoce interacção entre as várias
equipas de projecto.
A intencional integração das várias especialidades neste
regulamento (arquitectura, AVAC, electricidade), na fase
de projecto base, contribuiu para a melhoria dos projectos ou, por outro lado, criou novos atritos e atrasos
cclimatização Novembro/Dezembro | 31
ANÁLISE&PERSPECTIVAS
Economia
“As deficiências do RCCTE e RSECE
são diferentes, no caso do primeiro
importa simplificar a aplicação
e o texto, no caso do RSECE é
necessário clarificar a sua aplicação,
por exemplo: de onde vêem os
IEE? qual o nível de complexidade
adequado numa simulação?”
às equipas de projectos?
A integração de várias especialidades contribui para a melhoria dos projectos, mas exige um esforço extra de todos
os envolvidos. As dificuldades sentidas nestes primeiros
tempos tenderão a atenuar-se quando este novo cronograma se tornar um hábito, um dado adquirido. Hoje em dia
há dificuldade de todas as equipas em fornecer os dados
necessários ao cumprimento de certas formalidades do Regulamento e da Certificação, porque eram etapas a cumprir
em projecto de execução e que agora tem que ser satisfeitas
em Licenciamento.
Ecologia
Na Europa a Geotermia é uma solução muito usada. Há
espaço para esta solução no nosso país?
Sem dúvida. A permuta de calor com o solo, geotermia, tem
múltiplas aplicações no nosso clima, desde o arrefecimento
directo até ao arrefecimento de sistemas de absorção.
A energia é escassa e dispendiosa, e quando gerada a partir de combustíveis fósseis, altamente contaminante do meio ambiente.
A grande procura energética que se gerou nas últimas décadas contribuiu
decisivamente para acelerar acentuadas alterações climáticas, que atingem actualmente níveis preocupantes.
Reduzir o consumo energético significa diminuir as emissões
de CO2 na atmosfera, o que deve definitivamente ser aceite
como responsabilidade de todos.
Que benefícios evidentes e a médio prazo podemos
obter do lado da física dos edifícios?
O estudo dinâmico das transferências de energia é muito
relevante num clima como o nosso. É a base para a optimização energética. O problema é a falta de know how que
temos. Voltamos à necessidade de melhorar a formação.
É preciso melhorar a formação de arquitectos?
É preciso distinguir entre as necessidades de formação de
arquitectos e engenheiros: os arquitectos devem ser informados sobre estes temas, os engenheiros devem conhecer
em profundidade e saber utilizar as ferramentas.
Penso que neste aspecto se fala demasiado em dar formação a arquitectos... na verdade temos falta de engenheiros
que possam passar ao projecto as ideias e intenções que a
maioria dos arquitectos já têm neste aspecto (a sustentabilidade está na moda).
SOLER & PALAU
Sistemas de Ventilação Eficientes
Administração, empresas e consumidores deverão fazer um
esforço para reverter este problema.
Legislação:
Na actualidade,
os ventiladores
da S&P já cumprem com os
rendimentos
que serão exigidos a partir
de 2010.
Promover a eficiência energética nas empresas, incentivando a reconversão dos equipamentos industriais, tornando-os energéticamente mais eficientes, e estimular a poupança de energia
são vertentes em que a S&P está implicada directamente.
Na S&P, definimos essencialmente três linhas de trabalho
para contribuir nesse sentido:
• Desenho e produção de ventiladores de alta eficiência ener gética;
• Desenho e produção de produtos para recuperação de calor e frio;
•Concepção e proposta de Sistemas de Ventilação de alta eficiência
energética.
CONTROLO ECOWATT
Elementos de controlo para sistemas de ventilação
controlada
Que benefícios encontramos nesta solução?
Nos meses mais quentes e frios do ano torna-se possível
permutar calor com um reservatório a temperatura estável.
A eficiência do processo de bombagem de calor aumenta
muito.
E os custos comparativamente com as outras?
É uma solução económica (comparável com as convencionais)
sempre que o nível freático é elevado, nesse caso podemos
extrair água, permutar e “devolver ao solo”.
Os custos de instalação e funcionamento agravam-se?
Nos casos em que o nível freático está acessível não, sendo
que os custos de produção de água fria e quente passam
para metade.
Temos estado a falar de geotermia para edifícios de
serviços. E do lado do residencial, as vantagens são
também evidentes?
Sim, embora a maior necessidade neste caso seja o aquecimento de água sanitária, que poderá ser feito com painéis
solares térmicos.
32 | Novembro/Dezembro climatização
Comporta Motorizada
TD ECOWATT - Corrente contínua
Conversor de Frequência
Módulo de Controlo
Sensor de CO2 SCO2
Sensor de Pressão em Conduta
Sistema de condutas
Rua Manuel Pinto de Azevedo, 12/14 - 4100-320 Porto
Tel: 22 619 75 20 - Fax: 22 610 48 05
Web: http://www.solerpalau.com - E-Mail: [email protected]
ANÁLISE&PERSPECTIVAS
“Os novos regulamentos e a ênfase na redução
de consumos energéticos impõem novas
referencias a arquitectos e engenheiros, as
máquinas são maiores (UTA) e as incoerências
nas exigências de isolamento térmico geram
grande tensão e maior incompreensão.
Por exemplo, numa reabilitação: como explicar
a um arquitecto que tem que isolar uma parede
que está ao lado de um vidro simples?
Como explicar que é necessário um dispositivo
de sombreamento num vidro que está
sombreado por uma enorme pala?”
Há maior receptividade dos arquitectos para a integração
de painéis solares em habitação?
Não propriamente integração, utiliza-se maioritariamente a
instalação em cobertura plana (os painéis são pousados e
não integrados). Mas isto não tem que ser mau, se pudermos
ter energia renovável sem ter que lidar com as dificuldades
de integração, tanto melhor.
A certificação energética pode ser um factor de motivação
no mercado de habitação?
Sem dúvida que sim. Por exemplo, para além de haver uma
área mínima obrigatória de colector em função do número
de ocupantes (através da tipologia) o sistema empurra para
a maximização do solar térmico como forma de obter a
classificação A+. Isto é positivo mas pode saturar o sistema,
com o aparecimento de imensos A+, altura em que este
nível de certificação será desvalorizado.
funcionamento “normal” do edifício, não para as situações
de caudal majorado.
A carência de A e A+ nos serviços significa que é mais
difícil fazer edifícios eficientes no sector de serviços do
que no sector residencial?
Significa que, tendo em conta a forma como os consumos
de energia são contabilizados e as classes são estabelecidas
nos dois Regulamentos, é mais difícil alcançar uma boa
classificação num edifício de serviços. Por exemplo, para
muitos será inesperado constatar que um dos aspectos mais
relevantes para a obtenção de uma boa classe energética
em edifícios de serviços é a iluminação (tanto interior como
exterior).
E nos edifícios de serviços?
Não consigo ainda perceber o que vai suceder, claramente a
maioria dos donos de obra sentem entusiasmo com o sistema,
parece-me também que o sistema de letras funciona bem,
facilita a comunicação entre os intervenientes (todos sem
lembram no final da obra qual era o objectivo inicial, A, B...).
Por outro lado é preocupante verificar que teremos imensas
casas A+ e quase nenhum edifício de serviços.
Tendo em conta a diversidade e complexidade dos novos
grandes edifícios de serviços, são suficientes as classes
de eficiência energética (A+, A, B e B-) para a catalogação
energética dos edifícios?
O problema não está na falta de classes disponíveis, as 4
são suficientes. O problema é o parâmetro S de definição
da largura das classes. O S é geralmente muito largo, o que
faz com que uma classe A+ seja tremendamente distante
da B-. É por isso que é tão difícil obter boas classificações
nos edifícios de serviços, particularmente nos de grande
intensidade energética.
O cumprimento destes requisitos mínimos de caudais
de ar novo não poderá contribuir para que os sistemas
de climatização sejam energeticamente mais dispendioso?
O problema pode surgir se o dimensionamento do sistema
for todo feito tendo em conta a aparente imposição de
garantir mais 50% nos caudais... o que é preciso perceber
é que a legislação pede que seja possível atingir esses
caudais, mas em situações pontuais (por exemplo, após
pintura das paredes, ou no início do funcionamento do
edifício). Ou seja, o dimensionamento deve ser feito para o
Como vê a realidade dos nossos edifícios daqui a 10
anos?
Tenho dificuldade em prever, mas aproveito para formular alguns desejos: que os níveis de isolamento de fachada impostos pelo regulamento não subam muito, que o
RCCTE se simplifique, que se flexibilizem as exigências para
a envolvente dos edifícios existentes sujeitos a grandes
remodelações (desde que respeitando os limites de consumos energéticos), que a qualidade de ambiente interior e
a eficiência energética global (em todo o ciclo de vida do
edifício) sejam os objectivos da regulamentação...
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