Universidade do Estado do Pará
Centro de Ciências Biológicas e da Saúde
Escola de Enfermagem Magalhães Barata
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem
Mestrado Associado UEPA/UFAM
Márcia Simão Carneiro
Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir
cuidativo-educativo em enfermagem
Belém
2012
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Márcia Simão Carneiro
Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do
Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem
Dissertação apresentada como requisito para
obtenção do título de Mestre em Enfermagem
no Programa de Mestrado Associado em
Enfermagem- Linha de Pesquisa: Educação e
tecnologia de enfermagem para o cuidado em
saúde a indivíduos e grupos sociaisUniversidade do Estado Pará (UEPA) e
Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
Orientadora: Dra. Elizabeth Teixeira.
2
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Dados Internacionais de Catalogação na publicação
Biblioteca do Curso de Enfermagem da UEPA – Belém - Pá
S288r
Carneiro, Márcia Simão
Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações
para o agir cuidativo-educativo em enfermagem/ Márcia Sião Carneiro; Orientadora:
Elizabeth Teixeira - Belém, 2012.
195 f.; 30 cm
Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Universidade do Estado do Pará, Belém,
2012.
1. Gestantes 2. Pré-natal. 3. Gravidez – Aspectos psicológicos. 4. Representações
sociais I. Teixeira, Elizabeth. (Orient.) II. Título.
CDD: 21 ed. 618.24
3
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Márcia Simão Carneiro
Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do
Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem
Dissertação apresentada como requisito para
obtenção do título de Mestre em Enfermagem
no Programa de Mestrado Associado em
Enfermagem- Linha de Pesquisa: Educação e
tecnologia de enfermagem para o cuidado em
saúde a indivíduos e grupos sociaisUniversidade do Estado Pará (UEPA) e
Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
Orientadora: Dra. Elizabeth Teixeira.
Aprovada em:____/____/____
_____________________________________________
Prof. Dra. Elizabeth Teixeira
Universidade do Estado do Pará
Orientadora
_____________________________________________
Prof. Dra. Maria Elisabete de Castro Rassy
Universidade do Estado do Pará
Membro Interno Efetivo
_____________________________________________
Prof. Dra.Iaci Proença Palmeira
Universidade do Estado do Pará
Membro Interno Suplente
_____________________________________________
Prof. Dr. Silvio Éder Dias da Silva
Universidade Federal do Pará
Membro Externo
4
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
À Deus pela sua infinita
misericórdia e amor supremo.
Aos meus pais pelos primeiros ensinamentos,
amor e dedicação.
Ao meu esposo e filhos pelo apoio, compreensão
e incentivo em todos os momentos.
5
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
AGRADECIMENTOS
À Deus por ter iluminado meus caminhos e pensamentos e por me
ajudar nos momentos difíceis concedendo-me saúde, sabedoria e serenidade
para prosseguir.
Às “mulheres-mães” que aceitaram participar desta pesquisa,
revelando os seus perfis, conhecimentos e vivências sobre o pré-natal,
corroborando com a concretização deste estudo.
À orientadora Elizabeth Teixeira, por sua competência técnica,
habilidade interpessoal e disponibilidade em compartilhar saberes e vivências,
com cuidado e afeto.
Ao meu esposo, amigo e companheiro José Vieira por me incentivar e
ajudar a acreditar que seria capaz de vencer as adversidades e caminhar ao meu
lado em todos os momentos.
Aos meus filhos Luis e Luiza por terem me oportunizado descobrir o
amor de ser “mulher-mãe” e serem inspiração para o meu desenvolvimento
pessoal e profissional. Ressalto que todas as formas de conhecimento devem ser
consideradas e buscadas, visto ser a fonte inesgotável de riqueza do ser humano
e o único patrimônio que ninguém pode nos tirar.
À Valdirene, filha do coração e futura Enfermeira, por sua presença,
apoio e dedicação em todos os momentos no decorrer da construção deste
estudo.
À minha mãe Fátima, por seu exemplo de luta, força de “mulher-mãe” e
amor incondicional, sempre empenhada em me ajudar e interceder a Deus na
intenção de bênçãos sobre os meus projetos de vida.
Ao meu pai Irani, pelo exemplo de profissionalismo, presença, carinho,
apoio e incentivo ao meu desenvolvimento profissional.
À irmã Tathyane e sobrinho Thyago, pelos laços de família e de amor
que nos unem.
À avó Maria, por seus ensinamentos, determinação, auto-superação,
disponibilidade e cuidado dedicado a todos os recém-nascidos filhos, netos e
bisnetos da família.
À avó Iracema (in memorian) por seus trabalhos como parteira no
Baixo Amazonas e cuidados ofertados as gestantes, por sua brilhante intervenção
durante o meu nascimento e exemplo de serenidade, humildade e paciência.
Às Instituições UEPA/UFAM por oportunizar aos profissionais do
Estado do Pará e Amazonas a realização do Mestrado Acadêmico em
Enfermagem.
À UFPA, pela liberação concedida para a realização desse mestrado,
considerando o plano de carreira como forma de incentivo ao desenvolvimento
profissional e pessoal de seu corpo docente.
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
À CAPES, pela concessão de bolsa, devidamente oportuna ao
incentivo na formação de professores pesquisadores, oportunizando assim a
minha participação em eventos científicos, exposição de trabalhos, assinatura de
periódicos, aquisição de literaturas e demais empreendimentos essenciais para a
qualidade da pesquisa.
À FSCMPA, instituição em que foi desenvolvida a pesquisa, meu
primeiro e único emprego por muitos anos, sede de meu desenvolvimento
profissional e pessoal, representa para mim a grande casa de acolhimento,
cuidado e aprendizagem do Estado do Pará.
Às Professoras do Programa de Mestrado da UEPA pela competência
e comprometimento com a enfermagem, formação e pesquisa.
Às colegas de turma pelos conhecimentos compartilhados, momentos
de interação, descontração, trabalho e produção coletiva.
Aos amigos Luis Parladim e Michele Mitre, pelo apoio, incentivo e
compartilhamento dos conhecimentos referentes a Teoria das Representações
Sociais.
Aos Professores Silvio Éder, Elizabethy Rassy e Iaci Palmeira, por
aceitarem o convite em participar como Membros da Banca Avaliadora da
dissertação e pela disponibilidade em contribuir com seus conhecimentos
relevantes para o aperfeiçoamento desta pesquisa.
Ao grupo de Pesquisa Práticas Educativas em Saúde e Cuidado na
Amazônia (PESCA) em nome das Acadêmicas de Enfermagem: Bruna, Laise,
Laura e Camila pelas contribuições durante a coleta de dados, e partilha
cuidadosa nos momentos de produção deste estudo.
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
“Persevera amigo
Conserva-te firme e
constante;
Não largues a luta pela
metade,
Não desistas depois de teres
lutado tanto.
Não há o que temer,
Porque Cisto vai à frente,
Aplainando o caminho,
Tirando os espinhos
Caminha usufruindo da
imensa
Onda de paz e quietude
Que só sente aquele que
Aprende, com lutas, a
Confiar até o fim no Senhor!”
Shirley Carvalho Viana
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
RESUMO
CARNEIRO, Márcia Simão. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em
enfermagem. 2012. 196 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) –
Universidade do Estado do Pará, Belém, Pará, 2012.
O pré-natal é um espaço de promoção e prevenção a saúde da mulher que pode
ser potencializado por meio da educação em saúde, enquanto elemento do
cuidado. É relevante à medida que sua efetividade e qualidade possuem relação
com os índices de mortalidade materna e infantil. Ao considerar estes aspectos
afirma-se que este é um fenômeno psicossocial entre as mulheres-mães.
Objetivou-se analisar o conteúdo e a estrutura das representações sociais sobre
pré-natal entre mulheres-mães do Pará, com base na teoria das representações
sociais de acordo com a abordagem estrutural. Partiu-se do pressuposto que os
conhecimentos são elaborados no senso comum, orientam as ações e são
partilhados nos grupos sociais. A coleta de dados foi realizada com 113 mulheresmães, internadas na Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMPA),
no período de dezembro de 2011 a janeiro de 2012. A técnica utilizada foi a
Evocação Livre de Palavras ao termo indutor: “pré-natal”. O produto das
evocações após a padronização semântica foi organizado em um corpus
(Software Excell) e tratado pelo software EVOC 2003, a partir desses dados
obteve-se o quadro de quatro casas. Foram seguidas as normas da Resolução
196/96 do Conselho Nacional de Saúde. O comitê de ética da FSCMPA aprovou o
projeto CAAE- 0064.0.321.440-11, protocolo nº 135/11. Evidenciou-se como
possível núcleo central os termos “criança-bebê”, “cuidado” e “saúde”. O que
remete ao paradigma dominante, centrado na criança, e um emergente com foco
na “mulher-mãe”. Os elementos “cuidado” e “saúde” demonstram a dimensão
funcional relacionada ao fazer do pré-natal; e a dimensão normativa, que
considera os valores e sentidos do pré-natal. Os elementos da segunda periferia:
“gestação- barriga”, “acompanhamento”, “alimentação”; e da zona de contraste:
“importante”, “prevenção”, “bom”. Essas expressões quando agrupadas
originaram as categorias bio-cuidativa, inter-relacional, e emocional-valorativa. O
estudo possibilitou compreender que as mulheres mães representam o pré-natal
de acordo com as dimensões do conhecimento científico, porém demonstram a
necessidade de identificar o pré-natal enquanto espaço de cidadania e educação
em saúde. As implicações das representações sociais para o agir cuidativoeducativo em enfermagem consistem em ampliar a visão de mulheres acerca do
pré-natal para além da dimensão do filho para incluir a mãe; propagar a consulta
de enfermagem enquanto espaço de acompanhamento e cuidado no pré-natal;
ampliar a visão de mulheres sobre educação em saúde no pré-natal.
Recomendam-se às enfermeiras (os) re-significar o agir cuidativo- educativo em
enfermagem conforme as representações sociais das mulheres-mães. Quanto
aos serviços de saúde: promover atenção à mulher para além do foco nos
tratamentos clínicos; educação permanente para os profissionais do pré-natal;
inserção de enfermeiras (os) obstetras; dimensionamento de profissionais e das
ações que realizam com vistas à qualidade da assistência; implantação da
educação em saúde no pré-natal com a proposta metodológica da educação
pelos pares, enquanto estratégia que valoriza as vivências dos indivíduos. Para
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
as instituições formadoras, formar profissionais com visão para além da
biomédica; na produção do conhecimento, produções sobre pré-natal na
perspectiva das representações sociais entre profissionais e familiares de
mulheres.
Palavras-chave: Cuidado pré-natal, psicologia social, saúde da mulher.
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
ABSTRACT
CARNEIRO, Márcia Simão. Social representation on pre-natal among womenmothers: implications on nursing care and educational action in nursing. 2012.
196 f. Thesis (MA in Nursing) - Universiy of State of Pará, Belém, Pará 2012.
The pre-natal exists to promote woman’s health which can be empowered through
education in health, as element of care. It becomes relevant as its effectiveness
and quality are related with rates of maternal and infant mortality. In consideration
of these aspects, it is stated that this is a psycho-social phenomenon among
women-mothers. The objective was to analyze the contents and the structure of
the social representations on pre-natal among women-mothers in Pará, based on
the social representation theory according to the structural approach. We set off
on the assumption that knowledge is elaborated on common sense, and leads
actions and is shared among social groups. The data collection was obtained
surveying 113 women-mothers admitted to Fundação Santa Casa de Misericórdia
do Pará (FSCMPA) from December/2011 to January/2012. The technique used
was the Free Evocation of Words regarding the trigger word: “pre-natal”. The
outcomes of these evocations after the semantic standard was organized in a
corpus (Excell Software) and processed by the EVOC 2003 software. From these
data, we obtained a chart of four squares. We followed the rules of Resolution
196/96 of Conselho Nacional de Saúde (National Council on Health). The ethics
committee from FSCMPA passed the CAAE – 0064.0.321.440-11 project, protocol
135/11. As a possible central core, we can point out the terms “infant/toddler”,
“care” and “health”. This leads to the dominant paradigm, child-centered, and an
emerging one with the focus on “woman-mother”. The elements “care” and
“health” displayed the functional dimension related to the pre-natal practice; and
the normative dimension which considers the values and the pre-natal
understandings. The elements of the second periphery: “gestation-womb”,
“medical follow-up”, “feeding” and the contrast zone: “important”, “prevention”,
“good”. These expressions put together originated the categories: bio-care, interrelational, and emotional-value. With this study, it was possible to understand that
women-mothers view pre-natal according to the dimensions of the scientific
knowledge; however, it shows the necessity to identify the practice of pre-natal as
an expression of citizenship and education in health. The implications of the social
representations concerning the care-education action in nursing consist in
widening the women’s point of view of the service of pre-natal beyond baby’s
dimension in order to include the mother herself; spread the service of nursing as
practice of follow-up and pre-natal care, help women widen their perception of
education in health during pre-natal. It is recommended that nurses give a new
meaning to the care-education action in nursing in accordance with the womenmothers’ social representations. Concerning the services in health: promote
special care to women beyond the clinical treatments; permanent education for the
professionals who work for pre-natal practice; employ nurse-obstetrician;
dimensioning the professionals and the actions that they make aiming the quality
in assistance; the use of education in health during pre-natal with a methodological
proposition of education by the parties, while a strategy that values the individuals’
experiences. For the educational institutions, prepare professionals with a wide
vision that goes beyond the biomedical approach; in the production of knowledge,
11
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
productions on pre-natal in the perspective of the social representations among
professionals and women’s families.
Key-words: Pre-natal care, social psychology, woman’s health.
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
LISTA DE ILUSTRAÇÃO
Fotografia 1
Atuando como enfermeira assistente.
20
Fotografia 2
A autora com a equipe do Centro Obstétrico da FSCMPA 30
em 2003.
Diagrama 1
Fases profissionais.
40
Diagrama 2
Atividades da Fase Acadêmica.
40
Diagrama 3
O funcionamento do fenômeno do pré-natal, como uma
engrenagem.
48
Diagrama 4
Dimensões do Pré-Natal.
58
Diagrama 5
Linha do tempo das políticas públicas de Saúde de
Atenção à Mulher.
61
Diagrama 6
A Representação Coletiva de Émile Durkheim e a
Representação Social de Moscovici.
72
Diagrama 7
Aspectos estruturais da TNC.
85
Diagrama 8
Dimensões da Saúde Materna.
87
Diagrama 9
Trajetória da coleta e análise de dados.
107
Fotografia 3
Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará.
109
Figura 1
Página principal doSoftware EVOC.
117
Figura 2
Dicionário das palavras ao estímulo pré-natal, (tela 1
Word).
119
Figura 3
Dicionário das palavras ao estímulo pré-natal, (tela 2
Word).
119
Figura 4
Corpus das evocações (Tela Excell)
120
Fotografia 4
A Mulher- Mãe
123
Fotografia 5
Agir Cuidativo Educativo em Enfermagem
153
Diagrama 10
Pontos de chegada
174
13
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1
Quadro de quatro casas
121
Quadro 2
Sugestões temas/assuntos a serem tratados no prénatal
145
Quadro 3
Eixo- Sugestões de melhorias para o pré-natal
149
14
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
LISTA DE SIGLAS
AISM
Atenção Integral à Saúde da Mulher
ASPLAM
Assessoria de Planejamento
BENFAM
Bem-Estar Familiar
CND
Conferência Nacional de Saúde
CNDM
Conselho Nacional dos Direitos da Mulher
COFEN
Conselho Federal de Enfermagem
DHEG
Doença Hipertensiva Específica da Gestação
DNCR
Departamento Nacional da Criança
ESF
Estratégia Saúde da Família
EVOC
Esemple de Programmes Permettant L’ Analyse Des Evocations
FSCMPA
Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará
IBGE
Instituto Brasileiro de Geografia Estatística
IDB
Índice Demográfico Brasileiro
MS
Ministério da Saúde
NOAS
Normas Operacionais da Assistência à Saúde
ODM
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
PAISM
Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher
PESCA
Práticas Educativas em Saúde e Cuidado na Amazônia
PESF
Programa Estratégia Saúde da Família
PHPN
Programa de Humanização no Pré-Natal
PNHAH
Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar
PPGAR
Programa de Prevenção da Gravidez de Alto Risco
PPMO
Rotura Prematura e Membranas Ovulares
PQGPA
Programa de Qualidade de Gestão do Pará
PSF
Programa Saúde da Família
PSMI
Programa de Saúde Materno-Infantil
RS
Representação Social
SM
Salário Mínimo
SUS
Sistema Único de Saúde
TCC
Trabalhos de Conclusão de Curso
TCLE
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
15
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
TNC
Teoria do Núcleo Central
TRS
Teoria das Representações Sociais
UEPA
Universidade do Estado do Pará
UFAM
Universidade Federal do Amazonas
UFPA
Universidade Federal do Pará
UFRJ
Universidade Federal do Rio de Janeiro
16
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mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1
Distribuição das mulheres-mães quanto a idade.
124
Gráfico 2
126
Gráfico 3
Distribuição das mulheres-mães quanto a naturalidade.
.
Distribuição das mulheres-mães quanto a procedência.
Gráfico 4
Distribuição das mulheres-mães quanto a religião.
128
Gráfico 5
Distribuição das mulheres-mães quanto ao estado civil.
129
Gráfico 6
Distribuição das mulheres-mães quanto a escolaridade.
131
Gráfico 7
Distribuição das mulheres-mães quanto ao trabalho e
ocupação.
132
Gráfico 8
Distribuição das mulheres-mães quanto a renda familiar.
133
Gráfico 9
Distribuição das mulheres-mães quanto a inserção da
residência na Estratégia Saúde da Família.
134
Gráfico 10
Distribuição das mulheres-mães quanto ao transporte
coletivo e acesso aos serviços de saúde.
135
Gráfico 11
Distribuição das mulheres-mães quanto ao número de
gestação parto e aborto.
136
Gráfico 12
Distribuição das mulheres-mães quanto a vivência dos
tipos de parto.
137
Gráfico 13
Distribuição das mulheres-mães quanto vigência de
intercorrências na gestação ou não.
139
Gráfico 14
Distribuição das mulheres-mães quanto aos tipos de
intercorrências.
140
Gráfico 15
Distribuição das mulheres-mães de acordo com o número
de vezes que realizaram pré-natal.
141
Gráfico 16
Distribuição das mulheres-mães quanto ao número de
consultas de pré-natal.
142
Gráfico 17
Distribuição das mulheres-mães quanto ao início do prénatal.
143
Gráfico 18
Distribuição das mulheres-mães quanto ao município de
143
127
17
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
realização do pré-natal.
Gráfico 19
Sugestões de temas/assuntos.
145
Gráfico 20
Sugestões para melhorias no pré-natal.
148
18
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1. PONTOS DE PARTIDA............................................................ 20
1.1. Enunciando a aproximação com o objeto e a problemática da
pesquisa: momentos na assistência, na gestão e na docência..................... 21
1.2. Justificativa, questões de pesquisa e objetivos........................................ 41
CAPÍTULO 2. ANCORAGENS...................................................................... 48
2.1. Ancoragens sócio-biológicas: em foco a mulher enquanto ser
histórico e ser de cuidado.............................................................
49
2.1.1. Relações de gênero: origem da perspectiva biológica......................... 49
2.1.2. O fenômeno da gestação e do parto.................................................... 53
2.1.3. O Pré-Natal: premissas públicas e perspectivas para o cuidado em
enfermagem................................................................................................... 55
2.2. Ancoragens Político- Assistenciais: em foco as políticas públicas de
Saúde da Atenção à Mulher .............................................................................60
CAPÍTULO 3. MARCO TEÓRICO.................................................................. 72
3.1. Aspecto histórico das Representações Sociais e da Teoria das
Representações Sociais................................................................................... 73
3.2. A Teoria do Núcleo Central (TNC)........................................................... 81
CAPÍTULO 4. DIMENSÕES DA SAÚDE MATERNA NA PERSPECTIVA
DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS. MANUSCRITO 1.................................. 87
CAPÍTULO 5. TRAVESSIAS METODOLÓGICAS.........................................107
5.1. Tipo de estudo..........................................................................................108
5.2. Local do estudo........................................................................................109
5.3. Sujeitos do estudo....................................................................................113
5.4. Produção de dados...................................................................................114
5.4.1. Quanto ao acesso as informações das mulheres................................. 114
5.5 Quanto a coleta de dados......................................................................... 114
5.5.1. Quanto a abordagem às mulheres....................................................... 115
5.5.2. Quanto a aplicação do primeiro instrumento de coleta de dados:
perfil sócio-demográfico de mulheres-mães................................................... 115
5.5.3. Quanto a aplicação do segundo instrumento: formulário de
19
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
associação livre de palavras......................................................................... 115
5.6. Análise dos dados.................................................................................... 117
5.7 Aspectos éticos e legais............................................................................ 122
CAPÍTULO 6. QUEM SÃO E DE ONDE FALAM AS MULHERES-MÃES
ATENDIDAS NA FSCMPA........................................................................... 123
6. Perfil sócio-demográfico.............................................................................. 124
6.2. Perfil obstétrico......................................................................................... 136
6.3. As mulheres e o pré-natal........................................................................ 141
CAPÍTULO 7. REPRESENTAÇÕES SOCAIS SOBRE PRÉ-NATAL
ENTRE MULHERES-MÃES: IMPLICAÇÕES PARA O AGIR CUIDATIVO
EDUCATIVO EM ENFERMAGEM. MANUSCRITO 2................................... 153
CAPÍTULO 8: PONTOS DE CHEGADA.........................................................174
REFERÊNCIAS.............................................................................................. 178
APÊNDICES................................................................................................... 185
ANEXOS......................................................................................................... 195
20
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
CAPÍTULO 1- PONTOS DE PARTIDA
21
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
1.1. Enunciando a aproximação com o objeto e a problemática da pesquisa:
momentos na assistência, na gestão e na docência.
Esta pesquisa teve como objeto de estudo as representações sociais
sobre o pré-natal entre mulheres-mães do Pará e suas implicações para o
agir cuidativo-educativo em enfermagem. Minha motivação em estudar o tema,
possui relação afetiva com o fato de ser “mulher- mãe” e neta de parteira
tradicional do baixo amazonas. No entanto, foi como acadêmica do curso de
enfermagem, cursando as disciplinas: materno-infantil e enfermagem obstétrica e
neonatal que obtive a aproximação com a área da saúde da mulher e da criança
e, por conseguinte com o pré-natal.
Nesse período, participei de aulas teóricas e práticas tanto na atenção
primária quanto na atenção secundária, o que possibilitou um despertar para os
problemas de saúde pública que permeiam a atenção materno-infantil.
Ao término do curso em 1996, recebi o título de enfermeira pela
Universidade do Estado do Pará (UEPA), logo, objetivando ampliar meus
conhecimentos, em 1997 realizei a Habilitação em Saúde Pública, resultando em
maior contato e conhecimento com as ações realizadas em Unidades Básicas de
Saúde (UBS) onde se insere o pré-natal.
Tendo em vista que minha trajetória profissional foi pautada pelo
desenvolvimento de ações na assistência, na gestão, e no ensino superior de
enfermagem, subdividi esse percurso em três fases: assistencial, gerencial, e
acadêmica para fins de melhor entendimento. Para a construção deste estudo,
destaco decisivos e importantes momentos pessoais e profissionais, visto que
algumas dessas ações ocorreram de forma simultânea, no contexto de uma única
instituição hospitalar, diferindo apenas nos horários.
A fase assistencial (1998-2006) iniciou ao ingressar na maternidade
da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMPA), hospital escola
referência na área materno-infantil do Estado, atuando como Enfermeira da
referida Instituição.
Devido a minha habilitação em Saúde Pública, no primeiro momento
atuei no alojamento conjunto, cuja finalidade consiste na assistência pós-parto e
22
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
na promoção à saúde da mãe e recém-nascido. Nessa época, pude evidenciar as
dificuldades das mães com o cuidado de si e do recém-nascido, bem como
percebi as limitações de alguns acompanhantes e familiares em colaborar na
prestação desses cuidados.
Estas evidências me levaram a pensar que tais situações poderiam ter
sido minimizadas ou até não concretizadas, se as gestantes tivessem aprendido a
lidar com essas, na educação em saúde do pré-natal.
Neste aspecto, evidenciei a importância do agir cuidativo- educativo da
enfermagem no pré-natal, tendo em vista o processo de ensino-aprendizagem de
ações básicas que determinam a autonomia e o empoderamento da mulher. O
Ministério da Saúde recomenda que:
Informações sobre as diferentes vivências devem ser compartilhadas
entre as mulheres e os profissionais de saúde. Essa possibilidade de
intercâmbio de experiências e conhecimentos é considerada a melhor
forma de promover a compreensão do processo de gestação. As
gestantes constituem o foco principal do processo de aprendizagem,
porém não se pode deixar de atuar também entre companheiros e
familiares (BRASIL, 2005, p.30).
A citação reforça a necessidade do profissional de saúde identificar as
representações sociais das mulheres, visto que essas são constituídas por seus
conhecimentos, crendices, experiências e cultura. A partir dessas representações
e da negociação de conhecimentos entre mulheres e profissionais é que será
possível promover um cuidado-educativo efetivo. Nesta perspectiva, destaca-se
que a representação social valoriza a intercomunicação entre profissionais e
mulheres, segundo Jovchelovitch (2008):
A comunicação e interação são o “como” dos processos
representacionais; as representações são sempre produzidas na ação
comunicativa e a análise da comunicação é central para definir as
modalidades de representação e a forma e funções de um sistema de
conhecimento ( p177).
Em um segundo momento, atuei na urgência e emergência obstétrica,
a porta de entrada da maternidade. Nesse período acumulei funções assistenciais
e gerenciais. Estas experiências me permitiram adquirir novos conhecimentos e
desenvolver habilidades técnicas, de liderança e interpessoais. Porém, o que
mais marcou, foi conhecer e vivenciar a grande demanda de atendimentos e a
difícil trajetória das mulheres em busca de vagas em maternidades, considerando
que a maioria dessas, não dispõe de unidades de terapia intensiva ou semi-
23
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
intensiva neonatal para os casos graves de recém-nascidos prematuros. Neste
sentido, Hotimsky et al. ( 2002, p.09) descrevem que “falta crônica de vagas e o
fenômeno da peregrinação hospitalar são bastante conhecidos e representam
fontes de angústia para as gestantes estudadas”.
No que tange as questões de acesso, o Ministério da Saúde, Brasil
(2000), prevê a garantia do atendimento das gestantes, quando descreve que o
acesso das gestantes e recém-nascidos a atendimento digno e de qualidade no
decorrer da gestação, parto, puerpério e período neonatal são direitos
inalienáveis de cidadania.
De acordo com Manzini (2006) a cidadania tem como princípio que
todos os seres humanos são iguais perante a lei, sem discriminação de raça,
credo ou cor, tendo autoridade sobre o seu corpo e sua vida, além de ter direito à
educação, à saúde, à habitação e ao lazer.
Este conceito nos faz concluir que os direitos de cidadania de milhares
de mulheres não estão sendo garantidos e nem concretizados, considerando que
muitas delas desconhecem seus próprios direitos para então fazer valer.
Uma situação característica que contraria a cidadania da mulher tem
relação com a superlotação em maternidades. Na Fundação Santa Casa de
Misericórdia do Pará (FSCMPA), o alto índice de atendimentos, ocasiona
freqüentemente superlotações, deixando a margem do atendimento muitas
mulheres.
Essas situações constantes me levaram a pensar que a grande maioria
dos danos e agravos poderiam ser evitados, ainda no pré-natal, de acordo com o
preconizado pelo Ministério da Saúde. Neste aspecto, verifiquei a influência dos
fatores sociais, culturais, educacionais, econômicos, políticos e assistenciais,
além dos biológicos, que permeiam as diversas situações das mulheres no prénatal.
Por esses motivos, inúmeras vezes, os profissionais de saúde não
conseguiam dar conta de resolver os problemas, resultando em desfechos
desfavoráveis para a mulher, recém-nascido, família e conseqüentemente para o
Estado, devido às repercussões negativas dos fatos ocorridos e veiculados na
mídia local e nacional.
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Considerando a repercussão e influência da mídia escrita e falada nos
padrões de conhecimento, comportamentos e conduta das pessoas, nas
elaborações e re-elaborações das representações sociais, Jovchelovitch (2008)
comenta:
As representações sociais, como instrumento de conhecimento e
comunicação, constroem o EU e a realidade propriamente ditos, sem os
quais seriamos incapazes de desenvolver uma identidade pessoal e os
mundos sociais em que vivemos. Como sistemas de entendimento
compartilhado do mundo, as representações oferecem padrões de
conhecimento e reconhecimento, disposições, orientações e conduta,
que transformam ambientes sociais em lares para atores individuais e
lhes permite entender as regras do jogo. Solidificadas em práticas
culturais e em instituições, elas fornecem os recursos para a construção
das identidades sociais e para a reprodução e renovação de sociedades
(p. 171).
Para a autora, os saberes comuns propiciam as referências e os recursos
por meio dos quais os indivíduos dão sentido ao mundo, desenvolvem as
competências teóricas e práticas para lidar com o cotidiano e estabelecem as
relações comunicativas, é nesse sentido que esse conhecimento poderá orientar
novas práticas.
Quanto aos atendimentos de rotina às gestantes na FSCMPA, desde
os tempos de minha atuação, até os dias atuais, de acordo com a finalidade e
estrutura do serviço da “porta de entrada” da maternidade ou triagem obstétrica,
são previstos somente os atendimentos dos casos de “urgências e emergências
obstétricas”.
No entanto, por diversas vezes, são realizados atendimentos que
visam a avaliação do estado de saúde da mãe e feto; solicitação de exames de
rotina; e promoção a saúde por meio da educação em saúde, ações essas
inerentes ao pré-natal.
Na tentativa de evitar um dano maior para a mulher, família e
sociedade, as exceções acabam virando regra, condição esta, que me incitou a
pensar novamente, na importância do pré-natal, uma vez que há sobrecarga e
desvio de função para o serviço hospitalar.
Esta idéia é embasada pela publicação da reportagem do Jornal Diário
do Pará, do dia 24 de maio de 2012, elaborada por Thiago Araújo, a partir da
seguinte manchete: Santa Casa está atuando além do limite – “A deficiência no
atendimento primário em saúde, prestados nas unidades de saúde municipais, da
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
qual faz parte o pré-natal, é apontado com uma das principais causas do
afogamento”.
A Presidente da Santa Casa, afirmou durante a entrevista que se as
unidades de saúde atendessem corretamente as gestantes, a triagem da Santa
Casa, não precisaria recebê-las e, assim poderiam ser evitados mais transtornos.
A referida gestora ressaltou que o perfil do atendimento da instituição é a urgência
e emergência obstétrica e neonatal, porém tem atendido a diversos tipos de
pacientes. Informou que a Unidade Terapia de Intensiva (UTI) pediátrica, com
seus 15 leitos, está 100% ocupada, e referiu temer por um colapso no
atendimento e por isso pediu o apoio da população. Neste sentido, o Ministério
da Saúde reforça o pensamento da Gestora, ao descrever:
A relação entre as atividades da atenção básica e as hospitalares deveria
ser de continuidade e complementariedade. Entretanto, no pré-natal, que é
o momento mais apropriado de preparar a mulher para o parto e detectar
as possíveis alterações da gestação, é o momento em que graves
problemas são encontrados (BRASIL, 2001, p. 18).
Concordo com os relatos da Presidente da Santa Casa, pois se a
maioria das mulheres que realizam o pré-natal, o fizessem de forma correta, não
precisariam buscar a instância hospitalar. Visto que a maioria das patologias da
gestação podem ser prevenidas ou detectadas, através dos sinais e sintomas,
manifestados nas mulheres, e diagnosticadas por meio de exames padronizados
como rotina no pré-natal. Este pensamento é complementado pela afirmativa
abaixo:
O pré-natal apresenta como metas de cuidado: definir o estado de saúde
da mãe e feto; determinar a idade gestacional do feto e monitorar o seu
desenvolvimento; identificar a mulher com risco de complicações e
minimizá-lo sempre que possível; antecipar e tentar prevenir problemas
antes da sua ocorrência e proporcionar orientação e aconselhamento
apropriados (DEITRA et al, 2002, p.59).
A prevenção de problemas no pré-natal, prioritariamente deve ocorrer a
partir da coleta e análise dos antecedentes familiares, pessoais e obstétricos da
mulher, associado ao diagnóstico do perfil social, econômico, educacional, cultural
e biológico. Esses elementos quando agregados, são essenciais para respaldar
as ações preventivas e de promoção a saúde, inerente a educação em saúde do
serviço.
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Penso que quando a mulher sabe quais condutas precisa tomar
mediante alterações no seu estado de saúde durante a gravidez, ela possui
discernimento do que é urgência, emergência, e o que precisa ser tratado em
consultório. Da mesma forma, ao apreender de fato, quais os cuidados
específicos que são necessários durante a gestação, ela segue as devidas
recomendações, em contrapartida, quando a informação só foi passada, ela
certamente não as seguirá, possibilitando o desencadeamento de situações de
risco, muitas vezes irreversíveis. Revelando-se assim a importância da educação
em saúde no pré-natal. Nesse sentido, para Soares et. al (2010):
A educação em saúde é um campo multifacetado, para o qual convergem
diversas concepções, das áreas da educação, quanto da saúde, as quais
espelham diferentes compreensões de mundo, demarcadas por distintas
posições político-filosóficas sobre o homem e a sociedade ( p.19).
Para as autoras uma educação em saúde ampliada inclui políticas
públicas, ambientes apropriados e reorientação dos serviços de saúde para além
dos tratamentos clínicos e curativos, assim como propostas pedagógicas
libertadoras, comprometidas com o desenvolvimento da solidariedade e da
cidadania, visando a melhoria da qualidade de vida do homem. Ao realizar uma
incursão histórica sobre educação em saúde, Sabóia (2003) descreve que:
A educação em saúde, enquanto campo específico de atividade educativa
configurou-se, através dos tempos, como uma das estratégias do poder
público, para garantir o desenvolvimento de ações de controle e
prevenção de doenças, particularmente junto aos setores marginalizados
da população. Atualmente essa prática educativa se orienta numa
perspectiva de intercâmbio de saberes, com vistas à socialização do
conhecimento sobre a prevenção, a promoção e a recuperação da saúde (
p.09).
Todavia, conforme a autora, o que fundamentava as propostas de
atendimento à saúde, originava-se mais do ponto de vista político, que do social.
Mantinha-se a visão de que os agravos aumentavam os índices de mortalidade,
ao mesmo tempo em que funcionavam como barreiras para que se desse
andamento as iniciativas de natureza econômica, situadas no contexto do
desenvolvimento capitalista.
Neste aspecto, vislumbro a dimensão capitalista do pré-natal, bem como a
relação de sua qualidade com a mortalidade materna e infantil. Visto que, de
acordo com Foucalt (1993), o capitalismo instalado no final do século XVIII e inicio
do século XIX, socializou o corpo, reforçando a conotação de força de produção,
numa visão positivista.
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
A partir da concepção do autor, o controle da sociedade sobre os
indivíduos não se opera simplesmente pela consciência ou pela ideologia, mas
começa no corpo. Foi no nível biológico, no somático, no corporal que investiu a
sociedade capitalista. O corpo é uma realidade bio-política, e o campo da saúde
transformou-se em estratégia bio-política.
Outra questão a ser considerada, que confere a questão do poder, baseia-se
no temor das mulheres com relação às condutas de profissionais, devido às
experiências individuais e familiares. Essa afirmativa baseia-se nos relatos de
Hotimsky et al ( 2002): “ficou evidente que existe um temor das mulheres em
relação às condutas dos profissionais, baseado em experiências de suas
gestações anteriores ou de membros de suas redes de relações” (p. 05).
Nesta perspectiva, as mulheres são munidas de uma bagagem própria de
saberes e vivências, as quais são compartilhas com outras mulheres, que
constituem o mesmo grupo de pertença, considerando o gênero feminino, a
gestação, a realização do pré-natal ou não.
Tendo em vista, que essas conversam entre si, na família; comunidade;
entre vizinhos; nas esperas por atendimentos em instituições de saúde, concebese que nesses espaços onde pensamentos coletivos e individuais se interpretam,
são produzidas e reproduzidas representações sociais, as quais se exteriorizam
por meio da linguagem e por condutas.
São as representações sociais que orientam os pensamentos e as
condutas de um determinado grupo de pertença. Quanto ao sentido de pertença,
Jovchelovitch ( 2008) comenta que:
As representações aglutinam a identidade, a cultura e a história de um
grupo de pessoas. Elas se inscrevem nas memórias sociais e nas
narrativas e modelam os sentimentos de pertençam que reafirmam a
membros individuais sua inserção em um espaço humano. Não há
processo de conhecimento que não projete a identidade e os projetos do
sujeito do saber; esta é uma dimensão psicossocial central dos contextos
do saber ( p.175).
Nesta lógica, os manuais técnicos na área da saúde da mulher, que são
elaborados para guiar condutas, apesar do alto padrão de qualidade e atualização
científica, podem não alcançar de forma efetiva os objetivos propostos, visto que
são as representações sociais que guiam e orientam as condutas dos sujeitos.
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Em se tratando das questões biológicas no contexto do serviço público
de saúde, em um determinado momento de minha atuação na FSCMPA, observei
demandas significativas de gestantes com diagnóstico da Doença Hipertensiva
Específica da Gestação (DHEG) ou pré-eclâmpsia, dentre essas, algumas
apresentavam o quadro grave de eclâmpsia².
Inquieta com o problema investigava junto aos acompanhantes sobre a
realização do pré-natal pela gestante, obtendo sempre a informação da não
realização ou que realizavam de forma irregular.
Quanto a gravidade e diagnóstico da doença, Serruya et al. (2004),
afirmam que no Brasil, a DHEG, corresponde à principal causa de morte materna
obstétrica direta nos últimos anos, seguida pelas demais causas diretas.
Os autores ressaltam que o diagnóstico da hipertensão é importante na
prevenção dos distúrbios hipertensivos da gestação, e afirma que uma das
conseqüências da doença é o descolamento de placenta³, causa importante de
muito simples e de baixíssimo custo, a aferição da pressão arterial em todas as
consultas de pré-natal.
Dessa forma, a aferição da pressão arterial no pré-natal, deve ocorrer
em todas as consultas, seguidas da educação em saúde sobre o assunto. A
avaliação dos níveis de pressão arterial serve para prevenir a DHEG, ensinar a
gestante
quanto
aos
sinais e
sintomas
da
hipertensão,
as
possíveis
conseqüências da patologia e os cuidados que deverão ser adotados por ela e
por sua família.
Quanto ao cumprimento da freqüência e do número de consultas
estabelecidas pelo Ministério da Saúde, identifiquei que muitas gestantes
realizavam o pré-natal de forma irregular. Outro fator importante era a
procedência dessas mulheres, visto que a maioria vinha do interior do Estado, em
condições precárias de transporte e de assistência.
_____________________
¹Pré-eclâmpsia: é a doença hipertensiva específica da gestação (DHEG) (COSTA et al, 2007, p. 390)
²Eclâmpsia: é a ocorrência de convulsões motoras generalizadas em gestantes com pré-eclâmpsia (COSTA
et al, 2007, p. 390).
³Descolamento de prematuro de placenta (DPP): é a separação da placenta, normalmente implantada no
período da 20ª semana até mesmo antes do parto ( RAMOS et al, 2007, p.589).
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Esta observação consolida-se com o pensamento de Freitas et al.
(2006), ao comentar que embora estudos demonstrem os benefícios do
acompanhamento pré-natal sobre a saúde da gestante e do recém-nascido, que
contribuem para a redução da mortalidade materna, baixo peso ao nascer e
mortalidade peri-natal, a cobertura da consulta pré-natal, especificamente o
número de consulta é deficiente, e verifica-se desigualdade entre as regiões do
país: norte 26,55%, Nordeste 34,9, Sudeste 60,54%, Sul 61,05%, Centro Oeste
55,85 %, o que totaliza 49,14% no país.
Para os autores, estes dados indicam a necessidade de expandir o
acesso das gestantes aos serviços de saúde, bem como em melhorar a qualidade
das consultas, principalmente, fortalecendo o acolhimento, a fim de garantir a
adesão ao programa pré-natal. Quanto a este assunto o Ministério da Saúde
descreve que:
O acolhimento, aspecto essencial da política de humanização, implica a
recepção da mulher, desde sua chegada na unidade de saúde,
responsabilizando-se por ela, ouvindo suas queixas, permitindo que ela
expresse suas preocupações, angústias. Garantindo atenção resolutiva e
articulação com os outros serviços de saúde para a continuidade da
assistência, quando necessário. Cabe à equipe de saúde, ao entrar em
contato com uma mulher gestante, na unidade de saúde ou na
comunidade, buscar compreender os múltiplos significados da gestação
para aquela mulher e sua família, notadamente se ela for adolescente
(BRASIL, 2005, p.13).
Neste aspecto, o ouvir remete ao processo de intercomunicação o
qual integra as representações sociais que elucidam e direcionam as práticas.
Na seqüência de meu percurso profissional, em um terceiro momento,
no ano de 1999, busquei aprimorar os meus conhecimentos por meio do curso de
Especialização em Enfermagem Obstétrica (UEPA). Nesse período, vivenciei a
primeira experiência de engravidar e ser mãe. Neste sentido, abro parênteses,
para revelar que esta experiência, particularmente, contribuiu positivamente para
o meu desenvolvimento enquanto pessoa e profissional da área da saúde da
mulher. No ano de 2003, a maternidade da FSCMPA, passou por uma reforma
física, objetivando implantar o Programa de Humanização do Parto e Nascimento.
No quarto momento, atuei no pré-parto e centro obstétrico da
Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMPA), com a missão de
assistir a mulher em trabalho de parto e parto, além de contribuir com o
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
treinamento dos profissionais para a realização do parto humanizado período
ilustrado na foto 2:
Foto 2: A autora com a equipe do Centro Obstétrico da FSCMPA em 2003
Ao prestar assistência a mulher em trabalho de parto e parto, encontrei
algumas dificuldades, para que essas assumissem o seu papel de protagonistas
do parto, como preconizado pelo Ministério da Saúde.
O empoderamento
almejado, não acontecia, pela persistência da tríade medo, tensão e dor, geradas
pelo desconhecimento das mulheres sobre o fenômeno do parto e de suas ações
no momento das contrações e da expulsão do bebê. Nesse sentido, o Ministério
da Saúde descreve:
As vivências do parto foram nas mais diferentes culturas, de caráter
íntimo e privado, sendo uma experiência compartilhada entre mulheres.
A imensa mortalidade materna e perinatal começaram a ser discutida, na
esfera pública, por uma necessidade político econômica de garantir
exércitos e trabalhadores. Ao lado destas transformações sociais, a
obstetrícia firmava-se como matéria médica e ocorriam as primeiras
ações voltadas a disciplinar o nascimento (BRASIL, 2001, p.02).
A partir de então, nota-se que a assistência a mulher foi determinada
pelo conhecimento científico predominante nas ações do nascimento. Dessa
forma, muitas vezes por falta de opção, essas mulheres submeteram-se as
práticas hospitalares,
onde os seus conhecimentos prévios, não eram
31
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
considerados, passando do papel de protagonista do parto para o de coadjuvante.
Quanto a esta questão Sabóia (2003) relata que:
A adoção de um novo paradigma exige não apenas uma mudança
conceitual radical nas ciências da saúde, como também uma reeducação
maciça da população. Muitas pessoas, profissionais e clientes, ajustam-se
ao modelo biomédico, por temerem a invasão de sua intimidade e o
desnudamento de suas capacidades e limitações, o que as tornaria ainda
mais vulneráveis. Dessa maneira, estabelece-se um jogo, em que a
clientela delega a responsabilidade e o cuidado de saúde para os
profissionais e esses preferem acreditar que só existe uma verdade (p.43).
Quanto ao relato da autora, percebemos que há necessidade de
reflexão e transformação da prática do profissional, como também das próprias
mulheres, para que essas compreendam a importância de requerer seus direitos
de cidadania e impor seus saberes e vivências no processo de gestação,
parturição e parto. Visto que é o saber dessas mulheres, que formam a base para
as representações sociais. Para essa afirmativa encontrei subsídios em Moscovici
(2010, p. 173) através da seguinte argumentação:
É no momento em que o conhecimento e a técnica são transformados
em crenças que congregam as pessoas e se tornam uma força que pode
transformar os indivíduos de membros passivos em membros ativos que
participam nas ações coletivas e em tudo o que traz vida a uma
experiência comum.
Nota-se que com o predomínio do conhecimento científico, o poder da
mulher e sua autonomia na gestação e no parto foram se dissipando na
sociedade, e as causas deste fato, encontram base tanto nas questões sociais da
mulher enquanto gênero, alinhadas as ideologias políticas e capitalistas da
sociedade, quanto nas questões individuais, referentes a acomodação dessas
mulheres e dos profissionais ao modelo biomédico.
Observa-se na história, que os interesses inerentes à mulher foram
sempre ultrapassados pelos interesses políticos, econômicos, sociais e culturais,
tendo em vista as influencias patriarcais do estado e da igreja. Evidenciando
assim as questões que envolvem o poder, pois de acordo com Costa (2004):
O poder não é, o poder se exerce. E se exerce em atos, em linguagem.
Não é uma essência. Ninguém pode tomar o poder e guardá-lo em uma
caixa forte. Conservar o poder não é mantê-lo escondido, nem preserválo, de elementos estranhos, é exercê-lo continuamente, é transformá-lo
em atos repetidos ou simultâneos de fazer, e de fazer com que outros
façam ou pensem. Tomar-se o poder é tomar-se a idéia e o ato (p. 02).
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Para a autora, o movimento feminista tem procurado demonstrar que a
mudança nas leis, por si só, não são suficientes para promover uma mudança nos
comportamentos, nas mentalidades e na estrutura social. É que, mesmo com a
conquista do sufrágio, as mulheres permaneceram subjugadas à estrutura
patriarcal da sociedade.
Costa (2004) enfatiza que cada vez mais avança a consciência da
necessidade do estabelecimento de políticas públicas que possam estimular e
garantir, uma maior integração feminina, à estrutura de poder, ao mundo da
política formal.
Segundo o Ministério da Saúde, Brasil (2001), essa mudança de
comportamento da mulher na sociedade, também teve relação com a efetivação
da obstetrícia enquanto matéria médica na formação profissional, representada
essencialmente por profissionais médicos do sexo masculino.
Nesse aspecto, por meio da concepção patriarcal, de que o corpo e
sexualidade da mulher eram considerados impuros e imperfeitos, logo, sujeito às
intervenções, justificou-se a institucionalização do parto, sendo esse movimento
na época, apoiado pelo Estado.
Para Moscovici (2010), no universo reificado, ou científico, a sociedade
é vista como uma entidade sólida, invariável, indiferente a individualidade, sem
identidade e como um sistema de diferentes papéis sociais, em que a
competência adquirida determina o mérito de participação nas atividades de vida.
Fato esse que justifica a reação de algumas pessoas parciais e submissas.
Pude compreender melhor todas estas premissas, quando na
assistência ao parto, eu tentava contribuir com a autonomia das mulheres,
explicando todo o processo obstétrico, porém percebia o comportamento passivo
e submisso dessas, em relação aos profissionais. Nesse sentido, destacava a
importância das contribuições dessas mulheres para o parto e nascimento
saudáveis, não obtendo da maioria, as respostas esperadas, que era de
empoderamento e autonomia.
Em minha concepção a humanização do parto e nascimento deve ser
iniciada no pré-natal. Visto que, assim como os profissionais possuem seu papel,
a mulher da mesma forma, deve compreender como lidar com a dor por meio de
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
exercícios respiratórios e pélvicos, além de auxiliar a assistência dos
profissionais, informando percepções, sentidos, bem como a posição mais
conveniente para si durante o parto.
A mulher que não conheceu sobre o parto durante o pré-natal, terá
maiores dificuldades no momento da dor e durante a parturição, logo, não será
protagonista do evento, abrindo caminhos para as condutas e intervenções
profissionais, algumas vezes desnecessárias, pressupondo a desumanização do
parto.
O comportamento submisso de determinadas mulheres, em alguns
momentos, é caracterizado pelo desconhecimento, fato que gera medo e
insegurança, ou pela acomodação de seus saberes natos e inerentes ao ser
mulher.
Esse comportamento submisso provém do modelo biomédico de ser
“paciente” e ancora-se nos pensamentos de Sabóia (2003), quando afirma que:
“nas práticas da educação em saúde é clara a existência de condições objetivas
(naturais) e subjetivas (sentimentos, comportamentos e desejos), que são
interligados e inerentes a existência humana”.
Para a autora, o modelo biomédico, fundamentado no paradigma
positivista, esforça-se por fazer a ruptura desses dois aspectos, valorizando
apenas o primeiro. Nessa perspectiva a autora Rios (2009), complementa a idéia
ao descrever que:
A supremacia do recorte biológico e o autoritarismo dos discursos
de saber e poder deflagraram crítica contundente ao modelo
biomédico de atenção. A biotecnologia aplicada à medicina
propiciou indiscutíveis conquistas para o bem das pessoas, mas
em compensação criou um abismo entre profissionais de saúde e
pacientes ( p.19).
Segundo a autora, os pacientes passaram a condição de objetos de
estudo e manipulação na construção do saber e da prática científica. E os
profissionais, a condição de peças e engrenagens que fazem funcionar a máquina
institucional. O tecnicismo perde de vista, estados vivenciais importantes para a
realização do cuidado à saúde.
De acordo com essas questões, durante minha prática profissional, ao
indagar junto às mulheres-mães sobre os conhecimentos adquiridos no pré-natal
34
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
acerca do trabalho de parto e parto, verificava o pouco ou nenhum conhecimento
sobre o assunto. Essas situações deixam clara a importância da efetivação da
educação em saúde no pré-natal, e do papel do profissional nesse contexto, no
qual sempre irá exercer uma influência majoritária. Neste aspecto, Buchabqui et
al. (2006, p. 26), comentam:
Deve haver a adequação do cuidado prestado no pré-natal, cabendo ao
profissional, associar aspectos qualitativos no que se chama conteúdo
de cuidado do pré-natal; desta forma, a assistência no pré-natal,
adicionado ao cuidado, inclui a qualidade do pré-natalista, que deve ser
competente, humano e dedicado.
Considerando que o enfermeiro realiza o pré-natal de baixo risco e
participa do pré-natal de alto risco, além de ser integrante da equipe de atenção a
mulher no ciclo gravídico puerperal, nas instâncias primárias e secundárias. Mais
uma vez foi possível refletir sobre a importância do agir cuidativo-educativo de
enfermagem, bem como os assuntos e a forma com que esses são abordados,
para que a mulher a partir de suas aprendizagens desenvolva com autonomia o
cuidado de si e do seu filho.
O acolhimento do profissional, a empatia e as conversas para captação
das ansiedades, medos e necessidades educativas dessas mulheres se tornam
essenciais. O Ministério da Saúde (BRASIL, 2004) destaca que a abordagem
educativa no pré-natal é um diferencial efetivo na promoção à saúde da mulher.
Ao pensar na abordagem educativa, enquanto momento de interação
entre mulheres e profissionais de saúde, deve-se considerar o conhecimento
popular das mulheres e o científico dos profissionais. É nesta perspectiva que o
conhecimento científico origina o comum, tornando possível a transformação da
realidade.
Considerar os saberes da mulher, gerados pela herança cultural de
famílias, em relação à gestação, parto, e pós-parto são fatores primordiais para a
adequação dos cuidados dispensados no pré-natal. Esses fatos nos remetem a
necessidade de ponderação do comportamento biomédico e adequação ao
afetivo e dialógico, considerando de fato a mulher como centro da assistência prénatal. Nessa perspectiva, Jodelet (2001, p.91) elenca algumas das funções e o
papel, das representações sociais:
Geralmente, reconhece-se que a Representações Sociais, enquanto
sistemas de interpretação que regem nossa relação com o mundo e com
35
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
os outros, orientam e organizam as condutas e as comunicações sociais.
Da mesma forma, elas intervêm em processos variados, tais como a
difusão e a assimilação dos conhecimentos, o desenvolvimento
individual e coletivo, a definição de identidades pessoais e sociais, a
expressão dos grupos e as transformações sociais.
Os termos, definição de identidades pessoais e sociais e expressão
dos grupos, remetem ao caso de uma paciente indígena que internou em trabalho
de parto na Instituição. A mesma não falava nossa língua e nós não
compreendíamos a sua.
Ao detectar a fase do período expulsivo, conduzi a paciente para subir
na mesa ginecológica e ela recusou-se. Então num ato de improviso em respeito
a sua cultura, a equipe estendeu os campos estéreis no chão e ela de cócoras
pariu seu filho conforme as tradições de sua cultura.
Neste cenário, prestei assistência ao parto, e também de cócoras,
recebi seu filho. Foi a primeira vez que presenciei tamanha autonomia no ato de
parir. Esse fato denota o conhecimento cultural que é outra forma de gênese de
representação social. Mesmo com a influência do conhecimento científico, devido
a autenticidade das tradições da cultura, a mulher indígena teve autonomia para
impor aos profissionais sua maneira de parir.
No quinto momento, participei de um Programa do Governo do
Estado, intitulado Presença Viva, cujo objetivo era levar assistência à saúde às
pessoas dos interiores do Pará, e promover a atualização dos profissionais que
trabalhavam nos serviços de atenção primária. Obtive a oportunidade de ter
aproximação com as gestantes e com o contexto em que elas viviam e eram
assistidas, além da possibilidade de contribuir com os profissionais enfermeiros,
durante a consulta de enfermagem.
Por meio da experiência, com relação às gestantes, foi possível
identificar fortemente a influência dos fatores de risco da gestação, relacionados
com as dimensões econômicas, sociais, educacionais, humanísticas, culturais e
assistenciais, além das biológicas que permeiam a gestação e o pré-natal.
Quanto ao contexto, observei as dificuldades relacionadas à infraestrutura, processos e pessoas. Quanto aos profissionais enfermeiros, durante a
consulta de enfermagem, detectei a necessidade de maior aprimoramento e
36
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
investimento na formação permanente desses profissionais. Neste aspecto o
Ministério da Saúde descreve:
A gestação, parto e puerpério constituem uma experiência humana das
mais significativas, com forte potencial positivo e enriquecedora para
todos que dela participam. Os profissionais de saúde são coadjuvantes
desta experiência e desempenham importante papel. Têm a
oportunidade de colocar seu conhecimento a serviço do bem estar da
mulher e do bebê, reconhecendo os momentos críticos em que suas
intervenções são necessárias para assegurar a saúde de ambos
(BRASIL, 2001, p.09).
Para que o profissional exerça o seu papel, é importante que ele esteja
apto tecnicamente e interpessoalmente, consciente da relevância de sua atuação,
para que a mulher adquira autonomia em seu ciclo gravídico puerperal.
A fase gerencial ( 2002-2012) iniciou com minha inserção no campo
do trabalho e me aproximou dos profissionais de saúde.No ano de 2002, fui vicecoordenadora do Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar
(PNHAH) na FSCMPA e Membro do Comitê Estadual de Humanização. O
Programa vislumbrava, além da satisfação da clientela atendida, a satisfação dos
profissionais de saúde e a melhoria das condições de trabalho.
Em 2003, iniciei no serviço de Gestão de Pessoas da FSCMPA, no
qual, obtive várias oportunidades de desenvolvimento intra e interpessoal, além
do profissional. Dentre as ações desenvolvidas destaco a implantação e
coordenação do Programa de Educação Permanente de Enfermagem e a ação de
avaliadora do Programa de Qualidade de Gestão do Pará (PQGPA).
Estes fatores me possibilitaram maior aproximação com a formação
permanente dos profissionais de enfermagem e com a gestão das políticas
públicas de saúde; tanto por meio do serviço, quanto pela realização de um Curso
em nível de Aperfeiçoamento em Gestão dos Serviços Públicos de Saúde na
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Enquanto gerente geral de enfermagem desenvolvi ações marcadas
pela elaboração de projetos técnicos, dentre esses, a implantação da
Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) e o aprimoramento da
Educação Permanente em Enfermagem (EPE).
37
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Finalizei em 2006 as ações desenvolvidas na Fundação Santa Casa
de Misericórdia do Pará (FSCMPA), após ter solicitado exoneração do cargo de
enfermeira obstetra.
Dando prosseguimento as atividades de gestão em 2008, fui convidada
a ingressar no Conselho Regional de Enfermagem com o propósito de assessorar
a gestão com a elaboração de pareceres técnicos e
implantação da
Sistematização da Assistência de Enfermagem e Educação Permanente em
Enfermagem nas instituições de saúde da capital e do interior do estado. Essas
experiências me proporcionaram um maior conhecimento acerca das leis que
regem a profissão de enfermagem, interação com os profissionais de enfermagem
e responsáveis técnicas pelas instituições, além da maior penetração nas
instituições de saúde.
Em 2009, vivenciei a segunda experiência com a maternidade, e
novamente abro parênteses, para ressaltar a intensidade deste fenômeno na vida
da mulher, por isso, há necessidade de atenção, apoio e cuidado por parte de
todos os envolvidos: da própria mulher, da família e dos profissionais de saúde.
Em 2012, após eleição para a gestão 2012-2014, tomei posse da
plenária do COREN-PA na condição de Conselheira efetiva, representando o
quadro de enfermeiras (os), dando assim seguimento a fase gerencial, na
perspectiva do exercício legal da profissão e de seu desenvolvimento técnico,
científico e social.
A fase acadêmica (2002-2012) iniciou quando assumi a função
docente, marcada pelo interesse em produções científicas. Registro aqui a
determinação em trabalhar com a formação do enfermeiro e com a produção do
conhecimento em enfermagem. Em 2002, vivenciei a primeira experiência
acadêmica enquanto Professora substituta na Universidade do Estado do Pará
(UEPA).
Ao
atuar
na
atividade
curricular
estágio
supervisionado
em
enfermagem obstétrica, contribuí na área de obstetrícia e ginecologia, tanto na
teoria quanto na prática. O cenário das práticas foi a FSCMPA, por ser hospital
escola, conveniado com a UEPA. Essa experiência me possibilitou desenvolver a
motivação
pelo
ensino,
pois
percebi
as
possibilidades
de
integração,
38
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
aprendizagens, desenvolvimento e reconhecimento; saí da instituição após os
dois anos de contrato previsto. Essa experiência ocorreu entre os anos de 2002 e
2004.
Em 2005, fui aprovada no concurso público para professor efetivo da
Universidade Federal do Pará (UFPA) para a atividade curricular enfermagem
obstétrica, ginecológica e neonatal, onde estou até o momento. O campo de
atuação, mais uma vez foi a FSCMPA. Essa segunda experiência me inclinou
dentre outros aspectos para a realização de pesquisas de campo, na condição de
orientadora de vários Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC).
Os resultados desses trabalhos evidenciaram a importância do
fortalecimento das dimensões educativas e humanísticas do pré-natal. Tornando
possível a constatação da necessidade de tornar real a escuta sensível às
gestantes.
Dessa forma, para o desenvolvimento dessa prática, torna-se
fundamental compreender, que escutar de forma sensível, é mais do que
simplesmente ouvir, e em seguida falar o que se julga necessário, a partir de um
entendimento profissional, ou pelas normas e manuais constituídos no universo
científico.
Escutar de forma sensível é ultrapassar a dimensão biológica e ir ao
encontro das necessidades das gestantes, até mesmo antes de serem reveladas,
valorizando os seus saberes, práticas e crendices, originadas no universo
consensual e aplicadas em seu cotidiano. Para os autores Leppert et al. (1996,
p.140-141):
Sobre a necessidade da promoção e da educação para a saúde, através
de um processo de credibilidade e sensibilização, visando às mudanças
comportamentais, obtendo na própria comunidade o conhecimento das
barreiras que impedem tais cuidados.
A fase acadêmica foi ampliada, da graduação a pós-graduação, quando
atuei no Curso de Especialização em Obstetrícia da Universidade Federal do Pará
(UFPA), em 2006. Na oportunidade desenvolvi ações junto aos alunos no
Programa de Pré-Natal em Unidades Básicas de Saúde do Município de Belém.
Essa experiência encontra fundamentos na descrição dos autores supracitados, visto que, ao participar da educação em saúde e indagar junto às
gestantes, questões básicas, acerca de seus conhecimentos sobre o motivo e a
39
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
importância dos cuidados de rotinas realizados durante as consultas do pré-natal;
como: aferição da pressão, pesagem, mensuração da altura uterina e ausculta
dos batimentos cárdio-fetais, evidenciei que muitas mulheres não compreendiam
a importância daquelas ações para a prevenção de determinadas patologias da
gestação.
Essa fase também é marcada pela minha inserção discente em cursos de
pós-graduação e grupo de pesquisa. No primeiro semestre de 2010, participei da
seleção de aluno especial do Mestrado em Educação da UEPA, e cursei a
disciplina Educação em Saúde. Essa experiência me conduziu a reflexões e
novas aprendizagens quanto ao significado e relação entre educação e saúde.
No mesmo período, integrei-me ao grupo de pesquisa “Práticas
Educativas em Saúde e Cuidado na Amazônia” (PESCA). Ao participar de uma
Oficina sobre a Teoria das Representações Sociais e agregar os conhecimentos
adquiridos na disciplina à minha vivência, foi possível compreender que as
minhas inquietações e problemas até então identificados, poderiam ser estudados
com a referida teoria.
No segundo semestre de 2010, após aprovação na seleção de alunos
regulares, ingressei no Mestrado Associado em Enfermagem UEPA- UFAM. Esta
nova etapa foi pautada pelo incentivo à pesquisa e aprimoramento pessoal e
profissional, tornando, enfim, possível o desenvolvimento deste estudo.
Nos Diagramas 1 e 2 apresento as fases profissionais aqui destacadas,
com ênfase para a fase atual (acadêmica), que me aproxima efetivamente desta
pesquisa.
Diagrama 1- Fases profissionais
40
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Diagrama 2 Atividades da Fase Acadêmica
41
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
A partir de minha trajetória e dos conhecimentos adquiridos, este
estudo vislumbra contribuir para o agir cuidativo-educativo em enfermagem no
pré-natal, a partir da justificativa e objetivo do estudo, revelados abaixo.
1.2.
Justificativa e objetivos
A primeira inquietação que me conduziu a realização do estudo está
relacionada de acordo com dados do Ministério da Saúde, com o alto índice de
mortalidade materna, por se tratar de uma das graves violações dos direitos
humanos das mulheres e por ser uma tragédia evitável em 92% dos casos
(BRASIL, 2009, p. 6). Para o referido órgão:
Os índices de mortalidade materna nos países em desenvolvimento são
alarmantes. Um estudo realizado pela Organização Mundial de Saúde e
entidades parceiras estimou que, em 2005 aproximadamente 536.000
mulheres em todo o mundo morreram vítimas de complicações ligadas
ao ciclo gravídico puerperal, dessas apenas 15%, viviam em países
desenvolvidos (BRASIL, 2009, p. 07).
Analisando o problema no Brasil e regiões, vimos que as maiores taxas
de mortalidade materna são encontradas nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e
Norte (BRASIL, 2009). Esta informação demonstra a necessidade de estudos em
prol de melhorias para o avanço de todas as regiões, com ênfase para a região
Norte, que ocupa o terceiro lugar na mortalidade materna.
As mortes maternas por causas obstétricas diretas vêm respondendo
por cerca de dois terços desses óbitos, denotando a baixa qualidade da atenção
obstétrica, planejamento familiar e pré-natal prestadas às mulheres brasileiras
(BRASIL, 2009, p. 07). Através desta afirmativa, entendi a relação direta entre os
indicadores de mortalidade e morbidade materna com a qualidade do pré-natal.
Ciente desta realidade, o Governo Brasileiro buscou assinar acordos e
tratados internacionais. Durante a reunião da Cúpula do Milênio em 2000, líderes
de 191 países, assinaram um compromisso para diminuir a desigualdade e
melhorar o desenvolvimento humano no mundo até 2015. As estratégias
contemplam
oito
iniciativas
que
foram
chamadas
de
Objetivos
de
Desenvolvimento do Milênio (ODM), entre as quais destaca- se a redução da
mortalidade materna (BRASIL, 2009, p. 07).
42
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Outro problema é a mortalidade infantil e neonatal (0 a 27 dias de vida),
que passou a ser o principal componente da mortalidade infantil em termos
proporcionais a partir do final da década de 80, e representa entre 60% e 70% da
mortalidade infantil em todas as regiões do Brasil atualmente (BRASIL, 2009,
p.08). A mortalidade neonatal, assim como a materna, também está vinculada as
causas preveníveis, relacionadas ao acesso, utilização dos serviços de saúde,
além da qualidade da assistência pré-natal, ao parto e recém-nascido.
A segunda inquietação está relacionada ao contexto local, pois o
Estado do Pará aparece em destaque na mídia nacional em decorrência de
mortes fetais e neonatais na capital e no interior. O primeiro episódio que virou
manchete nacional foi no ano de 2008, com as mortes consecutivas de vários
recém-nascidos prematuros na Instituição de referência materna e infantil do
Estado.
No ano de 2010, o Estado do Pará foi de novo alvo dos noticiários em
decorrência da superlotação em um hospital de referencia e falta de atendimento
a mulheres gestantes. Dentre os fatores relacionados a esse problema de saúde
pública, destaca-se a relação das mortes fetais e neonatais, a sobre carga da
atenção hospitalar e a falta de leitos, com a efetividade do pré-natal e das
políticas públicas na saúde da mulher.
A presidente em exercício da Fundação Santa Casa de Misericórdia do
Pará, em entrevista concedida ao “Jornal Liberal” do Pará, no dia 28 de agosto de
2011, comentou “o cuidado com as gestantes desde o inicio da gravidez, evita
novas tragédias”. Enfatizou que o pré-natal é a melhor receita, e que precisa
haver maiores investimentos na atenção primária. Afirmou que a ampliação de
leitos e a construção de novas maternidades e berçários, não será a solução para
o problema, além de ser mais dispendioso para o Estado.
Ao analisar os dados de mortalidade materna e neonatal, alinhados a
minha vivência profissional e aos estudos desenvolvidos, tornou-se possível
afirmar: para que as estratégias de aperfeiçoamento do pré-natal se concretizem,
é necessário dar voz às mulheres-mães por meio de uma escuta sensível para
que se manifestem sobre o pré-natal. Esta afirmativa está pautada na concepção
de Jovchelovitch (2008, p. 213), ao comentar que:
43
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
A cooperação e a comunicação, sem as quais a vida humana não seria
possível, pressupõe o reconhecimento do outro, bem como o
aprendizado de como levar em consideração a perspectiva desde onde
ele propõe sua verdade histórica, social e psicológica.
Tendo em vista que o profissional enfermeiro realiza o pré-natal de
baixo risco e sua atuação está pautada especificamente na promoção da saúde e
prevenção da morbidade e mortalidade, este estudo se propõe, a partir das
representações sociais sobre pré-natal entre mulheres mães, contribuir para o
agir cuidativo- educativo de enfermagem no pré-natal.
De acordo com o decreto n° 94.406/87 e o Ministério da Saúde, o prénatal de baixo risco, pode ser inteiramente acompanhado por enfermeiro;
enquanto que a lei n° 7498, do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), de
25 de julho de 1986. Dispõe sobre a regulamentação do exercício de
enfermagem, afirma que compete ao enfermeiro a realização da consulta de
enfermagem e a prescrição da assistência de enfermagem, privativamente e
como integrante da equipe de saúde.
No pré-natal, diante da confirmação da gestação, o processo consiste
na consulta de enfermagem, realizada com o auxílio de métodos e técnicas
variadas, que tem por finalidade a obtenção de informações sobre as pessoas ou
coletividade humana e sobre suas respostas em um dado momento do processo
saúde e doença (COFEN, 2009).
A atuação dos enfermeiros, enquanto profissionais de saúde, é
considerada relevante para a efetivação das propostas do pré-natal, pois de
acordo com Freitas et al. (2007), o profissional de saúde, desempenha papel
relevante na transmissão de apoio, orientação e confiança para que a gestante
possa conduzir com mais autonomia a gestação e o parto.
Para Lowdermilk et al. (2002), o pré-natal proporciona uma única
oportunidade para os enfermeiros e para os demais profissionais de saúde da
equipe, exercerem influências positivas na saúde da família, por meio da
promoção a saúde e prevenção de doenças. Quando as gestantes procuram
atendimento e orientações regulares, não se encontram doentes, pois a gestação
é um fenômeno fisiológico.
44
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Considerando o contexto problema e a problemática da pesquisa, optei
em estudar o pré-natal, por concebê-lo enquanto engrenagem constituída pelos
elementos: gestantes, enfermeiros, e políticas públicas de saúde.
Nessa linha de pensamento, cada elemento participante possui seu
papel para a efetivação do pré-natal. Cabendo as gestantes a compreensão de
sua participação e comprometimento, para que adquiram autonomia para cuidar
de si e do seu filho.
Para que a autonomia se desenvolva, a ação da gestante precisa ser
reflexiva e ativa, de quem fala, questiona, reivindica e também decide sobre o que
julga melhor para si, para seu filho e família, de acordo com a sua realidade.
Quanto aos enfermeiros, são responsáveis pelo acolhimento e
realização da primeira consulta da gestante na unidade de saúde, além das
subseqüentes. Cabe a esses profissionais além de acolher e consultar, motivar e
estimular a participação e adesão das gestantes à realização do pré-natal, sendo
habilidosos tecnicamente e interpessoalmente, principalmente no saber ouvir e no
respeito à individualidade dessas gestantes. Quanto a este aspecto Lowdermilk
et al. (2002, p. 256) comentam:
A capacidade de enfermeiros de investigar as necessidades peculiares e
elaborar intervenções individuais é marca da excelência na prestação do
cuidado. As variações que influencia o cuidado pré-natal englobam a
cultura, a idade e o número de fetos.
Ao perceber as necessidades de cuidado das gestantes e buscar
atendê-las, o enfermeiro precisa considerar as dimensões emocionais, culturais,
educativas, humanísticas, sociais e biológicas que permeiam o pré-natal. Essa
percepção é determinante para o agir cuidativo-educativo de enfermagem
pautado nas ações de promoção da saúde e prevenção de morbidades. Nesta
perspectiva, Waldow (2006) descreve sobre o cuidado em enfermagem:
O cuidado compõe a linguagem da enfermagem e na sua forma de
visualizá-lo- como um modo de ser, relacional e contextual- caracteriza-se
por ser a única ação verdadeiramente independente da enfermagem. O
cuidado, não pode ser prescrito. Terapêuticas, procedimentos, técnicas,
intervenções podem ser prescritas, não o cuidado. Não se prescreve um
modo de ser, não se ditam maneiras de se comportar; elas podem ser
sugeridas, aconselhadas, não prescritas.
É nesse aspecto, que os manuais técnicos, enquanto guia de
procedimentos, são mal interpretados ou até mesmo utilizados de forma indevida.
45
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Visto que, quando a gestante participa da elaboração dos cuidados a ela
dispensado, demonstra-se que seus saberes são valorizados. É a partir de então,
que
o enfermeiro, com o seu conhecimento científico, deve promover a
adequação do conteúdo da educação em saúde no pré-natal, aos conhecimentos
prévios das gestantes.
Essa prática é fundamental para que a gestante compreenda e utilize o
conhecimento elaborado para posteriormente cuidar de si e do recém-nascido
com autonomia. Neste aspecto Lowdermilk et al. (2002, p. 257) corroboram com
as idéias, ao afirmarem que:
Para prestar cuidado culturalmente sensível, os enfermeiros devem
conhecer as práticas e os costumes, embora seja impossível saber tudo
sobre todas as culturas e subculturas, assim como sobre os muitos
estilos de vida que existem. Os enfermeiros podem questionar as
pacientes sobre as crenças culturais e sobre a gravidez, apoiando-as e
educando-as para promover a adaptação física e emocional.
Os enfermeiros também atuam na assistência durante a hospitalização
dessas gestantes e possuem papel importante na assistência ao parto e nos
cuidados dispensados a mãe e recém-nascido, possibilitando uma nova
oportunidade para a promoção da saúde e prevenção de morbidades.
Quanto às políticas públicas de saúde cabe viabilizar condições
favoráveis para a efetivação do pré-natal em todas as suas dimensões. Neste
aspecto, dar voz às mulheres que recebem esse cuidado e vivenciam o pré-natal,
na condição de clientes do serviço, é uma alternativa para contribuir com a
efetividade das ações de educação em saúde no pré-natal e, por seguinte,
controlar a morbidade e mortalidade materna e neonatal por causas evitáveis.
Partindo da premissa de que as ações de promoção e prevenção
contribuem para redução da morbidade e mortalidade materna e neonatal, e que
essas são atribuições preponderantes dos enfermeiros. Considera-se que é
através de uma relação entre gestante e enfermeiros, integrada, de confiança e
empática, que as informações e os saberes serão compartilhados, refletidos,
resignificados e reconstruídos, para serem aplicados e desenvolvidos no cotidiano
dos atores sociais.
Ressaltam-se
as
assimetrias das relações
entre
gestantes e
enfermeiros e a necessidade da construção de padrões comunicativos
horizontais, que possibilitem a cooperação e valorização do outro. No processo
46
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
de interação entre senso comum e ciência, é que se produzem representações
sociais e enquanto sistema de conhecimento, essas representações sociais
possibilitam as transformações sociais.
Nessa concepção, Jovchelovitch (2008) comenta que as relações
verdadeiramente simétricas são raras e difíceis de encontrar na vida social. A
construção de padrões comunicativos horizontais é geralmente uma ação que
exige resolução e determinação para colocar assimetrias em parênteses. É nesta
resolução
que
novamente
encontramos
o
problema
de
reconhecer
o
posicionamento e a perspectiva do outro, que é diferente de nós.
Para a autora a simetria no diálogo entre Eu e Outro, em que a
perspectiva e a posição dos interlocutores são reconhecidas pelos parceiros em
interação, está associada a cooperação, que tende a produzir modalidades de
representação, essas “abrem” a estrutura do conhecimento gerando consciência
de diferenças e alternativas.
Representações sociais e ciência constituem sistema de conhecimento
deste tipo; no caso das representações sociais, porque é uma forma de senso
comum construída por diferentes modalidades de saber, mescladas e combinadas
em campos representacionais polifásicos; no caso da ciência porque está
consciente de suas próprias lacunas e se fundamenta na dúvida e na verificação
para estabelecer seu conteúdo proposicional.
Desta forma, ao refletir sobre as representações sociais e da Teoria as
Representações
Sociais
(TRS)
encontrei
a
fundamentação
para
o
conhecemos
a
desenvolvimento deste estudo.
De
acordo
com
Moscovici
(2010),
quando
representação de um grupo acerca de uma temática, passamos a nos inserir de
forma
significativa
dentro
daquela
realidade.
Ao
nos
aproximarmos,
estabelecemos vínculos, confiança, integração e, com isso, contribuímos para
melhorar o trabalho e a qualidade de vida das pessoas envolvidas.
A partir desses entendimentos foram elaboradas as seguintes
questões de pesquisa: a) Quais os elementos e a estrutura das representações
sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará? b) Quais as implicações dessas
47
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
representações sociais para o agir cuidativo-educativo em enfermagem no prénatal?
Desvelaram-se a partir de então o objetivo geral do estudo:
compreender as representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do
Pará; e os
objetivos específicos: a) Descrever os elementos e a estrutura das
representações sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará; b) Analisar quais
são as implicações dessas representações sociais para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
O estudo poderá trazer contribuições às mulheres-mães, a medida
que não propõe modelos padronizados de cuidado, neste sentido estimula o agir
cuidativo-educativo à partir das representações sociais dessas mulheres,
vislumbrando a aprendizagem dessas para a autonomia no cuidado de si e do
seu filho, podendo dessa forma contribuir não só para o seu protagonismo, como
também para a redução de morbidades e mortalidade materna e infantil por
causas evitáveis.
Para a enfermagem, por possibilitar a produção científica na área,
além de oportunizar o re-pensar e re-significar o sentido e a prática do agir
cuidativo-educativo no pré-natal e embasar o incremento de ações de educação
em saúde a partir das representações sociais das mulheres-mães. Nesta
perspectiva, há probabilidades de ações inovadoras, cujos resultados possam
efetivamente corroborar com a propagação da consulta de enfermagem enquanto
espaço de promoção a saúde, além de ressaltar a ação do enfermeiro enquanto
mediador no processo de educação em saúde.
Para as às políticas públicas de saúde da mulher no pré-natal do
Pará, pela possibilidade de implantar um programa de educação em saúde
fundamentado nas representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães.
Além da oportunidade de efetivação da educação em saúde, vislumbrando
diminuição dos indicadores de mortalidade materna e infantil por causas evitáveis
e preveníveis.
E por final, para a produção do conhecimento científico na área da
mulher a partir da teoria das representações sociais, entre o meio acadêmico.
Especialmente para a produção do conhecimento em enfermagem, através do
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Programa de Mestrado em Enfermagem em parceria com a Universidade do
Estado do Pará (UEPA) e Universidade Federal do Amazonas; e para a produção
do grupo de pesquisa Práticas Educativas em Saúde e Cuidado na Amazônia
(PESCA), no qual a autora é membro.
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
CAPÍTULO 2- ANCORAGENS
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
2.1. Ancoragens sócio-biológicas: em foco a mulher enquanto ser histórico
e ser de cuidado
2.1.1. Relações de gênero: origem da perspectiva biológica
Este tópico visa alinhar elementos teóricos que subsidiem a
importância deste estudo, por isso entendemos ser pertinente discorrer a saúde
da mulher enquanto gênero, considerando as repercussões culturais e sociais ao
longo da história, bem como as influências nas políticas de saúde e na atenção
materno-infantil. Nesse sentido, para o Ministério da Saúde:
As mulheres são a maioria da população brasileira (50,77%) e as
principais usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS). Freqüentam os
serviços de saúde para o seu próprio atendimento mas sobretudo,
acompanhando crianças e outros familiares, pessoas idosas, com
deficiência, vizinhos, amigos. São também cuidadoras, não só das
crianças ou outros membros da família, mas também de pessoas da
vizinhança e da comunidade (BRASIL, 2011 p.08).
O Ministério da Saúde (Brasil, 2011) afirma que se encontra na literatura
vários conceitos sobre a saúde da mulher. Há concepções mais restritas que
abordam apenas aspectos da biologia e anatomia do corpo feminino e outras
mais amplas que interagem com dimensões dos direitos humanos e questões
relacionadas à cidadania. Nas concepções mais restritas, o corpo da mulher é
visto apenas na sua função reprodutiva e a maternidade torna-se seu principal
atributo. Dessa forma, cabe ressaltar que as relações de gênero predominante
desde o inicio do mundo, refletem até os dias atuais, através de padrões culturais
dominante na sociedade.
A identidade cultural de gênero foi constituída no tempo e no espaço,
criando modelos de papéis diferenciados, marcados pelos interesses imediatos
das sociedades nos diferentes momentos históricos. Destaca-se que:
Os determinantes históricos sociais vêm se refletindo, ao longo dos
tempos, na atuação médica, nas questões relacionadas à saúde da
mulher: a exaltação da maternidade, discurso dominante a partir do
século IX, trouxe no seu bojo, não a proteção da mulher, das
vulnerabilidades em que está exposta no processo de manutenção da
espécie, mas a perpetuação das relações de poder entre os sexos
(BRASIL, 2001 p.12).
A partir dessas considerações, seguiremos uma linha do tempo para
compreender a existência das inter-relações entre as questões de gênero,
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
gestação, parto e políticas públicas de saúde da mulher, onde se localiza o prénatal.
Para Spink (2007), até o período da Renascença predominava na
sociedade o modelo do sexo único. O médico Galeno, fez uma analogia
exploratória entre os sexos femininos e masculinos e defendeu a idéia de que a
genitália externa masculina voltada para dentro e estendendo-se internamente
entre o reto e a bexiga, correspondiam ao útero feminino, ovários e vagina.
Segundo Galeno, não se encontraria uma única parte dos órgãos masculinos que
não pudesse mudar sua posição no processo de internalização.
Galeno defendia que os órgãos internos eram sinais evidentes de falta
de calor e, portanto de menor perfeição. Para o médico, assim como o humano é
o mais perfeito dos animais na humanidade, o homem é mais perfeito que a
mulher, sendo a razão disso, o excesso de calor, porque o calor é o principal
instrumento da natureza.
Segundo Spink (2007), a mudança desse paradigma ocorreu a partir da
rejeição da concepção do sexo único e a adoção do modelo de dois sexos
incomensuráveis a partir do século XVIII. Uma anatomia de diferenças substituiu a
perspectiva hierárquica como eixo organizador da vida política, econômica e
cultural de homens e mulheres. Nesse momento, politicamente caracterizado
pelas ideologias liberais burguesas, abriu-se, potencialmente, um novo espaço de
atuação para a mulher.
Entretanto, as novas teorias médicas que então despontavam, eram
centradas na fragilidade ovariana, elaborada na segunda metade do século IX
constituíram-se como principal fundamento da construção da mulher como ser
frágil, obtendo como pressuposto a lei da conservação da energia.
De acordo com esta lei, todo corpo contém uma quantidade específica
de energia que é distribuída e consumida de acordo com a demanda dos
diferentes órgãos e funções.
Spink (2007) relata que os órgãos sexuais estariam entre os maiores
usurpadores desta quota de energia vital, considerando a função reprodutiva da
mulher. A partir dessa teoria foram embasadas as justificativas biológicas
52
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
necessárias para a política sexual de separação das esferas pública e privada,
confinando a mulher à esfera privada.
A autora citada descreve que na segunda metade do século XVIII, um
novo modelo predominou, sendo esse fechado para o amor e centrado na relação
conjugal e familiar. Para a consecução dessa nova política populacional, Rosseau
não hesitou em propor uma medida radical: a mulher deveria abandonar o homem
e o mundo exterior e dedicar-se ao lar.
Acredita-se que tal relato histórico seja fruto do desenvolvimento de
pensamentos e comportamentos nas esferas epistemológicas e políticas da área
da mulher. Essas determinações históricas sustentam as modernas construções
sociais de igualdade ou diferença dos sexos e justificaram por muito tempo, a
exclusão da mulher da esfera pública e dos direitos de cidadania.
Esta breve incursão na história nos revelou o papel legitimador das
teorias médicas, definindo a mulher como ser frágil, as quais deram a justificativa,
naturalizada na biologia, para uma política de exclusão e desigualdade. Foi em
decorrência de todas essas questões, que as teorias de gênero surgiram no bojo
do movimento feminista.
Dessa forma, Arruda (2002) afirma que a teoria feminista da psicologia
social, ao partir de um projeto político, pretende ir além do entendimento dos
fenômenos de opressão e subordinação. Compreendê-los é uma parte do
processo para que efetivamente se transforme as relações entre gêneros.
A autora citada, ao tecer comparação entre a TRS e as teorias
feministas, relata que ambas nasceram na mesma conjuntura de degelo dos
paradigmas, para a qual concorrem. Nesse aspecto, considerando a dimensão
conceitual de tais teorias, vê-se que elas apresentam características comuns no
que se refere aos objetos a que se aplicam, e aos métodos mais adequados a sua
abordagem: destinam-se a revelar ou conceituar aspectos de objetos, até então
considerados como menores pela ciência ( a mulher e o senso comum).
Para Arruda (2002) tanto a TRS quanto as teorias feministas tecem
uma crítica ao binarismo que antepõe natureza e cultura, razão e emoção,
objetivo e subjetivo, pensamento e ação, ciência e senso comum; propõem
teorias relacionais. Nesse sentido, gênero é uma categoria relacional, que ao se
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
levar em conta os gêneros em presença, também se consideram as relações de
poder, a importância da experiência, da subjetividade, do saber concreto.
Para a autora citada, tais dimensões indicam que essas teorias estão
reabilitando o conhecimento concreto e a experiência vivida. As teorias
reconhecem a possibilidade de diversas personalidades, o que é adequado às
características da forma de conhecer e lidar com o saber nessas sociedades, em
que grupos diferentes de um mesmo objeto, sem que a diferença implique
obrigatoriamente desigualdade.
Após estas considerações, vimos que as teorias feministas e TRS
possibilitam a produção de conhecimentos a partir do outro, da subjetividade
intrínseca nos processos de comunicação interpessoais e vivenciais.
Compreendemos que a visão biomédica acerca da saúde da mulher,
teve raízes nas primeiras teorias médicas, as quais utilizavam na constituição dos
órgãos reprodutores feminino, as explicações para a subjugação e condição de
subalternidade em relação ao homem e ao seu papel na sociedade.
Por isso, foi possível entender que as concepções patriarcais e
capitalistas, manifestadas pelas relações de poder e dominação dos corpos das
mulheres constituem um paradigma dominante que se arrasta há décadas.
Observamos que as conquistas obtidas na área da mulher, só foram
alcançadas, devido os movimentos feministas e desenvolvimento de teorias de
gênero, a qual propõe a construção de um conhecimento pautado nas relações
interpessoais e vivências das mulheres, considerando as suas singularidades.
Porém, nota-se que nas práticas de saúde da mulher, especificamente
no ciclo gravídico puerperal, as relações de poder entre profissionais e mulheres
são constantes, visto que as experiências e vivências dessas mulheres,
raramente são consideradas. Nesse aspecto, ao considerar as relações entre
profissionais e mulheres, bem como o conhecimento científico e o comum,
revelou-se a necessidade de compreender o fenômeno gestação e parto, a partir
de suas múltiplas dimensões, abordadas a seguir.
54
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
2.1.2. O fenômeno da gestação e do parto
As primeiras ações de saúde da mulher privilegiavam o ciclo
reprodutivo, o qual determinou o seu papel de mãe e dona do lar. Os fenômenos
e a vivência da gestação e parto foram vistos por muito tempo, de acordo com
Pirrot (2003) e Vieira (2002), como domínio exclusivo das mulheres. A parturição
como fenômeno feminino tinha como auxiliares as parteiras, comadres, religiosas
ou mulheres experientes da família.
Para as autoras supracitadas, as influências que as mulheres recebiam
na infância e na adolescência, por meio da linguagem verbal e não verbal, sobre o
significado do corpo feminino e do sexo, resultaram em distanciamento e
desvalorização que restringiram o valor e o poder feminino.
Esta visão demonstra uma das características da sociedade patriarcal,
onde o homem exerce domínio sobre a mulher, atribuindo-lhe sentimentos de
culpa, medo, vergonha relacionados à vivência da sua sexualidade, contribuiu
para o fortalecimento de mitos e histórias, que invalidaram os saberes femininos
inatos.
Para Capra (1982) a invalidação dos saberes femininos inatos,
culminou na institucionalização do parto, considerando que as ciências
biomédicas evoluíram a partir do processo de industrialização, com o surgimento
de novos instrumentos de diagnóstico, como o microscópio e o estetoscópio, e
seu aperfeiçoamento.
Nota-se que a tecnologia trouxe contribuições para a prática cirúrgica;
pois patologias foram diagnosticadas e hospitais transformados em centros de
diagnóstico, de terapia e de ensino.
Nesse período, de acordo com Oliveira (2001), a obstetrícia firmou-se
como matéria médica na formação profissional, institucionalizando-se o parto
hospitalar e intensificando sua intervenção e medicalização.
Na visão de Nagahama (2005), medicalização significa o processo de
transformar aspectos da vida cotidiana em objetos da medicina, de forma a
assegurar conformidade às normas sociais.
A partir dessas considerações, não nos manifestamos contra a
medicalização, nem as tecnologias, visto que essas trouxeram grandes
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
contribuições para salvar vidas de mulheres e crianças. Porém, é tênue a linha
entre o que é passível e não passível às intervenções, tendo em vista, que a
gestação e parto passaram a ser pensados e tratados muito mais na ótica
biológica, do que na fisiológica, na qual a mulher tinha a autonomia sobre seu
corpo.
De acordo com as suas dimensões, a gestação e parto, possuem
significados diversificados, dando ênfase mais a determinados aspectos do que
outros. Nessa linha de raciocínio, trouxemos abaixo discussões sobre gestação e
parto, considerando as dimensões: psicossocial, cultural, e fisiológica. Para Silva
e Santos (2003, p.91) a gestação:
É um evento social que envolve vários atores. É um momento especial
na vida da mulher, de seu parceiro e família, e constitui uma experiência
humana das mais belas, e se bem acompanhada, torna-se a realização
de um sonho para a maioria das mulheres.
Para Cabral et al. (2005), a gestação pode ser dividida em três
períodos: o período antepartum ou pré-parto, refere-se ao período que se estende
da concepção ao inicio do trabalho de parto; o período intrapartum ou parto
estende-se do inicio das contrações que causam dilatação cervical até as
primeiras 4 horas após o nascimento do neonato e expulsão da placenta.
O período postpartum ou pós-parto refere-se a 6 semanas após o
nascimento do neonato e expulsão da placenta. Também conhecido como
puerpério, esses estágio termina quando os órgãos reprodutores retornam ao
estado não gravídico (CABRAL, 2005).
“Apesar da gestação, ser considerada um processo fisiológico, sua
evolução transcorre, na maioria das vezes sem complicações ou intercorrências,
sendo assim classificadas como gestação de baixo risco” (LIMA; LIMA, 2010, p.
41).
Estes autores afirmam, ainda, que apesar disso, em algumas mulheres,
por terem características específicas ou por apresentarem algum tipo de agravo
antes da gestação, é maior a chance de evolução desfavorável, tanto para ela
quanto para o concepto, situação em que a gestação é classificada como de alto
risco.
Segundo Brasil (2001), toda gestação traz consigo risco para mãe ou
para o feto. A gestação de alto risco é acompanhada exclusivamente pelo
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
profissional médico, enquanto a de baixo risco pode ser inteiramente
acompanhada pelo enfermeiro.
O enfoque a gestação e parto são importante por serem estes
momentos de intensas transformações na vida da mulher e da família. Neste
aspecto, os fatores culturais e sociais influenciam na forma como diferentes
mulheres lidam com a gestação, geram um desdobramento para o cuidado prénatal e para a promoção da saúde e prevenção de morbidade e mortalidade
materna e infantil.
Concordamos com a perspectiva de Spink (2007), quando comenta
que o nascimento de uma criança é essencialmente um ato cultural: um processo
fisiológico inserido num contexto de crenças e costumes. Há, portanto, variações
consideráveis na formatação dos diferentes aspectos do processo reprodutivo,
como mostram os estudos antropológicos sobre reprodução.
Considerando os aspectos fisiológicos, culturais, históricos, biológicos
e psicossociais que congregam a atenção a saúde da mulher durante o ciclo
gravídico e puerperal; o pré-natal é importante enquanto exercício de cidadania e
espaço de aprendizagem, considerando os saberes das mulheres e vislumbrando
a vivência da gestação e parto com autonomia e empoderamento. A efetivação
dos cuidados à mulher no pré-natal poderá resultar na diminuição dos índices de
mortalidade materna e neonatal. Desta forma, anunciamos o tópico que trata da
mulher e o pré-natal.
2.1.3. O Pré-Natal: premissas públicas e perspectivas para o cuidado em
enfermagem
A palavra “pré-natal” se forma por dois elementos, “pré-”, do Latim
PRAE, “antes” e “natal”, do Latim NATALIS, “relativo ao nascimento”, de NAQUI,
“nascer” ¹.
Observa-se que no sentido da palavra origina-se o objetivo da ação
pré-natal, considerando que a principio seu objetivo era o nascimento de crianças
saudáveis.
__________
¹
Disponível
no
Site
de
Etimologia.
Origem
da
Palavra:
http://origemdapalavra.com.br/pergunta/pre-natal. Acessado em 20 de julho de 2011.
57
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
O pré-natal relaciona-se tanto ao período que antecede o parto, quanto
à prestação de serviços. No que se refere ao período pré-natal, Lowdermilk et al.
(2002) conceituam como uma época de preparação física e psicológica para o
parto, para a maternidade e paternidade.
As autoras mencionadas consideram que o fato de tornar-se pai e mãe,
é uma das crises de maturidade da vida adulta e como tal, é um período de
intenso aprendizado para os pais e para as pessoas próximas a eles.
Para o Ministério da Saúde, na perspectiva de prestação de serviço, o
pré-natal ou assistência pré-natal é um conjunto de ações e de atenção médica e
de enfermagem direcionadas para a saúde da mulher. Desenvolve-se no período
em que esta se encontra grávida, visando assegurar uma melhor condição de
saúde, tanto para ela como para seu bebê, evitando a morte e o
comprometimento de ambos (BRASIL, 2005).
Considerando a relação da qualidade e efetivação do pré-natal com a
mortalidade materna e infantil. Acreditamos que o primordial é considerar a
mulher gestante como centro das ações, visto que sem ela não acontece o prénatal, sem o seu comprometimento e conhecimento, ela não terá autonomia para
cuidar de si nem do seu bebê, assim a realidade posta pela sociedade não será
transformada.
A ampliação da visão do pré-natal, com enfoque para a mulher, se
traduz na descrição de Brasil (2005), ao afirmar que o principal objetivo da
assistência pré-natal é acolher a mulher desde o inicio de sua gestação, devido o
período de mudanças físicas e emocionais, que cada gestante vivência de forma
distinta. Considera-se que essas transformações podem gerar medos, dúvidas,
angústias, fantasias, ou simplesmente a curiosidade de saber o que acontece no
interior do seu corpo. Por isso, considerando os fatores que interferem no
desenvolvimento da gestação, é importante que toda gestante realize o pré-natal.
Contudo, são diversos os problemas que servem de obstáculos para o
alcance dos objetivos propostos pela referida ação. Ressalta-se então a
relevância da adesão das mulheres ao pré-natal, evidência destacada em vários
estudos, conforme descrito pelo Ministério da Saúde:
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Demonstrou-se que a adesão de mulheres ao pré-natal, está relacionada
com a qualidade da assistência prestada pelo serviço e pelos
profissionais de saúde, o que em última análise será essencial para a
redução dos elevados índices de mortalidade materna e perinatais
verificadas no Brasil (BRASIL, 2001, p.9).
É neste cenário que cabe aos profissionais de saúde, ao entrar em
contato com a mulher gestante, na unidade de saúde ou na comunidade, buscar
compreender os múltiplos significados da gestação para aquela mulher e sua
família. Neste sentido, ressaltam-se em linhas abaixo as influências do cuidado
dos profissionais e cuidado de enfermagem para efetivação das políticas de
saúde da mulher no que se refere ao pré-natal.
O cuidado pré-natal torna-se um momento privilegiado para discutir
questões que são únicas para cada mulher e seu parceiro, aparecendo de forma
individualizada, até mesmo para quem já teve outros filhos.
O objetivo do cuidado pré-natal visa acompanhar a evolução da
gestação, a fim de fornecer suporte à saúde materna e ao desenvolvimento fetal
normal (FRASER; COOPER, 2010 ).
Para o autor supracitado, no primeiro contato com a cliente, a
enfermagem deve orientar as mulheres sobre a importância do pré-natal e da
amamentação. Antes da consulta verifica-se o peso, a altura e a pressão arterial,
anotando os dados no cartão da gestante.
No decorrer do cuidado e acompanhamento, fornece medicação
prescrita mediante receita do médico ou enfermeiro e aplica a vacina antitetânica.
Também participa da educação em saúde, elemento constituinte do pré-natal. A
enfermagem acompanha toda a gestação de baixo risco, sendo responsável pela
solicitação
de
exames
laboratoriais,
pela
coleta
do
exame
preventivo
(Papanicolau), pela prescrição de tratamento necessário, conforme o protocolo do
Ministério da Saúde.
Esses profissionais também podem organizar atividades em grupos
com gestantes, que enfoquem: aleitamento materno; preparo para o parto;
cuidado com o recém-nascido; vacinação; levantamento e busca de faltosas
(BRASIL, 2000).
Cuidar adequadamente da gestante no pré-natal exige do enfermeiro e
do técnico de enfermagem: gostar da profissão; gostar do que faz na
área da obstetrícia; estar motivado para cuidar da mulher gestante;
59
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
envolver-se na comunidade em que trabalha; estar constantemente
envolvido com a família da gestante (SILVA, SANTOS, 2002, p.95).
Os profissionais de enfermagem que atuam no pré-natal precisam
compreender que cada mulher possui sua história de vida, e é no pré-natal que
terá a oportunidade de compartilhar experiências com outras mulheres na mesma
condição (SILVA; SANTOS, 2002).
Deve-se atentar para que o devido esclarecimento da gestante e sua
família, já que o intervalo entre as consultas deve ser de quatro semanas. Após a
36° semana, a gestante deverá ser avaliada a cada 15 dias, visando a avaliação
da pressão arterial, altura uterina, edema, movimentos fetais e batimentos cardiofetais com mais rigor (SILVA; SANTOS, 2002).
Ao refletir sobre as questões abordadas, concebemos que o pré-natal é
constituído pelas seguintes dimensões: cultural e histórica: mulher enquanto
gênero; fisiológica e biológica: gestação, parto e o cuidado à mulher; dimensão
política e social: programas e ações na saúde da mulher no Brasil; educativa:
acolhimento e educação em saúde.Essas quatro dimensões estão demonstradas
no Diagrama 4:
Diagrama 4- Dimensões do Pré-Natal
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Considerando as dimensões do pré-natal, seus objetivos e papel dos
profissionais no contexto, destaca-se a importância das ações do enfermeiro no
acolhimento e na primeira consulta da gestante e demais atribuições inerentes ao
pré-natal. Em linhas gerais, apontamos a seguir evidências sobre o pré-natal na
perspectiva da enfermagem.
No que tange as competências essenciais dos enfermeiros durante a
consulta pré-natal, de acordo com Rios e Vieira (2007), a atenção realizada por
enfermeiros, demonstrou que estes não exercem as competências essenciais
para a assistência qualificada no pré-natal, devido às barreiras institucionais com
que se defrontam no trabalho. Os autores descreveram que a consulta pré-natal,
caracterizou-se como uma ação rotineira, pouco participativa, com predominância
informativa, apesar da existência do bom propósito de educar.
Na perspectiva da educação em saúde Rios e Vieira (2007), comentam
que as questões relacionadas ao modelo assistencial, estrutural e organizacional
da instituição são obstáculos para a realização da educação em saúde, como
tendência libertadora, crítico, social e transformadora.
Quanto as ações educativas inerentes à consulta de enfermagem de
acordo com Shimizu e Lima (2009), incluem orientações sobre planejamento
familiar e cuidados com o recém-nascido, porém essas pautam-se no modelo
tradicional de transmissão das informações, no qual a mulher é colocada em uma
posição passiva, o que impede a exploração dos seus conhecimentos prévios, e
conseqüentemente, a negociação dos cuidados requeridos.
Os estudos de Hotwiskiy et al. (2002), demonstraram que o modelo de
assistência pré-natal não orienta as gestantes, adequadamente, sobre o processo
reprodutivo; constatou-se uma grande demanda por informações e pela escuta
clínica. Percebeu-se que os materiais educativos nem sempre são assimilados e
por si só, não são suficientes para esclarecer suas dúvidas e não suprem a
necessidade de orientação pelos profissionais.
Essas evidências corroboram com os estudos de Teixeira et al. (2010)
quando descreve que a educação em saúde possui muitos desafios, dentre eles
está a difícil missão de segregar o paradigma da propaganda em massa como
meio de informação de conceitos de higiene, a começar pela educação em saúde
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
institucionalizada, que investe milhões na produção de “impressos educativos”,
negando e desconhecendo os avanços dos processos educativos e a interação
entre o saber popular e a subjetividade das pessoas.
Segundo os autores, “a educação em saúde em uma proposta de
construção compartilhada, deve ser orientada pela busca da interdisciplinaridade,
da autonomia e da cidadania. Ou seja, práticas que privilegiem a interação dos
sujeitos, onde todo o saber é valorizado, transformado e compartilhado”
(TEIXEIRA et al. 2010. p. 30).
No que se relaciona aos procedimentos técnicos, como consultas,
realização de exames e atividades educativas, conforme os relatos de Shimizu e
Lima (2009), são comentados e valorizados na expectativa da garantia da boa
saúde para o filho. Contudo, as informações nem sempre são assimiladas e
suficientes para esclarecer as dúvidas das gestantes.
Para os autores, faz-se necessário, para garantir a adesão das
gestantes aos cuidados prestados na consulta de enfermagem, aprofundar a
forma de abordagem, principalmente partindo do conhecimento das necessidades
principais das mulheres, seu modo de vida e sua cultura.
As evidências apontam a necessidade de reorientação do serviço de
enfermagem na atenção à gestante, para a criação de um ambiente físico
adequado; realização da consulta de enfermagem e participação da gestante em
grupos educativos.
Após a análise dos textos compreendemos que os problemas do prénatal, podem estar relacionados com predominância ou hegemonia da dimensão
biológica. Nesse sentido, destacamos a dimensão educativa, a qual precisa ser
fortalecida e executada a partir do levantamento das necessidades das gestantes.
2. 2. Ancoragens Político-Assistenciais: em foco as políticas públicas de
Saúde da Atenção à Mulher
A área da saúde da mulher vem ganhando espaço nas formulações de
políticas públicas de saúde, obtendo avanços nos estudos e pesquisas realizadas
nesta área ao longo do tempo.
62
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Apesar da redução dos indicadores de mortalidade materna no primeiro
semestre de 2011, estes ainda estão longe da meta traçada para 2015, dentro
dos Objetivos do Milênio, que é de no máximo 35 mortes maternas por cada 100
mil nascidos vivos ².
Considerando a trajetória histórica das políticas em prol da saúde da
mulher, é relevante que conheçamos as ações, programas, diretrizes, modelos de
atenção e principais conceitos de acordo com a linha do tempo sintetizada no
Diagrama 5.
Diagrama 5 –Linha do tempo das políticas públicas de Saúde da Atenção à Mulher
Tempo 1- 1920 a 1949: de acordo com Tyrrel e Carvalho (1995), a
proteção a saúde da mulher teve
inicio no Brasil, com a reforma sanitária
de Carlos Chagas, obtendo como foco a assistência materno-infantil. O primeiro
órgão voltado para o cuidado da saúde materno-infantil foi o Departamento
Nacional da Criança (DNCR), no período de 1940 a 1969.
_____________
² Disponível em gazetaoline.globo.com/_.../1124265-cai-mortalidade-materna-em-2011-segundo
governo. Htlm. Acessado em 20 de março de 2012, às 15h.
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
As diretrizes de trabalho do DNCR visavam integrar os planos e as
atividades públicos e privados, à maternidade, à infância e à adolescência, com
os programas de saúde pública em geral. O modelo inicial da assistência médica
não era universal e baseava-se nos vínculos trabalhistas. Em 1930, foi criado o
Ministério da Educação e Saúde Pública, com desintegração das atividades do
Departamento Nacional de Saúde Pública (vinculado ao ministério da justiça).
Tempo 2- 1950 a 1969: segundo os estudos de Nagahama (2005) em
1953 foi criado o Ministério da Saúde, que ordenou em nível nacional a
assistência materno-infantil, porém suas diretrizes primaram em defender de
maneira eficaz a criança brasileira. Dedicou-se as atividades de caráter coletivo
como as campanhas e a vigilância sanitária.
Embora o setor público no Brasil ainda continuasse privilegiando a
atenção à gestante, na transição das décadas de 60 para 70, surgiu entidades
não governamentais, que desenvolviam programas verticais de planejamento
familiar, sem outros cuidados à saúde das mulheres. A criação da Sociedade Civil
de Bem-Estar Familiar ( BENFAM) e
sua
ampla atuação na sociedade
brasileira na década de 70 é o exemplo mais claro desse período.
Considerando o auge do regime militar no Brasil e seus princípios prónatalistas, foi possível a proliferação de entidades ditas “controlistas”. Dessa
forma, ser contra o planejamento familiar transformou-se em bandeira política, o
que retardou a oferta dessas ações de saúde na rede primária. Com a
Industrialização
e
urbanização
aceleradas,
resultaram
desse
processo,
modificações nas expectativas reprodutivas das brasileiras, optando por famílias
menores.
Tempo 3- 1970 a 1979: em 1971, com as Diretrizes Gerais da Política
Nacional de Saúde Materno-Infantil, se estabeleceram programas de assistência
a gravidez de alto risco, ao parto, puerpério, controle das crianças de 0 a 4 anos
de idade e estimulo ao aleitamento materno e a nutrição.
Em 1974, Nagahama (2005) descreveu que o Programa de Saúde
Materno-Infantil (PSMI), teve como diretrizes a nutrição do grupo infantil em
relação às mulheres; o alvo eram as gestantes, parturientes, puerperas e
mulheres em idade fértil.
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Em 1975, houve interesse de grupos organizados de mulheres em
conhecer um modelo de atenção integral a mulher, desenvolvidos por
profissionais da Universidade de Campinas, denominado de Atenção Integral a
Saúde da Mulher (AISM).
Em 1978, no contexto das políticas públicas do Pais ocorreu a
Conferência Nacional sobre Cuidados Primários de Saúde, em Alma-Ata, na
União Soviética, os cuidados primários em saúde passaram a ser enfatizados e a
colocação desses cuidados ao alcance de toda a população, a universalização do
atendimento passa a ser privilegiada.
O documento essencial dessa conferência, a Declaração de Alma-Ata,
define as atividades primárias que devem compor o conceito de
cuidados
primários incluindo a educação sanitária, a assistência nutricional, o saneamento
básico, a assistência materno-infantil, o planejamento familiar, as imunizações e a
assistência curativa para os problemas mais comuns (SPINK, 2007).
Nesse mesmo período na área da saúde da mulher, despontou o
Programa de Prevenção da Gravidez de Alto Risco (PPGAR), elaborado pelo
Ministério da Saúde, com a diretriz de prevenir a gestação de alto risco. Este
período foi marcado pelo movimento municipalista, onde se realizavam encontros
e discussões que resultavam em denúncias acerca da crise que a saúde
enfrentava. Paralelamente, os movimentos de mulheres insistiram que a
transformação do AISM em programa de saúde, incluísse o componente de
educação sexual em saúde.
Tempo 4- 1980 a 1989: em 1983, após lutas do movimento feminista,
que visava expandir a visão da atenção dispensada as mulheres; um grupo de
mulheres reuniu uma equipe multiprofissional e pesquisadores das universidades
e elaborou o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM).
Em 1984, segundo Nagahama (2005), o Ministério da Saúde
implantou o Programa de Assistência Integral a Saúde da Mulher (PAISM) a partir
do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), e da Comissão Nacional
de Estudos dos Direitos da Reprodução Humana. A diretriz do PAISM era incluir a
assistência à mulher desde a adolescência até a terceira idade, comprometendose com o direito das mulheres e oferecendo opção de exercerem a maternidade
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
ou não. No entanto, para o Ministério da Saúde (BRASIL, 2005), mesmo com as
prerrogativas do PAIMS, o panorama da saúde da mulher, continuou sendo o
ciclo reprodutivo.
O ano de 1985 marcou o movimento das diretas já e a eleição de
Tancredo Neves, revelando o fim do regime militar, fato que gerou diversos
movimentos sociais, inclusive na área da saúde.
Em 1986, ocorreu a 8ª Conferência Nacional de Saúde (CND) a
primeira aberta à participação popular, cujo objetivo principal foi o de fornecer
subsídios para a reformulação do Sistema Nacional de Saúde e gerar elementos
que permitissem uma ampla discussão sobre o conceito da saúde na constituição.
O relatório dessa Conferência serviu de base para a Constituição
Federal de 1988 que inscreveu a saúde como resultante de políticas sociais,
incluindo a garantia de moradia, alimentação, trabalho e educação, devendo estar
integrada ao sistema de proteção e seguridade social.
No mesmo período, os grupos de mulheres e os profissionais de saúde
reivindicavam a ampliação da assistência à mulher partindo de um movimento
articulado, com a proposta de reforma sanitária e a criação de um sistema único
de saúde, público e universal. Este movimento sanitário, tomando a saúde como
direito inalienável, exigia que o Estado reordenasse o sistema de saúde com base
nos princípios de universalidade, equidade e integralidade.
O envolvimento das mulheres na luta pelos seus direitos e por
melhores condições de vida impulsionou as primeiras medidas oficiais do
Ministério da Saúde. Apesar de engessado nos governos militares, o movimento
feminista reorganizou-se, abrindo debates que denunciavam a precariedade da
saúde da mulher brasileira.
Dessa forma, o tema “saúde” destacou-se no cenário feminista,
levando a criação das políticas públicas que atendessem as necessidades da
mulher em sua integralidade. Essa perspectiva de atendimento à mulher foi
contemplada pelos princípios norteadores do Sistema Único de Saúde (SUS).
De acordo com a Constituição da Republica Federativa do Brasil de
1988, o Sistema Único de Saúde (SUS) constituiu o arcabouço das políticas de
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
saúde do país. A efetivação do SUS proporcionou a reversão do modelo
assistencial centrado na doença, dando ênfase para atenção primária à saúde.
No final do ano de 1989, de acordo com Duarte e Andrade (2006) o
Ministério da Saúde adotou o Programa Saúde da Família (PSF) como estratégia
para aprimorar ações de saúde coletivas no contexto social.
Esse período trouxe importantes mudanças políticas no campo da
saúde das mulheres, com o surgimento de propostas inovadoras. A partir do
conceito de integralidade e de direitos, as duas permissões previstas no Código
Penal Brasileiro, relativas à interrupção da gestação por violência sexual e risco
de vida da gestante, ganham lugar nas políticas públicas, organizadas em forma
de serviço da cidade de São Paulo.
Essa experiência motivou debates em todo o país e foi fundamental
para a elaboração de propostas originadas da realidade das mulheres, a partir
das relações de gênero e com base nas desigualdades do acesso à saúde como
direito.
Tempo 5- 1990 a 1999: essa década trouxe novos desafios com a
realização de Conferências Internacionais no âmbito das Nações Unidas. Da
perspectiva internacional, o ciclo social da Organização das Nações Unidas
(ONU) foi responsável por colocar em pauta os direitos sexuais e reprodutivos das
mulheres e por consolidar uma terminologia relativa aos mesmos.
O início dos anos 90 marcou a regulamentação do SUS em 19 de
setembro de 1990 através da lei 8.080. Nesse período a assistência à saúde da
mulher no Brasil permanecia com muitas questões a serem enfrentadas. O
Ministério da Saúde havia definido a saúde da mulher como prioritária e
sistematizou a partir de três linhas principais de ações: melhorar a saúde
reprodutiva, reduzir a mortalidade por causas evitáveis e combater a violência
contra a mulher (BRASIL, 2002).
Em 1992, o movimento internacional de mulheres, demonstrou sua
capacidade de mobilização ao definir uma agenda própria sobre a relação entre
população e desenvolvimento. Este movimento rejeitou os princípios controlistas e
introduziu no debate das Nações Unidas as questões relativas aos direitos
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
reprodutivos no marco de um processo de desenvolvimento e de respeito aos
direitos humanos.
Em 1993, na segunda Conferência Internacional de Direitos Humanos
(Viena, 1993), enfatizou-se que “os direitos das mulheres são direitos humanos” e
por isso, devem estar incluídos na agenda das políticas de direitos humanos das
nações.
Na mesma década, a Portaria do Ministério da Saúde de número 1886,
de 18 de dezembro de 1997, aprovou as normas e diretrizes do Programa Saúde
da Família, vigente desde 1994. As ações básicas a serem executadas pelos
profissionais do PSF estavam descritas nas Normas Operacionais da Assistência
à Saúde (NOAS) e constaram de atenção à saúde da criança e atenção a saúde
da mulher, dentre outras.
Para melhoria da assistência obstétrica, a Área Técnica de Saúde da
Mulher, em conjunto com a Secretaria de Assistência à Saúde e Secretaria
Executiva, elaborou um plano em três etapas.
Na primeira, aumentou a remuneração ao parto normal (Portaria
MS/GM 2.816, de 29 de maio de 1998) e incluiu a remuneração aos
procedimentos referentes à analgesia de parto e ao parto realizado por enfermeira
obstetra.
Na segunda, foi instituído o Programa de Apoio à Implantação de
Sistema Estadual de Referência Hospitalar (Portaria MS/GM 2.817, de 28 de maio
de 1998) para a gestação de alto risco, com a finalidade de organizar e melhorar
a assistência às mulheres com maior risco obstétrico.
A terceira etapa tratava especificamente da atenção no pré-natal e ao
parto, enfocando a qualidade da assistência, o acesso, também considerado
como indicador da qualidade e a humanização da atenção (BRASIL, 2002).
Essas ações tinham como ponto de partida a necessidade de diminuir
a morbi-mortalidade materna e melhorar os resultados perinatais, com a
perspectiva da humanização como grande norteador.
Tempo 6- 2000 a 2009: em 2000, através da análise dos avanços e
retrocessos do PAISM, originaram-se mudanças que culminaram na elaboração e
implantação do modelo público denominado Programa de Humanização no PréNatal e Nascimento (PHPN).
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
O programa buscou como base, a análise das necessidades de
atenção especifica à gestante, ao recém nascido e a mulher no período pós-parto,
objetivando a redução da morbidade e mortalidade materna e perinatal. (BRASIL,
2004).
Em nossa concepção, esse objetivo retoma as raízes capitalistas da
sociedade, que conduziram os programas e ações na área da mulher nos
antepassados e pressupõe a preocupação com as conseqüências da mortalidade
materna e perinatal para a sociedade, enquanto que as suas causas foram
suplantadas. Neste aspecto, para o Ministério da Saúde:
No Brasil ainda de forma tímida, observa-se uma crescente tendência à
contestação de um modelo de desenvolvimento que privilegia a ordem
hierárquica, consumista e tecnológica. Essa contestação é evidente nos
movimentos de protesto contra as sociedades de modelo político
autoritário, na afirmação da liberdade e da democracia e no
fortalecimento de uma corrente preservacionista, ecológica, em oposição
à tradicional atitude dominadora e apropriativa, determinada pelo modo
de produção. É sob a ótica desse movimento de transformação, que
deve ocorrer uma nova reflexão sobre a saúde da mulher (BRASIL, 2001
p.15).
De acordo com Brasil (2001) o referido Programa adotou medidas que
assegurassem a melhoria do acesso, da cobertura e da qualidade do
acompanhamento pré-natal, da assistência ao parto, puerperio e neonato.
Fundamentou-se na humanização da assistência obstétrica, isto é, dever das
unidades de saúde, receber com dignidade a mulher, seus familiares e seu
recém-nascido. Para a assistência ao parto e nascimento recomendava-se
adoção de medidas e procedimentos benéficos, que evitassem as práticas
intervencionistas desnecessárias.
No ano de 2004, no âmbito da Presidência da República, foi firmado o
“Pacto pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal” com o objetivo de
articular os atores sociais mobilizados em torno da melhoria da qualidade de vida
de mulheres e crianças (BRASIL, 2011). Dessa forma, a Política de Atenção
Integral à Saúde da Mulher – PNAISM consolidou ações voltadas para as
mulheres em todos os ciclos de vida, resguardadas as especificidades das
diferentes faixas etárias e dos distintos grupos populacionais ( mulheres negras,
indígenas, diferentes orientações sexuais, residentes em áreas urbanas e rurais
ou de difícil acesso, em situação de risco, presidiárias, com deficiências, dentre
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
outras. Incorporou a perspectiva de gênero, raça e etnia e diversidade na
elaboração, execução e a avaliação das políticas, extrapolando os limites da
saúde reprodutiva.
Segundo o Ministério da Saúde, os objetivos gerais da Política de
Atenção à Saúde da Mulher são: promover a melhoria das condições de vida e
saúde das mulheres brasileiras, mediante a garantia de direitos legalmente
constituídos e ampliação do acesso aos meios e serviços de promoção,
prevenção, assistência e recuperação da saúde em todo território brasileiro;
contribuir para a redução da morbidade e mortalidade feminina no Brasil,
especialmente por causas evitáveis, em todos os ciclos de vida e nos diversos
grupos populacionais, sem discriminação de qualquer espécie; ampliar, qualificar
e humanizar a atenção integral à saúde da mulher no Sistema Único de Saúde (
BRASIL, 2011, p.66).
Apesar de todas as ações e avanços na saúde da mulher, a realidade
atual é que passados mais de uma década da elaboração da Política de Nacional
de Atenção Integral à Saúde da Mulher, os altos índices de mortalidade materna e
neonatal, seguem como um grave problema de saúde pública.
Tempo 7- 2010 a 2012: em 2011, devido à persistência do grave
problema de saúde pública relacionado aos índices alarmantes de mortalidade
materna e neonatal, um novo Modelo de Atenção a Saúde da Mulher,
denominado Rede Cegonha, foi instituído pela portaria 1.459 do Ministério da
Saúde em 24 de junho de 2011.
O Modelo de Atenção consiste em uma rede de cuidados que visa
assegurar à mulher o direito ao planejamento reprodutivo, a atenção humanizada
a gravidez, parto e puerpério, bem como à criança o direito ao nascimento seguro
e ao crescimento e desenvolvimento saudáveis.
A medida provisória nº 557, de 26 de dezembro de 2011, institui o
Sistema Nacional de Cadastro, Vigilância e Acompanhamento da Gestante e
Puérpera para Prevenção da Mortalidade Materna, autoriza a União a conceder
benefício financeiro, altera a Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, e a Lei no
9.782, de 26 de janeiro de 1999.
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
A Presidenta da República, no uso da atribuição que lhe confere o art.
62 da Constituição, adota a seguinte Medida Provisória, com força de lei:
Art. 1º Fica
instituído
o
Sistema
Nacional
de
Cadastro,
Vigilância
e
Acompanhamento da Gestante e Puérpera para Prevenção da Mortalidade
Materna, no âmbito da Política de Atenção Integral à Saúde da Mulher.
Coordenada e executada pelo Sistema Único de Saúde – (SUS), com a finalidade
de garantir a melhoria do acesso, da cobertura e da qualidade da atenção à
saúde materna, notadamente nas gestações de risco.
No
Art. 2º o
Sistema
Nacional
de
Cadastro,
Vigilância
e
Acompanhamento da Gestante e Puérpera para Prevenção da Mortalidade
Materna é constituído pelo cadastramento universal das gestantes e puérperas.
De forma, a permitir a identificação de gestantes e puérperas de risco, a avaliação
e o acompanhamento da atenção à saúde por elas recebida durante o pré-natal,
parto e puerpério.
Objetivando complementar a decisão anterior e incentivar a mulher para
realização do pré-natal; viabilizar o acesso e acessibilidade aos serviços de
saúde, uma nova medida constituída através da portaria nº 68, de 11 de janeiro
de 2012, institui benefício financeiro para apoio às gestantes nos deslocamentos
às consultas de pré-natal e para o local em que será realizado o parto.
Considerando a Medida Provisória Nº 557, de 26 de dezembro de 2011,
especialmente os artigos 10, 11 e 12, que autorizam e estabelecem requisitos
mínimos para a concessão, pela União, de benefício financeiro de até R$ 50,00
(cinqüenta reais) para gestantes cadastradas no Sistema Nacional de Cadastro,
Vigilância e Acompanhamento da Gestante e Puérpera para Prevenção da
Mortalidade Materna.
Após analisar o cenário dos programas e modelos de atenção em prol da
mulher, nota-se que através de conceitos muitas vezes equivocados, que se
expandiu no Brasil a assistência pré-natal ( BRASIL, 2011, p.13). As primeiras
investidas no pré-natal tinham como foco principal a criança, objetivando o
nascimento e desenvolvimento saudáveis. Após esse período a preocupação se
restringiu à assistência ao parto e a partir daí até os dias atuais, a preocupação
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
consiste na redução da mortalidade materna e mais recentemente da mortalidade
neonatal. Esta afirmativa se ancora nos seguintes relatos do Ministério da Saúde:
No Brasil, o processo de institucionalização do parto, ao longo da década
de 40, foi provavelmente a primeira ação de saúde pública dirigida à
mulher. Até os anos 60, a preocupação com a saúde materna se
restringiu à assistência ao parto. Com a introdução da medicina
preventiva no País e a criação dos centros de saúde, iniciaram-se os
programas de pré-natal que, na realidade, tinham como objetivo principal
reduzir a mortalidade infantil (BRASIL, 2001, p. 17).
Após a análise das políticas de saúde da mulher e considerando que a
mortalidade materna e neonatal permanece enquanto problema de saúde pública.
Percebemos através dos estudos a inexistência de políticas e ações que
possibilitem a integração e a escuta dessas mulheres, alvo das formulações e
reformulações políticas. Considerando a diversidade cultural, econômica e social
de cada região e as individualidades das mulheres, entendemos a importância de
integrar os seus saberes e sentidos para a construção e formulação de ações que
satisfaçam suas reais necessidades.
Destacamos o papel da mulher, dada a sua importância enquanto
elemento precípuo para que ocorra a gestação, parto e puerpério, e enquanto
receptora do cuidado prestado por profissionais. Neste sentido:
Apesar das importantes conquistas, observa-se hoje que a quase
totalidade das iniciativas relacionadas à saúde das mulheres tem
se caracterizado por manipular seus corpos e suas vidas, visando
objetivos outros que não seu bem-estar (BRASIL, 2011, p.14).
As diretrizes políticas devem considerar a mulher, alvo das ações, visto
que sem ela não acontece o pré-natal, sem o seu comprometimento e
conhecimento não haverá autonomia para o cuidado de si nem do seu bebê,
assim a realidade posta pela sociedade não será transformada.
Vimos um esforço e investimento grandioso nas estratégias políticas
em sanar as conseqüências e não as causas dos problemas na saúde da mulher,
que cada vez se avolumam. Percebemos as influências das questões de gênero,
presentes em todos os períodos, traçadas originalmente por teorias médicas e
reforçadas pela obstetrícia enquanto disciplina. Corroborando com a idéia o
Ministério da Saúde descreve que:
Não se pode negar as contribuições que os avanços técnico-científicos
trouxeram à humanidade e à mulher em especial. Esses avanços
abriram teoricamente, espaços para que a mulher se tornasse dona de
seu corpo e de seu destino. Os métodos contraceptivos provocaram
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
mudanças qualitativas na vida da mulher à partir dos anos 60,
favorecendo a vivência da sexualidade sem o ônus da gravidez
indesejada. Porém, a mesma sociedade que criou tais instrumentos não
reconhece ideologicamente o direito da mulher à sexualidade plena,
torna-a a exclusiva responsável pela reprodução humana e não lhe dá
acesso a informações sobre direitos reprodutivos ( BRASIL 2001, p.16)
Ao considerar os aspectos abordados nos capítulo 1 e 2 deste estudo,
nos quais identificamos o pré-natal enquanto fenômeno psicossocial entre as
mulheres-mães. Interessamo-nos em estudar esse fenômeno, a partir dos
fundamentos conceituais das Representações Sociais (RS), entendidas como:
Um conjunto de conceitos, proposições e explicações, originados na vida
cotidiana, no curso das comunicações interpessoais. Elas são o
equivalente, em nossa sociedade, dos mitos e sistemas de crenças das
sociedades tradicionais; podem também ser vistas como a versão
contemporânea do senso comum (MOSCOVICI, 2010).
Corroborando com Moscovici, Jovchelovitch (2008, p.87), destaca que
as representações sociais se referem tanto a uma teoria como a um fenômeno:
Elas são uma teoria que oferece um conjunto de conceitos articulados
que buscam explicar como os saberes sociais são produzidos e
transformados em processos de comunicação e interação social. Elas
são um fenômeno que se refere a um conjunto de regularidades
empíricas compreendendo as idéias, os valores e as práticas de
comunidades humanas sobre objetos sociais específicos, bem como os
processos sociais e comunicativos que os produzem e reproduzem.
A partir destas considerações, no próximo capítulo trataremos das
Representações Sociais e da Teoria das Representações Sociais.
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
CAPÍTULO 3 – MARCO TEÓRICO
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
3.1- Aspectos históricos das Representações Sociais e a Teoria das
Representações Sociais
O saber foi posto por Sócrates há uns 2.500 anos atrás e, novamente,
por Descartes no inicio da era moderna, persistiu como problema ao longo de
todo desenvolvimento filosófico do período moderno e foi crucial para o
nascimento da psicologia como disciplina cientifica.
De Platão a Decartes, até as discussões mais recentes sobre quem
detém, e o que é o conhecimento, nunca nos abandonou. Nesse sentido,
a ideia do conhecimento permaneceu fortemente ligada ao impessoal e
separada de valor subjetivo, enquanto suas dimensões emocionais e
relacionais foram ligadas a distorção, ao desvio e à irracionalidade
(JOVCHELOVITCH, 2008, p.13).
A história da ciência foi marcada pela dicotomia entre muitas formas de
explicar o mundo e o ser humano. Da mesma forma, a história da psicologia
também se construiu com a oposição ideológica entre duas dicotomias:
O saber científico, visto como saber autêntico, legitimado socialmente,
produzido por cientistas, versus, o senso comum, saber desarticulado,
elaborado pelo povo, ilegítimo, desprestigiado socialmente; ciências do
indivíduo versus ciências do social, resultante de uma perspectiva
positivista e representada pela dualidade entre psicologia e sociologia
respectivamente (SANTOS, 2011, p. 43).
Desenvolvida no pós-guerra sobre a hegemonia da escola norteamericana a Psicologia Social surgiu a princípio com uma intenção que não foi
bem sucedida, de suprir tal dicotomia. De acordo com Veronese e Guareschi
(2007), a psicologia social surgiu como uma ciência experimental; com o passar
dos tempos, Wundt, fundador da psicologia experimental, criou uma psicologia
que ele chamou de Psicologia Social.
A Psicologia Social trás em sua trajetória histórica, os pressupostos
materialistas da modernidade e o individualismo cartesiano, ambos, oriundos do
materialista cientificista que por sua vez, via o mundo como um relógio,
fragmentado em partes, sendo que cada parte era independente e desassociada
da totalidade.
Nesta lógica, segundo Veronese e Guareschi (2007), também se
pensava a sociedade, como um objeto dividido em várias partes, sendo estas
partes pertencentes a um sistema fechado, governado por leis determinadas e
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
determinantes. Dentro dessa epistemologia dominante se construiu a visão de ser
humano, comparando-o a um relógio, composto por suas próprias leis, as quais
deveriam ser desvendadas.
Segundo Veronese e Guareschi (2007), esse fato fez com que o
indivíduo fosse submetido à experimentação e investigação, ou seja, havia uma
ciência estritamente experimental e racional, onde o social não poderia se reduzir
ao individuo, como era proposto pela concepção individualista, dominante na
cultura ocidental no século XIX, principalmente nos Estados Unidos.
Desta forma, Veronese e Guareschi (2007), relatam que houve
tentativas de criação de uma psicologia social, que desse, conta do imaterial,
psíquico, simbólico, representacional: a primeira delas foram os dez volumes de
Wundt de Psicologia Social e os estudos de Durkeim, sobre representações
coletivas. Se Wundt, separou o social do individual, Durkeim, por sua vez,
“corporificou”, “reificou” seu social, suprimindo o individual. Mc Dougall fez uma
tentativa de ligar o fisiológico (biológico) e o coletivo, em seus estudos sobre a
mente grupal, vendo o instinto como base da vida na sociedade.
Conforme os autores citados, a segunda tentativa foi a de Mead, com
sua teorização sobre o self, (psiquismo); ela construiu uma primeira síntese
dialética entre o individual e o social, e entre o biológico e o psíquico: pensou o
instinto como base da vida em sociedade, mas admitiu a realidade do simbólico
(psíquico, mental): essa síntese seria o psíquico.
Veronese e Guareschi (2007), informam que quando a psicologia foi
transportada da Alemanha aos Estados Unidos, foi levada como uma psicologia
fisiológica, nada além da pele (behaviorismo); quando transpôs a barreira da pele,
tornou-se psíquica, imaterial, mental, mas permaneceu absolutamente individual.
Dos Estados Unidos ela passou a outros continentes, como a América Latina e a
Europa, onde foi realizado um movimento, numa investida de conquistar e
implantar a psicologia do viés americano. Foi a partir daí, que tal investida sofreu
fortes reações por parte de Moscovici (1972), na França; ele começou a estranhar
e a duvidar que sua tendência individualista pudesse dar conta do social.
Para Veronese e Guareschi (2007), Moscovi, ao considerar que as
sociedades modernas eram mais dinâmicas e fluidas, questionou a representação
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
coletiva, discordando quanto ao ponto de vista estático e positivista sobre as
representações da sociedade de Émile Durkheim. Em virtude de entender que o
social é concomitante singular e plural, bem como media a relação entre o mundo
externo e o mundo interno, o individual e o coletivo.
Os autores citados, afirmam que a formulação feita por Durkheim, do
conceito de representações coletivas mostrou-se uma herança ambígua para a
psicologia social; pois Durkheim via as representações como formas estáveis de
compreensão coletiva, com o poder de obrigar, que pode servir para integrar a
sociedade como um todo. Em contrapartida para Moscovici:
As representações coletivas se constituem em um instrumento
explanatório e se referem a uma classe geral de idéias e de crenças.
São fenômenos específicos que estão relacionados com um modo
particular de compreender e de se comunicar, um modo que cria tanto a
realidade como o senso comum. Por isso o autor, enfatizou a distinção
do termo “social” em vez do coletivo (Moscovici,2010, p. 49).
Moscovici se filiou a corrente do pensamento sócio-psicológico, que foi
sempre uma corrente minoritária dentro de uma disciplina dominada em nosso
século, pelo comportamentalismo, por um cognitivismo não menos reducionista e
por um individualismo extremo. Ao procurar estabelecer uma ciência “mista”,
centrada no conceito de representação, reconheceu uma divida duradoura ao
trabalho de Durkheim.
Segundo Moscovici (2010), as representações nos orientam em
direção ao que é visível, como àquilo que nós
temos de responder, ou que
relacionam a aparência à realidade. Para tal explicação, o autor salienta a junção
entre os sistemas perceptivos e cognitivos nesse processo. Analisa e contrapõese a uma manifestação do pensamento científico com relação ao sistema
cognitivo ao pressupor que: 1) indivíduos normais reagem a fenômenos, pessoas
ou acontecimentos do mesmo modo que os cientistas; 2) compreender consiste
em processar informações.
Destaca que fatos comuns contradizem esses dois pressupostos:
primeiro, a observação familiar de que nós não estamos conscientes de algumas
coisas bastante óbvias. Em segundo lugar, nós percebemos que alguns fatos que
aceitamos sem discussão, que são básicos ao nosso entendimento e
comportamento, repentinamente transformam-se em meras ilusões. Em terceiro
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
lugar, nossas reações aos acontecimentos, nossas respostas aos estímulos,
estão relacionadas à determinada definição, comum a todos os membros de uma
comunidade à qual nós pertencemos (MOSCOVICI, 2010).
O
autor
mencionado
descreve
que
nós
somente
adquirimos
experiência e percebemos o mundo, em que estamos familiarizados. Como
pessoas comuns, sem os benefícios dos instrumentos científicos, tendemos a
considerar e analisar o mundo de uma maneira semelhante; especialmente
quando o mundo em que vivemos é totalmente social, ele também explicou como
as representações sociais intervêm em nossa atividade cognitiva e até que ponto
as representações podem determiná-la, baseando-se em duas funções:
Em primeiro lugar, elas convencionalizam os objetos, pessoas ou
acontecimentos que encontram. Ou seja, elas lhe dão uma forma
definitiva, as localizam em uma determinada categoria e gradualmente
as colocam como um modelo de determinado tipo, distinto e partilhado
por um grupo de pessoas. Essas convenções nos possibilitam conhecer
o que representa o que. Em segundo lugar, as representações são
prescritivas, isto é, elas se impõem sobre nós como uma força
irresistível. Essa força é uma combinação de uma estrutura que está
presente, antes mesmo que nós comecemos a pensar e de uma tradição
a qual decreta o que deve ser pensado (MOSCOVICI, 2010, p.34 - 36).
Entendemos que a representação que temos sobre algo, não está
diretamente relacionada a nossa maneira de pensar, tendo em vista a imposição
sobre nós e reflexo de uma seqüência de elaborações e mudanças que ocorrem
ao longo da história em nossa sociedade. Essas representações partilhadas
influenciam a mente de cada um, e são re-pensadas, re-citadas e reapresentadas (MOSCOVICI, 2010).
Neste aspecto, o autor citado se interessou em compreender o lugar
que as representações sociais ocupavam na sociedade pensante. Anteriormente,
este lugar seria determinado pela distinção entre uma esfera sagrada, digna de
respeito e veneração e uma esfera profana, em que são executadas atividades
triviais e utilitaristas. Essa distinção foi abandonada e substituída por outra mais
básica, entre universos consensuais e reificados
De acordo com Moscovici (2010), no universo consensual, a sociedade
é uma criação visível, contínua, permeada com sentido e finalidade, possuindo
uma voz humana, de acordo com a existência humana e agindo tanto como
reagindo, como um ser humano, o ser humano é aqui a medida de todas as
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
coisas. No universo reificado, a sociedade é transformada em um sistema de
entidades sólidas, básicas, invariáveis, que são indiferentes a individualidade e
não possuem identidade.
Relacionamos o universo consensual às representações sociais e o
universo reificado ao científico, considerando que as representações restauram a
consciência coletiva e lhe dão forma, explicando os objetos e acontecimentos.
Enquanto que para Moscovici (2010), as ciências são os meios pelos quais nós
compreendemos o universo reificado, a finalidade deste é estabelecer um mapa
das forças, dos objetos e acontecimentos que são independentes de nossos
desejos e fora de nossa consciência e aos quais nós devemos reagir de modo
imparcial e submisso.
Se as representações sociais servem para familiarizar o não familiar,
então a primeira tarefa de um estudo científico das representações é tornar o
familiar não familiar, a fim de que elas possam ser compreendidas como
fenômenos e descritas através de toda técnica metodológica que possa ser
adequada nas circunstâncias específicas (MOSCOVICI, 2010).
Neste sentido, o autor mostra dois mecanismos em relação ao
processo de funcionamento desse movimento, baseado na memória e em
conclusões passadas: ancoragem e objetivação. O primeiro mecanismo tenta
ancorar idéias estranhas reduzi-las a categoria e a imagens comuns, colocá-las
em um contexto familiar.
Desta forma, as fases da ancoragem são a classificação, que implica
em dar nome a alguma coisa que não é classificada e não possui nome; a outra
fase é a categorização de alguém ou alguma coisa, que significa escolher um dos
paradigmas estocados em nossa memória e estabelecer uma relação positiva e
negativa com ele. Os sistemas de classificação e de nomeação, não são
simplesmente meios de graduar e rotular pessoas ou objetos considerados como
entidades discretas. Seu objetivo principal é facilitar a interpretação de
características, a compreensão de intenções e motivos subjacentes as ações das
pessoas, na realidade formar opiniões.
O objetivo do segundo mecanismo é objetivá-los, isto é, transformar
algo abstrato em algo quase concreto, transferir o que está na mente em algo que
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
exista no mundo físico. Neste sentido, objetivar é reproduzir um conceito em uma
imagem.
Esses
mecanismos
transformam
o
não
familiar
em
familiar,
primeiramente transferindo-o a nossa própria esfera particular, onde nós somos
capazes de compará-lo e interpretá-lo; e depois, reproduzindo-o entre as coisas
que nós podemos ver e tocar, e conseqüentemente, controlar. Comparar e já
representar, encher o que está naturalmente vazio, com substância.
Esse processo de ancoragem e objetivação ilustra o papel e a influencia
da comunicação no processo da representação social e a maneira como
as representações se tornam senso comum. Elas entram para o mundo
e cotidiano em que nós habitamos e discutimos com nossos amigos e
colegas e circulam na mídia que lemos e olhamos. As representações
sustentadas pelas influencias sociais da comunicação constituem as
realidades de nossas vidas cotidianas e servem como principal meio
para estabelecer as associações com as quais nós nos ligamos uns aos
outros (MOSCOVICI, 2010, p. 08).
As representações podem ser o produto da comunicação, mas também
é verdade que, sem a representação, não haveria comunicação. A mudança dos
interesses humanos pode gerar novas formas de comunicação, resultando na
inovação e na emergência de novas representações (MOSCOVICI, 2010).
Nesta perspectiva, o autor afirma que o reconhecimento da ação
comunicativa como a unidade central de análise na forma representacional é um
passo teórico importante para ligar conhecimento e contexto e revelar seus
avatares sociais e psicológicos.
Jovchelovitch (2008) argumenta que a representação emerge como
estrutura mediadora entre o sujeito-outro-objeto. Ela é constituída como trabalho,
isto é, a representação estrutura a si mesma, na ação comunicativa que liga
sujeitos a outros sujeitos e ao objeto mundo. Nesse sentido, é perfeitamente
plausível dizer que as representações sociais são ação comunicativa.
Para a autora supracitada, a ação comunicativa implica a linguagem
assim como ação do tipo não-discursiva; estas se manifestam em práticas
cotidianas, em instituições diversas e nas estruturas informais do mundo.
O trabalho comunicativo da representação produz símbolos cuja força
reside em sua capacidade de produzir sentido, de significar; a representação
coloca algo, ou alguém, no lugar de outra coisa, ou de algum outro; este
deslocamento e condensação de objetos e pessoas, é o que dá a cada um e a
todos uma nova configuração e sentido, constitui a essência da ordem simbólica.
80
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
O processo mostra com clareza que criação e construção são o verdadeiro
fundamento do registro simbólico (MOSCOVICI, 2010).
Considerando a elaboração das representações por meio das
interações cotidianas que se manifestam pela comunicação, a Teoria das
Representações Sociais (TRS), é uma teoria sobre os saberes sociais, ela se
dirige à construção e transformação desses saberes em relação a diferentes
contextos sociais. O termo saber social pode se referir a qualquer conhecimento,
mas a teoria está especialmente interessada no fenômeno das representações
sociais, que compreende os saberes produzidos na, e pela vida cotidiana
(JOVCHELOVITCH, 2008). A TRS objetiva descobrir como os indivíduos podem
construir um mundo estável, previsível, a partir de tais diferenças.
A autora mencionada relata que em oposição a visão de que o senso
comum e os conhecimentos leigos são carregados de erros e distorções, a TRS
procura superar a linha rígida que separa a filosofia do conhecimento da
racionalidade de uma filosofia da experiência e do sentido. O que ela considera é
o reconhecimento à sabedoria relativa de todos os saberes.
A TRS nasceu no campo da Psicologia Social, por seu caráter
interdisciplinar e vem sendo expandida para outras áreas do conhecimento, com
destaque nas pesquisas educacionais e em saúde; nesse aspecto para Sá
(2007):
Cada vez mais, profissionais da saúde, principalmente na saúde coletiva
e na enfermagem, têm se valido da TRS em suas pesquisas e, com
alguma freqüência, se associado a psicólogos sociais, constituindo
equipes multidisciplinares. A educação constitui outra área temática em
que a noção de representação social tem sido privilegiada (p.37).
De acordo com Sá (1998) a TRS é complementada por três
abordagens, sendo essas: 1) Abordagem processual, pensada por Denise
Jodelet, em estreita proximidade com a proposta original de Moscovici, confere
ênfase ao processo de constituição das representações, embora afirme a
importância também do seu produto, os conteúdos. Centrando-se mais sobre o
aspecto constituinte do que sobre o aspecto constituído das representações;
2) Abordagem societal, formulada por Willem Doise; em articulação
com a perspectiva sociológica de P. Bourdieu, confere ênfase às relações sociais
que estão na origem das representações, bem como às suas condições de
81
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
produção e circulação. Centrando-se mais sobre o aspecto sócio-contextual das
representações, privilegia uma orientação metodológica estatística correlacional.
3) Abordagem estrutural, elaborada por Jean-Claude Abric , desenvolvida por
Jean-Claude Abric e o Grupo do Midi,
confere ênfase à estrutura atual dos
conteúdos cognitivos das representações, embora se ocupe também do processo
de sua transformação a partir das práticas sociais. Centrando-se mais sobre o
aspecto constituído do que sobre o aspecto constituinte das representações,
privilegia uma orientação metodológica “quase-experimental”.
É a partir da perspectiva teórica das representações sociais sobre o
pré-natal, com a utilização da abordagem estrutural, que esperamos contribuir
para o incentivo e solidificação de pesquisas na área da saúde da mulher, nos
espaços entre mulheres-mães.
Trata-se de um grupo que tem sofrido as influências tecnicistas e
capitalistas no processo de engravidar, parir e cuidar do seu filho e de sua família;
onde seus saberes sobre o próprio corpo, as suas origens, crenças, culturas e
direitos não tem sido considerados.
Quando Moscovi (2010), descreve que nas representações sociais há
um elemento figurativo, identificado à partir das expressões mais conhecidas e
usadas pelos indivíduos de um grupo social ou de pertença. O grupo social
procura selecionar a expressão que mais se aproxima da capacidade figurativa,
conservando as crenças passadas do grupo, assim como os conjuntos de
imagens construídas socialmente. Na naturalização, o grupo social ao identificar
os elementos do núcleo figurativo de uma representação social, integra-os aos
elementos da realidade do senso comum.
A partir dessas considerações, é que foi elaborada a Teoria do Núcleo
Central ou abordagem estrutural, utilizada neste estudo e propõe que uma
representação social é formada por dois sistemas distintos, mas complementares,
o central e o periférico (SÁ, 1996).
3.2. Teoria do Núcleo Central (TNC)
82
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Ao optar pela Teoria do Núcleo Central (TNC), enquanto abordagem
complementar objetivou-se revelar os elementos que constituem o núcleo central
e periférico das RS das mulheres-mães sobre o pré-natal.
Jodelet (2001) comenta que Abric e Flament desenvolveram um
modelo teórico que distingue elementos centrais de periféricos, de onde tiram
importantes implicações do ponto de vista tanto da estabilidade e da mudança
das representações quanto de sua relação com a prática. Estas propriedades
estruturais são examinadas em representações já constituídas. Mas para explicar
a emergência das estruturas, é preciso se reportar ao processo que presidem a
gênese das representações. Esta pode ser analisada levando-se em conta as
aprendizagens sociais que intervém no decorrer do desenvolvimento infantil.
Entretanto, independente dos aspectos de desenvolvimento, os processos de
formação
das
representações
explicam
sua
estruturação.
Isto
vale
particularmente para a objetivação, processo evidenciado por Moscovici e
ilustrado e enriquecido por diversos autores.
Desta forma, Jodelet ( 2001) explica que na objetivação, o processo de
formação das representações é decomposto em três fases: construção seletiva,
esquematização estruturante e naturalização. As duas primeiras, sobretudo
manifestam como tivemos a oportunidade de observar o efeito da comunicação e
das pressões ligadas à pertença social dos sujeitos, sobre a escolha e a
organização dos elementos constitutivos da representação.
Segundo a autora conteúdos e estruturas são infletidos por outro
processo, a ancoragem que intervém ao longo do processo de formação das
representações, assegurando sua incorporação ao social. Por um lado, a
ancoragem enraíza a representação e seu objeto numa rede de resignificações
que permite situá-los em relação aos valores sociais e dar-lhes coerência. A
ancoragem serve para a instrumentalização do saber, conferindo-lhe um valor
funcional para a interpretação e a gestão do ambiente.
Franco (2004), ao propor uma articulação entre a objetivação e o
núcleo central, a ancoragem e o sistema periférico, concebe que o núcleo central
deriva do processo de objetivação e a ancoragem origina o sistema periférico
.
Para o autor a objetivação pode ser definida como a transformação de uma idéia,
83
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
de um conceito, ou de uma opinião em algo concreto, que se cristaliza a partir de
um processo figurativo e social e passa a constituir o núcleo central. A ancoragem
desempenha um papel importante nos estudos das representações sociais e do
desenvolvimento da consciência, uma vez que se constitui na parte operacional
que complementa o núcleo central e lhe dá concretização. .
Sá (1996) explica que a idéia essencial da teoria do núcleo central, de
que toda a representação está organizada em torno de um núcleo central,
determina, ao mesmo tempo, sua significação e sua organização interna. O autor
afirma que este é um subconjunto da representação, composto de um ou alguns
elementos, cuja ausência desestruturaria a representação ou lhe daria um
significado completamente diferente.
O núcleo central é determinado de uma parte pela natureza do objeto
representado, de outra parte pela relação que o sujeito ou grupo mantém com o
objeto, assim o núcleo central pode assumir duas dimensões diferentes: uma
dimensão funcional; serão privilegiados na representação e constituindo o seu
núcleo central os elementos mais importantes para a realização da tarefa; e outra
dimensão normativa, em todas as situações onde intervêm diretamente
dimensões sócio-afetivas, sociais ou ideológicas.
Neste tipo de situações, pode-se pensar que uma atitude fortemente
marcada estará no centro da representação. Desta forma, o
levantamento do núcleo central é importante para conhecer o próprio
objeto da representação e saber o que afinal está sendo representado
(SÁ, 1996, p. 71).
Este autor explica que a abordagem estrutural esclarece duas
características das representações sociais, que aparentemente se mostram
contraditórias: “as representações sociais são ao mesmo tempo estáveis e
móveis, rígidas e flexíveis” e as “representações sociais são ao mesmo tempo
consensuais, mas também marcadas por fortes diferenças inter-individuais”.
Segundo
as
explicações
de
Sá
(1996)
como
complemento
indispensável do sistema central, há um sistema periférico, constituído por
elementos periféricos da representação, que promovendo a interface entre a
realidade concreta e o sistema central, atualiza e contextualiza constantemente as
determinações normativas e de outra forma consensual. É o sistema periférico
84
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
que vai inicialmente absorver as novas informações ou eventos susceptíveis de
colocar em questão o núcleo central.
Conforme Sá (1996) é essa sua terceira função, o sistema periférico
que permite certa modulação individual da representação. Sua flexibilidade e
elasticidade permitem a integração na representação das variações individuais
ligadas à história própria do sujeito, as suas experiências pessoais, ao seu vivido.
Ele permite a elaboração de representações sociais individualizadas organizadas
não obstante em torno de um núcleo central comum.
Para Abric (1994), a saliência demonstrada de determinados elementos
não assegura que eles realmente pertençam ao núcleo central. Dado que aquela
seria uma simples decorrência quantitativa de uma prioridade fundamental das
cognições centrais que reside no laço simbólico que as liga ao objeto de
representação.
Com base na distinção entre propriedades qualitativas (valor simbólico
e poder associativo) e propriedades quantitativas (saliência e conexidade), Abric
(1994), propõe uma classificação dos métodos de pesquisa no núcleo central em
dois grupos: 1) Métodos de levantamento dos possíveis elementos do núcleo
central, que envolvem a colocação em evidência da saliência e da conexidade e
cujos resultados permitem a formulação inicial de hipóteses no que diz respeito a
constituição do núcleo; 2) Métodos de identificação, a partir das cognições
inicialmente levantadas, daqueles elementos que efetivamente compõem o núcleo
central.
O levantamento, a identificação e a estrutura do núcleo central são
componentes intrínsecos a esta teoria, pois uma “representação social só vem a
ser adequadamente descrita ou identificada, quando além do seu conteúdo, se
apreende também sua estrutura” (SÁ, 1996, p. 148), que está em constante
dialética com os sistemas de representação.
Abric (1994), sistematiza as finalidades das representações, atribuindolhes funções essenciais: a) Função saber: as RS são um saber prático de senso
comum que permitem compreender e explicar a realidade; fazem com que os
atores sociais adquiram conhecimentos e os integrem a um quadro assimilável e
compreensível, em coerência com o seu funcionamento cognitivo e os valores aos
85
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
quais aderem. Além disso, facilitam e são condição necessária para a
comunicação social, pois permitem a troca social, a transmissão e a difusão
desse saber comum; b) Função identitária: definem a identidade e permitem a
salvaguarda da especificidade dos grupos. Situam os indivíduos e os grupos no
campo social, permitindo a elaboração de uma identidade social e pessoa
gratificante, ou seja compatível com os sistemas de normas e valores social e
historicamente determinados; c) Função-orientação: guiam os comportamentos
e as práticas, selecionando e filtrando as informações e interpretações, visando
tornar essa realidade conforme a representação, que por sua vez produz
igualmente um sistema de antecipações e de expectativas, constituindo, uma
ação sobre a realidade. Essa função define o que é lícito, tolerável ou aceitável
em um dado contexto social; d) Função justificatória: permitem justificar a
posteriori as tomadas de posição e comportamentos, permitindo assim aos atores
explicar e justificar suas condutas em uma situação ou em relação aos seus
participantes
Estas funções tentam dar conta de como o fenômeno estudado se
constitui e funciona. Trata de explicar porque as origens detectadas dos
fenômenos são efetivas na sua produção e como estes se enquadram em cada
uma das quatro funções.
De acordo com Abric (1994), o sistema periférico promovendo a
interface entre a realidade concreta e o sistema central atualiza e contextualiza
constantemente as determinações normativas e consensuais. Este sistema
resulta na mobilidade, flexibilidade e expressão individualizada que igualmente
caracterizam as representações sociais. Se o sistema central é normativo, o
sistema periférico é funcional; quer dizer que graças a ele a representação pode
se ancorar na realidade do momento.
Observamos após o estudo que as práticas sociais ligadas ao objeto de
representação se modificam progressivamente. Daí surge novas práticas que se
tornam cada vez mais freqüentes, em grupos que buscam adaptar-se às novas
situações geradas, que por sua vez quando não estão em contradição com as
representações mobilizam e ativam prescrições anteriormente formadas. Por isso
a capacidade de transformação do rígido núcleo central.
86
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Para Flament (2001), a periferia da representação serve de párachoque entre uma realidade que a questiona e um núcleo central que não deve
mudar facilmente. Os desacordos da realidade são absorvidos pelos esquemas
periféricos, que, assim, asseguram a estabilidade (relativa) da representação. O
mesmo mecanismo quando vai se ampliando, permite explicar a transformação de
uma representação. No Diagrama 7 destacam-se alguns aspectos estruturantes
da TNC.
Diagrama 7- Aspectos Estruturais da TNC
Após as ancoragens e definição do marco teórico, vimos a necessidade
de desenvolver uma revisão integrativa de literatura com foco na saúde materna
na perspectiva das representações sociais, no sentido de identificar e analisar as
tendências dos estudos nessa área, do que tratamos a seguir no formato de
manuscrito1.
______________
¹ O formato de dissertação com manuscrito é adotado no Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem- UEPA-UFAM.
87
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
CAPÍTULO 4 – DIMENSÕES DA SAÚDE
MATERNA NA PERSPECTIVA DAS
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
MANUSCRITO 1
88
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
DIMENSÕES
DA
SAÚDE
MATERNA
NA
PERSPECTIVA
DAS
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
THE DIMENSIONS OF MATERNAL HEALTH IN THE PERSPECTIVE OF
SOCIAL REPRESENTATIONS
DIMENSIONES
DE
LA
A
SALUD
MATERNA
EN
VISTA
DE
LAS
REPRESENTACIONES SOCIALES
Márcia Simão Carneiro¹; Elizabeth Teixeira2
¹ Mestranda em Enfermagem da Universidade Estadual do Pará/ Universidade Federal do
Amazonas (UEPA/UFAM); Professora Auxiliar
III da Universidade Federal do Pará
(UFPA); Conselheira do Conselho Regional de Enfermagem do Pará (CORENPA). Email: [email protected]
² Doutora em Ciências Sócia Ambientais pela Universidade Federal do Pará (UFPA);
Professora Adjunto IV da Universidade do Estado do Pará ( UEPA), Coordenadora do
Programa de Mestrado Associado em Enfermagem UEPA/UFAM; Diretora de Educação
da
Associação
Brasileira
[email protected]
de
Enfermagem-
Nacional
(ABEN).
E-mail:
89
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
DIMENSÕES
DA
SAÚDE
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
MATERNA
NA
PERSPECTIVA
DAS
RESUMO
Foi realizada revisão integrativa de literatura com vistas a identificar as tendências em saúde materna na
perspectiva das representações sociais. A busca ocorreu nas bases LILACS, BDENF, SCIELO, entre 20032011, com seleção de 15 produções. Após análise temática de conteúdo das produções obteve-se duas
dimensões: dimensão sócio-materna; dimensão sócio-cuidativa. A dimensão sócio-materna considerou as
representações sociais das mulheres sobre gestação, pré-natal, parto normal e cesárea, amamentação,
alojamento conjunto. Os resultados revelaram a necessidade de se explorar o senso comum das mulheres e
integrá-los ao científico para que esta desenvolva com autonomia o cuidado de si e do bebê. As evidências
demonstraram que há necessidade dos profissionais repensarem na comunicação verbal e não verbal,
vislumbrando atitudes mais humanas e acolhedoras. A dimensão sócio-cuidativa integrou as representações
sociais sobre o cuidado em saúde no pré-natal na consulta de enfermagem; cuidado de enfermagem no
puerpério; cuidado em enfermagem, no ciclo gravídico puerperal entre mulheres, e assistência ao parto,
cuidado em saúde na ESF, integralidade e trabalho em equipe entre profissionais. Concluiu-se a necessidade
de ampliar a visão dos profissionais de saúde para além da biomédica e técnico científica com vistas a
incorporar a educação em saúde e uma visão bio-sócio-humanista.
Palavras-chave: trabalho de parto, cuidado pré-natal, saúde da mulher
THE DIMENSIONS OF MATERNAL HEALTH IN THE PERSPECTIVE OF
SOCIAL REPRESENTATIONS
ABSTRACT
An integrative literature review was done in order to identify the trends in maternal health in the perspective
of social representations. The search occurred on the bases: LILACS, BDENF, SCIELO, between the years
2003-2011, selecting 15 productions. After the thematic analyses of the contents of production, two
dimensions were obtained: socio-maternal dimension; socio-care dimension. The socio-maternal dimension
considered the social representations of women on gestation, pre-natal, normal delivery, cesarean,
breastfeeding, rooming-in. The outcomes displayed the necessity of exploring the women’s common sense
and join them to the scientific approach so that the last one can develop with autonomy and consequently
those women can take care of themselves as well as their babies. The results showed that professionals
should rethink about the verbal and non-verbal communication, observing more humane and nurturing
attitudes. The socio-care dimension integrated the social representations about the health care in pre-natal in
nursing service; the nursing care in the puerperium; the nursing care in the gestational puerperium cycle
among women, and childbirth care, health care in ESF (Family Health Strategy), integrality and team work
among professionals. In conclusion, the necessity of widening the comprehension of health professionals
beyond the biomedical and technical-scientific approach is essential in order to comprise the education in
health and a bio-socio-human approach.
Key-words: labor and delivery, pre-natal care, woman’s health
RESUMEN
Se realizó una revisión integradora de la literatura con el fin de identificar tendencias en la salud materna
desde la perspectiva de las representaciones sociales. La búsqueda se produjo a LILACS, SCIELO BDENF
entre 2003-2011, con una selección de 15 producciones. Después de que el análisis del contenido de las
producciones se obtuvieron dos dimensiones: social, socio-cuidativa materna. El socio-materna consideran
las representaciones de la mujer sobre el embarazo, atención prenatal, parto normal y cesárea la lactancia
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
materna, alojamiento conjunto. Los resultados revelaron la necesidad de explorar el sentido común de las
mujeres e integrarlas en esta ciencia para desarrollar de forma autónoma auto-cuidado y el bebé. La evidencia
demostró que no hay necesidad de profesionales para reflexionar sobre los verbales y no verbales, previendo
las actitudes más humanas y acogedor. Las representaciones socio-cuidativa integrados sociales sobre el
cuidado de la salud en la atención prenatal en la consulta de enfermería, enfermería de cuidados post-parto,
los cuidados de enfermería en el embarazo y el parto entre las mujeres y la atención al parto, cuidado de la
salud en el ESF , la integridad y el trabajo en equipo entre los profesionales. La conclusión fue la necesidad
de ampliar la visión de la salud más allá de la biomedicina científica y técnica con el fin de incorporar la
educación para la salud y la bio-socio-humanista.
DESCRIPTORES: el trabajo, la atención prenatal, salud de la mujer
INTRODUÇÃO
A área da saúde da mulher vem ganhando espaço nas políticas públicas e obtendo avanços
nos estudos e nas ações em prol da redução da mortalidade materna e infantil. No entanto,
apesar da redução, os indicadores ainda estão longe da meta traçada para 2015, dentro dos
Objetivos do Milênio, que é de no máximo 35 mortes maternas por cada 100 mil nascidos
vivos(¹).
O Ministério da Saúde descreve que a gestação, parto e puerperio constituem uma
experiência humana das mais significativas, com forte potencial positivo e enriquecedor
para quem dela participa. Os profissionais de saúde são coadjuvantes desta experiência e
desempenham importante papel. Têm a oportunidade de colocar seu conhecimento a
serviço do bem estar da mulher e do bebê, reconhecendo os momentos críticos em que suas
intervenções são necessárias para assegurar a saúde de ambos(²).
Concebe-se dessa forma, que a gestação, parto e puerpério são momentos excepcionais na
vida da mulher, devido suas especificidades, relacionadas a aspectos culturais, sociais,
econômicos e biológicos. A necessidade de adaptação bio-psicosocial da gestação; as
situações de aprendizagem que envolve o cuidado de si e do bebê; as relações interpessoais
com os profissionais de saúde; as influências sofridas pela mídia, e as experiências
compartilhadas e vividas, indicam que são produzidas representações sociais nesses
espaços de cuidar-cuidado em que pensamentos individuais e coletivos se interpenetram.
Nesta perspectiva, as representações sociais (RS) podem influenciar o comportamento do
individuo participante de uma coletividade. Desse modo, o próprio coletivo penetra como
fator determinante, dentro do pensamento individual
(3)
.
A afirmativa do autor nos leva a
91
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
compreender que toda representação social poder ser re-pensada ou re-significada,
possibilitando novos conhecimentos e práticas sociais.
Como sistemas de entendimento compartilhado do mundo, as representações sociais
oferecem padrões de conhecimento, orientações e conduta, que transformam ambientes
sociais em lares para os atores individuais. Solidificadas em práticas culturais e em
instituições, fornecem os recursos para a construção das identidades sociais e para a
renovação das sociedades (3).
Os altos índices de mortalidade materna e infantil, relacionados à baixa qualidade da
atenção obstétrica, pré-natal e planejamento familiar, nos levam a pensar sobre a falta de
efetividade dos programas e manuais técnicos elaborados para o cuidado na saúde materna
cujo objetivo é de orientar as ações dos profissionais. No entanto, as ações dos
profissionais são guiadas por suas próprias representações acerca dos fenômenos. Em
contrapartida, esses profissionais desconsideram que suas condutas deveriam ser guiadas,
considerando que as atitudes dessas são guiadas por suas representações.
Com vistas a identificar as tendências das pesquisas sobre saúde materna na perspectiva
das representações sociais, visando promover reflexões que subsidiem novos estudos e
possibilitem o desenvolvimento de um novo pensar e agir para o cuidado em saúde
materna, realizamos a presente revisão de literatura.
Selecionamos estudos que objetivaram compreender as representações sociais sobre
fenômenos inerentes a saúde materna. Entendemos ser interessante incluir além dos
trabalhos com mulheres, os realizados com profissionais que atuam na área da mulher, pela
possibilidade de fazer correlações entre o senso comum e científico e compreender como
as representações sociais orientam tais condutas.
MÉTODO
Realizou-se Revisão Integrativa de Literatura segundo os seis passos metodológicos
propostos por Ganong(4). O primeiro passo consistiu na seleção do tema (saúde materna) e
da questão de pesquisa: quais as representações sociais de mulheres e profissionais sobre
92
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
os fenômenos maternos e cuidativos que se manifestam no ciclo gravídico-puerperal e na
atenção à saúde da mulher.
No segundo passo, foram definidos os critérios de inclusão: pesquisas em forma de artigo,
sobre saúde materna, no período de 2003 a 2011, na perspectiva das representações sociais,
tanto na abordagem estrutural quanto processual; em língua portuguesa ou espanhola; com
título e resumo disponíveis e indexados nas bases de dados; publicados em periódicos
nacionais e internacionais.
Após a definição dos critérios de inclusão, desenvolveu-se a busca na literatura por meio
de levantamento realizado pela internet, nas bases de dados: Literatura da América Latina e
Caribe (LILACS), Base de Dados de Enfermagem (BDENF) e Scientific Eletronic Library
on Line (SCIELO).
Para o levantamento das pesquisas, utilizamos cinco descritores em ciências da saúde
(DeCS): trabalho de parto, cuidado pré-natal, saúde da mulher, saúde da família e
aleitamento materno. Para delimitar a busca, utilizamos quatro palavras-chave, que não se
encontram no vocabulário do Decs: representação social, representações sociais,
comportamento social, psicologia social.
Articulando os descritores trabalho de parto e saúde da mulher, encontramos 487
produções; utilizando os descritores, cuidado pré-natal e saúde da família, detectamos 555
trabalhos; com os descritores aleitamento materno e saúde da mulher, evidenciamos 342
produções perfazendo um total de 1.384 estudos. Ao utilizarmos as palavras-chave em
cada bloco de produções, elencamos apenas 15 produções.
No terceiro passo, as referências selecionadas foram catalogadas segundo o perfil da
produção o que permitiu organizar informações, como: título, objetivos, descritores, ano,
local, número de autores, modalidade, tipo de publicação, abordagem, sujeitos, técnica de
coleta de dados e resultados em evidência.
O quarto passo consistiu na analise temática dos estudos, sendo observados os aspectos
metodológicos, a familiaridade entre os assuntos, e os resultados encontrados. No quinto
passo, categorizamos e agrupamos as evidências, desvelando-se as seguintes dimensões: 1)
Dimensão sócio-materna: representações sociais das mulheres sobre gestação; pré-natal;
93
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
parto normal e cesárea; amamentação; alojamento conjunto, sendo agrupados nessa
dimensão 8 estudos; 2) Dimensão sócio-cuidativa: representações sociais das mulheres
sobre cuidado em saúde no pré-natal na consulta de enfermagem; cuidado em enfermagem
no puerpério; cuidado no ciclo gravídico-puerperal; e representações sociais das mulheres
e profissionais sobre assistência ao parto; cuidado em saúde na ESF; integralidade e
trabalho em equipe. Sendo agrupados nessa dimensão 7 estudos, totalizando 15 produções.
No sexto passo a partir da discussão e interpretação dos resultados, elaboramos
considerações e recomendações para as práticas de cuidado na saúde materna, bem como
sugestões de pesquisas.
2-RESULTADOS E DISCUSSÃO
Observamos que as produções científicas da saúde materna na perspectiva das
representações sociais, ainda são poucas, visto que encontramos 15 estudos, no universo de
1.384 produções na área. As pesquisas selecionadas, em sua maioria priorizaram os
fenômenos de representações sociais entre mulheres, havendo um déficit de produções dos
fenômenos sobre representações sociais entre profissionais, dentre os quais encontramos 3
estudos.
Evidenciamos poucos estudos cruzados, com pesquisas do mesmo fenômeno entre
diferentes sujeitos, mulheres e profissionais da área, visto que evidenciamos apenas 01
estudo. Ao reunir as características da amostra estudada, tem-se como resultado a
participação de 464 sujeitos entre mulheres e profissionais de saúde.
No campo das representações sociais, a abordagem mais utilizada foi a processual,
demonstrando que a abordagem estrutural pode ser mais difundida e utilizada, a técnica de
coleta de dados mais freqüente foi a entrevista semi-estruturada e poucas utilizaram a
Técnica de Livre Associação de Palavras (TELP). Na análise dos dados, a maior opção foi
pela análise de conteúdo do tipo categorial temática. Quanto aos fenômenos da saúde
materna, percebemos que o parto foi o de maior escolha. Evidenciamos a crescente
produção na área de enfermagem de estudos sobre a saúde materna na perspectiva das
representações sociais.
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Os dados analisados revelaram a produção de um conhecimento que em seus resultados,
apresentaram aspectos positivos, negativos e gerais a respeito dos fenômenos, que para fins
metodológicos nos possibilitaram caracterizar e agrupar em dimensões.
DIMENSÃO SÓCIO-MATERNA
Nesta dimensão considerou-se as representações sociais das mulheres sobre gestação; prénatal; parto normal e cesárea; amamentação; alojamento conjunto.Quanto a representação
social sobre gestação é entendida na ótica das mulheres como um fenômeno complexo e
singular, que envolvem diversas e mudanças biológicas, fisiológicas, psicológicas, sociais
e culturais. A expressão de estar grávida significa dar visibilidade à feminilidade e
reafirmar a fecundidade como algo que enaltece a condição de mulher
(5)
.
Neste sentido, entende-se que para as mulheres pesquisadas, a gestação é representada
como fenômeno que vai além da função reprodutiva, constituída pelas dimensões:
psicossociais, culturais, biológicas, educativas e humanísticas. Nota-se pelas evidências, a
abrangência do termo gestação, o que remete a necessidade de um cuidado que considera
as dimensões constituídas, devendo ocorrer de forma holística.
Considerando a forma como as mulheres representam a gestação e a necessidade de um
cuidado pré-natal que venha ao encontro dessas, vimos a relevância de compreender as
representações sociais sobre pré-natal entre mulheres, considerando que é através das
interações cotidianas por meio da ação dialógica que ocorre a comunicação e desta emerge
as representações sociais. Neste sentido há ineficiência no processo de comunicação entre
as gestantes e os profissionais do pré-natal, e o acolhimento não têm sido efetivos para o
grupo de mulheres grávidas(6). A comunicação entre as gestantes e os profissionais
envolvidos no pré-natal mostrou-se em alguns espaços como positiva na satisfação das
gestantes, porém, estas alimentam conceitos do senso comum, pouco explorados pelas
equipes de pré-natalistas. (7).
As evidências revelam a posição passiva da mulher, o que determina a autonomia e poder
dos profissionais de saúde no pré-natal. Deixando espaço para novos estudos que
contribuam para a escuta e valorização dos saberes das mulheres por parte dos
profissionais no pré-natal.
95
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Durante a gestação e no período de realização do pré-natal, presume-se que o parto seja o
momento mais esperado, de maior expectativa e medos. Dessa forma, concebe-se a
importância de compreender as representações sociais sobre parto normal e cesárea entre
mulheres.
Nessa perspectiva, a experiência de partos anteriores demonstrou ser um forte elemento
que influenciou a decisão atual sobre a via de parto
(8)
.
As representações sociais do parto
normal são de um parto ativo, no qual as dores são vividas como as “dores de mãe”
(9)
. Este
pensamento remete a uma dor suportável e natural a toda mulher.
A representação social de mulheres sobre o parto está repleta de ancoragens
fundamentadas no sofrimento natural da hora do parto. Os procedimentos técnicos como
consultas, realização de exames e atividades educativas, são comentados e valorizados na
expectativa de boa saúde para o filho (9). Esta evidência demonstra o paradigma dominante
que remonta as primeiras ações na saúde materna, cujo foco era o nascimento e
crescimento de crianças saudáveis.
Em outro estudo, o momento do parto remete ao momento de dor, o medo da dor esteve
fortemente representado no imaginário das gestantes e transforma-se com a proximidade
do parto, na gênese de outros medos: medo do trabalho de parto; medo do desempenho e
de comprometer o bem estar fetal; medo da anestesia, medo do desconhecido, entre outros
(10)
.
Os aspectos positivos, negativos e gerais a respeito do parto normal e cesárea,
revelaram-se como protagonismo da mulher e a melhor recuperação do parto normal, a
ausência da dor na cesárea, e a insatisfação com a assistência recebida (9).
Se o parto fosse adequadamente esclarecido e conversado com mulheres desde as primeiras
consultas de pré-natal, certamente o medo influenciado pela mídia ou pelas conversas com
outras mulheres ou ainda por histórias pessoais e familiares, seria atenuado, tendo em vista
a transformação de situação não familiar para o familiar.
O parto envolve uma questão individual e relaciona-se a capacidade da mulher de
enfrentamento da dor durante o trabalho de parto e parto. A outra questão trata da relação
entre a mulher e profissional de saúde, no contexto hospitalar, onde as maiorias dos partos
acontecem, esta relação influencia diretamente na atuação e empoderamento da mulher ou
não, à medida que os profissionais tomam a posição de coadjuvante no contexto do parto e
96
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
nascimento. Neste sentido, o evento do parto e nascimento para as mulheres indica o
quanto a experiência da hospitalização ainda se mostra aos seus olhos como uma ameaça a
dignidade feminina
(11)
.
Dado o destaque a relação entre a mulher e o profissional que
assiste o parto, revela-se as evidências dessas interações durante o parto.
Evidenciou-se a importância da comunicação e do relacionamento interpessoal do
profissional com a clientela
(6)
.
Visto que há pouco diálogo entre gestante e médico sobre
questões relacionadas ao momento do parto
(7)
.
Outra evidência aponta que faltam a todas
as mulheres atendidas no setor público e privado informações fundamentais para que
vivenciem com segurança e autodeterminação o parto
(9)
.
Existem contradições na relação
profissional de saúde e usuárias mediadas pelas questões de gênero presentes na assistência
ao parto e pela natureza dos serviços. As mulheres apresentam algumas críticas ao que
fazem ou o que fizeram com elas (9).
No que se refere ao parto, nota-se a necessidade de maiores esclarecimentos à mulher,
visto ser um momento bastante temido, podendo ser associado a morte e a outras
complicações, por isso a necessidade de preparo, em que se considere os procedimentos
técnicos, aspectos emocionais e culturais. Esses dados revelam, a necessidade de educação
em saúde no pré-natal sobre o trabalho de parto e parto.
Nos dias atuais, em que a prática da cesárea parece um ato de rotina, tanto no atendimento
público quanto no privado, e em ambos os estratos sócio-econômicos das mulheres,
destacaram-se maiores vantagens para o parto normal. Considerando a vivência do
protagonismo e maior satisfação na cena do parto; as diferenças no cuidado médico, a
qualidade da relação com o bebê e a recuperação no pós-parto (9).
No entanto, a justificativa para o aumento de cesáreas, corresponde ao medo das dores do
parto e o desconhecimento das vantagens do parto normal. Algumas mulheres do setor
privado destacaram a possibilidade de programar o parto devido a vida agitada da mulher
contemporânea. Porém, destacam como principal motivo para o aumento de cesárea, a
conveniência do médico, porque é um procedimento mais rápido
(9)
.
Outro estudo reafirma o comentário acima. A dor revela-se como um dos principais
construtores das atuais representações femininas sobre parturição e contribui para a curva
ascendente de cesárea no Brasil. Observou-se que a dor influencia o comportamento da
97
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
gestante a partir do medo e se torna a gênese de outros sentimentos aversivos e
preocupações que envolvem o evento da parturição
(8)
. Observou-se o desconhecimento das
mulheres sobre as vantagens do parto normal e os riscos da cesárea.
Esses dados indicam as diferentes condutas entre os setores públicos e privados,
considerando que no público a mulher não tem opção de escolha e a cesárea só deve ser
realizada mediante indicação obstétrica. Observa-se que tanto no setor publico quanto no
privado há falta de informação das mulheres sobre o parto normal e a cesárea. A
representação social do parto pautada na dor sofre a influência da mídia quando atemoriza
o público com as cenas de parto desencorajando as mulheres, em contrapartida valoriza
outros tipos de dores como a de lutadores e esportistas. Em contrapartida a cesárea é
banalizada, considerando o procedimento invasivo para a mulher e o trauma da extração
mecânica para o concepto. Nesta perspectiva, nota-se a manipulação das informações
conforme os diferentes interesses, demonstrando a tomada do poder através do
conhecimento científico, que freqüentemente exclui a mulher do protagonismo no
momento do parto e nascimento.
Após o nascimento da criança e expulsão da placenta, a mulher entra no período do
puerpério, caracterizado por alterações fisiológicas e emocionais. Após o parto, mulheres
atendidas no serviço público, são encaminhadas para o alojamento conjunto, onde
permanecem com seu bebê, para adaptação, amamentação e cuidados. Desvelando-se
abaixo o fenômeno da amamentação.
Uma das grandes ansiedades e desafios da mulher relacionada ao cuidado do bebê consiste
na amamentação. Desta forma, a estrutura da representação social sobre amamentação
demonstrou elevada freqüência da categoria prazer, amor e carinho, revelando a
importância do aleitamento materno e do leite humano. A saúde do bebê, teve maior
expressividade no grupo de mães que não trabalham, sugerindo que essas mulheres
ancoraram amamentação no processo saúde-doença (12).
Em outro estudo, constatou-se que a amamentação é tratada como atributo natural, no qual
o papel social da mulher é o de mãe nutriz. As gestantes representam o leite materno como
nutriente que contribui para o crescimento e desenvolvimento do bebê (5).
98
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Evidenciou-se nas representações apresentadas sobre amamentação, a compreensão de que
o leite materno confere outras vantagens que beneficiam a mãe, tais como: diminuir o
volume uterino, de forma mais rápida; evitar hemorragias no pós-parto, proteger contra
anemia, além de associar-se a um menor risco de câncer de mama (5).
As mulheres reconhecem o valor da prática do aleitamento materno e das qualidades do
leite humano, o mesmo reconhecimento não é dado ao fator exclusividade, nem tampouco
ao tempo necessário do aleitamento exclusivo
(12)
. Esta questão determina a necessidade da
educação em saúde sobre aleitamento materno exclusivo nos primeiros meses de vida do
recém-nascido. Considerando que o aleitamento materno ocorre prioritariamente no
alojamento conjunto, que é local para recuperação, cuidado e aprendizagem da mãe para o
cuidado de si e seu bebê, compreendemos a importância de conhecer as representações
sociais sobre alojamento conjunto.
Concebe-se que a representação social sobre o alojamento conjunto possui como elemento
representacional a hospitalização e revela uma experiência de um lugar de abandono onde
elas estão submetidas a procedimentos e ao domínio dos profissionais
(11)
.
Os valores que
as mulheres atribuem para as interações interpessoais revelam que as relações interpessoais
são os verdadeiros instrumentos que auxiliam as mulheres a percorrerem a experiência da
hospitalização (11).
A puérpera representa a necessidade de redirecionar a atenção dos profissionais de
enfermagem para o cuidado de si e de seu filho de modo a torná-la apta para o desempenho
da maternidade
(13)
. Estas evidências destacam a necessidade de pautar as relações entre
mulheres e profissionais para além da dimensão biológica, considerar os aspectos
psicossociais e tornar a prática de educação em saúde no alojamento conjunto ação
continua pautada nas necessidades representadas pelas mulheres. Considerando a ação dos
profissionais de enfermagem tanto na atenção primária quanto na secundária, entendemos
ser relevante elencar as representações sociais sobre o cuidado de enfermagem e consulta
de enfermagem.
DIMENSÃO SÓCIO-CUIDATIVA
Nesta dimensão destacaram-se as representações sociais das mulheres sobre o cuidado em
saúde no pré-natal na consulta de enfermagem; cuidado de enfermagem no puerpério;
99
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
cuidado em saúde no ciclo gravídico-puerperal; e representações sociais entre mulheres e
profissionais sobre assistência ao parto; cuidado em saúde na ESF, integralidade e trabalho
em equipe.
As representações sociais sobre o cuidado em saúde durante o pré-natal emergiram
positivamente do discurso das puérperas, relacionando-o à interação entre profissionais e
usuárias, caracterizada pela escuta, atenção e cordialidade; e relacionada a disponibilidade
de exames, presteza no atendimento e desenvolvimento de ações básicas (13).
As representações sociais sobre o cuidado em saúde no momento do parto entre puérperas
subdividiu-se em quatro temas: o acolhimento à parturiente, o apoio as mulheres durante o
parto, a mulher como protagonista no processo de atenção ao parto e a qualidade técnica do
cuidado (13).
A representação social sobre assistência ao parto apresentou aspectos positivos, ressaltou
os elementos: ser bem atendida, ter atenção, carinho, ser bem tratada, atendimento rápido,
ter o profissional ao lado, tratamento de igual para igual, segurar a mão, acolhimento da
equipe de saúde e apoio psicológico
(14)
.
As representações sociais sobre assistência ao
parto entre mulheres assistidas concebem a qualidade da relação estabelecida com os
profissionais como fator que maior influencia sobre a maneira como representam a
assistência recebida
(15)
.
As parturientes elogiaram o atendimento quanto ao apoio
relacional e valores humanísticos; e enquanto aspectos negativos identificaram elementos
de não cuidado, mostrando a necessidade de mudança na postura e atitude de alguns
profissionais (7).
Quanto a representação social sobre assistência ao parto entre profissionais encontraram
duas representações distintas: a primeira denota uma visão medicalizada da assistência, e a
outra aponta para uma assistência identificada com a proposta do movimento pela
humanização do parto e nascimento. Os profissionais destacam como aspecto importante
da assistência: a presença do acompanhante, a preocupação com a sua humanização, a
participação da enfermeira obstetra e o espaço físico (15).
Observamos nos resultados, representações divergentes entre os profissionais, pois
apontam para visão medicalizada e pela proposta da humanização, oportunizando estudos
para o entendimento de como esses profissionais representam a humanização do parto e
100
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
nascimento. Corroborando com a afirmativa, há recomendações que as diretrizes do
Programa de Humanização do Parto e Nascimento (PHPN) devem ser incorporadas de
forma mais ampla nas práticas de saúde voltadas à mulher (16).
De acordo com a análise das evidências podemos inferir que quando os profissionais
representam a humanização do parto na assistência também pensam na qualidade da
relação com as mulheres, aspecto mais importante para as mesmas, o que neste aspecto
possivelmente as representações sejam afins. Quanto a humanização do parto e nascimento
as evidências apontam que a assistência ao parto permanece submetendo quem deve ser
sujeito e reproduzindo o projeto da medicalização, mesmo que este processo se manifeste
de formas diferenciadas entre grupos de mulheres atendidas no serviço público e no
serviço privado (7). Esses resultados permitem considerar que o momento do parto pode ser
caracterizado como de considerável medicalização, muito preso às rotinas e resistente à
humanização.
Quanto a qualidade dos serviços e humanização da assistência os modelos de organização
dos serviços públicos e privados apresentam variações que produzem diferentes tipos de
assistência e de relação entre os profissionais de saúde e usuárias, dando forma as
experiências distintas entre as mulheres pesquisadas (7) .
Essas evidências nos levam a refletir sobre o cuidado enquanto direito e exercício de
cidadania da mulher, independente dos modelos de atendimento seja público ou privado.
Fato que sugere o re-pensar da prática de alguns profissionais e rotinas de determinados
serviços.
Nas representações sociais sobre o cuidado em saúde no puerpério evidenciou-se um
único tema: apoio à elaboração da relação mãe-bebê. Pode-se considerar que nos períodos
pré-natais e puerperais, o cuidado não é isento de problemas, sendo às mulheres
geralmente tratadas como coadjuvantes, em um processo assistencial por vezes marcado
pela ausência de vínculo com os profissionais
(16)
. Esta evidência remete a ações pautadas
nas queixas físicas, destacando a atuação biomédica e tecnicista, que valoriza o
protagonismo do profissional em detrimento da mulher, sujeito do cuidado.
O Programa Saúde da Família é uma estratégia da Atenção Primária em Saúde que visa
fortalecer ações de prevenção e promoção à saúde, dentre as quais se encontra a atenção
101
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
pré-natal. Nesta perspectiva, revela-se a importância de identificar as representações
sociais do cuidado em saúde entre as equipes do ESF.
Pode-se constatar que os profissionais de saúde da ESF, compartilharam uma
representação comum, cujo núcleo central é composto pelos campos semânticos
acolhimento, atenção e amor. Concluiu-se que os sujeitos apresentam diferentes
entendimentos sobre o processo de cuidado na ESF, o conhecimento construído a respeito
desta questão está amparado numa visão aproximada do sentido do cuidado
(17)
.
Entretanto, esse entendimento mantém elementos relacionados a aspectos biomédicos e
técnicos científicos. Conclui-se que o cuidado ainda não foi incorporado como elemento
fundamental ao processo de trabalho na ESF (17). Acredita-se que a afirmativa dos autores,
revela a ambigüidade do termo cuidado em saúde, pautado por ações concretas e subjetivas
inerentes a tais práticas.
Nas representações sociais de mulheres sobre o cuidado de enfermagem emergiram as
categorias: satisfação e insatisfação com o cuidado. A satisfação com o cuidado foi
confirmada pelo fato da equipe de enfermagem se interessar pelo seu estado de saúde,
suprindo as necessidades biológicas com presteza e colocando-se disponível para a ajuda.
A insatisfação com o cuidado de enfermagem apresentou-se na fase puerperal com maior
decepção do que no pré-parto e parto (17).
Este fato demonstra que o cuidado de enfermagem, ainda é considerado na perspectiva do
ato enquanto intervenção e pela prontidão e cordialidade, no entanto revela a necessidade
de ampliar essas concepções principalmente na fase puerperal.
A grande maioria das gestantes apresentou representações positivas da consulta de
enfermagem do pré-natal, sobretudo devido à forma como se estabelecem as relações entre
enfermeira e gestante, em que são privilegiados o acolhimento e a escuta (5).
As gestantes demonstraram que conheceram a consulta de enfermagem durante o pré-natal,
assim sendo, inicialmente elas tinham a percepção de que era um procedimento
complementar ao trabalho médico
(5)
. Este fato demonstra a necessidade de divulgação da
consulta de enfermagem enquanto ação independente do profissional médico e enquanto
espaço de promoção da saúde e prevenção de doenças. Considerando a qualidade da
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
assistência com vistas a ação integral e o trabalho em equipe, identificamos a necessidade
de conhecer as representações sociais de profissionais de enfermagem sobre a integralidade
e o trabalho em equipe.
Quanto à visão integral da assistência a saúde da mulher, evidenciou-se que a enfermeira
tem uma visão fragmentada da assistência, ainda pautada nas queixas físicas; não consegue
definir o que seja integralidade, repetindo o discurso do atendimento holístico, sem
entender direito o isso realmente significa; trabalha de forma individualizada entendendo
que o serviço não está organizado para atingir a integralidade na assistência. Essa
fragmentação aparece em todos os eixos da análise, sendo que está implícita na assistência
a saúde, não apenas da mulher, mas de toda clientela atendida na rede primária (18).
Quanto ao trabalho em equipe, a enfermeira que atua na assistência a saúde da mulher, diz
que trabalha em equipe, mas percebe que os profissionais não têm o mesmo objetivo e
trabalham de forma individualizada. Ainda que perceba ser um elo de ligação entre
profissionais e as clientes, sente que existe uma disputa de espaço e poder entre os
profissionais (19).
Essas questões revelam que tanto a interdisciplinaridade quanto a transdisciplinaridade
estão longe de acontecer nos serviços, fato que compromete a assistência integral a
clientela,
demonstrando
a
necessidade
das
instituições
formadoras
prepararem
profissionais para o trabalho em equipe e para as instituições de saúde investirem em seus
profissionais por meio do desenvolvimento do trabalho em equipe no contexto da educação
permanente.
4-CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através dos resultados da revisão integrativa foi possível responder a questão de pesquisa e
nos propiciou fazer reflexões e recomendações. As representações sociais sobre gestação
estão fortemente relacionadas com o ato sublime e divino da maternidade que corresponde
a um fenômeno natural e emocional. As representações sociais sobre pré-natal, parto
normal, cesárea, e amamentação, subsidiaram-se nas experiências cotidianas das mulheres
com os serviços de saúde, na relação com os profissionais, e nas conversas informais,
recebem também influências da mídia e família.
103
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Estas questões em nosso entendimento refletem na ação passiva da mulher
nas
dificuldades para o cuidado de si e do filho com autonomia, o que reafirma o
empoderamento dos profissionais da área. Para que a mulher desenvolva o conhecimento
adequado, necessita ter suas dúvidas esclarecidas, mitos quebrados e conhecimentos
prévios valorizados para negociação e elaboração de novos saberes e fazeres. A efetividade
desta conduta entre mulheres e profissionais, depende da comunicação e relação
interpessoal.
Concebemos que as evidências conduzam a se pensar que há necessidade do profissional
rever estratégias de comunicação verbal e não verbal para que sejam vislumbradas atitudes
mais humanas e acolhedoras. Há que se abrir um canal para o diálogo, em que o escutar e o
falar se integrem na construção das interações e respeito mútuo.
Ao analisarmos as tendências contidas nas duas dimensões, evidencia-se que embora
alguns profissionais se preocupem com a humanização do cuidado, indicando um agir
guiado por um paradigma sócio-humanístico, o que predomina é um agir guiado por um
paradigma biomédico e técnico científico em todo o ciclo gravídico puerperal. As
representações sociais sobre pré-natal, parto, cuidado em saúde, assistência ao parto,
amamentação e alojamento conjunto pautam-se nos aspectos biológicos e intervencionistas
do cuidado.
Essas representações estão relacionadas, a nosso ver, com a maneira de pensar e agir dos
profissionais, evidenciando que estes são guiados por um paradigma bio-tecnicista no
cuidado que se dá no ciclo gravídico-puerperal. Há necessidade de mudança deste
paradigma dominante, para que tanto as mulheres quanto os profissionais re-signifiquem
seus saberes e práticas e produzam novas representações sociais que venham a contribuir
para as transformações do cenário atual.
A revisão integrativa reafirma a importância do pré-natal como processo de prevenção e
promoção à saúde da mulher, devido a relação da qualidade do pré-natal com a
mortalidade materna e neonatal. Ressaltamos, que o pré-natal, é um momento impar para a
educação em saúde, visando desenvolver o conhecimento e autonomia da mulher para o
cuidado de si e do bebê durante o ciclo gravídico puerperal, conforme as necessidades
evidenciadas. Em contrapartida, demonstra a necessidade de educação permanente do
104
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
profissional, visto que este é veículo para o conhecimento, empoderamento e autonomia
da mulher.
Sugerimos se repensar as políticas públicas de atenção à saúde da mulher, visto que os
objetivos descritos nos manuais de pré-natal e parto humanizado, não acontecem de forma
efetiva, conforme analise dos resultados do estudo. Quanto à gestão dos serviços de saúde,
cabe fortalecer a atenção primária e terciária e estimular os profissionais para o trabalho
em equipe e cuidado integral com vistas a aperfeiçoar ações em saúde e em enfermagem na
saúde materna.
Recomendamos se repensar a comunicação, relação interpessoal e processo educativo
vigentes em todo o ciclo gravídico puerperal, principalmente nas metodologias utilizadas
nas ações de educação em saúde no pré-natal; há que se difundir a consulta de enfermagem
como espaço de cuidado, promoção e prevenção da saúde, independente da consulta
médica e incentivar a atuação de enfermeiros obstetras no ciclo gravídico puerperal.
No que tange a formação profissional e produção do conhecimento, reforçamos a missão
da educação superior em desenvolver cada vez mais a visão dos futuros profissionais para
além do paradigma dominante. No campo da pesquisa recomendamos estudos voltados à
saúde materna na perspectiva das representações sociais, tendo como sujeitos além das
mulheres, familiares e profissionais de saúde.
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107
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
CAPÍTULO 5 – TRAVESSIAS
METODOLÓGICAS
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
5.1. Tipo de estudo
Este estudo é do tipo levantamento de dados, descritivo com
abordagem qualitativa, fundamentado na TRS, com ênfase na abordagem teórica
complementar denominada teoria do núcleo central (TNC) ou abordagem
estrutural das RS.
A abordagem qualitativa demonstrou ser um caminho propício para o
desenvolvimento deste estudo, considerando que para Minayo (2007), essa
modalidade viabiliza uma abordagem mais humanizada dos sujeitos envolvidos
no processo de pesquisa. A abordagem qualitativa é importante porque nos
possibilita analisar as experiências das pessoas e dos grupos em relação às suas
práticas, que envolvem dimensões históricas, políticas, econômicas, culturais e
sociais.
A pesquisa qualitativa nos permite uma aproximação com os sujeitos
da pesquisa. Neste entendimento a mesma enfatiza que o método qualitativo é o
que se aplica ao estudo da história, das relações, das representações, das
crenças, das percepções, das opiniões, produtos das interpretações que os
humanos fazem a respeito de como vivem, constroem seus artefatos e a si
mesmos, sentem e pensam (MINAYO, 2006).
Na visão de Flick (2007) a pesquisa qualitativa consiste no
reconhecimento e analise de diferentes perspectivas e reflexões por parte dos
pesquisadores a respeito da própria pesquisa que é vista como fonte de produção
do conhecimento.
Optamos pela Teoria do Núcleo Central, para poder analisar o núcleo
central e periférico das representações sociais sobre pré-natal.
Tornando
possível identificar os elementos do conhecimento das mulheres-mães, que
poderão ou não ser adicionados a um novo conhecimento, fornecendo suporte
para compreender, a partir das representações sociais, a relação dessas com o
contexto problema do pré-natal.
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
5.2. Local do estudo
Foto 3 – Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará.
O estudo foi desenvolvido na Fundação Santa Casa de Misericórdia do
Pará (FSCMPA). A escolha da instituição foi por ser órgão da administração
indireta, vinculado a Secretaria de Estado de Saúde Pública e Hospital de Ensino,
referência estadual na atenção materna e infantil (PARÁ, 2011).
A instituição localiza-se na cidade de Belém, que tem 1.794.981
habitantes; a maioria da população reside em zonas urbanas mais há um grande
número de gestantes provenientes do interior do estado em busca de atendimento
na instituição.
A FSCMPA tem como finalidades essenciais: a assistência, o ensino e
a pesquisa, em consonância com o perfil assistencial na atenção a saúde da
criança, atenção a saúde da mulher e atenção a saúde do adulto, prestando
serviços ambulatoriais e de internação. É um hospital que atende 100% do SUS,
sendo referência regional em banco de leite humano e estadual na atenção à
gestante de alto risco e ao recém nascido; no entanto presta atendimento a
qualquer gestante que busque atendimento, inclusive as de baixo risco (PARÁ,
2011).
Na área do Ensino e Pesquisa desenvolve os programas de Residência
Médica em Pediatria, Neonatologia, Nefrologia Pediátrica, Ginecologia e
110
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Obstetrícia, Clínica Médica, Dermatologia, Cirurgia Geral, Cirurgia Pediátrica e
Radiologia (PARÁ, 2011).
No primeiro semestre de 2012, a instituição implantou o Programa de
Residência Multiprofissional na Atenção à Saúde da Mulher e da Criança, que
está articulada com a Política de Saúde loco regional estabelecida no Plano
Estadual de Saúde, esse plano é um instrumento de referência para a atuação
dos gestores do SUS, no âmbito estadual e municipal. Na medida em que levanta
e analisa a realidade sócio-sanitária no estado do Pará, indica problemas e
prioridades de intervenção para a melhoria da situação de saúde dos paraenses,
possibilitando que os gestores assumam o compromisso de realizar ações
orientadas para a redução das desigualdades em saúde, com a pactuação de
metas estratégicas que possibilitam melhoria das condições de saúde da
população, redução da morbimortalidade materna e neonatal, e de uma melhor
resolubilidade do SUS (PARÁ, 2011).
Quanto à proporção entre leitos e internações, a área hospitalar está
distribuída
horizontalmente
em
370
leitos
e
realiza
em
média
1.500
internações/mês. A maternidade oferece 106 leitos, e realiza cerca de 500
partos/mês; 55 leitos são destinados ao pós-parto, nas enfermarias Maria Goreth,
Santana I e Santana II, 18 leitos para tratamento clínico gestacional de alto risco,
na Enfermaria de Alto Risco e 20 leitos para tratamento clínico gestacional de
baixo e médio risco, na Enfermaria Santa Marta; 06 leitos destinam-se ao
puerpério patológico e 06 leitos para pós-curetagem, Enfermaria Maria Goreth.
Dispõe de 11 camas para pré-parto, parto e puerpério (PPP) e 04 camas de
recuperação pós-cirúrgica (PARÁ, 2011).
Foram campo deste estudo as enfermarias de pós-parto fisiológico
normal e cesárea (Santana I e II e Maria Goreth) e a enfermaria de gestação de
médio risco (Santa Marta).
A missão da instituição é prestar assistência à saúde, inserida no SUS.
Atuando como hospital geral de ensino e de referência na atenção integral à
saúde da mulher e da criança, na média e alta complexidade, com qualidade e de
forma humanizada, articulada com as políticas públicas e em parceria com a
sociedade civil. A visão de futuro é ser reconhecida pela sociedade como hospital
111
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
geral e de ensino que oferece assistência de excelência em média e alta
complexidade na saúde da mulher e da criança e seus valores organizacionais
estão
pautados
na
democratização,
respeito,
ética,
transparência,
responsabilidade, valorização do servidor e humanização (PARÁ, 2011).
A Instituição atua há cerca de 360 anos no Estado e sua trajetória
reflete a história da saúde no Estado do Pará, obtendo marcos referenciais
importantes: 1650 foi fundada a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia do
Pará; em 1854, se aboliu a autonomia administrativa da Irmandade da Santa
Casa de Misericórdia do Pará, passando esta à condição de Departamento
Público. No ano de 1889, a Irmandade Santa Casa de Misericórdia do Pará,
recebe de volta a administração de seus bens e hospitais, através da Lei 1.384
artigo 36 e em 1890 a Irmandade passou a ser uma Associação Civil de Caridade,
através do Decreto 291(PARÁ, 2011).
O ano de 1990 foi marcado por uma nova fase, cuja Instituição passa a
funcionar no novo Hospital, situado à Rua Oliveira Belo, com o nome Hospital de
Caridade da Santa Casa de Misericórdia do Pará.
Em 1950, a Santa Casa inicia sua jornada como Hospital Escola dando
suporte para as aulas práticas de todas as cadeiras de clínicas, excetuando-se a
Psiquiatria, da então Faculdade de Medicina. No ano de 1970, ao final desta
década, FSCMPA passou por uma crise, administrativa e financeira, por isso
passou a ser gestada por: Provedor, Conselho de Administração e Conselho
Fiscal (PARÁ, 2011).
Em 1980, houve intervenção por parte do Tribunal Regional do
Trabalho, sendo então nomeada uma junta administrativa. Alguns anos depois
após reuniões polêmicas foi organizada uma Comissão Pró-Fundação Santa
Casa que a princípio sugeriu que o hospital fosse transformado em uma
Fundação Federal. Sem êxito no seu objetivo, a Comissão conseguiu apoio
financeiro e logístico do Governador da época (PARÁ, 2011).
Em 1990, foi constituída pelo Governo do Estado do Pará como
Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará - FSCMPA, nos termos do artigo
23 da Constituição do Estado, através da Lei Complementar 003/90, de 26 de
abril. Daí por diante deu inicio uma nova trajetória para a Instituição, obtendo seus
112
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
primeiros resultados em 1998, quando certificada como Hospital Amigo da
Criança. No ano de 2004, como Hospital de Ensino, conforme Portaria
Interministerial MS/MEC n° 2.378 de 26 de Outubro (PARÁ, 2011).
Em 2006, almejando a modernidade gerencial e excelência no
atendimento, a sua estrutura organizacional foi alterada, através da Lei
Complementar nº. 052 de 30 de Janeiro e efetivado seu processo de
contratualização junto ao SUS por meio da Portaria 2.859/MS, de 10 de
Novembro (PARÁ, 2011).
No ano de 2008, a partir da adequação da nova estrutura, houve o
aperfeiçoamento da visão estratégica assistencial voltada para a excelência no
atendimento em média e alta complexidade. Adotou-se ferramentas de gestão
voltadas para a transparência e qualidade, democratização de sua estrutura
organizacional, valorização do servidor e fortalecimento institucional junto à
sociedade. Desdobrando no projeto e construção da nova Unidade MaternoInfantil que disponibilizará 180 novos leitos de Maternidade, 40 de UTI Neonatal,
67 de UCI Neonatal e 10 de UTI Pediátrica (PARÁ, 2011).
Em 2009, a Instituição ganhou fôlego e participou da Premiação na
Faixa bronze do Prêmio Estadual da Qualidade- PEQ 2009, reforçando o seu
relevante papel e reconhecimento pela sociedade paraense (PARÁ, 2011).
Devido à grande demanda de mulheres e crianças em busca de
atendimento no Estado, no ano de 2010 foi apresentada a meta principal de
inaugurar a nova Unidade Materno-Infantil e reforçar o comprometimento com a
qualidade dos serviços oferecidos (PARÁ, 2011).
A instituição atualmente
presta assistência de
Média
e
Alta
Complexidade na Atenção da Saúde da Criança, Atenção a Saúde da Mulher e
Atenção a Saúde do Adulto. Como hospital de ensino, desenvolve ações de
formação em nível de graduação e pós-graduação, e os programas de residência
médica e multiprofissional bem como de educação permanente, capacitando
profissionais de saúde para atuar no Sistema Único de Saúde.
O hospital encontra-se instalado em terreno com o tamanho de
28.754m2, em área total construída de 25.198,35 m2, com 12 (doze) edifícios ou
prédios, cada um abrigando um conjunto de serviços (PARÁ, 2011).
113
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Devido a cultura Institucional e estrutura física secular, a instituição
apresenta dificuldades em se adequar as novas demandas tecnológicas e
assistenciais, no entanto é de conhecimento público a importância da Instituição
para o atendimento da população paraense em especial as mulheres-mães e
crianças, devido ser referencia nessas áreas. Considerando todos esses aspectos
e peculiaridades de uma clientela específica do Sistema Único de Saúde (SUS),
irei selecionar por meio dos critérios de inclusão, na maternidade da Instituição,
mulheres-mães que realizaram o pré-natal no serviço público do Pará. A seguir
discorrerei detalhadamente sobre esses sujeitos da pesquisa.
5.3. Sujeitos do estudo: “mulheres-mães internadas na FSCMPA”
A opção de inserir as mulheres atendidas no SUS como sujeitos do
estudo foi por compreendê-las como agentes sociais das ações realizadas no prénatal; este envolvimento se traduz em crenças, atitudes e valores que marcam
suas experiências na vida cotidiana; na interação com os outros e nesses
espaços são a elaboradas e reelaboradas das representações sociais, em
especial, representações sobre o pré-natal.
Considerando o número mínimo recomendado para estudos pautados
na Teoria do Núcleo Central (OLIVEIRA, 2009), os sujeitos deste estudo foram
cento e treze mulheres selecionadas segundo aos critérios de inclusão e
aceitação do termo consentimento livre e esclarecido.
As mulheres-mães foram selecionadas a partir dos seguintes critérios:
a) ser mulher-mãe gestante ou puérpera; b) se gestante, realizado o pré-natal de
baixo risco, de forma completa e regular no SUS, na gestação atual ou na
anterior; c) se puérpera, ter realizado o pré-natal de baixo risco de forma completa
e regular no SUS; d) estar internada na FSCMPA. Quanto ao quesito realização
de pré-natal de baixo risco, ressaltamos que apesar da instituição ser referência
em gestação de Alto Risco, recebe pacientes de baixo e médio risco, que se
internam nas enfermarias: Santa Marta; Santana I e II e Maria Goreth; e) ser
maior de dezoito anos; f) não possuir patologia que possa impossibilitar ou contraindicar a participação na produção de dados g) aceitar participar da pesquisa
assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice A).
114
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
5.4. Produção de dados
O estudo foi aprovado pelo Conselho de Ética da FSCMPA e
certificado pela Diretoria de Ensino e Pesquisa da instituição
Após, passamos ao preparo e reprodução dos materiais de coleta de
dados, bem como elaboração do planejamento dos passos a serem seguidos na
instituição para o cumprimento do cronograma de coleta.
Para a coleta de dados, a pesquisadora contou com quatro voluntárias
acadêmicas de enfermagem integrantes do grupo de pesquisa Praticas
Educativas em Saúde e Cuidado na Amazônia (PESCA) da Universidade do
Estado do Pará.
Dessa forma, ocorreram reuniões, para treinamento prévio,
distribuição dos materiais e recomendações.
5.4.1. Quanto ao acesso as informações das mulheres
Iniciamos a busca no livro de registros da triagem obstétrica, setor de
internação da maternidade. No entanto, não foi possível, tendo em vista a não
menção dos dados referentes a realização do pré-natal pelas mulheres. Seguimos
para as enfermarias e selecionamos as participantes por meio da leitura e analise
dos prontuários. Após esta primeira experiência, constatamos que a abordagem
as mulheres diretamente no leito, seria a melhor opção, e desta forma, o
prontuário serviu para a confirmação das informações obtidas e ou para obter
esclarecimentos.
5.5. Quanto à coleta de dados
Realizamos a coleta de dados, nos meses de dezembro e janeiro de
2012. A produção diária variou de 4 a 6 abordagens, dependendo do número de
pesquisadoras presentes no dia e da demanda de mulheres que atendessem aos
critérios estabelecidos; o tempo médio empreendido com cada mulher variou
entre 20 a 30 minutos.
Priorizamos a realização da pesquisa com puérperas e em alguns
casos com gestantes, porém considerando gestações anteriores, conforme
critérios. Essa conduta foi tomada tendo em vista que as mulheres grávidas
115
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
apresentam fragilidades, devido a expectativa do término da gestação e
proximidade do parto; as puérperas estavam mais seguras, pois já haviam
vivenciado e ultrapassado tais situações.
5.5.1 Quanto a abordagem às mulheres
Foi feita individualmente e diretamente no leito, salvaguardando os
momentos de alimentação, repouso, visitas e cuidados de saúde. Ao nos
aproximarmos, nos apresentávamos, falávamos sucintamente da pesquisa e
convidávamos a mulher a participar; após o aceite assinavam o termo de livre
consentimento e iniciávamos o trabalho. Das mulheres abordadas, salvo aquelas
que não se enquadravam aos critérios de inclusão, nenhuma mulher se recusou a
participar do estudo.
5.5.2 Quanto a aplicação do primeiro instrumento de coleta de dados: perfil
sócio-demográfico de mulheres-mães
Aplicamos um questionário no qual dividimos em tópicos, o primeiro
tratou do perfil sócio-demográfico (Apêndice B): idade; naturalidade; procedência;
religião; estado civil; escolaridade; trabalho e ocupação; renda familiar; inserção
da residência na ESF; transporte coletivo de fácil acesso aos serviços de saúde.
O segundo tópico tratou do perfil obstétrico: número de gestação, parto e aborto;
tipos de parto; intercorrências na gestação; tipos de intercorrência. E o terceiro
tópico, abordou as mulheres-mães e o pré-natal: realização do pré-natal de
acordo com o número de gestações; número de consultas realizadas no pré-natal;
inicio do pré-natal; município de realização do pré-natal; informações que as
mulheres-mães gostariam de receber no pré-natal; e sugestões de melhorias para
o pré-natal.
5.5.3 Quanto a aplicação do segundo instrumento: formulário de associação
livre de palavras
Para aplicação da Técnica de Associação Livre de Palavras (TALP)
utilizamos primeiramente outros termos indutores, para melhor entendimento das
mulheres, antes de usar o termo da pesquisa. A TALP é uma técnica que permite
116
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
aos entrevistados, a partir de um estímulo indutor, evocar respostas de conteúdos
afetivos e cognitivo-avaliativos (Apêndice C) (COUTINHO, 2003)
A utilização de procedimentos projetivos em estudos de representações
sociais tem-se revelado como conspícuos instrumentos de investigação,
por possibilitar a apreensão de elementos complementares, bem como a
apreensão do campo estrutural e dos elementos figurativos que
subjazem às representações, e que por sua vez são contraditórias com
as construções ideológicas que os sujeitos exibem, por serem as
primeiras constituídas de elementos mais inconscientes, de substrato
afetivo-emocional (COUTINHO, NOBREGA, CANTÃO, 2003, p. 53).
De acordo com os atores, a evocação livre de palavras é uma técnica
que
traz
à
consciência
elementos
inconscientes,
em
decorrência
das
manifestações de reações e evocações de comportamentos presentes na
personalidade das pessoas.
A técnica se baseia em um conjunto de conceitos elaborados pelas
pessoas, a partir do universo consensual delas, colocando em evidência a
similaridade das palavras produzidas a partir do estímulo a que são submetidas.
Para Coutinho, Nóbrega e Cantão (2003), esse estímulo se refere diretamente ao
objeto investigado e pode ser verbal (palavra, expressão, idéia, frase, provérbio)
ou não verbal (fotografia, figura).
Essa técnica permitiu instigar as mulheres-mães a dizerem o que
pensavam ao serem estimuladas pelo termo “pré-natal”. A palavra “evocação” tem
vários significados na língua portuguesa, mas como uma projeção mental significa
o “ato de evocar”, ou seja, trazer à lembrança, à imaginação, algo que está
presente na memória dos indivíduos (COUTINHO, 2003).
Nesse sentido, a técnica de associação ou evocação livre consiste em
apresentar uma palavra indutora aos indivíduos e solicitar que produzam
palavras, expressões ou adjetivos que lhe venham “à cabeça” a partir dela.
Abric (1994) considera que o caráter espontâneo dessa técnica permite
ao pesquisador colher os elementos constitutivos do conteúdo da representação.
A evocação pode constituir uma boa ferramenta de identificação do conteúdo e do
significado de uma representação, pode ser produzida individualmente ou em
grupo; essa técnica se enquadra entre os métodos associativos de coleta de
dados usados nos estudos das representações sociais da escola estrutural de
Jeam Abric.
117
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
No período da coleta de dados, evidenciamos que no universo
hospitalar há especificidades que precisam ser consideradas pelo pesquisador.
Vivemos situações em que tivemos que parar a pesquisa, para ocorrer realização
de procedimentos; ou esperar o término de procedimentos com a mãe ou com o
bebê; é importante escutar a mãe, fornecer informações, auxiliá-la na
amamentação, com o manuseio do bebê, visando promover conforto e bem estar,
tendo em vista a sua participação na pesquisa.
5.6 Análise dos dados
A análise das evocações ao estímulo indutor pré-natal foi apoiada por
um tratamento com o auxílio do software Ensemple de Programmes Permettant
L’ Analyse Des Evocations EVOC2003.
Figura1 - Página principal do Software EVOC 2003
O EVOC 2003 permite, num primeiro momento, a execução de uma
análise do tipo lexicológica. A análise das palavras ou expressões é então
realizada considerando-se a freqüência e a ordem de evocações. De acordo com
Abric “a congruência dos dois critérios (freqüência e rang) constituiu um indicador
118
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
da centralidade do elemento” (tradução do autor). O cruzamento destes dois
critérios produz o que Vergés denominou de quadro de quatro casas.
O primeiro passo foi a Criação de um arquivo no Word, o primeiro
passo, consistiu em digitar as expressões evocadas pelas mulheres, utilizando o
Microsoft Word 2007 e realizar correções ortográficas. O arquivo totalizou 607
palavras.
O segundo passo foi a Construção do dicionário, com a redução de
frases e expressões para serem processadas pelo software. Essa correção foi
realizada por meio da supressão de artigos e verbos de ligação, com o objetivo de
deixar apenas o núcleo da frase ou núcleo de sentido (substantivo, adjetivo, etc..);
as palavras foram agrupadas por similaridade (padronização semântica).
Procedeu-se à padronização das palavras e termos evocados
utilizando o Microsoft Word 2007 para que se chegasse a uma homogeneização
do conteúdo. Desta forma, palavras diferentes, com significados próximos, foram
padronizadas sob a mesma designação, garantindo que o sentido expresso fosse
contemplado e, ao mesmo tempo, fosse processado pelo software como
sinônimos. O arquivo ficou com 91 palavras conjugadas semanticamente.
Figura 2 – Dicionário das palavras ao estímulo pré-natal, (tela 1 Word)
119
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Figura 3 - Dicionário das palavras ao estímulo pré-natal, (tela 2 Word)
O terceiro passo foi a Preparação do corpus, com base no dicionário
de termos conjugados, no Excell for Windows, com a seguinte estrutura a) linha
vertical: números seqüenciais correspondendo a identificação atribuída a cada
sujeito (de 1 à 113) na primeira coluna (letra A) b) as linhas horizontais: seqüência
dos termos evocados e hierarquizados de 1-6; utilizou-se o dicionário e os termos
foram substituídos pelos termos conjugados.
Figura 4 – Corpus das evocações (tela Excel)
120
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
O quarto passo foi o lançamento dos dados no software EVOC 2003.
Este software é constituído de três partes independentes: I- Análise estrutural e
construção do quadrante; II) Comparação entre os grupos;III)- Análise de
categorias para análise de similitude. Nesse estudo só usamos a parte I. Primeiro
acionamos o Lexique e o Trievoc, informando os dados solicitados pelo programa
a fim de preparar o arquivo para o próximo passo.
Após acionamos o Rangmot, forneceu uma lista com todas as palavras
evocadas, em ordem alfabética, com os cálculos estatísticos da analise: quantas
vezes cada palavra apareceu em cada colocação (do 1º ao 5º, na ordem de
hierarquização); a freqüência total de cada palavra; o calculo da média ponderada
da ordem de importância da evocação; a freqüência total e a média geral da
ordem de evocações do conjunto dos termos estudados (Apêndice D).
Ao obter essas informações, acionamos o botão Rangfg, e foi definido
o ponto de corte para a freqüência mínima 6, considerando a lei logarítima (lei de
Zipf); a freqüência intermediária 21 e a classificação média (Rang Moyen) de 3,4;
resultou desse processo o quadro de quatro casas, que corresponde à estrutura e
organização da representação estudada. Nesses quadrantes estão presentes as
palavras que contem o número significativo de ocorrências.
121
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
O quinto passo é a Construção do quadro de quatro casas, com
base nos dados fornecidos ao programa, que agrupa as palavras já padronizadas,
e a partir destas organiza todos os elementos em quatro quadrantes. Discrimina o
núcleo central, a 1ª periferia, os elementos de contraste e a 2ª periferia. O núcleo
central agrupa os elementos mais importantes do objeto de representação; na 1ª
periferia têm-se os elementos periféricos mais importantes; na zona de contraste
os elementos com baixa freqüência, mas considerados importantes para os
sujeitos; na 2ª periferia os elementos menos importantes e menos freqüentes.
Quadro 1 – O quadro de quatro casas
Quadrante superior esquerdo
Quadrante superior direito
Elementos/palavras
que
compõem provavelmente o núcleo
central.
Elementos com maior freqüência
e de menor ordem média de evocações
(rang), ou seja, mais prontamente
evocados.
Elementos/palavras
de
1ª
periferia.
Elementos
com
maior
freqüência, e com valor rang menor do
que o núcleo central. São os elementos
periféricos mais importantes pela sua
freqüência elevada, evocados mais
tardiamente.
Quadrante inferior esquerdo
Quadrante inferior direito
Elementos de contraste – são
elementos que apesar das baixas
freqüências são considerados muito
importantes para os sujeitos pela
ordem de evocações. Pode star
revelando a existência de um sub grupo
que sustenta uma representação
distinta daquela observada no grupo
social analisado.
Elementos/palavras da 2ª
periferia.
Elementos mais periféricos da
representação. São os menos
freqüentes e de menor importância.
De acordo com Oliveira et al. (2005), a técnica de construção do
quadro de quatro casas permite formar categorias empíricas, criadas a partir das
evocações livres. Essas categorias além de agruparem os elementos evocados,
mostram a estrutura das ligações de semelhança ou a diferença entre elas.
A Interpretação dos resultados é de acordo com os critérios de
Vergés; a interpretação da distribuição de palavras em quatro casas, considera
122
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
em termos gerais, que as palavras que se destacaram em relação a freqüência
(alta) e ordem de evocação (mais próxima do 1), foram inseridas no quadrante
superior esquerdo, formando o provável núcleo central da representação e são
fortes candidatas a nortear as categorias. Aquelas que, ao contrário, apresentam
baixa freqüência e ordem de evocação mais distante do 1, encontram-se no
quadrante inferior direito, correspondendo aos elementos da segunda periferia da
representação; as palavras localizadas no quadrante inferior esquerdo são
elementos de contraste e as localizadas no quadrante superior direito são
elementos da primeira periferia.
5.7 Aspectos éticos e legais
Os aspectos éticos foram cumpridos segundo a resolução 196/96 que
incorpora três referenciais básicos da bioética: autonomia, não maleficência e
justiça (BRASIL, 1996). Neste sentido, após o exame de qualificação do projeto
de dissertação, em 10 de outubro de 2011, solicitamos aprovação e autorização
ao comitê de ética da FSCMPA, de aprovação foi obtido em 25 de outubro de
2011 (apêndice A) CAAE- 0064.0.321.440-11 e protocolo nº 135/11-CEP.
123
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
CAPÍTULO 6 - QUEM SÃO E DE
ONDE FALAM AS MULHERES-MÃES
ATENDIDAS NA FSCMPA
124
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Conhecer o perfil sócio-demográfico das mulheres-mães é relevante,
por ser elemento constituinte na construção das representações sociais dessas
mulheres. A socialização acontece de diferentes formas e cada um interpreta as
informações e os acontecimentos à sua maneira, considerando a idade, local de
origem, estilo de vida familiar, situação econômica, grau de escolaridade,
profissão, ocupação, entre outros. Quando o sujeito se desenvolve a partir da
cultura, dos costumes e valores, constrói sua identidade social. Esses
pensamentos são embasados segundo o comentário abaixo:
As representações aglutinam a identidade, a cultura e a história de um
grupo de pessoas. Elas se inscrevem nas memórias sociais e nas
narrativas e modelam os sentimentos de pertença que reafirmam a
membros individuais sua inserção em um espaço humano.Não há
processo de conhecimento que não projete a identidade e os projetos
dos sujeitos do saber; esta é uma dimensão psicossocial dos contextos
do saber (JOVCHELOVITH, 2008, p. 175).
A partir dessas considerações, entendemos ser significativo para este
estudo, conhecer o perfil sócio-demográfico das 113 mulheres-mães internadas
na Maternidade da FSCMPA, que realizaram pré-natal no Sistema Unico de
Saúde (SUS) e foram sujeitos da pesquisa.
6.1. Perfil Sócio-Demográfico
Idade
Gráfico 1: Distribuição das mulheres-mães quanto a idade
125
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
A maioria das mulheres-mães entrevistadas estavam na faixa etária
entre 18 a 23 anos ( 43%), seguindo a faixa entre 24 a 29 anos ( 37%), 30 a 35
anos (11%) e 36 a 41 (9%). Esses dados revelam que a maioria das mulheresmães atendidas na Maternidade da FSCMPA são jovens, algumas na
adolescência e menores de 18 anos, no entanto as menores de 18 anos, não
foram incluidas em nosso estudo.
Brasil
(2006) comenta que a relação da idade com a gestação
corresponde a fase de maior atividade sexual e reprodutiva da mulher. Para o
autor citado a idade fértil da mulher varia entre 10 a 49 anos, dessa forma devido
a taxa de fecundidade entre mulheres jovens, torna-se importante discutir e
orientar sobre os direitos sexuais e saúde reprodutiva, principalmente na fase
entre 10-19 anos (adolescência). Nesse sentido, destacamos que a Região Norte
é a que apresenta maiores indices da gestação na adolescência de acordo com
os dados a seguir.
Segundo os Indicadores Demográficos do Brasil- IDB (2010) a taxa de
fecundidade na Região Norte e no Pará respectivamente entre as faixas etárias
de 15 a 19 anos, correspondem a (0,011594) e (0,11911), demonstrando a
elevada taxa no Pará em dentrimento da Região Norte. Nas idades entre 20-24
anos, a taxa corresponde na Região Norte a (0,15118) e no Pará (0,15393),
demosntrando novamente a elevada taxa do Pará em dentrimento da Região
Norte.
Evidenciamos que a taxa de fecundidade à partir de 25 anos é mais
elevada na Região Norte, de acordo com os deguintes dados: entre 25-29 anos, a
Região Norte apresenta taxa igual a (0110,22) e o Pará (0,10472). Nas faixas
etárias entre 30-34 anos a Região Norte apresenta taxa igual a (0,06783) e o Pará
(0,06076). Nas idades entre 35-39 anos a Região Norte apresenta taxa (0,03537)
e o Pará (0,03138). Nas idades entre 40-44 anos a Região Norte apresenta taxa
igual a (0,01104) e o Pará (0,01007) e nas faixas entre 45-49 anos a Região Norte
apresenta taxa de (0,00145) e o Pará 0,00134. A taxa bruta de natalidade no
Brasil no período até 2008 corresponde a (16,4%), na Região Norte (23,2%) e no
Pará (23,0%).
126
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Para Jodelet (2001), reconhece-se a importância das representações
sociais enquanto sistemas de interpretação que determinam nossa relação com o
mundo e com os outros, visto que orientam e organizam condutas e as
comunicações sociais, da mesma forma, elas intervêm na difusão e assimilação
dos conhecimentos, no desenvolvimento individual e coletivo, na definição das
identidades pessoais e sociais, na expressão dos grupos e transformações
sociais.
Naturalidade
Gráfico 2: Distribuição das mulheres-mães quanto a naturalidade
Das mulheres-mães entrevistadas (94%) nasceram no Pará, enquanto
uma minoria nasceu na região nordeste (3%), região sudeste (1%), e região
centro oeste (2%). Estes dados revelam que a maioria das mulheres-mães
entrevistadas integram o mesmo grupo de pertença regional. Nos estudos sobre
representações sociais Jovchelovitch (2008) refere que é a experência do vínculo
com o local que produz a psicologia da pertença, o sentimento de que nos
encaixamos em um meio cultural, faz com que nos comuniquemos bem, sem a
necessidade de ser explícito o tempo todo e destaca que:
Os saberes comuns a uma comunidade, ou outro mundo da vida,
propiciam as referências, os parâmetros e os recursos em relação aos
quais os indivíduos dão sentido ao mundo, desenvolvem as competências
teóricas e práticas para lidar com o cotidiano e estabelecem as relações
127
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
comunicativas que permitem o desenvolvimento de laços de solidariedade
e cooperação, e a experiência da pertença (JOVCHELOVITCH, 2008, p.
139).
Procedência
Gráfico 3: Distribuição das mulheres-mães quanto a procedência
Quando perguntamos as mulheres-mães sua procedência, (65%) nos
informaram ser da Capital do Estado e (35%) do interiores do Estado. O fato da
Instituição FSCMPA ser a Maternidade de referência do Estado e devido as
carências de atendimento nos municipios, existem mulheres-mães que migram
para Belém somente para o momento do parto ou quando apresentam
complicações durante a gestação.
Os estudos de
Andrade, Magno e Carneiro (2010), realizado na
mesma maternidade, demonstrou que quanto à procedência (54%) das gestantes
entrevistadas corresponderam aos municípios do interior do estado e (46%) da
capital. Esse estudo, revelou que em 2010 a maioria das gestantes eram
provenientes dos municípios do interior do Estado e a menor quantidade era da
128
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Capital, e contrapõe-se ao nosso estudo, o qual revela que maioria das mulheresmães entrevistadas foram da Capital.
Podemos inferir que essa relação tem haver com os critérios de
inclusão de nosso estudo, dentre os quais, a realização do pré-natal de forma
completa e regular, e a participação do pré-natal de baixo risco. Acreditamos que
a maioria das gestantes que provém do interior do Estado apresentam
características de gestação de alto risco e muitas não realizaram pré-natal. Outro
fator de inferência pode ser a relação com as estratégias políticas de
descentralização do atendimento na Instituição.
Tendo em vista que a maioria das mulheres-mães procederam de
Belém, capital do Estado, entendemos que essas integram o mesmo grupo de
pertença, onde interagem e
se comunicam no universo social, político,
econômico, histórico e cultural, de onde emergem representações. Dessa forma,
Jovchelovitch, (2008) considera que:
É como membros de uma comunidade que nos tornamos nós
mesmos, emergimos como atores sociais competentes e
aprendemos a falar uma língua. É porque pertencemos a uma
comunidade que sabemos como interpretar e dar sentido ao modo
como outros ao nosso redor se comportam e se relacionam
conosco; comunidades nos garantem o referencial a partir do qual,
e em relação a qual, nosso sentido único de EU se origina ( p. 12).
Religião
Gráfico 4: Distribuição das mulheres-mães quanto a religião
129
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
O Brasil é um dos paises que possui uma rica diversidade religiosa. Em
função da misciginação cultural, fruto dos vários processos imigratórios,
encontamos em nosso pais diversas religiões. Dessa forma, (56%) das mulheresmães entrevistadas se revelaram
católicas, (41%) evangélicas e (3%)
professaram outros tipos de credo. Esses dados revelam que apesar do
crescimento da religião eveangélica nos últimos tempos, ainda há predomínio da
religião católica. De acordo com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), a religião católica apresenta (71%) seguidores enquanto que
(10%) pertencem a outras religiões. (Fonte IBGE, 2010). Na perspectiva das
crenças religiosas, Veronese e Guareschi ( 2007) relatam que:
É impossível uma vida em comum sem que hajam
determinados fenômenos psiquicos que possuem também
em comum, uma origem social e que são indispensáveis
para manter a vida social em andamento. Essas são
crenças religiosas, até mesmo mágicas, que sobrevivem
apesar dos preconceitos a eles atribuidos (p.35).
Estado civil
Gráfico 5: Distribuição das mulheres-mães quanto ao estado civil
Das mulheres-mães entrevistadas (71%) referiram ter união estável,
(16%) são solteiras, (12%) casadas e (1%) separadas. O primeiro item corrobora
com os estudos de Rassy (2010), desenvolvido na mesma Instituição, onde
(45%), a maioria das entrevistadas possuiam união estável; enquanto as solteiras
130
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
corresponderam a (39%) e as casadas (15%). Observamos a similaridade dos
estudos quanto a maioria entrevistadas terem união estável e a contraposição das
casadas e solteiras, visto que nos estudos de Rassy (2010) as casadas
ocupavam a segunda posição e as solteiras a terceira posição.
A união estável é caracterizada pelo consenso entre o casal, a
presença do parceiro ao lado da mulher é elemento constitutivo na formação da
família, tendo em vista que a gestação, parto e nascimento são eventos bio-psicosocial e familiar. Neste sentido, a participação efetiva do companheiro, à partir do
cuidado empreendido à mãe e filho, poderá contribuir para o desenvolvimento da
mulher enquanto mãe e da criança na condição de filho. Ressalta-se que além
dos aspectos de cuidado, o parceiro poderá contribuir nas questões econômicas,
considerando que o novo período requer maiores gastos devido a ampliação da
família e as especificidades da mulher no ciclo gravídico puerperal e de um bebê
após o nascimento.
O crescimento das uniões estáveis em dentrimento ao casamento vem
ocorrendo com a modernização e a opção por esta situação entre os casais
ocorre por garantir os mesmos direitos legais e não exigir gastos nem
burocracias. Segundo dados do IBGE
(2010), quanto a natureza da união
conjugal, os dados revelaram que no Brasil, 34.752,763 pessoas são casadas no
civil e religioso, no contexto de 80.978.998, incluindo as que não tem declaração
dessa natureza. Dentre as cinco regiões do país, a região Norte apresenta menor
quantitativo
(1.502.931) de pessoas casadas. O Pará recebeu a primeira
colocação com maior número (681.413) de pessoas casadas.
Quanto a relação de mulheres solteiras com a gestação, idade e
condição sócio-econômica e cultural, acreditamos que haja relação com o
aumento da gestação na adolescência. Em geral, observamos mudanças dessa
realidade em mulheres de nível econômico, cultural e social mais elevado, visto
que essas priorizam a realização profissional e financeira, deixando para depois a
maternidade. No entanto, vimos que nas classes de menor nível cultural,
econômico e social, e especificamente nos serviços públicos, mullheres cada vez
mais jovens vivenciam os fenômenos da gestação e parto. Dessa forma, a
131
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
questão da união estável, casamento e família não são prerrogativas para a
gestação.
Escolaridade
Gráfico 6 : Distribuição das mulheres-mães quanto a escolaridade.
Quanto ao nível de escolaridade entre as mulheres-mães, (33%)
relataram ter o 2º grau completo, enquanto que (28%) informaram o 1º grau
incompleto e (19%) o 2º grau incompleto. Esses dados diferem do estudo de
Rassy (2010), visto que quanto ao nível de escolaridade (24%) das pesquisadas
relataram ter o 1º grau incompleto, enquanto que (12%) informaram o 1º grau
completo. No entanto, a referida autora incluiu em seu estudo mulheres que
fizeram o pré-natal, independente do número de consultas. Em nosso estudo,
consideramos mulheres-mães que realizaram pré-natal com no mínimo seis
consultas e de forma regular.
As evidências nos levam a relacionar a realização do pré-natal, de
forma completa e regular, com o grau de instrução das mulheres-mães que
participaram deste estudo, tendo em vista que Brasil (2006) afirma que o grau de
escolaridade favorece as orientações e a busca por melhores serviços para
atenção à saúde. Dados do Indice Demográfico Brasileiro (IDB) ( 2010) revelaram
até 2009, os níveis de escolaridade da população de 18 a 24 anos no Pará. De 4
a 7 anos de estudo, correspondeu a (25,05%), entre 8 a 10 anos, (28,80%) e com
132
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
11 anos ou mais, (38,91%). Evidenciando que a maioria da população apresenta
nível de escolaridade correspondente a 11 anos ou mais de estudo.
Trabalho e Ocupação
Gráfico 7: Distribuição das mulheres quanto ao trabalho e ocupação.
De acordo com as mulheres-mães entrevistadas (78%) revelaram que
não trabalham e (22%) que trabalham. Estes dados corroboram com estudos de
Rassy (2010) o qual aponta que a maioria das mulheres entrevistadas na referida
Instituição (61%) não trabalham e exercem função do lar, enquanto (39%)
trabalhavamm fora. Dados do IDB ( 2010), revelaram que a taxa de desemprego
na Região Norte no período de 2009 correspondeu a (8,51%) e em Belém a
(9,63%), apontando uma alta taxa de desemprego em Belém.
Ao relacionarmos este item com o fator escolaridade e idade, vimos
que as entrevistadas são maiores de 18 anos e a maioria possue o 2º grau
completo. Esses dados
corroboram com a elevada taxa de desemprego na
cidade de Belém.Em contrapartida, as evidências nos possibilitam inferir que a
taxa de desemprego seja fruto do déficit de ofertas para o emprego formal,
menores no que a demanda, alto nível de exigências para contatação, ou ainda,
dificuldades das mulheres-mães em conciliar a gestação com as atividades
133
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
laborais com o cuidado da casa e da família, tendo em vista que algumas
mulheres-mães relataram que trabalhavam antes da gestação.
Das 113 mulheres-mães entrevistadas (78%) informaram não trabalhar,
enquanto que (22%) referiram trabalhar. Considerando a ocupação dessas
mulheres-mães que trabalham, (10%) foi caracterizada como outras, devido
integrar uma diversidade de atividades em nível elementar, administrativo e
técnico, (5%) revelaram ser empregada doméstica, (3%) lavradoura, este item
relaciona-se as mulheres-mães que residem nos interiores do Pará,
(2%)
cobradora de ônibus e (2%) vendedora.
Renda familiar
Gráfico 8: Distribuição das mulheres-mães quanto a renda familiar
Considerando que a maioria das mulheres-mães entrevistadas não
trabalhavam
ou não estavam no mercado formal e outras eram autonômas,
entendemos ser pertinente considerar a renda familiar já que a maioria vive uma
relação estável ou reside com a familia. Neste sentido (47%) das mulheres-mães
possuem renda familiar de até 1 salário mínimo (SM), (31%) entre (1 a 2 SM),
(18%) entre (2 a 5 SM), nesses últimos casos o número de pessoas residindo na
mesma casa e compondo a mesma renda familiar eram maiores, por isso soma
maior renda.
134
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Inserção da residência na ESF
Gráfico 9: Distribuição das mulheres-mães quanto a inserção da residência no ESF.
Das mulheres-mães entrevistadas (60%) informou que sua residência
estava inserida na ESF e (40%) relatou que sua residência não está inserida.
Esses dados revelam que a inserção da residência na ESF contribiu para a
realização do pré-natal, visto que as 113 mulheres entrevistadas neste estudo
realizaram o pré-natal.
De acordo com o Brasil ( 1997) o principal objetivo da Estratégia Saúde
da Família (ESF) é de contribuir para reorientação do modelo assistencial à partir
da atenção primária, em conformidade com os princípios do Sistema Único de
Saúde, imprimindo uma nova dinâmica de atuação ans unidades básicas de
saúde, com definição de responsabilidades entre os serviços de saúde e a
população.
Para Rodrigues; Lima; Roncalli (2008), a ESF é considerada, uma
estratégia que prioriza as ações de promoção, proteção e recuperação da saúde
dos indivíduos e da família, do recém-nascido ao idoso, sadios ou doentes, de
forma integral e continua. Apresenta-se, assim, como uma possibilidade de
reestruturação dos serviços e de novas práticas de intervenção na atenção à
saúde.
135
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Transporte coletivo e acesso aos serviços de saúde
Gráfico 10: Distribuição das mulheres quanto ao transporte coletivo
Neste estudo, (77%) das mulheres-mães informaram ter acesso a
transporte coletivo fácil para os serviços de saúde. Esse resultado corrobora com
o a evidência de que a maioria das mulheres-mães reside na Capital do Estado e
todas realizaram pré-natal de forma completa e regular. Enquanto que (23%) não
dispõe desse acesso, são em geral as que residem em municípios do interior do
Estado, em bairros distantes da Capital ou nas Ilhas do Pará.
Para Brasil (2000) o acesso e acessibilidade das mulheres-mães aos
serviços de saúde durante o ciclo gravídico puerperal integram os pressupostos
das Políticas Públicas de Saúde da mulher através do Programa de Humanização
do Pré-Natal e Nascimento (PHPN), obtendo como um dos seus principais
objetivos a ampliação do acesso ao pré-natal. Tendo em vista as dificuldades
econômicas, sociais e culturais e considerando as diferenças regionais em que
residem as mulheres, ressaltamos que o problema de acesso e acessibilidade da
Região Norte precisa ser considerado a partir de sua diversidade e especificidade
geográfica.
Acreditamos que o incentivo financeiro as mulheres-mães para
realização do pré-natal, conforme a medida provisória nº 557 de 26 de dezembro
136
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
de 2011, Já citada nas ancoragens históricas deste estudo, não será uma
alternativa para resolver efetivamente essa questão, visto que o problema não
envolve somente os aspectos financeiros, por isso não depende somente das
mulheres-mães, ou do seu desejo e consciência sobre a importância do pré-natal.
Na realidade, muitas não chegam ao pré-natal pela inexistência do serviço em
seus lugarejos, bem como a distância e dificuldade ou até inexistência de
transporte para os serviços mais próximos.
6.2 Perfil Obstétrico
Números de gestação, parto e aborto
Gráfico 11: Distribuição das mulheres-mães quanto ao número de gestação, parto e
aborto
Das mulheres-mães entrevistadas, (32,7%) vivenciaram a primeira
gestação e o primeiro parto, (28,3%) passaram pela segunda gestação e segundo
parto, (7,1%) vivenciaram a terceira gestação e terceiro parto. Enquanto as
demais se enquadraram em números variados de gestações, partos e abortos.
Dados do IDB ( 2010) revelaram que a média anual de filhos por mulher no
período de 2000-2008 na Região Norte foi de (2,47) e no Pará (2,41) filhos por
mulher. Essa realidade parece que vem sendo modificada, conforme a divulgação
na emprensa, de que as mulheres brasileiras vem optando por familias menores e
filhos únicos.
137
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Quanto a maior parte das mulheres-mães entrevistadas serem
primigestas e primiparas este estudo corrobora com a pesquisa de Rassy (2010),
em que (55%) eram primigestas, enquanto (45%) se enquadraram com duas, três
ou mais gestações. Observamos, que a vivência da gestação, pré-natal, parto e
puerpério para essas mulheres, marcou suas experiências primárias com a
maternidade, fator que demonstra a necessidade de maior atenção dos serviços
de saúde e profissionais que assistem a essas mulheres
Tipos de parto
Gráfico 12: Distribuição das mulheres-mães quanto a vivência dos tipos de parto
Embora o indice de cesárea no Brasil e no Pará se apresentarem alto,
principalmente no atendimento realizado em planos de saúde e nos hospitais
privados. Em nosso estudo incluimos mulheres-mães atendidas unicamente no
SUS, a maioria dessas, (51%) realizaram partos normais na gestação atual, e nas
anteriores, para as que engravidaram mais de uma vez; enquanto que (36%)
realizaram cesárea na gestação atual ou em passadas, e (13%) vivenciaram
tanto a experiência do parto normal quanto da cesárea.
Podemos relacionar esses dados com a incorporação do Programa do
Parto Humanizado na maternidade da FSCMPA (2002) o qual incentiva o parto
normal e preconiza a cesárea somente quando há comprometimento para a vida
138
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
materna e fetal. Contribuindo com este resultado, a pesquisa de Pereira, Franco,
Baldim ( 2011) revela a preferência feminina pelo parto normal como uma vivência
de protagonismo e de maior satisfação na cena do parto. No entanto, no Brasil, a
representação social do parto normal identifica uma etapa dolorosa do processo
fisiológico da gravidez entre as mulheres.
O
mesmo
estudo,
revela
que
a
cesárea
tem
aumentado
gradativamente, em especial pelas usuárias de planos de saúde, apresentando
indices muito além do recomendado pela Organização Mundial de Saúde que é
de 15%. O IDB ( 2010) revela que a proporção de cesáreas em 2009 na Região
Norte foi de (39, 64%) e no Pará (36,22%). Nas análises dos fenômenos, o estudo
de Pereira, Franco, Baldim (2011) apontam que um dos principais motivos para o
aumento da cesarea é a conveniência do médico, pois o procedimento é rápido,
não precisa esperar a progressão do trabalho de parto e não compromete a
insegurança no momento das avaliações e condutas, caso o parto saia do padrão
de evolução esperada.
As autoras supra-mencionadas revelam que a telenovela consolida
socialmente um conceito sem base científica, de que a cesárea é um
procedimento mais seguro que o parto normal, pela condição de ser programado
e livrar a mulher do sofrimento imposto pela dor do trabalho de parto. Para as
autoras a televisão capta aquilo que o mercado aspira, pois é o veiculo que
melhor representa o meio de comunicação em massa, essa é a organizadora do
imaginário social, reprocessa- tecnicamente as aspirações da população, reciclaas ideologicamente e difunde-as.
Corroborando com estudos acima, Hotimsk et al. (2002) revelam que
as mulheres que participaram da pesquisa se apropriam de suas experiências
anteriores de parto, assim como as de outros membros de sua rede de relações,
e procuram também se apropriar do saber médico para formular suas
expectativas e preferências em relação a parturição.
139
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Intercorrências na gestação
Gráfico 13:
Distribuição das mulheres quanto a vigência de intercorrências na
gestação.
Apesar da gestação ser um evento fisiológico, algumas vezes podem
ocorrer intercorrências, que se não detectadas e tratadas em tempo hábil,
poderão caracterizar uma gestação de alto risco ou ainda compremeter a vida da
mãe e do bebê. Nosso estudo, revelou que das mulheres-mães entrevistadas,
(62%) não apresentaram intercorrências, enquanto que (38%) das mulheres-mães
apresentaram.
Estes resultados reforçam a importância da realização do pré-natal
como forma de promoção da saúde; prevenção da doença e controle dos indices
de mortalidade materna e infantil e possui relação com o critério de inclusão de
nosso estudo, visto que consideramos as gestações de baixo risco em mulheresmães que fizeram o pré-natal de forma completa e regular.No entanto, mesmo
realizando o pré-natal de baixo risco, algumas intercorrências no inicio ou no final
da gestação são passíveis de ocorrer, sem caracterizar necessariamente uma
gestação de alto risco.
140
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Tipos de Intercorrências
Gráfico 15: Distribuição das mulheres-mães quanto aos tipos de intercorrências
Das mulheres-mães que apresentaram intercorrências as mais comuns
foram respectivamente: Doenças Hipertensiva Específica da Gestação (DHEG)
(18,6%); Infecção no Trato Urinário (ITU) (8,0%), e a Rotura Prematura de
Membranas Ovulares (RPMO) que caracteriza a perda de líquido (5,3%).
O
restante caracterizou-se por intercorrências associadas.
Quanto a
DHEG, os estudos de Santos; Oliveira; Bezerra (2006)
revelaram que dentre as mulheres que apresentaram alguma intercorrência na
gestação a DHEG foi a mais incidente ocorrendo em (8,1%) das entrevistadas e
DHEG associada à
infecção também ocorreu em (8,1%). Para as autoras a
DHEG continua sendo a principal cauda de mortalidade materna e perinatal.
Os percentuais relacionados à Rotura Prematura de Membranas
Ovulares (RPMO), corroboram com os estudos de Andrade; Magno; Carneiro
(2010), desenvolvido na maternidade da FSCMPA, das mulleres com (RPMO),
379, 267 ou (70%) corresponderam aos casos de prematuridade em
conseqüência da patologia, revelando a sua gravidade. Destaca-se que a
infecção no trato urinário (ITU) bem como as infecções cervico-uterinas e a
hipertensão arterial na gestação podem desencadear a RPMO que por sua vez
141
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
pode levar a um parto prematuro e intensifica a procura e oferta de leitos em
Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTI- neo).
6.3- As Mulheres-Mães e o Pré-Natal
Realização do pré-natal de acordo com o número de gestações
Gráfico 15: Distribuição das mulheres-mães de acordo com o número de vezes que
realizaram o pré-natal
A maioria das mulheres-mães (84%), realizaram pré-natal entre 1 a 2
vezes, (12%) de 3 a 4 vezes, (4%) de 5 a mais de 5 veses, conforme o número de
gestações. Essas evidência corroboram com o número de gestações entre as
mulheres pesquisadas, visto que a maioria das mulheres-mães foram primigestas
e primiparas.
Quanto a realização do pré-natal, podemos inferir que a maioria das
mulheres realizaram pré-natal na gestação atual, porém em algumas das
gestações anteriores, não realizaram o pré-natal.
Entendemos que o fato de
mulheres-mães não terem realizado pré-natal em gestações anteriores e terem
realizado na atual, revela as suas experiências anteriores, a propagação e difusão
pela imprensa e pelos programas de saúde, ou pelos membros da comunidade
que essas se inserem, demonstrando a necessidade e importância da realização
142
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
do pré-natal. Atualmente há grande preocupação com as mulheres que não
realizam o pré-natal, por isso foi elaborada política de incentivo financeiro para
maior controle e adesão ao pré-natal.
No que se refere a elaboração das representações sociais sobre prénatal, compreendemos que somente mulheres-mães que vivenciaram o pré-natal
nos serviços de forma completa e regular possuem de fato uma representação
acerca desse fenômeno, por isso a consideração deste critério de inclusão em
nosso estudo. Visto que entendemos que as mulheres-mães que realizaram duas,
três ou quatro consultas pré-natal, considerando as diferenças nas idades
gestacionais, apresentam representações sociais diferentes das mulheres que já
passaram por esse processo em seu momento atual ou no passado.
Número de consultas realizada no pré-natal
Gráfico 16: Distibuição das mulheres-mães quanto ao número de consultas de prénatal
Ao perguntarmos as mulheres- mães quantas consultas de pré-natal
realizaram, evidenciamos que (73%) realizou mais de 6 consultas;
(27%)
realizaram pelo menos seis consultas.Esses dados demonstram que a maioria
das mulheres realizaram mais de 06 consultas de pré-natal e que as demais
realizaram as 06 preconizadas pelo Ministério da Saúde. Dados do Ministério da
Saúde ( 2006) revelam que vem ocorrendo um aumento no número de consultas
143
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
no pré-natal por mulheres que realiza parto no Sistema Único de Saúde (SUS).
Esses indicadores apresentam diferenças regionais significativas.
O IDB ( 2010) revela no Pará e em Belém, respectivamente, a
proporção entre nascidos vivos com o número de consultas pré-natal, revelandose em nenhuma consulta: (1,91%) e (1,88%), de 1 a 3 consultas: (7,68%) e
(7,17%), de 4 a 6 onsultas: (31,91%) e (39,42%), 7 consultas ou mais (58,50%) e
(51,53%). Os resultados demonstram que quanto maior o número de consultas
maior a prevalência de nascidos vivos. Evidenciando que em Belém o número de
7 consultas ou mais ainda precisa ser mais efetivado. Em contrapartida nosso
estudo revela que a maioria das mulheres-mães realizaram mais de seis
consultas pré-natal.
Inicio do pré-natal
Gráfico 17: Distribuição das mulheres-mães quanto ao inicio do pré-natal
Quando perguntamos as mulheres-mães com quanto tempo de
gestação iniciaram o pré-natal, constatamos que (63%) iniciaram entre 1 a 2
meses e (37%) iniciaram entre o 3º e 4º mês. Brasil (2006) preconiza que o inicio
do pré-natal deve ser iniciado, tão logo a mulher suspeita da gravidez e ressalta
que a primeira consulta deva ser realizada no primeiro trimestre da gestação;
recomenda que o calendário do atendimento pré-natal deve ser programado em
144
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
função dos períodos gestacionais que determinam maior risco materno e
perinatal.
Município de realização do pré-natal
Gráfico 18: Distribuição das mulheres-mães quanto ao município de realização do
pré-natal
Das mulheres-mães entrevistadas (62%) correspondeu a região
metropolitana de Belém e (38%) do interior do Estado. Considerando que muitas
mulheres, realizam o pré-natal em seus municípios de moradia e vem para a
Capital para o parto. Esse resultado se contrapõe as informações dos dados da
FSCMPA, referente ao assunto, conforme as declarações abaixo.
De acordo com os dados da FSCMPA declarados em entrevista
concedida ao Jornal Liberal pelo Secretario de Saúde do Estado do Pará, Helio
Franco refere que “ das mulheres que procuram a Maternidade da FSCMPA (
50%) são do interior do Estado e a maioria (80%) apresentam complicações na
145
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
hora do parto porque não fizeram um pré-natal correto” ( Fonte: jornal Liberal de
07 de abril de 2012, p.12).
Podemos inferir que a contraposição entre a informação citada e o
resultado de nosso estudo, possui relação direta com os critérios de inclusão,
visto que incluimos mulheres-mães que realizaram pré-natal de forma completa e
regular no SUS.Por isso a demanda maior da Região metropolitana de Belém. Por
outro lado, realizamos a segunda inferência ao considerar que algumas das
mulheres-mães que vêm dos interiores para atendimento na Maternidade da
Instituição não realizaram pré-natal ou quando realizado ocorreu de forma
incompleta, compromentendo a sua qualidade, por isso apresentam complicações
na hora do parto, conforme cita Hélio franco.
Informações que as mulheres-mães gostariam de receber no pré-natal
Gráfico 19 – Sugestões de temas/assuntos
Das 113 mulheres-mães entrevistadas (56%) deram sugestões de
temas ou assuntos a tratar. 44% não deram sugestões: dentre as sugestões
foram elencados 10 eixos-assuntos de acordo as citações.
146
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
147
Quadro 2. Sugestões de temas/assuntos
Nº
Temas/Assunto
1
Parto normal e cesária
32
2
Cuidados com o bebê
21
3
Amamentação
Nº de citações
19
4
Patologias na gestação
12
5
Cuidado com a mãe
8
6
Dieta
3
7
Exame
1
8
Ligadura de trompas
1
9
Puerpério
1
10
Planejamento familiar
1
Quanto às informações que devem ser tratadas com as mulheres-mães
e profissionais no pré-natal, Brasil (2005) destaca-se que:
Informações sobre as diferentes vivências devem ser trocadas
entre as mulheres e os profissionais de saúde. Essa possibilidade
de intercâmbio de experiências e conhecimentos é considerada a
melhor forma de promover a compreensão do processo de
gestação. É necessário que o setor saúde esteja aberto para as
mudanças sociais e cumpra de maneira mais ampla o seu papel
de educador e promotor da saúde. As gestantes constituem o foco
principal do processo de aprendizagem, porém não se pode deixar
de atuar, também, entre companheiros e familiares. A posição do
homem na sociedade está mudando tanto quanto os papéis
tradicionalmente atribuídos às mulheres. Portanto, os serviços
devem promover o envolvimento dos homens, adultos e
adolescentes, discutindo a sua participação responsável nas
questões da saúde sexual e reprodutiva ( BRASIL, 2005, p.30).
Ressalta-se a importância da informação enquanto elemento que
constitui o processo de compreensão da gestação. Considerando que o processo
educativo agrega informações, experiências e conhecimentos, ressalta-se a
educação em saúde no pré-natal como espaço de promoção a saúde entre
mulheres-mães e familiares. A mulher é o foco do processo-aprendizagem. Dessa
forma, emerge a importância do papel do profissional, para a vigência dessa
premissa estabeleceu-se no manual do pré-natal humanizado, assuntos
importantes que devem ser abordados no pré-natal, sendo esses:
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
1- Importância do pré-natal; 2- higiene e atividade física; 3nutrição; 4-desenvolvimento da gestação; 5-modificações
corporais e emocionais; 6-medos e fantasias referentes à
gestação e ao parto; 7- atividade sexual, incluindo prevenção das
DST/Aids e aconselhamento para o teste anti-HIV; 8-sintomas
comuns na gravidez e orientação alimentar para as queixas mais
freqüentes. 9- sinais de alerta e o que fazer em situações de
sangramento vaginal, dor de cabeça, transtornos visuais, dor
abdominal, febre, perdas vaginais, dificuldade respiratória e
cansaço; 10- preparo para o parto; 11- sinais e sintomas do parto;
12- orientação e incentivo para o aleitamento materno e orientação
específica para as mulheres que não poderão amamentar; 13importância do planejamento familiar; 14- cuidados após o parto;
15- saúde mental e violência doméstica e sexual (BRASIL, 2005, p
31).
Ao comparar os assuntos elencados com os sugeridos pelas mulheresmães, vimos que alguns desses integram os preconizados, dentre os quais
constam: parto, amamentação, dieta, aleitamento materno, cuidado após o parto,
o que caracteriza o puerpério e planejamento familiar. Entretanto, as mulheresmães revelam que gostariam de conversar além do parto sobre a cesárea,
cuidados com o bebê, patologias na gestação, cuidado com a mãe, exames e
ligadura de trompas, assuntos que não estão contemplados no referido manual.
Destacam-se a seguir algumas unidades de registro das mulheres-mães:
MM25: “Gostaria de ter recebido mais orientação quanto à amamentação e como
seria o trabalho de parto”
MM37- “Queria ter conversado sobre o parto, para saber como ia ser”.
MM36- “Apesar de já ter tido dois filhos, queria saber mais sobre o bebê, queria
saber como deveria cuidar melhor dele”.
Compreendemos
que
essas
sugestões
têm
relação
com
as
necessidades das mulheres-mães pesquisadas, o que nos leva a pensar que tais
necessidades não foram de todo supridas no pré-natal, deixando lacunas sobre o
momento do parto e principalmente sobre o cuidado com o bebê, conforme o
relato de algumas entrevistadas:
Entre as mulheres-mães, algumas revelaram não ter tido ou não ter
participado de momentos educativos; referiram que as consultas eram rápidas,
dando pouco espaço para conversas; algumas sugeriram os seguintes assuntos:
patologias na gestação e exames; referiram não terem tido conversas sobre a
necessidade e a importância da realização dos exames, nem durante a entrega
148
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
dos resultados, quando em alguns casos apresentaram alterações. Quanto ao
assunto patologias na gestação, foi mencionado por mulheres-mães que tiveram
alguma intercorrência, e não foram devidamente esclarecidas quanto ao assunto.
A seguir mais algumas.
MM12- “Queria saber dos riscos que poderia ter com a infecção urinária”.
MM15- “Gostaria de saber sobre o motivo da minha pressão arterial (PA) alta e de
outras situações como dor de cólica e dor nas costas”
MM93- “Gostaria de saber sobre a PA na gestante, apesar de verificarem, não
obtive informações e no final da gravidez tive pressão alta”.
Nesta perspectiva, Jovchelotch (2008) comenta que “o saber é uma
forma heterogênea e maleável, cuja racionalidade e lógica, não se definem por
uma norma transcendental, mas em relação ao contexto social, psicológico e
cultural de uma comunidade. A autora explica que “a cooperação e a
comunicação, sem as quais a vida humana não seria possível, pressupõe o
reconhecimento do outro, bem como o aprendizado de como levar em
consideração a perspectiva, desde onde ele propõe sua verdade histórica, social
e psicológica” (p. 209- 213).
A partir dessas concepções, foi possível refletir que o saber não cabe
dentro de normas prescritivas, mas se constrói considerando o outro em seu
contexto social, cultural e psicológico de forma que todos os envolvidos no
processo ensinam e aprendem. Nesse sentido, os profissionais que integram as
políticas de saúde da mulher, devem abrir espaço para a participação das
mulheres-mães na construção de estratégias e ações que visem e alcancem suas
necessidades. É no universo consensual que o reificado deve encontrar bases
para desenvolver com efetividade as ações em prol da mulher e da criança.
Dessa forma, Jovchelovitch (2008) afirma que:
O senso comum e a ciência são formas de conhecimento ligadas a
modalidades sociais de representar. Como toda representação,
eles desempenham funções de identidade, comunidade, memória,
antecipação e ideologia ( p.208).
Gráfico 21- Sugestões para melhorias no pré-natal
149
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
150
Ao questionarmos as mulheres-mães sobre o que pode ser feito para
melhorar o pré-natal, (78%) relataram sugestões, enquanto ( 22%) não relataram.
Dos relatos surgiram (8) eixos-sugestões de acordo com as citações, conforme o
quadro:
Quadro 3. Eixos-sugestões de melhoria para o pré-natal
Nº
Sugestões
Nº de citações
1
Melhoria nos processos de atendimento
45
2
Acolhimento
30
3
Educação em Saúde
15
4
Pontualidade
9
5
Assiduidade
8
6
Mais profissionais
8
7
Acessibilidade
2
8
Divulgação sobre a importância do pré-natal
2
Dentre as sugestões, verificamos que a melhoria nos processos de
atendimento foi citada (45 vezes); o que caracterizou esse eixo foram sugestões
quanto a oferta de exames e medicamentos; agilidade na entrega dos resultados
de exames; atendimento e programação na marcação de consultas. A seguir
algumas expressões das mulheres- mães:
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
MM7: “Os exames demoraram em ser entregues”.
MM12: “O atendimento poderia ser mais rápido, e as marcações das consultas
médicas e de enfermagem, ser no mesmo dia, para facilitar a ida na Unidade
Básica de Saúde” (UBS).
MM72: “Não há realização de exames, tive que fazer particular e não tinha
medicamentos, tive que comprar”.
O acolhimento foi citado (30 vezes) caracterizado o valor atribuído a
interação, vínculo, atenção e comunicação dos profissionais, em especial do
médico com as mulheres-mães. Abaixo algumas expressões:
MM14: “Queria que os médicos fossem mais atenciosos e que as consultas
demorassem mais tempo”.
MM21: “Acho que os médicos deveriam dar mais atenção, eles nem olham e nem
examinam, só olham para os exames e passam o remédio”.
MM33: “Os funcionários poderiam ser mais educados com a gente”.
A educação em saúde foi citada (15 vezes), demonstrando a
valorização e a importância de momentos educativos, enquanto espaços de
aprendizagem entre as mulheres. No entanto, em alguns serviços os momentos
educativos não ocorrem nem em grupo e nem durante a consulta, conforme
relatos abaixo:
MM14: “Gostaria que houvesse palestras sobre doenças do bebê, acho
importante porque proporcionam outros conhecimentos, não só para mim, mas
para outras mães”.
MM21: “Gostaria de ter tido palestras antes do nascimento do bebê, porque lá
onde fiz meu pré-natal, eles só fazem depois do nascimento”
MM36- “Poderia ter palestras, porque lembraria o que ouvi na consulta e
aprenderia outras coisas”.
A pontualidade no atendimento foi citada (9 vezes) tendo em vista os
freqüentes atrasos dos profissionais, principalmente dos médicos. A assiduidade
foi citada (8 vezes), segundo as mulheres-mães há faltas freqüentes dos
profissionais, o que implica em remarcação da consulta, ocasionando a demora
para a data da próxima consulta e acúmulo de mulheres-mães para o
151
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
atendimento. Esse fato resulta no aumento do tempo de espera e no
comprometimento da qualidade da consulta.
MM44: “A espera para o atendimento médico era muito demorado marcava-se 7h
e eu só era atendida às 10h”.
MM78: “Os profissionais demoravam a chegar no posto”.
MM96: “Freqüência regular dos médicos eles faltam muito”.
A sugestão de mais profissionais para atendimento nos serviços foi
citada (8 vezes), tendo em vista a demanda de mulheres ser maior do que a
oferta de profissionais para o atendimento em alguns locais.
MM65: “Muita paciente para um só médico atender”.
MM51: “Mais médicos, melhorar o tempo de espera, poderia ser melhor”.
A acessibilidade foi citada duas vezes, considerando que há mulheres
que moram em locais distantes dos atendimentos de saúde e apresentam
dificuldades para o deslocamento e inclusão nos serviços. A divulgação sobre a
importância da realização do pré-natal foi citada (2 vezes), sinalizando a
preocupação das mulheres-mães com outras que não realizam ou não realizaram
o pré-natal.
MM49: “Á distância, lá na minha Ilha não tem e eu tinha que ir de barco para
Abaetetuba”
Segundo Freitas, et al. (2006), é perfeitamente reconhecido que a
assistência pré-natal é dispendiosa para o sistema de saúde, pois exige
equipamentos adequados, médicos, enfermeiros e auxiliares preparados para a
realização de exames complementares, nem sempre simples e de baixo custo.
Também para a gestante, as consultas implicam despesas e sacrifícios: ela
precisa afastar-se de sua residência, de seu local de trabalho e até mesmo ter
alguém que fique cuidando de seus filhos. Por isso, é importante que se conheça
a capacidade do pré-natal na redução de riscos associados a uma gravidez.
O autor traz a reflexão sobre o custo benefício do pré-natal, tendo em
vista que este é dispendioso tanto para o sistema de saúde quanto para as
gestantes e ressalta a importância do conhecimento da capacidade do pré-natal
na redução de riscos associados a gravidez.
152
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Concebe-se a importância do pré-natal na redução da mortalidade
materna e perinatal, porém a qualidade desse serviço é o fator que implica na
adesão e permanência das mulheres no pré-natal. Esse pensamento ancora-se
na afirmativa:
A adesão das mulheres ao pré-natal está relacionada com a qualidade
da assistência prestada pelo serviço e pelos profissionais de saúde, fator
essencial para redução dos elevados índices de mortalidade materna e
perinatal verificados no Brasil (BRASIL, 2005, p.09).
Em nossa pesquisa verificamos que as sugestões de melhorias das
mulheres-mães, apesar de sinalizar o déficit da qualidade do pré-natal em alguns
locais. Demonstrou que mesmo com as dificuldades apontadas, as 113 mulheresmães realizaram o pré-natal de forma completa e a maioria com mais de seis
consultas. No entanto, a propagação dessa experiência na comunidade, família e
sociedade em geral, pode gerar representações negativas sobre o pré-natal e
implicar na desvalorização do serviço e não adesão de outras mulheres, fator que
representa o maior risco para as mulheres, concepto e sociedade em geral.
Dessa forma, a prioridade é melhorar o pré-natal para posteriormente divulgar e
disseminar na mídia escrita e falada a importância do pré-natal, objetivando assim
a adesão das mulheres e a redução das morbidades e mortalidade materna e
perinatal.
153
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
CAPÍTULO 7 – REPRESENTAÇÕES
SOBRE PRÉ-NATAL ENTRE MULHERESMÃES: implicações para o agir cuidativo
educativo em enfermagem- MANUSCRITO 2
154
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE PRÉ-NATAL ENTRE MULHERESMÃES: IMPLICAÇÕES PARA O AGIR CUIDATIVO EDUCATIVO EM
ENFERMAGEM
SOCIAL REPRESENTATION ON PRE-NATAL AMONG WOMEN-MOTHERS:
IMPLICATIONS ON NURSING CARE AND EDUCATIONAL ACTION IN
NURSING
REPRESENTACIONES SOCIALES SOBRE PRENATAL DE LAS MUJERESMADRES: IMPLICACIONES PARA LA ACERCA DE LA ACTUACIÓN
CUIDATIVO EDUCATIVO EN ENFERMERIA
Márcia Simão Carneiro¹; Elizabeth Teixeira2
¹ Mestranda em Enfermagem da Universidade Estadual do Pará/ Universidade Federal do
Amazonas (UEPA/UFAM); Professora Auxiliar
III da Universidade Federal do Pará
(UFPA); Conselheira do Conselho Regional de Enfermagem do Pará (CORENPA). Email: [email protected]
² Doutora em Ciências Sócia Ambientais pela Universidade Federal do Pará (UFPA);
Professora Adjunto IV da Universidade do Estado do Pará ( UEPA), Coordenadora do
Programa de Mestrado Associado em Enfermagem UEPA/UFAM; Diretora de Educação
da
Associação
Brasileira
[email protected]
de
Enfermagem-
Nacional
(ABEN).
E-mail:
155
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE PRÉ-NATAL ENTRE MULHERES-MÃES
RESUMO
Objetivou-se analisar o conteúdo e a estrutura das representações sociais sobre pré-natal entre mulheresmães do Pará. Adotou-se como marco teórico a teoria das representações sociais de acordo com a abordagem
estrutural. A coleta de dados foi realizada com 113 mulheres-mães internadas na Fundação Santa Casa de
Misericórdia do Pará, no período de dezembro de 2011 a janeiro de 2012. A técnica utilizada foi a Evocação
Livre de Palavras ao termo indutor: “pré-natal”. Os resultados foram processados pelo software EVOC 2003
e analisados por meio do quadro de quatro casas. Como possíveis elementos centrais evidenciou-se:
“criança-bebê”, “cuidado” e “saúde”. O que remete ao paradigma dominante, centrado na criança, e um
emergente com foco na “mulher-mãe”. Os elementos: “cuidado” e “saúde” demonstram a dimensão
funcional relacionada ao fazer do pré-natal; e a dimensão normativa considera os valores e sentidos do prénatal. Os elementos da segunda periferia: “gestação- barriga”, “acompanhamento”, “alimentação”; e da
zona de contraste: “importante”, “prevenção”, “bom”. Essas expressões agrupadas originaram as categorias:
bio-cuidativa, inter-relacional, e emocional-valorativa. O estudo possibilitou compreender que as mulheres
mães representam o pré-natal de acordo com as dimensões do conhecimento científico, porém demonstra a
necessidade de ampliar os conceitos de cidadania e educação em saúde. Recomenda-se um redirecionamento
do agir cuidativo educativo dos profissionais pré-natalistas em especial dos enfermeiros (as) a partir das
representações sociais das mulheres-mães sobre o pré-natal.
Palavras-chave: Cuidado pré-natal, psicologia social, saúde da mulher
ABSTRACT
SOCIAL REPRESENTATION ON PRE-NATAL AMONG WOMEN-MOTHERS
Aiming to analyze the contents and the structure of the social representations on pre-natal among womenmothers in Pará. Having as theoretical framework the theory of social representations, according to the
structural approach. The data collection was obtained surveying 113 women-mothers who were admitted to
Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, from December/2011 to January/2012. The technique used
was the Free Evocation of Words regarding the trigger word: “pre-natal”. The outcomes were processed by
the EVOC 2003 software and analyzed through a chart of four squares. As possible chief elements, we can
point out: “infant/toddler”, “care” and “health”. This leads to the dominant paradigm, child-centered, and an
emerging one with the focus on “woman-mother”. The elements: “care” and “health” displayed the
functional dimension related to the pre-natal practice; and the normative dimension considers the values and
the pre-natal understandings. The elements of the second periphery: “gestation-womb”, “medical follow-up”,
“feeding”; and the contrast zone: “important”, “prevention”, “good”. These expressions put together
originated the categories: bio-care, inter-relational, and emotional-value. With this study, it was possible to
understand that women-mothers view pre-natal according to the dimensions of the scientific knowledge,
however, it shows the necessity to widen these representations to the concepts of citizenship and education
on health.it is recommended that the nursing care and educational action of the pre-natal professionals, in
particular the nurses be redirected according to the social representations of women-mothers on pre-natal.
Key-words: Pré-natal care, social psychology, woman’s health care
RESUMEN
REPRESENTACIONES SOCIALES SOBRE PRENATAL DE LAS MUJERESMADRES
El objetivo fue analizar el contenido y la estructura de las representaciones sociales en la
pre-natales las mujeres-madres de Pará, fue adoptado como el marco teórico de la teoría de
las representaciones sociales de acuerdo con el enfoque estructural. La recolección de
datos se llevó a cabo con 113 mujeres admitidas en la Santa Casa de Misericordia de Pará,
en el período diciembre 2011 a enero 2012. La técnica utilizada fue la Palabra de
156
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
evocación libre del término inductor "atención prenatal". Los resultados fueron procesados
por el software EVOC 2003 y se analizaron utilizando el marco de las cuatro casas. Como
elementos centrales posibles se presentó, "niño-bebé", "prudencia" y "salud". Lo que se
refiere al paradigma dominante, centrada en el niño, y emergentes con un enfoque de
"mujer-madre". Los elementos: "precaución" y "salud" demostrar la dimensión funcional
en relación a la atención prenatal, y la dimensión normativa considera los valores y los
significados de la atención prenatal. Los elementos del segundo borde ", del vientre con el
embarazo", "vigilancia", "poder" y el área de contraste: "importante", "prevención",
"bueno". Estas expresiones se originó categorías agrupadas: la bio-cuidativa interrelacionales, emocionales y de evaluación. El estudio nos permitió entender que las
mujeres representan a las madres el cuidado prenatal de acuerdo a las dimensiones del
conocimiento científico, sino que demuestra la necesidad de ampliar estas representaciones
a los conceptos de ciudadanía y educación para la salud. Se recomienda una acción de
redirección cuidativo formación de los profesionales en particular prenatales enfermeros
(as) de las representaciones sociales de las mujeres-madres sobre el cuidado prenatal.
Descriptores: atención prenatal, la psicología social, la salud de las mujeres
INTRODUÇÃO
O pré-natal é um conjunto de ações médicas e de enfermagem direcionadas para a saúde
da mulher. Desenvolve-se no período em que esta se encontra grávida, visando assegurar
uma melhor condição de saúde, tanto para ela como para o bebê, evitando a morte e o
comprometimento de ambos (¹).
As referidas ações são um desafio para as políticas de saúde da mulher, devido à relação
que existe entre a sua efetividade, a qualidade e os altos índices de mortalidade materna e
infantil. Apesar da redução dos indicadores de mortalidade materna no ano de 2011, esses
resultados ainda estão longe da meta traçada para 2015, dentro dos Objetivos do Milênio,
que é de no máximo 35 mortes maternas por cada 100 mil nascidos vivos (²).
O foco do pré-natal deve ser a mulher, considerando que o principal objetivo da
assistência pré-natal é acolher a mulher desde o inicio da gestação, devido ser um período
de mudanças físicas e emocionais, que cada gestante vivência de forma distinta (¹). Por
isso, tendo em vista o contexto de mortalidade maternidade e os fatores que interferem no
desenvolvimento da gestação, é importante e imprescindível que toda gestante realize o
pré-natal (¹).
Ao contextualizar as ações a favor da saúde da mulher no pré-natal, compreendemos que
suas bases constituem-se nas dimensões: cultural e histórica: mulher enquanto gênero;
157
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
fisiológica e biológica: a gestação, o parto e o cuidado a mulher; política e social: os
programas e as ações da saúde da mulher; educativa e humanística: o acolhimento e a
educação em saúde. Dessa forma, revela-se a engrenagem do pré-natal, integrada às
políticas públicas de saúde, às gestantes e os profissionais de saúde; que para seu efetivo
funcionamento, necessita de harmonia entre os processos e as pessoas.
As gestantes por sua vez, possuem saberes que são compartilhados com outras gestantes
em decorrência de vivenciarem o fenômeno da gestação e constituírem o mesmo grupo de
pertença. Nos momentos de espera pelas consultas, durante as ações educativas, na sala de
imunizações, nos momentos de marcação e realização de exames, em reuniões de família,
nas conversas com vizinhas e amigas, durante a internação hospitalar, enfim, em vários
espaços e momentos as mulheres interagem e dialogam sobre o pré-natal.
Esses diálogos se estabelecem por meio da comunicação e das interações cotidianas, e
neste contexto são produzidas e reproduzidas representações sociais. Essas representações
são exteriorizadas pela linguagem e por atitudes que se disseminam na sociedade
influenciando as condutas. Nesta perspectiva, se reconhece as representações sociais,
enquanto sistemas de interpretações que regem nossa relação com o mundo e com os
outros, orientam e organizam as condutas e as comunicações sociais
(3:91)
. Ao considerar
esses aspectos, identificamos o pré-natal como um fenômeno psicossocial entre mulheresmães.
Tendo por base essas premissas iniciais, este estudo objetivou compreender as
representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará; identificar os
elementos e a estrutura das representações sociais sobre o pré-natal entre mulheres-mães
que realizaram o pré-natal no Sistema Único de Saúde (SUS) e analisar as implicações
dessas representações sociais para o agir cuidativo-educativo de enfermagem no pré-natal.
Sua relevância se revela à medida que explica a forma como o pré-natal é representado
pelas mulheres-mães e desvela as implicações dessas representações para o agir cuidativoeducativo em enfermagem; proporciona um repensar das políticas publicas de saúde e
corrobora com a produção do conhecimento nessas áreas.
158
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
MÉTODO
O estudo descritivo foi desenvolvido com base na Teoria das Representações Sociais, no
âmbito da psicologia social, utilizando, a proposta complementar a esta teoria denominada
abordagem estrutural ou teoria do núcleo central (4).
A teoria das representações sociais é uma teoria que se volta aos estudos dos saberes
sociais e construção e transformação desses saberes em relação a diferentes contextos
sociais; objetiva descobrir como os indivíduos podem construir um mundo estável,
previsível, a partir de tal diversidade (5).
A teoria sistematizada por Serge Moscovici pode, eventualmente, ser complementada por
proposições mais específicas, como as da Teoria do Núcleo Central (4). Segundo esta teoria,
as representações sociais se organizam ao redor de um núcleo central, e este elemento
subsidia seu sentido, que é fundamental e inflexível. Ressalta-se ainda a natureza do objeto
representado, o tipo de relação que o grupo mantém com o objeto, e o sistema de valores e
padrões sociais que constituem o ambiente de vida, em sua dimensão objetiva e subjetiva
do indivíduo e do grupo (4).
A abordagem estrutural esclarece duas características das representações sociais, que
aparentemente se mostram contraditórias: as representações sociais são ao mesmo tempo
estáveis, móveis, rígidas e flexíveis e consensuais, mas também marcadas por fortes
diferenças inter-individuais (4).
Os sujeitos da pesquisa foram 113 mulheres-mães, internadas na Fundação Santa Casa de
Misericórdia do Pará ( FSCMPA), selecionadas a partir dos seguintes critérios: a) ser
mulher-mãe gestante ou puérpera; b) se gestante, ter realizado o pré-natal de baixo risco,
de forma completa e regular no SUS, na gestação atual ou na anterior; c) se puérpera, ter
realizado o pré-natal de baixo risco de forma completa e regular no SUS; d) estar internada
na FSCMPA; e) ser maior de dezoito anos; f) não possuir patologia que interfira na
participação na produção de dados g) aceitar participar da pesquisa, assinando o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O local da pesquisa foi a FSCMPA, hospital
159
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
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escola de alta complexidade, referência na área materno-infantil do Estado do Pará, que
atende especificamente à pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).
Empregou-se a Técnica de Evocação Livre de Palavras ( TELP), que consistiu em solicitar
as mulheres-mães dizerem cinco palavras que lhes ocorriam a mente ao ouvirem o termo
indutor pré-natal. Esta técnica permite colocar em evidência o universo semântico do
objeto estudado, assim como a sua dimensão imagética de forma mais rápida e dinâmica
(6)
.
O produto das evocações após a padronização semântica (Software Word) foi organizado
em um corpus (Software Excell). O material foi tratado por meio do Software EVOC
versão 2003, que calculou a freqüência simples de cada palavra evocada, as ordens médias
de evocação de cada palavra e a média das ordens médias de evocação.
A partir desses dados obteve-se o quadro de quatro casas, que corresponde a quatro
quadrantes. No quadrante superior esquerdo se situam os termos verdadeiramente
significativos, constituindo o provável núcleo central da representação. As palavras
localizadas no quadrante superior direito compõem a primeira periferia e as do inferior
esquerdo, a segunda periferia. No quadrante inferior esquerdo estão os elementos da zona
de contraste (6).
RESULTADOS
A análise do corpus formado pelas evocações revelou que em resposta ao termo indutor
“pré-natal”, foram evocadas 607 palavras; a média da ordem de evocações (rang) foi de
3,4; o quadro de quatro casas foi obtido com a freqüência mínima de 6 e a freqüência
intermediária de 2 1. ( Quadro 1).
O.M.E
Freq.
Med.
Núcleo
Central
< 3,4
Termo evocado
Freq.
>21
O.M.E
< 3,4
Criança-bebê
Cuidado
Saúde
Exame-mãe
Consulta
84
57
44
39
29
3,048
2,912
2,286
3,333
3,034
Importante
Prevenção
18
18
3,278
3,111
>= 3,4
Termo evocado
Freq.
≥ 21
O.M.E
>= 3,4
Mãe-gestante
35
4,171>
= 3,4
Gestação-barriga
Acompanhamento
17
13
5,294
4,000
1ª
periferia
2ª
periferia
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Zona de
Contraste
Freq.
< 21
Bom
Vacina
Médico
Amor
Amamentação
Aprendizagem
Precisa-tem-que
Responsabilidade
14
12
12
9
7
7
7
6
3,357
3,333
3,250
1,889
2,714
3,143
2,857
3,333
Orientação
Alimentação
Remédio
Atenção
12
12
9
8
3,417
4,091
3,444
3,750
Quadro 1: Quadro de Quatro Casas obtido do Software EVOC 2003
O provável núcleo central integrou os termos: “criança-bebê” (maior freqüência do
quadrante, 84 e o segundo maior rang 3,048); seguida de “cuidado” (freqüência 57 e rang
2,912); “saúde” (freqüência 44 e rang 2,886); “exame-mãe” (freqüência 39, rang 3,333, o
maior do quadrante) e “consulta” (freqüência 29 e rang 3,034). Na primeira periferia
observou-se um único termo: “mãe-gestante” (freqüência 35, rang 4,71), este termo tem
conexão e fortalece a idéia do núcleo central.
Os elementos da segunda periferia são: “gestação-barriga” (freqüência 17, e o maior rang
do quadrante 5, 294); “acompanhamento” (freqüência 13, rang 4,0); “orientação” (
freqüência 12, rang 3,417); “alimentação” (freqüência 11, rang 4,091); “atenção”
(freqüência 8, rang 3,750); “remédio” ( freqüência 9, rang 3,444).
A zona de contraste é constituída pelos termos: “ importante” (freqüência 18, rang 3,278);
“prevenção” ( freqüência 18, rang 3,11); “bom” (freqüência 14, rang 3,357); “vacina”
(freqüência 12, rang: 3,333); “médico” (freqüência 12, rang 3,250); “amor” (freqüência
9, rang: 1,889); “aprendizagem”
(freqüência
7,
rang:
2,857);
(freqüência 7, rang: 3,143); “precisa tem que”
“amamentação”
(
freqüência
7,
rang:
2,714);
“responsabilidade” (freqüência 6, rang: 3,333).
DISCUSSÃO
De acordo com a Teoria do Núcleo Central, as palavras agrupadas no quadrante superior
esquerdo são aquelas que tiveram as maiores freqüências e foram mais prontamente
evocadas, formando o núcleo central da representação social. Esses elementos caracterizam
a parte mais consensual e estável da representação, assim como a menos sensível a
mudanças em função do contexto externo ou das práticas cotidianas dos sujeitos (4).
Com base na distinção entre propriedades quantitativas (valor simbólico e poder
associativo) e propriedades qualitativas (saliência e conexidade), compreende-se que os
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
elementos do núcleo central simbolizam o objeto representativo e se caracterizam pela
polissemia e capacidade de associar-se a outros termos (4).
O valor simbólico presente nas representações sociais sobre o pré-natal entre as mulheresmães, estabeleceu prioritariamente relações com o termo “criança-bebê”, o qual apresentou
a maior saliência (84) com o maior número de evocações.
O poder associativo encontra-se presente, considerando que há conexidade entre todos os
termos evocados com o termo “criança-bebê”, seguido das expressões, “saúde”, “consulta”
e “exame-mãe” demonstrando que esses elementos são inerentes e constitutivos do prénatal. Há um sentido positivo e pendular, pois emerge tanto a criança-bebê como a mãe.
O núcleo central possui duas funções essenciais: a função-geradora, que constitui e dá
sentido a representação do objeto, por ser elemento criador e transformador da significação
dos outros elementos da representação; a função-organizadora que unifica e estabiliza a
representação, em decorrência de determinar a idéia principal que une os elementos (7).
O termo “criança-bebê” exerce a função-geradora, tendo em vista que cria e pode
transformar a significação dos outros elementos da representação. Cabe destacar que o
valor do núcleo central determina a significação dos outros elementos e deve ser
significativamente mais elevado que os itens periféricos (7).
Os termos: “cuidado”, “saúde”, “exame-mãe” e “consulta”, exercem a função
organizadora, por organizarem os conteúdos da representação, determinando a natureza e
os laços que unem esses elementos ao termo “criança-bebê”. Por isso é possível inferir, que
para as mulheres mães, o pré-natal tem como foco principal a criança-bebê, considerando o
cuidado como forma de promoção à saúde por meio das consultas e da realização de
exames na mãe.
A natureza do objeto e a finalidade da situação do núcleo central poderão ter duas
dimensões:
a dimensão funcional, em que seus elementos estarão voltados para a
realização de tarefas; e a dimensão normativa, comporta as normas e regras que regem o
contexto social, implicando em questões sócio-afetivas e ideológicas, as quais imprimem
valor ao objeto, que privilegiam na representação, os elementos percebidos como inerentes
para a eficácia da ação
(4)
. A dimensão normativa é suscetível de privilegiar os
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
julgamentos, estereótipos e opiniões admitidas pelo sujeito ou grupo no qual ele se insere
(7)
.
Neste estudo a centralidade foi mais funcional que normativa, pois os termos em sua
maioria apontam para o que é mais importante fazer no pré-natal, ou seja, elementos que
refletem as funções do pré-natal; isso pode estar associado a relação que os sujeitos
tiveram com o objeto de estudo.Apesar dessa centralidade global ser funcional, os termos
“criança-bebê”,
“cuidado”, e “saúde”, tanto podem indicar uma dimensão funcional
(enquanto ato), como uma dimensão normativa ( enquanto princípio).
O núcleo central é determinado pelo sistema de valores e normas sociais do sujeito-grupo
(7)
. Neste aspecto, o termo “criança-bebê” foi o mais evocado, esse resultado remete aos
primórdios das políticas públicas de saúde da mulher, em que o foco principal era o
nascimento de crianças saudáveis e não a mulher.
Essas premissas nos remetem ao movimentos de transformação do paradigma dominante,
centrado no bebê, em outro emergente, com foco na mulher. Observam-se no decorrer da
história vários movimentos em prol de um novo paradigma para a saúde da mulher, porém
no que tange o imaginário de algumas mulheres, podemos inferir que o bebê, ainda é o
foco prioritário do pré-natal, tendo em vista a prevenção de doenças e o nascimento
saudável. Nesse sentido, com base nas representações sociais revela-se a necessidade de
ampliar a visão da mulher acerca do pré-natal para além da dimensão do filho (a) para
incluir a dimensão mulher-mãe; desvela-se nesse momento a primeira implicação deste
estudo para o agir cuidativo-educativo em enfermagem.
A evidência desses resultados corrobora com os achados de um estudo que objetivou
compreender a razão pela qual as mulheres aderiram ao pré-natal, o qual revelou a
preocupação com o nascimento de uma criança saudável, fator que remete ao paradigma
dominante e perpassa pela significação dos elementos centrais aqui encontrados (8).
O elemento “cuidado” teve a segunda posição no núcleo central. Vimos com este termo a
possibilidade de pensar um paradigma emergente, com um caráter mais integrador,
holístico e conseqüentemente mais humano, o qual corrobora com movimentos em prol da
humanização do pré-natal, parto, nascimento e puerpério vigentes a mais de uma década
nas políticas de saúde da mulher.
163
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Dentre os dez princípios fundamentais da atenção peri-natal, assinalados pela Organização
Mundial de Saúde, um deles indica que o cuidado na gestação e no parto normal deve ser
integral e levar em conta as necessidades intelectuais, emocionais, sociais e culturais das
mulheres, seus filhos e famílias, e não somente ser um cuidado biológico. Esse cuidado
deve estar centrado nas famílias e ser dirigido para as necessidades não só da mulher e seu
filho, mas do casal; ser apropriado, tendo em conta as diferentes pautas culturais para
permitir lograr seus objetivos
(1)
. Concebe-se dessa forma que o cuidado seja elemento
constituinte do processo de humanização da assistência em saúde.
Na perspectiva do Ministério da Saúde, a humanização diz respeito à adoção de valores de
autonomia e protagonismo dos sujeitos, de co-responsabilidade entre eles, de solidariedade
dos vínculos estabelecidos, de direitos dos usuários e de participação coletiva no processo
de gestão (1).
A humanização centra-se no cuidado individual, valoriza os aspectos femininos e
masculinos de forma igualitária, e favorece a liberdade de expressão e a participação da
cliente. Por isso, não é um principio simples, mas requer mudanças de atitude na
abordagem com a cliente. O foco do cuidado passa ser o ser humano, mais especificamente
a mulher
(9)
. A humanização do nascimento origina-se na concepção, no entanto é
construída no pré-natal, durante as consultas. Dessa forma, a atenção pré-natal implica um
acompanhamento minucioso do ciclo gestacional, com envolvimento, compromisso,
empatia e respeito à clientela, e não se restringe apenas aos aspectos biológicos (9).
Concebe-se que há necessidade de se estabelecer novas bases para o processo de cuidar em
saúde, a partir da compreensão das necessidades representadas, negociadas entre os
sujeitos individuais e coletivos e os profissionais nas instituições de saúde
(6)
. Nesse
sentido a teoria das representações sociais, vem de encontro a essas necessidades, por ser
uma teoria sobre os saberes sociais, que se dirige à construção e transformação desses
saberes em relação a diferentes contextos e sujeitos (5).
Um terceiro elemento do provável núcleo central é o termo “saúde”. As concepções de
saúde e doença são reveladoras e determinantes de necessidade constituídas nos grupos
sociais
(6)
. A concepção de doença, incorporada por parcelas da sociedade, é aquela
164
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
localizada no corpo, associada à disfunção, com forte viés biomédico. A saúde, aqui
revelada, pode equivaler à ausência de ruídos corporais, ao silêncio biológico, à plenitude e
bom funcionamento de todos os órgãos. “A perspectiva biomédica reduz a saúde e a
doença ao contorno biológico individual, separando o sujeito do seu entorno social e
contexto integral de vida” (6: 113).
Para as mulheres-mães a saúde deste estudo pode revelar-se enquanto bem estar físico,
emocional, social, cultural e espiritual e não somente como a ausência da doença. Neste
aspecto, a promoção desta determina o exercício da cidadania em um processo educativo
permanente de construção e valorização de saberes.
O termo “exame-mãe”, organizado em torno do provável núcleo central, mostra a
consideração da importância dos exames na mãe para o controle e detecção precoce de
doenças no pré-natal. Podemos inferir pela análise do termo que para as mulheres-mães o
pré-natal relaciona-se com a realização de exames.
O termo “consulta” também
organizado em torno do provável do núcleo central, remete às normas do Ministério da
Saúde, indicam que as consultas de pré-natal poderão ser realizadas na unidade de saúde
ou durante visitas domiciliares
(1)
.
O calendário de atendimento pré-natal deve ser
programado em função dos períodos gestacionais que determinam maior risco materno e
peri-natal.”
(1:11)
. Este termo mostra a importância das consultas no pré-natal, devido a
realização de exames como forma de controle e detecção precoce de doenças.
O poder associativo entre os termos do núcleo central: “criança-bebê”, “cuidado”, “saúde”,
“exame- mãe” e “consulta” por agruparem tanto elementos funcionais, quanto normativos,
constituem uma primeira categoria, que denominamos bio-cuidativa.
O termo “mãe-gestante” foi o único termo que constituiu a primeira periferia. Os
elementos periféricos são mais importantes pela sua freqüência elevada, porém são
evocados mais tardiamente. Esses elementos desvelam a conexidade com o valor simbólico
das representações sociais e com o objeto representado. Esse componente, busca fortalecer
a ligação entre o pré-natal, a mulher e a gestação. Visto que todos os elementos do núcleo
central estão relacionados ao elemento da primeira periferia “mãe-gestante”. Este termo
complementa a categoria bio-cuidativa.
165
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Na segunda periferia os conteúdos evocados revelaram o poder associativo das
representações das mulheres-mães com a realidade vivenciada. Dessa forma, o termo
“gestação-barriga” remete ao anseio das mulheres-mães por uma boa gestação, e a relação
desta com o cuidado e a saúde, o que reforça a idéia do núcleo central e da primeira
periferia.
O termo
“acompanhamento” sintetizou a expressão
“acompanhamento-médico”,
possibilitando inferir que para os sujeitos, o acompanhamento no pré-natal, tem como foco
o profissional médico, desconsiderando por sua vez a atuação de outros profissionais. Esse
elemento da representação social demonstra a necessidade da propagação entre as
mulheres-mães do dispositivo consulta de enfermagem como espaço de acompanhamento e
cuidado no pré-natal; desvela-se assim a segunda implicação do estudo das representações
para o agir cuidativo-educativo em enfermagem.
O termo “orientação” é um dos elementos que compõe a educação em saúde, e revela uma
perspectiva educativa no pré-natal. “A educação é fundamentada em princípios filosóficos
e estruturada de acordo com os momentos históricos vivenciados pela sociedade, podendo
gerar profundas mudanças no processo de ser e de viver dos indivíduos. É, portanto uma
dimensão do processo de cuidar”
(9:10)
, além de ser um processo ético, estético, criativo,
que possibilita ao ser humano, no âmbito individual e coletivo, o desenvolvimento de suas
potencialidades, podendo adquirir autonomia e decidir sobre seus objetivos e ações,
tornando-se sujeito das situações vivenciadas (9).
A partir dessas considerações afirmamos que a educação é um dos componentes no
cuidado com a gestante, parturiente, puérpera e família, seja no ambulatório, hospital ou
domicílio. É a oportunidade para a promoção da saúde e prevenção de doenças. É o suporte
para a compreensão do processo de gestação e dos riscos, podendo ser um instrumento de
capacitação e de socialização de conhecimentos (9).
A educação em saúde no pré-natal é guiada pelo Ministério da Saúde, que estabelece os
assuntos que devem ser abordados pelos profissionais durante o pré-natal, determinando
em contrapartida o poder do conhecimento científico. Acredita-se que os assuntos
previamente estabelecidos, não atendem as especificidades regionais, culturais e
individuais das mulheres-mães no pré-natal, considerando que essas mulheres possuem
166
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
crenças e saberes locais que guiam as suas condutas e práticas, os quais precisam ser
incorporados.
As representações sociais oferecem padrões de conhecimentos reconhecimento,
orientações e condutas que transformam ambientes sociais em lares, estas são solidificadas
em práticas culturais e em instituições, e fornecem os recursos para a construção das
identidades sociais e para a reprodução e renovação de sociedades (10).
O desconhecimento das crenças e saberes das mulheres-mães por parte dos profissionais no
pré-natal pode resultar na falta de efetividade da educação em saúde e ser uma das causas
da não adesão de mulheres-mães à adequação de alguns hábitos e costumes, que se não
transformados podem ser nocivos saúde.
Quando situações como essas acontecem, pode-se concluir que a interação e a negociação
entre os conhecimentos, não ocorreu, logo o processo ensino- aprendizagem não se
concretizou, visto que a transformação de uma conduta ou prática depende do re-pensar e
do agir dessas mulheres-mães, considerando as suas representações.
Nessa perspectiva, a educação em saúde deve ser fundamentada nas representações sociais
como uma pedagogia que se organiza em torno da idéia de que a aprendizagem se dá
através da interação entre a representação social e o conhecimento científico (10).
A educação e a saúde constituem campos de conhecimento e de práticas independentes,
ainda que profundamente interligados. Muitas vezes a educação em saúde é entendida
como transmissão de conhecimento acerca de conteúdos pré-definidos pelos profissionais
de saúde, modelo que, por vezes não atende satisfatoriamente as necessidades do público.
Isso ocorre porque para educar alguém, é preciso ir em direção ao educando, oferecendo
conteúdos e práticas que estejam em consonância com suas atividades. Quando há um
trabalho educativo a ser feito que avança para o campo da informação, deve-se integrar a
consideração de valores, costumes, modelos e símbolos sociais que levam a formas
específicas de condutas e práticas (11:20).
Considera-se que o pré-natal deve ser um espaço de promoção e prevenção da saúde que
pode ser potencializado por meio da educação em saúde, enquanto elemento do cuidado.
Neste sentido, informações sobre as diferentes vivências devem ser compartilhadas entre as
167
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
mulheres e os profissionais de saúde, essa possibilidade de intercâmbio de experiências e
conhecimentos é considerada a melhor forma de promover a compreensão do processo de
gestação (1).
Concebe-se a educação em saúde no pré-natal essencial para que a mulher desenvolva-se
com autonomia e obtenha empoderamento; conheça seus direitos de cidadania;
compreenda as influências de gênero no processo de gestar e parir; identifique a gestação
como fenômeno fisiológico, sujeito a riscos e intercorrências; compreenda a importância
de realizar o pré-natal e identifique-o enquanto espaço de aprendizagem que oportuniza a
mudança de práticas e condutas, resultando na adequação de novos hábitos e cuidados
durante o ciclo gravídico e puerperal.
Compreende-se que o termo “orientação”, de forma isolada, não contempla os objetivos da
educação em saúde propostos para o pré-natal. Fato que possibilita a inferência de que nas
representações sociais das mulheres-mães deste estudo, há uma consideração restrita da
educação em saúde no pré-natal sugerindo a ampliação dessa visão; revela-se aqui a
terceira implicação das representações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem.
“Uma educação em saúde ampliada inclui políticas públicas, ambientes apropriados e
reorientação dos serviços de saúde para além dos tratamentos clínicos e curativos, assim
como propostas pedagógicas libertadoras, comprometidas com o desenvolvimento da
solidariedade e da cidadania, orientando-se para ações cuja essência está na melhoria da
qualidade de vida e na promoção do homem” (11:19) .
O termo “alimentação” remete aos preceitos do Ministério da Saúde, ao descrever que
durante o pré-natal são previstos a avaliação e monitoramento do estado nutricional da
gestante, além da prevenção e o tratamento dos distúrbios nutricionais. A alimentação
adequada e balanceada na gestação é requisito essencial para a saúde da mãe e
desenvolvimento fetal adequado de acordo com a idade gestacional (1). É desta forma que o
conhecimento reificado contribui para a gênese das Representações Sociais.
O termo “remédio” também corrobora com os preceitos do Ministério da Saúde, quando
destaca que o pré-natal, objetiva o tratamento das intercorrências da gestação, com oferta
das medicações padronizadas para as diversas patologias previstas durante a gestação (1). O
termo “atenção” é destacado pelo Ministério da Saúde, quando ressalta que uma atenção
168
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
pré-natal e puerperal de qualidade e humanizada é fundamental para a saúde materna e
neonatal. A atenção à mulher na gravidez e no pós-parto deve incluir ações de prevenção e
promoção da saúde, além de diagnóstico e tratamento adequado dos problemas que
ocorrem neste período (1).
Dentre os princípios e diretrizes do pré-natal, o Ministério da Saúde, determina a garantia
de recursos humanos, físicos, materiais e técnicos necessários à atenção pré-natal,
assistência ao parto, ao recém-nascido e atenção puerperal, com o estabelecimento de
critérios mínimos para o funcionamento das maternidades e unidades de saúde (1). Acreditase que a atenção considerada pelas mulheres-mães, direciona-se ao diálogo estabelecido na
relação interpessoal entre mulheres e profissionais, pois este termo sintetizou a expressão
“atenção profissional”, possibilitando inferir que essa atenção deve ser pautada na empatia,
ética, credibilidade e abertura as necessidades das mulheres.
Neste aspecto, a comunicação entre diferentes saberes não é apenas possível, é necessária
ao desenvolvimento humano. Os encontros entre sistemas de saber dependem da maneira
como diferentes conhecimentos se comunicam e até que ponto a constituição de um espaço
intersubjetivo de comunicação permite o reconhecimento ou negação do conhecimento do
outro. O reconhecimento ou negação do outro define os encontros como dialógicos ou não
dialógicos (12).
O diálogo franco e a capacidade de percepção daquele que acompanha o pré-natal, são
condições básicas para que o saber em saúde seja colocado à disposição da mulher e da
família, atores principais da gestação e do parto. Escutar sem julgamentos e sem
preconceitos, permitindo à mulher falar de sua intimidade com segurança, fortalece a
gestante no seu caminho até o parto e a ajuda na construção do conhecimento sobre o
processo de nascimento e sobre si mesma, levando a um nascimento tranqüilo e saudável
(1)
.
Sobre os termos evocados na segunda periferia, vimos que ressaltam a importância do
processo gestacional e da orientação. Ressalta-se o acompanhamento à mulher e o
incentivo à alimentação adequada, como ações fundamentais para a saúde da mãe e
concepto, além do fornecimento de remédios nas intercorrências e necessidades, fatores
169
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
que refletem a atenção vivenciada no pré-natal. Nesse sentido, reforçou-se a categoria biocuidativa e desvelou-se uma segunda categoria, a inter-relacional.
No quadrante inferior esquerdo, apesar das baixas freqüências, os elementos são
importantes pela ordem de importância atribuída pelos sujeitos. Observam-se elementos
que reforçam a primeira periferia e elementos que representam a heterogeneidade das
representações no grupo. O termo “prevenção” indica tanto uma associação com a
categoria bio-cuidativa (núcleo-central e primeira periferia), como com a categoria interrelacional (segunda periferia), e amplia a necessidade das ações de prevenção estipuladas
pelas políticas de atenção à saúde da mulher.
Os termos da zona de contraste defendem o núcleo central, o que reforça o sentido de
fazer o pré-natal, remetendo ao cotidiano das mulheres-mães, por isso o destaque à
necessidade de melhoria do serviço. Os termos apresentam conexidade entre si e possuem
sentido valorativo, possibilitando inferir que para as mulheres-mães “precisa- tem- que” se
fazer o pré-natal, devido a sua importância, pois além de ser um ato de amor é ação de
responsabilidade; revela-se uma terceira categoria, a emocional-valorativa. Nesta
perspectiva, a representação social além de ser uma estrutura que permite a construção do
conhecimento sobre o objeto- mundo, seu desenvolvimento também está enredado na
dinâmica afetiva e social das relações Eu e Outro (12).
O termo “médico” indica a associação com todas as categorias e caracteriza representações
negativas da ação desse profissional, bem como do dimensionamento nos serviços, visto
que este termo sintetizou expressões como: “mais médicos para atender” e “descaso do
médico”. A expressão “vacina” destaca a ação enquanto procedimento e reforça a categoria
bio-cuidativo do pré-natal.
O termo amamentação retrata uma preocupação da mulher com o ato de amamentar. Nesse
sentido, o Ministério da Saúde afirma que o contexto de cada gestação é determinante no
processo de amamentação e nos cuidados com a criança e com a mulher. Um contexto
favorável fortalece os vínculos familiares, condição básica para o desenvolvimento
saudável do ser humano. Podemos inferir que as mulheres-mães compreendem a
importância do pré-natal para o preparo à amamentação. Esses elementos remetem e
reforçam a categoria bio-cuidativa do pré-natal.
170
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
A formação das representações sociais acontece mediante dois processos sócio-cognitivos:
ancoragem e objetivação. O primeiro integra cognitivamente o objeto representado ao
sistema de pensamento social já existente e comum para o sujeito, transformando o não
familiar em familiar, enquanto o segundo torna real e dá forma ao conhecimento que se
tem acerca do objeto representado (5).
Ao se propor um articulação entre a objetivação e o núcleo central, e a ancoragem e o
sistema periférico, concebe-se que o núcleo central deriva do processo de objetivação e a
ancoragem origina o sistema periférico
(13)
. A objetivação pode ser definida como a
transformação de uma idéia, de um conceito, ou de uma opinião em algo concreto,
cristaliza-se a partir de um processo figurativo e social e passa a constituir o núcleo central.
A ancoragem desempenha um papel importante nos estudos das representações sociais e do
desenvolvimento da consciência, uma vez que se constitui na parte operacional do núcleo
central e em sua concretização ( 13).
A partir dessa proposta identificamos que as representações sociais sobre pré-natal entre as
mulheres-mães deste estudo, são objetivadas na categoria bio-cuidativa, revelando uma
significação pendular relacionada ao paradigma dominante ao paradigma emergente; o
núcleo central é formado pelo sistema de valores e normas sociais que constituem o
conjunto de idéias próprias do grupo, que gera a significação da representação,
materializando o objeto da representação. A ancoragem que ocorre nas zonas periféricas,
sustenta-se nas categorias bio-cuidativa, inter-relacional e emocional-valorativa, revelando
uma experiência concreta, plural e multidimensional com o pré-natal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As evidências deste estudo demonstram que o senso comum das mulheres-mães corrobora
com o conhecimento científico ou reificado acerca do pré-natal. Constatou-se uma
significação guiada pelo paradigma dominante por um outro emergente; as mulheres-mães
revelaram representações sociais sobre o pré-natal centradas na criança e na dimensão
biomédica, ao mesmo tempo que apontam a mãe, como foco para saúde do binômio mãe e
filho.
Apesar da predominância da dimensão biomédica sustentada pelos termos da categoria
bio-cuidativa no provável núcleo central, e reforçada nas periferias, evidenciou-se
171
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
elementos da dimensão psicossocial do pré-natal presentes nas zonas periféricas e
reveladas nas categorias inter-relacional e emocional-valorativa.
Essas evidências nos levam a refletir de forma crítica sobre a denominação da estratégia do
Governo Federal- Rede Cegonha, cuja denominação reforça através da mídia, o imaginário
das mulheres-mães para o foco do pré-natal ser a criança, fazendo um movimento contrário
às tendências e necessidades contemporâneas da saúde da mulher.
No que tange a dimensão histórica e cultural do pré-natal, influenciada pelas questões de
gênero, nota-se que ao mesmo tempo em que o pré-natal constitui direito à cidadania,
revela-se imbricado ideologias políticas e capitalistas do serviço. Pode-se inferir que há
um desconhecimento pelas mulheres-mães sobre o pré-natal enquanto espaço de cidadania
e empoderamento, devido não haver um único termo evocado relacionado a essas questões,
fato que possibilita recomendar a divulgação do pré-natal enquanto ação de direito e
exercício de cidadania da mulher.
As mulheres-mães, sujeitos do pré-natal, interagem no contexto social, influenciando
pessoas por meio de suas representações; a mídia é responsável pela produção e
reprodução de representações sociais nos meios em que circula. Desta forma, podemos
inferir que os termos organizados no provável núcleo central das representações das
mulheres deste estudo, que remetem a dimensão bio-cuidativa do pré-natal, podem não
compor as representações sociais de outras mulheres, que ao representarem a gestação
enquanto um fenômeno exclusivamente natural, se sentem saudáveis, por isso não realizam
o pré-natal. Esta hipótese remete a não adesão de algumas mulheres ao pré-natal, situação
grave que contribui para elevados índices de mortalidade materna e perinatal. Neste
sentido, recomenda-se ampla divulgação na mídia das dimensões, importância e objetivos
do pré-natal.
Tendo em vista as implicações das representações sociais das mulheres deste estudo para o
agir cuidativo- educativo em enfermagem, enquanto primeira implicação, há que se
ampliar a noção do pré-natal para além do foco no filho para incluir a mãe como foco. A
segunda implicação é a necessidade da propagação entre mulheres-mães do dispositivo
“consulta de enfermagem” enquanto espaço para o agir cuidativo-educativo em
enfermagem no pré-natal. A terceira implicação é a necessidade de ampliar a educação em
172
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
saúde enquanto processo de construção, integração e valorização de todas as formas de
saberes.
Cabe as enfermeiras (os) aperfeiçoar a educação em saúde a partir das necessidades e
representações dessas mulheres-mães. Nesta perspectiva, dar voz às mulheres-mães é a
alternativa para o re-pensar das condutas e práticas. Acredita-se que o profissional pode
empoderar a mulher para que participe de forma ativa e seja protagonista do seu ciclogravídico puerperal, pode também corroborar com a qualidade do pré-natal e contribuir
para a diminuição da mortalidade materna e infantil por causas preveníveis.
Recomenda-se: reorientação dos serviços da atenção à saúde para além do foco nos
tratamentos clínicos; educação permanente para os profissionais do pré-natal; inserção das
enfermeiras (os) obstetras no pré-natal; utilização da Sistematização da Assistência de
Enfermagem (SAE) no pré-natal; dimensionamento adequado dos profissionais de
enfermagem e das ações que estes realizam com vistas à qualidade da assistência;
implantação da educação em saúde no pré-natal com a proposta metodológica da educação
pelos pares, uma estratégia que valoriza as experiências vividas por cada indivíduo por
meio de uma prática participativa e construtiva.
Enfim, para as instituições formadoras recomenda-se formar profissionais com visão para
além da biomédica, considerando a produção do conhecimento sobre o pré-natal, sugeremse produções científicas sobre representações sociais na perspectiva dos profissionais que
atuam no pré-natal ou de forma pareada entre mulheres e profissionais.
REFERENCIAS
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174
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mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
CAPÍTULO 8
PONTOS DE CHEGADA
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CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
8. Pontos de Chegada
Continuamos em busca das representações sociais sobre pré-natal
entre mulheres-mães e quanto ao primeiro objetivo concluímos que as
representações sociais têm um sentido positivo e revelam uma transição
paradigmática. Constatamos que o senso comum das mulheres-mães vai ao
encontro do conhecimento científico ou reifcado acerca do pré-natal, pois a
significação guiada pelo paradigma dominante é marcada também pelo
emergente; as mulheres-mães revelaram representações sociais sobre pré-natal
centradas na criança ao mesmo tempo em que aponta a mãe como um foco para
a saúde do binômio mãe- filho.
Ao descrever os elementos e a estrutura das representações sociais
sobre pré-natal, concluímos haver uma predominância da dimensão biomédica
sustentada pelos termos da categoria bio-cuidativa marcante no provável núcleo
central, a presença de elementos da dimensão psicossocial do pré-natal no
sistema periférico; reveladas nas categorias inter-relacional e emocionalvalorativa.
Estas evidências nos levam refletir de forma crítica sobre as bases do
programa do Governo Federal- Rede cegonha, cuja denominação reforça através
da mídia, o imaginário das mulheres-mães para o foco do pré-natal ser a criança,
fazendo um movimento contrário às tendências e necessidades contemporâneas
da saúde da mulher.
No que tange a dimensão histórica e cultural do pré-natal, influenciada
pelas questões de gênero, nota-se que ao mesmo tempo em que o pré-natal
constitui direito à cidadania, revela-se imbricado em ideologias políticas e
capitalistas do serviço. Pode-se inferir que há um desconhecimento das mulheresmães sobre o pré-natal enquanto espaço de cidadania e empoderamento, devido
não haver um único termo evocado relacionado a essas questões, o que
possibilita recomendar a divulgação do pré-natal enquanto ação de direito e
exercício de cidadania da mulher.
As mulheres-mães, sujeitos do pré-natal, interagem no contexto social,
influenciando pessoas por meio de suas representações; a mídia é responsável
176
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
pela produção e reprodução de representações sociais nos meios em que circula.
Desta forma, podemos inferir que os termos organizados no provável núcleo
central das representações das mulheres deste estudo, que remetem a dimensão
bio-cuidativa do pré-natal, podem não compor as representações sociais de
outras mulheres, que ao representarem a gestação enquanto um fenômeno
exclusivamente natural, se sentem saudáveis, e por isso não realizam o pré-natal.
Esta hipótese remete a não adesão de algumas mulheres ao pré-natal, situação
grave que contribui para os elevados índices de mortalidade materna e perinatal.
Neste sentido, recomenda-se ampla divulgação na mídia das dimensões,
importância e objetivos do pré-natal.
Ao analisar as implicações dessas representações para o agir
cuidativo-educativo em enfermagem, identificamos três principais. A primeira
implicação é a necessidade de se ampliar a noção do pré-natal para além do foco
no filho para incluir a mãe como foco. A segunda implicação é a propagação entre
as mulheres-mães do dispositivo “consulta de enfermagem” enquanto espaço
para o agir cuidativo-educativo em enfermagem no pré-natal. A terceira
implicação é a necessidade de ampliar a educação em saúde enquanto processo
de construção, integração e valorização de todas as formas de saberes.
Ao longo desse percurso de buscas e descobertas, pudemos fazer
mais algumas evidências significativas. Na revisão integrativa destaca-se a
importância do pré-natal como processo de prevenção da doença e promoção à
saúde da mulher, devido a relação da qualidade do pré-natal com a mortalidade
materna e neonatal. Ressaltamos, que o pré-natal, é um momento impar para
educação em saúde, visando desenvolver o conhecimento e autonomia da mulher
para o cuidado de si e do bebê durante o ciclo gravídico puerperal, conforme as
necessidades evidenciadas. Em contrapartida demonstra-se a necessidade de
educação permanente do profissional, visto que este é um veículo para o
conhecimento, empoderamento e autonomia da mulher.
Cabe as enfermeiras (os) aperfeiçoar a educação em saúde à partir
das necessidades e representações das mulheres-mães, nessa perspectiva, dar
voz às mulheres-mães é uma alternativa para se re-pensar condutas e práticas.
Acredita-se que o profissional pode empoderar a mulher para esta participe de
177
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
forma ativa e seja protagonista do seu ciclo-gravídico puerperal e pode também
corroborar com a qualidade do pré-natal; contribuindo para a diminuição da
mortalidade materna e infantil por causas preveníveis.
Recomenda-se assim: reorientação dos serviços de atenção à saúde
da mulher para além do foco nos tratamentos clínicos; educação permanente para
os profissionais do pré-natal; inserção das enfermeiras (os) obstetras no pré-natal;
utilização da Sistematização da Assistência de Enfermagem ( SAE) no pré-natal;
dimensionamento adequado dos profissionais de enfermagem e das ações que
estes realizam, com vistas à qualidade da assistência; implantação da educação
em saúde no pré-natal com a proposta metodológica da educação pelos pares,
uma estratégia que valoriza as experiências vividas pelos indivíduos por meio de
uma prática participativa e construtiva.
Enfim,
para
as
instituições
formadoras
recomenda-se
formar
profissionais com uma visão para além da biomédica considerando a produção de
conhecimento sobre pré-natal. Sugerem-se também produções científicas com
base nas representações sociais na perspectiva dos profissionais que atuam no
pré-natal ou de forma pareada entre mulheres e profissionais.
Concebemos que as representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães
oferecem
padrões
de
conhecimentos,
reconhecimentos,
orientações e condutas que podem transformam ambientes sociais em lares.
Estas representações sociais quando solidificadas em práticas culturais e em
instituições fornecem os recursos para a construção das identidades sociais e
para a reprodução e renovação da sociedade.
178
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
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APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
ESCOLA DE ENFERMAGEM MAGALHÃES BARATA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
MESTRADO ASSOCIADO UEPA/UFAM
TÍTULO: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE PRÉ-NATAL ENTRE MULHERES-MÃES DO
PARÁ: IMPLICAÇÕES PARA O CUIDADO DE ENFERMAGEM
O objetivo do presente estudo é caracterizar as representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará; descrever os elementos e a estrutura das representações sociais sobre
pré-natal e analisar quais são as implicações dessas representações sociais para o cuidado de
enfermagem.
Na pesquisa serão aplicados dois formulários: o perfil sócio-demográfico das mulheres-mães,
e o segundo, da técnica projetiva de livre associação de palavras. A técnica projetiva de livre
associação de palavras consiste na emissão de palavra (termo indutor) pelo pesquisador, e como
resposta, as autoras sociais deverão evocar cinco palavras que venham à mente após a escuta do
termo indutor, que nesse estudo será: “pré-natal”. Após a descrição das palavras, solicitaremos
que as mulheres-mães as organizem por ordem de importância, e então, indiquem se as palavras
são positivas, negativas ou neutras.
O estudo oferece riscos mínimos às participantes, pois as informações pessoais podem ser
expostas, causando eventuais constrangimentos. Na tentativa de evitá-los será mantido sigilo de
todos os dados coletados.
É garantida às participantes, a liberdade de deixar de participar do estudo, sem qualquer
prejuízo, e o direito de manter-se informada a respeito dos resultados parciais da pesquisa
Não há despesas pessoais para a participante em qualquer fase do estudo. Também não
haverá nenhum pagamento por sua participação. No entanto, a pesquisa beneficiará as mulheresmães que residem no Pará, na medida em que os dados poderão ser fornecidos para o
aperfeiçoamento do planejamento e execução de ações sobre Pré- Natal.
A pesquisadora responsável é a Mestranda em Enfermagem, Enfermeira e Professora Márcia
Simão carneiro, CPF: 327618.302.10, COREN: 114800, Telefone (91) 81883532, e sua
Orientadora a Professora. Dra. Elizabeth Teixeira. Telefone (91) 99828258, ambas encontradas na
Universidade do Estado do Pará (UEPA), Escola de Enfermagem Magalhães Barata. Campos IV.
OBS: A proposta do estudo foi analisada no Comitê de Ética da Santa Casa no dia 25 de
outubro de 2011, protocolo n° 135/11- CEP, sob a responsabilidade de Márcia Simão Carneiro,
obtendo aprovação com autorização para desenvolvê-la na Instituição.
Profª. Dra. Elizabeth Teixeira
Orientadora
Declaro que compreendi as informações que li, me sinto esclarecido sobre o conteúdo da
pesquisa, assim como os seus riscos e benefícios e a garantia de confidencialidade. Declaro ainda
que por minha livre vontade, aceito participar da pesquisa operando com a coleta de dados,
podendo retirar meu consentimento a qualquer momento, sem necessidade de justificar o motivo
da desistência.
Belém ____ de _____________de _______
__________________________________________________
Assinatura do participante da pesquisa
__________________________________________
Mestranda e Enfermeira
Márcia Simão Carneiro
COREN:114800
Pesquisadora responsável
187
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO SÓCIO DEMOGRÁFICO PARA
CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
ESCOLA DE ENFERMAGEM MAGALHÃES BARATA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
MESTRADO ASSOCIADO UEPA/UFAM
APENDICE A - Perfil sócio-demográfico de mulheres-mães
1-
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Iniciais:_________________ Denominação na Pesquisa:_______________
Data do nascimento:____/_____/_____
Idade: ( ) 12- 17 ( ) 18-23
( ) 24- 29
( ) 30- 35
( ) 36-41
Naturalidade______________________
Cor: ( B/P/PD/A/I)__________________
Religião:_________________________
Endereço:________________________
Bairro:_____________________________ Cidade:_________________________
Tel.:_____________________________
2-
PERFIL ECONÔMICO
Atualmente Trabalha
( ) Sim ( ) Não
Em que?_______________________________
Há quanto tempo?________________________
Outra fonte de renda:
( ) pensão
( ) aposentadoria
(
) outros
Quem mais trabalha em sua casa:_____________________________________
Renda própria:____________________________________________________
( ) até 1 sm ( ) de 1 a 2 sm ( ) de 2 a 5 sm (
) mais de 5 sm
Renda familiar:____________________________________________________
(
) até 1 sm (
) de 1 a 2 sm (
) de 2 a 5 sm (
) mais de 5 sm
Renda familiar total:________________________________________________
3-
SITUAÇÃO DE MORADIA/ ACESSO AO SERVIÇO DE SAÚDE
Tipo de Moradia: (
(
) Casa
(
) Próprio (
) Apartamento
) Alugado
(
(
) Sítio
) cedido
Mora com quem? (
) Com o marido ou companheiro (
) Com a família (
especifique_________________________________________________________
Quantas pessoas moram na casa:_______ Nª de cômodos:___________________
Há serviço de saúde próximo à residência? ( ) Sim ( ) Não
Qual:______________________________________________________________
A residência está inserida em equipe de ESF/ ACS? (
) Sim ( ) Não
Alguém na casa tem transporte próprio? ( ) Sim ( ) Não
Quem?____________
Há transporte coletivo de fácil acesso? ( ) Sim ( ) Não.
4-
COMPOSIÇÃO FAMILIAR
Estado Civil: (
) Casada (
) Solteira (
) Separada (
) União estável
) Outro
188
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Filhos? (
) Sim (
) Não Quantos?________________________________
Você é chefe de sua família? ( ) Sim (
) Não (
) parcialmente
5-
SITUAÇÃO EDUCACIONAL E CULTURAL
(
(
6-
) Analfabeta
(
) 2ª grau incompleto (
) 1ª grau incompleto (
) 3ª grau incompleto (
) 1ª grau completo
) 3ª grau completo
HISTÓRIA OBSTÉTRICA
Quantas vezes você engravidou? _______________________________
Quanto tempo faz a última gestação?____________________________
Quantos partos?_____________________________________________
Tipos de parto (
) normal, ( ) cesárea, (
) fórceps
Teve algum parto prematuro? ( ) sim ( ) não
Teve algum parto gemelar? (
) sim ( ) não
Os partos foram realizados em casa ou no hospital? Sim (
) casa
(
) hospital. Teve
aborto? (
) sim,
(
) não (
) espontâneo, (
) provocados,
Teve intercorrências na gestação como pressão alta, rotura prematura de bolsa, placenta prévia,
sangramentos, ameaça de partos prematuros etc..
(
) sim, (
) Não
Quais?____________
Em
qual
das
gestações
as
anteriores
ou
a
última?___________________________
Filhos nascidos mortos?
(
) sim
(
) não
Filhos vivos nascidos vivos? (
) sim (
) não
Filhos que nasceram e com 7 dias morreram?( ) sim ( ) não
Filho internado em UTI ao nascer
( ) sim ( ) não
Algum filho com problema de saúde desde o nascimento? ( ) sim ( ) não
De acordo com o número de gestações, quantas vezes você realizou pré-natal no serviço público?
(
) 1-2
( ) 2-3 ( ) 4-5
outros: (
)
Na última gestação, realizou o pré-natal com quantas consultas (
) 2-4
(
) 5-6
(
) mais de 6
Local do pré-natal? (
) UBS (
) PSF
(
) Referência, qual? ______________,
município de realização do pré-natal?_______________________
Quais os assuntos e informações que você gostaria de ter tido ou ter conversado com os
enfermeiros
e
médicos
durante
o
pré-natal?
_____________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
________
Na sua opinião o que poderia ser feito para melhorar o pré-natal?
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
__________
189
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
APÊNDICE C – FORMULÁRIO DE COLETA DE EVOCAÇÃO LIVRE DE
PALAVAS
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
ESCOLA DE ENFERMAGEM MAGALHÃES BARATA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
MESTRADO ASSOCIADO UEPA/UFAM
APÊNDICE B - FORMULÁRIO DE EVOCAÇÃO LIVRE DE PALAVRAS
A)
Escreva abaixo, no mínimo, cinco palavras que lhe vem a mente quando você
ouve a expressão:
“PRÉ-NATAL”
Ordem de importância
+/ - / n
(
(
(
(
(
) ___________________________________________________
) ___________________________________________________
) ___________________________________________________
) ___________________________________________________
) ___________________________________________________
Agora eu gostaria que você colocasse esses termos em ordem de importância.
Destes termos que você citou, quais, você considera o mais importante? Depois
enumere na ordem de importância de 1 a 5.
Em seguida diga se a palavra é positiva (+), negativa ( -), ou neutra ( 0)
_____________
Este instrumento é uma adaptação ao modelo de evocação do Projeto de Pesquisa: “As
transformações do cuidado de saúde e enfermagem em tempo de AIDS, Representações Sociais
e memórias de enfermeiros e profissionais de saúde no Brasil”
190
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
APÊNDICE D – ARQUIVO SÍNTESE OBTIDO POR MEIO DO SOFTWARE
EVOC 2003
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mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
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mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
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mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
194
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mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
ANEXOS
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mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
196
CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre
mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo
em enfermagem.
Universidade do Estado do Pará
Centro de Ciências Biológicas e da Saúde
Escola de Enfermagem Magalhães Barata
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem
Mestrado Associado UEPA/UFAM
Av. José Bonifácio, 1289 – São Brás
66063-022 Belém- PA
www.uepa.br
197
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