LEITURA E LITERATURA: FORMANDO LEITORES CRÍTICOS E REFLEXIVOS.
Ana Carolina Pereira; Gislaine Ciumara de Oliveira; Renata Junqueira de Souza
(orientadora). CELLIJ, Faculdade de Ciências e Tecnologia/UNESP/Presidente
Prudente. Núcleo de Ensino.
[email protected], [email protected], [email protected].
Resumo: O projeto “Produção de texto do professor, produção de texto do aluno: processos de
formação continuada”, iniciado em 2004 é desenvolvido em uma escola de Presidente Prudente. O
objetivo principal é discutir as concepções de leitura e produção de texto manifestadas no ambiente
escolar. O trabalho é desenvolvido com os discentes e docentes das séries iniciais e pré-escola. São
atividades preparadas para os docentes cujo objetivo principal é discutir as concepções de leitura e
produção de texto, orientar uma reflexão sobre as práticas educativas dos professores, e disseminar
a metodologia de gráficos organizadores (Pinel, 2004) para o trabalho com produção de textos
realizado pelas bolsistas do projeto. Estas envolvem processos prévios: como seleção de contos;
estudo de técnicas e planejamento de atividades. Os resultados do projeto em andamento mostram
uma escola democrática, a formação de alunos e professores leitores, uma gradual melhora no texto
destes sujeitos e a formação de uma comunidade de leitores (Hepler, 2000).
Palavras chaves: leitura, produção de textos, formação continuada, letramento literário.
Introdução e justificativa
A leitura, as práticas e as competências leitoras têm ocupado espaço
considerável na educação e na mídia brasileira. Em 2003, o Brasil obteve
desempenho insatisfatório em duas grandes pesquisas: uma de âmbito nacional Instituto Paulo Montenegro - divulgou que 72% dos jovens são analfabetos
funcionais, ou seja, não sabem ler e escrever. Em outra pesquisa, internacional, o
PISA - Programa Internacional para Avaliação de Estudantes, o país ocupou o 37º.
lugar em letramento de leitura. Algumas ações têm tentado mobilizar escolas,
professores, diretores e sociedade para mudar este quadro: PNLD - Programa
Nacional do Livro Didático através dos módulos literários, o PNBE - Programa
Nacional Biblioteca na Escola, campanhas como "Tempo de Leitura" e "Literatura
em Minha Casa", entre outras.
Estas iniciativas mostram algo em comum: a utilização de textos literários e a
proposta para o uso de diversos tipos de textos nas ações voltadas para leitura.
Estas iniciativas mostram algo em comum: a utilização de textos literários e a
proposta do uso de diversos tipos de textos nas ações voltadas para o ensino da
leitura. No entanto, nota-se que as instituições não estão sabendo fazer uso da
literatura como objeto para o ensino da leitura, ao contrário do Canadá e Estados
Unidos, que propõem, neste sentido, um Programa de leitura baseado na literatura
(Literature based-reading program), no qual este projeto coloca em pratica.
Entre vários problemas estruturais prontamente denunciados pelas pesquisas
e estudos realizados, ressalta-se aqui a questão da formação docente como um dos
principais entraves a uma prática educativa de qualidade, especialmente no que se
refere ao ensino da leitura. Entende-se, ainda que as condições ideais necessárias
a uma prática de ensino da leitura coerente deveriam ser realizadas na escola, com
a presença de professores leitores, informados e instrumentalizados para tal prática.
O ensino da leitura e, particularmente, a importância da literatura na
formação pessoal e intelectual do ser humano, encontram pouco espaço nos
programas de formação inicial e continuada. Além da falta de orientação na leitura
temos notado também a falta de orientação na escrita, dado que as atividades
contextualizadas apresentam resultados muito mais positivos do que as atividades
soltas e descontextualizadas.
Outro problema em ralação ao contato com a literatura, é o fato da escola se
utilizar basicamente de um material determinado e de profissionais encarregados de
instruir o uso desse material, que muitas fezes são escassos, pois na formação do
leitor é imprescindível que a criança conheça livros de caráter estético , diferentes
dos pedagógicos e didáticos. Quanto a esse processo, Souza nos diz que:
[...] O livro estético (ficção ou poesia) proporciona ao pequeno leitor
oportunidades de vivenciar a história e as emoções, colocando em
ação a capacidade de imaginação das crianças a permitindo-lhes
uma visão mais critica do mundo. (SOUZA, 1992.p, 8).
Deste modo a importância da obra de ficção faz com que o leitor passe a
conhecer melhor seu próprio mundo. Portanto o caráter formador da literatura é
diferente da função pedagógica tratada nos livros didáticos, o pedagogismo se
empenha em ensinar, num sentido positivista, transmitindo conceitos definidos,
deste modo à ficção estimula o desenvolvimento da individualidade; a criança terá
mais estimulo imaginativo.
O desígnio da elaboração deste projeto é a promoção da literatura infantil,
como objeto para o ensino da leitura, na preparação do corpo docente para o
desenvolvimento de atividades que estimulem os discentes, das séries iniciais (préescola à 4ª série do ensino fundamental), à produção de texto e divulgação dos
resultados obtidos pelo projeto de pesquisa. O estudo ponderou a literatura como
proposta de transformação, observando a concepção de leitura e produção de texto
que se manifesta no ambiente escolar contemporâneo, de modo a modificar a
literatura infantil.
Objetivos
Este projeto tem como objetivos principais:
- cultivar o gosto pela produção de textos;
- conscientizar professores e alunos da importância do ato da escrita;
- esclarecer o que é texto e suas diversas tipologias textuais;
- preparar professores e alunos para a produção de bons textos, entendendo
bons textos como aqueles coerentes, seqüenciais e de estrutura textual clara e
objetiva;
- analisar os textos produzidos por professores e alunos antes do início do
projeto, durante o desenvolver das atividades de produção textual para verificar se
houve avanços na maneira de escrever;
- mostrar aos sujeitos da escola (professores e alunos) a função social do
texto.
Tais objetivos vêm sendo concretizados gradativamente através de ações
cotidianas
no
universo
escolar,
envolvendo
professores
e
alunos
concomitantemente, buscando na imersão deste cotidiano desenvolver processos
de formação continuada que resultem não apenas em acréscimo de conhecimentos
científicos e desenvolvimento cognitivo, mas na mudança de hábitos e valores com
relação à leitura, a escrita e o seu significado.
A literatura infantil é como uma manifestação de sentimentos e palavras, que
conduz a criança ao desenvolvimento do seu intelecto, da personalidade,
satisfazendo suas necessidades e aumentando sua capacidade crítica. Esta
literatura tem o poder de estimular e/ou suscitar o imaginário, de responder as
dúvidas do indivíduo em relação a tantas perguntas, de encontrar novas idéias para
solucionar questões e instigar a curiosidade do leitor. Nesse processo, ouvir
histórias tem uma importância que vai além do prazer.
É através de um conto e/ou de uma história, que a criança pode conhecer
coisas novas, para que efetivamente sejam iniciados a construção da linguagem, da
oralidade, idéias, valores e sentimentos, os quais ajudarão na sua formação
pessoal. Considerando que o gosto pela leitura se constrói através de um longo
processo e que é fundamental para o desenvolvimento de potencialidades, há a
necessidade de se propor atividades diversas e diferenciadas para a formação do
leitor crítico.
De acordo com Zilberman:
[...] o uso do livro na escola nasce, pois, de um lado, da relação que
se estabelece com seu leitor, convertendo-o num ser crítico perante
sua circunstância. (ZILBERMAN. 2003. p, 30).
Muitos estudos e pesquisas têm evidenciado a importância das atividades
literárias diferenciadas no contexto educacional para o bom desempenho da
criança. A utilização da literatura como recurso pedagógico pode ser enriquecida e
potencializada pela qualidade das intervenções do educador.
A escolha desta unidade de ensino justifica-se, primeiramente, pelo contato
da equipe escolar (gestores escolares) com a universidade em busca de
aprimoramento da sua prática pedagógica bem como pela disponibilidade da equipe
docente em realizar um trabalho cooperativo com os pesquisadores. Tal busca
originou-se de um diagnóstico realizado pela escola no final do ano de 2003, no
qual os indicadores de desempenho dos alunos nos quesitos leitura e escrita se
revelaram insatisfatórios diante das expectativas e objetivos educacionais
pleiteados pela equipe escolar.
Ressalta-se então esta iniciativa como um movimento importante e
consciente da escola, que caminha ativamente na direção de sua primordial tarefa:
oferecer ensino de qualidade a todos, (principio da escola democrática e em
consonância com os princípios educacionais brasileiros).
Metodologia de Pesquisa
O projeto de pesquisa “Produção de texto do professor, produção de texto do
aluno: processos de formação continuada”, com início em 2003, são financiados
pelo Núcleo de Ensino da UNESP FCT – e aplicado na instituição de ensino EMEIF
Carmem Pereira Delfim na cidade de Presidente Prudente. O trabalho é
desenvolvido com os discentes do Ensino Fundamental das séries iniciais
(semanal), bem como o corpo docente (quinzenal). A instituição de ensino realiza
suas atividades em dois períodos: matutino e vespertino. No primeiro período,
trabalha-se com as salas de terceiras e quartas séries. No segundo período, são
desenvolvidas atividades com as crianças de pré-escola, primeiras e segundas
séries.
As crianças são convidadas a participarem da “Hora do Conto” realizada em
sala de leitura. Neste ambiente, as crianças podem ouvir interpretar e produzir um
texto escrito sobre a história contada. A preparação da atividade envolve processos
prévios: como a cuidadosa seleção de contos adequados à faixa etária, sexo e
interesse pueril; estudo de técnicas para contar histórias; planejamento de
atividades manuais (produção de texto ou artística); possibilidade de utilização
musical configurando o tema do conto.
Deste modo o projeto iniciado em 2003 no qual a finalidade era trabalhar com
a leitura baseada na literatura, neste ano de 2007, obteve modificações; além de se
trabalhar com a leitura na Hora do Conto estamos iniciando a introdução da
produção de texto, diretamente ligada com a estrutura do texto narrativo.
Os elementos do texto narrativo são: os enredos (é a ordenação dos fatos de
acordo com o narrador, em todo o enredo deve acontecer um conflito, este é o meio
em que o enredo se organiza e caminha par o final); as pessoas - personagens, (é
um ser inventado, fictício semelhante a um ser humano; podem ser transformadas
em qualquer coisa como animais, seres e objetos fantásticos); o lugar onde
acontecem os fatos (os fatos devem estar organizados em seqüência e manter
entre si uma relação de causa e efeito); e um narrador (que pode ser um narrador
que não participa da história, de um personagem da história ou de outro
personagem).
Para iniciar o trabalho com a produção de texto, realizamos uma atividade
diagnóstica com as 1ª, 2ª, 3ª e 4ª séries do ensino fundamental, no primeiro
semestre deste ano no mês de abril, ou seja, no inicio do ano letivo; para sabermos
como os alunos estão escrevendo, e se sabem fazer uso da estrutura do texto
narrativo. Essa atividade foi aplicada em dois momentos: no primeiro momento foi
pedido aos alunos que escrevessem um texto com o titulo de um livro escolhido
(este respeitando a faixa etária de cada classe e interesse pueril), de modo que os
alunos não sabiam qual era o contexto deste livro seria uma atividade livre – sem
contexto; o segundo momento foi realizado na semana seguinte, mas de maneira
contextualizada, lemos o livro e após a leitura explicamos como se da à estrutura de
um texto narrativo, nesse momento pedimos novamente para os alunos produzirem
um texto utilizando todo o contexto que havia sido explicado e com o mesmo titulo.
Após a aplicação da atividade diagnóstica constatamos que a maioria dos
alunos na primeira atividade sem contexto não sabiam como produzir um texto
coerente bem como fazer uso da estrutura do texto narrativo. As crianças das 1ª
séries tiveram maior dificuldade, em relação à escrita, pois ainda não estão todos
alfabetizados. Na segunda atividade já contextualizada constatamos após a
analises das fichas diagnósticas que houve uma significativa mudança nas
produções dos textos.
Deste modo constatamos que as atividades contextualizadas tiveram maior
significância e os alunos conseguiram explorar o contexto aplicado, utilizando da
estrutura do texto corretamente. Para facilitar a análise do diagnóstico, preparamos
uma ficha diagnóstica para cada aluno, no qual fazem parte dois momentos, como
explicado anteriormente (primeira atividade sem contexto, segunda atividade
contextualizada).
Esta ficha é composta por nome, idade, série, nome do professor e data,
para identificação do aluno; depois há elementos sobre a estrutura do texto
narrativo para compararmos com a produção do aluno e obter a análise, deste
modo segue-se: número de parágrafos, número de palavras no corpo do texto, a
criança faz seqüência do parágrafo? Sim ou não, o texto possui
coerência?(começo, meio e fim) sim ou não, introdução (bom, regular e
insatisfatório), desenvolvimento (bom, regular e insatisfatório), conclusão (bom,
regular e insatisfatório), estrutura do texto: título, espaço/lugar, desenvolve os
personagens, tempo; e no fim da ficha um espaço para observações sobre o aluno.
Deste modo a ficha diagnóstica nos ajudou na preparação das próximas
atividades com os alunos para dar continuidade à proposta do projeto em se
trabalhar com a leitura baseada na literatura, assim as novas atividades podem ser
específicas para cada tipo de aluno e seu nível de escrita e de entendimento.
Resultados parciais
Diante das atividades realizadas com os alunos e professores no decorrer do
projeto percebemos claramente na escola mudanças na prática educacional com a
língua materna. Docentes declaram que suas concepções sobre o ensino da língua
portuguesa em sala de aula foram renovadas e indicadores nos mostram que as
reflexões teóricas e as atividades práticas discutidas nos momentos de trabalho dos
professores estão sendo incorporadas ao cotidiano do trabalho educativo.
Objetivamos que o jovem aluno e o professor que convivem com textos
literários se encontrem encantados por um mundo que não possui fronteiras e, pelo
contrario, lhes oferece instrumentos e condições indispensáveis para navegar sem
naufragar e seguramente tanto no mundo real como no mundo da imaginação. Tudo
isso ocorre com exigência da socialização, o outro é requerido neste processo,
posto que o locutor necessite de um emissor. Neste projeto o objetivo é que o aluno
e o professor não sejam personagens fixos, ou seja, leitores apenas, mas que
possa experimentar o prazer de se impor como locutor na mensagem. O que o
projeto propõe é instigar tanto alunos quanto professores ao início de conexões de
idéias que irão se avolumando como um rio, tornando naturalmente cada vez mais
complexas. E esse rio irriga um solo receptível que o papel nele se apresenta à
materialização das idéias e pensamentos e permite a expansão pessoal e
intelectual do sujeito manipulador do código. A leitura é magicamente gentil; este
processo tão penalizado na escola pode semear por meio das narrativas
encantadoras e possibilitar a essência criadora do homem, ofuscando suas
limitações.
Conclusões parciais
O projeto encontra-se em desenvolvimento, porém sua execução tem sido
avaliada como positiva dado que este permite aos professores e alunos uma grande
familiaridade com texto narrativo e sua estrutura, sendo que esta só é possível
graças ao contato com a literatura infantil e com os textos literários ricos em sua...
...sempre complicada distinção entre a realidade e a fantasia; a
temporalidade e a efemeridade (por exemplo, o envelhecimento e
suas implicações); as inúmeras e intricadas questões éticas; a
existência de diferentes pontos de vista válidos. (AZEVEDO, 2004,
p. 41).
Referências
COELHO, B. Contar História Uma Arte Sem Idade. São Paulo: Ática. 2002
CUNHA, M. A. Literatura Infantil: Teoria e Prática. São Paulo: Ática, 1983.
DINORAH, M. O Livro na sala de aula. Porto Alegre: L e PM, 1987.
LAJOLO, M; ZILBERMAN, R. Literatura infantil brasileira: histórias e
histórias. São Paulo: Ática, 2005.
MAGNANI, M.R.M. Leitura, Literatura e Escola: Subsídios para uma
Reflexão sobre a Formação do Gosto. Campinas, 1987-Dissertação de Mestrado
em Educação.
MEIRELES, C. Problemas da Literatura Infantil. Rio de Janeiro: Editora Nova
Fronteira, 1984.
ZILBERMAN, R. A Literatura Infantil na Escola. São Paulo, Global. 1994.
(TESE 1).
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