SE VOCÊ NÃO PUDER MEDIR, VOCÊ NÃO PODE
ADMINISTRAR: PESSOAS, PROGRESSO,
PERSUASÃO
JON HALL
Coordenador do Projeto Global da OCED para a Mensuração do Progresso das
Sociedades desde a sua criação em 2005; co-autor de um livro da OCED prestes a
ser lançado sobre mensuração do progresso.
Eu sou da OCED – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico,
e para aqueles que não ouviram falar a respeito, o que eu acho que é o caso da maioria de
vocês, é uma organização internacional financiada por trinta dos países mais ricos do
mundo, e nós promovemos formulação de políticas e reformas, principalmente
econômicas, mas isso é algo que está mudando. Durante os últimos quatro anos tenho
gerenciado um projeto da OCED, juntamente com outras organizações, chamado
Mensuração do Progresso das Sociedades, que foi criado reconhecendo todo o trabalho
que já está sendo feito ao redor do mundo, por pessoas como vocês nesta sala, que já
estão trabalhando para re-avaliar o que é o progresso.
Por que é tão importante se pensar nas coisas que medimos, pensar em
indicadores estatísticos para as nossas sociedades? Bem, é importante porque os
indicadores que usamos, o modo pelo qual julgamos nosso sucesso, as métricas que
usamos para avaliar o nosso desempenho, se tornam o código genético de uma sociedade,
eles se tornam as coisas que em última análise governam muitas das escolhas que fazemos.
Então é muito importante medir a coisa certa. Resumindo, somos o que medimos,
obtemos o que medimos, e administramos o que medimos.
E o que medimos atualmente? Bom, nos últimos 60 anos, na verdade nos últimos
75 anos, o PIB, Produto Interno Bruto, emergiu como o único e mais poderoso indicador
no mundo - o mais conhecido, o mais popular - embora jamais tivesse sido desenhado
para medir progresso. Simon Kuznets, o cara que o criou nos anos 1930, viu que o PIB
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era uma medida do quanto ocupados estamos, quanto dinheiro está trocando de mãos;
mas ele era muito sábio, e ele reconheceu, já naquela época, que havia o perigo desse
indicador ser usado por pessoas que não o compreendessem, de vir a ser uma medida de
progresso, quando esta jamais foi a sua intenção.
Mas levou um tempo bem longo para o mundo acordar para isso, e acho que foi no
Butão, em 1972, cujo rei foi uma das primeiras pessoas a reconhecer o que estava
acontecendo, que esse indicador de atividade de mercado estava sendo visto de certa
forma como sinônimo de progresso e bem-estar. E a OCED se juntou agora ao coro de
pessoas que está reconhecendo isso, dizendo que agora precisamos começar a medir o
bem-estar, não podemos ficar medindo apenas a produção.
Isso não é uma idéia nova. Robert Kennedy falou sobre isso em 1968, antes de ser
assassinado, num discurso que Barak Obama disse ser um dos mais poderosos discursos
na história política americana. E Obama também estava falando de sobre o tema
“Progresso”, quando ele estava em campanha pela presidência. A crise financeira destacou
tudo isso: pessoas em vários países perderam seus lares, seus empregos, suas pensões.
Elas sentem que o sistema as “deixou na mão”, e estão buscando alguma outra coisa, algo
novo, outras maneiras de se pensar a respeito das coisas, porque o sistema simplesmente
não funcionou, algo deu errado.
E de certo modo gosto de olhar para isso como se fosse uma “crise de meia idade”
para o mundo. A “crise de meia idade” é algo que acontece quando subitamente você
acorda de manhã e acha que tudo deu errado, e pensa, “qual é o propósito da minha vida,
qual a razão disso tudo?” E é um pouco assim com a sociedade ocidental. Durante muitos
anos estivemos correndo para cima e para baixo: nos últimos 50 ou 60 anos, construindo
coisas, comprando coisas, maiores TVs, melhores casas, carros maiores, e mesmo assim
não estamos mais felizes do que há 50 anos. E sob muitos aspectos parecemos mais
infelizes. Passamos menos tempo com a nossa família, com os amigos, não tiramos mais
férias, perdemos de vista algumas das coisas que realmente importam. Então é uma crise
que a sociedade ocidental está vivendo. Então temos que realmente pensar novamente
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para onde estamos indo, e por que estamos indo para lá, e começar a medir se estamos
indo na direção certa.
Então medir progresso, quando falamos sobre isso no sentido mais geral, significa
prover esses indicadores chave quanto à posição e ao progresso na comunidade; significa
ir além do PIB, olhando para o econômico, o social e o meio-ambiente lado a lado, e falar
sobre as ligações entre tais áreas, de modo que possamos ter informadas as conversas em
nossas sociedades sobre as escolhas que teremos de fazer - se vamos querer ter mais
crescimento econômico às custas de danos ao meio-ambiente ou vice-versa. Mas vamos
ter o debate sobre isso baseando-nos em informações, de modo que todos os cidadãos
possam participar. Trata-se de olhar de onde estamos vindo, olhar para onde estamos
agora, mas crucialmente olhando à frente, pensando em para onde queremos seguir, ou
como saberemos se estamos indo na direção certa.
Pode nos ajudar se redefinirmos progresso, é claro, e também pode nos ajudar a
redefinir desenvolvimento, que essencialmente são a mesma coisa.
Então frequentemente para países em desenvolvimento não há uma conversação sobre o
que o desenvolvimento significa: parece que significa se tornar mais parecido com os EUA,
o Reino Unido ou a Austrália, e não deveria ser assim. Deveria se mapear um curso para
o futuro que ressoe com aquele país, com aquela cultura, com o futuro que aquelas
culturas almejam. Talvez isso signifique mais crescimento econômico, aumento da
expectativa de vida, mas não significa sacrificar sua cultura e destruir seu meio-ambiente.
A re-avaliação do progresso é a chance de evitar cometer alguns dos erros
cometidos por nós no ocidente. Ajuda na prestação de contas e na política econômica de
reforma, e pode ajudar a “vender” políticas para as pessoas. Não é o suficiente você vir
com uma boa política; você tem que vendê-la aos votantes para funcionar. E também ajuda
a se chegar a acordos nas direções que queremos dar às sociedades, porque
frequentemente os políticos gastam esse tempo discutindo sobre políticas, mas eles não
discutem sobre onde queremos estar em vinte ou trinta anos. Vamos ter essa discussão
enquanto sociedade. E depois poderemos discutir sobre as políticas - se eles quiserem
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aumentar os juros, elevar os gastos e assim por diante – mas esse tipo de discussão sobre
a direção que queremos não acontece, as pessoas vão direto para a as políticas.
O projeto global montado pela OCED é o primeiro que tenta juntar isso tudo.
Frequentemente nos descrevemos como uma “rede de redes”, mas estive pensando que
na verdade deveríamos nos imaginar mais como um “movimento de movimentos”, porque
é mais do que uma rede. Por exemplo, as pessoas nesta sala não são uma rede, realmente
fazem parte de um movimento pela mudança, e existem outros movimentos pelo mundo.
O John mencionou alguns, como os de sustentabilidade, e outros sobre bem estar, o que
inclui o FIB. Existem muitos e muitos movimentos com milhares de pessoas ao redor do
mundo, e todas estão tentando fazer essencialmente a mesma coisa, e estamos tentando
juntar isso tudo, ajudar as pessoas a trocarem experiências, desenvolver melhores
práticas. Trata-se de um movimento crescente, e estamos trabalhando com governos,
com ONGs, até mesmo o Fórum Econômico Mundial de Davos, que é um dos mais
poderosos encontros do mundo. Eles agora têm um comitê que está se debruçando sobre
o progresso das sociedades.
Vocês ouviram hoje sobre a Comissão Stiglitz, várias pessoas a mencionaram, o
relatório deles que foi divulgado em setembro na Sorbonne - foi um evento bem grande,
para qualquer um que estivesse envolvido nesse trabalho. Havia cinco Prêmios Nobel
naquele grupo que foi comissionado pelo presidente da França e gerou manchetes pelo
mundo todo. E quando pessoas como Stiglitz e Sen começam a falar sobre coisas e o
presidente da França os apóia, aí o mundo ouve. Então realmente o clima político está
mudando. Isso está muito mais em voga agora do que há 4 anos, quando passei a fazer
parte da OCED.
Quando pensamos sobre isso, pensamos sobre duas vias de trabalho. Em primeiro
lugar há um trabalho estatístico padrão, que é como podemos criar medidas mais
inteligentes de melhoria de progresso, que é principalmente uma questão técnica. Mas
muito mais interessante para mim é tentar compreender qual a idéia que os países fazem
de progresso, e isso é uma questão política, não cabe à OCED, nem à ONU, nem a
ninguém dizer a algum país o que significa progresso para eles. Cabe a cada país promover
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suas próprias discussões para decidir o que progresso significa para eles. Então é na
realidade tentar fomentar esse processo nos países, de modo que eles possam ter
conversas como estão tendo no Butão, e em outros países, sobre para onde eles querem
ir, quais são os nossos valores, o que é progresso para nós, para a nossa cultura, para o
nosso povo.
Vamos agora olhar para os eventos ao redor do mundo, estas são apenas algumas
das coisas que fizemos no ano passado, e neste ano, culminando numa grande conferência
em Busan, Coréia. E como eu disse, o clima está mudando. Somente nos dois últimos
meses, muitas coisas começaram a acontecer, que é muito gratificante para muitos de nós
que têm trabalhado nisso já há algum tempo. Teve o Relatório Sarkozy, a Comissão Stiglitz
em setembro, e no mesmo mês a Comissão Européia divulgou um comunicado oficial
sobre a importância de se ir além do PIB. O grupo de líderes do G20 falou sobre isso no
seu encontro em Pittsburg, ressalvando a importância de começar a se pensar e a medir o
progresso. A rede de Conselhos Sociais e Econômicos ao redor do mundo, esses são
grupos oficiais através de muitos países para juntar formuladores de políticas do setor
privado, com parlamentares, sindicatos, ONGs, e assim por diante. Eles têm um projeto
oficial agora, para desenvolver mesas-redondas sobre progresso em diversos países,
tentando ter discussões sobre o que progresso significa. A rede de Auditores Gerais ao
redor do mundo - continuando um trabalho que foi liderado por Dave Walker, o
Comptroller General (Controlador Geral de Contabilidade), e agora sendo liderado pelo
Comptroller General da Rússia, o ex-Primeiro Ministro da Rússia - está buscando promover
esse trabalho, porque eles estão vendo que é muito importante para o trabalho deles, em
fazer a prestação de contas mais forte em governos e sociedades ao redor do mundo.
Somente há três semanas atrás na Conferência do OCED na Coréia - John
Helliwell estava lá, Nic Marks estava lá - tivemos 2.000 pessoas lá de 100 países, pelo
menos dois presidentes, Joseph Sitglitz estava lá. Acho que foi novamente uma
demonstração do quão importante isso é, quantas pessoas se importam tão
apaixonadamente por esse trabalho, e agora realmente é um movimento ao redor do
mundo.
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Uma coisa que temos que fazer melhor no OCED é tentar vender isso com mais
força para as pessoas que devem implementar isso, para os estatísticos e para os
formuladores de políticas. Como o Primeiro Ministro Thinley estava dizendo, os
estatísticos frequentemente não são as pessoas mais audaciosas - eles nunca são as
pessoas mais audaciosas - normalmente levam muito tempo para serem persuadidos, e
eles precisam ser persuadidos, porque esse trabalho de pensar sobre bem-estar, de
pensar sobre FIB, tem a ver com manter relevância, porque se você não fizer em
escritórios de estatística, alguém outro o fará. Trata-se de aceitar o fato que, “sim, isso é
político”, mas assim também é tudo aquilo que contamos. Contar é inerentemente
político. Estamos simplesmente falando sobre uma maneira diferente de contar. Se tornar
mais aberto, lidar com diferentes grupos de pessoas, sem ser os temas usuais com os
quais os estatísticos gostam de lidar, e também tem a ver como comunicar melhor o
trabalho que os estatísticos executam.
Devemos levar essas informações às pessoas, porque isso é algo que qualquer
pessoa, em qualquer sociedade, deveria estar interessada. É importante para a formulação
de políticas e políticos, como eu disse, porque pode melhorar a prestação de contas, pode
levar ao governo ser mais bem articulado, em pensar nas coisas que possam ser feitas
melhor, de forma cooperada. Assim você não teria situações nas quais o Departamento
de Transportes estivesse tentando construir uma estrada na floresta que o Departamento
de Meio Ambiente estivesse tentando proteger.
Luz do sol é o melhor desinfetante, como disse o juiz da suprema corte dos EUA.
Tem a ver com destacar o que o governo está realmente fazendo, provendo medidaschave sobre para onde a sociedade está rumando, de modo que os seus cidadãos possam
julgar por si mesmos o desempenho dos seus formuladores de políticas, se eles estão
fazendo a coisa certa.
Tem a ver com mudar o foco do governo de produção (outputs) para resultados
(outcomes). Produção é a coisa tradicional sobre a qual os políticos pensam, a quantidade
de pessoas que colocamos num sistema, quantas pessoas se formaram ou que foram
tratadas no hospital; ou pensam em entradas, no dinheiro que investem num problema.
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Mas essas coisas não contam, são os resultados que realmente importam: se as pessoas
estão vivendo mais tempo, se elas estão mais felizes, se estamos tendo menos emissões de
CO2 no ar, se a nossa biodiversidade está protegida - essas são as coisas que precisamos
começar a medir melhor, pensando nos resultados. Somente aí é que podemos julgar se as
entradas e saídas estão tendo o resultado desejado.
Tem a ver com novos relacionamentos, tem a ver com ter novas conversas, tem a
ver com achar áreas de interesses comuns. Obama novamente pegou nesse ponto no
discurso que ele fez, quando ele recebeu a nomeação para a presidência do Partido
Democrata, falando sobre o tipo de discussões que eles precisavam ter nos EUA: “nós
talvez jamais concordaremos com uma política de aborto nos EUA” ele disse, “mas
certamente que podemos concordar com algo relacionado à gravidez de adolescentes”.
Novamente, trata-se de pensar sobre o resultado que queremos para a sociedade,
tendo essas conversas sobre o que é progresso - o que é bem-estar, onde você quer estar
em vinte a trinta anos. E se pudermos chegar a um acordo nisso - e as evidências mostram
que frequentemente podemos atravessando as fronteiras políticas, aí podemos ter uma
informada discussão sobre as políticas.
Tem a ver com ter novas conversas quando começamos a pensar sobre esses
problemas, e enquadrando-os de forma diferente, e isso leva à novas políticas. Um
pequeno exemplo: no Reino Unido, há alguns anos, eles fizeram um trabalho com Tony
Blair, tentando ver quais os grupos ou sociedades que eram as mais felizes ou infelizes.
Descobriram que um dos grupos mais infelizes era, no Reino Unido, formado por
mulheres de meia-idade pobres. E isso é muito interessante, porque isso foi uma grande
surpresa, ninguém se dava conta disso. Eles não tinham políticas no Reino Unido voltadas
para esse grupo em particular da sociedade, e eles não tinham meios de alcançá-las, de se
comunicar com elas. Então isso levou a uma série de conversas dentro do governo, “o
que vamos fazer”, “o que isso significa”, e levou a mudanças em políticas. David Cameron,
que muito provavelmente será o próximo Primeiro Ministro do Reino Unido, anunciou há
cerca de um ano que ele queria que o seu governo, o futuro governo conservador,
pensasse não no PIB, mas em maximizar o bem-estar social, em todas as suas políticas.
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Agora, eu não sei se ele sabia o que isso significa quando afirmou isso, e certamente
ninguém mais no governo sabia, mais isso levou a muitas conversas em Whitehall e
Westminster [dentro do governo] no Reino Unido, sobre o quê o bem-estar social
significa na maneira pela qual construímos nossos hospitais, na maneira pela qual pensamos
sobre nossas prisões, sobre o nosso sistema de justiça. Então isso levou a uma série de
conversas bem diferentes - talvez seja o mesmo tipo de conversas que o Butão já esteja
tendo. Talvez o Reino Unido tenha alguma coisa a aprender ali.
Vou agora falar um pouco sobre bem-estar subjetivo, e pegar alguma das coisas
que John estava dizendo, mais da perspectiva da OCED, o porque consideramos isso
importante, porque reconhecemos que muitos corações e mentes precisam ser mudados.
Os estatísticos estão confortáveis em medir as coisas que pensamos poder medir com
exatidão. Podemos pegar um calendário para ver quanto tempo vive uma pessoa,
podemos pegar um contador para ver quanto dinheiro uma pessoa tem no banco,
podemos colocar uma máquina na beira de estrada para contar quantas partículas finas de
poluição temos no ar, podemos medir essas coisas com exatidão, pelo menos é isso que
gostaríamos de acreditar. Mas assuntos subjetivos exigem que perguntemos o que as
pessoas sentem, no que as pessoas acreditam. Isso significa que precisamos conversar com
as pessoas, não podemos observar com exatidão, e os estatísticos se sentem
frequentemente desconfortáveis com isso. Eles pensam que, “bem se vamos levar em
conta o que as pessoas nos dizem, como vamos saber se é correto?”. E essa é uma das
razões de serem tão céticos. Mas esses mesmos estatísticos se esqueceram que algumas
das mais consagradas medidas que eles usam, com as quais se sentem confortáveis, são
exatamente isso, são subjetivas. A confiança nos negócios, um bem conhecido indicador
do desempenho da economia, é uma medida subjetiva. O estado de saúde auto-avaliado é
uma medida bem poderosa quanto a dizer o quão bem uma pessoa está - simplesmente se
perguntando a uma pessoa como ela se sente. Novamente, é subjetivo. Pelo fato dos
estatísticos terem feito isso por vinte, trinta, quarenta anos, sem serem demitidos, significa
que eles estão confortáveis com isso. Mas toda essa coisa sobre bem-estar subjetivo é um
tanto nova e um pouco mais difícil. Mas é muito importante entender, penso eu, o
subjetivo juntamente com o objetivo, e olhar para a correspondência do desencontro
entre essas áreas.
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Se você vive numa sociedade onde as coisas objetivas estão indo muito bem, e as
pessoas naquela sociedade estão felizes e sentindo bem-estar, então tudo bem. No outro
extremo do espectro, se você vive numa sociedade onde as coisas estão indo mal, onde as
pessoas são miseráveis e elas sabem que estão em carestia, então isso é uma coisa muito
ruim, existe muita privação. Mas o que é interessante para os formadores de políticas é
quando as pessoas estão nos outros dois “quadrantes”. Por exemplo, situações de pessoas
se sentindo bem a respeito do mundo no qual elas vivem, quando elas na verdade não
deveriam estar se sentindo assim - elas de alguma forma se adaptaram. Isso é realmente
um desafio para formuladores de políticas para ver o que pode ser feito quanto a isso. Ou
no quadrante oposto, onde as pessoas se sentem bem insatisfeitas quanto as suas vidas,
quando objetivamente elas deveriam se sentir felizes. Existem alguns interessantes desafios
de políticas em tais áreas. O jeito que as pessoas se sentem é muito mais importante do
que aquilo que o fato objetivo está dizendo, na elaboração de políticas.
O que governa o comportamento das pessoas quanto ao crime? Não são os
índices oficiais de criminalidade. Se você sai para a rua à noite depende se você está com
medo ou não, como você se sente a respeito, e não o que os índices de criminalidade
estão lhe dizendo. Isso é definitivamente um caso para os formadores de política se
interessarem, como de fato estão.
Existem evidências, e John tocou um pouco nisso, que o comportamento das
pessoas, o conceito de “utilidade” conforme os economistas o enxergam, não funciona,
simplesmente não explica o modo como as pessoas se comportam. A questão aqui é, se
você voltasse ao trabalho, voltasse para o local de onde você trabalha, na segunda feira, e
o seu chefe lhe chama e lhe dissesse, “tenho boas notícias, vou lhe dar um aumento de
1.000 dólares nesta semana”, e os economistas lhe dirão que a sua utilidade aumentará, e
sua utilidade, sim, provavelmente aumentaria em 1.000 dólares. Contudo, se o seu chefe
lhe dissesse, “vou lhe dar um aumento de 1,000 dólares nesta semana, mas vou dar a
todos os demais funcionários 2.000 dólares” será que sua utilidade aumentaria? Não.
Provavelmente você se sentiria muito pior, e mesmo assim os economistas diriam que sua
utilidade deveria ter subido em 1.000 dólares.
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A mesma coisa aconteceu quando os pesquisadores olharam para compras de
carro. É muito difícil compreender e investigar isso porque o mundo é tão complexo, mas
existem uns estudos muito bons, que um estatístico ou um economista acharia muito
interessantes. Na Holanda, por exemplo, eles têm uma loteria cujo prêmio é um carro
zero. Mas essa é uma loteria diferente, porque eles dão o prêmio de acordo com o CEP
do local onde a pessoa mora. Se você comprar um bilhete de loteria, e se o seu CEP é
escolhido, você ganha o prêmio. Então todos que compraram bilhetes e que moram
naquela vizinhança, naquele subúrbio, ganham o prêmio, um novo BMW, mas quem não
comprou bilhete não ganha. O que se descobriu foi que após o sábado à noite, quando
saiu o resultado da loteria, e após a segunda feira de manhã quando apareceram BMW
novos estacionados nas calçadas, o comportamento de compra de carros naquela
vizinhança de fato aumentou. As pessoas acordaram de manhã e olharam para os seus
vizinhos, e viram aquele carro novinho em folha, aí eles saíram para comprar um também.
Então isso mostra que a relatividade, a comparação com os outros realmente influencia o
modo pelo qual as pessoas se comportam. Compreender isso é muito importante para
um economista, para um formulador de políticas, ou para qualquer um interessado em
tentar entender como a economia afeta as pessoas.
Por quê devemos argumentar com os estatísticos que novas medidas de progresso
são necessárias? Bem, é importante olhar para as coisas que fazem as pessoas felizes, é um
quadro unificador, e as pessoas estão muito interessadas nisso. Se você quiser ter um
debate que vá além do PIB, se você for um estatístico e quiser começar a pensar sobre
novos dados, então comece a falar sobre felicidade. Isso gera manchetes, faz com que
pessoas se dêem conta de que há de fato mais coisas lá fora do que dados econômicos, de
modo que é um jeito muito poderoso de começar uma discussão através da sociedade. E
também existem evidências muito sólidas que coisas como felicidade se correlacionam
com outros aspectos de bem-estar, como saúde.
Os estatísticos podem alegar que é difícil medir o bem-estar, mas muitas coisas são
difíceis de se medir, e isso não significa que não deveríamos tentar. Pode ser que algumas
das medidas que temos ainda não estejam perfeitas, mas isso não é uma razão para não se
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tentar. Estatísticos podem dizer que é difícil achar relevância política para medidas de
felicidade, mas talvez não seja assim se você olhar para o que faz as pessoas felizes em
termos de uma política de educação, ou talvez de uma política de saúde. Estatísticos
podem dizer que medidas de felicidade parecem que não mudam muito ao longo do
tempo, são bem estáveis. Mas pode ser que simplesmente não as estejamos medindo do
jeito certo. Existem estudos que mostram que o bem-estar subjetivo muda ao longo da
vida das pessoas, conforme John Helliwell nos mostrou. Ou os escritórios de estatística
podem dizer que “isso não é um terreno apropriado”, porque os temas são difíceis. Mas
essas medições são muito relevantes, e se o governo não as fizer, então entidades como o
Instituto Gallup [de pesquisa] começam a fazer por você.
Então eu realmente acho que finalmente os estatísticos estão vindo à mesa. A
OCED está mudando o modo como está olhando para isso, está apoiando muito mais,
está tendo agora conversas com governos e escritórios de estatística através do mundo,
tentando convencê-los a respeito da importância disso, e tentando fazer de um jeito
melhor.
E o meu último ponto é para qualquer um que esteja trabalhando em desenvolver
indicadores como FIB ou qualquer uma dessas medidas de progresso ou bem-estar. Existe
uma boa citação que nos lembra: “as estatísticas são pessoas cujas lágrimas foram
desconsideradas”. As histórias sobre felicidade, sobre a nossa sociedade, sobre o nosso
meio-ambiente - as grandes histórias de nossas vidas, histórias sobre crianças nascendo e
sendo educadas, sobre casamentos, divórcios, pessoas morrendo, a saúde do nosso meioambiente, o futuro dos nossos filhos - essas são as grandes histórias da nossa época. E
esses indicadores de progresso como GNH são o código genético da nossa sociedade.
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