O NOVO ALVORECER DA ACADEMIA PENEDENSE DE LETRAS Após 32 anos de recesso, revitalizada, no ano de 2005, pelo visionário franciscano e jornalista, Marcelino Cantalice da Trindade, a priori, a Academia Penedense de Letras, Artes, Cultura e Ciências recebeu abrigo no Convento Franciscano de Penedo. Depois, funcionou em imóvel alugado situado à Rua João Pessoa e nas sedes da OAB e do SINDSPEM. Desse modo, a questão maior da APLACC sempre foi a carência de sua sede própria. Todavia, em maio de 2009, o sonho do perseverante presidente Marcelino se tornaria realidade. Em audiência concedida a ele pelo exprefeito Alexandre Toledo, na qual participou o atual prefeito Israel Saldanha, foi firmado compromisso pelo Poder Executivo de que a Academia, tão logo concluída a restauração do prédio a cargo do Projeto Monumenta, teria sua sede no pavimento superior da Casa da Aposentadoria. Foi com grande ufanismo que todos os acadêmicos ficaram cientes da conquista de uma sede tão privilegiada. Localizada no belíssimo conjunto arquitetônico secular da Praça Barão de Penedo e emoldurada pela paisagem indescritível do Rio São Francisco, a Casa da Aposentadoria é um casarão esplêndido de significativa relevância na trajetória histórica e cultural de Penedo. Segundo o eminente bibliófilo e historiador, Dr. Francisco Sales, o imóvel foi construído em 1782 pelo ouvidor José Mendonça Matos Moreira, onde se instalou a Câmara. Tinha como finalidade o pouso dos ouvidores, mas nunca foi destinado a tal função. Posteriormente, numa reforma promovida pelo Barão de Traipu, a Cadeia e a Casa da Aposentadoria tornaram-se um único prédio. Em 1936, o então prefeito Amarílio Sales transferiu a Cadeia e transformou o prédio no Grupo Escolar Gabino Besouro. Em tempos mais contemporâneos, abrigou a Coletoria Estadual, de servidores memoráveis, como o coletor José Paulino, a Dona Edite, a Melícia e a Francina Laura. Destarte, lá também foram instalados outros estabelecimentos: o SETURCE, a TELASA, o Arquivo Público e secretarias municipais. Hoje, numa nobre vontade política, os seus espaços estão reservados à cultura literária e artística de Penedo. O auditório, totalmente climatizado e sem perda de suas características, é um salutar presente ao público da cidade. Ó imóvel também contará com um centro de informações turísticas e com um restaurante típico. A festa de reinauguração da Casa da Aposentadoria, ocorrida em 10.02.2012, com direito à guarda de honra dos “Dragões da Independência”, num cenário fascinante e organização impecável, foi simplesmente magistral. Dentre as autoridades presentes, podem ser evidenciadas as seguintes personalidades: o vice-governador José Thomaz Nonô; o secretário estadual de saúde Alexandre Toledo; o prefeito Israel Saldanha; o bispo diocesano Dom Valério Breda; o presidente da Câmara Manoel Messias; o coordenador do Monumenta Robson Almeida; a secretária de Cultura Eliana Cavalcanti; o magistrado Claudemiro Avelino. As apresentações culturais ficaram a cargo do Coral Vozes de Penedo e do Grupo Armorial de Piranhas. O presidente da APLACC, Valfredo Messias, num pronunciamento eivado de emoção, sob os auspícios do Barão de Penedo, enalteceu o marco histórico da solenidade e toda a relevância da posse da nova sede para o futuro promissor da instituição. Folha Acadêmica Pág. 03 ENTREVISTA Janeiro/abril/2012 Dr. Tobias Medeiros O artífice do Centro Cultural do Sertão O Dr. Tobias Medeiros é natural de Santana de Ipanema (AL). Bacharel em Ciências Jurídicas pela Faculdade de Direito de Alagoas, bacharel em História e licenciado em Letras Neolatinas pela UFAL, advogado e técnico de administração. Durante muitos anos, ensinou Direito na Universidade Federal de Alagoas. Também lecionou diversas matérias em várias instituições de ensino de Maceió. Ocupou outros importantes cargos, a exemplo de vogal, secretário geral e procurador regional da Junta Comercial do Estado de Alagoas. Autor de vários livros e trabalhos publicados. Dentre outras entidades, é membro da Ordem dos Advogados do Brasil, sócio efetivo da Academia Alagoana de Letras, sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas e da Academia Penedense de Letras, ocupando a cadeira 06, cujo patrono é o Pe. Francisco José Correia de Albuquerque, ao qual, em sua memória, publicou um livro biográfico. Mesmo aposentado, continua produtivo em suas atividades literárias e de promoção social. No ano de 2007, deu início à construção do CENTRO CULTURAL DO SERTÃO, empreendimento que prossegue sob os seus auspícios e alvo maior desta entrevista. Em seu apartamento, em Maceió, com a sua peculiar atenção, recebeu a reportagem da “Folha Acadêmica”, oportunidade em que, com objetividade e carinho, respondeu a todas perguntas formuladas. Folha Acadêmica: Sabemos que, sobretudo, a partir dos anos mais próximos, o senhor vem se dedicando, carinhosamente, na implantação e dinamização do CENTRO CULTURAL DO SERTÃO, em sua terra natal. Relate-nos um pouco como foi este início. Tobias Medeiros: Sempre estive voltado para o sertão, onde nasci. O homem vive sempre procurando concretizar os seus sonhos e, quando se pensa em beneficiar o outro, Deus ajuda. Já vinha cogitando em fazer um museu, desde a criação do município, cujo primeiro prefeito foi meu irmão, Osman Medeiros, mas não foi possível. Depois de várias reuniões com professores e alunos, como também com pessoas da comunidade, decidimos criar o “Centro Cultural do Sertão”, cuja data de fundação foi em 10 de setembro de 2007. De acordo com o Estatuto, é uma associação onde existe um museu. Queremos que seja um museu-escola para melhor instruir os visitantes, máxime, os jovens estudantes. Folha Acadêmica: Qual foi o apelo mais forte, que o levou a edificar o CENTRO? Tobias Medeiros: O amor à terra natal e aos antepassados, tentando valorizar o sertanejo que é, “antes de tudo, um forte” – na afirmativa de Euclides da Cunha. Folha Acadêmica: Quais são os objetivos principais do Centro? Já realizaram atividades para atingir tais objetivos? Tobias Medeiros: Em geral, é um tanto difícil conservar e disseminar a cultura sertaneja, especialmente no campo da história, arqueologia, paleontologia e geografia em relação à região semi-árida do nordeste brasileiro. São necessidades específicas: ter uma biblioteca com livros que dizem respeito ao sertão; guardar peças de casa de farinha de mandioca; objetos de uso doméstico e do trabalho do homem do campo que tenham valor histórico; incentivar o engajamento das entidades públicas e particulares da área, no processo de resgatar fielmente a cultura regional. E, ainda, promover a fraternidade dos associados e participantes das atividades do Centro Cultural do Sertão. Quanto à segunda parte da pergunta, a resposta é sim. Mesmo funcionando numa sede provisória e em estado precário, em tão pouco tempo de existência, realizamos as sessões ordinárias, assembleias, exposição sobre os 200 anos do Banco do Brasil, com apresentação de moedas e cédulas de todos os sistemas monetários de todos os paises do continente africano. Foi também uma homenagem ao negro que coadjuvou o Brasil a se desenvolver. Foi feita uma exposição sobre os Correios e Telégrafos da cidade de Poço das Trincheiras. Celebramos o centenário de nascimento de figuras destacadas da região: Monsenhor Fernando Monteiro de Medeiros, Noêmia Rocha Medeiros, Maria Fany Wanderley de Alcântara e Moisés Anselmo da Silva. Encenação da peça teatral a “Alegria do Vaqueiro”, realizada pelos alunos da Escola Conceição Lyra, de São Miguel dos Campos. Foi um intercâmbio cultural de grande eficácia nas cidades onde foi apresentada. Várias palestras sobre o Centro Cultural do Sertão foram realizadas em Maceió: Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, Academia Alagoana de Letras e Academia Nordestina de Letras; na Escola Padre Francisco Correia, em Santana do Ipanema e na Academia de Letras de Arapiraca. Neste ano celebraremos o Centenário de Luiz Gonzaga. Folha Acadêmica: Já foi iniciada a construção da sede para o CENTRO? Tobias Medeiros: Sim. Demos início no ano passado, com a ajuda financeira de amigos e parentes. Convém salientar que, na execução da obra, recebemos substancial apoio de Mário Aloísio Melo, conhecedor da magia arquitetônica e superintendente do IPHAN em Alagoas, do competente calculista Eduardo Uchoa e do jovem e dinâmico engenheiro, Leonardo Antônio Silva. Folha Acadêmica: O Centro possui um emblema? Qual é a mensagem do mesmo e/ou simbolismo? Tobias Medeiros: A arte plástica colabora na comunicação e na expressão das ideias. Eis, em síntese, o que diz o emblema do Centro: “TUA LUZ ME CONDUZ”. Folha Acadêmica: Quais as perspectivas para a caminhada na história, cultura e desenvolvimento social região? são sua na no da Tobias Medeiros: O caminhar é lento. E é feito no próprio andar. Para uma maior vida, é mister o apoio do poder público que, em geral, em todo lugar, é pouco. Folha Acadêmica: Como vê o amanhã do Centro Cultural do Sertão? Tobias Medeiros: O amanhã pertence à Providência Divina. Vivendo o hoje, construímos o amanhã. O Centro Cultural do Sertão e os museus da região poderão ser partes (departamento) do grande “Museu do Homem do Rio São Francisco”, com sede em Penedo, sob a égide do Ministério da Cultura. Folha Acadêmica: Sabemos que, além desse trabalho promocional no sertão, o senhor vem se dedicando a uma pesquisa sobre a vida e a obra do patrono da sua cadeira na APLACC, o Padre Francisco. Como estão essas pesquisas e como está a caminhada das mesmas? Tobias Medeiros: Ainda criança, admirei o bonito crucifixo, esculpido por ele, que se encontra no altar da nave principal, do lado direito de quem entra na igreja de Santana do Ipanema. O tempo correu e só mais tarde, quando fui convidado por Marcelino Cantalice da Trindade para ser sócio efetivo da Academia Penedense de Letras, comecei a pesquisar sobre o Padre Francisco José Correia de Albuquerque, santo e sábio, que soube usar das artes para cantar e encantar a vida, conduzindo o homem ao eterno. Missionário apostólico, merecedor das honras do altar. Trabalhamos, por isso, a fim de que a Diocese de Penedo abra, assim que achar oportuno, o processo da sua beatificação. Pág. 04 Folha Acadêmica Janeiro/abril/2012 CENTENÁRIO DO COLÉGIO IMACULADA CONCEIÇÃO No dia 13 de abril de 2012, tiveram início, em Penedo/Alagoas, as atividades comemorativas do ANO CENTENÁRIO DO COLÈGIO IMACULADA CONCEIÇÃO, em homenagem aos 100 anos da fundação daquele tradicional e histórico estabelecimento de ensino penedense, cuja data centenária dar-se-á no dia 13 de abril de 2013. Fundado pela Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, a instituição educacional tem escrito, na história cultural da cidade de Penedo, belas páginas que narram toda uma luminosa trajetória. Sempre fiéis ao lema da Congregação – “LUCERE ET FOVERE” – ILUMINAR E SUAVIZAR, as irmãs hospitaleiras franciscanas, durante todo um século de caminhada, souberam plantar a boa semente do saber e da educação. Numerosos e bons frutos já foram colhidos e outros tantos ainda hão de chegar. Pág. 05 Folha Acadêmica OPINIÃO ACADÊMICA Janeiro/abril/2012 Valfredo Messias dos Santos REPENSANDO PENEDO A propósito de mais um aniversário da cidade de Penedo, cantada em prosas e versos e admirada por todos que a visitam, conhecida como a “Ouro Preto do Nordeste” e, ainda, como a “Cidade dos Sobrados”, no dizer de Gilberto Freire, valho-me do momento para fazer uma reflexão sobre a tênue ascensão que vislumbro estar se verificando no seu desenvolvimento econômico e cultural. Há décadas, os historiadores vêm se manifestando sobre o declínio do apogeu da cidade de Penedo, que já foi um influente centro comercial, com uma economia pujante e de onde nasceram artistas, músicos, escritores, poetas e grandes personalidades que se destacaram no cenário nacional. Os clubes de serviços, que reuniam pessoas preocupadas como seu progresso e desenvolvimento, com relevantes serviços prestados à cidade, aos poucos foram enfraquecendo, perdendo a sua visibilidade com a redução do número de seus membros. Prédios de valores históricos inestimáveis se tornaram ruínas como, por exemplo, o que abrigou a Coordenadoria Regional de Ensino, situado na área mais nobre da cidade, nas proximidades do Colégio Imaculada Conceição com um belíssimo estilo arquitetônico e, apesar de sua imponência, parece não ser visto e, aos poucos, vem sucumbindo, perdendo o seu brilho, definhando e levando uma parte da história. As igrejas e o convento, templos religiosos de relevantes valores históricos, marcos do início da evangelização, também se ressentiram da falta do cuidado devido, chegando ao ponto de algumas serem interditadas, sem condições de receberem os seus fiéis, em razão do risco de desabamento do seu teto ou de incêndio, em decorrência de instalações elétricas deficientes. Uma escola situada no bairro do Oiteiro, hoje Santo Antônio, “Escola Professor Lêonidas Souza”, foi desativada há vários anos e abandonada pelos governos e hoje se encontra em estado deplorável sem teto, com algumas paredes ainda em pé e dominada pelo mato, sendo foco de doenças e abrigo de marginais. Até mesmo o majestoso Rio São Francisco, o Opara, o grande mar, tão admirado pelos indígenas e, posteriormente, pelos pescadores, que dele tiravam o seu sustento, corre fraco, sem vida, e vai se arrastando em direção à foz, vencido pelo mar que outrora - o via entrar em suas entranhas com determinação. Apesar desses fatos negativos, tenho uma visão nítida de que alguma coisa começa a mudar. O ressurgimento da Academia Penedense de Letras, Artes, Cultura e Ciências, que há 32 anos se encontrava desativada e que tem como missão principal estimular o prazer pela leitura, pela escrita de poemas e contos, fazendo os alunos e escritores refletirem a importância de cada um como artífice da história, pois sem a escrita, a história não se perpetua... O surgimento de entidades como a Associação Cultural Barqueiros do Velho Chico, a Associação dos Artistas Plásticos e Literários de Penedo e a Agremiação Artística e Cultural do Centro Histórico de Penedo. A continuidade, com presença firme e marcante, do Monte Pio dos Artistas. O reinício das atividades de uma das lojas maçônicas e a restauração da Casa da Aposentadoria, um dos prédios mais antigos e belos de Alagoas. Todos esses fatos são marcantes na busca da revitalização e do aprimoramento de nossa cidade. No campo educacional, registre-se: a implantação dos cursos superiores em turismo e pesca ministrados pela Universidade Federal de Alagoas; a ampliação de cursos na Faculdade Raimundo Marinho; a criação do Campus do Instituto Federal de Alagoas para formação de técnicos em várias áreas, ampliando os saberes científicos e a capacidade cultural de um povo que a história reconheceu como berço da civilização alagoana.Também ressalto a reforma do Mercado Público Municipal e do Mercado da Farinha, em fase de conclusão, a oxigenação do comércio local com a chegada de vários empreendedores dos ramos de móveis, eletroeletrônicos, calçados, alimentação, concessionárias de veículos, dentre outros. O projeto do Governo Federal “Minha Casa Minha Vida” que tem beneficiado centenas de pessoas, transformando Penedo em um verdadeiro canteiro de obras. No aspecto religioso, ampliou-se o número de igrejas evangélicas de diversas denominações, tendo algumas delas edificado suas sedes para a prática do culto religioso. A história é sempre inconclusa. Devemos nela intervir, escrevendo, recriando , ampliando, discutindo, aprimorando, produzindo. A história do Penedo deve ser contada em versos, em prosas, em atitudes e pelo exemplo. E não apenas uma demonstração de amor volúvel, interessado, momentâneo, oportunista que se esvai como fumaça tão logo os interesses se acabem. É urgente que sejamos contaminados por esta ideia, a ideia da posse, da guarda, da necessidade de preservar e de respeitar a nossa cidade como uma relíquia cobiçada por muitos. Devemos, nós, os penedenses, olhando o passado e vislumbrando a importância do Penedo para a História do Brasil, nos inserir neste contexto para nos transformarmos em sujeitos e não objetos dessa mesma história, escrevendo ou reescrevendo uma nova página da “Cidade dos Rochedos”. * É procurador do Estado e poeta. Ocupa a cadeira 05 da A P L A C C. Pág. 06 Folha Acadêmica Janeiro/abril/2012 FLASHBACK – Reinauguração da Casa da Aposentadoria Pág. 07 Folha Acadêmica Janeiro/abril/2012 FLASHBACK – Aniversário de Penedo (Cartão Postal) Folha Acadêmica Pág. 08 ARTIGO ACADÊMICO Janeiro/abril/2012 Moezio de Vasconcellos Costa Santos QUE PERCEPÇÃO DEVEDEVE-SE TER DO DIREITO? DIREITO? O termo direito provém da palavra latina directum, que significa reto, no sentido de retidão, o certo, o correto, o mais adequado. A definição nominal etimológica de Direito “qualidade daquilo que é regra”. Da antiguidade chega a famosa e sintética definição de Celso: “Direito é a arte do bom e do equitativo”. Na Idade Média se tem a definição concebida por Dante Alighieri: “Direito é a proporção real e pessoal de homem para homem que, conservada, conserva a sociedade e que, destruída, a destrói.” Numa perspectiva de Kant: “Direito é o conjunto de condições, segundo as quais, o arbítrio de cada um pode coexistir com o arbítrio dos outros de acordo com uma lei geral de liberdade.” Na verdade, o direito, na sua essência, é um conceito em constante mutação. Nesta linha de compreensão, o direito seria conceitualmente o que é mais adequado para o indivíduo tendo presente que, vivendo em sociedade, tal direito deve compreender fundamentalmente o interesse da coletividade. Daí surge a grande discussão, que se trava ao longo dos tempos, o que obriga que os conceitos de certo ou errado, do direito e do não direito se adaptem às novas realidades geográficas, religiosas, humanísticas e históricas, para descrever apenas algumas questões que interferem na evolução e adequação do direito a ser aplicado. Na atualidade, de forma imposta ou democrata, os parâmetros do direito para determinada coletividade, desde os mínimos grupamentos, tais como clubes e condomínios, até os Municípios, Estados, Países, Organizações Internacionais, são norteados por Leis, Convenções, Tratados ou outra forma de pactuação que se ajusta para convivência. Ressalte-se que a lei ou qualquer outro normativo devem estar dentro de um contexto hierárquico, isto porque é preciso que se compreenda que determinadas leis superiores não podem subordinar-se a leis menores. Assim, no caso do Brasil, as leis ou tratados internacionais não podem interferir na soberania do nosso país. Os principais normativos que regem o direito positivo ou escrito no Brasil são: Tratados, Convencionais Internacionais, Constituição Federal, Constituições Estaduais, Leis Complementares, Leis Federais, Estaduais e Municipais, além das Medidas Provisórias Federais, que possuem um caráter de excepcionalidade. Enfim, o direito é aquilo que uma sociedade ou grupamento social compreende como ideal de retidão e correto para a sociedade. Diante da diversidade de questões e litígios a serem enfrentados pelo homem contemporâneo, tornou-se necessário uma abordagem do direito, em suas diversas vertentes de aplicabilidade. Os grandes pensadores, dentre eles Sócrates, Platão, Montesquieu, Rosseau, Karl Max, Max Weber e tantos “filósofos e estudiosos” nas suas respectivas épocas, traduziram bem a proporção de que o ser humano poderia carregar em seu âmago. É importante destacar dois tipos de direito de uma forma geral: o direito natural e o direito positivo. O primeiro se refere àquele direito que nasce com o próprio homem independente de regramentos quanto a sua utilização, enquanto o segundo, denominado direito positivo, de uma forma singela pode ser chamado de direito regrado, criado e escrito pelos homens, através de normativos e legislação que indicam e individualizam as situações e preceitos a serem seguidos cumpridos. ou As fontes do direito são fundamentais na construção do direito positivo: o direito escrito e interpretado que regem as relações humanas na atualidade. As principais fontes são: as leis, os costumes, a doutrina e a jurisprudência dos tribunais. Sendo que o costume é caracterizado quando existe a reiteração de uma conduta na convicção da mesma ser obrigatória, a doutrina é construída pelos estudiosos da área jurídica quando da interpretação do direito, e na jurisprudência é o resultado de decisões judiciais no mesmo sentido, que resultam em novos entendimentos e compreensões do direito. Diante desses argumentos, este autor não discute se o Direito é ou não é ciência, como se perdeu muito tempo no passado, uns para defender que o Direito é ciência, outros para defender que o Direito não é ciência, sob a alegação de que nele não se caracterizava nenhum objeto específico de estudo. ASSUNÇÃO DE NOVO EDITOR DA FOLHA ACADÊMICA Em lugar do acadêmico Wilson Lucena, que se encontra empenhado na conclusão e publicação de seu primeiro livro, o jornalista Marcelino Cantalice assumiu o cargo de editor da “Folha Acadêmica”. Mesmo afastado, o Wilson colaborou em toda a montagem técnica da presente edição. O Direito é, sim, uma ciência, só que é uma ciência normativa e, como toda ciência normativa, ele se arraiga naquilo que deve ser e não naquilo que é, pois, se ele se arraigasse naquilo que é, seria uma ciência acabada e não sofreria mutação cada instante. * Advogado, professor de Direito da UFAL e teólogo. Ocupa a cadeira 10 da APLACC. Pág. 09 Folha Acadêmica Janeiro/abril/2012 Folha Poética Hino do Colégio Imaculada Conceição Recitativo Letra: Maria Núbia Oliveira* Música: José Raimundo Galvão José Vicente de Araújo Batinga* Já cem anos se passaram lentamente Quanta lida, quanta glória e emoção! Mas o tempo não baniu de nossa mente O Colégio Imaculada Conceição. Salve! Salve! Jubiloso Centenário! Celebremos, com amor e gratidão, Percorrendo o luminoso itinerário (refrão) Do Colégio Imaculada Conceição. Desde sempre “iluminando e suavizando”, Centenário da ciência e do saber, A lucerna pelas mãos vai circulando, Aquecendo e confortando cada ser. Quanta dor e quanta pedra no caminho Do ideal de hospitaleira doação, Sob o olhar da Virgem Maria, no seu carinho, Desde os idos pioneiros da missão. Grande parte desses frutos que colhemos As franciscanas semearam com amor. Também nós, no mesmo solo, semeemos, Que a seara recompensa quem plantou. Recordando a Conceição Imaculada, Os cem anos são troféus de “Paz e Bem”! Nossa vida, alegremente consagrada, É sinal da grande fé que nos mantém. * Poetisa e maestrina. Ocupa a cadeira nº 11 da APLACC. Ideal sublime de um cismar ardente, Dourado sonho de púrpuras cores, Fragrante rosa dos etéreos campos, Divina fada de eternos ardores. A tua estema de virentes rosas, Real láurea dos benditos pares, Em tua fronte divina (tão pura..)! Reluz qual Vênus nos cerúleos mares. Os rubros raios dessa estrela pura Refletem na alma do cantor assim, Bem como os raios do argentado globo Retratam flores do eterno jardim. Augusto cisne de amorosas fontes, Sonho que outrora o Criador sonhara, Reúnes tudo de beleza e graças, Tudo de belo que meu Deus formara! Vejo-te agora como vê o nauta Na prece augusta que dirige a Deus A lembrança que lhe anima o peito, Tocando a mola dos sofreres seus. Eu, qual o nauta de sanhudos mares, Vagueio à toa neste chão de horrores, Naufrago sempre no parcel do erro, Errando, caio no parcel das dores. Sê tu a bússola que dirija o nauta, Fanal brilhante de brilhantes cores, Conduz-me salvo da procela irosa Às níveas praias de teu mar de amores. * Poeta clássico Penedense Despedida para minha mãe Luciano Rocha* Relembro ainda e além de tudo a minha infância Vivida pelos campos, pelos prados da vetusta Penedo. Por aqueles becos, por aquelas ladeiras, manas plagas, Sob os afagos de minha mãe, sob seus ternos beijos... Certo dia cresci, pro mundo bati estrada e depois Regressei pro meu regaço, para as flores de minha janela. Doirava um sol loirinho, não me esqueço de nada, Nem dos conselhos de minha musa, dos doces beijos dela. Hoje, homem feito vejo, choro e obviamente lamento Minha bem-amada partir numa tarde de desencanto. Contudo, na dor, junto a meus irmãos eis o desejo: Folha Acadêmica Pág. 10 Louvor Póstumo Janeiro/abril/2012 Luciano Santana Rocha O legado que nossa mãe nos deixou (Para minha genitora Maria Santana Rocha – Dona Celsa – 15.07.1930 / 23.02.2012) Só um romance descreveria, rabiscaria as ranhuras da trajetória árdua, anônima, contudo feliz de minha mãe. Nasceu em Simão Dias - SE e veio habitar em Penedo nos anos idos de 1950, após ter conhecido meu pai, Manoel Sabino Rocha, popularmente conhecido como Sr. Né, terceiro franciscano, homem despojado de vaidades, trabalhador honesto, diligente e de boa índole. O conheceu quando o mesmo foi restaurar, juntamente com o Mestre Antônio Pedro dos Santos, de saudosa memória, a Matriz de Nossa Senhora de Santana em Simão Dias, no sertão sergipano. Passou a vida inteirinha dedicada aos filhos, ao marido e às pessoas à sua volta, fossem as da rua, as da comunidade eclesial, no convento de Santa Maria dos Anjos, na vetusta e histórica Penedo, às margens do Rio São Francisco. Lembro-me, ainda pequenote, quando a gente encrencava na rua, que alguma vizinha corria, num bater de pestanas e ia reclamar-lhe que um de nós havia xingado seu filho ou com ele discutira. Naquele instante, antevendo tudo, sabiamente ela lhe respondia: “Deixe os meninos, mulher! Hoje eles encrencam e amanhã estarão de mãos dadas. Criança é assim mesmo. Nós adultos é que não podemos viver de malquerenças, criatura!” E assim ela ia resolvendo pragmaticamente os problemas que se lhe apareciam na vida. Quando alguém lá em casa achava um objeto perdido, digamos assim, um relógio, outra cousa qualquer, ela procurava saber onde foi e como foi o ocorrido. Se de casa saíamos para algum lugar, se íamos a alguma festa, avisávamos com quem andávamos e quando voltaríamos; distintamente dos dias de hoje, que a maioria cria seus filhos à toa. Em suma, não vivíamos na permissividade moderna. Não havia internet, mas mesmo assim fazia-se mister o controle. Lembro-me de quando ela afirmava “que para ser feliz não seria preciso acumular riquezas e bens, sendo bastante a pessoa amar e respeitar o direito dos outros, não só de ir e vir, mas sobretudo de viver e de se ter múltiplas escolhas.” Sem necessariamente ser uma mulher predominantemente culta, erudita, minha mãe tinha em si os artifícios da sensibilidade e sabedoria que aprendera na vida, na convivência diária, no ideal do “Poverello de Assis”. Minha mãe foi quem me fez escritor com suas estórias infantis. Quando alguém emudecia depressivo ou se prostrava doente, ali estava definitivamente ela, de mangas arregaçadas para ajudar e só saía dali quando a pessoa restabelecia a saúde. Passasse pelo que passasse, nunca a vi de mau-humor, ruminando, reclamando da vida; pelo contrário, resignadamente afirmava: “Deus proverá”. E assim prosseguia, acordando no alvor das madrugadas ou debaixo daquelas chuvas torrenciais, sempre de prontidão para arrumar os filhos para a escola e fazer o café matutino em seu fogão de carvão e, às vezes, até de lenha. Criou-nos na honestidade e sempre nos aconselhava. “Meus filhos, certo vive, quem certo anda”. “Quem o bem fizer, pra si lhe é”, “Diga-me com quem tu andas que eu te direi quem és”, entre outros inumeráveis adágios e conselhos. Relembro, ainda, que eu, um dos filhos mais apegados, quando minha saudosa mãe saía de casa, lhe indagava qual o seu itinerário. Ela me respondia com um sorriso meigo e franco: “Vou com as irmãs da Ordem levar a comida dos presidiários”. Noutro dia: “Vou visitar a irmã Judite que está doente e depois os idosos no Lar de São José e de São Vicente de Paula”. Ou ainda: “Vou com o pessoal para a campanha solidária em prol das crianças carentes do Alto da Pólvora.” Que testemunho e relevante legado este que ela nos deixara! O da justiça e o da autenticidade, da compaixão e do acolhimento para com quem padece! Por isso mesmo, mais do que merecido o poema póstumo, por mim composto, no dia de sua partida para a terra da homogeneidade, transcrito na “Folha Poética” da presente edição. Enfim, para nós, seus dez filhos, seus rebentos, deixa-nos o mais puro e digno exemplo de alegria na pobreza, de justiça no relacionamento social, de acolhimento aos menos favorecidos, de simplicidade e humildade, de paciência no sofrimento, da predisposição para o trabalho e, acima de tudo, da rara decência, da partilha e da luta por um mundo mais justo. E como retribuição, o fascinante vislumbrar de um céu estrelado de alegria antes de encarar a irmã morte, o ramo da esperança da ressurreição, a partida com a consciência bem tranquila de que cumprira a missão dada por Deus. Passar por esse mundo e nada dele levar, senão um espírito vivido na plena paz e no sumo bem. * É professor e poeta. Ocupa a Cadeira 07 da APLACC Pág. 11 Folha Acadêmica TRIBUTO EXCLUSIVO Janeiro/abril/2012 Maria Nailza de Melo Sá* Uma vida entre rimas e versos Proveniente de cidades ribeirinhas do tão decantado Rio São Francisco, fonte perene de inspiração, o poeta, cronista, escritor e teatrólogo, João Domingues de Melo, é dotado de muitos dons e carismas, inclusive o de longa vida. Aos 91 anos de idade, produz diariamente literatura, deixando fluir tudo o que o Espírito Santo lhe permite, poder-se-ia dizer, para evangelizar e transmitir o bom e o belo da vida para o mundo. É o arauto da paz. Todos os seus escritos emanam lições de vida: alertam os homens sobre suas ações contrárias aos ensinamentos de Deus; exortam para que todos retornem ao caminho do bem e, sobretudo, mostram a beleza da criação do Universo e das criaturas. Dos seus escritos destacam-se a poesia, o poema, crônicas, acrósticos, diálogos, usando todas as letras do alfabeto. A versatilidade de sua cultura encanta os seus leitores. João Domingues de Melo nasceu em Igreja Nova (AL), no dia 22.06.1920. Filho do casal José Domingues de Melo e Maria José Torres Melo. Lá, aos 14 anos, iniciou sua carreira profissional em casas comerciais. Casou-se com Maria do Carmo Melo (falecida) no ano de 1944, com a qual teve 10 filhos, porém somente três sobreviveram. Casou-se, pela segunda vez, com Geralda da Silva Souza, que também já faleceu. Viveu por muitos anos na histórica cidade de Penedo Trabalhou no comércio local. Publicava sua produção literária nos jornais locais: “O Apóstolo”, “O Correio do São Francisco” e “ Tribuna Penedense”. Acompanhado dos filhos, migrou para São Paulo e Salvador, deixando, naquelas capitais, a sua indelével marca de poeta e escritor. Retornou a Penedo, aposentando-se tempos depois. Complementava sua aposentadoria, comercializando livretos de cordel e revistas usadas. Em 2003, passou a morar em Maceió, nunca deixando de colaborar regularmente com os periódicos penedenses. Publicou os livros: “Festa de Nossa Senhora dos Anjos” (1984); “Pérolas do coração” (1984); “Coletânea de Louvores poéticos à Virgem Santíssima” (1994); “Mãe Santíssima”(1994); “Flores da primavera” (1994), com apoio da então secretária de cultura estadual, Alita Andrade, lançado em conjunto com outros escritores, sendo considerado “O Dono da Festa”; “Saudosas Recordações” (2001), com apoio do Dr. Francisco Sales, presidente da Fundação Casa do Penedo; “Grandezas de meu Brasil (2003). No livreto intitulado “Variações” compilou seus artigos, crônicas e reportagens religiosas e sociais de Igreja Nova, publicados no jornal “O Apóstolo”, de Penedo. Participação especiais: Coletânea Caeté do Poema Alagoano (1988) – Coletânea do Poema Penedense (1991) – CD “Uma noite de música & poesia (4º Recita Penedo) – Tertúlia Literária da Associação dos Escritores e Poetas de Penedo. Agraciado, em 19.12.1998, com o título de “Cidadão Penedense” pela Câmara Municipal de Penedo. Recebeu o diploma de “Trovador da Bahia” e também de “Poeta”, por sua participação no Concurso Nacional de Poesia da Cidade de Brasília. Também tributos especiais da “Tribuna Penedense”. A Ordem Franciscana Secular, em fevereiro de 2001, ofereceu-lhe um troféu de honra ao mérito. É filiado ao Sindicato de Escritores de Alagoas. Em 15.12.2003, passou a ocupar a cadeira 27, da Academia Maceioense de Letras, cuja patrona é sua irmã, Maria Luisa Melo Sá. A instituição lhe concedeu medalhas de “honra ao mérito” e do “mérito literário”. E, aos 91 anos de idade, o longevo poeta continua produzindo. Prontas para a publicação as obras: “Vida de Jesus Cristo”; “Vida de Juscelino Kubitschek”; “Louvores à Glória de Deus”; “Minhas Memórias”, esta uma obra ampla e fascinante, que narra a vida do artista em versos. Ele cumpre sua missão na Terra, dando passos largos para alcançar a vida eterna. Tem consciência de que não pode calar diante dos espíritos de mortificação e de desonestidade predominantes nos dias de hoje. Passa os seus dias silenciosamente em meditação sem ficar alheio à modernidade. A sua tônica é ver o homem de hoje obediente às leis de Deus, norteadas no ontem, no hoje e no sempre. Sua inspiração é profícua e peremptória. Há que se considerar tratar-se de um dos poucos escritores alagoanos a laborar por tão longo tempo de sua existência. Aprecia a boa leitura, fazendo-a de lastro às suas criações literárias. Transforma seus sonhos em matérias para os seus versos. João Domingues de Melo, ao longo de sua preciosa vida, primou pela dignidade de ser um cidadão trabalhador, responsável, honesto, de profunda fé e cultor da literatura, honrando seus antepassados, dos quais recebeu educação moral, cívica e religiosa. Um homem de magnitude humana. Sempre elevou os nomes dos lugares em que viveu e em que vive. Com todo mérito, é uma das grandes figuras ilustres da história cultural de Penedo e de Alagoas. *Advogada, poeta e escritora. É sobrinha e biógrafa do homenageado.