OPINIÃO
Como é difícil ser empresário no Brasil!
O pais cresceu, mas o Custo Brasil aumentou e ameaça quem se atreve a montar um negócio.
Nosso país vem mudando. O Brasil de hoje é diferente
daquele do governo Lula, que por sua vez é diferente do tempo do Fernando Henrique e assim por diante. No período da
presidente Dilma as mudanças continuaram acontecendo,
mas nem sempre o governo e a própria sociedade brasileira
foram competentes e ágeis o suficiente para adaptar-se às novas situações de maneira a fazer frente ao que está por vir.
O governo Lula, em especial, beneficiou-se de uma
conjuntura favorável que herdou, no plano interno, da administração Fernando Henrique, que domou a inflação e recolocou o país nos eixos e, no plano externo, pela fartura de
capitais que ficaram sem ter onde investir devido ao estouro
da bolha imobiliária nos Estados Unidos da América, com
reflexos na Europa e no oriente. Foi este capital estrangeiro
que, em última análise, acabou financiando a expansão do
setor imobiliário e a venda de bens de consumo, como automóveis e eletrodomésticos para as grandes massas.
A facilidade de crédito, somada à baixa do Dólar, permitiu acesso fácil a bens antes considerados de luxo. O reflexo mais visível na área da informática foi o aumento das
vendas dos micros portáteis, os notebooks, como são chamados no Brasil, que deixaram de ser um símbolo de status
para estar em qualquer dormitório de adolescente de classe
média. Agora os brasileiros podem ter as TVs de tela plana
e alta resolução, automóveis que nada ficam a dever aos melhores do mundo e apartamentos caríssimos mas que, ao
serem financiados a perder de vista, acabaram ficando ao
alcance de muitos.
Paradoxalmente, foi esta mesma combinação de sucesso que vem levando ao sucateamento da indústria brasileira. Tudo o que pode ser fabricado em grandes quantidades acaba vindo da China. Não é que os industriais brasileiros sejam incompetentes, muito pelo contrário, mas é que
eles precisam lidar com uma confusão legal, econômica e
logística que acaba inviabilizando a fabricação local.
O Brasil continua grande na agro-indústria, o que não
é de se estranhar. Afinal, temos terra em abundância (apesar
de estar cada vez mais cara), água à vontade (pelo menos
até a grande seca de 2014), recursos naturais de todo tipo e
mão-de-obra trabalhadora e relativamente barata (frente ao
custo no primeiro mundo). Some-se isto à tecnologia desenvolvida em casa, notadamente pela EMBRAPA, e o Brasil
acaba por abastecer o mundo de diversas “commodities”
como carne de frango, bovina e suína, soja, milho, café, algodão, alumínio e minério de ferro, para citar só alguns.
Infelizmente esta grandeza não se repete nas outras
indústrias. Com efeito, é muito mais fácil retirar minério da
terra e colocar dentro de um navio do que fabricar certos itens
que os brasileiros adoram: óculos, celulares, câmeras fotográficas, carros e muitos outros produtos de consumo. Para
fabricar estes itens com qualidade aceitável, quantidade suficiente e preço compatível é preciso uma infra-estrutura que
o Brasil não tem. O pouco que tinha foi sendo sistematicamente destruido ao longo das últimas décadas, por governos que prezaram mais o jogo político, os interesses dos
amigos e seu ideário filosófico do que a produção local.
Hoje em dia, quem se atrever a montar uma indústria
vai apanhar de todos os lados. Começa pela legislação trabalhista, que pode ser boa para quem consegue emprego, mas
é perversa para quem oferece o emprego.
A “multa” do fundo de garantia, por exemplo, é um
anacronismo que premia os maus funcionários e desestimula
o empregador. Para quem não sabe, quando uma empresa demite um funcionário precisa pagar para o mesmo uma “multa” correspondente a 40% do saldo do Fundo de Garantia por
Tempo de Serviço, o FGTS. Como se não bastasse, ainda
existe uma segunda multa, correspondente a 10% do valor
do mesmo FGTS, que por sua vez vai para “ o Tesouro Nacional de forma a compensar perdas que trabalhadores tiveram com os planos Verão e Collor”... Até parece brincadeira, mas é sério. Se a demissão não for por justa causa, a empresa paga 50% de multa por demitir alguém. A pergunta que
cabe é a seguinte: porque uma empresa demite um funcionário? Existem apenas duas hipóteses possíveis:
1 – A empresa está em dificuldades financeiras ou mudou
seus produtos e não precisa mais do funcionário, ou então,
2 – O funcionário não tem aptidão ou dedicação suficiente
para continuar na empresa.
Ou seja, a empresa não tem o direito de entrar em
dificuldade financeiras e nem de livrar-se de um empregado
ruim. Parte-se do princípio de que o empresário é rico e explorador, e tem que “indenizar” a quem demitir. E o funcionário vagabundo e desinteressado, que faz corpo mole de propósito para ser mandado embora, este é premiado com a
multa que o empresário acaba preferindo pagar a ter que ficar sustentando aquele estorvo dentro de seu próprio lar...
Fora este anacronismo, o empresário tem que lidar
com uma infinidade de impostos (mais de 50), corrupção,
transporte caro e deficiente, crédito caríssimo e absoluta falta
de incentivo do governo. Este é o “pacote” que se convencionou chamar de “custo Brasil” e que prejudica, em especial, ao pequeno empresário. Se continuar assim vamos continuar importando bugingangas da China, enquanto exportamos produtos nobres como minério de ferro e bauxita
(minério de alumínio). Mandamos o minério para fora e
depois importamos carros e telefones feitos com aço e alumínio, ao invés de fabricá-los aqui. Damos emprego para chineses, ao invés de empregar brasileiros. O que está errado
nisto tudo? Pense bem no assunto e considere quanto vale
seu voto nas próximas eleições...
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na
Revista PnP Nº 32
66
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Revista PnP nº 32
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