IMPACTOS DA PRIVATIZAÇÃO NO
SETOR SIDERÚRGICO
ÁREA DE OPERAÇÕES INDUSTRIAIS 2 - AO2
DIRETOR
José Mauro Mettrau Carneiro da Cunha
SUPERINTENDENTE
Jorge Kalache Filho
Elaboração:
GERÊNCIA SETORIAL DE MINERAÇÃO E METALURGIA
Maria Lúcia Amarante de Andrade – Gerente Setorial
Luiz Maurício da Silva Cunha – Economista
Guilherme Tavares Gandra – Engenheiro
Caio Cesar Ribeiro - Estagiário
Editoração:
AO2/GESIS
Apoio Bibliográfico:
Marlene Cardoso da Matta
Janeiro de 2001
É permitida a reprodução parcial ou total deste artigo desde que citada a fonte.
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ÍNDICE
1 – INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................... 1
2 – EVOLUÇÃO DA SIDERURGIA MUNDIA L..................................................................................................... 1
3 – SIDERURGIA BRASILEIRA ANTES DA PRIVATIZAÇÃO........................................................................... 1
4 – PRIVATIZAÇÃO DA SIDERURGIA BRASILEIRA ......................................................................................... 2
5 – SIDERURGIA PÓS–PRIVATIZAÇÃO............................................................................................................. 3
6 – REESTRUTURAÇÃO DA SIDERURGIA BRASILEIRA................................................................................ 5
7- PROGRAMA DE MODERNIZAÇÃO TECNOLÓGICA................................................................................... 7
8 - EVOLUÇÃO DA SIDERURGIA BRASILEIRA ............................................................................................... 9
9 – CONCLUSÃO..................................................................................................................................................11
MINERAÇÃO E METALURGIA
1 – Introdução
No Brasil, a privatização constituiu-se em questão de sobrevivência da siderurgia
brasileira, considerando o esgotamento dos recursos estatais para incrementar ou até manter a
competitividade da indústria nacional no novo cenário da siderurgia mundial.
A privatização foi o estopim para o início das profundas mudanças estruturais que ainda
hoje atingem a siderurgia brasileira, imprescindíveis para a sua inserção competitiva no mercado
global. Atualmente, o setor encontra-se atualizado tecnologicamente e fortalecido para enfrentar a
nova realidade de adaptação às regras impostas pela globalização dos mercados em contexto de
acirrada competição.
2 – Evolução da Siderurgia Mundial
A siderurgia mundial apresentou três estágios distintos de evolução. No primeiro,
correspondente ao período pós–guerra até a década de 70, ela contou com enorme
desenvolvimento, assim como ocorreu com outras indústrias. Entre 1945 e 1979, a taxa média anual
de crescimento da produção mundial de aço bruto foi cerca de 5%. A reconstrução de um mundo
assolado pela guerra alavancou a atividade industrial, favorecendo alguns países no rápido
desenvolvimento de suas economias. Desse modo, constata-se um grande crescimento da
siderurgia nos países desenvolvidos e também em alguns países em desenvolvimento, que, como o
Brasil, implantaram e expandiram sua siderurgia através do Estado. Nessa fase, a siderurgia
mundial era predominantemente estatal: o índice de estatização da produção de aço atingiu 75%
em 1980.
No segundo estágio, na década de 80, o setor caracterizou-se pela estagnação com
produção em torno de 700 milhões de t/ano, e pela desaceleração do crescimento das economias
desenvolvidas, influenciando o comportamento da demanda de aço. Essa fase, de superoferta de
aço com preços em queda, caracterizou-se também pela intensificação do uso de materiais
substitutos como alumínio, plástico e cerâmica, ameaçando a hegemonia do aço.
A siderurgia estatal tinha limitações para completar o seu ciclo de capacidade, incutindo
ela própria entraves ao seu desenvolvimento. Influenciado por decisões políticas, o controle do
Estado reduzia a velocidade de resposta e a liberdade das empresas em relação às exigências do
mercado e às mudanças do ambiente. De maneira geral, os investimentos em pesquisa de novas
tecnologias de produtos e processos realizados pelas empresas eram insuficientes. Muitas delas
tornaram-se lentas, desatualizadas ou até mesmo obsoletas tecnologicamente, pouco racionalizadas
e pouco eficientes em custo, pois muitas vezes eram protegidas por mercados fechados. Eram
uma necessidade imperiosa a reestruturação e a agilização da siderurgia mundial, em processo de
estagnação.
A terceira fase, iniciada em 1988 e que perdura até os dias atuais, caracterizou-se pela
reestruturação, com profundas e constantes transformações do setor. Alavancado pelas idéias de
abertura e globalização dos mercados, iniciou-se um grande processo de privatização na siderurgia
mundial. Esse movimento, que pode ser considerado o ponto de partida para a reestruturação, vem
ocorrendo ao longo de toda a década de 90, de forma constante e bastante intensa. Para se ter
uma idéia dessa evolução, em 1990 a participação estatal era de 60% da produção mundial, em
1994 atingiu 40% e atualmente restam menos de 20% nas mãos do Estado, com grande
concentração na Rússia, Ucrânia e China.
A privatização foi um fator determinante para a reestruturação, contribuindo para a
internacionalização da indústria. Junto com a globalização, ela acirrou a competição existente na
indústria, fazendo com que seus players buscassem produtividade, tecnologia e escala para
adquirir vantagens competitivas em sua atuação.
3 – Siderurgia Brasileira antes da Privatização
A indústria siderúrgica sempre foi reconhecida pela sua importância no desenvolvimento
econômico das nações, por fornecer insumos para infra–estrutura, suprindo indústrias de
construção, de bens de capital e de bens de consumo, especialmente automobilística. Deste modo,
o Brasil, a exemplo de outros países em desenvolvimento, investiu através do Estado na construção
MINERAÇÃO E METALURGIA
1
de um parque siderúrgico, com ênfase na criação de capacidade, voltada para o mercado interno e
exportação.
A criação de estatais siderúrgicas no país fazia parte do modelo de substituição de
importações, que objetivava a diminuição da dependência de manufaturados provenientes dos
países desenvolvidos. Assim, em meio ao crescimento do parque industrial brasileiro, a demanda e
a produção aumentaram rapidamente, fazendo com que diminuíssem consideravelmente as
importações. Em 1966, o Brasil tornou-se o maior produtor de aço da América Latina. Em 1973, foi
criada a Siderbrás, holding estatal encarregada de controlar e coordenar a produção siderúrgica
nacional.
Nos anos 70, o governo brasileiro buscou financiamento externo para investir em
aumentos da capacidade e desenvolvimento tecnológico, a fim de atender principalmente à
crescente demanda de aços planos. Vale ressaltar que o segmento de aços longos, por exigir
menores escalas e investimentos para operação, já era inicialmente suprido por empresas privadas.
Ao longo dos anos 80, na chamada “década perdida”, a crise da dívida externa provocou
o declínio na demanda interna de aço. O excesso de capacidade decorrente forçou as siderúrgicas
a exportar os produtos com menor retorno, de forma a garantir a colocação no mercado
internacional e a manutenção da produção. Os lucros e investimentos sofreram queda significativa,
devido à menor disponibilidade de crédito externo e aos baixos preços, tanto externos como internos
– estes causados pelo controle dos preços face à política governamental de combate à inflação.
Dessa forma, nos anos 80 a crise do Estado brasileiro impedia que fossem realizados
investimentos na modernização do parque industrial, distanciando-o cada vez mais dos padrões
internacionais de qualidade, produtividade e competitividade. O setor siderúrgico nacional possuía
uma produção muito pulverizada, mas que atuava dentro do princípio de auto–suficiência em todos
os produtos siderúrgicos, a qualquer custo, e assim apresentava certa vulnerabilidade,
considerando-se, também, que se iniciava o processo de abertura da economia, assim como a
globalização do mercado.
As principais características da siderurgia brasileira antes da privatização eram, em
síntese, as seguintes:
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setor altamente endividado;
parque industrial desatualizado;
limitações de investimentos;
gestão burocratizada e/ou política;
limitações comerciais;
baixa autonomia de planejamento e estratégia; e
alto passivo ambiental.
Desse modo, a predominância de estatais, com alto nível de endividamento, gerava uma
certa imobilidade no mercado, além de proporcionar baixos investimentos em pesquisa tecnológica
e menor velocidade na reformulação de processos produtivos e na conseqüente obtenção de
ganhos de produtividade. Em tal contexto, as empresas muitas vezes atuavam segundo interesses
políticos, discordantes do foco comercial. O setor possuía, assim, sérios entraves ao
desenvolvimento.
4 – Privatização da Siderurgia Brasileira
O processo de privatização da siderurgia brasileira ocorreu em duas etapas: na primeira,
que teve início em 1988, com o Plano de Saneamento do Sistema Siderbrás, realizaram-se
privatizações de menor porte, como as da Cosim (setembro de 1988), da Cimetal (novembro de
1989), da Cofavi (julho de 1989) e da Usiba (outubro de 1989), que em geral eram produtoras de
aços longos e foram absorvidos pelos Grupos Gerdau e Villares; na segunda, que abrangeu o
período 1991/93, o processo se acentuou com o Programa Nacional de Desestatização (PND),
quando todas as indústrias siderúrgicas restantes foram privatizadas.
MINERAÇÃO E METALURGIA
2
No total, o valor das vendas à iniciativa privada atingiu cerca de US$ 5,6 bilhões,
chegando a US$ 8,2 bilhões se considerados os valores apurados incluindo as dívidas transferidas.
A produção siderúrgica privatizada foi de 19 milhões de t, representando, à época, 65% da
capacidade total de produção de aço brasileira.
TABELA 1
Empresas Siderúrgicas Privatizadas no Brasil
US$ Milhões
Empresas
Data do Leilão
Receita de
Venda
Dívida
Transferida
Resultado
Geral
Principais Compradores
Usiminas
Cosinor
Piratini
CST
Acesita
24/10/1991
14/11/1991
14/02/1992
16/07/1992
22/10/1992
1.941,2
15,0
106,7
353,6
465,4
369,1
2,4
483,6
232,2
2.310,3
15,0
109,1
837,2
697,6
CSN
02/04/1993
1.495,3
532,9
2.028,2
Cosipa
Açominas
20/08/1993
10/09/1993
585,7
598,6
884,2
121,9
1.469,9
720,5
Bozano
Gerdau
Gerdau
Bozano, CVRD e Unibanco
Previ, Sistel e Safra
Bamerindus, Vicunha,
Docenave, Bradesco, Itaú
Anquila e Brastubo
Cia. Min. Part. Industrial
-
5.561,5
2.626,3
8.187,8
-
Total
Fonte: BNDES.
O processo de privatização permitiu o fortalecimento da siderurgia nacional, com
importantes benefícios para as empresas, do ponto de vista comercial, administrativo e financeiro.
Quanto aos aspectos financeiros, cabe ressaltar que o plano de saneamento foi importante para a
recuperação dessas empresas, as quais sofreram alterações em suas estruturas de endividamento
antes de serem transferidas ao setor privado. Salienta-se também que elas passaram a destinar ao
mercado interno maior parcela da produção, a preços mais competitivos que os praticados nas
exportações. Previamente à privatização, cessou o controle de preços.
5 – Siderurgia Pós–Privatização
A privatização da siderurgia brasileira possibilitou o término de um longo período cujo
enfoque principal era o modelo de substituição de importações com reserva de mercado, em que as
empresas operavam em segmentos não concorrentes entre si. Isso gerava inconvenientes, em
termos de preço e qualidade para os consumidores, resultantes da falta de competição. A
possibilidade de entrada de novos concorrentes no mercado ampliou a competição, propiciando a
busca de novos padrões de eficiência administrativa, comercial e financeira.
Paralelamente à privatização, iniciou-se o processo de liberalização do setor – com a
redução do controle de preços pelo governo –, como também a abertura da economia. Reduziramse as alíquotas de importação de produtos siderúrgicos e de tecnologia, assim como as barreiras
não–tarifárias. Esse foi o cenário para dar partida ao processo de reestruturação da siderurgia
brasileira, cujos principais ganhos decorrentes da privatização foram os seguintes:
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Ä
Ä
Ä
Ä
Ä
Ä
Ä
Ä
Ä
início de nova etapa de desenvolvimento;
melhorias de performance nas áreas administrativa, financeira e tecnológica;
profissionalização das administrações;
reorientação das gestões para obtenção de resultados;
fortalecimento das empresas como grupos empresariais (compatíveis com a abertura
econômica);
participação em novos investimentos no exterior e em parcerias com clientes;
redução de custos;
elevação da produtividade;
acesso ao mercado de capitais;
desenvolvimentos de processos e produtos para atendimento ao cliente;
MINERAÇÃO E METALURGIA
3
Ä
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Ä
Ä
Ä
definição de novos investimentos em modernização e atualização tecnológica e meio
ambiente;
investimentos em logística e infra–estrutura;
autonomia para planejamento e estratégia de atuação;
estratégias comerciais mais agressivas; e
melhoria dos indicadores de resultados.
Em relação aos aspectos econômico–financeiros, as empresas se beneficiaram da
capitalização de novos sócios empreendedores e com o alongamento do perfil de endividamento,
passando a contar com margens operacionais mais adequadas. Na Tabela 2 a seguir apresentamse os indicadores, para o período 1992/95, das empresas siderúrgicas privatizadas, onde se pode
observar a melhoria significativa dos indicadores de resultados e patrimoniais.
Desse modo, a privatização possibilitou o início de nova etapa de desenvolvimento e
fortalecimento do setor siderúrgico brasileiro, imprescindível para a consolidação da posição de
destaque da indústria nacional no competitivo mercado internacional. Além disso, também puderam
ser constatadas diversas vantagens para a sociedade brasileira, enumerando-se, entre outras, as
seguintes:
Ä
Ä
Ä
desenvolvimento social e econômico em torno da usinas com novos componentes da cadeia
produtiva;
elevação da arrecadação tributária; e
incremento da atividade de cunho social, inclusive as resultantes de parcerias com as
prefeituras municipais.
MINERAÇÃO E METALURGIA
4
TABELA 2
Indicadores das Empresas Siderúrgicas Brasileiras Privatizadas – 1992/95
Empresas
(Data da
Privatização)
Acesita
(22/10/92)
Açominas
(10/09/93)
Cosipa
(20/08/93)
CSN
(02/04/93)
CST
(10/07/92)
Usiminas
(24/10/91)
Faturamento
Lucro Líquido
(US$ Milhões)
(US$ Milhões)
Ano
1992
1993
1994
1995
1992
1993
1994
1995
1992
1993
1994
1995
1992
1993
1994
1995
1992
1993
1994
1995
1992
1993
1994
1995
397
463
774
678
394
430
648
678
863
799
1.305
1.222
1.516
1.604
2.209
2.206
546
617
889
931
1.256
1.212
1.832
4.160
Patrimônio Líquido
(US$ Milhões)
(100)
31
80
32
38
55
33
35
(297)
(579)
(80)
74
125
22
94
110
(149)
33
93
190
123
246
200
336
428
499
500
1.064
2.567
2.852
2.850
2.244
793
1.351
1.650
2.059
4.136
3.937
3.932
5.905
1.972
1.923
1.923
3.129
1.395
1.557
1.555
2.813
Fonte: Economática, IBS, períodicos, empresas e BNDES.
6 – Reestruturação da Siderurgia Brasileira
Com a privatização da siderurgia brasileira, iniciou-se a sua reestruturação, seguindo
tendência mundial, com redução significativa do número de empresas. Até o final da década de 80,
o setor era composto por mais de 30 empresas/grupos, que atuavam em um cenário de proteção de
mercado. No começo dos anos 90, com o programa de privatização e a abertura da economia,
iniciou-se um processo de reestruturação no sentido de ampliar a capacidade do setor.
Atualmente, nove empresas são responsáveis por 96% da produção brasileira (Gráfico 1),
as quais podem ser reunidas em cinco grupos principais: CSN, Usiminas/Cosipa, Acesita/CST,
Belgo Mineira/Mendes Júnior e Gerdau/Açominas.
GRÁFICO 1
Produção de Aço Bruto no Brasil
Fonte: IBS.
Belgo-Mineira
Villares
Demais
3%
4%
Usiminas
12%
9%
Cosipa
10%
Gerdau
13%
CSN
19%
CST
MINERAÇÃO E METALURGIA
18%
Acesita
Açominas
3%
9%
5
Após os ajustes tecnológicos, o setor tornou-se competitivo no cenário mundial, passando
a atrair o interesse dos grandes grupos internacionais siderúrgicos, visando à penetração ou à
expansão de participação nessa indústria. Merece citação a entrada da Usinor, em 1998, nas
empresas Acesita e CST, os aumentos de participação da Kawasaki Steel na CST e da Nippon Steel
na Usiminas e associação da Thyssen com a CSN em aços galvanizados.
Cabe também considerar que o Brasil, apesar de ser o oitavo maior produtor mundial, não
possui nenhuma empresa entre as 20 maiores do mundo, sendo que o maior fabricante (Posco, da
Coréia) tem capacidade superior à totalidade da produção de aço do Brasil (em torno de 25 milhões
de t). Na relação dos maiores produtores mundiais em 1999, a maior empresa nacional (Gerdau),
incluindo suas atividades no exterior, encontrava-se em 32º lugar, a CSN em 36º e a CST em 47º.
Considerando-se a capacidade conjunta de Usiminas e Cosipa, maior grupo siderúrgico do país,
com 5,6 milhões de t de aço bruto, sua colocação seria a 28º no ranking mundial. Portanto, o
Brasil ainda não atua de acordo com padrões mundiais de largas escalas de operação, sendo de
interesse, desse modo, a continuidade do processo de reestruturação para maior competitividade
no mercado global.
MINERAÇÃO E METALURGIA
6
Ranking das Maiores Empresas Siderúrgicas Mundiais
Fonte: BNDES.
Produção (1999)
Ranking
01
Posco (Coréia)
02
N i p p o n Steel (Japão)
03
Usinor (França)
04
26,54
24,33
22,15
21,29
Corus (Reino Unido)
05
Arbed Group (Luxemburgo)
06
L N M Group (Reino Unido)
07
Shanghai Baosteel (China)
08
Thyssen K r u p p Steel (Alemanha)
09
NKK (Japão)
11
US Steel (EUA)
32
19,90
16,67
16,50
Riva Group (Itália)
10
28
21,00
14,10
11,61
10,91
25,,5597
U siminas/ Cosipa
Gerdau Group
36
5,10
4,85
CSN
4,41
CST
47
0
5
10
15
20
25
30
Milhões de toneladas
7- Programa de Modernização Tecnológica
A privatização da siderurgia brasileira possibilitou o início da nova etapa de investimentos
no setor. O parque nacional encontrava-se obsoleto e defasado tecnologicamente, estando o Estado
controlador incapacitado para a manutenção de seu desenvolvimento. Com a desestatização, a
iniciativa privada, com o apoio financeiro do BNDES, pôde se adequar ao estágio da siderurgia
mundial.
Desse modo, após a privatização da siderurgia brasileira, cujo final se deu em 1993, teve
início um processo de reestruturação, modernização tecnológica e aumento da capacidade para
adequação ao ambiente competitivo. Para tanto, foram previstos inicialmente investimentos da
ordem de US$ 10,4 bilhões no período 1994/2000, complementados com mais US$ 1,7 bilhão,
estendendo-se até 2002, perfazendo um total de US$ 12,1 bilhões. Considerando o horizonte de
2004, esse montante pode atingir US$ 14 milhões. No período 1994/99 foi investido no programa um
montante de US$ 8,6 bilhões. O BNDES vem apoiando financeiramente, dentro do cronograma de
investimentos, com desembolsos de cerca de US$ 3,8 bilhões ou 38% do total investido no setor até
o ano 2000, devendo ainda participar com cerca de US$ 800 milhões no período 2001/02. A
capacidade instalada chegará ao final deste ano a 32 milhões de t, contra 28,2 milhões referentes
a 1994.
TABELA 3
Programa de Modernização da Siderurgia (Investimento Global : US$ 12,1 Bilhões)
– 1994/2002
Total
BNDES
Meio Ambiente
1994/95
1.550
1996/97
3.429
1998/99
3.582
2000
1.438
2001
1.228
2002
920
Total
12.147
520
155
1.674
226
830
172
799
60
487
60
317
60
4.627
733
Objetivos: modernizaç ão tecnológica; redução de custos; melhorias de qualidade; enobrecimento da produção; e proteção ambiental.
MINERAÇÃO E METALURGIA
7
Esses investimentos têm como objetivo a modernização tecnológica, a redução de custos,
a melhoria de qualidade, o enobrecimento da produção e a proteção ambiental. No momento, o
setor siderúrgico está analisando a possibilidade de acréscimo nos investimentos, visando o
aumento da capacidade de aço para cerca de 35 milhões de t nos próximos cinco anos.
O programa de modernização propiciou à siderurgia brasileira atingir uma relevante
posição em termos de competitividade mundial. A indústria nacional, atualizada, moderna e
eficiente, contando também com as vantagens comparativas decorrentes de abundantes jazidas de
minério de ferro de ótima qualidade, disponibilidade de mão–de–obra e energia, possui atualmente
um dos menores custos operacionais do mundo (Gráfico 3). Pode-se observar que, entre os países
selecionados, o Brasil apresenta o menor custo de produção de bobinas a quente. Essa posição só
foi possível atingir no cenário de uma siderurgia privatizada.
MINERAÇÃO E METALURGIA
8
GRÁFICO 3
Comparação do Custo de Produção na Indústria Siderúrgica
Fonte: BOOZ-ALLEN
& HAMILTON - BA&H.
350
300
245
250
US$/t
294
281
268
197
200
216
211
216
150
100
50
A
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8 - Evolução da Siderurgia Brasileira
A siderurgia brasileira apresentou rápido crescimento na década de 80, registrando-se
relevantes investimentos das estatais no aumento da capacidade instalada, especialmente de
produtos planos, com a produção anual total saltando de 15 milhões de t até atingir o pico de cerca
de 24 milhões de t. Nesse período, previa-se que o crescimento da produção fosse voltado para a
evolução do mercado interno, porém constatou-se um maior direcionamento ao atendimento da
demanda externa crescente. Dessa forma, as exportações anuais evoluíram de 2 milhões de t
para cerca de 11 milhões de t, enquanto o consumo aparente interno anual de aço reduzia-se
gradativamente, saindo de 11 milhões de t para cerca de 9 milhões de t, em 1990. As importações
siderúrgicas eram pouco representativas e calcadas em produtos especiais, sem similaridade
nacional. Com o aumento das exportações de aço, o faturamento anual da indústria apresentou-se
crescente, evoluindo de cerca de US$ 7 bilhões para algo em torno de US$ 11 bilhões em 1990. A
produtividade siderúrgica era baixa em relação à praticada no mundo (da ordem de 155t/H/ano),
considerando a elevada quantidade de mão-de-obra alocada nas plantas em operação, atingindo
cerca de 133 mil empregados em 1990.
Nos primeiros anos da década de 90 (precisamente até 1993), a situação do mercado
siderúrgico mantinha-se nos patamares conquistados, com a produção anual oscilando entre 22 e
24 milhões de t e volumes de exportação maiores que os destinados ao mercado interno.
A efetivação do processo de privatização (entre 1991/93), onde as empresas foram
reorganizadas para crescer, a reestruturação da economia iniciada em 1993 e a implantação do
Plano Real em julho de 1994 formaram o ponto de partida para a retomada do crescimento da
produção siderúrgica no país. Ainda em 1993, as empresas iniciaram um processo gradual de
aumento na oferta de aço, com maior fornecimento à demanda interna, suplantando as
exportações.
A melhoria nos preços praticados internamente fez com que o faturamento global da
indústria tenha atingido, em 1994, o seu ponto máximo (da ordem de US$ 11,6 bilhões). Nesse
mesmo ano, as empresas siderúrgicas, já privatizadas, iniciaram o programa de modernização
tecnológica, com investimentos programados de US$ 10,4 bilhões no período 1994/2000. Os novos
investimentos em modernização, racionalização e adequação tecnológica postos em prática, a
exemplo do ocorrido a nível mundial, aceleraram o processo de redução de mão-de-obra, com
queda de 35 mil empregados entre 1990/94, atingindo-se um contingente de cerca de 98 mil
empregados ao final de 1994. A conjugação de esforços conduziu à melhoria da produtividade, que
MINERAÇÃO E METALURGIA
9
alcançou 264t/H/ano já em 1994, ano em que também a produção chegou ao recorde de 25,8
milhões de t.
Cabe notar que a redução de empregados na indústria siderúrgica foi uma realidade em
nível mundial, resultado dos avanços tecnológicos e da constante busca da redução de custos para
maior competição no mercado global. No Brasil, esse fenômeno ocorreu não apenas na siderurgia
de produtos planos e semi–acabados privatizada no período 1991/93, mas também na siderurgia de
produtos longos, caracterizada por seu controle privado desde o início.
A partir de 1994 e até 1998, o crescimento sustentado do consumo aparente interno de
aço exigiu das empresas siderúrgicas uma redução dos seus volumes de exportação, atingindo em
1998 cerca de 8 milhões de t, enquanto o consumo aparente alcançava o seu maior volume, cerca
de 15 milhões de t. A produção de aço nesse período manteve-se ao redor de 25 milhões de t/ano,
porém o faturamento da indústria iniciou um movimento de queda acentuada a partir de 1996, pois
os preços internacionais iniciaram um processo de redução, intensificado entre 1997/99, por força
das diversas crises econômicas ocorridas nesse período, ocasionando superoferta de aço no
mundo em conseqüência da queda de demanda. Os preços praticados internamente em muitos
casos sofreram redução, dado a possibilidade de crescimento das importações em produtos
similares e a preços competitivos.
Em 1999, ainda por conta dos reflexos das crises ocorridas, observou-se a retração da
produção siderúrgica e a redução do consumo interno de aço. A indústria voltou a focar o mercado
externo, o que propiciou aumento das exportações de aço, mas a preços ainda reduzidos. Como
conseqüência, houve queda do faturamento da indústria, em dólar, para um patamar próximo ao
obtido em meados da década de 80. O nível de importações cresceu em produtos especiais
localizados. A produtividade atingiu 423t/H/ano, situando-se próxima à média mundial, levando em
conta a continuidade de redução da mão-de-obra da indústria, que atingia cerca de 58 mil
empregados ao final de 1999. Nesse ano, as empresas siderúrgicas tiveram os seus lucros
reduzidos substancialmente, influenciados, entre outros fatores, pelo aumento dos empréstimos
contraídos em moeda estrangeira, ocasionando elevadas despesas financeiras, por conta da
variação cambial ocorrida no início de 1999.
No atual exercício, vislumbra-se uma melhoria do mercado siderúrgico mundial, estando
previstos, no caso do aço brasileiro, aumento da produção para o patamar de 27 milhões de t,
aumento do consumo interno, manutenção do nível de exportações e melhoria nos preços, tanto
internos quanto das exportações, fatores que, no conjunto, conduzirão ao crescimento do
faturamento da indústria e ao aumento da lucratividade e rentabilidade das empresas.
Observa-se que a privatização da siderurgia brasileira, com o retorno dos investimentos
em modernização tecnológica, propiciou a significativa evolução da produtividade desta indústria de
155 t/H/a em 1990 para 493 t/H/a em 2000. Constata-se portanto, que o parque siderúrgico
brasileiro estará finalizando ,este ano, com uma produtividade triplicada em relação à registrada há
10 anos, antes da privatização.
TABELA 4
Evolução da Siderurgia Brasileira – 1990/2000
Produção (Milhões de t)
Consumo Aparente ( Milhões de t)
Exportações ( Milhões de t)
Faturamento (US$ Bilhões)
Exportações
Mercado Interno
Importações (US$ Bilhões)
Produtividade (t/H/a)
Número de Empregados (Mil)
MINERAÇÃO E METALURGIA
1990
1994
1999
20,6
8,8
9,0
10,6
3,0
7,4
0,2
155
132,7
25,8
12,1
11,1
11,6
3,4
7,9
0,3
264
97,4
25,0
14,2
9,8
7,9
2,2
5,7
0,5
423
58,9
2000
(Estimado)
27,1
15,2
10,2
9,5
2,9
6,6
0,5
493
55,0
10
GRÁFICO 4
Evolução da Siderurgia Brasileira – 1980/2000
14
30
Produção
Milhões t.
Faturamento
20
Consumo
15
Exportações
10
10
8
6
US$ Bilhões
12
25
4
Investimentos
5
2
0
1980
0
1984 1988 1990 1992 1994 1996 1998 1999 2000e
9 – Conclusão
A siderurgia brasileira apresentou na década de 80 um grande salto em termos de
aumento da capacidade instalada e de crescimento efetivo da produção de aço, atingindo um
patamar em torno de 25 milhões de t em 1988, contra cerca de 15 milhões em 1980. Esse período
caracterizou-se, por um lado, pelas grandes somas investidas pelo governo na produção de aços
planos e, por outro, pela conquista do mercado externo, verificando-se grande crescimento no
volume das exportações de aço, enquanto o consumo interno apresentou-se estável, tendendo para
redução. Os preços internacionais das commodities siderúrgicas foram crescentes, propiciando ao
setor, como um todo, faturamentos anuais expressivos, chegando a atingir cerca de US$ 11 bilhões
em 1990.
No início da década de 90, porém, com a abertura da economia brasileira e o processo
de globalização da siderurgia mundial gerando aumento acentuado da competição, ficou patente a
falta de competitividade da siderurgia brasileira. A situação era agravada pela retração da demanda
e dos preços do aço no mercado internacional.
O parque nacional apresentava custos elevados em comparação com os padrões
internacionais, encontrando-se em situação de obsolescência. Investimentos em modernização
faziam-se necessários, sem que a indústria, estatal e endividada, pudesse dar continuidade ao seu
desenvolvimento. Nesse cenário, a siderurgia brasileira iniciou seu processo de privatização, o que
já ocorria em nível mundial desde 1988.
A desestatização de 65% da capacidade siderúrgica, efetivada no período 1991/93, foi
extremamente benéfica à indústria, que, com autonomia para planejar sua estratégia de atuação,
apresentou rapidamente resposta de maior eficiência nas áreas gerencial, comercial e financeira.
Os grandes grupos siderúrgicos internacionais não se interessaram pelo setor no Brasil à
época da privatização, tendo em vista estarem envolvidos em suas próprias reestruturações e o fato
de o país não apresentar atrativos de competitividade siderúrgica. Os grandes empreendedores
nacionais, incluindo-se os bancos e os fundos de pensão, apresentavam dificuldades no aporte dos
vultosos recursos financeiros para novos investimentos, o que não impediu o processo de
privatização, pois foram criadas as moedas de privatização.
A privatização propiciou a rápida definição de expressivos programas de investimentos. A
partir de 1994, já com o parque siderúrgico plenamente controlado pela iniciativa privada, iniciaramse novos investimentos visando cobrir o período 1994/2002, com previsão inicial de US$ 10,4
bilhões para a modernização tecnológica, a redução de custos, a melhoria de qualidade, o
enobrecimento da produção, a proteção ambiental e, em menor escala, o aumento de capacidade
instalada. Ao longo dos últimos seis anos, esses investimentos foram redimensionados para valores
em torno de US$ 14 bilhões até 2002. Pouco mais de 2 milhões de t foram acrescidos à capacidade
MINERAÇÃO E METALURGIA
11
de produção de aço, principalmente no segmento de semi–acabados, excetuando-se aqueles
obtidos nos ganhos de produtividade. Nesse período, observou-se a paulatina redução das
exportações de aço e o aumento crescente do consumo interno, com a produção (ao redor de 25
milhões de t por ano) tendo sido suficiente para o atendimento da demanda. Foram anos de
crescimento dos lucros e de maior geração de caixa em várias grandes siderúrgicas, apesar de
algumas empresas não apresentarem a mesma performance devido ao seu alto índice de
endividamento e o reflexo negativo das crises internacionais na siderurgia mundial.
Ao longo da década, e em conseqüência da privatização, a siderurgia brasileira evoluiu
positivamente ao agregar tecnologia, qualidade e produtividade, contando atualmente com custos de
produção entre os menores do mundo. A indústria vem atraindo novos players, incluindo os
grandes grupos siderúrgicos mundiais, que agora demonstram interesse em ingressar ou ampliar
sua participação no setor.
Atualmente vislumbra-se o início de nova etapa de desenvolvimento, com investimentos em
expansão de capacidade visando o atendimento do mercado interno, que tem grande potencial de
expansão, e à manutenção da posição exportadora já conquistada. Também deverão ser
privilegiados investimentos em enobrecimento de produtos, adequando a siderurgia brasileira aos
padrões internacionais vigentes. Será a etapa de busca, pelas empresas, da eficácia estratégica
nos seus mais diversos campos de atuação.
MINERAÇÃO E METALURGIA
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IMPACTOS DA PRIVATIZAÇÃO NO SETOR SIDERÚRGICO